Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Fichamento Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal – Alessando Baratta
 	“Na análise do capitalismo contemporâneo Baratta indica o caráter nodal da relação cárcere/marginalização social: o cárece seria o momento culminante de mecanismos de criminalização, inteiramente inútil para reeducação do condenado – porque a educação deve promover a liberdade e o autorrespeito, e o cárcere produz degradação e repressão, desde a cerimônia de despersonalização; portanto, se a pena não pode transforar homens violentos em indivíduos sociáveis, institutos penais não podem ser institutos de educação. A prisão se caracterizaria por dois processos complementares: um processo de desculturação em face da sociedade, com redução da vontade, perda do senso de responsabilidade, formação de imagens ilusórias da realidade e distanciamento progressivo dos valores sociais; e um processo de aculturação em face da prisão, com absorção de valores e adoção de modelos de comportamentos próprios da subcultura carcerária: o condenado ou assume o papel de ‘bom preso’, com atitudes de conformismo e oportunismo, ou assume o papel de criminoso, compondo a minoria dominante na organização informal da comunidade carcerária, com poder sobre ‘recursos’ e culto à violação ilegal.” Juarez Cirino dos Santos
Introdução SOCIOLOGIA JURÍDICA E SOCIOLOGIA JURÍDICO-PENAL
Objeto da sociologia jurídica
Comunidade: organização compreensiva da vida humana em comum; o direito é uma parte dela. O objeto da sociologia jurídica é a relação entre mecanismos de ordenação do direito e da comunidade e a relação do direito e outros setores da ordem social. Então, a sociologia jurídica tem a ver com as estruturas normativas da comunidade e especialmente com as condições e efeitos das normas jurídicas. Ela se ocupa com os modos de ação e de comportamento que constituem norma jurídica (o costume como fonte, o modo de ação do legislador, as instâncias que aplicam o direito), e os modos de ação e de comportamento que são efeitos das normas jurídicas (o problema do controle social por meio do direito).
Reação social ao comportamento desviante é um controle social não institucional. Outro controle social do desvio: o direito e os órgãos oficias que o aplicam. 
A sociologia teórica é mais abstrata e, por isso, vai às leis socias e às estruturas que não são observadas empiricamente. 
O objeto da ciência do direito são normas e estruturas normativas
A sociologia jurídica tem a ver com modos de ação e estruturas sociais
A filosofia do direito tem por objeto os valores conexos aos sistemas normativos
A teoria do direito tem por objeto a estrutura lógico-semântica, as proposições e os problemas das relações entre normas e entre ordenamentos (validade, utilidade, coerência).
Objeto da sociologia jurídica – penal
Estuda as ações e os comportamentos normativos que formam e aplicam um sistema penal
Estuda os efeitos do sistema de aspecto “institucional” da reação ao comportamento desviante e do controle social
Compreende as reações não institucionais ao comportamento desviante (integra o controle social do desvio junto com as reações institucionais). Compreende também as conexões entre o sistema penal e a estrutura econômico-social
Há uma certa convergência entre os estudiosos da sociologia jurídica e da criminologia, e isso é um fato positivo. Mas, elas tem objetos diferentes. A sociologia criminal estuda o comportamento desviante com relevância penal, a sua origem e a sua função na estrutura social. A sociologia jurídico-penal estuda os comportamentos de reação ante o comportamento desviante, os fatos que a condicionam e os efeitos desta reação; ela estuda, portanto, tanto as reações intitucionais dos órgãos oficiais quanto as reações não institucionais. 
O conceito de desvio e suas tradicionais definições adquiriram caráter problemático com a criminologia recente. 
Labeling approach: nova perspectiva criminológica que tem uma atitude cética quanto a definição tradicional do desvio. Acentua o caráter parcialmente constitutivo que toda reação social contra o desvio tem para o status de desviante assumido por alguns sujeitos. Segundo essa concepção, o fato de que autores de certos comportamentos sejam reprimidos penalmente pelos órgãos responsáveis estigmatiza e influencia a realidade social do desvio e a consolidação do status social do delinquente. O desvio e o status social do delinquente não são uma realidade preconstituída em relação às reações institucionais que eles desencadeiam. O mesmo deve valer para as reações não institucionais, o efeito estigmatizante da reação da opinião pública é muito grande
O campo da sociologia criminal e da sociologia penal se sobrepõem no que se refere aos aspectos da noção, da constituição e da função do desvio; sendo estes conectados com a função e os efeitos estigmatizantes da reação social (institucional ou não)
Microssociologia e macrossociologia. Possibilidades e função de sua integração
A sociologia jurídica e a sociologia jurídico-penal (na Itália principalmente) têm uma direção empírica e analítica
A sociologia jurídica foi se libertando disso
Ela é uma atitude microssociológica quanto ao seu objeto, o que é compatível com uma atitude macrossociológica quanto ao horizonte explicativo e interpretativo adotado em face dos fenômenos setoriais 
Há uma tendência de desenvolvimento na pesquisa sociológico-jurídica, que é tentar unir uma perspectiva microssociológica, para delimitar objetos específicos de indagação, com uma perspectiva macrossociológica, para definir um horizonte explicativo dentro do qual são considerados os fenômenos singulares.
A criminologia crítica tem como fato central o uso da perspectiva macrossociológica, em função teórica e prática no estudo e na interpretação do fenômeno do desvio
A “nova criminologia” é um tributo de uma tradição clássica do pensamento sociológico, em cujo âmbito o problema do desvio é tratado como aspecto funcional de uma determinada estrutura socioeconômica.
A ESCOLA LIBERAL CLÁSSICA DO DIREITO PENAL E A CRIMINOLOGIA POSITIVISTA
A criminologia positivista e a escola liberal clássica do direito penal
A criminologia contemporânea (anos 30 em diante) tende a superar as teorias patológicas – baseadas em características biológicas e psicológicas - da criminalidade, seria um rígido determinismo, sem livre arbítrio do sujeito. Essas teorias eram próprias da CRIMINOLOGIA POSITIVISTA, inspirada na filosofia e na psicologia do positivismo naturalista (predominou entre o fim do século XIX e início do século XX). 
A criminologia positivista inovou pela suposta possibilidaade de perceber “sinais” antropológicos da criminalidade e de observar os indivíduos assinalados, que estavam dentro das prisões ou de manicômios judiciários. Nas escolas positivistas há o começo da criminologia como uma nova disciplina científica e autônoma. O objeto dela é o homem delinquente, o suposto indivíduo diferente que, assim sendo, é clinicamente observável. Tal criminologia tem por função estudar as causas da diferença do sujeito, os fatores que determinam o comportamento criminoso, para combatê-lo por meio de práticas que almejam modificar o delinquente. “A concepção positivista da ciência como estudo das causas batizou a criminologia.” 
A matriz positivista é fundamental na história da disciplina. A orientação patológica e clínica está representada na atual criminologia oficial. As escolas sociológicas que se desenvolveram dos anos 30 em diante continuaram, por muito tempo, considerando a criminologia como o estudo das causas da criminalidade; o que direcionou a atenção para os fatores sociais. O modelo positivista da criminologia que propõe a intervenção no sujeito criminoso para remover os fatores da criminalidade permanece dominante dentro da sociologia criminal contemporânea. 
O conhecimento de que não é possível considerar a criminalidade como um dado pré construído às definições legais de certos comportamentos e de certos sujeitos é característica das tendências da novacriminologia inspirada no labeling approach (paradigma da reação social). “A consideração do crime como um comportamento definido pelo direito, e o repúdio do determinismo e da consideração do delinquente como um indivíduo diferente, são aspectos essenciais da nova criminologia”. Os representantes da nova criminologia se voltaram para analisar certas ideias que tinham sido desenvolvidas no âmbito da filosofia política liberal clássica na Europa (século XVIII e XIX), pois alguns princípios fundamentais dessa época estão recebendo novo significado na atualidade.
A ESCOLA LIBERAL CLÁSSICA não considerava o delinquente como um ser diferente dos outros, nem acreditava na hipótese de um determinismo rígido. Ela se detinha principalmente sobre o delito, entendido como violação do direito e violação do pacto social que estava na base do Estado e do direito. 
O delito, para essa escola, surge da livre vontade do indivíduo (não de causas patológicas). O delinquente não era diferente do indivíduo normal porque tinha liberdade e responsabilidade moral por suas ações. O direito penal e a pena não eram para intervir e modificar o sujeito, mas eram instrumentos legais para defender a sociedade do crime, criando uma contramotivação; pagar o mal com o mal. Os limites da aplicação da sanção penal e do poder punitivo do Estado eram a necessidade da pena e o princípio da legalidade.
Tais escolas queriam substituir a prática penal e penitenciária anterior por uma política criminal inspirada em princípios como o de humanidade, de legalidade, de utilidade. Elas contestaram o modelo de criminologia positivista, dando atenção também ao direito penal, fazendo dele e da criminalidade os objetos de uma crítica radical do ponto de vista sociológico e político.
É a “época dos pioneiros” da moderna criminologia, afinal, muitas foram as teorias sobre o crime, sobre o direito penal e sobre a pena desenvolvidas na Europa no século XVIII e XIX (filosofia política liberal clássica). Porém, quando se fala de criminologia positivista como a primeira fase de desenvolvimento da criminologia como disciplina autônoma, as referêntes são feitas as teorias desenvolvidas também na Europa, entre o final do século XIX e o começo do XX (filosofia e sociologia do positivismo naturalista) – Escola Social alemã e Escola Positiva italiana. 
“A finalidade específica desta reconstrução histórica consiste em mostrar em que sentido e até que ponto o desenvolvimento do pensamento criminológico posterior aos anos 30 colocou em dúvida a ideologia penal tradicional, sobre a qual repousa ainda hoje a ciência do direito penal, e em face da qual, como se verá, a criminologia postivista pode se considerar subalterna.”
Da filosofia do direito penal a uma fundamentação filosófica da ciência penal. Cesare Beccaria
A tradição italiana de direito penal da Escola Clássica se deve, em parte, a filósofos como Beccaria, Filangieri e Tomagnosi, bem como a juristas. Neste primeiro período do desenvolvimento do pensamento penal italiano, há um processo que vai de uma concepção filosófica para uma concepção jurídica, mas filosoficamente fundada, dos conceitos de delito, de responsabilidade penal, de pena. 
Beccaria lança, em 1764, o tratado Dei delitti e delle pene, que é uma expressão de todo um movimento de pensamento, em que conflui toda a filosofia política do Iluminismo europeu. A consequência da história da ciência penal é a formulação pragmática dos pressupostos para uma teoria jurídica do delito e da pena e do processo, baseada no princípio utilitarista da maior felicidade para o maior número, e sobre as ideias do contrato social e da divisão dos poderes. Para Beccaria, a base da justiça humana é a utilidade comum, que vem da necessidade de manter unidos os interesses particulares. O contrato social está na base da sociedade e das leis, ele tem por função defender a coexistência dos interesses individualizados no estado civil, e isso constitui o limite do sacrifício da liberdade individual e do exercício do poder punitivo do Estado. 
“foi, pois, a necessidade que constrangeu a ceder parte da própria liberdade (…). A soma destas mínimas porções possíveis forma o direito de punir; tudo o mais é abuso (…). As penas que ultrapassam a necessidade de conservar o depósito da saúde pública são injustas por sua natureza (…)” (Beccaria)
	Para Beccaria, o critério da medida da pena é o mínimo sacrifício necessário da liberdade individual que ela implica. Já a pena de morte não deveria existir porque é impensável que os indivíduos espontaneamente coloquem no depósito público não só uma parte de sua liberdade, mas sua própria existência. Também são negados a justiça de gabinete (processo inquisitório) e a tortura. A essência e a medida do delito estão, no sistema conceitual do livro de Beccaria, no dano social. O dano social constitue o elemento fundamental da teoria do delito, e a defesa social constitue o elemento fundamental da teoria da pena.
O pensamento de Giandomenico Romagnosi. A pena como contra-estímulo ao impulso criminoso
Romagnosi tem consciência da necessidade de fazer surgir o sistema de direito penal de uma verdadeira e própria filosofia do direito. Tal filosofia do direito e da sociedade que está na base do sistema penal de Romagnosi afirma a natureza desde sempre social do homem mas nega a ideia de que o indivíduo renunciaria por meio do contrato sua independência natural. A verdadeira independência natural dos homens seria a superação da dependência da natureza, por meio do estado social, o qual permite aos homens conservar mais adequedamente a própria existência e realizar a própria racionalidade. As leis dessa ordem social são as leis da natureza, que o homem pode reconhecer mediante a razão. O princípio essencial do direito natural é a conservação da espécie humana e a obtenção da máxima utilidade. Disso derivam as principais relações ético-jurídicas: o direito e o dever de cada um de conservar a própria existência, o dever recíproco dos homens de não atentar contra sua existência, o direito de cada um de não ser ofendido por outro. O fim da pena é a defesa social, pois ela é um contra-estímulo ao impulso criminoso. “Se depois do primeiro delito existisse uma certeza moral de que não ocorreria nenhum outro, a sociedade não teria direito algum de puni-lo”. Todavia, a pena não é o único meio de defesa social; o maior esforço da sociedade deve ser prevenir o delito, melhorando as condições de vida social.
O nascimento da moderna ciência do direito penal na Itália. O sistema jurídico de Francesco Carrara
Carrara sintetizou a elaboração da filosofia do direito penal iltaliano dos vários autores de até então (Programma del corso di diritto criminale). Ele pôs uma base lógica para uma construção jurídica coerente do sistema penal; nasce a moderna ciência do direito penal italiano. Ele tem uma visão muito jurídica do delito. Segundo Carrara, “toda a imensa trama de regras que, ao definir a suprema razão de proibir, reprimir e julgar as ações dos homens, circunscreve, dentro de limites devidos, o poder legislativo e judicial, deve (no meu modo de entender) remontar, como à raiz da mestra árvore, a uma verdade fundamental”. Essa verdade é que “o delito não é um ente de fato, mas um ente jurídico porque sua essência deve consistir, indeclinavelmente, na violação de um direito”. Todavia, esse direito ao qual Carraca se refere não é o direito positivado, mas “uma lei que é absoluta, porque constituída pela única ordem possível para a humanidade, segundo as previsões e a vontade do Criador”. Carraca distingue a parte teórica do direito penal (o fundamento lógico, aqui, é dado pela verdade, pela natureza das coisas da qual deriva a ordem imutável) da parte prática do direito penal (aquele fundamento anterior é positivado na lei e aplicado pela autoridade). Segundo Carraca, é a primeira “a ciência que devemos estudar; abstraindo sempre do que se pode ter querido ditar nos vários códigos humanos, e redescobrindo a verdade no código imutável da razão.A comparação dos direitos constitutivos não é senão um complemento de nossa ciência”. 
É uma fé racionalista, que defende que os princípios imutáveis da razão presidiriam a teoria do delito. a teoria referente ao direito penal, para Carraca, deve estudar a contraposição entre a autoridade da lei e a verdade que descende da natureza das coisas. Ele tem uma pretensão filosófica, almejava estudar a verdade superior e independente da autoridade da lei positiva. este foi um avanço muito grande para o direito penal na Itália, pois defende que as teorias do delito derivam de considerações jurídicas do delito, o qual não é entendido unicamente como um dano para a sociedade, mas sim um fato juricamente qualificado, uma violação do direito. 
Carraca também faz uma distinção entre “consideração jurídica do delito e consideração ética do indivíduo”, além da afirmar que a função da pena é principalmente a defesa social. “O fim da pena é a eliminação do perigo social que sobreviria da impunidade do delito”, não é a retribuição, nem a emenda, estas podem ser alcançáveis, não são as funções essenciais. Os pensamentos de Carrara dão impulso a Escola Clássica. 
A escola positiva e a explicação patológica da criminalidade. O criminoso como “diferente”: Cesare Lombroso
Na Escola Clássica, ao qualificar o delito como ente jurídico, as características biopsicologócias do delinquente e seu meio do social são deixados de lado; é uma filosofia baseada da individualização. Para Carraca e para a Escola Clássica, o delito é um ato da livre vontade do sujeito, assim, permitiu-se a formação de um sistema penal baseado sobre a “objetividade” do delito.
Já a Escola positiva (Lombroso, Ferri e Garófalo) tinha uma nova maneira de considerar o delito. O racionalismo de entidades abstratas da Escola Clássica perdia consistência em face de uma visão filosófica baseada sobre o conceito naturalista de totalidade. “O delito é, também para a Escola positiva, um ente jurídico, mas o direito que qualifica este fato humano não deve isolar a ação do indivíduo da totalidade natural e social”. A compreensão do delito da Escola positivista não se baseia na tese de uma causação espontânea que dá origem a um ato de livre vontade, mas numa que procure encontrar as causas do delito nos contextos biológicos, psicológicos e sociais do indivíduo em questão. Lombroso considerava o delito como um ente natural, “um fenômeno necessário, como o nascimento, a morte, a concepção”, determinado por causas biológicas, sobretudo hereditárias. Lombroso defendia a existência de um rígido determinismo biológico, com uma visão muito antropológica (sem negligenciar os fatores psicológicos e sociais). Já Ferri ampliou os fatores do delito, quais sejam: fatores antropológicos, fatores físicos e fatores sociais. Com a Escola positivista, o delito era fruto de um determinismo da realidade na qual o homem está inserido, e todo o comportamento dele expressa essa realidade. O sistema penal, na Escola positiva, se fundamenta sobre o autor do delito, e sobre a classificação tipológica dos autores.
	Para a Escola positiva, a explicação da criminalidade estava na “diversidade” ou anomalia dos autores de comportamentos criminalizados. Com Grispigni, o delito é considerado um elemento sintomático da personalidade do autor, sendo o tratamento adequado o objeto da pesquisa. Já com Ferri, a responsabilidade moral é substituída pela social; já que o delito é cometido por um sujeito, é necessário que a sociedade reaja ao delinquente. “mas a afirmação da necessidade delituosa faz desaparecer todo caráter de retribuição jurídica ou de retribuição ética da pena”; é reafirmada a concepção da pena como meio de defesa social. Com Ferri, os meios preventivos de defesa social contra o crime (os substitutivos penais) são agregados à pena. Mas como meio de defesa social, a pena não é exclusivamente repressiva, mas sobretudo, age de modo curativo e reeducativo. Porém, consequentemente, há uma duração indeterminada da pena, pois já que ela está ligada às condições do sujeito tratado, é só por meio da melhoria e da reeducação do deliquente que a duração da pena pode ser medida. 
