Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS Curso de Ciências Biológicas – Modalidade Médica DISCIPLINA INTERAÇÃO CELULAR I 2020.PLE Nomes da dupla: Glenda Domingos Mascarenhas e Isabela Batista Gonçalves Moreira Durante o desenvolvimento normal do embrião de camundongos, um dos dois blastômeros tende a contribuir predominantemente para gerar a parte embrionária (massa celular interna) e o outro para a parte abembrionária (trofoblasto) do blastocisto. No entanto, uma minoria significativa de embriões (20-30%) não mostrou esta correlação. Neste estudo, nós traçamos de forma não invasiva as linhagens celulares para determinar se o padrão de desenvolvimento do blastocisto mostra alguma correlação com a orientação e ordem das divisões na segunda clivagem que resulta no posicionamento específico dos blastômeros no estágio de 4 células. Embora, a orientação e ordem das segundas clivagens não são pré-determinadas, na grande maioria (80%) dos embriões o arranjo espacial dos 4 blastômeros é consistente com uma das duas segundas clivagens ocorrendo meridionalmente e a outra equatorialmente ou obliquamente em relação ao corpo polar. Nestes embriões, um dos blastômeros no estágio de 2 células tende a contribuir com a parte embrionária enquanto o outro contribui predominantemente com a parte abembrionária do blastocisto. Assim, nestes embriões o resultado da primeira clivagem tende se correlacionar com a orientação do eixo embrionário-abembrionário do blastocisto. No entanto, a ordem das divisões prediz a polaridade especifica para este eixo somente quando o primeiro dos dois blastômeros (estágio de 2 células) se divide meridionalmente. Em contraste aos dois grupos acima, nos embriões nos quais ambas divisões da segunda clivagem ocorrem na mesma orientação, mediorionalmente ou equatorialmente, nós não observamos nenhuma tendência para os 2 blastômeros contribuírem para partes específicas do blastocisto. Nós observamos que todos esses grupos de embriões desenvolvem a termo com sucesso similar, com a excepção daqueles nos quais ambas divisões na segunda clivagem ocorrem equatorialmente, tendo sucesso no desenvolvimento comprometido. Nós concluímos que as orientações e ordem das segundas clivagens não são pré- determinadas; elas correlacionam com o desenvolvimento da padronização do blastocisto; e que a maioria, mas não todas, desses padrões de clivagem permitem o sucesso no desenvolvimento de maneira similar. Após a leitura do resumo, a dupla deve: 1. Elaborar um desenho experimental que permitiria analisar as clivagens e traçar a progênie dos blastômeros no estágio de 2 células; 2. Elaborar uma sessão de “Materiais e Métodos” descrevendo os materiais e abordagens metodológicas utilizadas; 3. Descrever uma sessão de “Resultados” onde o aluno deverá montar as seguintes figuras com suas respectivas legendas: - Figura 1: Descrição de onde ocorre a primeira clivagem. Ela é aleatória ou existe alguma assimetria no zigoto que favoreça esta clivagem? - Figura 2: Experimento traçando o destino da progênie dos blastômeros após a segunda clivagem. 4. Bibliografia: referências utilizadas ao longo do desenvolvimento do trabalho. Respostas da avaliação de clivagem Elaborar um desenho experimental que permitiria analisar as clivagens e traçar a progênie dos blastômeros no estágio de 2 células; 1. Desenho experimental Pergunta: O padrão de desenvolvimento do blastocisto mostra alguma correlação com a orientação e ordem das divisões na segunda clivagem que resulte no posicionamento específico dos blastômeros no estágio de 4 células? Metodologia: Traçar de forma não invasiva as linhagens celulares de camundongo até eles atingirem o estágio de blastocisto, onde será observado o eixo embrionário-abembrionário. - Coleta de embriões - Cultura dos embriões e marcação dos blastômeros no estágio de 2 células - Time-lapse video microscopy a diferentes padrões de clivagem - Transferência de embriões Elaborar uma sessão de “Materiais e Métodos” descrevendo os materiais e abordagens metodológicas utilizadas; 2. Materiais e métodos - Coleta de embriões Coleta de embriões de F1 (C57BL/ 6xCBA), uma linhagem de camundongos, em que as fêmeas são induzidas a superovular por injeção intraperitoneal de gonadotrofina sérica de éguas prenhas; como o PSMG, que capacita as fêmeas a desenvolverem a