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Inconsciente e a dinâmica Id, Ego e Superego

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ 
CENTRO DE HUMANIDADES - CH 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA 
SIST. E TEORIA II: PSICANÁLISE 
DOCENTE: DRA. ALESSANDRA SILVA XAVIER 
 
DISCENTE: LARICI DA SILVA ALVES 
 
 
 
01) Uma breve reflexão sobre minha compreensão acerca do conceito de 
inconsciente e dinâmica da segunda tópica de Freud. 
 
 
Como é que se explica que meu maior medo seja exatamente em relação a: 
ser? E no entanto não há outro caminho? 
- Clarice Lispector 
 
Explicar o inconsciente e a segunda tópica em tão poucas linhas é um desafio. Se a 
psicanálise de fato é um quebra-cabeça, como afirmei em meu texto anterior, então o 
inconsciente e as instâncias psíquicas são o conjunto das peças fundamentais. Por não ser 
um simples conceito concreto, a tarefa de explicá-los é algo que sempre me deixará com a 
sensação de ter faltado alguma coisa (irônico, não?). O que, então, é o inconsciente e a 
segunda tópica? 
 
Ao meu ver, nosso aparelho psíquico, em toda sua potência, parece um grande truque de 
mágica. Imagine que, por um único instante, uma apresentação seja realizada por um 
ilusionista. O público concentra toda a sua atenção diretamente para o palco, onde a 
“mágica” acontece, enquanto os segredos do truque, como foi realizado, ficam em segundo 
plano. A ilusão acontece de forma tão natural que esquecemos ou sequer sabemos de suas 
complexidades. Nós funcionamos exatamente assim: podemos estar cientes dos nossos 
desejos e ações, mas não estamos cientes dos processos mentais por trás. 
 
Há um trecho, de um dos meus poemas preferidos da Clarice Lispector, que funciona como 
a metáfora perfeita dos nossos processos mentais: 
 
“Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente 
um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser movida do 
lugar onde se acomodara . (...) “Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior 
perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido .” - Clarice Lispector. 
 
Como no truque de mágica, o que nós entendemos e lembramos é o que está consciente 
no nosso aparelho psíquico. Já o que está em segundo plano, os segredos que não 
conhecemos, é o inconsciente. Nele, encontramos todas nossas pulsões, desejos e traumas 
e lembranças perigosas. No entanto, esses conteúdos que causariam grande sofrimento 
 
 
são recalcados. É nesse ponto que entra o “se você fosse você, como seria e o que faria?”. 
Se não tivéssemos desejos recalcados, o que faríamos? Se fossemos nós, sem proteções 
psíquicas, quem seríamos? Como Clarice disse, essas perguntas são a entrada nova no 
desconhecido. E foi esse caminho que Freud procurou entender. 
 
Em certo momento do poema, Lispector diz que: “ bem sei, (que se fossemos nós) 
experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos 
a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e 
legítima que mal posso adivinhar.” Poético, não? Mas essa dualidade é apenas um reflexo   
do inconsciente: ele, em sua essência, é conflito. É como se a todo momento estivesse 
acontecendo a brincadeira “cabo de guerra” no nosso interior: sentimentos e desejos 
antagônicos fazem pressão a todo vapor. Pense um pouco nas suas vivências: alguma vez 
você falou o que não queria/devia falar? Por exemplo, chamar um(a) namorado(a) pelo 
nome do(a) ex? Para você, pode ter sido “sem querer”, mas para Freud, essas pequenas 
falhas são uma forma de realizar um desejo ou um pensamento recalcado, de uma forma 
que não cause sofrimento. Só temos acesso ao inconsciente assim, indiretamente: seja por 
atos falhos, chistes ou interpretações dos sonhos. É como se nesses exemplos, a mentira 
em que nos acomodamos fosse movida do lugar onde se acomodara . No caso, do 
inconsciente. 
 
Todavia, essa explicação não responde a tudo: o que faz o inconsciente funcionar dessa 
forma? Para respondermos essas questões é necessário introduzirmos a segunda tópica, 
na qual Freud trouxe um modelo estrutural. Para ele, é a dinâmica entre três estruturas ( id , 
ego e superego ) que regulam o funcionamento do aparelho psíquico. 
 
A primeira instância a se desenvolver é a que chamamos de id . Como está presente no ser 
humano desde o nascimento, observar um bebê é a melhor forma de entendê-lo. Se um 
bebê sente fome, ele chora até ser alimentado. Ou seja, ele só se sente bem ao ter um 
desejo realizado. Essa procura pelo prazer é o princípio do id , ele sempre busca satisfazer 
suas vontades. Quando falamos em "se você fosse você”, nos referimos, em grande parte , 
à realização desses desejos. Não é à toa que Clarisse “ acha que seria presa " se fosse ela. 
Por não ter acesso a realidade, satisfação do id não necessita dela, a fantasia possui o 
mesmo efeito. Então, caro leitor, você pode imaginar o que faria se você fosse você o 
quanto quiser. 
 
Diferentemente do id , o ego não apenas lida com a realidade, como se desenvolve a partir 
dela. O ego , através do convívio em sociedade, interpreta o que pode ou não ser feito. 
Retomemos nosso exemplo do truque de mágica. Há um número clássico em que o 
ilusionista faz sua assistente “desaparecer” dentro de uma caixa. O segredo? A caixa possui 
um fundo falso, onde é possível se esconder. No show, quem decide a que horas a 
assistente sairá do “esconderijo”, ao que o público tem acesso ou não, é o ilusionista. O ego 
é a instância psíquica que atua como o ilusionista: ele decide quais desejos inconscientes 
podem ser realizados, quando e como. Há uma certa reflexão contida aqui: apesar do “ego” 
ser chamado também de “eu”, não seria ele que impediria você de ser você? Mas também 
não seria ele o responsável por nos proteger, de nos impedir de olhar através do espelho e 
nos cortarmos? É com essa reflexão que finalizo essa parte. 
 
 
 
A partir do ego , surge o superego . É essa estrutura que mantém todos os padrões morais 
internalizados, o senso de certo ou errado. Basicamente, no superego ficam os princípiosque aprendemos com nossos pais. Enquanto o id busca satisfazer o prazer, o superego 
procura evitar qualquer pulsão que seja contrária a sua consciência moral. Aqui, vemos que 
a função do ego não é apenas encontrar formas de realizar os desejos do id , mas uma 
mediação entre exigências do ego e as pulsões do id . Como eu disse anteriormente: um 
constante “cabo de guerra". 
 
São essas três estruturas que moldam nossa personalidade e nosso comportamento. É 
muito importante saber como nossos processos psíquicos ocorrem no geral, pois só assim é 
possível, posteriormente, entender como eles moldam o sujeito. A beleza nessas duas 
tópicas de Freud está nessa compreensão da singularidade humana: todos temos id , ego e 
superego , mas todos com pensamentos e desejos diferentes. Todos possuem um aparelho 
psíquico único, um truque de mágica particular, imerso nos segredos do inconsciente.

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