	Os autores da Escola positiva “partiam de uma concepção do fenômeno criminal segundo a qual este se colocava como um dado ontológico preconstituído à reação social e ao direito penal; a criminalidade, portanto, podia tornar-se objeto de estudo nas ‘causas’, independentemente do estudo das reações sociais e do direito penal”. 
	A criminologia, assim, continuava subordinada ao direito penal positivo. Afinal, os sujeitos que ela estudava, para construir uma teoria das causas da criminalidade, eram aqueles selecionados pelo sistema penal punitivo, como os habitantes do cárcere e do manicômio judiciário.
II- A IDEOLOGIA DA DEFESA SOCIAL
A ideologia da defesa social como ideologia comum à Escola clássica e à Escola positiva. Os princípios cardeais da ideologia da defesa social
“Tanto a Escola clássica quando as escolas positivistas realiza, um modelo de ciência integrada, ou seja, um modelo no qual ciência jurídica e concepção geral do homem e da sociedade estão estreitamente ligadas [...] em ambos os casos nos encontramos em presença da afirmação de uma ideologia da defesa social, como nó teórico e político fundamental do sistema científico”. A ideologia da defesa socia nasceu junto à revolução burguesa, e ideologicamente predominou no setor penal. As Escolas positivas a herdaram da Escola clássica. O conteúdo dessa ideologia passou a predominar tanto ciência jurídica quanto nas opiniões comuns. A ideologia da defesa social é baseada nos seguintes princípios:
Princípio da legitimidade: o Estado, sendo a expressão da sociedade, está legitimado para reprimir a criminalidade por meio de instâncias oficiais de controle social (legislação, políticia, magistratura, presídios), as quais interpretam a reação da sociedade, dirigida à reprovação e condenação do comportamento desviante individual e à reafirmação dos valores e das normas sociais. 
Princípio do bem e do mal: “o delito é um dano para a sociedade. O delinquente é um elemento negativo e disfuncional do sistema social. O desvio criminal é, pois, o mal; a sociedade constituída, o bem”.
Princípio da culpabilidade: “o delito é expressão de uma atitude interior reprovável, porque contrária aos valores e às normas, presentes na sociedade mesmo antes de serem sancionadas pelo legislador.”
Princípio da finalidade ou da prevenção: a pena não tem somente a função de retribuir, mas a de prevenir o crime. Como sanção abstratamente prevista pela lei, tem a função de criar uma justa e adequada contramotivação ao comportamento criminoso. Como sanção concreta, exerce a função de ressocializar o delinquente.
Princípio da igualdade: a criminalidade é a violação da lei penal e, como tal é o comportamento de uma minoria desviante. A lei penal é igual para todos. A reação penal se aplica de modo igual aos autores do delito.
Princípio do interesse social e do delito natural: o núcleo central dos delitos definidos nos códigos penais representa ofensa de interesses fundamentais, de condições essenciais à existência de toda sociedade. Os interesses protegidos pelo direito penal são interesses comuns a todos os cidadãos. Apenas uma pequena parte dos delitos representa a violação de determinados arranjos polítcos e econômicos, e é punida em função da consolidação destes (são os delitos artificiais).
A diferença entre as escolas positivistas e a escola clássica estão nas atitudes metodológicas gerais com relação à explicação da criminalidade. Segundo as Escolas positivas, a tarefa da criminologia é explicar as causas do comportamento criminoso, ressaltando o determinismo e as diferenças fundamentais entre criminosos e não criminosos. Quanto a Escola clássica, esta tem por objeto o próprio crime, e leva em consideração o livre arbítrio, o mérito e demérito individual e a igualdade substancial entre criminosos e não criminosos. Assim, as diferenças dizem respeito ao princípio da culpabilidade,pois, segundo a clássica, este tem um significado moral-normativo (desvalor, condenação moral), enquanto para a positiva tem significado sociopsicológico. Ambas sustentam um sistema penal baseado na defesa social, a qual parece ser, na ciência penal, a junção dos maiores progressos do direito penal moderno. Afinal, ela justifica e racionaliza o sistema legislativo ou o dogmático. O uso da ideologia da defesa social ocorre junto de uma sensação (sem reflexão) de que se está militando do lado justo. Ela representa um progresso do pensamento penal e penitenciário. Contudo, do ponto de vista crítico, a ciência do direito penal está muito atrasada com relação aos estudos dessa mesma matéria que são feitos pelas ciências sociais, até porque ela oferecem importantes pontos de vista para superar o conceito de defesa social; e mostrar isso é o objetivo desse livro, segundo Baratta. 
Função legitimante desenvolvida pela ideologia da defesa social em face do sistema penal
A capacidade de criticar os mitos e as ideologias dos juristas, com uma análise crítica, varia muito entre as diversas teorias sociológicas. Algumas, todavia, produzem novas ideologias, que podem também idealizar e estabilizar as instituições penais e penitenciárias. Baratta afirma que nessa obra se propõe a realizar um confronto entre a teoria jurídica e a teoria sociológica da criminalidade; tal confronto é importante para que a ciência do direito penal supere os elementos míticos e ideológicos que nela ainda pesam, “como mal digerida herança do passado”. Segundo Baratta, o “método seguido aqui é de uma crítica externa do pensamento penalístico”, baseando-se em análises extraídas do desenvolvimento da sociologia criminal norte-americana e europeia. 
O atraso da ciência jurídica no que diz respeito à criminologia contemporânea é tão grande que ele não pode ser recuperado por meio de uma autocrítica que parta da ciência jurídica. Porém, o contraste entre dogmática jurídica e ciências sociais e criminológicas quanto aos estudos sociais e criminológicos ainda não foi superado. Caso o pensamento penalista tivesse se encontrado com a mais avançada criminologia, ele teria sido conduzido a uma atitude crítica em relação à ideia de defesa social, mas isso ainda não aconteceu. Nem existe ainda uma verdadeira interação entre a dogmática do delito e a teoria sociológica da criminalidade, ainda que, principalmente na Europa, haja esforços para reconstruir um novo modelo de ciência penal integrada. Para tanto, deve-se começar com um confronto externo da ciência penal com a teoria sociológica da criminalidade. Segundo o autor, os modelos integrados que já existiram não tinham alternativas críticas, apenas modificavam a aperfeiçoavam a ideologia da defesa social. Assim, esta ideologia se reafirma nas Escolas, tanto na ideologia positiva (programa de ação), quanto na ideologia negativa (falsa consciência, idealizações mistificantes das funções reais dos institutos penais).
Necessidade de situar os elementos de uma teoria do desvio, dos “comportamentos socialmente negativos”, e da criminalização, dentro de uma específica estrutura econômico-social
Os princípios da ideologia da defesa social foram confrontados criticamente pelas teorias sociológicas contemporâneas sobre a criminalidade. Estas teorias estão inseridas no campo da sociologia criminal burguesa e são chamadas de “liberais”, as quais se caracterizam, no interior do pensamento burguês contemporâneo, por uma atitude racionalista, reformista e progressista. 
As teses alternativas (criminologia crítica) que resultam do estudo, sem preconceitos, das diversas teorias sociológicas sobre a criminalidade e o direito penal, não implica a aceitação dessas últimas, afinal, há uma incompatibilidade. A análise daquelas teorias é baseada na ideia de que o conceito de defesa social corresponde a uma ideologia abstrata e aistórica de sociedade, a qual é entendida como uma totalidade de valores e de interesses. Uma teoria adequada da criminalidade, com um modelo integrado de ciência do direito penal, tem concepções contrárias à ideologia da defesa social: ela leva em conta as específicas formações econômicas socias e os problemas destas. Essa teoria também trabalha analisando os conflitos de classe e as contradições das relações de produção de determinado momento. 
III – AS TEORIAS PSICANALÍTICAS DA CRIMINALIDADE E DA SOCIEDADE PUNITIVA. NEGAÇÃO DO PRINCÍPIO DE LEGITIMIDADE
A teoria freudiana do “delito por sentimento de culpa” e as teorias psicanalíticas da sociedade punitiva
Surge em torno dos anos 1920-1930, e são orientações de pesquisa sobre o crime a e pena que incluem a sociedade (de maneira aistórica, porém) no interior do objeto de estudo. Nas teorias psicanalíticas há duas grandes correntes de pensamento, ligadas entre si. A primeira e mais importante diz respeito à explicação do pensamento criminoso, que parte de Freud para chegar a Moser. 
Tais teorias têm origem na doutrina freudiana da neurose e na aplicação dela, realizada por Freud. “Segundo Freud, a repressão de instintos delituosos pela ação do superego não destrói estes instintos, mas deixa que eles se sedimentem no inconsciente. Esses instintos são acompanhaos, no inconsciente, por um sentimento de culpa, uma tendência a confessar. Precisamente com o comportamento delituoso, o indivíduo supera o sentimento de culpa e realiza a tendência a confessar”. Assim, tal teoria nega o princípio da culpabilidade e o direito penal baseado nele. 
Já as teorias psicanalíticas da sociedade punitiva (segunda corrente), põem em dúvida o princípio da legitimidade, bem como a legitimação do direito penal. Afinal, elas atribuem funções psicossociais à punição, e veem as funções preventivas, defensivas e éticas da defesa social (legitimidade) e a ideologia penal como uma mistificação racionalizante. “Segundo as teorias psicanalíticas da sociedade punitiva, a reação penal ao comportamento delituoso não tem função de eliminar ou circunscrever a criminalidade, mas corresponde a mecanismos psicológicos em face dos quais o desvio criminalizado aparece como necessário e ineliminável na sociedade”.
Freud mostrou a diferença entre a neurose (doença individual) e o tabu (formação social). Primitivamente, no caso da violação de um tabu, a punição é espontânea, do grupo social, é uma forma secundária de pena; os componentes do grupo social se sentem ameaçados pela violação do tabu. Esse processo é explicado pela “tentação de imitar aquele que violou o tabu, liberando, assim, como aquele o fez, instintos de outro modo reprimidos”. “A reação punitiva pressupõe, portanto, a presença, nos membros do grupo, de impulsos idênticos aos proibidos”.
Theodor Reik e a sua explicação psicanalítica das teorias retributiva e preventiva da pena. A variante de Franz Alexander e Hugo Staub a tal hipótese
Teoria freudiana: “delito por sentimento de culpa”. Sobre ela, Reik fundou uma teoria psicanalítica do direito penal, com a pena tendo uma função dupla: a pena satisfaz a necessidade inconsciente de punição que impele a uma ação proibida; a pena satisfaz a necessidade de punição da sociedade, por meio de sua inconsciente identificação com o delinquente. Assim, a concepção retributiva e a concepção preventiva são racionalizações de fenômenos que têm origem no inconsciente. A retribuição, a dita finalidade da pena, é apenas a representação de um impulso; a retribuição teria função de proteger a sociedade (prevenção geral) e o indivíduo (prevenção especial), ou seja, o resultado seria futuro e visaria influenciar a coletividade ou o delituoso. Tais teorias são complementares apenas e fundam-se sobre a função dupla da pena (ao deliquente e à sociedade). O estudo delas deve partir da investigação que fez Freud a respeito do sentimento de culpa, o qual vem antes do delito, não sendo uma consequência deste, mas sim sua mais profunda motivação.
Reiterando, segundo essas teorias, o efeito dissuasivo da pena se funda sobre a identidade dos impulsos proibidos, no deliquente e na sociedadepunitiva. Assim sendo, segundo Reik, a tendendêcia do desenvolvimento do direito penal é a de superar a pena, “talvez virá um tempo em que a necessidade de punição será menor do que na atualidade”. Já Franz Alexander e Hugo Staub ressaltam que a pena ao que delinque vem contrabalançar a pressão dos impulsos reprimidos; “a punição representa uma defesa e um reforço do superego”: “o ego pretende expiação toda vez que se verifica uma violação do direito, para aumentar, no momento em que ele é pressionado pelos impulsos, a força do próprio superego. O mau exemplo do delinquente age de modo sedutor sobre os próprios impulsos reprimido e aumenta sua pressão. Por isso, o ego tem necessidade de reforçar o próprio superego, e somente pode obter este reforço das pessoas reais que incorporam a autoridade, as quais são o modelo do superego. Se o ego pode demonstrar aos impulsos que também as autoridades mundanas dão razão ao superego, então ele pode se defender do assalto dos impulsos. Mas se as autoridades mundanas desautorizam o superego, deixando fugir o delinquente, então não existe mais nenhuma ajuda contra o assalto das tendências antissociais. O impulso para a punição é, pois, uma reação defensiva do ego contra os próprios impulsos, com a finalidade de sua repressão, para conservar o equilíbrio espiritual entre forças repressivas e forças reprimidas. A exigência de punir o delinquente é, simultaneamente, uma demonstração dirigida para dentro, para desencorajar os impulsos: o que nós proibimos ao delinquente, vós também podeis renunciar”.
O enriquecimento posterior da teoria psicanalítca da sociedade punitiva e a crítica da justiça penal na obra de Alexander e Staub
Eles enriqueceram a teoria com dois motivos que a partir dali passaram a ser centrais. o primeiro: o princípio dos impulsos que movem o delinquente e a sociedade (reação punitiva) é transportado para as características pscicológicas gerais do mundo do delinquente e das pessoas dos órgãos do sistema penal. Entre essas pessoas existe uma afinidade que se explica com a presença de tendências anstissociais não reprimidas de maneira suficiente, que impelem as pessoas do segundo grupo a punir. Da sociedade geral, portanto, se desloca para a reação institucional das pessoas que punem (juízes, polícia etc).
O segundo motivo vê a pena do ponto de vista da identificação de um sujeito individual com a sociedade punitiva e com os órgãos da reação penal. Esse identificação reforça o superego, e as agressões são impedidas por causa dele, portanto, elas permanecem irresolvidas, sendo descarregadas “através da identificação do sujeito com os atos da sociedade punitiva”. 
Tais autores, assim como Reik, ao analisarem psicologicamente a função punitiva, criticaram a justiça penal, pois as fontes afetivas da função punitiva seriam irracionais. Uma justiça racional atuaria sem expiação e não serviria (como acontece) a satisfazer dissimuladamente as agressões de massas. Para isso, os homens deveriam alcançar um maior controle do ego sobre a vida afetiva, e as tendÊncias afetivas das massas teriam que encontrar ampla eliminação. Porém, os autores têm visão sombria e pessimista a respeito disso, por causa das modificações da vida econômica, do avento de formas de concentração e organização da economia, do capitalismo tardio. (página 54)
A obra de Paul Reiwald, Helmut Ostermeyer e Edward Naegeli
um mecanismo de projeção similar ao da mentalidade primitiva, que conduz à representações de formas temíveis, para as quais são transferidas as próprias agressões, explica como a sociedade punitiva separando-se do sujeito delinquente (o bem e o mal) transfere a ele as próprias agressões. Ostermeyer: “a pena não basta para descarregar toda a agressão reprimida. Uma parte dela é transferida para o exterior, para outros indivíduos, através de mecanismos de projeção”. É o alarme social, que leva a sociedade a projetar as suas tendências antissociais na imagem dos deliquentes, sendo estes temíveis. 
Essa projeção e esse sentimento de culpa que se põem sobre o delinquente é analisado por meio da figura do bode expiatório, o qual carrega os nossos sentimentos de culpa (sobre ele se projeta nossas maios ou menos inconscientes tendências criminosas). 
"o nosso negativo, a assim chamada sombra, produz, como conteúdo consciencial inibido através da instância do superego, sentimentos de culpa inconscientes que procuram ser descarregados. Em todo homem existe a tendência a transferir esta sombra sobre uma terceria pessoa, objeto da projeção, ou seja, a transportá-la para o exterior e, com isso, a concebê-la como alguma coisa de externo, que pertence a um terceiro. Em lugar de voltar-se contra si próprio, insulta-se e pune-se o objeto desta transferência, o bode expiatório, para o qual é sobretudo característico o fato de que se encontra em condição indefesa". (Naegeli)
	Essas projeções da sombra são muito perigosas quando vêm da maioria da sociedade e se projetam sobre uma minoria marginal e diferente. Segundo Moser: “o mecanismo da projeção sobre o bode expiatório entrou dolorosamente na consciência pública através dos acontecimentos políticos dos últimos decênios”. A teoria psicanalítica foi uma forte crítica aos juristas e aos operadores sociais. Segundo Radbruch, sem uma “má-consciência” não se pode mais ser um bom jurista.
Limites das teorias psicanalíticas da criminalidade e da sociedade punitiva. A reprodução da concepção universalista de delito.
Apesar delas terem criticado fortemente a ideologia da defesa social, elas não conseguiram superar os limites da criminologia tradicional. Afinal, elas se apresentam (como as positivistas) como a etiologia de um comportamento, afinal, o “crime” é aceito, sem que se analise as relações sociais que explicam a criminalização e a lei. Elas também não analisam o comportamento desviante e seu significado dentro das relações socioeconômicas. 
Tais teoriam também acabam por justaposicionar a explicação etiológica do comportamento criminoso e a interpretação funcional da reação punitiva, sem mediação entre eles. É uma visão aistórica e universalizante com a qual são interpretados o comportamento criminoso e a reação punitiva. Afinal, as teorias psicanalíticas não recorrem as relações socioeconômicas e ao contexto histórico da análise. “Comportamento criminoso e reação punitiva são expressões da mesma realidade psicológica, aistoricamente centradas em um fundamental, natural e ineliminável antagonismo entre indivíduo e sociedade. É uma aistórica dimensão antropológica. Tal visão é típica de toda a criminologia liberal contemporânea; o desvio e a reação punitiva são tidos como elementos de uma concepção genérica e formal da sociedade. Acentua-se, portanto, a universalidade do delito e da reação punitiva para tais teorias.
IV. A TEORIA ESTRUTURAL-FUNCIONALISTA DO DESVIO E DA ANOMIA. NEGAÇÃO DO PRINCÍPIO DO BEM E DO MAL
A virada sociológica na criminologia contemporânea: Emile Durkheim
O princípio do bem e do mal foi posto em dúvida pela teoria estrutural-fucionalista da anomia e da criminalidade. Tal teoria representa a virada, realizada pela criminologia contemporânea, para a sociologia. É a primeira alternativa ao enfoque puramente biopsicológico do delinquente, pois revisa, de modo crítico, a criminologia de orientação biológica e caracterrológica.
