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Camomila (Matricharia chamomilla L.) INTRODUÇÃO A utilização de plantas para fins terapêuticos é uma prática milenar que tem reverberado ao longo dos séculos. Seu uso foi e ainda é estimulado através da observação do comportamento do reino animal, ao utilizar determinada planta quando apresentava alguma enfermidade; pelas características organolépticas apresentadas pela planta, podendo esta incorporada na alimentação ou para deixar o ambiente mais cheiroso e agradável, por exemplo. A camomila é uma erva anual que cresce espontaneamente na Europa e em algumas regiões da Ásia. Os egípcios dedicavam a camomila ao sol e adoravam-na mais do que a qualquer outra erva, pelas suas propriedades curativas (TESKE,1997) Na Grécia, a camomila florescia abundantemente, distinguindo-se desde a antiguidade pelo seu aroma peculiar. O nome Matricária deriva do latim “mater” ou talvez de “matrix” – útero, por ser utilizada em doenças femininas. A temperatura e a umidade possuem maior influência sobre o teor de óleo do que o solo; sendo ideal o clima temperado, com temperatura média abaixo de 20º C e elevada umidade relativa do ar. Não tolera excessos de calor, nem secas prolongadas, mas tem boa resistência a geadas no período vegetativo (TESKE,1997). Muito divulgada em algumas regiões da Europa, é uma planta de searas, acostamentos e terrenos baldios. Na Grécia, a camomila floresce abundantemente, distinguindo-se desde a antiguidade pelo seu aroma peculiar. É curioso verificar que as descobertas empíricas de Dioscórides sobre a ação emenagoga desta pequena camomila foram confirmadas por trabalhos laboratoriais 19 séculos mais tarde (READER’S DIGEST BRASIL,1999). Esta planta é conhecida desde a Antiguidade por suas virtudes, referindo-se a ao um velho ditado: “todo jardim onde o horto tiver plantas enfermas, deve-se plantar perto delas camomila, que estas se curarão...”. Para a antiga cultura anglo saxona, a camomila denomina-se maythen e era uma das nove ervas sagradas que eram oferecidas aos deuses. Essa espécie foi levada ao México na época de sua colonização e rapidamente foi estendido ao resto do continente. (ALONSO, 1998). DESENVOLVIMENTO Aspectos botânicos Trata-se de uma planta herbácea anual pertencente à família Compositae, caracterizada por apresentar uma pequena altura de 30 cm aproximadamente. Possui caule cilíndrico erguido, ramoso, de cor verde embranquecido, folhas alternas divididas em pequenos segmentos lineares finos. Cada ano apresenta em sua extremidade um botão floral de cor amarelo dourado e pétalas brancas. Estas últimas correspondem a parte unissexuada da flor, enquanto que a parte amarela é a porção hermafrodita. As flores são um pouco amargas e exalam odor característico. Os frutos são pequenos e de coloração parda. Florescem a partir do mês de abril e continuam a floração durante a primavera (ALONSO, 1998). A parte utilizada da planta é o capítulo. Este encontra-se rodeado de um invólucro triplo de brácteas oblonga, verdes no meio e hialino-escariosas nas margens; sem brácteas interflorais ( distinção da camomila romana); flores marginais femininas liguladas, de lígulas brancas, tridentadas, com quatro nervuras e arqueadas para baixo; flores do disco mais numerosas, hermafroditas, amarelas, cilíndricas, com um estilete saliente e dois estigmas curvos; cinco estames com as anteras unidas; tubo com cinco dentes. Cheiro aromático, agradável; sabor acre e amargo (COSTA,1994). A camomila é oriunda da Europa (zona dos Bálcãs), norte da África e Ásia Ocidental, sendo cultivada em toda a América. É comum encontrá-la em terrenos baldios e jardins, lugares em que tendem a disseminar rapidamente como planta invasora. (ALONSO,1998). Entre as diversas plantas vulgarmente designadas por camomila, e como tal utilizadas na farmacopéia doméstica, são possíveis inúmeras confusões. Estas confusões em geral não tem conseqüências graves, se bem que a camomila vulgar seja mais ativa que suas afins, razão por que seria lamentável substituí-la por outra. É fácil distingui-la devido a três características: as lígulas brancas dos capítulos curvam-se para baixo no final da floração; o receptáculo é cônico, oco e desprovido de brácteas entre as flores; por último, as folhas são recortadas em finas lacínias (READER’S DIGEST BRASIL,1999). Nome Botânico: Matricharia chamomilla L. Nome Popular: Camomila- da – Alemanha, macela, matricaria, camomila vulgar. Família: Compositae Partes utilizadas: Capítulos