maturação do folículo ovariano e a sua ovulação mesmo fora do período reprodutivo convencional. Após 48-56 horas deste processo, é administrado gonadotrofina coriônica humana (hCG), um hormônio que irá potencializar o estímulo para a ovulação e então, a fêmea se acasala com machos F1. Zigotos e embriões de 2 células podem ser coletados, respectivamente, 23 horas e 45 horas após a injeção de hCG em M2 cujo meio é suplementado com BSA; soro bovino. - Cultura de embriões e marcação dos blastômeros no estágio de 2 células Para a marcação dos blastômeros por moléculas DID, estas que quando excitadas emitem um espectro de luz na cor vermelha, podem ser introduzidas na zona pelúcida por meio de microinjeção. Entre 45,5 e 47 hrs após a administração do hCG, a marcação de vermelho seria feita em um blastômero no estágio de 2 células. Posteriormente a rotulagem, haveria o cultivo dos embriões utilizando o sistema de cultura de inclinação do embrião (TECS) que consistiria em cultivar os embriões de camundongo em meio de cultura com potássio simplex. Seria utilizado óleo mineral para cobrir o meio em que seria incubado os embriões em ambiente com 5% de CO2 a 37°C, durante 1 hora, sem interrupções. A fim de mimetizar a movimentação do embrião ao longo da tuba uterina, nesse experimento, os camundongos seriam cultivados com inclinação de até 20° com 1 minuto de espera. Após o cultivo, a técnica de microscopia fluorescente seria utilizada em períodos de aproximadamente 30 min, durante 5 horas. Após esse procedimento, os embriões seriam novamente cultivados, com uma duração de 4 h, até que todos atingissem o estágio de 4 células. Quando chegassem a esse estágio, os embriões seriam agrupados com a posição dos blastômeros de 4 células com relação ao segundo corpo polar. Posteriormente, ocorreria a marcação com corante azul dos blastômeros ainda não corados mais distantes do segundo corpo polar. Os embriões marcados então seriam cultivados in vitro com suplementação de KSOM, aminoácidos e BSA, sobre parafina em uma atmosfera de 5% de CO2 a 37, 5°C. Os embriões então seriam cultivados até o estágio de blastocisto e analisados quando a proporção da massa celular interna para a blastocele fosse de aproximadamente 1: 2. - Time-lapse video microscopy em diferentes padrões de clivagem Microscopia de vídeo de lapso de tempo e imagens foram realizadas, desde a coleta dos embriões no estágio de zigoto até a formação dos blastocistos. A análise do estágio de zigoto até o estágio de duas células seria realizada em um microscópio invertido Zeiss com uma câmera Hamamatsu em que as imagens seriam tiradas de 5 a 10 min durante 12 horas e analisadas usando o software Kinetics Imaging. Já do estágio de duas células até a formação do blastocisto seria utilizado para análise um microscópio confocal de varredura a laser que é ideal para observar a marcação dos blastômeros com molécula DID fluorescente e corante azul.Com isso, além da observação nos blastocistos do destino das progênies do estágio de 2 células, poderia se observar também se haveria alguma correlação do padrão de clivagem nos estágios de 2 células com esses destinos. Os embriões seriam colocados no quarto escuro de uma incubadora integrado confocal a 5% de CO2 a 37°C em uma ambientação úmida e os lasers correspondentes às cores vermelha e azul seriam aplicados às amostras embrionárias para a obtenção das imagens em 3D. A visualização dos blastocistos seria por meio de seções ópticasa cada 7µm. - Transferência de embriões Os blastocistos que se desenvolveram in vitro a partir do estágio de 2 células seriam transferidos para o útero dos ratos fêmeas. As amostras contendo esses blastocisto seriam catalogadas de acordo com os resultados de padrão de clivagem no estágio de 4 células previamente analisados e, então, inseridos no endométrio de fêmeas F1 por meio de uma seringa para que o blastocisto se implante e se desenvolva. Posteriormente, seria analisado se o desenvolvimento embrionário desses blastocistos havia sido bem-sucedido ou se seria comprometido na gestação. 