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1 - APOSTILA - PEDAGOGIA DOS MOVIMENTOS.pdf IESI - CURSOS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA PÓS-GRADUAÇÃO PSICOMOTRICIDADE E EDUCAÇÃO Site da imagem: fesparparanavai.blogspot.com PEDAGOGIA DOS MOVIMENTOS HUMANOS MÓDULO IV Unaí-MG 2015 2 SUMÁRIO PLANO DE ENSINO ............................................................................ 3 I - A PEDAGOGIA DOS MOVIMENTOS HUMANOS ............................... 6 - Pedagogia do movimento como eixo de um novo paradigma educacional ............................................................................................... 6 - Educação física e a cultura corporal de movimento ............................... 12 II- OS ASPECTOS DIDÁTICOS NO ESTUDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA . 20 - Didática e metodologia de ensino em educação física ........................... 20 - Orientações didáticas segundo os PCN ................................................. 27 - A Educação Física e os Temas Transversais ......................................... 37 III- TEXTOS COMPLEMENTARES .......................................................... 48 - Corpo e Movimento: uma reflexão sobre as relações da motricidade com a aprendizagem no universo escolar ................................................ 49 III - ORIENTAÇÕES PARA O TRABALHO COM TEXTO ........................ 57 IV – TRABALHO DE FINAL DE MÓDULO ............................................... 58 3 PLANO DE ENSINO I- DADOS DE IDENTIFICAÇÃO INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL Instituto de Ensino Superior Intellectus CURSO Pós-Graduação “Lato Sensu” – Especialização em Psicomotricidade e Educação DISCIPLINA Pedagogia dos Movimentos Humanos ANO LETIVO 2012 CARGA HORÁRIA 60h II- EMENTA A presente disciplina oferece ao especialista em Psicomotricidade e Educação um estudo aprofundado sobre a Pedagogia dos Movimentos Humanos na prática da educação física escolar, ressaltando a dimensão cultural do movimento humano e sua relação com corporeidade na educação básica; a didática e metodologia de ensino em educação física, com orientações segundo os PCN visando à criação de estratégias necessárias ao bom desempenho do trabalho docente. III- OBJETIVOS 1- Objetivos A partir do estudo do conteúdo promover a reflexão crítica sobre o papel do professor da Educação Física, quanto ao entendimento e aplicação da prática da pedagogia do movimento nas atividades físicas escolares, bem como a identificação e a busca de solução para problemas relativos à sua atuação docente. Planejar e controlar processos pedagógicos na educação física e atividades escolares. Perceber, corrigir, reproduzir e aprimorar diferentes formas de conhecimentos, para o bom desempenho de suas aulas. IV- CONTEÚDO PROGRAMÁTICO I- A PEDAGOGIA DOS MOVIMENTOS HUMANOS - Pedagogia do movimento como eixo de um novo paradigma educacional - Educação física e a cultura corporal de movimento II- OS ASPECTOS DIDÁTICOS NO ESTUDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA - Didática e metodologia de ensino em educação física - Orientações didáticas segundo os PCN - A Educação Física e os Temas Transversais III- TEXTOS COMPLEMENTARES - Corpo e Movimento: uma reflexão sobre as relações da motricidade com a aprendizagem no universo escolar IV- ORIENTAÇÕES PARA O TRABALHO COM TEXTOS V- TRABALHO DE FINAL DE MÓDULO V- AVALIAÇÃO 1- Avaliação O processo de avaliação deste módulo será desenvolvido através da prática dos exercícios 4 indicados no final de cada unidade de estudo, bem como das atividades referentes ao “Final de Módulo” que encontram-se na última página deste. 2- Valoração As atividades/trabalho de “Final de Módulo” terão a notação de 0 a 10, sendo essa pontuação distribuída conforme as observações contidas no referido trabalho (que se encontra no final da apostila). VI- BIBLIOGRAFIA 1- Bibliografia Básica ASMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes, 1998. BERTHERA T, Thérèse & BERNSTEIN, Caro. O corpo tem suas razões. São Paulo: Martins Fontes, 1977. BORGES, CÉLIO. Educação física para o pré-escolar. Rio de Janeiro: Sprint, 1987. BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: educação física, ensino fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. BUSETTI, Gemma R. Saúde e qualidade de vida. São Paulo: Peirópolis, 1998. CAPON, JACK. Atividades com movimentos básicos. São Paulo: Manole, 1987. CELANO, Sandra Corpo e mente em educação: uma saída de emergência. Petrópolis: Vozes, 1999. DANTAS, E. H. M. Flexibilidade: Alongamento e Flexionamento. 4. ed. Rio de Janeiro: Shape, 1999. DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez: Brasília: MEC: UNESCO, 1998. FREIRE, João Batista. De corpo e alma: o discurso da motricidade. São Paulo: Summus, 1993. Atividade Física e saúde. Guarulhos: I999. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. FRIEDMANN, ADRIANA. Brincar, crescer e aprender: o resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996. GONÇALVES, Maria Cristina; PINTO, Roberto C. A.; TEUBER, Sílvia P. Aprendendo a educação física: da técnica aplicada ao movimento. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro, 1996. LOMAKINE, Luciana. A construção cultural do corpo pela dança nos principais períodos de sua história. Revista de Educação Física da Cidade de São Paulo. São Paulo: Universidade Cidade de São Paulo, v. 3, n. 1, 2003. MARINHO, H. R. B. et al. Pedagogia do movimento: o universo da ludicidade e psicomotricidade. 2. ed. Curitiba: Ibex, 2008. MARTINELLI, Marilu. Aulas de transformação: o programa de educação em valores humanos. São Paulo: Peirópolis, 1996. NUNES, J. O. M. Teoria da Metodologia da Atividade Física. Curso Lato-Sensu em Atividade Física Terapêutica. Mimeo. Brasília: UnB – Faculdade de Educação Física, 2000. 5 PEREIRA, Iêda Lúcia Lima; HANNAS Maria Lúcia. Nova prática pedagógica: propostas para uma nova abordagem curricular. São Paulo: Editora Gente, 2000. _____. Educação com consciência: fundamentos para uma nova abordagem pedagógica. São Paulo: Gente, 2000. PEREIRA, M. M; MOULIN, AFV. Educação física para o profissional provisionado. Brasília: CREF7, 2006. RADESPIEL, MARIA. Alfabetização sem segredos: novos tempos. Contagem: Iemar, 1999. RESTREPO, Luiz Carlos. O direito à ternura. Petrópolis: Vozes, 1998, SAFONS, M. P.; PEREIRA, M. M. Didática e metodologia de ensino em educação Física. Brasília: CREF7, 2006. SANTIN, Silvino. Educação Física: uma abordagem filosófica da corporeidade. Ijuí: UNIJUÍ, 1987, SILVA, ELIZABETH N. Atividades na 1ª infância. Rio de Janeiro: Sprint, 1997. VÁRIOS AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. VYGOTSKI, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos pedagógicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Tradução: José Cipolla Neto, Luis Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche. WEIL, Pierre. A mudança de sentido e o sentido da mudança. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos, 2000. WEINECK, J. Biologia do esporte. São Paulo: Manole, 2000. IX- ELABORAÇÃO Equipe Pedagógica do IESI Unaí/ MG 6 I- A PEDAGOGIA DOS MOVIMENTOS HUMANOS PEDAGOGIA DO MOVIMENTO COMO EIXO DE UM NOVO PARADIGMA EDUCACIONAL Nei Alberto Salles Filho 1 Universidade Estadual de Ponta Grossa 1- Sobre uma possível "Pedagogia do Movimento" Pedagogia do Movimento como processo de trabalho/vivência com práticas corporais, visando qualidade na percepção corporal com conseqüente avanço na as ações/interações do ser humano no mundo. Assim, como destacamos, o corpo é a expressão síntese de todas essas dimensões. A Pedagogia do Movimento é feita de gestos pessoais, pois cada um tem sua originalidade própria. A Pedagogia do Movimento deve pensar o corpo não como algo mecânico, independente do resto, mas na perspectiva de sua relação com os outros sistemas: mental, emocional, estético, religioso etc. Ou seja, deve considerar o ser humano um todo que interage e é interdependente com o todo mais amplo que o rodeia. Pereira (2000, p.42): Dentro dessas possibilidades a Pedagogia do Movimento tem papel de perceber o corpo e as atividades corporais de forma redimensionada, de tratá-Io como ser total, não restrito a gestos técnicos sem repercussão na vida e na prática cotidiana. Como já argumentamos anteriormente, o corpo é a síntese de todas as dimensões humanas. 