Buscar

Sucessão - CC comentado 1

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

LIVRO V – DO DIREITO DAS SUCESSÕES 
Introdução
O Direito frequentemente chama a pessoa morta, de cuja sucessão se trata, de de cujus, expressão latina que derivou por regressão de persona de cujus successione agitur. 
Usam-se também os vocábulos morto, falecido e defunto, além da locução autor da herança.
O objeto do direito sucessório não é o patrimônio do sucedendo, mas sim a sucessão.
Sucessão testamentária e legítima
Testamentária: pela vontade do sucedendo, via testamento. 
Legítima: pela lei, por meio ordem de vocação hereditária (art. 1.829 do Código Civil). Entram: descendentes, os ascendentes, o cônjuge ou companheiro e os colaterais até o quarto grau.
Há, ainda, os herdeiros necessários, os quais, se existentes, têm direito a, no mínimo, metade do patrimônio do sucedendo (art. 1.789). 
Da outra metade, pode este dispor, em testamento, como lhe aprouver. E, se não houver sucessores necessários, a liberdade de testar se estende à totalidade do patrimônio. 
Sucessão a título universal e a título singular
A sucessão pode ter por objeto tanto a totalidade do patrimônio do morto quanto uma parte dele, ou um bem individualizado.
Herança e legado
Chama-se de herança o patrimônio deixado pelo morto, o qual pode consistir tanto de direitos de crédito e coisas, quanto de dívidas. 
Apenas os direitos obrigacionais e reais integram o patrimônio da pessoa e, por conseguinte, a herança.
Chama-se de legado, por sua vez, um bem ou conjunto de bens individualizados da herança.
Indivisibilidade da herança
A herança constitui um bem indivisível. Por essa razão, os herdeiros a recebem como um todo unitário, em condomínio, o qual somente se extingue por ocasião da partilha dos bens (art. 1.791, parágrafo único), quando, então, cada herdeiro deixa de ter direito a uma fração ideal da universalidade e adquire a propriedade e a posse de bens individualizados.
Espólio
O vocábulo espólio, em Direito das Sucessões, tem o significado primeiro de herança, vez que advém do latim spolium, que significa “despojos”. Ou seja, faz referência aos despojos do morto, quer dizer, aos bens que este deixou, os quais denominamos herança.
Conquanto o espólio não tenha personalidade jurídica, vez que se trata de um conjunto de bens, e não de uma pessoa natural ou jurídica, tornou-se uma prática comum no processo civil a referência ao ajuizamento de ações “pelo espólio” ou “em face do espólio”. Por essa razão, concedeu-se a ele personalidade judiciária, como ocorre com a massa falida e a herança jacente.
A partir de então, começou-se a usar o vocábulo também com o sentido de “coletivo de herdeiros”, para dar mais sentido à ideia do espólio como parte processual: no lugar de um patrimônio, e, por conseguinte, um ente sem personalidade, deveria se considerar o conjunto dos herdeiros do morto, em analogia ao que se dá com o condomínio.
STJ aprova nova súmula que trata de ação por dano moral 
Confira o enunciado aprovado na Corte Especial. 
A Corte Especial do STJ aprovou nova súmula na sessão desta quarta-feira, 2. A súmula 642 (do projeto 1.237) trata de ação indenizatória e foi relatada pelo ministro Benedito Gonçalves. 
Confira a redação:
"O direito à indenização por danos morais transmite com o falecimento do titular, possuindo os herdeiros da vítima legitimidade ativa para ajuizar ou prosseguir na ação indenizatória."
O enunciado foi aprovado por unanimidade de votos.
Processo: EREsp 978.651
Basicamente o entendimento foi de que o direito a indenização por dano moral não é personalíssimo, ou seja se transfere aos herdeiros do falecido. Assim, os herdeiros da vítima (ou o espólio) possuem legitimidade para AJUIZAR OU PROSSEGUIR EM AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS. 
Vejam como o STJ decide o tema: 
1. Dotado o espólio de capacidade processual (art. 12, V, do Código de Processo Civil), tem legitimidade ativa para postular em Juízo a reparação de dano sofrido pelo de cujus, direito que se transmite com a herança (art. 1.526 do Código Civil).
E ainda:
4. A regra, em nossa ordem jurídica, impõe a transmissibilidade dos direitos não personalíssimos, salvo expressão legal. 
5. O direito de ação por dano moral é de natureza patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores da vítima (RSTJ, vol. 71/183). 
6. A perda de pessoa querida pode provocar duas espécies de dano: o material e o moral. 
7. 'O herdeiro não sucede no sofrimento da vítima. Não seria razoável admitir-se que o sofrimento do ofendido se prolongasse ou se entendesse (deve ser estendesse) ao herdeiro e este, fazendo sua a dor do morto, demandasse o responsável, a fim de ser indenizado da dor alheia. Mas é irrecusável que o herdeiro sucede no direito de ação que o morto, quando ainda vivo, tinha contra o autor do dano. Se o sofrimento é algo entranhadamente pessoal, o direito de ação de indenização do dano moral é de natureza patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores' (Leon Mazeaud, em magistério publicado no Recueil Critique Dalloz, 1943, pg. 46, citado por Mário Moacyr Porto, conforme referido no acórdão recorrido)
Por fim:
1. O espólio tem legitimidade ativa para pleitear reparação de eventuais danos morais sofridos pelo de cujis. Em realidade, à luz de reiteradas lições doutrinárias, o que se transmite, por direito hereditário, é o direito de se acionar o responsável, é a faculdade de perseguir em juízo o autor do dano, quer material ou moral. Tal direito é de natureza patrimonial e não extrapatrimonial (CAHALI, Yussef Said. Dano Moral, Ed. Revista dos Tribunais, 2ª edição, pp. 699/700).
Assim, memorizem, o que se transmite é o direito a indenização pelo dano sofrido pelo morto em vida. O morto sofreu um dano em vida, de forma que seus herdeiros podem pedir a indenização por dano moral pelo ato ocorrido, pois o direito a indenização é transferível por herança. 
O direito é de prosseguir na ação já ajuizada ou ajuizar a ação. Atentem a isso. 
Eis a súmula novamente: "O direito à indenização por danos morais transmite com o falecimento do titular, possuindo os herdeiros da vítima legitimidade ativa para ajuizar ou prosseguir na ação indenizatória.
DIZER O DIREITO - Súmula 642 do STJ comentada - 9 de janeiro de 2021
Súmula 642-STJ: O direito à indenização por danos morais transmite-se com o falecimento do titular, possuindo os herdeiros da vítima legitimidade ativa para ajuizar ou prosseguir a ação indenizatória.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 02/12/2020, DJe 07/12/2020.
Imagine a seguinte situação:
Francisco foi diagnosticado com tumor cerebral maligno.
O plano de saúde recusou-se a custear o tratamento, mesmo estando coberto pelo contrato.
Diante disso, Francisco ajuizou ação de obrigação de fazer cumulada com indenização por danos morais.
O juiz concedeu a tutela provisória de urgência determinando que o plano de saúde custeasse a cirurgia.
Logo após o procedimento, Francisco veio a falecer.
Os herdeiros de Francisco pediram para serem admitidos no processo como sucessores do falecido.
O plano de saúde se insurgiu contra isso afirmando que os danos morais se constituem em direitos da personalidade e, portanto, não podem ser transmitidos.
Os herdeiros poderão ser admitidos e prosseguir com a ação indenizatória?
SIM. É justamente o que prevê a súmula.
O fundamento para essa conclusão é o art. 943 do Código Civil:
Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.
Enunciado 454-CJF: Art. 943. O direito de exigir reparação a que se refere o art. 943 do Código Civil abrange inclusive os danos morais, ainda que a ação não tenha sido iniciada pela vítima. 
Embora a violação moral atinja apenas o plexo de direitos subjetivos da vítima, o direito à respectiva indenização transmite-se com o falecimento do titular do direito. Logo, os herdeiros possuem legitimidade ativa ad causam para ajuizar ação indenizatória por danos morais, em virtude da ofensa moral suportada pelo de cujus. Caso a ação já tenha sido ajuizada pela vítima em vida, os herdeiros detêm a legitimidade para prosseguir com ela figurando no polo ativo.
Vale ressaltar, mais uma vez, que não é o direito de personalidade da pessoa morta que é transmitido com a herança. O direito da personalidade extingue-se com a morte do titular. O que se transmite, nesse caso, é apenas o direito patrimonial de requerer a indenização.
O direito à indenização por danos morais é transmissível aos sucessores do falecido por ter caráter patrimonial.
APROFUNDANDO: A SÚMULA FALOU EM HERDEIROS. O ESPÓLIO POSSUI LEGITIMIDADE NESSES CASOS? 
Vamos entender com calma.
· Herança: é o conjunto de bens deixado pela pessoa falecida. Caracteriza-se, por força de lei, como sendo bem imóvel, universal e indivisível.