3. Resultados - Figura 1: Descrição de onde ocorre a primeira clivagem. Ela é aleatória ou existe alguma assimetria no zigoto que favoreça esta clivagem? Como discutido no artigo Piotrowska, K., & Zernicka-Goetz, M. (2001) a posição de entrada do espermatozoide ou cone de fertilização e o segundo corpo polar, podem predizer o plano de clivagem inicial do zigoto. O primeiro plano de clivagem do zigoto em mamíferos é, na maioria dos casos, meridional em relação ao segundo corpo polar, este estando atrelado ao zigoto devido a resquícios da sua própria citocinese. O segundo corpo polar também é conhecido por marcar o polo animal, sendo um constituinte extremamente importante durante o período de clivagem. Isso se deve, pois mesmo quando a primeira clivagem se inicia mais distante do segundo corpo polar, ele tende a se tornar associado ao sulco conforme a citocinese ocorre, tornando-se um importante marcador. Além disso, a posição de entrada do espermatozoide ou cone de fertilização parecem influenciar na habilidade do fuso mitótico de se orientar em relação a uma mudança na forma do óvulo que ocorre durante a fertilização e que está relacionada ao local de entrada do espermatozoide. A célula que adquire a posição de entrada do espermatozoide durante a primeira clivagem adquire uma vantagem de divisão e tende a se separar antes de sua célula-irmã, configurando assim uma assincronia na divisão celular dos blastômeros. - Figura 2: Experimento traçando o destino da progênie dos blastômeros após a segunda clivagem. Figura 1: Na imagem apresentada, utilizamos CF para determinar o que seria o cone de fertilização, PB para determinar o que seria o segundo corpo polar e ZP a região da zona pelúcida. A linha tracejada representa o plano meridional. Bem sucedido Figura 2: É possível observar os destinos dos 2 blastômeros após a segunda clivagem para a formação do blastocisto. Assumimos M como plano meridional (risco na vertical) e E como plano equatorial (risco em forma de X). Nesse sentido, ME demonstra que o blastômero marcado em verde foi o primeiro a realizar clivagem, pelo plano meridional, enquanto o blastômero marcado em rosa (que se dividiu posteriormente) teve sua clivagem pelo plano equatorial. Podemos observar a contribuição do blastômero da primeira divisão (verde) para o polo animal. Vale ressaltar que o blastômero no estado de quatro células com a cor azul não sofre marcação, sendo sua coloração meramente ilustrativa. A região sinalizada em vermelho representa o segundo corpo polar, enquanto a região circular branca indica a zona pelúcida. De mesmo modo, na divisão EM, o blastômero em verde dividiu-se anteriormente ao rosa, mas agora, pelo plano equatorial. A partir dessa orientação não é possível prever qual a contribuição dos blastômeros dentro do blastocisto. Na divisão MM, em que ambas são meridionais, também não é possível prever essa contribuição. Em todos os casos citados anteriormente, o desenvolvimento pós-transferência embrionária ocorre de maneira bem sucedida. No entanto, quando o plano de divisão é do tipo EE, não só não é possível prever qualquer contribuição do blastômero para o polaridade específica do eixo embrionário-abembrionário do blastocisto, como também há um comprometimento no seu desenvolvimento ao ser implantado no útero dos ratos fêmeas. O experimento se inicia após a primeira clivagem quando o embrião atinge o estágio de 2 células, a partir deste estágio ocorre uma assincronia nas divisões dos blastômeros. Geralmente, o blastômero que herda o local de entrada do espermatozoide no óvulo passa a se dividir antecipadamente em relação ao outro blastômero. Outro fator crucial desta fase é que a partir desse estágio, os blastômeros adquirem a capacidade de rotacionar, o que implica em diferentes planos de clivagem no decorrer da segunda clivagem. Os blastômeros no estágio de 2 células foram marcados por cores diferentes, sendo o primeiro a se dividir pintado de verde e o outro de rosa. A segunda clivagem pode resultar em quatro tipos de progênie: a primeira, em que o segundo corpo polar encontra-se próximo a todos os quatro blastômeros, indicando que a clivagem ocorreu nos dois blastômeros no plano meridional (MM); a segunda, em que o segundo corpo polar encontra-se próximo a dois blastômeros e distante dos outros dois restantes, indicando que ambos os blastômeros no estágio de 2 células foram clivados no plano equatorial ou oblíquo (EE); e os últimos dois tipos de progênie formam uma conformação tetraédrica semelhante, devido a proximidade de três blastômeros ao segundo corpo polar e um