2- Sobre um possível "Paradigma" Em relação a essa mudança de paradigma Pierre Weil retrata algumas diferenças básicas na ruptura do antigo para um novo paradigma, que nesse caso é denominado de holístico. Para Weil (2000, p.116) uma perspectiva Holística remete à integração e totalidade do pensamento, da vivência da ação humana que ele assim descreve "Holístico é o espaço de encontro de tudo o que a mente humana separa e separou através dos tempos; Holístico é o encontro do novo com o antigo, do convencional e não convencional; Holístico é a descoberta da natureza da natureza, da vida da vida, da consciência da consciência." Nessa diferenciação diz que o conceito de educação no antigo paradigma era ligado à informação, ao ensino limitado ao intelecto e à instrução dirigida apenas à memória e à razão. Já no paradigma holístico o foco é a formação e educação da 1 Professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Docente do Curso de Licenciatura em Educação Física. Mestre em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba. UNIMEP. E-mail: Nei.alberto@uol.com.br 7 pessoa de forma integral dentro de um processo de harmonização e de pleno desenvolvimento da sensação, do sentimento, da razão e da intuição. Esse paradigma requer novos olhares, de olhar as coisas (relações opções que fiz, no nível da política, da ética, da estética, da pedagogia, nem posso partir de que devo "conquistá-los", não importa a que custo, nem tão pouco temo que pretendam "conquistar-me". É no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência entre o que faço e o que digo que me encontro com eles ou com elas." Ora, de verdade, a grande diferença hoje em educação, é que cada vez mais percebemos que de nada adianta o professor ter um belo discurso, apenas repetindo outros autores ou estabelecendo palavras de ordem, se elas não vêm acompanhadas de uma ação prática e concreta, que realmente o estudo e a reflexão façam diferença no cotidiano das relações humanas e sociais. Por exemplo: podemos ter um belo discurso, mas quando me relaciono com as pessoas do meu cotidiano, inclusive colegas professores ou meus alunos, faço coisas diferentes. Aqui mais uma vez em Freire (p.160) encontramos as palavras no lugar certo. Esta abertura ao querer bem não significa, na verdade, que, porque professor me obrigo a querer bem todos os alunos de maneira igual. Significa de fato, que a afetividade não me assusta que não tenho medo de expressá-Ia. (...) Na verdade, preciso descartar como falsa a separação radical entre seriedade docente e afetividade. Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais distante e "cinzento" me ponha nas minhas relações com os alunos. Essa constatação de Freire tem sido a cada dia mais endossada por estudos como teorias da inteligência emocional, inteligências múltiplas, entre outras, que mostram definitivamente que somos inteiros em educação, ou seja, aprendemos integralmente e não por partes e que o corpo todo (emoção, percepção, ação) está presente na escola, reforçando ainda mais a idéia de Pedagogia do Movimento na educação. Assim Freire (p.136): "É preciso por outro lado reinsistir em que não se pense que a prática educativa vivida com afetividade e alegria, prescinda da formação científica séria e da clareza política dos educadores e educadoras". Nesse ponto encontramos uma grande verdade, que de fato, dominar nossa área específica de conhecimento é ponto central, com suas técnicas e metodologias apropriadas, porém, isso só já não basta à educação hoje é encontro afetivo, de amor e crescimento humano para os envolvidos. A Pedagogia do Movimento passa a ser pilar desses encontros, na medida em que trabalha com o corpo e suas sensações. Dentro desse pensamento trago algumas contribuições para ajudar pensar melhor em novo paradigma. A primeira é a dimensão da Ecologia Humana (desenvolvida pela Unipaz – www.unipaz.org.br) que pressupõe: Ecologia Individual - a Paz consigo mesmo (início de tudo - corpo, mente, espírito integrados); Ecologia Social - a Paz com os outros (relações humanas qualitativas como crescimento compartilhado); Ecologia Planetária - a Paz com a natureza (entender a idéia de "reciclar a vida" em todos os sentidos). 8 Outra ótima contribuição é a dimensão do Programa de Educação em Valores Humanos- PEVH (desenvolvida pela Fundação Peirópolis – www.peirópolis.org.br e Instituto Sathya Sai de Educação - www.valoreshumanos.org.br) que é baseado em cinco valores humanos fundamentais: Verdade - pensamento com amor (o que penso de bom e faça bem a todos); Ação Correta - ação realizada com amor (aquilo que faço com boa intenção para todos); Paz - sentimento interior de perceber o amor (reconhecer podemos fazer nossa vida plena individualmente e com os outros); Não- violência - compreensão do outro com amor (por cima das diferenças e preconceitos); Amor ~ olhar a mundo e a vida como possibilidades permanentes de evolução (sentimento da incondição) As reflexões aqui apresentadas são fragmentos que pretendem o enfrentamento positivo do marasmo e do fatalismo que alguns insistem em colocar a educação e daqueles que ainda reduzem o corpo à máquina. Por fim é uma breve reflexão de que ser profissional (humanas e sociais, autoconhecimento, mundo, vida, corpo e educação) de uma nova forma, não fragmentada, mas unitiva. Nessa dimensão ganha espaço a Pedagogia do Movimento, sendo entendida enquanto especo fundamental da percepção do corpo como totalidade. Pilares da educação, segundo o relatório são: aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. o que significa: aprender a aprender. Para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida; aprender a jazer. A fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional, de uma maneira mais ampla, competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe; aprender a viver juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências - realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos - no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mutua e da paz e aprender a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade e estar a altura da agir com cada vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade pessoal. Para isso, não negligenciar na educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar- se. 3- Sobre um possível "mundo real" Quando falamos em transformações na educação, em novas teorias e práticas sabemos que, ao lado de muitos professores atualizados, com disposição e vontade de evoluir, alguns ainda dizem: "a educação não tem mais jeito!" Baseado nessa frase que cada vez ouvimos menos, encaminhamos algumas reflexões para que educadores e educadoras, da educação infantil, educação básica e ensino superior, passando por ONGs e inúmeros outros espaços de ensino, possam pensar as bases de construção de um paradigma à partir de dados concretos de nossa realidade. Ao falarmos de novo paradigma da educação como vimos acima, não se trata, necessariamente, de abraçar uma proposta salvadora, mas sim, estabelecer um caminho onde seja possível, à partir de reflexão, ampliar horizontes e análises. Como os PCN's estão baseados em pilares: aprender a fazer; conhecer; conviver e ser, temos que entender que em educação o dois primeiro pilar já tem uma história http://www.peir�polis.org.br/ http://www.valoreshumanos.org.br/ 9 construída e estruturada, porém aprender a conviver e aprender a ser, são dimensões que aos poucos nós vamos introduzindo com qualidade na escola, especialmente se entendemos que o "conviver", faz parte do "ser", do ser humano em todos os aspectos. Para estabelecer os princípios básicos da tentativa de construção, ressalto uma contribuição fundamental que é Paulo Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia. Para Freire (1996, p. 136): É preciso que saibamos que, sem certas qualidades ou virtudes como amorosidade, respeito aos outros, tolerância, humildade. Gosto pela alegria, gosto pela vida, abertura ao novo, disponibilidade à mudança, persistência na luta, recusa aos fatalismos, identificação com a esperança, abertura à justiça, não é possível a prática pedagógico progressista, que não se faz somente com ciência e técnica. Nessas palavras, podemos buscar itens fundamentais para pensar no "ser educador", na medida em que amor, humildade, gosto pela vida e trabalho e abertura ao novo, são qualidades que educadores e educadoras nunca podem abrir mão. Numa palavra são "direitos" que temos que nos permitir. No caso da Pedagogia do Movimento é realmente pensar corpo enquanto espaço fundamental de vida e relação. Mesmo aceitando os que acham utopia essas questões, continuo com Freire (p.152), quando diz: ''Nas minhas relações com os outros, que não fizeram necessariamente as mesmas que trabalha com pessoas é reconhecer as dificuldades, mas manter uma postura ativa na minimização e superação delas”. Acreditar também que as mudanças estão em cada um de nós e que se pensamos e queremos melhorar a educação, temos que começar a exercitar em nossa própria vida, em nossa família, escola, sala de aula. Portanto, parece ser necessário pensar em flexibilizar as certezas e dos saberes considerados absolutos, isto é, os conceitos acabados de escola, gestão, alunos, professor, relações humanas, vida, entre outros tão significativos, nos quais muitas vezes nos apoiamos sem reflexão, por uma pedagogia da pergunta, do melhoramento das perguntas do acesso de informações, do abraço, da afetividade e do "olho no olho", isto é, pensar também e especialmente com o coração, considerar ao lado das competências profissionais, a intuição e a criatividade e deixar que o "amor" seja melhor sentido e interpretado nas relações escolares. Baseado nas questões levantadas parece inevitável pensar uma Educação do Século XXI, onde não estejam presentes à abertura a novos olhares e pensamentos sobre pessoas, relações humanas, aprendizagem significativa, valores humanos, solidariedade e sociedade global. Especialmente para educadores que pretendam fazer de sua prática pedagógica um espaço de crescimento e de vida, de desenvolvimento individual e social, enfim de "reencantamento" por si mesmo e pelo outro. Assim, optamos por defender uma Pedagogia do Movimento como uma das necessidades de mudança de paradigma em educação, uma vez que ela pode contemplar aspectos de autoconhecimento e sensibilização. Nessa perspectiva, a 10 Pedagogia do Movimento contribui no abandono da noção única de informação, ensino limitado ao intelecto e instrução dirigida à memória e à razão; para o sentido da formação e educação da pessoa, ou seja, um processo de harmonização e de pleno desenvolvimento da sensação, do sentimento, da razão e da intuição. Para encerrar, sem terminar a reflexão proposta pelo artigo, deixamos algumas palavras de Nuno Cobra (2001, p.71): "O corpo é o caminho para o maravilhoso mundo interior – esse é o meu método, essa é a minha profissão. Tenho uma visão do homem como um todo e não do físico pelo físico. Uso sim, o corpo como um caminho para chegar à mente, às emoções, ao espírito das pessoas. E o movimento é a base para o desenvolvimento interior." BIBLIOGRAFIA ASMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes, 1998. BERTHERA T, Thérèse & BERNSTEIN, Caro. O corpo tem suas razões. São Paulo: Martins Fontes, 1977. BUSETTI, Gemma R. Saúde e qualidade de vida. São Paulo: Peirópolis, 1998. CELANO, Sandra Corpo e mente em educação: uma saída de emergência. Petrópolis: Vozes, 1999. DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez: Brasília,DF: MEC: UNESCO, 1998. FREIRE, João Batista. De corpo e alma: o discurso da motricidade. São Paulo: Summus, 1993. Atividade Física e saúde. Guarulhos: I999. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. MARTINELLI, Marilu. Aulas de transformação: o programa de educação em valores humanos. São Paulo: Peirópolis, 1996. PEREIRA, Iêda Lúcia Lima; HANNAS Maria Lúcia. Nova prática pedagógica: propostas para uma nova abordagem curricular. São Paulo: Editora Gente, 2000. _____. Educação com consciência: fundamentos para uma nova abordagem pedagógica. São Paulo: Gente, 2000. RESTREPO, Luiz Carlos. O direito à ternura. Petrópolis: Vozes, 1998, SANTIN, Silvino. Educação Física: uma abordagem filosófica da corporeidade. Ijuí: UNIJUÍ, 1987, WEIL, Pierre. A mudança de sentido e o sentido da mudança. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos, 2000. ................................................................................................................................... 11 ATIVIDADES 1- Explane sobre a importância da aplicação da Pedagogia do Movimento na prática cotidiana da Educação Física escolar. ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ....................................................................................................................................... 2- A Pedagogia do Movimento contribui no abandono da noção única de informação, ensino limitado ao intelecto e instrução dirigida à memória e à razão; para o sentido da formação e educação da pessoa, ou seja, um processo de harmonização e de pleno desenvolvimento da sensação, do sentimento, da razão e da intuição. Justifique a frase. ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ ........................................................................................................................................ 12 EDUCAÇÃO FÍSICA E A CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO 1- A educação física e a cultura corporal O ser humano, desde suas origens, produziu cultura. Sua história é uma história de cultura na medida em que tudo o que faz é parte de um contexto em que se produzem e reproduzem conhecimentos. O conceito de cultura é aqui entendido, simultaneamente, como produto da sociedade e como processo dinâmico que vai constituindo e transformando a coletividade à qual os indivíduos pertencem, antecedendo-os e transcendendo-os. Não se trata aqui do termo cultura no sentido mais usual, empregado para definir certo saber, ilustração, refinamento de maneiras. No sentido antropológico do termo, afirma-se que todo e qualquer indivíduo nasce no contexto de uma cultura. Não existe homem sem cultura, mesmo que não saiba ler, escrever e fazer contas. Pode- se dizer que o homem é biologicamente incompleto; não sobreviveria sozinho sem a participação das pessoas e do grupo que o geraram. A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo, e é por intermédio desses códigos que o indivíduo é formado desde o nascimento. Durante a infância, por esses mesmos códigos, aprende os valores do grupo; por eles é mais tarde introduzido nas obrigações da vida adulta, da maneira como cada grupo social as concebe. A fragilidade de recursos biológicos fez com que os seres humanos buscassem suprir as insuficiências com criações que tornassem os movimentos mais eficientes e satisfatórios, procurando desenvolver diversas possibilidades de uso do corpo com o intuito de solucionar as mais variadas necessidades. Entre essas possibilidades e necessidades podem-se incluir motivos militares, relativos ao domínio e ao uso de espaço; motivos econômicos, que dizem respeito às tecnologias de caça, pesca e agricultura; motivos de saúde, pelas práticas compensatórias e profiláticas. Podem-se incluir, ainda, motivos religiosos, no que se referem aos rituais e festas; motivos artísticos, ligados à construção e à expressão de idéias e sentimentos; e por motivações lúdicas, relacionadas ao lazer e ao divertimento. Algumas práticas com motivos de caráter utilitário relacionam-se mais diretamente à realidade objetiva com suas exigências de sobrevivência, adaptação ao meio, produção de bens, resolução de problemas e, nesse sentido, são conceitualmente mais próximas do trabalho. Outras, com motivos de caráter eminentemente subjetivo e simbólico, são realizadas com fim em si mesmas, por prazer e divertimento. Estão mais próximas do lazer e da fantasia, embora suas origens, em muitos casos, estejam em práticas utilitárias. Por exemplo, a prática do remo, da caça e da pesca por lazer e não por sobrevivência, o caminhar como passeio e o correr como competição e não como 13 forma de locomoção. Assim, às atividades desse segundo agrupamento pode-se atribuir o conceito de atividade lúdica, de certo modo diferenciada do trabalho. Com um caráter predominantemente utilitário ou lúdico, todas visam, a seu modo, a combinar o aumento da eficiência dos movimentos corporais com a busca da satisfação e do prazer na sua execução. A rigor, o que define o caráter lúdico ou utilitário não é a atividade em si, mas a intenção do praticante; por exemplo, um esporte pode ser praticado com fins utilitários, no caso do esportista profissional, e pode ser praticado numa perspectiva de prazer e divertimento, pelo cidadão comum. Derivaram daí conhecimentos e representações que se transformam ao longo do tempo. Ressignificadas, suas intencionalidades, formas de expressão e sistematização constituem o que se pode chamar de cultura corporal de movimento. Dentro desse universo de produções da cultura corporal de movimento, algumas foram incorporadas pela Educação Física como objetos de ação e reflexão: os jogos e brincadeiras, os esportes, as danças, as ginásticas e as lutas, que têm em comum a representação corporal de diversos aspectos da cultura humana. São atividades que ressignificam a cultura corporal humana e o fazem utilizando ora uma intenção mais próxima do caráter lúdico, ora mais próxima do pragmatismo e da objetividade. A Educação Física tem uma história de pelo menos um século e meio no mundo ocidental moderno. Possui uma tradição e um saber-fazer ligados ao jogo, ao esporte, à luta, à dança e à ginástica, e, a partir deles, tem buscado a formulação de um recorte epistemológico próprio. O trabalho na área da Educação Física tem seus fundamentos nas concepções socioculturais de corpo e movimento, e a natureza do trabalho desenvolvido nessa área se relaciona intimamente com a compreensão que se tem desses dois conceitos. Historicamente, suas origens militares e médicas e seu atrelamento quase servil aos mecanismos de manutenção do status quo vigente na sociedade brasileira contribuíram para que tanto a prática como a reflexão teórica no campo da Educação Física restringissem os conceitos de corpo e movimento - fundamentos de seu trabalho - aos seus aspectos fisiológicos e técnicos. No entanto, é necessário superar a ênfase na aptidão física para o rendimento padronizado, decorrente deste referencial conceitual, e caracterizar a Educação Física de forma mais abrangentes, incluindo todas as dimensões do ser humano envolvidas em cada prática corporal. Atualmente, a análise crítica, e a busca de superação dessa concepção apontam a necessidade de que se considerem também as dimensões cultural, social, política e afetiva, presentes no corpo vivo, isto é, no corpo das pessoas, que interagem e se movimentam como sujeitos sociais e como cidadãos. Buscando uma compreensão que melhor contemple a complexidade da questão, a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais adotou a distinção entre organismo - no sentido estritamente fisiológico - e corpo - que se relaciona dentro de um contexto socioculltural - e aborda os conteúdos da Educação Física como expressão 14 de produções culturais, como conhecimentos historicamente acumulados e socialmente transmitidos. Portanto, entende-se a Educação Física como uma área de conhecimento da cultura corporal de movimento e a Educação Física escolar como uma disciplina que introduz e integra o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-Ia, reproduzi-Ia e transformá-Ia, instrumentalizando-o