· Espólio: é o ente despersonalizado que representa a herança em juízo ou fora dele. O espólio não tem personalidade jurídica. Mesmo assim, o espólio tem capacidade para praticar certos atos jurídicos (ex: celebrar contratos, no interesse da herança) e tem legitimidade processual (pode estar no polo ativo ou passivo da relação processual). O espólio - universalidade de bens deixada pelo de cujus - assume, por expressa determinação legal, a legitimidade ad causam para demandar e ser demandado em todas as ações em que o de cujus integraria o polo ativo ou passivo se vivo fosse.
Quem representa o espólio em juízo (quem age em nome do espólio)?
• Se já houve inventário: o espólio é representado em juízo pelo inventariante.
• Se ainda não foi aberto inventário: o espólio é representado pelo administrador provisório (art. 613 do CPC).
A doutrina ensina que, enquanto não há partilha, é do espólio a legitimidade ativa ad causam para pleitear bem jurídico pertencente ao de cujus. Transitada em julgado a sentença que homologa a partilha, cessa o condomínio hereditário e os sucessores passam a exercer, exclusiva e plenamente, a propriedade dos bens e direitos que compõem o seu quinhão. Com a sentença que homologa a partilha, não há mais que se falar em espólio, sequer em representação em juízo pelo inventariante, de tal forma que a ação deve ser proposta ou continuada por aqueles que participaram da partilha, na condição de herdeiros.
 
O STJ, em todos os julgados que embasaram a edição da súmula, afirmou que o direito à indenização por danos morais “transmite-se com o falecimento do titular do direito, possuindo o espólio ou os herdeiros legitimidade ativa ad causam para ajuizar ação indenizatória por danos morais, em virtude da ofensa moral suportada pelo de cujus” (STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 1446353/SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/09/2019). 
Nesse sentido, veja alguns exemplos:
A posição atual e dominante que vigora nesta c. Corte é no sentido de embora a violação moral atinja apenas o plexo de direitos subjetivos da vítima, o direito à respectiva indenização transmite-se com o falecimento do titular do direito, possuindo o espólio ou os herdeiros legitimidade ativa ad causam para ajuizar ação indenizatória por danos morais, em virtude da ofensa moral suportada pelo de cujus. 
STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 978651 SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 15/12/2010.
 
Embora a violação moral atinja apenas o plexo de direitos subjetivos da vítima, o direito à respectiva indenização transmite-se com o falecimento do titular do direito, possuindo o espólio e os herdeiros legitimidade ativa ad causam para ajuizar ação indenizatória por danos morais, em virtude da ofensa moral suportada pelo de cujus.
STJ. 3ª Turma. REsp 1040529/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/06/2011.
 
O espólio e os herdeiros possuem legitimidade ativa ad causam para ajuizar ação indenizatória por danos morais em virtude da ofensa moral suportada pelo de cujus.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1567104/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 29/06/2020.
 
Essa é a redação também de uma das teses do STJ: Jurisprudência em Teses do STJ (Ed. 125)
Tese 5: Embora a violação moral atinja apenas os direitos subjetivos do falecido, o espólio e os herdeiros têm legitimidade ativa ad causam para pleitear a reparação dos danos morais suportados pelo de cujus.
 
O STJ, contudo, sem que o tema tenha sido debatido com profundidade em algum precedente posterior aos julgados acima transcritos, decidiu excluir da redação da súmula a legitimidade do “espólio”, deixando apenas a dos “herdeiros”.
Diante disso, a solução mais “segura”, por enquanto, é considerar tão somente os herdeiros como legitimados. No entanto, será necessário aguardar os novos julgados a serem proferidos após o enunciado para podermos ter certeza se o objetivo do STJ, ao mencionar apenas os herdeiros, foi realmente o de negar a possibilidade do espólio continuar ou ajuizar a ação.
TÍTULO I – Da Sucessão em Geral 
No exato momento em que morre a pessoa, diz-se aberta a sucessão.
O Direito pátrio atribui capacidade para suceder às pessoas nascidas ou concebidas no momento da abertura da sucessão. Ou seja, também o nascituro tem capacidade para suceder, ainda que, para que possa suceder, precise nascer com vida (art. 2º, primeira parte).
A abertura da sucessão implica a transmissão imediata da propriedade e da posse da herança aos herdeiros, e da propriedade e da posse indireta dos legados aos legatários.
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. 
· “Saisine”: é o próprio defunto que transmite ao sucessor a propriedade e a posse da herança.
· Não se admite que os bens fiquem vagos, sem titular.
· O patrimônio não fica 1 segundo sem dono. A transmissão da herança se dá no exato momento da morte.
· Morte e transmissão, por ficção, coincidem no tempo.
· Sucessor:
a) Herdeiro: legítimo (necessário ou facultativo) e testamentário
- desde o momento da morte é proprietário e possuidor.
b) Legatário.
- não havendo condição suspensiva, desde o momento da morte já é proprietário, mas não é possuidor. É obrigado a pedir a posse.
· Todo herdeiro necessário é herdeiro legítimo, mas nem todo herdeiro legítimo é necessário.
· Todo herdeiro necessário recebe patrimônio? NÂO, depende da ordem de vocação hereditária.
· HERANÇA: conceito de Direito Material; universal, indivisível e imóvel.
· ESPÓLIO: conceito de Direito Processual; é a representação processual da herança.
Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido. 
· Trata-se de competência relativa, podendo, portanto, abrir em qualquer lugar: domicílio, local dos bens, onde faleceu etc.
Assim, ainda que o óbito tenha se verificado em outro local (no caso em comento, Valinhos) e os seus bens se encontrem em localidade diversa (Valinhos e Londres), a lei da Inglaterra (domicílio de José da Silva) será competente, qualquer que seja a situação dos bens.
Convém complementar que a autoridade judiciária brasileira será competente para o processamento de inventário dos bens situados no país, ainda que o autor da herança, no momento da morte, tenha domicílio apenas fora do território nacional (art. 23, II, CPC). E nesta última hipótese, em regra, o juiz brasileiro deverá observar a legislação aplicável no domicílio do falecido, mesmo que estrangeira (art. 10, LINDB).
LINDB: art. 10 - A Sucessão por morte obedece à lei do país em que domiciliado o defunto!
Não se olvide, entretanto, da previsão do art. 89 do CPC/15 que estabelece a competência internacional exclusiva da autoridade brasileira para proceder com o inventário e a partilha de bens situados no brasil, ou seja, será aplicada a LEI PROCESSUAL brasileira e a LEI MATERIAL estrangeira.
Caso o inventário do estrangeiro seja feito em seu país de origem, a sentença nesse procedimento não poderia ser homologada pelo STJ.
Atenção: Se a lei material brasileira for mais favorável, prevalecerá em relação à LEI MATERIAL estrangeira.
CF, art. 5º, XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei (MATERIAL) brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus".
=> SUCESSÃO = obedece as normas do DOMICÍLIO do DEFUNTO/DESAPARECIDO (em regra)
=> CAPACIDADE PARA SUCEDER
= obedece as normas do DOMICÍLIO do HERDEIRO/LEGATÁRIO
Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade. 
· Legítima ou testamentária.
Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela. 
· Tempus regit actum.
Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo. 
Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança. 
· 50% pertence aos herdeiros necessários.
· É a legítima.
Dispositivo inconstitucional
· STF: No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil. STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864).
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: (Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694) 
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho; 
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles; 
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; 
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança. 
Dizer o Direito: UNIÃO ESTÁVEL - sucessão
Em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão causa mortis do cônjuge
No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil. STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864).
Sucessão legítima
Sucessão legítima é a transmissão do patrimônio do falecido para os seus herdeiros, segundo uma ordem, que é chamada de ordem de vocação hereditária, sendo prevista no art. 1.829 do Código Civil.
O cônjuge vai ter direito à herança se o falecido deixou descendentes? Ex: João, casado com Maria, morreu e deixou dois filhos (Pedro e Tiago). Maria terá direito à herança?
O cônjuge é herdeiro necessário (art. 1.845 do CC).
Assim, se a pessoa morrer e for casada, em regra, seu cônjuge terá direito à herança.
Vale ressaltar, no entanto, que, se o falecido tiver deixado descendentes (filhos, netos etc.), a viúva poderá não ter direito à herança, a depender do regime de bens. É o que diz o inc. I, do art. 1.829.
Esse inciso é muito confuso e mal redigido, o que gera bastante polêmica na doutrina e jurisprudência. O que se pode extrair dele é o seguinte: o cônjuge é herdeiro necessário, mas há situações em que a lei deu primazia (preferência) para os descendentes do morto. Assim, foram previstos alguns casos em que o cônjuge, a depender do regime de bens, não irá ter direito à herança, ficando esta toda com os descendentes. Vejamos:
1) Situações em que o cônjuge herda em concorrência com os descendentes
Regime da comunhão parcial de bens, se existirem bens particulares do falecido.