A teoria estrutural-funcionalista da anomia e da criminalidade afirma:
“1) As causas do desvio não devem ser pesquisadas nem em fatores bioantropológicos e naturais (clima, raça), nem em uma situação patológica da estrutura social
2) o desvio é um fenômeno normal de toda estrutura social
3) somente quando são ultrapassados determinados limites, o fenômeno do desvio é negativo para a existência e o desenvolvimento da estrutura social, seguindo-se de um estado de desorganização” (anomia)
“Dentro de seus limites funcionais, o comportamento desviante é um fator necessário e útil para o equilíbrio e o desenvolvimento sociocultural”. Durkheim contesta a noção de que o crime é um fenômenopatológico, afinal, não há uma sociedade na qual não haja criminalidade, o delito está ligado à vida coletiva. Defender que o delito é uma doença seria afirmar que esta não é algo acidental. Assim, segundo Durkheim, o delito faz parte da fisiologia, e não da patologia da vida social. “Nos limites qualitativos e quantitativos da sua função psicossocial, o delito é não só ‘um fenômeno inevitável, embora repugnante, devido à irredutível maldade humana’, mas também ‘uma parte integrante de toda sociedade sã’”. Porquanto o delito provoca e estimula a reação social, ele mantém vivo o sentimento coletivo que sustenta a conformidade às normas. A autoridade pública, a qual é sustentada pela coletividade, descarrega a própria reação reguladora sobre os crimes; isso permite uma “maior elasticidade em relação a outros setores normativos” e torna possível a transformação e a renovação social. Afinal, além do criminoso permitir a manutenção do sentimento coletivo quando há a mudança, ele próprio, por vezes, antecipa o conteúdo dessa transformação futura. “Frequentemente o delito é a antecipação da moral futura”. 
Portanto, para Durkheim, o delinquente tornou-se “um agente regulador da vida social”. O autor posicionou-se contra as concepções naturalistas e positivistas, dando ênfase aos fatores intrínsecos ao sistema socioecônomico do capitalismo, baseado sobre uma divisão social do trabalho. Anomia: caracteriza a transformação da estrutura econômica-social.
Robert Merton: A superação do dualismo indivíduo-sociedade. Fins culturais, acesso aos meios institucionais e “anomia”
Merton desenvolveu a teoria funcionalista da anomia. Tal qual Durkheim, ele se opõe à concepção patológica, perigosa do desvio. Diferindo de teorias antecedentes (freudianas e hobbesianas) as quais partiam do pressuposto de contradição entre invidíduo e sociedade, sendo esta uma força que reprime a individualidade, portanto, os criminosos seriam aqueles que se revoltariam contra essa repressão, a teoria de Merton interpreta o desvio como um produto da estrutura social, tão normal quanto o comportamento que respeita as regras, e tendo a mesma natureza deste. Assim sendo, a estrutura social também exerce um efeito estimulante sobre o comportamento individual, produzindo novas motivações. 
Merton relaciona o desvio com a contradição entre estrutura social e cultura: a cultura propõe determinadas metas ao indivíduo, as quais motivarão o comportamento dele. Ela também proporciona meios institucionalizados para alcançar as metas; enquanto a estrutura econômico-social oferece a possibilidade de acesso aos meios legítimos para alcançá-las. “A desproporção que pode exigir entre os fins culturalmente reconhecidos como válidos e os meios legítimos, à disposição do indivíduo para alcançá-los, está na origem dos comportamentos desviantes”. Tal desproporção é um elemento funcional e que não pode ser eliminado da estrutura social. Para Merton, enquanto a cultura regula o comportamento dos membros do grupo, a estrutura social é o conjunto das relações sociais. Anomia é quando há forte discrepância entre normas e fins culturais e as possibilidades socialmente estruturadas de agir em conformidade com aqueles.
A relação entre fins culturais e meios institucionais: cinco modelos de “adequação individual”
Não é permitido, pela estrutura social, que todos os membros, na mesma medida, tenham um comportamento conforme aos valores e às normas ao mesmo tempo. Isso varia conforme a posição que o indivíduo ocupa na sociedade; assim, é criada uma tensão entre a estrutura social e os valores culturais. Daí derivam as respostas indivíduas às solicitações dos fins culturais e dos meios institucionais. São cinco modelos de “adequação individual”: 1. Conformidadade – resposta positiva aos fins e aos meios institucionais, conformismo, atitude típica; 2. Inovação – adesão aos fins culturais, sem o respeito aos meios institucionais; 3. Ritualismo – respeito somente formal aos meios institucionais, sem a perseguição aos fins culturais; 4. Apatia – negação tanto dos fins culturais quanto dos meios institucionais; 5. Rebelião – além de negar os fins e os meios, defende fins alternativos, mediante meios também alternativos.
A estratificação excerce grande influência sobre as reações individuais. Segundo Merton, os indivíduos podem passar de uma a outra dessas possibilidades em conformidade com o setor social em que se encontram. O comportamento típico criminoso é o da inovação, assim, Merton mostra que as pessoas de baixa renda estão submetidos à máxima pressão neste sentido. “Como diversas pesquisas demonstraram, determinadas infrações e determinados delitos são uma reação inteiramente ‘normal’ a uma situação na qual existe uma acentuação cultural do sucesso econômico e que, contudo, oferece em escassa medida o acesso aos meios convencionais e legítimos de sucesso”. “Não são decisivas as características biopsicológicas dos indivíduos, mas sim a pertinência a um ou a outro setor da sociedade”. O acesso aos meios legítimos se tornou estreito, a cultura coloca às pessoas sem condições financeiras exigências inconciliáveis; as possibilidades de alcançar um alto bem-estar por meios legítimos lhe são negadas. Particular exposição dos estratos sociais inferiores à delinquência inovadora.
Merton e a criminalidade do “colarinho branco”
Os crimes de colarinho branco provam como é grande a diferença entre as estatísticas oficiais da criminalidade e a criminalidade oculta, especialmente dos crimes realizados por pessoas que ocupam altas posições sociais. Mas, até que ponto tal criminalidade se explicaria pela discrepância entre fins culturais e acesso aos meios institucionais? Sutherland, com a teoria da “associação diferencial”, dizia que a criminalidade, como os comportamentos em geral, se aprende (os fins e as técnicas), conforme as pessoas com as quais o sujeito convive, no âmbito social e profissional. Já Merton via na criminalidade de colarinho branco um reforço da sua tese do desvio inovador: tais criminosos aderem o fim social predominante (sucesso econômico), mas sem conformidade com as normas institucionais. Contudo, parece evidente que o elemento que faz com que as classes baixas desviem não pode ter a mesma função nos crimes cometidos pelos estratos superiores. Afinal, ele limitou a sua análise ao fenômeno da distribuição de recursos, adotando uma visão superficial, porquanto a criminalidade das camadas superiores não é apenas um problema de socialização. Ele não explicou que entre os processos legais e ilegais de acumulação mutas vezes há uma relação funcional objetiva. Portanto, a teoria de Merton explica adequadamente apenas a criminalidade das camadas mais baixas (em níve, superficial também). Em conclusão, as teorias estrutural-funcionalistas têm uma função ideológica estabilizadora, pois legitimam cientificamente e consolidam a criminalidade como própria das camadas pobres.
V. A TEORIA DAS SUBCULTURAS CRIMINAIS. NEGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE
1. Compatiilidade e integração das teorias funcionalistas e das teorias das subculturas criminais
A teoria funcionalista e a teoria das subculturas são compatíveis entre si, e inclusive integram-se. Porém, enquanto a primeira estuda “o vínculo funcional do comportamento desviante com a estrutura social”, a segunda “se preocupa em estudar como a subcultura delinquencial se comunica aos jovens delinquentes e deixa em aberto o problema estrutural da origem dos modelos subculturais de comportamento”. Com Cohen a teoria das subculturas se ampliou, visando explicar os modelos de comportamento. A explicação funcionalista do desvio é uma hipótese geral, que pode ser usada para analisar a origem e a função das subculturas criminais na sociedade, mas sem explicar o conteúdo delas; assim, tal teoria é “suscetível de ser integrada com a introdução do conceito de subcultura”. 
Cloward e Ohlin desenvolveram uma teoria das subculturais criminais baseada nas chances que os indivíduos dispõem de utilizar meios legítimos para alcançaros fins culturais. A distribuição das chances de acesso aos meios legítimos, para eles, é a origem das subculturas criminais na sociedade industrializada. “A constituição de subculturas criminais representa a reação de minorias desfavorecidas e a tentativa, por parte delas, de se orientarem dentro da sociedade, não obstante as reduzidas possibilidades legítimas de agir de que dispõem”. 
Cloward estende o conceito de distribuição social também aos meios ilegítimos, o que melhora a explicação funcionalista sobre os crimes de colarinho branco; afinal, as camadas superiores empreendem tipos específicos de desvios, porque os meios ilegítimos para fazê-los são próprios dela. Cloward e Ohlin examinaram mais profundamente também o desvio por apatia, o qual está no limite da criminalidade, com grupos desviantes e marginalizados (vagabundos, drogados, alcóolicos).
2. Edwin H. Sutherland: crítica das teorias gerais sobre criminalidade; Albert Cohen: a análise da subcultura dos bandos juvenis
Sutherland analisou as formas de aprendizagem do comportamento criminoso, em sua “teoria das associações diferenciais”, a qual foi aplicada por ele na criminalidade de colarinho branco. Ele criticou fortemente as teorias do comportamento criminoso que se baseiam nas condições econômicas, psicopatológicas ou sociopatológicas. Tais generalizações são errôneas por se basearem em uma falsa amostra da criminalidade (onde a criminalidade de colarinho branco é posta de lado); por tais teorias não serem aptas a explicar a criminalidade de colarinho branco e nem mesmo a criminalidade dos estratos inferiores. Segundo Sutherland, uma teoria geral deve levar em conta um elemento que ocorre em todas as formas de crime. Para ele, a delinquência de colarinho branco é aprendida, por meio da associação com quem já a praticou, “o fato de que uma pessoa torne-se ou não um criminoso é determinado pelo grau relativo de frequência e de intesidade de suas relações com os dois tipos de comportamento. Isto pode ser chamado de processo de associação diferencial”. 
Sutherlan deu ênfase aos mecanismos de aprendizagem e de diferenciação dos contatos, e à relação dessa diferenciação com a as difereciações dos grupos sociais; impulsinou a teoria da criminalidade a enfrentar diretamente o problema das causas sociais das tais associaçõs diferenciais. Cohen analisa a subcultura dos bandos juvenis, a qual é um sistema de crenças e de valores, representando a “solução de problemas de adaptação, para os quais a cultura dominante não oferece soluções satisfatórias”. Para ele, a estrutura social induz, a alguns adolescentes, a incapacidade de se adaptar à cultura oficial, fazendo surgir neles problemas de status e autoconsideração. Daí deriva uma subcultura de “malvadez” que permite aos membros exprimir e justificar “a hostilidade e a agressão contra as causas da própria frustração social”. O foco de Cohen é mais individualista. 
3. Estratificação e pluralismo cultural dos grupos sociais. Relatividade do sistema de valores penalmente tutelados: negação do “príncipio de culpabilidade”
	A teoria da subcultura sobretudo se opõe ao princípio da ideologia da defesa social (princípio da culpabilidade). Para ela, o delito não é uma atitude que contraria os valores gerais, afinal, há variados valores e normas específicos das subculturas. Estes, por meio de interação e da aprendizagem entre os membros do grupo, são interiorizados por eles, determinando seus comportamentos. Assim sendo, não existe um/o sistema de valores, onde o indivíduo é totalmente livre, onde os criminosos não se deixaram determinar pelo valor. “Não só a estratificação e o pluralismo dos grupos sociais, mas também as reações típicas de grupos socialmente impedidos do pleno acesso aos meios legítimos para a consecução dos fins institucionais, dão lugar a um pluralismo de subgrupos culturais [...] caracterizados por valores, normas e modelos de comportamento” alternativos ao do sistema institucional. “Só aparentemente está à disposição do sujeito escolher o sistema de valores ao qual adere. “Em realidade, condições sociais, estruturas e mecanismos de comunicação e de aprendizagem determinam a pertença de indivíduos a subgrupos ou subculturas, e a transmissão aos indivíduos de valores, normas, modelos de comportamento e técnicas, mesmo ilegítimos”. Tal visão relativizante põe em xeque a discriminação do direito entre atitude conformista e atitude desviante (reprovável), sendo essa última uma responsabilidade do indivíduo, que supostamente, de maneira espontânea escolheria agir contra o sistema de valores dominante. Tal é o fundamento do bem e do mal que caracteriza a ideologia penal, com ela, tem-se um conjunto dos valores e dos modelos de comportamento protegidos pelo sistema penal, este supostamente é o modelo compartilhado pela maioria da sociedade. Uma minoria desviante representa a rebelião a respeito daqueles valores, com comportamentos sem natureza ética, mesmo que possa agir de maneira diferente – ideologia da maioria conformista e da minoria desviante, ideologia da culpabilidade, ideologia do sistema de valores dominantes.
	Os juristas enfrentam as subculturas geralmente sem reflexão crítica, para eles: o sistema de valores e de modelos de comportamento recebido pelo sistema penal corresponde aos valores e normas sociais que o legislador encontra preconstituídos, e que são aceitos pela maioria dos cidadãos; o sistema penal varia em conformidade ao sistema de valores e de regras sociais. Já a investigação sociológica mostra tais pressupostos ao contrário: no interior de uma sociedade moderna existem também valores e regras específicas de grupos diversos; o direito penal não exprime somente regras e valores aceitos unanimente pela sociedade, mas seleciona entre valores alternativos que, na sua construção (legislador) e na sua aplicação (magistratura, polícia, presídios), prevalecem; o sistema penal reconhece também regras defasadas, frequentemente acolhe valores presentes somente em certos grupos, os quais são negados por outros grupos, além de antecipar a punição em face das reações sociais ou de retardá-la; uma sociologia crítica mostra a relatividade do sistema de valores sustentado pelo direito penal. Tanto a teoria das subculturas quanto a funcionalista contribuíram para tal relativização, opondo-se à ideologia jurídica tradicional, a qual tende a ligar ao direito penal um mínimo ético, a exigências necessárias da vida em sociedade. A teoria das subculturas criminais mostra que os mecanismos de aprendizagem e de interiorização de regras e de comportamentos, que compõem o crime, não são diferentes dos mecanismos de socialização tidos como normais. portanto, a liberdade de escolha é relativizada, devido a grande influência de tais mecanismos de socialização. Assim sendo, a teoria das subculturas nega o princípio da culpabilidade do sistema penal (responsabilidade ética individual).
VI. UMA CORREÇÃO DA TEORIA DAS SUBCULTURAS CRIMINAIS: A TEORIA DAS TÉCNICAS DE NEUTRALIZAÇÃO
Gresham M. Sykes e David Matza: “As técnicas de neutralização”
As técnicas de neutralização racionalizam o comportamento desviante, visando, como o próprio nome sugere, neutralizar a eficácia dos valores e das normas sociais. É uma teoria da deliquência, alternativa a das subculturas. Segundo tal teoria, a oposição que ocorre entre os diferentes sistemas de valores (o oficial e o alternativo) não acontece sempre, porque o mundo dos delinquentes não é totalmente separado, e sim inserido na sociedade, portanto, eles interiorizam também os valores e as normas instituídas. Por meio de análises, percebe-se que o jovem que delinque reconhece a ordem social dominante, afinal, ele manifesta culpa ou vergonha quando viola as normas dessa ordem. Portanto, são formuladas justificações para o comportamento desviante, “considerada válidas pelo delinquente, mas não pelo sistema jurídico ou por toda a sociedade”. Dessa maneira, o delinquente resolve o conflito entre as normas sociais e as próprias motivações para um comportamentodesconforme. Consequentemente, o delinquente defende-se das próprias reprovações e da dos demais e neutraliza a eficácia do controle social sobre a motivação do seu comportamento.
As técnicas de neutralização podem ser: exclusão da própria responsabilidade (o delinquente interpreta a si como um arrastado pelas circunstâncias, não ataca de frente as normas); negação de ilicitude (as ações do indivíduo são consideradas somente como proibidas, e não como danosas, e aplica redefinições); negação da vitimização (a vítima mereceu o tratamento sofrido, foi uma punição justa); condenação dos que condenam (estes são hipócritas); apelo a instâncias superiores (as normas institucionais até são aceitas, mas são sacrificadas em nome de fidelidade e de solidariedade, pequenos grupos sociais). 
A teoria das “ténicas de neutralização” como integração e correção da teoria das subculturas
As técnicas de neutralização descritas por Sykes e Matza são uma parte essencial das “definições favoráveis à violação da lei”; segundo eles, “precisamente através da aprendizagem destas técnicas o menor se torna delinquente, e não tanto mediante a aprendizagem de imperativos morais, valores ou atitudes que estão em oposição direta com os da sociedade dominante”. É necessário, para os grupos deliquentes, que os valores tidos como negativos passem por um processo de valoração (redefinições dos delitos). “O comportamento delinquencial se apresenta [...] como baseado sobre um sistema de conjunto de valores e regras, que deriva da síntese dos valores e das regras aprendidas nos contatos com a sociedade conformista, e das exceções e justificações aprendidas nos contatos com indivíduos e subculturas desviantes”. As justificações para o comportamento desviante são aceitas por partes da sociedade nas quais uma divergência entre os ideias comuns e a prática social é evidente. “A formação de uma subcultura é, ela mesma, provavelmente, a mais difusa e a mais eficaz das técnicas de neutralização, visto que nada permite uma tão grande capacidade de atenuar os escrúpulos e de procurar proteção contra os remorsos do superego, quanto o apoio enfático, explícito e repetido, e a aprovação por parte de outras pessoas”.
Observações críticas sobre a teoria das subculturas criminais. A teoria das subculturas como teoria “de médio alcance”
Tanto a teoria estrutral-funcionalista quanto a teoria das subculturas foram criticadas por aceitarem, acriticamente, o fato dos comportamentos que estudaram serem comportamentos criminosos, afinal, ambas não analisam as relações econômicas e socias que gerariam a criminalização e a estigmatização, as quais definem quais são os comportamentos criminosos. 