para usufruir dos jogos, dos esportes, das danças, das lutas e das ginásticas em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida. Trata-se, portanto, de localizar em cada uma dessas modalidades (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios humanos e suas possibilidades de utilização como instrumentos de comunicação, expressão de sentimentos e emoções, de lazer e de manutenção e melhoria da saúde. E a partir deste recorte, formular as propostas de ensino e aprendizagem da Educação Física escolar. É fundamental também que se faça uma clara distinção entre os objetivos da Educação Física escolar e os objetivos do esporte, da dança, da ginástica e da luta profissionais. Embora sejam uma fonte de informações, não podem transformar-se em meta a ser almejada pela escola, como se fossem fins em si mesmos. A Educação Física escolar deve dar oportunidades a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades, de forma democrática e não seletiva, visando seu aprimoramento como seres humanos. Cabe assinalar que os alunos portadores de necessidades especiais não podem ser privados das aulas de Educação Física. Seja qual for o objeto de conhecimento em questão, os processos de ensino e aprendizagem devem considerar as características dos alunos em todas as suas dimensões (cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética,. de relação interpessoal e inserção social). Sobre o jogo da amarelinha, o de voleibol ou uma dança, o aluno deve aprender para além das técnicas de execução (conteúdos procedimentais), a discutir regras e estratégias, apreciá-los criticamente, analisá-los esteticamente, avaliá-los eticamente, ressignificá-los e· recriá-los (conteúdos atitudinais e conceituais). É tarefa da Educação Física escolar, portanto, garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, contribuir para a construção de um estilo pessoal de praticá-Ias, e oferecer instrumentos para que sejam capazes de apreciá-Ias criticamente. 2- Educação Física e cidadania A concepção de cultura corporal de movimento amplia a contribuição da Educação Física escolar para o pleno exercício da cidadania, na medida em que, tomando seus conteúdos e as capacidades que se propõe a desenvolver como produtos socioculturais, afirma como direito de todos, o acesso e a participação no processo de aprendizagem. Favorece, com isso, a modificação do histórico da área, que aponta para um processo de ensino e aprendizagem centrado no desempenho (físico e técnico, resultando em muitos momentos numa seleção entre indivíduos aptos e inaptos para as práticas da cultura corporal de movimento. 15 O princípio da inclusão do aluno é o eixo fundamental que norteia a concepção e a ação pedagógica da Educação Física escolar, considerando todos os aspectos ou elementos, seja na sistematização de conteúdos e objetivos, seja no processo de ensino e aprendizagem, í para evitar a exclusão ou alienação na relação com a cultura corporal de movimento. Além disso, aponta para uma perspectiva metodológica de ensino e aprendizagem que busca o desenvolvimento da autonomia, a cooperação, a participação social e a afirmação de valores e princípios democráticos. O lazer e a disponibilidade de espaços públicos para as práticas da cultura corporal de movimento são necessidades essenciais ao homem contemporâneo e, por isso, direitos do cidadão. Os alunos podem compreender que os esportes e as demais atividades corporais não devem ser privilégio apenas dos esportistas profissionais ou das pessoas em condições de pagar por academias e clubes. Dar valor a essas atividades e reivindicar o acesso a centros esportivos e de lazer, e a programas de práticas corporais dirigidos à população em geral, é um posicionamento que pode ser adotado a partir dos conhecimentos adquiridos nas aulas de Educação Física. No âmbito da Educação Física, os conhecimentos construídos devem possibilitar a análise crítica dos valores sociais, como os padrões de beleza e saúde, desempenho, competição exacerbada, que se tornaram dominantes na sociedade, e do seu papel como instrumento de exclusão e discriminação social. O vínculo direto que a indústria cultural e do lazer estabelece entre o acesso aos conhecimentos da cultura corporal de movimento e o consumo de produtos deve ser alvo de esclarecimento e reflexão. A compreensão da organização institucional da cultura corporal de movimento na sociedade, incluindo uma visão crítica do sistema esportivo profissional, deve dar subsídios para uma discussão sobre a ética do esporte profissional e amador, sobre a discriminação sexual e racial que neles existe. Essa discriminação pode ser compreendida pela explicitação de atitudes cotidianas, muitas vezes inconscientes e automáticas, pautadas em preconceitos. Contribui para essa compreensão, por exemplo, o conhecimento do processo político e histórico de inclusão dos negros e das mulheres nas práticas organizadas dos esportes em olimpíadas e campeonatos mundiais. Pode, ainda, favorecer a formação de uma consciência individual e social A atuação dos meios de comunicação e da indústria do lazer em produzir, transmitir e impor esses valores, ao adotar o esporte-espetáculo como produto de consumo, torna imprescindível a atuação da Educação Física escolar. Esta deve fornecer informações políticas, históricas e sociais que possibilitem a análise crítica da violência, dos interesses políticos e econômicos, do doping, dos sorteios e loterias, entre outros aspectos. 16 pautada no bem-estar, em posturas não-preconceituosas e não-discriminatórias e, ainda, no cultivo dos valores coerentes com a ética democrática. 3- Mídia e cultura corporal de movimento A adolescência tem como uma de suas características atuais a capacidade de produzir formas culturais próprias. Essa "cultura dos jovens" está muito associada aos meios de comunicação, em especial a televisão, e valoriza o uso de uma linguagem audiovisual (combinação de palavras, imagens e música) que se manifesta na própria comunicação entre os jovens (uso de gestos corporais, onomatopéias, gírias, palavras e frases truncadas etc.) e na linguagem da mídia (videoclipes, imagens produzidas por computação gráfica, desenhos e fotos associadas a textos concisos nas revistas e jornais etc.). A mídia está presente no cotidiano dos alunos, transmitindo informações, alimentando um imaginário e construindo um entendimento de mundo. Os alunos permanecem muitas horas diante do aparelho de televisão, que hoje rivaliza com a escola e com a família como fonte de formação de valores e atitudes. Contudo, o que a mídia propicia, num primeiro momento, é um grande mosaico sem estrutura lógica aparente, compostas de informações desconexas e em geral, descontextualizadas. Também no campo da cultura corporal de movimento a atuação da mídia é crescente e decisiva na construção de novos significados e modalidades de entretenimento e consumo. O esporte, as ginásticas, as danças e as lutas tornam- se, cada vez mais, produtos de consumo (mesmo que apenas como imagens) e objetos de conhecimento e informações amplamente divulgados ao grande público. Jornais, revistas, videogames, rádio e televisão difundem idéias sobre a cultura corporal de movimento, e muitas dessas produções são dirigidas especificamente ao público adolescente e infantil. Os alunos também tomam contato, às vezes precocemente, com práticas corporais e esportivas do mundo adulto. Hoje, todos os indivíduos são consumidores potenciais do esporte-espetáculo, senão como torcedores nos estádios e quadras, ao menos como espectadores de televisão. É evidente que, na mídia, existe uma participação majoritária do esporte como notícia, transmissão de eventos ao vivo ou simplesmente como temática (por exemplo, na publicidade). Basta ligar a televisão para perceber que o esporte está em toda parte. Em novelas, noticiários, programas de auditório, filmes, seriados, desenhos animados, para não falar nos programas especificamente esportivos de reportagens e comentários. É possível assistir ao campeonato americano de basquetebol, ao campeonato espanhol ou, japonês de futebol, à maratona de Nova York, a ciclismo ou hóquei, e assim por diante. A mídia apresenta uma concepção prevalecente do que é esporte e do que é ser esportista, muitas vezes associada a "vencer na vida", cultivando como valores o esforço intenso, o dinheiro, as medalhas olímpicas e recordes. Por outro lado, numa aparente contradição, ela tende a chamar de "esporte" todas as atividades corporais que visam à melhoria da condição física (andar, correr, "malhar" na academia etc.), superação de desafios (body- jumping, asa-delta) ou a atividades na natureza (montanhismo, trilhas ecológicas). 