Regime da separação convencional de bens (é aquela que decorre de pacto antenupcial).
2) Situações em que o cônjuge não herda em concorrência com os descendentes
Regime da comunhão parcial de bens, se não havia bens particulares do falecido.
Regime da separação legal (obrigatória) de bens (é aquela prevista no art. 1.641 do CC).
Regime da comunhão universal de bens.
Voltando ao exemplo: João, casado com Maria, morreu e deixou dois filhos Pedro e Tiago.
Se, por exemplo, Maria era casada com João sob o regime da separação convencional de bens, ela terá direito, juntamente com Pedro e Tiago, à herança deixada pelo marido.
Por outro lado, se Maria era casada com João sob o regime da comunhão universal de bens, ela não terá direito à herança. Neste caso ela será meeira, mas não herdeira. 
Se os consortes são casados no regime da comunhão universal, isso significa que, quando a pessoa morre, seu cônjuge tem direito à meação, ou seja, metade dos bens do falecido já pertencem obrigatoriamente ao cônjuge supérstite. A outra metade é que será a herança. Ora, o legislador pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens pelo fato de ser meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em prejuízo dos descendentes; vamos excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda para os descendentes.” 
O cônjuge vai ter direito à herança se o falecido não deixou descendentes, mas deixou ascendentes? Ex: João, casado com Maria, morre sem deixar filhos ou netos, mas deixou pai e mãe. 
Como será feita a divisão da herança? 
Neste caso, o cônjuge sobrevivente herdará em concorrência com os ascendentes. Logo, em nosso exemplo, Maria receberá 1/3 da herança, o pai de João 1/3 e a mãe o 1/3 restante.
Vale ressaltar que aqui não importa qual era o regime de bens do casal. 
E se o falecido morreu sem deixar descendentes e ascendentes, o cônjuge terá direito à herança? 
Ex: João, casado com Maria, morreu sem deixar filhos, netos, nem pais ou avós. SIM. Nesta hipótese Maria terá direito à integralidade da herança.
Regras da sucessão do cônjuge
Essas regras acima explicadas envolvendo a sucessão causa mortis do cônjuge estão previstas no art. 1.829 do Código Civil:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III -ao cônjuge sobrevivente;
IV -aos colaterais
Já que o art. 1.790 é inconstitucional, o que se deve fazer no caso de sucessão de companheiro? Quais as regras que deverão ser aplicadas caso um dos consortes da união estável morra?
O STF entendeu que a união estável deve receber o mesmo tratamento conferido ao casamento. Logo, em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão causa mortis do cônjuge, regras essas que estão previstas no art. 1.829 do CC. 
O STF apreciou o tema em sede de recurso extraordinário submetido à repercussão geral e fixou a seguinte tese: No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil. STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864).
Assim, no art. 1.829 do CC, onde se lê: “cônjuge”, deve-se agora ler: “cônjuge ou companheiro(a)” 
Como consequência dessa decisão, o companheiro passa a ser considerado herdeiro necessário.
CAPÍTULO II – Da Herança e de sua Administração 
Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros. 
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio. 
· Até a partilha, trata-se de bem indivisível, regulado pelas normas do condomínio.
Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário
que a escuse, demostrando o valor dos bens herdados. 
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública. 
· Necessária a outorga do cônjuge, salvo se separação total.
§ 1º Os direitos, conferidos ao herdeiro em conseqüência de substituição ou de direito de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente. 
§ 2º É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da herança considerado singularmente. 
· Não é nulo, mas ineficaz!
§ 3º Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade. 
· É ineficaz a disposição de bem singular; sem prévia autorização do juiz, de bem do acervo hereditário, sobre o qual pende indivisibilidade.
A cessão de direitos hereditários sobre bem singular viabiliza a transmissão da posse, que pode ser objeto de tutela específica na via dos embargos de terceiro
A cessão de direitos hereditários sobre bem singular, desde que celebrada por escritura pública e não envolva o direito de incapazes, não é negócio jurídico nulo, tampouco inválido, ficando apenas a sua eficácia condicionada a evento futuro e incerto, consubstanciado na efetiva atribuição do bem ao herdeiro cedente por ocasião da partilha.
Assim, aberta a sucessão, o coerdeiro pode ceder os seus direitos hereditários, bem como o quinhão de que disponha, por escritura pública, conforme prevê o caput do art. 1.793 do Código Civil.
Como esse negócio não é nulo (tem apenas a sua eficácia suspensa), conclui-se que a cessão de direitos hereditários sobre bem singular tem força para transmitir a posse desse bem ao cessionário. Logo, o cessionário pode tutelar a posse sobre o bem, inclusive por meio de embargos de terceiro.
Admite-se a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, mesmo que desprovido do registro. Esse mesmo entendimento deve ser aplicado na hipótese em que a posse é defendida com base em instrumento público de cessão de direitos hereditários. STJ. 3ª Turma. REsp 1.809.548-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).
Imagine a seguinte situação hipotética:
João faleceu e deixou duas filhas como herdeiras: Carla e Carolina. Até então, somente se sabia da existência dessas duas herdeiras. Foi aberto o inventário, tendo apenas as duas como herdeiras. João deixou 5 bens imóveis como herança: quatro apartamentos e uma sala comercial. Carla e Carolina cederam os direitos hereditários sobre a sala comercial em favor de Pedro.
Explicando melhor. Pedro pagou R$ 300 mil e, em troca, Carla e Carolina, por intermédio de uma escritura pública, cederam a ele os direitos sobre a sala comercial de que trata a herança.
Ao tratar sobre esse § 2º do art. 1.793, Zeno Veloso explica que essa cessão sobre bem singular será eficaz se for feita pela totalidade dos herdeiros:
(...) os direitos a respeito de um bem singular da herança podem ser cedidos pelo herdeiro único (herdeiro universal) ou por todos os herdeiros, conjuntamente. E não haveria motivo para considerar ineficaz o negócio, pois não há ineficácia que não se oponha a interesse de terceiros, e ninguém, no caso, pode alegar direito frustrado ou algum prejuízo. Enfim, não há razão moral, econômica ou jurídica para impedir que a cessão, nas hipóteses citadas, seja realizada." (Cessão de direitos hereditários de bens singulares: possibilidade. Disponível em: www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/cessao-de-direitos-hereditarios-de-bens-singulares-possibilidade/5649.
O Min. Ricardo Villas Bôas Cueva expõe as seguintes conclusões sobre o § 2º do art. 1.793:
a) a cessão de direitos hereditários sobre bem singular, desde que celebrada por escritura pública e não envolva o direito de incapazes, não é negócio jurídico nulo, tampouco inválido, ficando apenas a sua eficácia condicionada a evento futuro e incerto, consubstanciado na efetiva atribuição do bem ao herdeiro cedente por ocasião da partilha; 
b) a ineficácia se opera somente em relação aos demais herdeiros; 
c) se celebrado pelo único herdeiro ou havendo a anuência de todos os coerdeiros, o negócio é válido e eficaz desde o seu nascimento, independentemente de autorização judicial, pois o que a lei busca evitar é que um único herdeiro, em prejuízo dos demais, aliene um bem que ainda não lhe pertence, e 
d) se o negócio não é nulo, mas tem apenas a sua eficácia suspensa, a cessão de direitos hereditários sobre bem singular viabiliza a transmissão da posse, que pode ser objeto de tutela específica na via dos embargos de terceiro.
Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto. 
Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a transmissão. 
· Decai em 180 dias.
Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a exercer a preferência, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias. 
Prazo de 30 dias para a instauração do inventário
Art. 1.796. No prazo de trinta dias, a contar da abertura da sucessão, instaurar-se-á inventário do patrimônio hereditário, perante o juízo competente no lugar da sucessão, para fins de liquidação e, quando for o caso, de partilha da herança. 
· NCPC: art. 611 -> deve ser instaurada dentro de 2 meses.
Administração da herança – até o compromisso da inventariante
Art. 1.797. Até o compromisso do inventariante, a administração da herança caberá, sucessivamente: 
I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da sucessão; 
II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de um nessas condições, ao mais velho; 
III - ao testamenteiro; 
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao conhecimento do juiz. 
CAPÍTULO III – Da Vocação Hereditária 
· São os legitimados, por lei, a suceder! 
· Pessoas nascidas ou já concebidas (nascituro)
· Testamento: concepturo (até 2 anos para concepção); nascido, terá direito aos frutos e rendimentos, a partir da morte.
Regra geral! 
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão. 
· Regra geral da sucessão legítima e testamentária.
· Concepturo: no ventre materno; logo, se nascer com vida será herdeiro.
· Se nasceu morto: (i) existente; (ii) válido; e (iii) INEFICAZ.
· Vê-se, dessa forma, que estão resguardados os direitos do nascituro.
Exceção à regra anterior!