A teoria das subculturas retomou alguns elementos da mertoniana (relação entre criminalidade e estratificação social). A análise deveria ter avançado até as reais funções do processo de criminalização, mas para isso ela deveria ter penetrado na distribuição, na estrutura de produção e na valorização do capital (pelas quais a distribuição de riqueza é determinada, segundo o autor). Ao contário, a teoria das subculturas apenas analisa o nível sociopsicológico das aprendizagens e das reações de grupo, mencionando muito vagamente a correlação do momento econômico com os mecanismos de socialização. Não há nem teoria explicativa das condições econômicas das subculturas, nem interesses políticos alternativos em tal teoria. Esta é, portanto, uma teoria de médio alcance, por permanecer dentro dos limites do setor do qual sua análise partiu. Faltam estratégias para a superação; além da desigualdade entre os grupos não ser criticamente refletida, nem o fenômeno da criminalidade é. E, segundo Baratta, ao não oferecer explicação teórica nem alternativa prática às condições socioeconômicas analisadas indica uma aceitação de tais condições como sendo o limite da teoria criminológica. Também universaliza-se a criminalidade e a reação punitiva. Apesar disso, tal teoria sugeriu uma posterior reflexão a respeito das condições econômicas da criminalidade. 
VII. O NOVO PARADIGMA CRIMINOLÓGICO: “LABELING APPROACH”, OU ENFOQUE DA REAÇÃO SOCIAL. NEGAÇÃO DO PRINCÍPIO DO BEM E DO MAL
“Labeling approach”: uma revolução científica no âmbito da sociologia criminal
As teorias analisadas até aqui apresentam quatro motivos comuns, que compõem uma alternativa crítica a ideologia penal da defesa social: a ênfase é posta sobre a socialização e os efeitos desta, às quais os delinquentes foram anteriormente expostos; tal exposição não depende apenas dos indivíduos, mas dos diferentes contatos que têm de suas participações nas subculturas; a socialização depende da estratificação, da desorganização da estrutura social, bem como de suas normas e valores; os fatores que motivam o comportamento criminoso são um fenômeno que não difere do que acontece nos comportamentos conformes à lei. 
A distinção entre os dois tipos de comportamento depende da definição legal, e não de concepções intrínsecas de bem ou de mal, de comportamentos sociais e antissociais. Surge, então, o problema da definição do delito, com suas implicações políticas e socias; esse problema emergiu no centro das teorias da reação social ou “labeling approach”. Tais teorias partem do princípio de que não se pode “compreender a criminalidade se não se estuda a ação do sistema penal, que a define e reage contra ela, começando por normas abstratas até a ação das instâncias oficiais”. Assim, o status social do delinquente depende da atividade das instâncias oficiais de controle social; aquele que comete o mesmo ato mas não é alcançado não adquire tal status. O labeling approach tem estudado as reações das instâncias oficiais de controle social, “consideradas na sua função constitutiva em face da criminalidade”; dando enfoque ao efeito estigmatizante de atividades policiais, dos juízes e etc. Tal teoria tem uma consciência crítica frente a definição do objeto que é estudado. Portanto, o criminoso/a criminalidade não é uma entidade natural, pré-constituída que deve ser explicada, mas sim uma realidade social construída. 
A orientação sociológica em que se situa o “labeling approach”
A pesquisa do labeling baseia-se em duas correntes da sociologia americana; a primeira é a desenvolvida por Mead, com ênfase na psicologia social e na sociolinguística, é o “interacionismo simbólico”; a segunda é a “etnometodologia”, de Schutz. Segundo o interacionismo simbólico a sociedade é formada por diversas interações entre os indivíduos, e os processos de tipificação dão significados que estendem-se no âmbito da linguagem; a sociedade é o produto de uma “construção social”, obtida por meio de processos de definições e de tipificações por parte dos indivíduos. Assim, estudar a realidade social seria estudar estes processos. 
“A criminologia positivista e a criminologia liberal contemporânea, em boa parte, tomam por empréstimo do direito penal e dos juristas as suas definições de comportamento criminoso, es estudam este comportamento como se sua qualidade criminal existisse objetivamente”, como se as normas transgredidas pelos delinquentes fossem compartilhadas universalmente e presentes em todos os indivíduos. Segundo o interacionismo simbólico, a obediência às normas depende de algumas condições, por isso é problemática. “A ação é um comportamento ao qual se atribuiu um sentido ou um significado social, dentro da interação”, tal atribuição é feita segundo algumas normas. Ademais, existem normas sociais gerais (normas éticas, normas jurídicas) e normas ou práticas interpretativas (que determinam a aplicação e a interpretação das normas gerais, elas que determinam o sentido da estrutura social). As normas interpretativas seriam um second code, não escrito, que imputa etiquetas de criminalidade ao lado do código oficial. 
Os interacionistas (autores do labeling approach e de outras teorias) se perguntam: “quem é definido como desviante?” “que efeito decorre desta definição sobre o indivíduo?” “em que condições este indivíduo pode se tornar objeto deuma definição?” “quem define quem?”. Surgiram, então duas direções de estudo: uma estudou a formação da “identidade” desviante, referente ao desvio secundário; a outra estuda o problema da definição, do desvio como qualidade atribuída a comportamentos e a indivíduos, surgindo o problema da distribuição do poder de definição, assim, ela estuda as agências de controle social.
O comportamento desviante como comportamento rotulado como tal
Primeira direção de pesquisa: Becker: identidade das carreiras desviantes. Ele e outros autores se detiveram sobre os efeitos estigmatizantes na formação do status social de desviante; a aplicação da sanção acarreta uma mudança profunda na identidade social do sujeito, ele ganha o status de desviante. Lemert defende a importância de se distinguir a delinquência primária da secundária; segundo ele, a reação social e a punição do primeiro desvio gera, por meio da mudança social do estigmatizado, uma tendência a “permanecer no papel social no qual a estigmatização o introduziu”. O desvio primário deve-se a um contexto de fatores sociais, culturais e pscológicos (mas não se centram sobre a estrutura psíquica do indivíduo); os desvios que vem depois da reação social são determinados pelos efeitos psicológicos que a reação produz no indivíduo, o comportamento desviante se torna uma defesa, de ataque ou de adaptação em relação aos problemas criados pela reação social. Tais concepções põem em dúvida o princípio da prevenção e da pena com função reeducativa. na verdade, “a intervenção do sistema penal [...] antes de ter um efeito reeducativo sobre o deliquente, determinam, na maioria dos casos, uma consolidação da identidade desviante do condenado e o seu ingresso em uma verdadeira e própria carreira criminosa”. As teorias do labeling também consideram a estigmatização como uma causa, a qual exerce forte influência na identidade social e na autodefinição dos desviantes. É o deslocamento do objeto da pesquisa: do estudo dos fatores da criminalidade passa-se a estudar a reação social. 
O paradigma etiológico (ao qual grande parte da ciência e o senso comum ainda são fieis) implica em normas pré-constituídas, na existência dos sujeitos normais e os desviantes e a destinação “técnico-intervencionista” da teoria. Já o “paradigma do controle parte de uma problematização da suposta validade dos juízos sobre desvio”, questionando: quais são as condições de intersubjetividade da atribuição de significados no desvio? (fornece a dimensão da definição) Qual é o poder que confere a certas definições uma validade real? (fornece a dimensão do poder). 
As direções teóricas que contribuíram para o desenvolvimento das duas dimensões do paradigma da reação social
Os autores do interacionismo simbólico (Becker) e os da fenomenologia e a etnometodologia desenvolveram a dimensão da definição; já os da sociologia do conflito desenvolveram a dimensão do poder. Keckeisen critica as direções de pesquisa que, estudando as carreiras desviantes, permanece no exterior da formulação “rigorosa” deste paradigma. Segundo ele, o problema da definição (o problema da validade do juízo pelo qual a qualidade de desviate é atribuída a um comportamento) é o problema central de uma teoria do labeling approach. 
Os processos de definição do senso comum na análise dos interacionistas e dos fenomenólogos
Os processos de definição do senso somum são analisados, porquanto se produzem em situações não oficiais, antes da intervenção da instância oficial, ou dependente dela. Segundo Kitsuse, alguns indivíduos interpretam determinado comportamento como desviante, definem uma pessoa, que tenha tal comportamento, como pertencente a uma categoria de desviantes e põem em ação um tratamento apropriado desta pessoa. Portanto, não é o comportamento por si mesmo que gera a definição, mas sim a sua interpretação, que torna o comportamento de uma ação provida de significado. Assim, a interpretação é que decide o que é qualificado desviante e o que não é, o comportamento é indiferente às reações possíveis. “todas as questões sobre as condições e as causas da criminalidade se transformam em interrogações sobre as condições e as causas da criminalização, seja na perspectiva da elaboração das regras (criminalização primária), seja na perscpectiva da aplicação das regras (criminalização secundária). A definição do comportamento desviante deve ser estudada antes da reação social ao desvio.
Se aprende o que é criminalidade pela observação da reação social de determinado comportamento, mas, para desencadear tal reação, o comportamento deve perturbar a “realidade tomada por dada”: suscista irritação, sentimento de culpa, indignação moral, etc. Tal comportamento é tido como o oposto do “normal”, a normalidade é um comportamento determinado previamete pelas próprias estruturas, e corresponde ao papel e à posição de quem atua. Em síntese, diante do senso comum, para que seja atribuída ao desviante uma “responsabilidade moral” pelo ato que infringiu a rotina é preciso que este desencadeie uma reação social correspondente. Mas há casos nos quais a não intencionalidade e inconsciência do autor impede a reação social, são as condições de atribuição da responsabilidade moral, que podem ser: a convencionalidade (as circunstâncias permitiram um comportamento diferente? Houve vontade ou intenção?), e teoricidade (o autor tinha consciência do que fazia, que agia contra as normas?).
Já as condições que determinam a aplicação da definição do desvio são: comportamentos que infrinjam a rotina, que se distanciem das normas institucionalizadas; um autor que poderia ter agido de acordo com as normas; um autor que sabia o que fazia. As categorias do senso comum correspondem exatamente às categorias feitas pelo direito para imputar um sujeito: violação da norma, consciência e vontade. 
O processo de tipificação da situação. A análise dos processos de definição do senso comum nos interacionistas e nos fenomenólogos
O processo de definição é condicionado pelas definições precedentes e se realiza em função de referentes simbólicos. Schutz fala do processo de tipificação, e, baseado nele, os etnometodólogos perguntam-se mediante quais regras, numa nova situação, é assimilada a situações precedentes. “Só sobre a base daquela realidade já preconstituída e tomada por dada é possível ‘reconhecer’ uma situação e atribuir-lhe um significado desviante”. Processo de negociação: parte-se de definições preliminares e de convenções provisórias para se chegar a uma definição definitiva. Assim, “o processo de definição interno ao senso comum corresponde as que se produz no âmbito jurídico”. As duas teorias, portanto, têm como objeto de estudo os processos de definição nas situações oficiais, particularmente os realizados pelos órgãos do sistema penal (a criminalização secundária). Com esses estudos pode-se aperfeiçoar o modelo teórico de análise das definições informas, do senso comum. Pensamento jurídico: estreitamente ligado ao senso comum, as definições informais preparam, às vezes, as definições formais. 
As teorias do labeling, apesar de deixar motivos para críticas, reduzem a criminalidade à definição legal e ao efetivo etiquetamento, exaltando o momento da criminalização, deixando fora de análise os “comportamentos socialmente negativos”. As contradições do sistema socioeconômico que são suscitadas pelos desvios permanecem obscurecidas em tais teorias. Elas são também teorias de médio alcance, afinal analisam de maneira insuficiente as relações sociais e econômicas; a análise destas deveria indicar um esclarecimento das questões criminais. A realidade social aqui, além de ser o ponto de chegada, é o ponto de partida da análise, a qual remete a uma teoria global da sociedade. Por meio de tais teorias são obtidas concepções importantes de determinados aspectos da questão, mas eles não são apreendidos de maneira profunda. 
VIII. A RECEPÇÃO ALEMÃ DO LABELING APPROACH. NEGAÇÃO DO PRINCÍPIO DE IGUALDADE
Criminalidade de “colarinho branco”, a “cifra negra” da criminalidadee a crítica das estatísticas criminais oficiais
Novos campos de investigação da sociologia criminal: a criminalidade de colarinho branco; a cifra negra da criminalidade e a crítica das estatísticas crimais oficiais.
Quanto à primeira, Sutherland mostrou como era impressionante a quantidade de infrações cometidas por pessoas em posição de prestígio social. Elas correspondem a um fenômeno criminoso característico de todas as sociedades de capitalismo avançado, segundo Baratta. São notórias as conivências entre políticos e operadores econômicos privados, portanto, tal forma de criminalidade é perseguida de maneira muito escassa ou escapa quase completamente da punição. Esse tipo de criminalidade é um fator ou de natureza social (o prestígio dos criminosos, a pouca estigmatização feita pelas sanções aplicadas, a falta de um esteriótipo que oriente as ações das instituições oficias de repressão), ou de natureza jurídico-formal, ou de natureza econômica (os criminosos recorrem a ótimos advogados, ou fazem pressões econômicas sobre os denunciantes).
Quanto às estatísticas criminais, estas baseiam-se na criminalidade indicada e perseguida; tais estatísticas distorcem as teorias da criminalidade, sugerindo um falso quadro de distribuições do crime entre os grupos sociais. É daí que deriva a concepção de que a criminalidade está majoritariamente concentrada nas camadas inferiores. Isso gera esteriótipos que influenciam na atuação dos órgãos oficiais (seletividade) e no senso comum (alarme social); esses fatores estão ligados a um caráter estigmatizante, o qual quase não ocorre no caso do crime de colarinho branco. Isso se dá pela perseguição limitada do crime, pela escassa reação social, pelo prestígio social dos criminosos.
Com as pesquisas sobre a cifra negra da criminalidade, ligada à análise das estatísticas oficiais, corrigiu-se um conceito de criminalidade: ela não é um comportamento restrito a uma minoria (como quer a ideologia da defesa social), mas sim o comportamento mesmo da maioria dos membros da sociedade. Sack: responsável pela recepção alemã do labeling approach.
Recepção alemã do labeling approach. Deslocamento da análise das “meta-regras” do plano metodológico-jurídico para o sociológico
Para explicar a criminalidade, Sack faz, primeiramente, uma distinção entre regras (regras gerais; manual; regras superficiais) e meta-regras (regras sobre a interpretação e aplicação das regras gerai; regras práticas). A ação dos operadores jurídicos é que faz a concretização do direito; portanto, Sack sugeriu um deslocamento da anáise das meta-regras do plano da metodologia jurídica para um plano objetivo sociológico. Nesse último plano, as regras de aplicação se transformam nos mecanismos que agem na mente do intérprete, e que devem servir para explicar a diferença entre a delinquência conhecida e a deliquência existente. As meta-regras gerais “participam da estrutura socialmente produzida pela interação”, diz respeito à cultura; são regras objetivas do sistema social (podem também ajudar a explicar a discrepância entre a criminalidade perseguida e a criminalidade latente e o “processo de filtragem”). Os dados da sociologia criminal referentes à cifra negra permitem concluir que o recrutamento de uma restrita população criminosa (tendo em vista a quantidade de pessoas que já cometeu um delito) não é mero acaso.
As meta-regras (seguidas de maneira consciente ou não) são correspondentes às concepções do senso comum e são baseadas sobre relações de poder entre grupos (e de propriedade) e sobre as relações sociais de produção. As pesquisas sobre os esteriótipos criminais e setores novos da sociologia jurídica que analisam as instituições de controle social contribuem para o estudo da regularidade dos mecanismos de seleção. 
A perspectiva macrossociológica na análise do processo de seleção da população criminosa
Segundo o autor, caso observarmos a seleção da população criminosa (na perspectiva macrossociológica da interação e das relações de poder) vemos os mesmos mecanismos de interação e de poder que provacam a desigualdade na distribuição de bens e de oportunidades. Portanto, a população carcerária geralmente é recrutada das classes economicamente mais baixas. Sack critica radicalmente a típica definição “legal” da criminalidade; ele diz que a definição de criminalidade, como sendo um comportamento que viola uma norma penal, é uma ficção, afinal, se seguirmos tal definição concluiremos que a maioria da população é criminosa. Assim sendo, segundo tal autor, a criminalidade como realidade social é uma qualidade atribuída pelos juízes a determinados indivíduos; conforme o comportamento dos sujeitos se enquadre na abstração do direito penal, mas não somente, é principalmente conforme as meta-regras que os criminosos são qualificados como tal. Para ele, são os juízos atributivos que produzem a qualidade criminal de certa pessoa, a qual arca com as consequências jurídicas e sociais. “os juízes ou o tribunal são instituições que produzem e põem ‘realidade’. A sentença cria uma nova qualidade para o imputado, coloca-o em um status que, sem a sentença, não possuiria. A estrutura social de uma sociedade, que distingue entre cidadãos fieis à lei e cidadãos violadores da lei, não é uma ordem dada, mas uma ordem produzida continuamente de novo”. A criminalidade não é considerada, aqui, como um comportamento, mas como um “bem negativo”, oposto do bem positivo e dos privilégios; assim, ela também é submetida a mecanismos de distribuição. O comportamento desviante deve ser entendido como um processo no qual estão frente a frente a pessoa que comete o desvio e aquela que define tal comportamento como desviante. Assim, “comportamento desviante é o que os outros definem como desviante. Não é uma qualidade ou uma característica que pertence ao comportamento como tal, mas que é atribuída ao comportamento”.
Concepção interacionista: a criminalidade não existe na natureza, mas é uma realidade construída socialmente por meio de interações e de definições (realidade social). O problema sociológico a ser estudado deixa de ser as causas da criminalidade e passa a ser as definições desta, bem como os pressupostos políticos e os efeitos sociais dessas definições (criminalidade = qualidade ou status atribuída a determinados indivíduos). 
O problema da definição da criminalidade. “labeling approach” uma “revolução científica” em criminologia
O problema da definição tem três planos: 1) ele é um problema metalinguístico: a) quanto à validade das definições da ciência jurídica de “crime”, e quanto à competência dessas para dar uma definição que possa ser um suporte para um teoria crítica; b) à validade da definição de criminalidade, a atribuição por meio do senso comum e dos órgãos oficiais de controle a alguns indivíduos. 2) problema teórico, que diz respeito a interpretação sociopolítica do porquê certos indivíduos ou instituições têm poder de definição, do poder de: a) estabelecer quais crimes devem ser perseguidos (normas penais); b) estabelecer quais pessoas devem ser perseguidas (aplicar as normas). Os outros indivíduos estão submetidos a este poder de definição. 3) problema fenomenológico: efeito da atribuição da definição de criminosos a alguns e o consequente status social (eventual consolidação do papel de criminoso; desenvolvimento de uma carreira criminosa).