17 Mas também há aulas de ginástica aeróbica pela televisão, médicos dão entrevistas falando dos benefícios e riscos da atividade física, comentaristas informam sobre táticas e regras nas partidas de futebol, vôlei ou basquete, e revistas femininas e para adolescentes sugerem exercícios e equipamentos para deixar o corpo em forma. Informações nem sempre corretas, nem sempre confiáveis, mas que se sobrepõem pela baixa capacidade crítica da maioria dos telespectadores e leitores. Tudo isso levou o nível de informações publicamente partilhadas na área da cultura corporal de movimento a um patamar nunca antes atingido na História. No caso do esporte, a televisão produziu uma nova modalidade – o esporte espetáculo – que se apóia na sofisticação de modernos recursos tecnológicos. Nas transmissões de natação, ginástica, hóquei, pára-quedismo, vôlei, corrida de automóveis, esportes na neve, ciclismo, e esportes radicais, o close, a câmara lenta, o replay, os recursos gráficos propiciados pela informática, as minicâmaras acopladas nos capacetes dos atletas e nos automóveis de corrida tornam quase todas as modalidades espetáculos televisivos em potencial. Mesmo as tradicionais transmissões de partidas de futebol utilizam cada vez mais câmaras, microfones no campo, replay computadorizado (o tira-teima) e outros recursos que propiciam ao telespectador uma experiência muito diferente de assistir ao vivo. Nas atividades rítmicas e expressivas, particularmente nas danças urbanas do universo pop, ocorre o mesmo fenômeno de espetacularização nos videoc1ipes realizados com edições em velocidade alucinante e efeitos especiais. Na verdade, a televisão ilude o espectador, dando-lhe a falsa sensação de contato direto com a realidade, quando existe uma distância entre a prática real do esporte e da dança e o que se vê na TV Há um processo de mediação entre a realidade e a imagem, que envolve a seleção e a edição de fatos e aspectos, segundo uma lógica de espetacularização que é em parte motivada por interesses econômicos, em parte pela própria especificidade da linguagem televisiva, cujas possibilidades são levadas às últimas consequências. Isso leva, em geral, à fragmentação e à descontextualização do fenômeno esportivo e corporal em geral, dissociando-o, ainda mais, da experiência primeira de praticar modalidades da cultura corporal ativamente. Por exemplo, a cada final de semana realizam-se centenas de milhares de partidas de futebol em todo o mundo. Terão destaque no noticiário de domingo à noite, além das partidas de nível técnico mais elevado, em geral dos países mais importantes do cenário do futebol mundial, aquela ou aquelas em que ocorreram cenas de violência, independentemente da origem geográfica ou nível técnico, induzindo os telespectadores à falsa opinião de que o futebol é, ou está se tornando, um esporte violento. E as outras milhares de partidas, nas quais tantas pessoas, sejam atletas ou não, vivenciaram uma experiência corporal que lhes propiciou satisfação e bem- estar, oportunidades de sociabilização e autoconhecimento no confronto com outrem etc.? A televisão raramente fala sobre isso. Nesse contexto, aparecem conseqüências importantes para a Educação Física. Em primeiro lugar, os alunos possuem muitas informações sobre a cultura corporal de movimento em geral e sobre esportes em particular, exigindo do professor uma atualização constante. A mídia exerce uma função genérica de conhecimento sobre 18 essa cultura, o que pode enriquecer a sua apreciação e interpretação pelos alunos. A imagem possui uma importância cognitiva na atualidade e vai ao encontro da cultura audiovisual cultivada pelos alunos. O professor precisa estar permanentemente atento à mídia, a fim de não perder um importante canal de diálogo e compartilhamento de interesses. Em segundo lugar, há um evidente descompasso entre o nível técnico difundido pelo esporte-espetáculo da TV e as reais possibilidades de alunos, professores e escola atingirem-no. Como atingir o nível técnico dos astros do basquete americano, ou de qualquer outra modalidade exercida profissionalmente? Não se podem ignorar a mídia e as práticas corporais que ela retrata. Esse é o universo em que as novas gerações socializam-se na cultura corporal de movimento, pois o futebol, por exemplo, não é mais só uma pelada num terreno baldio, é também videogame e espetáculo da TV. Portanto, a Educação Física deverá manter um permanente diálogo crítico com a mídia, trazendo-a para dentro da escola como um novo dado relacionado à cultura corporal de movimento. REFERÊNCIA BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: educação física, ensino fundamental. Brasília. MEC/SEF, 1998. ................................................................................................................................... ATIVIDADES 1- Aponte alguns exemplos que esclareçam melhor os itens abaixo: a) A educação física e a cultura corporal ............................................................................................................................. ............................................................................................................................. ............................................................................................................................. b) Educação Física e cidadania ............................................................................................................................. ............................................................................................................................. ............................................................................................................................. c) Mídia e cultura corporal de movimento ............................................................................................................................. ............................................................................................................................. ............................................................................................................................. d) Indique outras sugestões para cada item acima especificado ............................................................................................................................. ............................................................................................................................. ............................................................................................................................. 19 II- OS ASPECTOS DIDÁTICOS NO ESTUDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA DIDÁTICA E METODOLOGIA DE ENSINO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Marisete Peralta Safons1, Márcio de Moura Pereira2 1. CREF 004265/G-DF, Dra. Ciências da Saúde, Profa. Universidade de Brasília. 2. CREF 001243/G-DF, Ms. Educação Física, Prof. Ioga, Tai Chi Chuan e Dança de Salão. GEPAFI – Grupo de Estudos e Pesquisas da Atividade Física para Idosos FEF/UnB – Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília 1. É Preciso ser Profissional O profissional que assume um grupo de pessoas para orientar atividades físicas precisa saber que seu trabalho está inserido em uma realidade com fortes componentes históricos e sociais. Um dos grandes desafios da Educação Física hoje é atuar preventivamente na comunidade, combatendo o sedentarismo e elevando os níveis de saúde da população (CONFEF, 2002). De acordo com a Carta Brasileira de Educação Física (CONFEF, 2000), o profissional da Educação Física deverá lançar mão de todos os meios formais e não formais (exercícios, ginásticas, esportes, danças, atividades de aventura, relaxamento, etc.) para educar o ser humano para a saúde e para um estilo de vida ativo. Este documento sugere, além disso, que o trabalho educativo a partir do movimento deve estabelecer relações também com o Lazer, a Cultura, o Esporte, a Ciência e o Turismo e que ele tem compromissos com as grandes questões contemporâneas da Humanidade como a inclusão dos idosos e das pessoas portadoras de necessidades especiais, o combate à exclusão social, a promoção da paz, a defesa do meio ambiente e a educação para a cidadania, democracia, convivência com a diversidade (étnica, sexual, cultural, religiosa, etc.). Historicamente, seu aluno faz parte de uma população que teve poucas oportunidades de praticar atividades físicas: no Brasil a Educação Física sempre foi tratada como um luxo, uma opção e às vezes como obrigação, mas só recentemente ela vem sendo vista como uma necessidade e um direito. Uma necessidade do ponto de vista da saúde (pelo seu importante papel na promoção da saúde e na prevenção ou tratamento de diversas doenças). Também do ponto de vista educacional a Educação Física já é reconhecida como uma necessidade devido ao seu potencial para estimular a adoção de hábitos, valores e conteúdos importantes em uma sociedade democrática, tais como inclusão, crítica, cidadania, participação, cooperação, disciplina, método, organização, planejamento, etc. Tudo isso tendo como base o prazer e o senso estético da livre expressão da corporeidade dentro do esporte ou da atividade física preferida. É por esse potencial de educação, promoção da saúde e de expressão da liberdade, do prazer e da estética humana 20 que a Educação Física se afirma não só como uma necessidade, mas também como um direito. O papel do Profissional de Educação Física situa-se justamente neste contexto: planejar, promover, orientar, controlar e avaliar a prática de esportes e atividades físicas com a intencionalidade explícita de educar e promover a saúde dos cidadãos que lhe confiaram esta missão. Por isso o trabalho do Profissional envolve técnica (conhecimento profundo da atividade que ensina, de toda a sua linguagem gestual, de suas regras, sua história, de suas dificuldades e de sua importância para a comunidade); ciência (conhecimento do ser humano do ponto de vista biológico, psicológico, social