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: 
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; 
II - as pessoas jurídicas; 
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação. 
O art. 1799, I, traz uma exceção à regra de que só as pessoas vivas ou já concebidas podem ser chamadas a herdar. Trata-se de uma hipótese em que pessoa ainda nem concebida pode ser chamada a suceder (prole eventual). 
Dispõe o inc. I que pode ser convencionado pelo morto deixar herança/legado para filhos ainda não concebidos de pessoas por ele indicadas (desde que essas pessoas sejam vivas na época da morte dele). 
Até a prole eventual nascer, os bens ficam com curador (que, salvo disposição em contrário, serão os pais).
§ 4 o Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos. 
Art. 1.800. No caso do inciso I do artigo antecedente, os bens da herança serão confiados, após a liquidação ou partilha, a
curador nomeado pelo juiz. 
· Na sucessão testamentária... I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; 
§ 1 o Salvo disposição testamentária em contrário, a curatela caberá à pessoa cujo filho o testador esperava ter por herdeiro, e, sucessivamente, às pessoas indicadas no art. 1.775 . 
· Curador: será o pai/mãe do filho beneficiado.
§ 2 o Os poderes, deveres e responsabilidades do curador, assim nomeado, regem-se pelas disposições concernentes à curatela dos incapazes, no que couber. 
§ 3 o Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-lhe-á deferida a sucessão, com os frutos e rendimentos relativos à deixa, a partir da morte do testador.
· Terá direito aos frutos e rendimentos da coisa.
 
§ 4 o Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos. 
· Prole eventual: após a abertura da sucessão, há prazo de 2 anos para concepção; admite-se que adote um filho para tanto, salvo se testamento especificar. 
· Esse prazo refere-se à concepção, não ao nascimento.
Importante!
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários: 
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos; 
II - as testemunhas do testamento; 
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
· A suspeição somente atinge o concubino (relação não eventual de pessoas impedidas de casar).
· Concubino significa amante.
· Quer-se impedir a deixa ao amante. 
· Não há qualquer óbice para beneficiar o companheiro.
· Na parte final, há uma ressalva equivocada. Ora, se separado de fato, pode muito bem ter iniciado uma nova história de amor. 
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento. 
NULIDADE – disposições testamentárias
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa. 
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder. 
· Busca-se evitar manobras fraudulentas.
· Prescreve nulidade absoluta! É a mesma sanção para o caso de simulação!
É licito! Óbvio! 
Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador. 
· Dispositivo que reflete a CF e dispõe acerca da igualdade entre filhos!
xxxxxxxxxxxxxxxxx
CAPÍTULO IV – Da Aceitação e Renúncia da Herança 
No Direito pátrio, conquanto a herança seja transmitida imediatamente aos sucessores no momento da abertura da sucessão (art. 1.784), concede-se a eles a possibilidade de aceitar ou renunciar a herança.
A aceitação tem eficácia retroativa (ex tunc), vez que meramente confirmatória (art. 1.804).
A aceitação da herança tem a natureza de um ato jurídico voluntário unilateral, puro e simples – pelo que não se admite a aceitação parcial, nem a imposição de condição, termo ou encargo (art. 1.808) – e irrevogável (art. 1.812).
Pode se manifestar expressamente, por documento escrito, ou tacitamente, quando o herdeiro pratica atos próprios da qualidade de herdeiro (art. 1.805).
Cumpre observar que a cessão gratuita, pura e simples da herança aos demais coerdeiros não importa aceitação (art. 1.805, § 2º). A cessão gratuita, pura e simples da herança aos coerdeiros se dá quando o herdeiro, sem receber qualquer vantagem, transfere sua fração ideal da herança, sem impor qualquer cláusula, condição ou encargo. 
Isso porquanto o efeito da cessão, nesses casos, será a redistribuição das frações ideais, como se o cedente nunca tivesse existido. 
Se, por outro lado, o herdeiro recebesse pela cessão alguma vantagem, haveria cessão onerosa, que poderia implicar uma troca ou uma compra e venda.
Na hipótese de o herdeiro falecer após a abertura da sucessão, mas antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitar se transmite a seus sucessores (art. 1.809, caput). 
Renúncia da herança
No Direito brasileiro, não se admite a renúncia da herança prévia à abertura da sucessão (art. 426), porquanto antes da morte não existe herança, mas sim o patrimônio da pessoa viva. Trata-se da proibição do pacto sucessório renunciativo.
Aberta a sucessão, a renúncia tem a natureza de ato jurídico voluntário, puro e simples (art. 1.808) e irrevogável (art. 1.812). Ou seja, não se admite renúncia parcial, nem a imposição de condição, termo ou encargo, nem retratação.
Trata-se de ato solene, que deve tomar a forma de instrumento público ou termo judicial (art. 1.806), sob pena de nulidade. A renúncia por instrumento público se pratica por meio de declaração feita ao tabelião, e a renúncia por termo judicial se faz nos autos do inventário.
Deve-se tomar muito cuidado para não confundir a renúncia abdicativa, verdadeira renúncia, com a chamada renúncia translativa ou in favorem, que ocorre quando é feita “em favor de alguém”, a qual toma a forma de doação, caso em que não há renúncia, mas sim aceitação da herança.
Todavia, é preciso lembrar que a renúncia tem eficácia retroativa, assim como a aceitação (art. 1.804, parágrafo único): logo, se o herdeiro renúncia, considera-se que nunca recebeu a transmissão da herança, que teria ocorrido quando da abertura da sucessão. 
Rui e Pontes são herdeiros de Caio. Rui é pai de Helena. Aberta a sucessão de Caio, são chamados os descendentes do grau mais próximo, os filhos Rui e Pontes. Rui renuncia à herança. Pontes, que tinha direito a metade da herança, passa a ter direito à sua totalidade. Helena não é chamada à sucessão do avô, por não haver direito de representação de herdeiro renunciante.
Outro exemplo: Augusto, pai de Silvio, é herdeiro de Berenice, mas renuncia à herança. Era o único filho vivo da falecida. A herança é deferida, então, a Silvio e Manuel, netos de Berenice. Como o único filho renunciou, são chamados à sucessão os netos – incluído o filho do renunciante, vez que os netos, nesse caso, são chamados por direito próprio.
Títulos sucessórios diversos
Pode ser que a mesma pessoa seja chamada à sucessão por títulos sucessórios diferentes.
Se uma mesma pessoa for chamada à sucessão a título universal e a título singular, caso em que será herdeiro e legatário, pode aceitar a herança e renunciar o legado, bem como renunciar a herança e aceitar o legado (art. 1.808, § 1º). Obviamente que também pode aceitar ou renunciar ambos.
Um exemplo seria o de Silvio, herdeiro necessário de Pontes, o qual ainda lhe deixou 25% da parte disponível de seu patrimônio em testamento. Nessa hipótese, Silvio pode aceitar ou renunciar a herança legítima e aceitar ou renunciar a herança testamentária.
O Código Civil de 2002 não exige a outorga nem do marido nem da mulher para a aceitação. 
Todavia, quanto à renúncia, cabe lembrar a advertência de BEVILÁQUA: a renúncia à herança importa sempre uma alienação. E, se sabe, o direito à sucessão aberta se considera bem imóvel (art. 80, II). Ocorre que o art. 1.647, I, do Código exige a outorga do cônjuge para a alienação dos imóveis, salvo se o regime de bens do casamento for o da separação voluntária de bens. Destarte, há de se concluir pela necessidade da outorga em caso de renúncia.
Fase de deliberação
- aceitação e renúncia da herança
- são irrevogáveis e irretratáveis
- no BR, somente quem desejar pode ser herdeiro ou legatário.
- expressa ou tácita (a aceitação)
- não se admite-se sob condição ou a termo, nem em parte: negócio puro
- Ninguém pode suceder herdeiro renunciante, salvo se o único de sua classe ou se todos renunciarem, hipóteses em que os filhos herdarão por cabeça.
Obs.: quando o herdeiro prejudicar os seus credores, independente de fraude ou má-fé, renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceita-la em nome
do renunciante. Prazo de 30 dias da ciência do fato; pagas as dívidas, o restante será devolvido aos demais herdeiros.
“Actio interrogatória”: o interessado vai a juízo para que herdeiro declare se aceita.
* A aceitação da herança pode ser expressa ou tácita.  
* A renúncia da herança deve ser expressa.
Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão. 
· Aceitação é o ato pelo qual o herdeiro, expressa ou tacitamente, aceita a herança.
· É dizer, declara sua intenção de ser tornar herdeiro ou legatário.
Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à herança. 
· Ninguém pode ser forçado a ser herdeiro ou legatário.
· É que nem sempre traz benefícios.
· A renúncia invalida a transmissão imediata, já que seus efeitos retroagem à abertura da sucessão.
· Com a renúncia, é como se jamais tenha sido herdeiro.