Florais Aspectos Agronômicos O cultivo desenvolve-se bem em climas amenos ou temperados, a pleno sol. Alguns autores recomendam o plantio de março a maio,outros de junho a agosto, dependendo da região, devendo-se sempre evitar épocas quente. Propaga-se por sementes, que devem ser depositadas sobre o solo, sem enterrar, apenas sofrendo leve pressão, pois são muito pequenas e só germinam bem na presença de luz. Para facilitar o semeio, podem se misturar as sementes com areia fina. Podem ser usadas sementeiras, com posterior transplante, ou semeadura direta no local definitivo, o que exigirá desbaste posteriormente. A semeadura em sementeiras tem dado melhore resultados. Os espaçamentos recomendados no campo, que variam em função da fertilidade do solo, vão desde 40x20 até 60x60. preconiza-se somente o uso de adubação orgânica com 5kg/metro quadrado de esterco de curral curtido. A colheita dá-se cerca de 3 a 4 meses após, com a plantas em plena floração. São colhidos apenas os capítulos florais, sem o talos. Desenvolve-se bem na horta, quando próxima da carqueja e da couve. Os capítulos florais devem ser colhidos antes de sua abertura completa e secos à sombra, em ambiente arejado, com calor de 40º C. os melhores são aqueles que não vêm acompanhados de folhas ou pedúnculo floral. Quando secos devem ser conservados em recipientes de vidro semi-abertos e longe da umidade. Composição Química É constituída por: • Óleo essencial (0,3 – 1,5%0, composto de sesquiterpenos etílico como o alfa bisabolol (45%) • Pró- camazuleno • Matricina • Flavonóide (apigenina) • Colina • Aminoácidos • Ácidos graxos • Sais minerais • Terpenos • Cumarinas como a herniarina e umbeliferona • Mucilagens • Ácido orgânicos Estudos etnofarmacológicos O chá de camomila é muito popular no Brasil por seus efeitos sedativos, antiespasmódicos e emenagogos. A infusão é preparada com os capítulos e tem também ação antialérgica, antiinflamatória, anti-séptica, eupética e tônica (TESKE, 1997). Atividades Farmacológicas A atividade terapêutica da camomila é determinada pelos princípios ativos lipofílicos e pelos hidrofílicos. A atividade predominante do extrato aquoso é espasmolítica, enquanto o extrato alcoólico apresenta uma atividade antiflogística. O camazuleno possui reconhecida atividade antiinflamatória, que é reforçada pela presença de matricina e alfa bisabolol. O alfa bisabolol possui propriedades antiflogísticas, antibacterianas, antimicóticas e protetora de mucosas agindo assim contra úlcera. Sua atividade espasmolítica musculotrópica é equivalente a da papaverina. Outros princípios ativos também apresentam propriedades espasmolítica como os flavonóides e as cumarinas, sendo que à estas últimas atribui-se o efeito inibitório do crescimento de certos microorganismos. A colina apresenta ação antiflogística (TESKE, 1997) As mucilagens retém água, levando a uma ação emoliente e protetora de peles secas e delicadas, pela formação de uma fina película sobre a pele. O princípio responsável pela coloração é a apigenina, flavonóide que complexa-se com sais metálicos naturais (Ca, Al). Este complexos, em condições ideais de pH e forças iônicas, fixam-se à fibras queratínicas, revestindo-as sem penetrar no núcleo destas. Os flavonóides não são apenas adsorvidos pela superfície da pele após aplicação cutânea, mas penetram nas camadas mais profundas da pele, o que é importante para seu uso como antiflogístico. O óleo essencial e os flavonóides são os responsáveis porpraticamente todos os efeitos farmacológico conhecidos. O efeito ansiolítico que a camomila apresenta está relacionado com o flavonóide apigenina, o qual, é capaz de se ligar a receptores GABA- A cerebrais ( de maneira similar aos benzodiazepínicos) sem que sejam reconhecidos por anticorpos antibenzodiazepínicos (ALONSO,1998) A apigenina provoca um bom efeito ansiolítico, porém sua ação sedante é dez vezes menor do que a do diazepam, sem provocar relaxamento muscular. Esta ação é muito interessante do ponto de vista farmacológico pois, é capaz de diminuir a ansiedade sem provocar depressão do sistema nervoso central (ALONSO,1998) A atividade antiespasmódica que essa planta apresenta é de exclusiva ação da apigenina, mas estudos recentes confirmam que essa atividade depende tanto dos componentes do óleo essencial como dos flavonóides e cumarinas. Isso explica a ação antiespasmódica de uma infusão na qual praticamente não se registra presença de apigenina (ALONSO,1998) Ao se aplicar a camomila topicamente favorece-se a