e espiritual: anatomia, fisiologia, psicologia, antropologia, sociologia, filosofia, ensino religioso, etc.) e pedagogia (conhecimento profundo da Arte de Ensinar, que reúne todos os aspectos anteriores sob a luz da Didática, um dos pilares da Pedagogia). Pare e pense: É preciso ter competências técnicas: você contrataria para ensinar futebol a seus filhos um “Professor Famoso” que estudou tudo de futebol, assistiu a milhares de vídeos e partidas de futebol, colecionou Tudo sobre futebol, MAS nunca pegou em uma bola, nunca fez ou sofreu um gol, nunca fez ou sofreu uma falta, nunca comemorou uma vitória própria, nem nunca chorou uma derrota? O que ele sabe sobre paixão, sonho, expectativa, medo, raiva, frustração, dor, limite, exaustão? É preciso ter competências científicas e pedagógicas: você contrataria para ensinar atletismo a seus filhos um “Professor Campeão Olímpico” que viveu no corpo todas as alegrias e todas as dificuldades de se dedicar integralmente ao esporte, MAS que nunca parou para estudar a fundo o quê (do ponto de vista fisiológico, psicológico e social) faz um indivíduo ser bem sucedido ou não na prática de um determinado esporte? Que jamais passou pela experiência de avaliar um aluno e depois planejar, prescrever, orientar e supervisionar o treinamento até ver os resultados aparecerem? Ou, no caso do resultado não aparecer, saber o quê precisa ser ajustado para que os objetivos possam ser alcançados? 2. Planejar é preciso O foco do trabalho na Educação Física é o ser humano integral abordado a partir do corpo. É preciso lembrar que o corpo, principalmente no ocidente, sempre foi objeto de exclusão: coisificado pelas ciências da saúde, adestrado pela educação, alienado pela política, demonizado pela religião. Visto como objeto de trabalho, instrumento de transporte, palco de conflitos, o corpo da maioria de nossos alunos não teve acesso à educação física escolar na infância e adolescência (a educação física ainda não é obrigatória em todo o currículo escolar) e entre adultos este corpo não costuma ter tempo para o exercício, nem para o jogo, o esporte ou o lazer. 21 O corpo chega ao Profissional de Educação Física espoliado, cansado, frágil, com um repertório pequeno de movimentos (só faz bem movimentos relacionados ao trabalho). Este corpo muitas vezes chega aos sessenta anos portando as doenças do trabalho, da imobilidade, do sedentarismo (obesidade, hipertensão, cardiopatia, colesterol alto, diabetes tipo II, “reumatismos”) e chega normalmente às aulas de educação física com dor, muita dor (na coluna, nas pernas, nos braços, na cabeça...).Isso sem contar as outras dores: da solidão, do abandono, da pobreza, da falta de atendimento especializado, do desrespeito a direitos básicos, da violência onipresente. O professor que assume um grupo para orientar a prática de exercícios físicos precisa ter essas realidades bem claras ao propor as atividades. É preciso saber que nenhum exercício proposto se reduz ao ato mecânico de mover um braço ou uma perna. É preciso ter claro que cada movimento é, na verdade, uma possibilidade de resgate da infância, redescoberta da corporeidade, liberação de afetos, superação de dores, permissão para o prazer de viver... e, talvez, até de descobrir algum talento esportivo. E aí começa uma nova história, uma história da qual você professor faz parte. Uma história na qual a escola, a academia, o clube, a praça, o hospital, o parque, etc. podem ser adotados como espaços para inclusão social, descoberta de talentos, educação para a saúde, autonomia e cidadania. Nesta história a atividade física torna-se o meio através do qual o processo educacional se dá em função desses objetivos e,portanto, precisa ser bem planejada sob pena de não se atingirem os resultados, de se desperdiçarem recursos e de se frustrarem as expectativas, tanto dos alunos, como do próprio professor. Falhas no planejamento podem acarretar efeitos adversos e bem diferentes de qualquer expectativa baseada em “boas intenções” ou na “fé de que tudo vai dar certo”: Se no planejamento não foi prevista a socialização é bem provável que os alunos venham ao programa por meses sem estreitarem os laços de amizade e camaradagem (entra mudo, sai calado); Se no planejamento não foi prevista a inclusão é bem provável que em cada atividade proposta alguns alunos se sintam excluídos (ioga é para as mulheres, musculação é para homens, não sirvo para correr, branco não consegue sambar...); Se no planejamento não foi prevista a progressão é bem provável que os alunos não percebam vantagem alguma em investir seu tempo em algo que não apresenta resultados visíveis ou mensuráveis (a distância ou o tempo da caminhada são os mesmos há um ano, o peso que levanto é o mesmo há meses, o que ganhei com tanto trabalho, tempo e suor?); Se no planejamento não forem previstas atividades que levem em conta a saúde é bem provável que nenhuma melhora seja verificada neste aspecto (o 22 médico medisse que com exercício minha pressão - ou a glicose ou a dor - melhoraria, mas já estou praticando há cinco anos e continuo na mesma); Se no planejamento não foram previstos os riscos é bem provável que os alunos venham a sofrer danos com a atividade proposta (desconforto psicológico, dor, lesão e até morte). Você sabia que um infarto causado por exercícios mal planejados pode acontecer até várias horas depois da prática, podendo levar à morte ou invalidez? Você sabia que uma crise glicêmica ou diabética causada por exercícios mal planejados pode acontecer até várias horas depois da prática, muitas vezes à noite, caso em que o aluno pode morrer dormindo? Você sabia que uma crise de dor causada por exercícios mal planejados pode acontecer até várias horas depois da prática, quando passa o efeito do aquecimento e das endorfinas, levando o aluno muitas vezes ao leito durante semanas, sob medicação cara e pesada? Um professor que planeja levando em conta a realidade do aluno, procurando proporcionar o máximo de benefícios e ao mesmo tempo prevenir os riscos sabe que muito do progresso de cada aluno se deveu às atividades propostas por ele. Um professor que planeja sabe também que os agravos nas doenças dos alunos se até mesmo a morte de algum aluno ao longo do ano podem ter qualquer causa (acaso, progressão natural da doença, acidente...), mas não a sua imperícia ou omissão. Já um professor que não se preparou e não planejou, jamais saberá por que este aluno progrediu e aquele não. E jamais poderá afirmar que uma morte não foi causada pelo seu trabalho, só porque não aconteceu durante a aula. Estas reflexões nos levam à conclusão de que Planejar é preciso, não só por motivos técnicos, mas também éticos: consciência tranqüila e certeza do dever cumprido não têm preço. Assim, um bom planejamento: Foca os recursos na direção da conquista dos objetivos; Evita que o trabalho se torne rotineiro e repetitivo; Previne os riscos do improviso; Aumenta a segurança das práticas. Em seu planejamento, um professor eficaz deixa claro QUEM faz O QUÊ e PORQUE, PARA QUEM e COMO, determinando ainda procedimentos de AVALIAÇÃO para acompanhar o processo. Um professor eficaz sabe que a parte mais importante de seu planejamento será a tarefa de executá-lo. Ele sabe também que o “Plano A” pode não funcionar na hora,mas como tem tudo planejado, ele tem sempre um “Plano B” preparado com antecedência: assim nunca terá que improvisar e, livre deste tipo de 23 preocupações,pode dedicar-se mais aos alunos e à tarefa pedagógica, trabalhando sempre próximo ao “ESTADO DA ARTE” profissional. 3. Pilares do Planejamento O planejamento visa à ação. Ele é um processo dinâmico de coordenação de esforços e recursos ao longo do processo de ensino e aprendizagem, que permite ao professor prever e avaliar a direção da ação principal e determinar rumos de ações alternativas, servindo ainda para auxiliar o professor a tomar de decisões racionais, tecnicamente embasadas. Ao se planejar de uma aula ou projeto de atividades físicas é preciso especificar claramente: quem vai fazer o quê, para quem e por que, a fim de se determinar o quê faz e como fazer (a metodologia de trabalho). É preciso também especificar instrumentos de avaliação para acompanhamento e controle da atividade desde o início. No caso de um programa de atividades físicas para a população cada item colocado acima corresponderia a: Quem faz é o profissional de educação física; Por que faz são as justificativas teóricas e os objetivos para o programa ou para cada aula (saúde, educação, esporte, lazer, etc.); Para quem faz é o aluno; O quê faz são os conteúdos de Educação Física (atividade física, exercícios, esporte, jogos, etc.); Como faz é metodologia de trabalho adequada às necessidades do aluno são as aulas propriamente ditas, prescritas e ministradas dentro dos princípios do treinamento esportivo. Avaliação: instrumentos de acompanhamento e controle do aluno, da atividade e programa a fim de verificar questões como: quem é o aluno? Que atividades podem ser desenvolvidas com ele neste lugar? O treinamento atingiu os objetivos? Porquanto tempo mais serão mantidas as estratégias atuais? São necessários ajustes? Onde? Por ser dinâmico o planejamento não se resume ao plano de curso e aos planos de aula, metodicamente executados e jamais alterados. Na verdade ele se realiza por ajustamentos