Aceitação: expressa ou tácita! Ainda, presumida!
Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando tácita, há de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de herdeiro. 
§ 1º Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória. 
· São atos praticados pelo herdeiro desinteressado.
§ 2º Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais co-herdeiros. 
· NÃO importa em aceitação!
· Equivale à renúncia.
· Renúncia: instrumento público ou termo nos autos.
Art. 1.806. A renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público ou termo judicial. 
· Considera-se não ocorrida a transmissão da herança para o herdeiro renunciante, recolhendo-a aos demais desde a morte do de cujus.
· Acresce aos outros; isso, se da mesma classe.
· Se prejudicar seus credores, com autorização judicial, poderão aceitar.
Cuidado! A ACEITAÇÃO é que pode ser expressa, tácita ou presumida. A RENÚNCIA, não! Esta deve ser expressa por escritura pública ou termo judicial.
Quanto as modalidades de renúncia
-  Renúncia Abdicativa: o herdeiro simplesmente diz que não quer a herança, havendo a cessão pura e simples do seu quinhão aos demais coerdeiros. O quinhão do renunciante será devolvido ao monte hereditário e partilhado entre os herdeiros legítimos após o procedimento de inventário. 
Maria Helena Diniz destacar que “só é autêntica renúncia a abdicativa, ou seja, cessão gratuita, pura e simples, feita indistintivamente a todos os coerdeiros”.
CR Gonçalves: abdicativa ou propriamente dita; é pura e simples; em benefício do monte, sem a indicação de qualquer favorecido.
Diz o § 2º, do art. 1.805: não importa aceitação a cessão gratuita, pura e simples. Já o diz que não ocorrerá transmissão quando o herdeiro renuncia à herança.
Obs.: Nesse caso não há a incidência de Imposto de Transmissão inter vivos.
- Renúncia Translativa: o herdeiro cede seus direitos expressamente em favor de terceiro (“in favorem”). A renúncia translativa é aquela em que o herdeiro recebe a herança e promove a sua transferência a pessoa certa e determinada. Entende-se que essa espécie não é renúncia, mas sim uma cessão de direitos, eis que necessita da aceitação do beneficiado para se aperfeiçoar. 
A renúncia translativa, para que reste configurada, reclama, concomitantemente, a aceitação tácita da herança e a subsequente transferência desta, eis que não se pode transferir o que ainda não se adquiriu. “Se o cedente ceder seu quinhão hereditário em favor de certa pessoa, devidamente individualizada, estará aceitando a herança; doando-a logo em seguida àquela pessoa, não se configura renúncia”.
CR Gonçalves: na renúncia em favor de determinada pessoa, pratica-se dupla ação: aceita e doa. Não há renúncia ou repúdio, mas cessão ou desistência da herança.
Obs.: Como há negócio jurídico de transmissão, aqui incide imposto.
CR Gonçalves acerca da distinção: relevante no pertinente aos tributos. Na abdicativa, o único devido é o causa mortis. Na translativa, é devido também o inter vivos. É dizer, haverá impostos sobre duas transmissões: uma causa mortis e outra inter vivos
Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita. 
· É a aceitação presumida ou provocada.
Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo. 
§ 1º O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a herança; ou, aceitando-a, repudiá-los. 
§ 2º O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia. 
Art. 1.809. Falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que se trate de vocação adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada. 
· Aberta, se transmite de logo.
· Todavia, a transmissão definitiva somente com a aceitação.
· Se morrer antes de aceitar, esse poder passa aos seus herdeiros. 
Parágrafo único. Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação, desde que concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira. 
· É possível que o herdeiro falecido tenha deixado também bens próprios, que são transmitidos aos seus herdeiros.
· Há duas: a primeira, da qual era titular, sem que tenha aceitado; a segunda, da qual era o autor, que se transmite aos seus herdeiros.
· Dois patrimônios distintos que não se confundem.
· A lei transfere aos herdeiros o poder de aceitar a primeira, desde que concordem em receber a segunda.
· É dizer, somente após aceitar a segunda herança o herdeiro poderá renunciar ou aceitar a primeira.
Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subseqüente. 
· Diz sobre os EFEITOS da renúncia na sucessão legítima.
· Antes de mais nada vale fixar o seguinte: a lei preservou os direitos dos descendentes do herdeiro (1) pré-morto (1851) e do que foi (2) excluído da sucessão por indignidade (1816), que recebem no lugar. Cuida-se do direito de representação.
· Diferente é o tratamento ao renunciante, que se considera nunca ter sido herdeiro.
· O renunciante é um estranho na sucessão.
· Consequência: a parte do renunciante não é devolvida aos seus descendentes, mas sim acrescida a dos outros herdeiros da mesma classe.
· Logo, se o renunciante tinha filhos ou netos, estes não participarão da herança, a não ser por direito próprio, já que a lei não lhes garantiu o direito de representação.
· SALVO, se o renunciante for o único herdeiro de sua classe é que a herança será devolvida aos da classe subsequente, observada a ordem de vocação hereditária. 
Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça. 
· Não há direito de representação em caso de renúncia.
· Como considerada como nunca ter sido herdeiro, não será devolvida aos seus descendentes.
· Todavia, como diz a segunda parte, se o renunciante for o único legítimo de sua classe, ou se todos da mesma classe renunciarem, os filhos poderão ser chamados à sucessão por direito próprio e por cabeça.
Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança. 
Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante. 
§ 1 o A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao conhecimento do fato. 
§ 2 o Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao remanescente, que será devolvido
aos demais herdeiros. 
INFO 664/STJ
	PROCESSO
	REsp 1.433.650-GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 19/11/2019, DJe 04/02/2020
	RAMO DO DIREITO
	DIREITO CIVIL 
	TEMA
	Sucessão. Renúncia à herança. Ato formal e solene. Escritura pública. Ato não sujeito à condição ou termo. Requerimento de anulação de negócio jurídico pelos renunciantes. Impossibilidade.
	DESTAQUE
	Aquele que renuncia a herança não tem legitimidade para pleitear eventual nulidade de negócio jurídico que envolva um dos bens que integram o patrimônio do de cujus.
	INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
	Diferentemente da informalidade do ato de aceitação da herança, a renúncia a ela, como exceção à regra, exige a forma expressa, cuja solenidade deve constar de instrumento público ou por termos nos autos (art. 1807 do Código Civil), ocorrendo a sucessão como se o renunciante nunca tivesse existido, acrescendo-se sua porção hereditária a dos outros herdeiros da mesma classe.
Além disso, a renúncia e a aceitação à herança são atos jurídicos puros não sujeitos a elementos acidentais. Essa é a regra estabelecida no caput do art. 1808 do Código Civil, segundo o qual não se pode aceitar ou renunciar a herança em partes, sob condição (evento futuro incerto) ou termo (evento futuro e certo).
No caso, a renúncia realizou-se nos termos da legislação de regência, produzindo todos os seus efeitos: a) ocorreu após a abertura da sucessão, antes que os herdeiros aceitassem a herança, mesmo que presumidamente, nos termos do art. 1807 do CC/2002; b) observou-se a forma por escritura pública, c) por agentes capazes, havendo de se considerar que os efeitos advindos do ato se verificaram.
Diante desse cenário, os renunciantes não têm interesse na decretação de nulidade ou anulação do negócio jurídico, que, segundo alegam, realizou-se à margem do ordenamento, tendo em vista que, fosse considerado nulo o negócio, retornando o bem ao patrimônio da falecida irmã, a cuja herança renunciaram, nenhum proveito teriam com a nova situação.
Nessa linha, perfeita a renúncia, considera-se como se nunca tivessem existido os renunciantes, não remanescendo nenhum direito sobre o bem objeto do negócio acusado de nulo, nem sobre bem algum do patrimônio.
ACEITAÇÃO/RENÚNCIA – EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE – DESERDAÇÃO
1) Renúncia: não é possível representar herdeiro renunciante; na separação obrigatória não, mas nas demais é necessária a outorga conjugal.
Obs.: renúncia translativa; translatícia; “in favorem” -> hipótese em que renúncia, por exemplo, em favor da mãe. Tecnicamente, cuida-se de aceitação + cessão (doação).
Obs. 2: a renúncia pura e simples remete o quinhão para o monte!
2) Exclusão por indignidade: pena (efeito pessoal; art. 1816); para efeitos legais, é considerado pré-morto. Seus descendentes sim, por representação; não terá administração, usufruto, tampouco o direito sucessório sobre esse patrimônio. 
Quando? Homicídio doloso (não depende do TJ); crime contra a honra (fala em crime; logo, SPTJ); impedir de testar validamente.
Quem? Qualquer pessoa beneficiada numa sucessão pode ser excluída por indignidade.
Prazo decadencial? QUATRO anos da abertura da sucessão, ainda que o fato tenha ocorrido em 1960!
Efeitos pessoais? Seus herdeiros sucedem como se o indigno tivesse morrido antes da abertura da sucessão.