ação de outros princípios ativos como flavonóides, taninos e compostos fenólicos captadores de radicais livres. Na elaboração de cremes com óleo essencial de camomila a 0,5% tem observado útil ação em inflamações venosas. De alguma maneira, a atividade antiinflamatória da camomila responde a ação conjunta de vários elementos. Até mesmo, os esteróides teriam um papel dentro do processo antiinflamatório favorecendo a liberação de ACTH a nível supra- renal. Já o extrato aquoso da flor apresentou efeitos antiinflamatórios em modelos experimentais de ratas com edema. Outras propriedades tais como: ótima ação antisséptica e relaxante do músculo liso, permite bons efeitos a nível digestivo. Cabe considerar que a camomila encontra-se reconhecida, entre outras plantas, pela Farmacopéia Nacional da Argentina em sua 6º edição e também encontra-se aprovada pela FDA norte americana ( ALONSO,1998). Indicação - USO EXTERNO: Pele e unhas: calmante da pele, ulcerações nas pernas, queimaduras na pele, queimadura de sol, assaduras, prurido, feridas, micoses, doenças bacterianas da pele. Cabeça e face: conjuntivite, revigora cabelos claros, acne, dores de ouvido e oftalmia. Cavidade bucal: dor de dente (bochechos). Músculos, ossos e articulações: dores musculares, ciática e contusões. Outros distúrbios: lavagem vaginal, hemorroidas, vulvovaginite, inchaços e também para prurido da vulva. - USO INTERNO: Sistema Gastrointestinal: gases, úlceras, síndrome do intestino irritável, gastrite, diarréia, azia, vermes intestinais, cólica abdominal, cólicas intestinais, queimação, hemorroidas, úlcera parapilórica, salmonela, estomatite Sistema Urinário e Genital: problemas do útero, infecções urinárias, retenção de líquidos, doenças do útero e dos ovários, retenção urinária, menopausa, TPM, cólicas menstruais e ainda regulariza a menstruação, entre outros. Sistema Hepático: problemas de vesícula e icterícia. Sistema Respiratório: catarro, febre do feno, asma, sinusite, alivia o peito e para tratamento de tuberculose. Sistema Cardíaco, Sanguíneo e Circulatório: gota, ácido úrico, eritema, pressão alta e para anemia. Sistema Imunológico, Nervoso e Linfático: gripe, depressão, ansiedade, agitação, sensação de aborrecimento, mal de Alzheimer, anorexia, resfriado, convulsões, febre, histeria, neurose além de ser um estimulante da leucocitose e etc. Sistema Musculoesquelético e Conjuntivo: depressor das funções musculares, reumatismo, paralisia dos membros e também lumbago. Outros distúrbios: dor, enxaqueca, estresse, insônia, cefaleia, mastite, vista cansada, surdez, tumores, náuseas, diversos tipos de câncer, e entre outros. Experimentos e eficácia clínica Em provas realizadas em diferentes modelos experimentais de ratas, ratos e coelhos, pode-se estabelecer atividade antiinflamatória da camomila compreende uma interação entre flavonóides e componentes do óleo essencial, principalmente de sua fração sesquiterpênica formada em sua maior parte por alfa bisabolol (ALONSO, 1998). O óleo essencial demonstrou efetividade antibacteriana em especial sobre Salmonella tiphi, Stafilococcus aureus e Stafilococcus epidermidis. Já o extrato aquoso da flor apresentou efeitos antiinflamatórios em modelos experimentais de ratas com edema ( ALONSO,1998). Experimentos também demonstraram ação antiviral contra o vírus da herpes simples. Pode-se demonstrar também uma inibição in vitro da síntese de DNA por parte de alguns vírus . Essa atividade antiviral estaria sendo determinada pelo camazuleno (ALONSO, 1998). Interações medicamentosas Por conta da presença de cumarinas em sua composição, pode interferir em terapia de anticoagulantes. A erva não deve ser utilizada por quem estiver fazendo uso de warfarina e ciclosporina em quantidades elevadas por conta de seu índice terapêutico estreito. A camomila também inibiu a CYP-450 isoenzima IA2, mas a importância desta inibição é questionável, pois nenhuma interação foi causada entre o sedativo e as propriedades antiespasmódicas da planta foi relatada. Contraindicações A erva pode causar náuseas e dermatite de contato em pessoas sensíveis. Não usar durante a gravidez e na lactação. Evitar em casos de úlcera duodenal e gástrica, no refluxo esofágico, colite ulcerosa, colite espasmódica, diverticulite e diverticulose. Doses excessivas podem causar efeito inverso, causando agitação. Evitar uso em pessoas que estão se submetendo a quimio e radioterapia ou que apresentem Doença de Crohn ou Mal de Parkinson. Não deve ser utilizada junto com as