	Os três níveis fazem parte do campo de aplicação da teoria do labeling. Em relação a questão linguística da letra a, Sack mostra como as diferentes noções de crime (oferecidas por várias disciplinas) têm sempre uma maneria acrítica dos fatos. Assim, segundo ele, há uma carência teórica no que diz respeito ao poder de decisão e de seleção que possuem certas pessoas e certas instituições, a ação destas raramente se torna objeto de reflexão. A relação entre os detentores do poder e os submetidos a ele é baseada sobre a estratificação e o antagonismo entre os grupos. Os funcionários recrutados por tais instituições exprimem as determinações que interessam a certosestratos sociais, “a qualidade de criminoso está à disposição de um grupo específico de funcionários”, assim, uma ciência que queria estudar a manifestação e a distribuição da cirminalidade deve primeiramente estudar o comportamento das “pessoas à disposição das quais se encontra a qualidade de criminoso”. A concepção que a criminologia tradicional queria sustentar de que a criminalidade depende da condição social do desviante e de sua família foi revogada; mas a pessoa que pertence a tais condições deve saber que seu comportamento tem maior probabilidade de ser definido como desviante (do que outra pessoa com igual comportamento, mas que pertença a uma classe avantajada). “a questão das condições da criminalidade se desloca, da pesquisa das condições que determinam o comportamento criminoso, o caráter ou as tendências criminais de certos indivíduos, para a pesquisa das condições que determinam o grau de probabilidade de que certos comportamentos e certos indivíduos sejam definidos como criminosos”. Isso, segundo Sack, é uma característica dos processos de interação entre os indivíduos. Essa é a “teoria marxista interacionista”.
Irreversibilidade do “labeling approach” na teoria e no método da sociologia criminal
Tais teorias “sacudiram os fundamentos da ideologia penal tradicional”. Elas colocaram em dúvida o princípio da igualdade (segundo exposto no livro, se considerarmos a definição legal da criminalidade, esta é um comportamento da maioria; segundo a definição sociológica, é um status atribuído a determinados indivíduos, por meio de uma seletividade, sobre a qual a estratificação e o antagonismo dos grupos têm muita influência), o princípio de legitimidade, o princípio do interesse social e o do delito natural. Tais teoriam enfatizam os mecanismos institucionais da reação social ao desvio, dirigindo a nossa atenção para os processos de criminalização. O labeling também mostrou que “o poder de criminalização, e o exercício desse poder, estão estreitamente ligados à estratificação e à estrutura antagônica da sociedade”. 
A legitimização tradicional do sistema penal (protege as condições essencias à vida, protege os bens jurídicos e os valores que interessam a todos) é alvo de problematizações e de questionamentos (pois aqui pesquisa-se a formação das leis penais e dos presídios). Desenvolve-se, portanto, uma teoria ligada ao marxismo, a qual dá relevância ao estudo da reação social, sendo esta indispensável para uma criminologia crítica.
A pesquisa sobre o sistema de bens jurídicos enfatiza a espeficidade dos interesses protegidos, bem como a intensidade variável de tal proteção e as áreas de comportamentos socialmente negativos; fatores que o sistema penal fragmenta. Os motivos principais da crítica da ideologia penal são a função seletiva do sistema penal (obedecendo a interesses de determinados grupos), a função de sustentação dos mecanismos de repressão e de marginalização dos pobres (em benefício do grupo dominante). A teoria do labeling crítica o princípio da prevenção ou do fim, bem como a concepção de que a penitenciária ressocializa o indivíduo. Critica os sistemas de tratamento: efeito da criminalização que o sistema penal causa sobre o sujeito (consequente reincidência). Tanto as escolas liberais contemporâneas quanto as da criminologia crítica mostram a enorme discrepância entre a ideia de ressocialização e a função real do tratamento. 
Observações críticas sobre as teorias do “labeling”
As teorias do labeling, na perspectiva interacionista e fenomenológica, não especificam o conteúdo da criminalidade. Falta responder porque o comportamento “criminoso” provoca uma forte reação social e perturba o desenvolvimento habitual e normal das ações, e porque tal comportamento, e não outro, é objeto de uma definição criminal. Os interacionistas e os etnometodólogos, apesar de indicarem as regras gerais e a cultura comum que determinam a atribuição do caráter criminal a certos comportamentos, não estudam “as condições que dão a estas regras, a esta cultura comum, um conteúdo determinado, e não outro”. Afinal, “somente através das condições de configuração da realidade normal, em seu conteúdo, poderia ser elaborada uma teoria adequada da ‘produção’ da criminalidade”. 
Na teoria do labeling as relações de hegemonia estão na base da distribuição desigual do bem negativo da criminalidade; mas ela é insuficiente porque nelas o momento político (relações de poder) é tido como independente da estrutura econômica das relações de produção e de distribuição. Por tal razão é que a teria do labeling é capaz de descrever a criminalização e estigmatização, referindo tais processos à esfera política (poder de definição), mas é incapaz de explicar “a realidade social e o significado do desvio, de comportamentos socialmente negativos e da criminalização”. Contra isso, uma teoria da criminalidade materialista põe o enfoque no fato de tais comportamentos possuírem um significado social (independente da definição de criminalidade) já que exprimem contradições do sistema socioeconômico. É também uma teoria de médio alcance, ela permanece dentro do sistema socioeconômico; mas tem o mérito de orientar a criminologia a dar atenção ao processo de criminalização e às relações de hegemonia que regulam as sociedades capitalistas atuais.
IX. A SOCIOLOGIA DO CONFLITO E A SUA APLICAÇÃO CRIMINOLÓGICA. NEGAÇÃO DO PRINCÍPIO DO INTERESSE SOCIAL E DO DELITO NATURAL
A concepção naturalista e universalista da criminalidade. Os limites da crítica interacionista (microssociológica) e as teorias macrossociológicas
O princípio do interesse social e do delito natural correspondem à ideologia do direito penal contemporâneo. Segundo eles, os delitos (contidos nos códigos penais) ofendem os interesses fundamentais, as condições mais importantes para a vida da sociedade. “Os interesses protegidos pelo direito penal são interresses comuns a todos os cidadãos”. Conforme eles, apenas uma pequena parte dos delitos violaria os arranjos políticos e econômicos, sendo punidos por isto; os quais são definidos como delitos “artificiais”, segundo Florian, e diferem da verdadeira criminalidade, dos delitos “naturais”. Dessa criminalidade natural toda sociedade se defenderia, pois eles são crimes egoístas e “atentam contra valores e interesses percebidos como universais na consciência de todos os cidadãos normais”.
Esta é a concepção naturalista da criminalidade, típica da criminologia tradicional, segundo a qual o desvio é uma qualidade objetiva, ontológica. É uma concepção universalista do desvio e da criminalidade, que os põe fora da história. Assim, a universalidade de certos tipos de crime implica a universalidade e homogeneidade de certos valores e interesses sociais. Os pressupostos dessa linha de raciocínio são: “a) a concepção da criminalidade como qualidade ontológica de certos comportamentos ou indivíduos; b) a homogeneidade dos valores e dos interesses protegidos pelo direito penal”. 
O primeiro pressuposto é negado pelas teorias do labeling approach (desvio=realidade construída mediante definições e reações); a “criminalidade não é, portanto, uma qualidade ontológica, mas um status social atribuído através de processos de definição e mecanismos de reação (informais e formais”. Dessa maneira, questiona-se: “com base em que leis se distribui e se concentra o poder de definição? Que função tem o uso deste poder, na dinâmica das relações entre os grupos sociais?” Todavia, como já foi dito, tais teorias se detiveram sobre relações individuais no âmbito dos grupos, negligenciando as diferenças do poder e as diferenças de interesses entre os grupos; como se a interação acontecesse somente entre indivíduos postos no mesmo plano. 
Com as teorias do conflito, utilizando uma perspectiva macrossociológica, o elemento do conflito passou a ser visto como explicação essencial dos processos de criminalização.
A negação do “princípio do interesse social e do delito natural”. A sociologia do conflito e a polêmica antifuncionalista
Taisteorias negam o princípio do interesse social e do delito natural, pois afirmam que: a) os interesses que o direito penal protege são os interesses dos grupos que participam dos processos de criminalização, não são, portanto, interesses comuns a todos. b) a criminalidade é uma realidade criada por meio do processo de criminalização, ela tem, bem como o direito penal, natureza política. Eles protegem arranjos políticos e econômicos. Não é teoria de médio alcance, já que é uma teoria geral da sociedade, com visão macrossociológica. 
No que diz respeito à teoria estrutural-funcionalista, ela preza pela estabilização e conservação dos sistemas sociais. Os elementos do sistema social desempenham funções que estabilizam o sistema. Assim, o próprio sistema é o sujeito das ações sociais. Os sistemas sociais, para Durkheim, são equilibrados, estáticos, fechados em si, com as partes dele convergindo de maneira harmômica e o consenso predominando na comunidade. O desvio, para tal teoria, tem função positiva, exceto os conflitos de interesses de poder entre os grupos, tais são disfuncionais, pois vão contra o equilíbrio almejado, portanto os conflitos são ignorados e exorcizados. É um caráter conservador. (EUA: 2ª guerra, guerra da Coreia e guerra fria). Essa teoria nega a objetividade dos constrastes de classes, bem como a função do conflito e da mudança social, exaltando o equiíbrio e a integração, contribuindo para estabilizar conservadoramente o sistema.
Contudo, em todas as sociedades, os conflitos internos passam a ser maiores que os externos, nos anos 50, e tal teoria é posta em discussão e criticada, tanto por estudos liberais quanto por marxistas. (EUA: guerra do Vietnam). Contexto histórico: consultar página 121. Não foi mais possível mistificar a realidade com as ideais de estabilidade, de equilíbrio, do consenso, dos mesmos interesses. Houve a afirmação de uma alternativa conflitual. (neocapitalismo, maior intervenção do Estado na economia).
Ralf Dahrendorf e o modelo sociológico do conflito: mudança social, conflito social e domínio político
Essa nova teoria repele (como um mito) a concepção de sociedade fechada e estática, sem conflito e com consenso; é uma utopia da qual a sociologia deveria libertar-se, pois ela é uma teoria inadequada para compreender a realidade social contemporânea. Em tal sociedade fantasiosa, o equilibrío do sistema e a harmonia das partes representam a própria expressão da justiça. Para compreender a nova realidade social é necessário entender a mudança e o conflito como características normas e universais; “as sociedades e as organizações sociais não se mantêm unidas pelo consenso, mas pela coação, não por um acordo universal, mas pelo domínio exercido por alguns sobre outros”. 
Modelo sociológico do conflito: é formado por mudança, conflito e domínio. Não é possível disntinguir entre “mudança no sistema” (micro) e “mudança do sistema” (macroscópia). Essa concepção do conflito e de mudança social é universalista, por tem uma concepção indeterminada de sociedade em geral (como a estrutural-funcionalista). Ela é também abstrata. Segundo Dahrendorf, “a relação de domínio cria o conflito, o conflito cria a mudança ‘e, em um sentido altamente formal, é sempre a base de domínio que está em jogo no conflito social’”. 
As relações de conflito, no tardocapitalismo, se dão por causa da política de domínio de alguns sujeitos sobre outros. O modelo de conflito parte não da esfera social e econômica, mas sim da política. O conflito é considerado como resultado da relação político de domínio. Há uma ideologia reformista escondida! (mudanças de estrutura = mudanças de governo).
Lewis A. Coser e Georg Simmel: a funcionalidade do conflito
Dahrendorf acentua a normalidade do conflito, tem função de desencadear mudança social. Coser: defende que o delito tem função positiva, ele é funcional, pois assegura a mudança e integra e conserva o grupo social. Simmel: antagonismo e harmonia são as condições essenciais da integração do grupo. Sem o conflito, não existiria vida comunitária tão rica e tão plena quanto as atuais. Todavia, para Coser, nem todos os conflitos são funcionais (positivos), sendo problemáticos os que questionam os valores fundamentais que legitimam o sistema, pois estes ameaçam quebrar a estrutura social. 
Já os positivos contribuem para a conservação e adaptação do sistema, tornando possível “uma readaptação das normas e das relações de poder dentro dos grupos, em correspondência às necessidades sentidas por seus membros individuais ou pelos subgrupos”. 
Para Coser, conflito é “Uma luta que incide sobre valores e sobre pretensões a status sociais escassos, sobre poder e sobre recursos, uma luta na qual os objetivos das partes em conflito são os de neutralizar-se, ferir-se ou eliminar-se reciprocamente”. Para Dahrendord o conflito é sempre por causa do poder, para Coser o poder é um dos possíveis objetos. 
Coser distingue os conflitos realísticos (meio para alcançar um fim, podem ser substituídos por outros meios; atitude realista e racional) e os não realísticos (o conflito é fim em si mesmo; não podem ser substituídos; vem do desejo pelo conflito; atitude que tem sua raiz nas emoções, atitude irracional). 
A função normal e positiva do conflito é associada com os pensamentos da teoria estrutural-funcionalista, e ambas teorias convergem neste ponto: o comportamento desviante é uma variação do conflito realístico (tentativa de alcançar fins indicados pela cultura, mediante meios tipificados pela cultura). O desvio é mais meio do que expressão. Outras formas de desvio podem servir para descarregar tensões que foram acumuladas durante a socialização (comportamento agressivo em si mesmo; satisfação é procurada nos meios agressivos, não nos resultados). O desvio inovador (Merton) é inserido a presente teoria com uma forma de conflito realístico, normal em “toda situação social de discrepância entre fins culturais e meios legítimos à disposição dos indivíduos”. 
Georg D. Vold: o poder de definição, os grupos em conflito, o direito, a política
A primeira teoria do conflito madura é feita por Vold. 
O crime é parte de um processo de conflito, o direito e a pena são as outras partes. O processo começa na comunidade (antes do direito nascer) continua nela e no comportamento dos delinquentes depois da pena ser aplicada. Acontece assim:
Um grupo percebe que um de seus valores é posto em perigo pelo comportamento de outras pessoas
Se o grupo é politicamente importante, o valor e o perigo são sérios, os membros do grupo fazem emanar uma lei e ganham a cooperação do Estado em proteger seu valor
O direito, portanto, é o instrumento de uma das partes em causa, em conflito com a outra parte
Os indivíduos pertencentes ao outro grupo não consideram importante o valor que o direito protege, e “fazem algo que anteriormente não era crime, mas que se tornou um crime com a colaboração do Estado”
O conflito se tornou maior, pois agora ele envolve o Estado; a pena é um novo grau no mesmo conflito, também é um instrumento usado pelo primeiro grupo
Quase todos os crimes implicam participação de mais de uma pessoa (grupos), o indíviduo que é julgado é um mero representante de seu grupo.
Assim, percebemos os elementos principais da teoria do conflito: o processo de criminalização precedendo o comportamento criminoso (?); a referência de tal processo e de tal comportamento aos interesses dos grupos sociais; o caráter político que todo fenômeno criminal assume. O conflito se resolve junto da instrumentalização do direito e do Estado. O grupo mais forte define como ilegais as atitudes do outro grupo.
Vold define o crime como normal e como comportamento aprendido, e conclui que o problema está no poder de definição, na organização social e política dos valores estabelecidos. Crime: comportamento político. Criminoso: membro de um grupo que não consegue dominar e controlar o poder de polícia do Estado. Porém, é uma teoria pluralista e mecanicista. “Os grupos se formam e se mantêm emfunção da sua capacidade de servir a interesses ou necessidades comuns de seus membros”. O conflito vem quando os grupos entram em concorrência e aniquilam-se reciprocamente. Os grupos defendem-se para manter seus próprios lugares e posições, em um mundo de constantes mudanças. 
Isso leva a uma visão superficial, simplista, esquemática da criminalização e do seu caráter político. Se aproximam, ironicamente, do marxismo vulgar. Além disso, Vold dá ênfase a criminalização primária mas negligencia a secundária.
X. AS TEORIAS CONFLITUAIS DA CRIMINALIDADE E DO DIREITO PENAL. ELEMENTOS PARA SUA CRÍTICA
1. Austin T. Turk: a criminalidade como “status” social atribuído mediante o exercício do poder de definição
	O enfoque da reação social é a premissa teórica principal dos criminólogos do conflito. Turk: “parece evidente que a delinquência é, de um ponto de vista operacional, não propriamente uma classe ou uma combinação de classes de comportamento, mas principalmente uma definição dos adolescentes por parte daqueles que estão em posição de aplicar as definições legais”. A criminalidade, portanto, é um status social atribuído a uma pessoa por quem tem poder de definição (essa concepção, no âmbito dos conflitos entre grupos, é a característica da sociologia do conflito).
	Em Turk, o problema da delinquência se transforma no problema da “ilegitimação”. A posição social de alguém, para ele, diz respeito à colocação dessa pessoa na estrutura social e aos papeis ligados a ela. Para Turk, as diferenças de poder são correspondentes às posições sociais. Os conflitos culturais têm a ver com a atribuição de significados às coisas e às situações. Assim, pode surgir o conflito social, quando os comportamentos modificarem a situação externa, partindo de atitudes interiores ao ser. Turk problematiza a situação dos adolescentes, os quais estão em desvantagens em relação aos adultos geralmente. Ele, portanto, centraliza sua teoria da criminalidade juvenil no conflito entre as gerações. Chega-se, então, a “ilegitimação”: quando os adultos criminalizam os adolescentes (grupo em desvantagem). Todavia, essa teoria tem um alcance mais geral, afinal, o conflito inter-gerações é só um dos vários casos de conflito cultural. Assim, Turk passou para uma sociologia mais geral, mas baseada nos mesmos pressupostos. Segundo ele: “a ordem social é vista (por ele) [...] principalmente como uma sempre ligeira aproximação a uma ordem, mais como uma provisória resolução de um conflito de concepções sobre o que é justo e o que é errado, e de desejos incompatíveis entre si, do que como uma espécie de mecanismo equilibrador ou de harmonia espiritual entre mentes corretamente judicantes.”
	2. Caráter universalista e dicotômico da teoria formalista de Turk
 	Para Turk, o conflito é sempre um conflito de poder; a noção de autoridade como conteúdo dos conflitos é aplicada à criminalidade. As autoridades agem criando (ou recebendo), interpretando e aplicando as normas. Quando se trata de autoridades estatais, fala-se do setor político. Os processos de criminalização implicam diretamente a noção de Estado: “não pode existir crime, se não existe Estado”.
	Os processos de criminalização são processos de atribuição de status criminais que se desenvolveram por meio das atividades das instâncias oficiais do Estado (legislador, juiz, polícia). “O estudo da criminalidade torna-se o estudo das relações entre os status e os papéis das autoridades legais [...] e dos submetidos, repectores ou opositores”. 