sucessivos, sofrendo influências o tempo todo da realidade à qual está sendo aplicado. Por isso a avaliação está presente o tempo todo, inclusive durante a execução das tarefas. O planejamento deve expressar os objetivos do programa de exercícios e ele deve prever os meios para se alcançar esses propósitos, racionalizando a utilização dos recursos e otimizando a tarefa principal da educação que é o processo ensino- aprendizagem. Isto deve ser feito por escrito, em um caderno, pasta de planos 24 avulsos ou em qualquer outro meio (em papel ou digitalizado e arquivado em computador) que o professor ache válido para escrever, guardar, recuperar, estudar e refazer seus planos. No exemplo do caderno, pode-se ter um caderno para cada disciplina que se pretenda ministrar. As páginas iniciais são reservadas para o plano de curso e as seguintes ficam destinadas aos planos de aula. O plano de curso é aquele mais geral, que resume os principais pontos que nortearão o desenvolvimento do programa e a confecção dos planos de aula. Já o plano de aula é mais específico e deve prever o que acontecerá em cada aula. Há vários modelos, você não precisará seguir exatamente o sugerido neste curso, mas há algumas informações que não podem faltar em um plano, independente do modelo, por isso segue abaixo um esquema básico que poderá ser utilizado como esboço de planejamento tanto de curso, quanto de aula, que depois será passada para o caderno de planos. 7. Bibliografia DANTAS, E. H. M. Flexibilidade: Alongamento e Flexionamento. 4 ed. Rio de Janeiro: Shape, 1999. NUNES, J. O. M. Teoria da Metodologia da Atividade Física. Curso Lato-Sensu em Atividade Física Terapêutica. Mimeo. Brasília: UnB – Faculdade de Educação Física, 2000. WEINECK, J. Biologia do esporte. São Paulo: Manole, 2000. PEREIRA, M. M; MOULIN, AFV. Educação física para o profissional provisionado. Brasília: CREF7, 2006. SAFONS, M. P.; PEREIRA, M. M. Didática e Metodologia de Ensino em Educação Física. Brasília: CREF7, 2006. FONTE: CONSELHO REGIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA 7ª REGIÃO Educação Física – Fundamentos para Intervenção do Profissional Provisionado. Brasília: CREF7, 2006. ........................................................................... ........................................................ ATIVIDADES 1- Por ser dinâmico o planejamento não se resume ao plano de curso e aos planos de aula, metodicamente executados e jamais alterados. Na verdade ele se realiza por ajustamentos sucessivos, sofrendo influências o tempo todo da realidade à qual está sendo aplicado. Por isso a avaliação está presente o tempo todo. Explane sobre os passos da AVALIAÇÃO na prática da educação Física escolar. 25 ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS SEGUNDO OS PCN No ensino tradicional todas as áreas do conhecimento tratavam do intelecto e a aula de Educação Física tratava exclusivamente das questões ligadas ao corpo e ao movimento. Entretanto, no que diz respeito à concepção de aprendizagem, tanto a Educação Física como as demais áreas do currículo partiam dos mesmos princípios e estruturavam sua metodologia de ensino na repetição, memorização e reprodução de conhecimentos e comportamentos. Se aprender Matemática consistia em repetir fórmulas até decorá-Ias aprender Educação Física consistia em repetir exercícios mecânicos e padronizados e reproduzir gestos estereotipados. Mesmo em atividades como a dança, a metodologia utilizada dava mais ênfase ao aspecto técnico em si do que ao aspecto expressivo. Dentro do universo de conhecimentos que a Educação Física procura abordar, quando a metodologia utilizada é a de ensino por condicionamento, o resultado é uma aprendizagem restrita e limitada. Isso ocorre basicamente por dois motivos: o movimento corporal não pode ser esvaziado ou fragmentado a ponto de perder seu significado pessoal, social e cultural, e o movimento corporal deve refletir uma intenção do sujeito e não depender exclusivamente de um estímulo externo. Por exemplo: ao sistematizar a aprendizagem do basquete, a metodologia ~ consistia em eleger os movimentos mais comuns, mais freqüentes nesse esporte TV (chamados "fundamentos") e treiná-Ios em separado, visando uma automatização, na equivocada esperança de que bastava ao aluno conhecer os "pedaços" do movimento presente nessa modalidade para poder praticá-Ia. Fazendo uma rudimentar analogia com a alfabetização, seria acreditar que decorar as letras e as sílabas fosse condição suficiente para se aprender a ler e a escrever. Na situação de jogo, os movimentos de arremessar, passar, receber e bater a bola acontecem num contexto dinâmico de deslocamentos, de coordenação de trajetórias da bola e dos jogadores, em que cada movimento precisa ser executado em função de uma situação específica que contém muitas variáveis. Quando fora desse contexto, a repetição pura e simples perde o sentido, torna-se enfadonha e cansativa e não necessariamente promove um aprimoramento do desempenho na situação de jogo. Além disso, os exercícios ocupavam a maior parte da aula, sendo - reservados os dez minutos finais para a prática do jogo, mesmo assim condicionado ao grau de organização e disciplina que o grupo demonstrasse durante a aula. Ou seja, muitas vezes nem mesmo uma pequena prática contextualizada do que havia sido treinado era possibilitada. O resultado prático dessa metodologia é de conhecimento de todos: um processo de seleção dos indivíduos aptos (legitimando uma concepção fortemente inatista), produzindo um grande contingente de frustrados em relação às próprias capacidades e habilidades corporais. Mesmo as atividades de caráter expressivo como a dança eram consideradas sob a ótica do preconceito e da marginalidade e, muitas vezes, quando ensinadas repetiam as mesmas fórmulas seletivas de ensino e aprendizagem. 26 A presente proposta firma-se numa concepção de aprendizagem que parte das situações globais, amplas e diversificadas em direção às práticas corporais sociais mais significativas, que exigem movimentos mais específicos, precisos e sistematizados. É necessário ainda incluir no processo de aprendizagem, para além das questões relativas ao movimento em si, os contextos pessoais, culturais e sociais em que ele ocorre, para que a ação corporal adquira um significado que extrapole a própria situação escolar. A justificativa da presença da Educação Física no ensino tem sido vinculada à formação do homem integral, que ocorreria por meio do exercício físico e da disciplina do corpo. Entretanto, na prática, a amplitude das questões referentes às relações entre o corpo e a mente, dentro de um contexto sociocultural, não foram amplamente abordadas. Falava-se de "enobrecer o caráter", mas não existiam conteúdos dentro das aulas que tratassem desse assunto. Pregava-se que o esporte afastava o indivíduo das drogas, mas não se abordava esse assunto na sua dimensão afetiva, psicológica, política, econômica ou sociocultural. Separavam-se meninos e meninas para a prática esportiva ou ginástica, considerando apenas as diferenças de rendimento físico, sem questionar se não haveria situações em que a diferença entre os sexos pudesse ser enfocada de maneira proveitosa. Alardeava-se o mérito quase exclusivo dos esportes na integração social, mas não se enxergavam os alunos que ficavam excluídos por não terem capacidades a priori, sendo que era função da própria área promover essas capacidades. Sabe-se, hoje, que exercitar ou disciplinar o corpo não resulta obrigatoriamente na formação completa do ser humano. Sabe-se, por exemplo, que o caráter pode ser corrompido pelas glórias do esporte, favorecendo a atitude de obter a vitória a qualquer custo e até mesmo com o uso de drogas. Sabe-se, ainda, que a integração social pode transformar-se em desintegração, com guerras entre torcidas e brigas dentro de campos e quadras. Nesse sentido, a presente proposta aborda a complexidade das relações entre corpo e mente num contexto sociocultural, tem como princípio a igualdade de oportunidades para todos os alunos e o objetivo de desenvolver as potencialidades, num processo democrático e não seletivo. Assim, nas aulas de Educação Física o professor deverá sempre contextualizar a prática, considerando as suas várias dimensões de aprendizagem, priorizando uma ou mais delas e possibilitando que todos seus alunos possam aprender e se desenvolver. 2- Orientações Gerais 2.1 Organização Social das Atividades e Atenção a Diversidade Se um dos objetivos da educação é ajudar as crianças a conviverem em grupo de maneira produtiva, de modo cooperativo, é preciso proporcionar situações em que aprender a dialogar a ouvir o outro, ajudá-Io, pedir ajuda, trocar idéias e experiências, aproveitar críticas e sugestões sejam atitudes possíveis de serem exercidas. Levando em conta o fato de que as experiências e competências corporais são muito diversificadas, não se pode querer que todo o grupo realize a mesma tarefa, ou que uma atividade resulte numa mesma aprendizagem para todos. 