refeições. Toxicidade A camomila em geral é muito bem tolerada. Na literatura médica se tem registros de cinco casos de reações alérgicas com essa planta. No Estados Unidos, alguns médicos ressaltam certos cuidados quanto ao uso de camomila. O que ocorre é que algumas plantas da família das Compositae apresentam em comum lactonas sesquiterpenicas que poderiam ser responsáveis pelos casos de alergia (ALONSO, 1998). Deve ser usada com cautela por gestantes, pois há indicações de que possua ação emenagoga. Alguns autores citam que se deve ter muito cuidado ao usar infuso evitando o contato com os olhos (TESKE, 1997). Em casos de superdosagem a camomila pode causar náuseas, excitação nervosa e insônia. A dose letal por via intramuscular é de 3g/Kg em ratos (TESKE, 1997). Medicina Chinesa (MTC) Seu nome chinês é Yang Gan Jiu. A erva limpa vento e umidade, corrige deficiência do Baço/Pâncreas, resolve a desarmonia entre o baço e fígado, elimina a estagnação do Qi do Fígado, do Qi do Estômago e do Qi do Rim, contém a subida do Yang do Fígado, move a estagnação do Qi do Útero, elimina umidade-mucosidade-calor do Pulmão, vento-calor do Pulmão, umidade-calor do Intestino Grosso e Intestino Delgado e vento-calor na pele. Faz circular o Qi dos Intestinos. Seu elemento predominante é a Terra. Atua nos canais do Estômago, Fígado, Bexiga, Pulmões, Baço/Pâncreas, Vaso Governador, Vaso Concepção e Pericárdio. Pets e outros animais Utilizada na veterinária por suas propriedades sedativas e ansiolíticas. Deve ser usada como vapor ou por via oral ajudando na introdução a novos ambientes ou novos donos aliviam possível estresse. Sua infusão também é indicada para problemas digestivos de cães e gatos. Formulações Óleo para pele e massagens - Plantas secas (flores) - Óleo (girassol , oliva ou amêndoas ) Preparo: Colocar as ervas bem secas num recipiente de vidro ou cristal, cobrindo-as em seguida com o óleo escolhido. Levar ao fogo, em banho-maria, tendo sempre cuidado para não ultrapassar 70 ºC. Colocar o recipiente em local e deixar descansar por mais de 72 horas. Depois coar em pano de algodão espremendo bem e colocar a solução obtida em vidros escuros e etiquetar. Óleo de Camomila (flores) - calmante e suaviza a pele, usar nas queimaduras de sol, para pele de crianças e aplicação após a depilação. Extrato glicólico de camomila - 20 g de das flores de camomila - 90 ml de glicerina - 10 ml de álcool (acho que é a 70%) Preparo:triturar as flores (amassar bem) ou bata no liquidificador até que vire um pó, acrescente a glicerina e o álcool e deixe em um lugar seco e ao abrigo da luz por 72 horas. Passado este período, leve ao banho maria por uma temperatura de 40 graus por uma hora. Filtre com um filtro de papel ou um pedaço de algodão para tirar os resíduos e está pronto para adicionar as formulações. Creme Lanette Preparar 100mL de Creme Lanette e Creme de extrato glicólico de camomila Lanette N.............................................................................20% Nipazol................................................................................0,05% EDTA/BHT...........................................................................0,02% Óleo mineral............................. d=0,86g/mL.......................5% Nipagin ................................................................................0,1% Propilenoglicol ......................... d=1,036g/mL.....................5% Água destilada................................ qsp ..............................100mL Preparo: Separar a fase oleosa da fase aquosa, levar ao aquecimento até atingir temperatura de 70 ºC, fundir a fase aquosa na oleosa em movimento constante. Loção Lanette a 5% de extrato glicólico de camomila Extrato glicólico de camomila.............................................5% Creme Lanette................................ qsp ..............................100g REFERÊNCIAS TESKE, M. Herbarium compêndio de fitoterapia. Curitiba: Editora Herbarium laboratório botânico, 1997. 317p. ALONSO, JR; 1998. Tratado de Fitomedicina - bases clínicas y farmacológicas. ISIS Ediciones SRL, Buenos Aires, Argentina. págs. 350-354. COSTA NETO, EM; (1994). Etnoictiologia alagoana, com ênfase na utilização medicinal de insetos. Monografia. Universidade Federal de Alagoas. Maceió. 192 pp. LORENZI, H. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Site: https://ervanarium.com.br/planta/camomila/ COIMBRA, R; Manual de Fitoterapia. Ed. CEJUP, 1994.
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