	3. a extensão do paradigma “político” do conflito a toda área do processo de criminalização
	Aqui, o esquema político do conflito é estendido a toda área do processo de criminalização e a todos os órgãos oficiais nela operantes (diferente de Vold). É um progresso, dá uma compreensão realista da natureza seletiva da criminalização. Turk sustenta que o modo da polícia operar é o principal distribuidor de status criminais e faz com que a concentração de tais status fique nos grupos pobres. Outro progresso: a distinção entre processos não institucionalizados e processos institucionalizados de reação ao desvio. Todavia, Turk não relaciona esses dois processos, ou seja, não liga a opinião pública às instâncias oficiais. E “a perspectiva socioeconômica do conflito entre grupos socais é comprimida na relação política entre autoridades e súditos”. É um erro comum na sociologia do conflito: a ação dos grupos de interesse é transferida para a ação do Estado, não levam em conta o caráter bem mais complexo do que isso. Os diferentes canais pelos quais os interesses ficam institucionalizados não são abordados. Não é uma teoria muito realista do conflito.
A teoria da criminalização de Turk: variáveis gerais do conflito e variáveis específicas do processo de criminalização
 	Para Turk, as variáveis do conflito são o grau de organização, o grau de refinamento e o grau de consenso. Quanto mais é organizado o grupo que age de maneira ilegal e quanto menos refinados são os “criminosos”, maior a probabilidade do conflito acontecer (ex: “bando de delinquentes). A menor probabilidade de conflito se dá na situação oposta; exemplo: estelionatários profissionais. Intermediariamente, os organizados e refinados têm maior capacidade de evitar conflito aberto, enquanto os não organizados e não refinados têm maiores problemas com a lei. O conflito é mais provável quanto menor for a interiorização das normas oficiais, quanto menos os sujeitos “se identificam com as autoridades e aceitam suas valorações morais”; sem confiança para com a autoridade. 
	Quanto ao processo de criminalização, há duas variáveis: a força relativa e o grau de realismo usados no conflito. A diferença da força diz respeito aos recursos disponíveis a cada um dos gupos. Quanto maior é diferença, maior é a exposição dos violadores das normas à criminalização (maior exposição das camadas pobres). 
	Quanto menos refinados os componentes do grupo são, mais eles realizam manobras não realistas, que os prejudicam pois acarretam em maiores chances de criminalização. As variavéis gerais do conflito “explicam” as diferentes taxas de criminalidade e alta taxa de criminalidade dos mais baixos estratos sociais.
	Quanto à força relativa dos órgãos oficiais, esta varia de acordo com a força do adversário, de acordo com os dois extremos: sendo ela muito forte ou muito fraca (varia de maneira oposta do que a força dos órgaos oficiais). Nos dois casos, há uma tendência das instâncias oficiais de não concretizar os procedimentos legais: ou são usadas práticas repressivas terroristas para combater o adversário mais forte, ou usa-se procedimentos menos custosos para combater o mais fraco. Consequentemente, há uma notável diminuição da taxa de criminalidade em ambos os casos. 
Limites da teoria de Turk
Ele foge um pouco da realidade, rumo a um formalismo conceitual. Tais autores fazem o conflito a lei eterna da estrutura social, assim, segundo eles as sociedades teriam uma harmonia preestabelicida, onde cada coisa tem seu lugar, é igualmente uma utopia. Ela não visa descobrir as razões das diferenças de poder, tal teoria é “uma equação sem incógnitas”. Os problemas sociais que geram os conflitos não recebem o devido enfoque. A teoria de Turk descreve os fenômenos, realçando aquilo que já se sabia: que o processo de criminalização é seletivo e dirigido para as camadas pobres. Mas ele não esclarece as razões do grupo que tem mais poder criminalizar o que tem menos, e não seus adversários igualmente fortes, a explicação, na teoria dele, é resumida nas diferenças de poder. 
Ademais, Baratta ressalta a escassa consistencia e um inadequado nível de abstração das teorias do conflito. Estas almejam ser uma alternativa às estruturais-funcionalistas. “O modelo do conflito não constitui, para Dahrendorf e para Coser, o princípio geral de um ateoria dos fatos sociais, como ocorria na estrutural-funcionalista com o modelo do equilíbrio, mas serve para explicar somente uma parte dos fatos sociais”. Dahrendorf propõe a construçãode uma teoria que considera tanto o momento de equilíbrio quanto o de conflito; esses dois aspectos da realidade social se entrecruzam, para ele. A teoria da estrtutura social de apresenta sobre um aspecto duplo: teoria da investigação – ordem efeitiva e os valores; teoria da autoridade – autoridades e os interesses. A sociedade, segundo ele, teria duas faces: uma da estabilidade, harmonia e consenso, outra de mudança, conflito e domínio.
O insuficiente nível de abstração das teorias conflituais
Insuficiente função explicativa. na sociedade de Dahrendorf haveria separação entre propriedade e poder e a burocratização e da administração do Estado. Ele faz uma análise baseada nas relações de poder; segundo ele, o poder não tem mais a sua base na propriedade provada dos meios de produção. O conflito, portanto, diz respeito a relação de poder, “sobre a participação no poder ou sobre a exclusão dele”. Coser também pensa assim.
“O defeito fundamental desta teoria está na incapacidade de descer da superfície empírica dos fenômenos à sua lógica objetiva”. Dahrendorf acredita que institucionalizar o conflito é a forma de estabelecer um equilíbrio social (deformação teórica). Ele não percebe a ligação que há entre o processo de acumulação e a produção de zonas de desocupação, por exemplo. Ele considera o conflito social na sociedade só em referência à população ocupada, assim, sua teoria acaba por ser inteiramente inadequada. 
A institucionalização do conflito, a marginalização das necessidades e dos comportamentos estranhos à zona imediatamente produtiva da “indústria”
O modelo de conflito construído foi parcial. Dahrendorf e Coser privilegiam determinados aspectos do conflito e negligenciaram outros. “a característica fundamental do conflito, sobre a qual eles constroem suas teorias é o fato de ser institucionalizado, de receber uma mediação dentro da estrutura jurídica da indústria e do Estado monopolista”. Portanto, todos os conflitos não institucionalizados, que não tem mediação política, ficam fora dessa temática do conflito. É uma visão míope e parcial, a indústria é o local onde acontecem os conflitos “realistas”, os racionalizáveis, institucionalizáveis e que podem sofrer medidas jurídicas. Os demais conflitos permanecem na zona do irracional, dos conflitos “não realistas”. Tais teóricos, reduzindo sua teoria a uma teoria dos conflitos “realistas” e caracterizando alguns como funcionais à sociedade (a reprodução da estrutura social do capitalismo, na verdade), exorcizam os conflitos que se agitam fora da indústria (massas marginalizadas). Estes não estão disciplinados dentro do projeto jurídico na sociedade capitalista. Os teóricos do conflito, portanto, excluem, pondo à margem do seu conceito de sociedade, os comportamentos que não se incluem na zona produtiva e juridicamente institucionalizada da indústria. 
A constribução das teorias conflituais para a crítica da ideologia da defesa social: de uma perspectiva microssociológica para uma perspectiva macrossociológica
Apesar de serem dignas de críticas, tais teorias contribuíram por seu caráter crítico e pela superação da ideologia penal da defesa social. O conflito social e a criminalização, o enfoque na reação social, o direito penal posto em uma perspectiva política contribuíram para dar progresso à criminologia liberal contemporânea. Segundo elas, o desvio não é uma relação antagônica indvíudo-sociedade (psicanálise e funcionalistas), mas sim uma relação entre grupos sociais. Também transferem o enfoque da reação social de uma perspectiva microssociológica para uma macrossociológica (relações de poder entre grupos). Contrapõem também o princípio do interesse social e do delito natural. 
Não é uma teoria de médio alcance, pois parte de uma teoria global, mesmo que mistificadora da sociedade. O problema da distribuição de poder e do uso dele é posto em centralidade. Também abrem caminho para o estudo da criminalidade econômica, da criminalidade dos poderosos (grupos organizados, caráter seletivo). Dão ênfase aos conflito cultural e conflito de intergerações. Todavia, as falsas generalizações e o formalismo conceitual fazem com que as teorias do conflito não possam ter pretensões científicas. Afinal, tais teorias desperdiçaram um grande tema: o conflito social e a criminalidade; não conseguindo superar os limites da teoria do labeling. As conflituais, apesar de denunciarem a desigualdade e as ralações de hegemonia entre os grupos, não descem da esfera política para analisar a individualização das condições estruturais da sociedade. Portanto, são teorias falsamente revolucionárias.
XI. OS LIMITES IDEOLÓGICOS DA CRIMINOLOGIA “LIBERAL” CONTEMPORÂNEA. SUA SUPERAÇÃO EM UM NOVO MODELO INTEGRADO DE CIÊNCIA JURÍDICA.
As teorias criminológias liberais contemporâneas
As teorias examinadas até aqui são teorias liberais contemporâneas, as quais representam um grande progresso na criminologia burguesa, principalmente ao deixar para trás as concepções patológicas da criminalidade (a criminologia positivista pegava emprestado do direito a definição de criminoso; o objeto da investigação era prescrito pela lei e pela dogmática penal); em tais teorias era como se “o mecanismo social de seleção da população devesse, por uma misteriosa harmonia preestabelecida, coincidir com uma selação biológica”. Assim sendo, a criminologia tinha uma função auxiliar para a ciência penal.
As teorias contemporâneas substituíram a dimensão biopsicológica pela sociológica, invertendo a relação da criminologia com a dogmática penal, ao sustentar o caráter normal e funcional da criminalidade (funcionalista), a influência da estratificação social e dos mecanismos de socialização (subculturas), dando ênfase ao direito penal (psicanalítica da sociedade punitiva) e aos mecanismos seletivos que guiam a criminalização (labeling). Tais funções têm a ver com o conflito do insconciente – impulsos individuais, inibições sociais (psicanalítica) ou com as relações de poder (conflituais). 
A definiçao do objeto de estudo não depende mais da definição legal de criminalidade, sendo substituída por uma definição sociológica do desvio. Essa autonomia é alcançada mais fortemente na teoria do labeling, a qual nega qualquer consistência ontológica à criminalidade, e assim pôs o enfoque do estudo para o poder que define e que estigmatiza. “o direito penal torna-se, assim, de ponto de partida para a definição do objeto de investigação criminológica, no objeto da investigação”.
	A ideologia de defesa social é objeto de polêmica, enquanto a sociologia criminal deixa de ser auxiliar, adquirindo uma postura crítica em relação a ciência jurídica. 
	Todavia, a crimonologia liberal contemporânea não está em condições de desenvolver uma crítica eficaz da ideologia da defesa social, nem de fornecer uma estratégia prática que guie a realidade para um posição socialmente justa, que não apenas reprima o desvio e controle os comportamentos socialmente negativos; afinal, ela fornece uma “nova ideologia negativa racionalizante de um sistema repressivo mais atualizado”. O novo sistema de controle social do desvio é um racionalizador e um integrante do sistema de controle social, a fim de o tornar mais eficaz e mais econômico, mantendo sua principa função: “contribuir para a reprodução das relações sociais e de produção”, mantendo a escala social vertical, com estratificação e desigualdade. “A ideologia racionalizante se baseia, principalmente, na tese da universalidade do fenômeno criminoso e da função punitiva”.
A “criminologia liberal contemporânea” como conjunto de teorias heterogêneas e não integráveis em sistema
Cada teoria age de modo setorial no que diz respeito à ideologia penal da defesa social. A teoria do labeling é a mais crítica em relação àquela ideologia. Contudo, nenhuma dessas teorias se contrapõe de modo geral a todas as implicações de tal ideologia. Essas teorias também são muito heterogêneas entre si, o que não permite juntá-las para se ter uma visão global. E cada uma sozinha tem umaalternativa somente parcial à ideologia da defesa social. 
Ela mistifica o desvio, os comportamentos socialmente negativos e o processo de criminalização; os quais são muito dependentes entre si. Certos comportamentos tem graus de funcionalidade e de disfuncionalidade em face do sistema de produção e distribuição. As relações de hegemonia são a expressão política, mediatizada pelo direito e pelo Estado. Assim, uma teoria do desvio que almeje superar a ideologia mistificante da defesa social deve utilizar esses elemtnos e os situar numa estrutura social.
A criminologia crítica também critica a concepção de universalidade do delito e do direito penal. Por meio da tese da universalidade do delito as teorias liberais legitimam um sistema penal atualizado, e “preparam a nova ideologia dos juristas adequada a este sistema”. Elas têm, portanto, uma ideologia negativa que visa substituir a ideologia tradicional da defesa social. Para estas, a criminalidade é um fenômeno social aistórico, ineliminável. Elas favorecem a transformação da sociedade somente no limite em que, por meio delas, se torna possível um mais eficaz domínio do potencial social da conflitualidade; o que significa a extensão da assistÊncia; as teorias se reduzem à exigência de criar as condiçoes “Para uma socialização na qual seja assegurado o oferecimento de chaces mínimas de recuperação”. 
O atraso da ciência jurídico-penal: a sua escassa permeabilidade às aquisições das ciências sociais
A ideologia substituvia põe o controle social do desvio num âmbito reformista que visa eficiência, com a mediação política das contradições sociais. Tal estratégia, político-criminal, baseia-se: sobre o máximo controle das formas de desvio disfuncionais ao sistema capitalista (delitos contra a propriedade, desvio político); máxima imunidade aos comportamentos socialmente danosos, mas funcionais ao sistema (poluição, criminalidade política, acordos entre o Estado e privados), ou que apenas demonstrem contradições internas dos grupos mais poderosos. Nem a essa nova ideologia liberal os juristas chegaram, mas também não a rejeitaram (eles ainda portam a ideologia antiga, ficando atrás da sociologia atual burguesa). Tal ciência social “representa o momento racionalizador e reformista (voltada para o desenvolvimento futuro do sistema), enquanto a ciência jurídico-penal ainda é conservadora e reacionária (está ligada as fases já superadas do sistema). (o autor liga esse fenômeno aos regimes fascistas). 
Além disso, na ideologia burguesa o papel das medidas penais e dos juristas tem perdido importância no controle social do desvio e se tornado secundário. Contudo, o peso absoluto do sistema penal aumentará, será apenas uma diminuição relativa “em relação a outras formas jurídicas não penais”, com a assistência social do controle, ou formas não jurídicas do controle (organização científica do trabalho, publicidade...regulamentam e condicionam os comportamentos e as ideias). Os operadores sociais que atuam no sistema de controle do desvio estão muito mais ligados com a sociologia liberal, com suas atividades profissionais. Isso retoma o desenvolvimento da ciÊncia social burguesa, mesmo com o atraso da ciÊncia jurídico-penal. 
O atraso da ciência jurídica em face da ciÊncia social contemporêna é enorme, um atraso não recuperável. Não é mais possível reconstruir um modelo integrado de ciência penal fundado sobre o caráter auxiliar da ciência social, ou com o discurso do cientista da sociedade e o discurso do jurista. Afinal, “a ciência jurídica formal não se revela em condições de refletir e de superar a própria ideologia negativa”; a superação e a crítica deste devem provim do seu exterior, por meio de uma ciÊncia social. A ciÊncia jurídica não seria capaz de construir, a partir dela mesma, uma ideologia positiva, uma alternativa ao atual sistema repressivo. Ela precisa da contribuição da ciência social para a construção de uma nova estratégia político-criminal. 
Por um novo modelo integrado de ciência penal: ciência social é técnica jurídica
Sugere-se um novo modelo, onde a relação entre as duas não é mais uma relação entre duas ciências, mas uma relação entre ciência e técnica. Ténica jurídica seria a preperação de instrumentos legislativos, interpretativos e dogmáticos, visando atingir opções político-criminais. Indica-se a sua depência da ciência social, para dar luz a um novo modelo integrado de ciência penal; mas o jurista não seria reduzido a um mero técnico, pois teria nova dignidade científica, tornando-se um cientista social. Isso implica uma radical revisão dos métodos de formação dos juristas, para que ele reencontre nas necessidades individuais e sociais o fundamento teórico de suas escolhas práticas de que ele é instrumento. Caso contrátio, ele vai continuar incluso numa lógica negativa, portando escolhas políticas as quais ele não pode controlar. 
O autor ressalta que somente uma ciência social comprometida pode desenvolver um papel de controle e de guia em relação à ténica jurídica, com interesse e ação para transformar a realidade, satisfazendo as necessidades individuais e sociais. O interesse por transformar deverá guiar a ciência na construção de suas hipóteses; enquanto a reconstrução científica da realidade desenvolverá a consciência das contradições materiais, como consciência dos grupos sociais interessados profundamente nessa transformação. Essa ciência comprometida, portanto, é interessante tanto aos operadores científicos quando aos grupos sociais que têm a força para a transformação emancipadora; tal ciência faria com que esses grupos pudessem reverter as relações de poder. “O interesse das classes subalternas é o ponto de vista a partir do qual se coloca uma teoria social comprometida, não na conservação, mas na transformação positiva, ou seja, emancipadora, da realidade social”. 
Tal teoria comprometida é uma teoria materialista (econômica-política), que encontra suas premissas em Marx e em seu materialismo histórico. Deseja-se construir uma teoria materialista do desvio, dos comportamentos socialmente negativos e da criminalização: a criminologia crítica (em alternativa teórico-ideológica à liberal).
XII. DO “LABELING APPROACH” A UMA CRIMINOLOGIA CRÍTICA
O movimento da “criminologia crítica”
A recepção alemã do labeling foi um importante momento da passagem da criminologia liberal à crítica. 
Criminologia crítica: não é homogêna; é a construção de uma teoria materialista (econômica-política) do desvio, dos comportamentos socialmente negativos e da criminalização; leva em conta conceitos e hipóteses do marxismo, mas não é construída apenas baseada nele, pois requer observação empírica. A sociologia liberal contemporânea preparou o caminho para a crítica, e deve-se levar em conta o desenvolvimento por elas alcançado, bem como revisar outras correntes da criminologia crítica. O emprego de hipóteses marxistas pode levar a criminologia crítica a avançar para além do que foi feito até então.
A passagem da positivista para a crítica foram: deslocamento do enfoque do autor para as condições objetivas, estruturais e funcionais, os quais estão na origem do desvio; deslocamento do interesse nas causas do desvio para os mecanismos sociais e institucionais por meio dos quais é construída a “realidade social” do desvio (os mecanismos que criam e aplicam as definições e realizam a criminalização). Ao enfoque biopsicológico se opõe o macrossociológico. A c.c. contextualiza historicamente o desvio e mostra a funcionalidade ou disfuncionalidade deste a respeito das estruturas sociais, com as relações de produção e de distribuição. É a superação do paradigma etiológico (teoria das causas da criminalidade) e das concepções que ele implica.