De ofício? Não, somente tem legitimidade os que tem interesse (arts. 1815 e 1816). MP também pode, no interesse da coletividade.
Reabilitar? SIM, por testamento ou documento público. É o perdão.
PU, art. 1.818: não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador já conhecia a causa de indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária. 
3) Deserdação: as mesmas causas da exclusão por indignidade. Somente os herdeiros necessários!
Qualquer pessoa beneficiada numa sucessão pode ser excluída por indignidade. Na deserdação NÃO. Somente os herdeiros necessários!
Obs. 1: somente há na sucessão testamentária: depende de previsão em testamento.
Obs. 2: somente herdeiro necessário.
Obs. 3: as mesmas causas da exclusão + hipóteses específicas (1962: ascendente por descendente; 1963: descendente por ascendente; não há hipóteses específicas para exclusão do cônjuge): ofensa física, injúria grave, se manteve relações sexuais com a madrasta. 
	Deserdação
	Indignidade
	Vontade expressa
	Vontade presumida
	Testamento
	Lei
	Sucessão testamentária
	Sucessão legítima
	Por testamento
	Postulada por terceiro em ação própria e por sentença.
Indignidade: efeitos semelhantes; excluir da sucessão herdeiro que atentou contra o falecido.
CAPÍTULO V – Dos Excluídos da Sucessão 
INDIGNIDADE DO SUCESSOR
O Direito considera o herdeiro ou legatário que pratica certos atos indigno de suceder o autor da herança. 
Por essa razão, admite a possibilidade de se declarar sua exclusão da sucessão.
O herdeiro ou legatário considerado indigno somente pode ser excluído da sucessão por meio de sentença judicial (art. 1.815), em ação outrora denominada ação de erepção. 
Considerando-se que a herança se transmite no momento da abertura da sucessão, o herdeiro indigno recebe seu quinhão hereditário, daí por que a sentença tem o efeito de tomá-lo indigno. 
As hipóteses de indignidade estão previstas no art. 1.814.
EFEITOS DA INDIGNIDADE
Constituem efeitos produzidos pela declaração de indignidade: (1) a exclusão da sucessão; (2) a consideração como morto, para fins da sucessão do ofendido; (3) a proibição do usufruto e da administração dos bens ereptícios; (4) a exclusão da sucessão dos bens ereptícios; (5) a validade das alienações a terceiro de boa-fé e o correspondente dever de indenizar os ereptores; (6) a obrigação de restituir os frutos e o direito à indenização das despesas de conservação.
Exclusão da sucessão: principal efeito. 
Eficácia ex tunc, ou seja, retroativa.
Consideração como morto: ao tempo em que a sucessão se abriu (art. 1.816). 
Como sanção, somente pode atingir a pessoa do indigno. 
Tido como morto o excluído, seus sucessores podem ser chamados à sucessão em seu lugar, quando houver direito de representação.
São herdeiros de Augusto seus filhos Rui e Clóvis. Rui é declarado indigno e excluído da sucessão. Os filhos de Rui, Silvio e Orlando, são chamados à sucessão de Augusto, por direito de representação, ao lado do tio, Clóvis. Cabe lembrar que Clóvis herdará por direito próprio e por cabeça, enquanto Silvio e Orlando herdarão por direito de representação e por estirpe. 
Proibição: usufruto e administração dos bens ereptícios.
Exclusão da sucessão dos bens ereptícios
Ao Direito interessa que o indigno jamais receba os bens do acervo do ofendido, ainda que indiretamente. 
Por essa razão, exclui-se o indigno, para sempre, da sucessão dos bens ereptícios.
ATT.: na hipótese de morte de um dos herdeiros que representaram o indigno na sucessão do ofendido, ainda que o indigno seja herdeiro, não sucederá naqueles bens.
Validade das alienações a terceiro de boa-fé e obrigação de indenizar
Não pode o Direito atingir o direito do terceiro de boa-fé que negociou tais bens com o indigno, sem saber da indignidade (art. 1.817, primeira parte). 
Obrigação de restituir os frutos e direito à indenização das despesas de conservação
Surge para o indigno a obrigação de restituir ao ereptor os frutos dos bens ereptícios que houver percebido. Não obstante o dever de restituição, tem o indigno o direito à indenização pelas despesas que tiver efetuado com a conservação dos frutos.
Reabilitação do indigno
Consiste em ato do autor da herança em que, conhecendo o fato ensejador da indignidade, perdoa expressamente o herdeiro ou legatário (art. 1.818). Pode se dar em testamento ou em outro ato autêntico. 
Por outro ato autêntico deve-se entender documento público, ou escrito particular, preferencialmente elaborado na presença de testemunhas que o assinem. 
Direito à erepção e ação de exclusão do indigno
O direito à erepção, quer dizer, o direito de pleitear a exclusão do indigno, submete-se a prazo
de decadência de quatro anos, contados da data da abertura da sucessão.
São titulares desse direito os interessados na erepção. 
Consideram-se interessados: os sucessores que se beneficiariam pela exclusão do indigno, isto é, os demais herdeiros da mesma classe, ou os próximos na ordem de vocação hereditária, ou, ainda, os que têm direito a suceder por representação.
Por fim, frise-se que o direito à erepção é exercido por meio da ação de exclusão do indigno, a qual deve ser ajuizada por um de seus titulares. 
Destaque-se que, por se tratar de questão de alta indagação, não pode ser decidida pelo juiz do inventário, devendo ser remetida às vias ordinárias.
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: 
· Declarados por sentença
· Exige manejo de ação, portanto
· Decai em 4 anos.
· Admite reabilitação: perdão do ofendido (testamento ou ato autêntico)
· Cumpre dizer que a indignidade nada mais é do que uma pena civil que priva do direito de herança não só os herdeiros, bem como os legatários que cometeram os atos criminosos ou reprováveis contra o autor da herança, atos estes elencados no artigo 1.814 do Código Civil.
I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; 
· Homicídio, consumado ou tentado
· Contra o autor da herança, cônjuge/companheiro, ascendente ou descendente
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro; 
· Imputação de crime (art. 339, CP; denunciação caluniosa; dar causa instauração de investigação, processo, contra quem sabe inocente); aqui, somente se feita em juízo, não abrangendo aquelas feitas perante autoridade policial ou administrativa
· OU prática de crime contra a honra
· Restrito aqui ao autor da herança e seu cônjuge/companheiro
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade. 
· Incorre em indignidade aquele que inibi de dispor livremente por ato de última vontade.
· Atentam contra a liberdade de testar e merecem o repúdio da lei.
QC/Errada: O ofendido pelo ato de indignidade será o autor da herança, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente.
O ofendido varia de acordo com o ato praticado.
DIZER O DIREITO
Comentários à Lei 13.532/2017: legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação de indignidade 
O que é a indignidade, no Direito Civil?
Indignidade são situações previstas no Código Civil nas quais o indivíduo que normalmente iria ter direito à herança, ficará impedido de recebê-la em virtude de ter praticado uma conduta nociva em relação ao autor da herança ou seus familiares. Trata-se, portanto, de uma causa de exclusão da sucessão.
A indignidade é considerada uma punição, uma “pena civil” aplicada ao herdeiro ou legatário acusado de atos reprováveis contra o falecido.
Hipóteses de indignidade
As situações que configuram indignidade estão previstas no art. 1.814 do Código Civil.
Este rol é taxativo (numerus clausus).
Inciso I
Sobre a hipótese do inciso I acima, vale uma observação: para que se ajuíze a ação de indignidade, não se exige prévia condenação no juízo criminal. Mesmo que o processo criminal esteja ainda tramitando, o interessado pode ingressar com a ação de indignidade, até mesmo porque esta demanda tem prazo decadencial de 4 anos.
Vale ressaltar, no entanto, que o autor da ação de indignidade deverá provar, neste processo cível, a ocorrência da situação prevista em algum dos incisos do art. 1.814 do CC. Assim, o autor da ação terá que provar, com testemunhas, perícia etc., que o indigno praticou o homicídio doloso.
Como é feita a exclusão do indivíduo que praticou ato de indignidade
Para excluir um herdeiro ou legatário que praticou ato de indignidade, é necessária a propositura de ação judicial de indignidade.
Assim, a exclusão do herdeiro ou legatário deverá ser declarada por sentença (art. 1.815), que irá reconhecer que o indivíduo praticou o ato de indignidade.
Existe, inclusive, um prazo para que essa ação seja proposta. O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro anos, contados da abertura da sucessão (art. 1.815, parágrafo único).
Vale ressaltar que se houver herdeiros menores, o prazo só se inicia depois que atingirem a maioridade.
Quem tem legitimidade para ajuizar a ação de indignidade?
A ação de declaração de indignidade pode ser proposta por qualquer interessado na sucessão.
E o Ministério Público, possui legitimidade para ajuizar ação de indignidade?