longínquo, indicando que os planos em que os blastômeros no estágio de 2 células foram clivados são distintos, sendo um blastômero, no estágio de 2 células, clivado no plano meridional e o outro no plano equatorial, podendo o primeiro a se dividir ser clivado no plano equatorial (EM) ou clivado no plano meridional (ME). Após o estágio de 4 células ter se consolidado, suas progênies foram analisadas até o estágio de blastocisto. A primeira análise feita está relacionada ao grupo de blastocistos que se desenvolveram a partir de embriões ME, em que uma relação foi estabelecida entre a alocação das progênies dos blastômeros de 2 células e a fronteira entre as partes embrionárias e abembrionárias do blastocisto. Constatou-se que a maioria dos embriões ME cujo blastômero no estágio de 2 células se dividia antecipadamente tinha uma tendência a sua progênie contribuir mais com a parte embrionária do blastocisto, ou seja, tornar-se-ia embrioblasto que futuramente daria origem ao desenvolvimento do embrião em si; já a progênie do outro blastômero do estágio de 2 células contribuiria mais com a parte abembrionária do blastocisto, ou seja, tornar-se-ia trofoblasto que futuramente daria origem ao desenvolvimento dos anexos embrionários/ tecidos extra- embrionários. A segunda análise feita está relacionada ao grupo de blastocistos que se desenvolveram a partir de embriões EM, em que assim como ocorrido com os embriões ME, houve uma tendência da progênie de um dos blastômeros no estágio de 2 células contribuir com uma parte embrionária ou abembrionaria do blastocisto mais do que a outra. Contudo, a ordem de divisão, neste caso, não se relaciona com a polaridade específica do eixo embrionário-abembrionário, e, então, esta polaridade específica para este eixo somente é vista quando o primeiro dos dois blastômeros no estágio de 2 células se divide meridionalmente. A terceira análise e a quarta estão relacionadas respectivamente ao grupo de blastocistos que se desenvolveram a partir de EE e MM, em que não foram constatados nenhuma tendência para a alocação das progênies dos blastômeros no estágio de 2 ou 4 células para as partes embrionária ou abembrionária do blastocisto, sendo suas alocações consideradas aleatórias. Contudo, se os embriões forem transferidos de volta para as fêmeas de ratos para continuarem a se desenvolver após o estado de blastocisto através da sua implantação no endométrio desses animais, somente os blastocistos desenvolvidos a partir de EE tem seu desenvolvimento comprometido, os demais são similarmente bem sucedidos em seu desenvolvimento.4. Bibliografia: referências utilizadas ao longo do desenvolvimento do trabalho. 1. Piotrowska-Nitsche K, Zernicka-Goetz M. Spatial arrangement of individual 4-cell stage blastomeres and the order in which they are generated correlate with blastocyst pattern in the mouse embryo. Mech Dev. 2005;122(4):487-500. doi:10.1016/j.mod.2004.11.014 2. Piotrowska, K., & Zernicka-Goetz, M. (2001). Role for sperm in spatial patterning of the early mouse embryo. Nature, 409(6819), 517–521. doi:10.1038/35054069 3. Piotrowska-Nitsche, K. (2005). Four-cell stage mouse blastomeres have different developmental properties. Development, 132(3), 479–490. doi:10.1242/dev.01602 4. Wang, Q. T., Piotrowska, K., Ciemerych, M. A., Milenkovic, L., Scott, M. P., Davis, R. W., & Zernicka-Goetz, M. (2004). A Genome-Wide Study of Gene Activity Reveals Developmental Signaling Pathways in the Preimplantation Mouse Embryo. Developmental Cell, 6(1), 133–144. doi:10.1016/s1534-5807(03)00404-0 5. Matsuura, K., Hayashi, N., Kuroda, Y., Takiue, C., Hirata, R., Takenami, M., … Naruse, K. (2010). Improved development of mouse and human embryos using a tilting embryo culture system. Reproductive BioMedicine Online, 20(3), 358–364. doi:10.1016/j.rbmo.2009.12.002 6. Attik GN, Gritsch K, Colon P, Grosgogeat B. Confocal time lapse imaging as an efficient method for the cytocompatibility evaluation of dental composites. J Vis Exp. 2014;(93):e51949. Published 2014 Nov 9. doi:10.3791/51949 7. SCHOENWOLF, G. C.; BLEYL, S. B.; BRAUER, P. R.; FRANCIS-WEST, P. H. Larsen Embriologia Humana. 4 a edição, Editora Elsevier, Rio de Janeiro, 2010. 704p. 8. CARLSON, B. M. Embriologia Humana e Biologia do Desenvolvimento. Editora GuanabaraKoogan, Rio de Janeiro, 1996. 408p.
Compartilhar