A criminalidade se revela como um status atribuído a certos indivíduos, por meio da seleção dos bens protegidos pelo d.p. e dos comportamentos que os ofendem, e pela seleção dos indivíduos estigmatizados entre todos aqueles que cometem delitos. “a criminalidade é um bem negativo distribuído desigualmenteconforme a hierarquia dos interesses fixada no sistema socioeconômico e conforme a desigualdade social entre os indivíduos”. 
A criminologia crítica à crítica do direito penal como direito igual por excelência
O enfoque se deslocou do comportamento desviante para os mecanismos de controle social dele e para o processo de criminalização. O direito penal, para tais autores, produz as normas (criminalização primária), aplica as normas (processo penal, criminalização secundária) e executa a pena. As críticas, portanto, negam o mito do direito penal com direito igual (ideologia defesa social); o qual se resume em: a) o direito penal protege igualmente todos os cidadãos da ofensa dos bens essenciais (interesse social, delito natural); b) a lei penal é igual para todos, todos têm iguais chances de se tornarem sujeitos da criminalização, com as mesmas consequências (igualdade).
	Quanto às críticas feitas: a) o direito penal não defende todos e somente os bens essencias; pune as ofensas a esses bens de modo desigual, com variável intensidade; b) “a lei penal não é igual para todos, o status de criminoso é distribuído de modo desigual entre os indivíduos”; c) o grau de proteção e a distribuiçao do status criminoso não depende da danosidade social e da gravidade das infrações à lei (essas não são as variáveis principais da reação criminalizante!)
	Direito penal: é o direito desigual por excelência. 
	Outros estudiosos analisaram a desigual distribuição das gratificações sociais, dos atributos positivos de status. Há uma forte contradições entre a igualdade formal dos indivíduos como sujeitos jurídicos, e a desigualdade nas posições que ocupam (indivíduos reais) na relação social de produção. No contrato tais indivíduos são formalmente livres, na produção são subordinados e explorados. 
	A crítica ao direito privado almeja desmascarar a relação desigual sob a forma jurídica do contrato; o direito igual se transforma no desigual. 
	No que diz respeito à distribuição, há acesso desigual aos meios que satisfazem as necessidades; troca entre força de trabalho e salário; a igualdade formal legitima a desigualdade substancial. Ressalta-se que o direito não pode estar acima do estágio alcançado pela sociedade (isso vale também para o socialismo, portanto, a desigualdade na distribuição ainda permanece na primeira fase dele; a igual trabalho, igual distribuição). Tanto no capitalismo quanto na primeira fase do socialismo se esconde a desigualdade real dos sujeitos, com a igualdade formal, para legitimar o sistema de desigualdade substancial. “A abstração consiste em prescindir das reais características sociais e antropológicas dos indivíduos, vendo neles somente o sujeito de direito”. Numa fase posterior do socialismo a distribuição é regulada pela necessidade individual.
Igualdade formal e desigualdade substancial no direito penal
Crítica da justiça penal burguesa. O sistema penal releva aquele paradoxo de igualdade e desigualdade, que se manifesta pelas chances de serem definidos e controlados como desviantes. E as tentativas de justificações procuram ocultar o fato de que o direito penal tende a privilegiar os interresses das classes dominantes, e a imunizar da criminalização os comportamentos danosos socialmente que são típicos das pessoas que pertencem a ela, e que são ligados à acumulação capitalista (criminalização econômica); dirigindo a criminalização para as classes subalternas (com seus atoes que contradizem as relações de p. E de d. Capitalistas). A escolha dos comportamentos criminalizados geralmente está em relação inversa com a danosidade social dos comportamentos. 
A maior chance de ser selecionado como membro da “população criminosa” é dos indivíduos pertencem às classes mais pobres; os quais têm posiçao precária no mercado de trabalho e defeitos de socialização familiar e escolar. Na criminologia positivista e na liberal contemporâne esses fatores são as causas da criminalidade, mas, para a crítica, estes são fatores que levam à atribuição do status de criminoso. 
Funções desevolvidas pelo sistema penal na conservação e reprodução da realidade social
Não só as normas do d.p. se formam e se aplicar de maneira seletiva (mostrando as desigualdades que existem), mas o direito penal reproduz e produz ativamente as desigualdades. O cárcere é essencial para manter a sociedade em escala vertical, pois impede a ascensão das pessoas pobres; a aplicação do direito penal seletiva conduz a uma ideologia que legitima essa seletividade.
O cárcere produz as relações de desigualdade e os sujeitos passivos de tal relação (relação de subordinação). A estrutura de poder da sociedade assumiu o modelo da fábrica, segundo o autor. E há um nexo histórico entre fábrica e cárcere, os quais nasceram junto da sociedade capitalista. O cárcere recruta um setor de marginalizados sociais qualificados “para a intervenção estigmatizante do sistema punitivo do Estado”. Forma também um “exército industrial de reserva”. O cárcere é o momento culminante de um “processo de seleção que começa ainda antes da intervenção do sistema penal, com a discriminação social e escolar, com a intervenção dos institutos de controle do desvio e menores, da assistência social etc. O cárcere representa, geralmente, a consolidação definitiva de uma carreira criminosa”.
A ideologia do tratamento carcerário e a sua repecção em recentes leis de reforma penitenciária italiana e alemã
O cárcere é o instrumento principal para a criação de uma população criminosa, recrutada nas fileiras do proletariado. É impossível que ele cumpra sua suposta função de reeducação e de reinserção social. A história também mostra o fracasso de toda tentativa de reforma dele. Porém, “legitimado pela ideologia da defesa social, o direito penal contemporâneo continua a autodefinir-se como direito penal do tratamento”. Como exemplo, Baratta mostra as novas leis penitenciárias alemã e italiana que tem como finalidade a reinserção e reeducação. Mas, como é sabido que essas inovações não tiram os efeitos negativos do cárcere sobre o condenado, a nova lei alemã almeja conter as particularidades do cárcere que podem tornar o detido incapaz para toda a vida; “de modo que a diferença entre uma vida no instituto e a vida externa não seja meio do que é inevitável”. Mas também se sabe que a maior parte da população carcerária vem das zonas de marginalização social. “o cárcere vem a fazer parte de um continuum que compreende família, escola, assistência social, organização cultural do tempo livre, preparação profissional, universidade e instrução dos adultos”. “a política social não pode ser feita sem política educacional [...] os processos reguladores do direito penal não podem ser compreendidos fora dos outros processos sociais da socialização e da educação”.
O sistema penal como elemento do sistema de socialização
O fenômeno das ténicas repressivas para as não repressivas da socialização é complementar ao direito penal. Este tende a ser reabsorvido neste processo difuso de controle social, “que pouca o corpo para agir diretamente sobre a alma, melhor, que ‘cria’ a alma”. Por meio da ideologia dos próprios órgãos oficiais, há autolegitimação do sistema. 
XIII. SISTEMA PENAL E REPRODUÇÃO DA REALIDADE SOCIAL
O sistema escolar como primeiro segmento do aparato de seleção e de marginalização na sociedade
O autor atribui ao sistema escolar a mesma função de seleção e de mariginalização que até então era atribuída ao sistema penal. “a história do sistema punitivo [...] é a história das relações das duas nações”: os ricos e os pobres. Ambos sistemas reproduzem e asseguram as relações sociais existentes, conservam a realidade social, com suas consequentes zonas de subdesenvolvimetno e de maginalização. Tanto o direito penal quanto a escola “separam o joio do trigo”, com um efeito que legitima a escala social existente. 
Na zona mais baixa da escala social a função selecionadora se transforma em função maginalizadora. À ação reguladora do mercado de trabalho se acrescenta os mecanismosreguladores do direito. Se cria e se faz a gestão da população criminosa, dessa maneira.
Com pudor, com falsa consciência, a desigual repartição do acesso às chances sociais (estratificação) perpetua. A ascensão dos grupos “inferiores” é muito limitada, “enquanto o autorrecrutamento dos grupos sociais, especialmente dos inferiores e dos marginalizados é muito mais relevante do que arece à luz do mito da mobilidade social”. 
O sistema escolar reflete a estrutura vertical da sociedade e contribui para criá-la e conservá-la, por meio de “mecanismos de seleção, discriminação e marginalização”. As sanções escolares negativas são maiores nos níveis inferiores da escala social e de marginalização social. Baratta cita as escolas especiais da Alemanha.
A desmistificação das seleções baseadas na inteligência retira a aparência legitimante de uma justa promoção social dos indíviuos, de acordo com seus talentos e atitudes. A outra legitimação das diferenças sociais está no conceito de mérito. Afinal, as diferenças mentais e de linguagem das crianças provêm das suas condições sociais originárias. asdiferenças sociais são aceitas e perpetuadas na escola. 
O mérito escolar também é avaliado conforme critério de juízos e de valores, assim, há discriminação para com os alunos provenientes de níves sociais marginalizados. O insucesso escolar tem a ver com a dificuldade deles se adaptarem em um mundo estranho a eles, e a mudarem seus comportamentos e linguagens. Sem compreensão, a escola lhes dá sanções negativas e os exclui (escolas especiais). “A escola é um tal instrumento de socialização da cultura dominante das camadas médias, que ela os pune como expressão do sistema de comportamento desviante”.
Função ideológica do princípio meritocrático na escola
O professor, em geral, também age com preconceitos e esteriótipos, condicionando a aplicação seletiva e desigual dos critérios escolares do mérito. As notas escolas são “injustiças institucionalizadas”; os maus alunos confrontam-se com a severidade, mais do que mereciam, além de que, no caso deles, os professores destacam bem mais os erros (existentes ou não). 
O fenômeno da “self-fullfilling profecy” (a expectativa do ambiente em que se está determina o comportamento do indivíduo) tem sido observado nas escolas. O rendimento escolar da criança está relacionado com a percepção (dela) das expectativas que o professor tem em relação a ela. 
	No microcosmo escolar, intervém o mecanismo de ampliação dos efeitos estigmatizantes das sanções institucionais, com a distância social e reações não institucionais. O mau aluno é rejeitado e isolado pelos demais. Os pais também influenciam para que seus filhos discriminem aqueles que provêm que camadas mais débeis.
	Há também o caráter simbólico da punição; transfere o mal e a culpa para uma minoria estigmatizada; integra a maioria, recompensando-a e validando seu comportamento. As atitudes negativas são interpretadas pelos estudiosos como tentativas de autodefesa, “o insucesso dos outros reprime o medo do próprio insucesso”, criando um sentimento de satisfação. Tal qual na sociedade, “a estigmatização do outro com a pena reprime o medo pela propria diminuição de status”. A interação entre os alunos consolida a marginalização. “O nosso sistema de escola pública se recusou a assumir a função de facilitar a mobilidade social e, em realidade, se tornou instrumento de diferenciação de classe, a nível econômico e social, na sociedade americana”.
As funções seletivas e classistas da justiça penal
A homogeneidade do sistema escolar e do sistema penal cria eficazes contraestímulos à integração dos setores mais baixos. No sistema penal há os mesmos mecanismos de discriminação que estão no sistema escolar. 
O sistema de valores que está nas leis penais reflete, de maneira quase total, o universo moral “próprio de uma cultura burguresa-individualista”, ao dar ênfase à proteção da propriedade e ao atingir as formas de desvio que são típicas dos marginalizados. 
Quanto à seleção criminalizadora, há maior flexibilidade quando o crime for cometido por alguém de maior prestígio social (colarinho branco), tais delitos têm maior chance de ficarem imunes. 
O direito penal têm caráter fragmentário, principalmente em uma 	“lei de tendências” , que preserva da criminalização primária as atitudes que são funcionais à acumulação de capital, criando “zonas de imunização” de comportamentos que causam danos principalmente aos mais pobres.
Os processos de criminalização secundária acentuam o caráter seletivo do sistema penal, pois os preconceitos e esteriótipos criam as ações de todos os órgãos de controle, os quais “procuram a verdadeira criminalidade naqueles estratos sociais dos quais é normal esperá-la”. Dahrendorf, com a “sociedade dividida”, já havia dito que os juízes são burgues, e as pessoas que ele julga são proletários de maneira predominante, assim, não há justiça de classe. Ademais, há a distância linguística, a falta de recursos para contratar um ótimo advogado...
A incidência dos esteriótipos, dos preconceitos, das teorias de senso comum na apliação jurisprudencial da lei penal
O juiz também não conhece e não penetra no mundo do acusado, enquanto aplica as “teorias de todos os dias”. Inconscientemente, os juízes são levados a terem diversos juízos, conforme a posição social dos acusados, relacionados à apreciação do delito e o caráter sintomático do deltio em face da personalidade; o juiz individualiza e mensura a pena com esses pontos de vista. “a distribuição das definições criminais se ressente [...] da diferenciação social”. Os juízes tendem a esperar um comportamento em distonância da lei dos mais pobres (o contrário também é verdadeiro!). 
Principalmente nos crimes contra o patrimônio, há uma correlação entre a valoração da culpa e das circunstâncias atenuantes e a posição econômica do acusado, bem como à suspensão condicional dela. “os critérios de escolha funcionam nitidamente em desfavor dos marginalizados e do subproletariado, no sentido de que prevalece a tendência a considerar a pena detentiva como mais adequada, no seu caso, porque é menos comprometedora para o seu status social já baixo, e porque entra na imagem normal do que frequentemente acontece a indivíduos pertencentes a tais grupos sociais”, ao contrário, disse um juiz: “um acadêmico na prisão é para nós uma realidade inimaginável”. “as sanções que mais incidem sobre o status social são usadas, com preferência, contra aqueles cujo status social é mais baixo”.
Estigmatização penal e transformação da identidade social da população criminosa
 	Dentro do mais amplo círculo dos que cometem ações previstas na lei penal, uma circunscrita população criminal é selecionada (sendo que a maioria da sociedade comete crimes). Essa distribuição desigual que atinge aqueles que já são prejudicados pelo mundo do trabalho, ocrorre segundo as leis de um código social (second code) que “regula a aplicação das normas abstratas por parte das instâncias oficiais”. A nova sociologica-jurídica evidencia o papel desenvolvido pelo direito (d.p.) por meio de normas e de suas aplicações, na reproduação das relações sociais. 
	 A marginalização pressupõe a consolidação dos papeis criminosos, em carreiras criminosas, mediante definição que o indivíduo dá de sim mesmo e que os outros dão dele (labeling). É a mudança de identidade social como efeito das sanções estigmatizantes, que gera reinsidência. Assim, a função reeducativa da pena é posta em dúvida. No cárcere há inúmeros reincidentes.
	Self-fullfilling-profecy: a expectativa das instâncias oficiais de encontrar criminalidade nas zonas sociais já marginalizadas faz com que se encontre nelas um percentual enormemente maior de comportamentos ilegais, em relação a outras zonas. É um número desproporcionado de sanções estigmatizantes que se concentra nos grupos mais débeis. Consolida-se a carreira criminosa, por causa dos efeitos da condenação sobre a identidade social dos desviantes. Tanto o sistema penal quanto o escolar agemno sentido oposto de integração. 
	 Os mecanismos de estigmatização são reforçados no nível informal, por meio de “distância social”, isolando a população criminosa, “proibição de coalizão”, que desencoraja a solidariedade, com definições e “teorias de todos os dias” que apoiam os processos oficiais de distribuição da criminalidade. Tal processo separa os “honestos” e os “réprobos”, evidenciando as funções simbólicas da pena; a distÂncia social é maior quanto maior for a distância da classe do “criminoso” das camadas médias; é o medo de degradação do próprio status, assim, quanto mais a pessoa se diferenciar do “criminoso” melhor.
Nexo funcional entre sistema discriminatório escolar e sistema driscriminatório penal
Além de analogias, entre os dois sistemas há um nexo funcional: mecanismos globais de produção e reprodução das relações sociais e de marginalização. Há mecanismos institucionais entre os dois que asseguram sua continuidade e transmitem, “por meio de filtros sucessivos, uma certa zona da população de um para outro sistema”, são mecanismos funcionalmente idênticos, que cumprem “as tarefas de assistência social, de prevenção e de reeducação em face do desvio de menores”. Há o debate de que as instituições informais preservam o indivíduo submetidos a estas sanções de caírem nas sanções institucionais. A decisão de se o jovem vai ser submetido à sanções insitucionais ou informas também depende da estratificação social. “a cada sucessiva ação de uma instância oficial de assistência e de controle social sobre o menor, corresponde a um aumento, em lugar de uma diminuição, das chances de ser selecionado para uma carreira criminosa”. “os efeitos da intervenção das instâncias oficiais são tão significativoes para o prosseguimento do processo de criminalizaçao, que aqueles que foram surpreendidos revelam uma mais alta criminalidade secundária do que aqueles que puderam se subtrair a esta intervenção”. 
XIV. CÁRCECE E MARGINALIDADE SOCIAL
As características constantes do “modelo” carcerário nas sociedades capitalistas contemporâneas
Todas as tentativas de reinserção e socialização por meio de tais instituições têm fracassado; a introdução de novas técnicas igualmente não mudou a natureza e as funções do cárcere. Afinal, ele representa o momento culminante e decisivo de todo um processo de marginalização, o qual dá funções as zonas marginalizadas, qualificando-as. 
A comunidade carcerária tem características predominantes e que permitem a constução de um modelo, o qual pode ser resumido no fato de que “os institutos de detenção produzem efeitos contrários à reeducação e à reinserção do condenado, e favoráveis à sua estável inserção na população criminosa”. Afinal, a educação fornece individualidade, autorrespeito, enquanto o cárcere trabalha de maneira oposta a isso. “a educação promove o sentimento de liberdade e de espontaneidade do indivíduo: a vida no cárcere, como universo disciplinar, tem um caráter repressivo e unifomizante”. 
É comprovado que o encarceiramento promova efeitos negativos na psique dos condenados; “a possibilidade de transformar um delinquente antissocial violento em um indivíduo adaptável, mediante uma longa pena carcerária, não parece existir”; o instituto da pena jamais pode ser educador. O preso é submetido a um processo negativo de socialização, à “desculturação”, ao distanciamento dos valores e dos modelos de comportamento da sociedade; posteriormente, à “aculturação” (prisionalização), assumindo os valores da subcultura carcerária. Com esse processo, começa-se outros: a educação paa ser criminoso (presos que se tornam poderosos dentro da instituição; o modo como o cárcere funciona favorece o cinismo, o respeito à violência; é um modeo que, apesar de ser antagônico ao poder legal, é comprometido com este) e a educação para ser bom preso (aceitação das normas formais da instituição e das informais; esse é o verdadeiro objetivo do cárcere; passivo conformismo e oportunismo são favorecidos; “hostilidade, desconfiança e submissão sem consentimento aos funcionários do cárcere). 