O que diz a doutrina:
A doutrina majoritária, mesmo antes da Lei nº 13.532/2017, já defendia o entendimento de que o Promotor de Justiça tem legitimidade para propor esta ação, desde que presente o interesse público. Nesse sentido o Enunciado 116 – Jornada de Direito Civil.
Exemplo de situação em que há interesse público e que, portanto, o MP teria legitimidade para propor a ação de indignidade: se os herdeiros interessados forem incapazes.
O que diz o Código Civil:
Não havia previsão expressa no Código Civil autorizando que o Ministério Público ajuizasse ação de indignidade.
A Lei nº 13.532/2017 acrescentou um parágrafo ao art. 1.815 prevendo expressamente a legitimidade do MP em um caso específico:
Art. 1.815 (...)
§ 2º Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público tem legitimidade para demandar a exclusão do herdeiro ou legatário. 
Assim, de acordo com a atual redação do Código Civil, o Ministério Público pode ajuizar ação pedindo a declaração de indignidade caso o herdeiro ou legatário tenham sido: 
- autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso (consumado ou tentado)
- praticado contra o autor da herança, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente.
Caso Suzane Richtofen 
A presente alteração legislativa foi inspirada pelo famoso caso Suzane Richtofen, que, em 2002, matou os pais, com a ajuda do seu namorado.
Os três foram condenados e cumprem pena por isso. A garota recebeu 38 anos de reclusão.
A situação de Suzane poderia ser enquadrada no inciso I do art. 1.814 do CC. 
Assim, ela poderia ser excluída da sucessão e não receber a herança dos seus pais. Ocorre que, para isso acontecer, o outro herdeiro (seu irmão, Andréas Von Richtofen) teve que propor ação de indignidade contra Suzane.
Caso Andréas não tivesse proposto a ação, Suzane, mesmo tendo matado os pais, em tese, receberia a herança. Isso parece extremamente injusto e contrário à ética geral.
Vale ressaltar que, antes da Lei nº 13.532/2017, mesmo se adotássemos a posição doutrinária presente no Enunciado 116-CJF/STJ, seria discutível e polêmica a possibilidade de o Ministério Público ajuizar a ação de indignidade por três motivos: 
1) não havia previsão legal;
2) receber herança (direito patrimonial) está muito mais ligado a interesses privados do que interesse público;
3) o outro herdeiro, em tese, poderia perdoar a pessoa indigna.
Pensando nisso, a Lei nº 13.532/2017 acrescentou expressamente a possibilidade de o MP propor a ação de indignidade neste caso.
Assim, se o caso Suzane Richtofen tivesse acontecido após a Lei nº 13.532/2017, o Promotor de Justiça poderia ajuizar a ação de indignidade mesmo sem a iniciativa ou concordância de Andréas, outro herdeiro.
No caso de Suzane, como já dito, Andréas ajuizou a ação de indignidade, tendo ela sido julgada procedente já com trânsito em julgado. Confira trecho do dispositivo da sentença:
“ANDREAS ALBERT VON RICHTHOFEN moveu AÇÃO DE EXCLUSÃO DE HERANÇA em face de sua irmã SUZANE LOUISE VON RICHTHOFEN, por manifesta indignidade desta, pois teria ela, aos 31 de outubro de 2002, em companhia do seu namorado, Daniel Cravinhos de Paula e Silva, e do irmão dele, Cristian Cravinhos de Paula e Silva, barbaramente executado seus pais (...)
Conheço desde logo do pedido, pois se trata de matéria exclusiva de direito, estando a lide definida com a condenação
penal, transitada em julgado, da herdeira Suzane Louise Von Richthofen pela morte de seus pais, pela qual foi condenada a 39 anos de reclusão e seis meses de detenção. 
A indignidade é uma sanção civil que causa a perda do direito sucessório, privando da fruição dos bens o herdeiro que se tornou indigno por se conduzir de forma injusta, como fez Suzane, contra quem lhe iria transmitir a herança (...)
Ante o exposto, julgo PROCEDENTE a presente Ação de Exclusão de Herança que Andreas Albert Von Richthofen moveu em face de Suzane Louise Von Richthofen e, em consequência, declaro a indignidade da requerida em relação à herança deixada por seus pais, Manfred Albert Von Richthofen e Marísia Von Richthofen, em razão do trânsito em julgado da ação penal que a condenou criminalmente pela morte de ambos os seus genitores, nos exatos termos do disposto no artigo 1.814, I, do Código Civil. 
Condeno também a requerida a restituir os frutos e rendimentos dos bens da herança que porventura anteriormente percebeu, desde a abertura da sucessão, nos termos do § único, artigo 1.817, também do Código Civil.  (...)”
Discussão quanto à constitucionalidade da Lei nº 13.532/2017
Vislumbro a discussão sobre a (in)constitucionalidade da Lei nº 13.532/2017.
Para uma primeira corrente, a inovação legislativa seria inconstitucional por violar o art. 127 da CF/88. Acompanhe o raciocínio.
Sendo a ação de indignidade julgada procedente, o indigno ficará excluído da herança e a sua parte será redistribuída aos demais herdeiros.
Dessa forma, é fácil perceber que o que se discute na ação de indignidade são direitos patrimoniais (direito à herança). Não se discute prisão, cumprimento de pena, ressocialização, prevenção de crimes etc. Discute-se dinheiro pertencente, em regra, a particulares.
Os outros aspectos relacionados com o fato serão debatidos no respectivo processo criminal.
Por essa razão, mesmo que uma situação como a da Suzane Richtofen cause enorme clamor popular e justificada revolta, o certo é que, tecnicamente, a discussão se ela tem ou não direito à herança envolve um debate patrimonial e de índole disponível. 
Por exemplo, se Andréas resolve perdoar a irmã, isso não terá efeito direto no processo criminal. Tecnicamente, ela não poderia ser absolvida por conta disso. No entanto, nada impediria que ele, ao perdoar a homicida, resolvesse dividir sua herança com ela. Tem ele total disponibilidade sobre isso por se tratar do seu patrimônio.
Diante desse cenário, poder-se-ia cogitar sobre a inconstitucionalidade da nova previsão. Isso porque impõe-se ao Ministério Público a atribuição de envolver-se em uma disputa de interesses patrimoniais disponíveis, ignorando, inclusive, a eventual vontade do titular desse direito.
A lei pode prever novas atribuições ao Ministério Público, mas para isso elas devem estar de acordo com o art. 127 da Constituição Federal, que preconiza:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Pelo comando constitucional, o Ministério Público somente pode desempenhar atribuições que estejam relacionadas com a defesa:
• da ordem jurídica;
• do regime democrático;
• dos interesses sociais; e
• dos interesses individuais indisponíveis.
Logo, em um primeiro entendimento, o MP não poderia ajuizar ação de indignidade porque isso representaria tutelar interesses individuais disponíveis (herança), o que não é autorizado pelo art. 127 da CF/88.
Por outro lado, para uma segunda corrente, a Lei nº 13.532/2017 não seria inconstitucional. 
Na verdade, ela refletiria o entendimento majoritário da doutrina e a correta interpretação do art. 127 da CF/88. Isso porque o Ministério Público, ao propor ação de indignidade no caso do art. 1.814, I, do Código Civil (homicídio envolvendo o autor da herança ou seus familiares), está defendendo a ordem jurídica, um dos valores previstos no art. 127 da Constituição. É a posição, por exemplo, de Maria Berenice Dias que, mesmo antes da novidade legislativa, defendia este entendimento. Confira:
“(...) Quando o ato de indignidade constitui crime de ação pública incondicionada, possível conceder legitimação extraordinária ao agente ministerial. (...)” (DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. São Paulo: RT, 2013, p. 318).
Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses casos de indignidade, será declarada por sentença. 
· Será necessário o reconhecimento, por sentença, de uma das situações do art. 1814.
§ 1 o O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro anos, contados da abertura da sucessão.     (Redação dada pela Lei nº 13.532, de 2017) 
· O prazo é de 4 anos!
· Contado da abertura da sucessão.
· Se houver herdeiros menores, o prazo só se inicia depois que atingirem a maioridade.
§ 2 o Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público tem legitimidade para demandar a exclusão do herdeiro ou legatário.     (Incluído pela Lei nº 13.532, de 2017) 
· Alteração acima comentada.
Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão. 
· Se um herdeiro é excluído por indignidade (ou deserdado), é como se fosse pré-morto e, nesse caso, são convocados os descendentes do indigno para representá-lo (art. 1816 do CC), porque os efeitos de tal exclusão são pessoais.
· A representação, vale destacar, somente tem lugar na sucessão legítima (na linha descendente e, na colateral, em favor dos filhos de irmãos do de cujus).
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens. 
· Os efeitos vão além da não adição da herança!
Art. 1.817. São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-fé, e os atos de administração legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão; mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de demandar-lhe perdas e danos. 