27 Deve-se, portanto, favorecer a troca de repertórios e os procedimentos de resolução de problemas de movimento, fazendo uso de variadas formas de organização das atividades. Por exemplo, ao se organizar uma aula em que o conteúdo gire em torno do voleibol, pode-se dividir a classe em três grupos, tendo como critério o grau de habilidade dos alunos. Um grupo com os mais hábeis, outro com os médios e outro com os menos hábeis. Essa organização permite ao professor visualizar em que ponto estão as habilidades de cada grupo e propor um desafio adequado para cada um. Além disso, aqueles que têm menos habilidade podem arriscar algumas tentativas sem se exporem frente ao grupo dos mais habilidosos. Numa aula posterior com a mesma classe, o professor pode dividir o grupo, usando os mais hábeis como "cabeças de chave", distribuindo-os entre os três grandes grupos. Nessa situação, a natureza da aprendizagem estará vinculada à troca de informações e à cooperação, e na tentativa de se superar, enfrentando um grau maior de desafio, as criança podem avançar nas suas conquistas. Tendo ainda como referência a diversidade que as crianças apresentam em relação às competências corporais, um outro aspecto a ser considerado na organização das atividades deve ser o de contemplar essa mesma diversidade valorizando as diferenças. Ao distribuir, ao longo do planejamento, atividades com ênfase nas capacidades de equilíbrio, força, velocidade, coordenação, agilidade e ritmo de forma eqüitativa, ou que exijam que diferentes habilidades sejam colocadas em prática, o professor viabiliza que as características individuais sejam valorizadas. A diversidade de competências corporais a serem consideradas inclui a facilidade e a dificuldade para lidar com situações estratégicas, de simulação, de cooperação, de competição, entre outras. O trabalho em duplas e grupos, em que a cooperação seja fundamental e haja coordenação de diferentes competências é algo valioso para se perceber que todos, sem exceção, têm algum tipo de conhecimento. As atividades de caráter expressivo constituem um outro recurso para atender a diversidade de competências no processo de ensino e aprendizagem. Incluir as experiências e conhecimentos que as crianças têm de dança é extremamente interessante por se tratar de um contexto em que a ênfase não está na competição. A consideração das diversidades de conhecimento promove, em última análise, a construção de um estilo pessoal de exercer as práticas da cultura corporal propostas como conteúdos. 3- Diferenças entre meninos e meninas Particularmente no que diz respeito às diferenças entre as competências de meninos e meninas deve-se ter um cuidado especial. Muitas dessas diferenças são determinadas social e culturalmente e decorrem, para além das vivências anteriores de cada aluno, de preconceitos e comportamentos estereotipados. As habilidades com a bola, por exemplo, um dos objetos centrais da cultura lúdica, estabelecem-se com a possibilidade de prática e experiência com esse material. Socialmente essa prática é mais proporcionada aos meninos que, portanto, desenvolvem-se mais do que meninas e, assim, brincar com bola se transforma em "brincadeira de menino". O raciocínio inverso também poderia ser feito, pois existem habilidades que as 28 meninas acabam por aperfeiçoar em função de uma maior experiência; mas o fundamental é que existe um estilo diferenciado entre meninos e meninas, como também existe entre diferentes pessoas de praticar uma mesma atividade lúdica ou expressiva. São modos diferentes de ser e atuar que devem se completar e se enriquecer mutuamente, ao invés de entrar em conflitos pautados em estereótipos e preconceitos. As intervenções didáticas podem propiciar experiências de respeito às diferenças e de intercâmbio: dividir um grupo de primeiro ciclo em trios, cada um deles contendo pelo menos uma menina, e colocar para elas a tarefa de ensinar uma seqüência do jogo de elástico; ou ainda atribuir aos meninos o papel de técnicos num jogo de futebol disputado por times de meninas. 4- Objetivos de Educação Física para o 1º ciclo Espera-se que ao final do primeiro ciclo os alunos sejam capazes de: participar de diferentes atividades corporais, procurando adotar uma atitude cooperativa e solidária, sem discriminar os colegas pelo desempenho ou por razões sociais, físicas, sexuais ou culturais; conhecer algumas de suas possibilidades e limitações corporais de forma a poder estabelecer algumas metas pessoais (qualitativas e quantitativas); conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações de cultura corporal presentes no cotidiano; organizar autonomamente alguns jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais simples. 5- Conteúdos de Educação Física para o primeiro ciclo No primeiro ciclo, em função da transição que se processa entre as brincadeiras de caráter simbólico e individual para as brincadeiras sociais e regradas, os jogos e as brincadeiras privilegiados serão aqueles cujas regras forem mais simples. Jogos do tipo mãe-da-rua, esconde-esconde, pique-bandeira, entre muitos outros, permitem que a criança vivencie uma série de movimentos dentro de certas delimitações. Um compromisso com as regras inclui a aprendizagem de movimentos como, por exemplo, frear antes de uma linha, desviar de obstáculos ou arremessar uma bola a uma determinada distância. É característica marcante desse ciclo a diferenciação das experiências e competências de movimento de meninos e meninas. Os conteúdos devem contemplar, portanto, atividades que evidenciem essas competências de forma a promover uma troca entre os dois grupos. Atividades lúdicas e competitivas, nas quais os meninos têm mais desenvoltura, como, por exemplo, os jogos com bola, de corrida, força e agilidade, devem ser mescladas de forma equilibrada com atividades lúdicas e expressivas nas quais as meninas, genericamente, têm uma experiência maior; por exemplo, lengalengas, pequenas coreografias, jogos e brincadeiras que envolvam equilíbrio, ritmo e coordenação. Os jogos e atividades de ocupação de espaço devem ter lugar de destaque nos conteúdos, pois permitem que se amplie as possibilidades de se posicionar melhor e 29 de compreender os próprios deslocamentos, construindo representações mentais mais acuradas do espaço. Também nesse aspecto, a referência é o próprio corpo da criança e os desafios devem levar em conta essa característica, apresentando situações que possam ser resolvidas individualmente, mesmo em atividades em grupo. No plano especificamente motor, os conteúdos devem abordar a maior diversidade possível de possibilidades, ou seja, correr, saltar, arremessar, receber, equilibrar objetos, equilibrar-se, desequilibrar-se, pendurar-se, arrastar, rolar, escalar, quicar bolas, bater e rebater com diversas partes do corpo e com objetos, nas mais diferentes situações. Cabe ainda ressaltar que essas explorações e experiências devem ocorrer inclusive individualmente. Equivale dizer que, no primeiro ciclo, é necessário que o aluno tenha acesso aos objetos como bolas, cordas, elásticos, bastões, colchões, alvos, em situações não-competitivas, que garantam espaço e tempo para o trabalho individual. A inclusão de atividades em circuitos de obstáculos é favorável ao desenvolvimento de capacidades e habilidades individuais. Ao longo do primeiro ciclo serão abordados uma série de conteúdos, nas dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais. Tais conteúdos são referentes aos blocos explanados no item "Critérios de seleção e organização dos conteúdos" do presente documento, mas estão colocados de maneira integrada, sem divisões. Explicita-se a seguir a lista daqueles a serem trabalhados nesse ciclo que poderão ser retomados e aprofundados e/ou tornarem-se mais complexos nos ciclos posteriores: participação em diversos jogos e lutas, respeitando as regras e não discriminando os colegas; explicação e demonstração de brincadeiras aprendidas em contextos extra- escolares; participação e apreciação de brincadeiras ensinadas pelos colegas; resolução de situações de conflito por meio do diálogo, com a ajuda do professor; discussão das regras dos jogos; utilização de habilidades em situações de jogo e luta, tendo como referência de avaliação o esforço pessoal; resolução de problemas corporais individualmente; avaliação do próprio desempenho e estabelecimento de metas com o auxílio do professor; participação em brincadeiras cantadas; criação de brincadeiras cantadas; acompanhamento de uma dada estrutura rítmica com diferentes partes do corpo; 30 apreciação e valorização de danças pertencentes à localidade; participação em atividades rítmicas e expressivas; utilização e recriação de circuitos; utilização de habilidades (correr, saltar, arremessar, rolar, bater, rebater, receber, amortecer, chutar, girar, etc.) durante os jogos, lutas, brincadeiras e danças; desenvolvimento das capacidades físicas durante os jogos, lutas, brincadeiras e danças; diferenciação das situações de esforço e repouso; reconhecimento de algumas das alterações provocadas pelo esforço físico, tais como excesso de excitação, cansaço, elevação de batimentos cardíacos, mediante a percepção do próprio corpo. 6- Critérios de avaliação de Educação Física para o 1º ciclo Enfrentar desafios corporais em diferentes contextos como circuitos, jogos e brincadeiras Pretende-se avaliar se o aluno demonstra segurança para experimentar, tentar e arriscar em situações propostas em aula ou em situações cotidianas de aprendizagem corporal. Participar das atividades respeitando as regras e a organização Pretende-se avaliar se o aluno participa adequadamente
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