A relação entre preso e sociedade
É uma relação entre quem exclui e quem é exlcuído. “Toda técnica pedagógica de reinserção do detido choca contra a natureza mesma desta relação de exclusão. Não se pode, ao mesmo tempo, excluir e incluir”. 
Segundo o autor, na estrutura mais básica do cárcere, ele é a ampliação, em forma mais pura e menos mistificada das características típicas das sociedades capitalistas (egoísmo, violência, submissão e exploração dos mais pobres). Portanto, antes de tentar uma reinserção, é preciso fazer um exame dos valores e modelos de comportamento da sociedade na qual se quer reinserir o preso. “a verdadeira reeducação deveria começar pela sociedade”; é preciso modificar a sociedade excludente (antes de querer modificar os excluídos), para se atingir a raiz do problema. “De outro modo permanecerá [...] a suspeita de que a verdadeira função desta modificação dos excluídos seja a de aperfeiçoar e de tornar pacífica a exclusão, mais que os excluídos na sociedade, a própria relação de exclusão na ideologia legitimante do estado social”. 	
A assistência e a vigilância sobre o encarcerado quando acaba a detenção é uma forma de perpetuar o estigma que a pena deu ao indivíduo; ampliação do universo carcerário, para Foucalt: é um instrumento de controle e de observação. “esse novo panorama tem sempre menos necessidade dos muros da separação para assegurar-se o perfeito controle e a perfeita gestão desta zona particular de marginalização, que é a população criminosa”. 
As leis de reforma penitenciária italiana e alemã
A real função do cárcere é construir e manter a marginalização. Todavia, nesses dois países, apesar de não modificarem a essência, importantes inovações foram introduzidas nos cárceres: trabalho carcerário equiparado ao trabalho de fora da prisão; abertura à presença externa no cárcere, com maiores contatos entre o preso e a sociedade. 
A ideologia do legislador e a eficácia da legislação são inseparáveis; assim, pode-se compreender por que as iniciativas de reforma do cárcere não tiveram sucesso; e esse insucesso não foi uma consequência não desejada pelo direito. Assim, para julgar a nova legislação carcerária daqueles dois países, deve-se examiná-la no momentos nos quais ela “vive”. 
Ademais, os métodos que tradicionalmente se usa para estudar a marginalização permitem um levantamento apenas parcial da realidade, que dão sugestões parciais apenas. O conceito de marginalidade tem sido baseado sobre: a participação em uma subcultura diferente, derivando dela comportamentos desviantes; a definição de tal diferença e a reação social em relação ao grupo; a consciência do sujeito “marginal” e sua autoidentificação com os papeis. Os estudos sobre o tema se centram na distribuição de renda e de status, ignorando as raízes econômicas da distribuição e da produção. Assim, tais estudiosas creem ser os estratos sociais “elásticos”, não enfrentando o problema que a estrutura econômica impõe. 
A perspectiva de Rusche e Kirchheimer: as relações entre mercado de trabalho, sistema punitivo e cárcere
O mercado de trabalho não é uma dimensão apenas econômica, mas ao mesmo tempo política também, “sobre a qual influi o sistema de status e o poder estatal”. A ressocialização por meio do trabalho não pode ter sucesso, porquanto este auxilia na marginalização criminal. 
Para Foucalt, “o sistema puntivo tem uma função direta e indireta. A função indireta é a de golpear uma ilegalidade visível para encobrir uma oculta; a função direta é a de alimentar uma zona de marginalizados criminais, inseridos em um verdadeiro e próprio mecanismo econômico e político”. A marginalização criminal revela o caráter impuro da acumulação capitalista; a ideia de fazer uma socialização dos setores marginalizados por meio do trabalho se choca com a lógica da acumulação capitalista, a qual necessidade manter em pé setores marginais do sistema e mecanismos de renda e parasitismo. “é impossívelenfrentar o problema da marginalização criminal sem incidir na estrutura e na sociedade capitalista, que tem necessidade de desempregados, que tem necesiddade (motivos ideológicos e econômicos) de uma marginalização criminal”. 
Os êxitos irreversíveis das pesquisas de Rusche e Kirchheimer e de Foucal: do “enfoque ideológico” ao “político-econômco”
Nesses trabalhos duas teses centrais se consolidaram: para definir a realidade da prisão e interpretar seu desenvolvimento histórico, deve-se considerar a função efetiva por ela cumprida; para individualizar tal função, deve-se levar em conta os tipos de sociedade que o cárecer apareceu e se desenvolveu. Este é o enfoque materialista (político-econômico), que se opõe ao enfoque ideológico ou idealista (teorias do fim da pena = resposta à criminalidade, luta contra ela). 
Há quem diga que o cárcere deveria ser retributivo, intimidativo (prevenção geral), ou reeducativo (prevenção especial). Constitui-se, então, uma teoria polifuncional da pena, que deva dar ênfase à reeducação. Contudo, a sociologia e a história mostraram a função real do cárcere, aquela teoria dos objetivos da pena é incapaz de constuir um conhecimento científco dela. 
Foucalt alerta que deve-se “desfazer-se, antes de tudo, da ilusão de que a pena seja, principalmete, um modo de repressão dos delitos”. É preciso estudar os sistemas punitivos junto dos fenômenos sociais. R e K: “todo sistema punitivo tem uma tendência a descobrir (e a utilizar) sistemas punitivos que correspondem às próprias relações de produção” , para eles, a penintenciária depende do mercado de trabalho; F: o cárcere auxilia na construção de um universo disciplinar. Todavia, esses pontos de vista são unilaterais: R e K não levam em consideração a disciplina do cárcere (função educativa=ensinar a dura disciplina da fábrica). F: caráter historicamente abstrato; o poder é o sujeito da história, necessita da disciplina, para ele.
Contudo, tais contribuições são essenciais para a reconstrução científica da história do cárcere. Tal instituição tem funções na produção e no controle da classe operária, na criação de um universo discipinar (economia política da pena). Tais autores mostram a crise do cárcere. F: assinala a transição dos instrumentos de controle total carcerário para outras instituições. Para eles, o cárcere não tem mais aquela função real de reeducação e de disciplina, funções originárias, que se reduzem à ideologia. Aumentou-se as formas de controle que não são da reclusão, e diminui o número de reclusos.
Das reformas dos cárceres seguem-se “contrarreformas” as quais bloqueiam os aspectos positivos que a concepção reeducativa tinha conseguido colocar, principalmente na Europa devido às ameaças de terrorismo: cárcere de máxima segurança. “A política da reforma penitenciária colidiu com a exigência, que hoje parece a exigência essencial, de uma política de ordem pública”. Nos países que tiveram reformas avançadas, o cárcere não é mais considerado como instrumento de reeducação. 
O aumento da exploração e da marginalização está ligado a racionalização injusta dos processos produtivos, os quais são internos à lógica do desenvolvimento capitalista. Assim, o capitalismo exige maior disciplina e repressão, a fim de conter a tensão das massas marginalizadas. Neste contexto é que a crise do cárcere e sua transformação devem ser analisados. 
Segundo o autor, talvez não seja uma coincidência o fato de que a crise da tradicional ideologia legitimante do cárecere (reeducação, reinserção) acontece no mesmo momento em que a estratégia conservadorea do sistema “deixa cair o mito da expansão ilimitada da produtividade e do pleno emprego”. É perigoso que isso conduza a uma democracia autoritária, onde a divisão entre população garantida e população marginalizada da dinânima ofical do mercado de trabalho seja cada vez maior. Em tal situação, o desvio deixa de ser difundido em todos os setores sociais para “recrutar uma restrita população criminosa”, se transforma no status habitual daqueles que são apenas objeto do “pacto social”. (para mais informações, consultar página 196).
XV. CRIMINOLOGIA CRÍTICA E POLÍTICA CRIMINAL ALTERNATIVA
A adoção do ponto de vista das classes subalternas como garantia de uma práxis teórica e política alternativa 
A criminologia crítica dirigiu sua atenção para os processos de criminalização, o qual mantém e produz, na teoria e na pratica, as relações sociais de desigualdade, além de criticar o direito penal como um direito deigual. Tarefas desses criminólogos: construir uma teoria materialista (econômico-política) do desvio, da criminalização e dos comportamentos socialmente negativos; elaborar uma política criminal alternativa, das classes subalternas; afinal, apenas uma radical das funções reais do sistema penal pode “permitir uma estratégia autônoma e alternativa no setor do controle social do devsio, ou seja, uma ‘política criminal’ das classes subordinadas”, pois deve-se partir dos interesses delas. 
A classe dominante almeja conter o desvio, para que ele não prejudique a funcionalidade do sistema e de seus interesses, além de querer manter sua posição de poder na definição e perseguição da criminalidade. Já as classes subalternas almejam lutar contra os “comportamentos socialmente negativos”, superando as condições socioeconômicas do capitalismo. Elas desejam que a política criminal atinja zonas nocivas que por enquanto estão imunes da criminalização (crimes econômicos, poluição, crimes políticos, máfia). Tais crimes são mais socialmente danosos do que os atualmente criminalizados. Afinal, no cárcere predominam as zonas anteriormente marginalizadas (exército de reserva). 
Ademais, os crimes mais perseguidos são aqueles contra a propriedade, mas, tais delitos são reações individuais (não políticas) à desigualdade do capitalismo, assim, é natural “que as classes mais desfavorecidas deste sistema de distribuição estejam mais particularmente expostas a esta forma de desvio”. Contudo, o comportamento desviante está em todos os níveis sociais, e aqueles crimes típicos das classes dominantes, apesar de impunes, prejudicam muito mais a sociedade (do que a criminalidade perseguida). 
A imunidade e a criminalização seletiva dão liberdade às práticas ilegais dos grupos dominantes; ao mesmo tempo em que atacam os interesses e os direitos das classes subalternas. A restrição dos movimentos de emancipação social também é rigorosa. (página 199). Portanto, adotar o interesse das classes subalternas é garantir uma teoria e uma alternativa prática que vá na raiz dos fenômenos negativos e atinja as causas profundas.
Assim sendo, se uma ciência deseja orientar as ações visando a superação das contradições, ela não poderá só descrever as relações de desigualdade que o sistema penal reflete (isso a criminologia liberal contemporânea já fez); portanto, deve-se analisar profundamente, para entender a função do sistema pena (historica e atualmente) para a conservação e para a reprodução das relações de desigualdade. Portanto, deve-se “penetrar na lógica objetiva da desigualdade, que reside na estrutura das relações sociais de produção”, as quais obedecem a lei do valor. Apenas em tal nível as relações de propriedade (econômicas) e as de relações de poder (política) revelam a sua raiz comum (as criminologias liberais só analisavam uma dessas relações). 
A criminologia crítica usa conceitos e hipóteses teóricas do marxismo, mas sem dogmatismo, de maneira crítica e livre de preconceitos.
Quatro indicações “estratégicas” para uma “política criminal” das classes subalternas
Os resultados positivos da criminologia liberal contemporânea somados com os da criminologia crítica fornecem estratégias para a cronstrução de uma “política criminal” das classes subalternas:
É necessário interpretar separadamente os comportamentos socialmente negativos das classes subalternas e os das classes dominantes. Os primeiros exprimem contradições das relações de produção e de distribuição, são respostas individuais e politicamenteinadequadas as contradições. Os segundos demonstram as relações funcionais entre processos legais e ilegais, da acumulação e circulação do capital, e entre tais processos e a esfera política. Política penal (função punitiva do Estado) ≠ política criminal (política de transformação social e institucional). “entre tdos os instrumentos de política criminal o direito penal é o mais inadequado”. Tal política criminal que se propõe é radical, pois afirma que a questão penal está liagada às contradições estruturais que deriavam das relações sociais de produção, não sendo resolúvel. Portanto, uma política criminal coerente não pode ser de “substitutivos penais”, ligados a uma perspectiva reformista; mas deve promover grandes “reformas sociais e institucionais para o desenvolvimento da igualdade, da democracia, de formas de vida comunitária e civil alternativas e mais humanas”, dando ênfase ao poder proletário, para superar as relações socias de produção capitalistas.
Da crítica do direito penal derivam consequências analisáveis sobre dois perfis: 1- ampliação e reforço da tutela penal, naquilo que for essencial para a comunidade: saúde, segurança no trabalho, ecológico; dirigindo a reação institucional à confrontar a criminalidade econômica e organizada, assegurando uma maior representação dos interesses coletivos. É necessário dar justa importância aos meios alternativos de controle, até mais eficazes, e evitar cair numa política reformista de extensão do d.p. 2 – (é ainda mais importante): obra radical de despenalização, contrair ao máximo o sistema punitivo, com a exclusão da concepção de crime de determinados atos, tirando o autoritarismo do Estado. Ademais, aliviar a pressão negativa do sistema punitivo sobre as classes subalternas (e seu consequente efeito negativo para o destino de tais indivíduos e para a unidade da classe operária, que o sistema penal tanto separa). Isso significa a substituição de sanões penais por fomas de controle que não estigmatizem (s. Adm ou civis), com processos de socialização do controle do desvio e de privatização dos conflitos; dando maior espaço para a aceitação social do desvio. “Integra a tarefa de uma política criminal alternativa em relação ao direito penal desigual, uma reforma profunda do processo, da organização judiciária, da polícia, com a finalidade de democratizar estes setores do aparato punitivo do Estado, para contrastar os fatores da criminalização seletiva que operam nestes níveis institucionais”
Com a análise realista das funções do cárcere, e a consciência do fracasso dele para o controle da criminalidade e de reinserção do desviante, bem como sua função real de esmagar as classes marginais, propõe-se a abolição da instituição carcerária. O autor indica algumas etapas para isso: alargar as medidas alternativas, ampliar a liberdade condicional, introduzir formas de execuação da pena em semiliberdade, extender as permissões, e principalemente, abrir o cárcere para a sociedade, com a colaboração das entidades locais, com a cooperação entre presos e movimento operário, limitando a atuação do cárcere sobre a divisão da classe trabalhadora, e reinserir o condenado na classe e na sociedade. “A verdadeira ‘reeducação’ do condenado é a que transforma uma reação individual e egoísta em consciência e ação política dentro do movimento de classe”. 
Deve-se também considerar a função da opinião pública e dos processos ideológicos e pscológicos que nela se desenvolvem, legitimando o direito penal desigual. Nela se encontra os esteriótipos de criminalidade, as “teorias” do senso comum; ativando os processos informais de reação do desvio. Ela também porta a ideologia dominante, legitimando o sistema penal, perpetuando o mito da igualdade; além de desenvolverem os processos de projeção da culpa e do mal, com as funções simbólicas da pena. Afinal, a pena integra a sociedade, consolida as relações de poder. Também se realiza, na opinião pública, o processo de alarme social (manipulados pelas forças políticas nas campanhas de “lei e ordem”, o que dá uma falsa sensação de solidariedade, de união contra um inimigo interno comum. Ao observar o quanto a classe operária está subordinada aos interesses da classe dominante, se compreende a importância de travar uma batalha cultural e ideológica, para que se desevolva uma consciência alternativa em relação ao desvio. Assim, será possível reverter as relações de hegeominia cultural, com uma crítica ideológica de informação. Dessa maneira, uma base ideológica será fornecida, sem ela, a política alternativa vai continuar sendo apenas uma utopia. 
3. a perspectiva da contração e da “superação” do direito penal
	A política criminal alternativa tem como objetivo principal superar o direito penal, o qual surgiu como um totalizador de controle do desvio, utilizando autoridades e sendo distante das classes sobre as quais exerce a ação. Deve-se contrair e superar a pena, e não superar o direito que regula o exercício dela (segundo o autor, nenhum compromisso deve ser feito com as forças da burguesia que estão interessadas em fazer “concessões”). 
	Todavia, a superação do direito penal não significa negar a exigência de formas alternativas de controle social do desvio. “A sociedade capitalista é uma sociedade baseada sobre a desigualdade e sobre a subordinação; a sociedade socialista é uma sociedade libre e igualitária”, isso se reflete nas formas de controle do desvio e ao espaço que se dá para ele (nas experiências de socialismo isso não deu certo!). 
	Há uma relação fundamental entre relações de desigualdade e exigências de repressão. “Quanto mais uma sociedade é desigual, tanto mais ela tem necessidade de um sistema de controle social do desvio de tipo repressivo”. A sociedade socialista, para o autor, é o modelo de sociedade que pode prescindir cada vez mais do direito penal e do cárcere. “A melhor reforma do direito penal seria a de substituí-lo, não por um direito penal melhor, mas por qualquer coisa melhor que o direito penal” Radbruch.
	Todavia, para conseguir alcançar isso, também se deve substituir a nossa sociedade atual por uma sociedade melhor; mas não se pode perder de vista uma política criminal alternativa e a luta ideológica e cultural que devem acontecer para que a atual sociedade se transite a uma que não precise do direito penal burguês; a fim de que se desenvolvam formas alternativas de autogestão da sociedade, também no campo do controle do desvio. A sociedade deve se reapropriar do próprio desvio e administrar diretamente seu controle. 
	Numa sociedade livre e igualitária, além de não haver gestão autoritária do controle do desvio (e sim uma gestão social), o conceito de desvio vai perdendo seu significado estigmatizante, ganhando funções e significados diferenciados. Se se dá um sentido positivo a ele, a sociedade igualitária o daria amplo espaço, porque, em tal sentido, desvio quer dizer diversidade. “A sociedade desigual é aquela que teme e reprime o diverso”, para que se conserve as desigualdades e o poder alieando. “Eis aqui porque quanto mais uma sociedade é desigual, maior é a inflação das definições negativas do desvio”. “A sociedade igualitária é aquela que deixa o máximo de liberdade à expressão do diverso, porque a diversidade é precisamente o que é garantido pela igualdade, isto é, a expressão mais ampla da individualidade de cada homem”. “de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades” Marx. 
	O autor reconhece que essa teoria do desvio ainda está longe de ser um edifício completo e que, para o ser, deve utilizar elementos teóricos de várias áreas, bem como da análise histórica, “que nos ajuda a compreender o significado dos sistemas punitivos (e, sobretudo, do cárcere) na evolução da sociedade.

Mais conteúdos dessa disciplina