· Aberta, é transmitida aos herdeiros.
· A exclusão retroage.
· A lei contempla prazo relativamente longo: 4 anos.
· Daí que possível tenham sido alienados bens.
· Prestigia-se, aqui, a boa-fé daqueles que contratam com o herdeiro.
Atenção!!!
Parágrafo único. O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e rendimentos que dos bens da herança houver percebido, mas tem direito a ser indenizado das despesas com a conservação deles. 
· Deve restituir os frutos e rendimentos que houver percebido.
Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico. 
· O Código Civil aduz que o perdão deve ser expresso, ou seja, o herdeiro deverá reabilitar o indigno no testamento ou em outro ato autêntico.  
· Segundo Fiuza (2002), a reabilitação do indigno — também chamada perdão ou remissão — não pode ser tácita. Por mais que se reconciliem o ofendido e o indigno, dando, mesmo, demonstrações públicas de convívio afetuoso, isso não basta. Só em escritura pública ou em testamento.
Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária. 
· Caso não haja reabilitação expressa, o indigno sucederá nos limites da disposição testamentária, caso o testador, ao testar, já tenha conhecimento da indignidade.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
CAPÍTULO VI – Da Herança Jacente 
· Fase antecedente à vacância.
· Sem testamento nem herdeiros legítimos notoriamente conhecidos. São arrecadados; nomeia-se curador; até a entrega a sucessores ou à vacância.
· Vacância: põe fim ao estado de jacência. A sentença que declara vagos os bens, devolve-os ao Estado, pondo fim
à imprecisão que caracteriza a situação de jacência. 
Por vezes, aberta a sucessão, não se tem notícia de nenhum sucessor, nem se descobre testamento. 
Se essa hipótese ocorrer, a herança será dita jacente. A ideia é a de que “jaz sem dono”.
Tão logo se constate que a herança é jacente, o juiz da comarca do domicílio do autor da herança deverá proceder, imediatamente, à arrecadação de todos os seus bens (art. 738 do CPC). Será nomeado um curador para guardar e administrar os bens até a sua entrega a um sucessor devidamente habilitado, ou até que se declare a vacância da herança (art. 1.819 do Código Civil e art. 739 do CPC/2015).
Ultimada a arrecadação, o art. 741 do CPC/2015 determina que o juiz mande expedir edital, convocando para a habilitação os sucessores do autor da herança, a qual deverá ser feita no prazo de seis meses contados da primeira publicação.
Descobrindo-se a existência de sucessor ou de testamenteiro em lugar certo, deverá se proceder à sua citação, sem prejuízo do edital (art. 741, § 1º, do CPC/2015).
Caso se apresente algum sucessor, espontaneamente ou em razão da citação, deverá ser aberto procedimento de habilitação (arts. 687 a 692 do CPC/2015).
Julgada a habilitação do herdeiro, ou reconhecida a qualidade do testamenteiro, a arrecadação será convertida em inventário (art. 741, § 3º, do CPC/2015).
Por outro lado, se, decorrido um ano da primeira publicação, nenhum sucessor houver se habilitado, nem houver habilitação pendente, será declarada a vacância da herança, que se tornará, então, vacante (art. 1.820 do Código Civil e art. 743 do CPC/2015). Herança vacante é aquela cujos bens estão vagos, pois não há sucessores.
Por definição, se todos os sucessores fossem conhecidos, porém renunciassem à herança, esta seria considerada jacente. Todavia, considerando desnecessário o procedimento de publicação de edital nesse caso, o art. 1.823 do Código Civil, inovando na matéria, determina que a herança será declarada desde logo vacante.
Decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens que compõem a herança vacante se incorporam ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se estiverem localizados nas respectivas circunscrições, e, se localizados em território federal, ao domínio da União (art. 1.822, segunda parte). 
Art. 1.819. Falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância. 
· Sem herdeiro nem testamento, a herança ficaria sem administrador.
· Patrimônio ficaria sem proteção.
· Para proteger os bens, determina a lei sejam arrecadados, ficando sob a guarda de um curador.
Art. 1.820. Praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão expedidos editais na forma da lei processual, e, decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que haja herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a herança declarada vacante. 
· Terminada a arrecadação e feito o inventário (arrecadação e identificação do patrimônio), passa-se a uma segunda fase: busca de herdeiros.
· Para tanto, expedidos editais: 3X com intervalos de 30 dias; isso, para que habilitem-se, em 6 meses, os sucessores do finado.
· A partir da publicação do 1º, começa a contar o prazo de 6 meses e também para a declaração de vacância, que se dará 1 ano após a publicação do 1º edital.
· O edital não será a única providência para a localização dos herdeiros: testemunhas, documentos etc.
· Decorrido 1 anos, sem herdeiro habilitado, a herança será declarada vacante. 
· OBS.: impede a declaração de vacância, a habilitação ainda pendente de julgamento.
· Se ao menos um habilitação for julgada procedente, não se configurará a vacância.
Art. 1.821. É assegurado aos credores o direito de pedir o pagamento das dívidas reconhecidas, nos limites das forças da herança. 
· Isso, no período de jacência. 
· Mediante habilitação (arts. 642 a 646, CPC).
Art. 1.822. A declaração de vacância da herança não prejudicará os herdeiros que legalmente se habilitarem; mas, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União quando situados em território federal. 
· Nos termos do art. 1820, após 1 ano do primeiro edital, a herança será declarada vacante
· O prazo para habilitação dos herdeiros é de 6 meses, após o que não poderão mais proceder à habilitação.
· Declarada a vacância, contudo, abre-se novo prazo para a habilitação dos herdeiros necessários.
· Outrossim, com a declaração de vacância, apenas a titularidade é transferida ao Ente, pois a incorporação definitiva somente após o decurso do prazo de 5 anos.
Parágrafo único. Não se habilitando até a declaração de vacância, os colaterais ficarão excluídos da sucessão. 
· A lei dispensou tratamento diferenciado aos colaterais, excluindo-os da sucessão se não se habilitarem até a declaração de vacância. 
· Logo, caso não postulem a habilitação no prazo de 6 meses da publicação do 1º edital, restarão excluídos.
Art. 1.823. Quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde logo declarada vacante. 
· A renúncia de todos os herdeiros à herança acarreta a imediata declaração de vacância.
CAPÍTULO VII – Da petição de herança 
Pode ser que, em razão do esquecimento ou do desconhecimento da existência de um herdeiro, outro sucessor assuma a posse direta da herança, acreditando ter também a posse indireta e a propriedade.
Isso pode ocorrer, por exemplo, se um filho não sabia da existência de um irmão, ou se o cônjuge havia se esquecido da existência de um filho do de cujus que há muitíssimo tempo não dava notícias. 
Nesses casos, o filho assumiria a posse de todos os bens quando, na verdade, somente lhe caberia a metade deles, e o cônjuge assumiria a posse dos bens que, em razão da ordem de vocação hereditária, não lhe caberiam.
Se isso ocorrer, o herdeiro deixado de fora da sucessão pode, em ação de petição de herança, demandar o reconhecimento do seu direito sucessório, nos termos do art. 1.824, para, então, obter a restituição da herança ou da parte dela, que lhe cabe, de quem a possua. 
Ou seja, o pedido principal da ação é a declaração da condição de herdeiro, cuja procedência implica o direito à posse e propriedade da herança.
É bastante comum que a ação de petição de herança seja ajuizada cumulada com ação declaratória de parentesco ou de filiação (ação de investigação de paternidade).
Reconhecido o direito sucessório do autor, o possuidor da herança será condenado a entregar a ele os bens hereditários a que tem direito (art. 1.826, primeira parte).
.......................
Família e Sucessões - Flávio Tartuce - janeiro de 2020 
Como inovação festejada, o Código Civil de 2002 passou a tratar da ação de petição de herança (petitio hereditatis) entre os seus arts. 1.824 a 1.828, que é a demanda que visa a incluir um herdeiro na herança, mesmo após a sua divisão. 
Conforme explicam Jones Figueirêdo Alves e Mário Luiz Delgado, trata-se de uma ação real, eis que, por força do art. 80, inc. II, do CC/2002, o direito à sucessão aberta constitui um imóvel por determinação legal (Código Civil Anotado. São Paulo: Método, 2005, p. 936). 
Por ser uma ação real, e também universal, a petição de herança não se confunde com a ação reivindicatória, que visa a um bem específico. 
A respeito do prazo para a propositura dessa demanda, a citada e antiga Súmula 149 do Supremo Tribunal Federal estabelece que "é imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança". O fundamento da prescrição é relacionado ao fato de a herança envolver direitos subjetivos de cunho patrimonial, que são submetidos a prazos prescricionais. Além disso, tem esteio na sempre alegada segurança jurídica, comumente associada à prescrição. 
O entendimento sumulado é ainda considerado majoritário,

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando