Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A Renúncia da Herança A renúncia à herança é entendida como um ato jurídico em sentido estrito, através do qual o herdeiro recusa o recebimento de sua cota-parte hereditária que apesar de ser considerada como um ato de vontade, os efeitos da renúncia à sucessão decorrem da força da Lei civil. Os efeitos jurídicos gerados pela renúncia da herança, após a manifestação expressa do herdeiro, será de caráter ex-tunc, isto é, os efeitos da renúncia retroagirão até a data de abertura da sucessão. Nesse sentido, o renunciante será considerado como se nunca houvesse herdado nenhum tipo de bem patrimonial decorrente da herança. Dessa forma, a lei permite que aqueles herdeiros, que não praticaram nenhum tipo de ato ou comportamento expresso ou tácito em relação à aceitação da herança, possam manifestar-se em relação à renúncia. A partir desse momento, o herdeiro renunciante será excluído da herança, como se nunca houvesse participado desta, sendo sua cota-parte integrada às demais cotas provenientes dos demais herdeiros. Obs! Nos casos em que o descendente realize a renúncia, os próximos descendentes de suas linhas sucessórias, isto é, os netos, também serão afetados pelo efeito da renúncia, sendo desconsiderados também da herança a ser transmitida, na medida em que o direito é proveniente do primeiro descendente. Ao proceder à realização da Renúncia não haverá a incidência de impostos tributários, haja vista que os efeitos retroativos passam a considerar o indivíduo como se este nunca tivesse recebido efetivamente a herança. Assim, se não há transferência de bens, não há logicidade em relação à cobrança do imposto ITCMD. Requisitos de validade da Renúncia Os requisitos relativos à validade e eficácia da renúncia são subdivididos em requisitos subjetivos e requisitos objetivos, devendo cada um destes ser observado para que o ato jurídico relativo à renúncia possa ser realizada de maneira válida. a) Requisitos subjetivos: os requisitos subjetivos que conferem validade ao ato de renúncia são: Capacidade civil para que o herdeiro renunciante proceda à renúncia de forma válida, é necessário que este possua plena capacidade civil ao momento de realização do ato jurídico, ou seja, é necessário que ele possua a capacidade de dispor e gozar dos direitos disponíveis frente à esfera civil. A partir do pressuposto necessário de capacidade civil, é importante mencionar que o representante legal do incapaz não poderá proceder à realização da renúncia. Isso ocorre porque, para os autos de disposição do direito de menor de idade, faz- se necessária a autorização judicial, a partir da oitiva do Ministério Público. Nesse sentido, como a renúncia à sucessão constitui-se como um ato de disposição do direito, o representante legal de menor deverá possuir uma autorização judicial para que, assim, consiga dispor do referido direito. No entanto, urge salientar que, frente aos casos em que o herdeiro maior de idade constitui procurador para realizar a disposição do direito de renúncia, esse procurador poderá realizar a renúncia pelo herdeiro, desde que através de escritura e procuração pública, haja vista que o direito à herança é considerado como um bem imóvel e, para que se disponha acerca de bem imóvel, é necessário a existência de instrumento público. Legitimidade sucessória é necessário que o indivíduo figure legitimamente como um dos herdeiros à sucessão da herança. b) Requisitos objetivos a renúncia deverá observar os requisitos objetivos para que, assim, seja considerada válida, sendo estes: A renúncia deve ser formal é necessário que a renúncia seja formalmente realizada de maneira expressa, sendo realizada através de lavratura de escritura pública ou por meio de termo na petição, que, por sua vez, deverá ser atravessada nos autos do inventário. Por ser um direito potestativo, se ocorrer através de termos no inventário, a renúncia não precisará de posterior homologação do juiz, pois produzirá efeitos tão somente através da petição atravessada nos autos do inventário. Respeito ao momento da renúncia o momento para que haja a realização da renúncia deverá ocorrer entre momento de abertura da herança até a abertura da partilha. A partir do momento em que houver a distribuição individual dos bens, o herdeiro não poderá mais realizar o ato da renúncia. Os efeitos da Renúncia a) Eficácia retro-operante isso significa que a renúncia possui efeitos ex-tunc, o que faz com que retroaja até a data de abertura da sucessão e, dessa forma, o herdeiro que se encontra renunciando será considerado como se nunca houvesse de fato herdado nada. b) Reversão do quinhão para os herdeiros de mesma classe se existirem herdeiros dentro da mesma classe hereditária a qual pertence o renunciante, haverá a reversão do quinhão deste para as demais pessoas. Se este herdeiro for herdeiro único e renunciar, se existirem herdeiros distantes na mesma classe, a cota-parte será a eles repassadas, caso não, o quinhão será transmitido aos herdeiros das demais classes. c) Não possibilidade do direito de representação na renúncia, não haverá a possibilidade de sucessão através do direito de representação. A linha sucessória do renunciante restará prejudicada com a renúncia deste, uma vez que sua cota-parte será repassada para os herdeiros de mesma classe ou de classe subsequente. A classe subsequente que receber a herança, não a receberá por direito de representação, mas sim por direito próprio, uma vez que não existem mais nenhum outros herdeiros para receberem a cota-parte do renunciante. d) Incidência da caducidade da cláusula testamentária diante de realização de renúncia de herdeiro incluído por cláusula testamentária, esta cláusula irá perder sua eficácia, ou seja, irá perder os seus efeitos diante da sucessão, dizendo-se, assim, que houve a caducidade da cláusula testamentária. Nesse caso, frente à renúncia, o bem testado não será transmitido para os demais herdeiros testamentários, mas sim, para os herdeiros legítimos. Hipótese de aceitação Indireta da Herança A hipótese de aceitação indireta da herança ocorrerá diante dos casos em que a renúncia à herança causar prejuízos aos credores do renunciante, por gerar a insolvência destes. Nesses casos, a renúncia será considerada ineficaz pelos credores, que poderão aceitar a herança nos próprios autos do inventário ou por meio de ação autônoma. Isso significa dizer que quando um herdeiro que possui dívidas com credores, realiza a renúncia à herança, esta continuará sendo válida e eficaz para este herdeiro, mesmo que tenha sido realizada somente com o intuito de evitar o pagamento dos valores devidos. No entanto, após a renúncia, sendo o patrimônio transferido para o próximo descendente, os credores passarão a deter o direito de cobrar a dívida sobre o descendente sobre o qual incidiu a transferência da herança, isto é, sobre a cota-parte que fora renunciada pelo herdeiro renunciante. Renúncia Translativa (translatícia ou in labore) X Renúncia abdicativa Na renúncia translativa, o renunciante renuncia em nome de uma pessoa específica com o objetivo de transferir sua cota-parte para um dos demais herdeiros específicos. A renúncia translativa é considerada como uma cessão de direitos hereditários e, por essa razão, é que haverá uma dupla incidência tributária, haja vista que, para haver a cessão é necessário que o renunciante primeiramente receba a herança, incidindo as taxas tributárias e, posteriormente, os tributos incidentes sobre a transmissão desta. Por sua vez, a renúncia abdicativa somente ocorre sem a especificidade de transmissão para pessoas em específico, não havendo a incidência de qualquer taxa tributária. A Cessão da Herança Cessão de herança é a alienação gratuita ou onerosa da herança a terceiro, estranho ou não ao inventário. A cessão pode ser total ou parcial,quando envolver todo o quinhão do cedente ou parte dele. A cessão da herança constitui-se como a transmissão de direitos hereditários, que será possível diante da ausência de cláusula de inalienabilidade, ou seja, a cessão da herança irá ocorrer entre a abertura da sucessão, até o momento de realização da partilha, que é o momento de atribuição dos bens em específico. Essa cessão corresponde à transmissão da cota- parte e dos efeitos patrimoniais que caberiam ao herdeiro. A cessão poderá ser gratuita ou onerosa. Nos casos em que esta constituir-se como gratuita, será equiparada à doação e, nesse ato de cessão, incidirá o imposto ITCMD, que é o imposto tributário relativo às doações. No entanto, se a cessão se constituir enquanto onerosa, haverá a equiparação a uma compra e venda. No caso em que houver a existência de bens imóveis, haverá a incidência do ITBI. Por se tratar de um bem imóvel, o direito à cessão deverá ser realizado através de escritura pública ou através de termo em inventário, que se constitui como uma petição atravessada ao inventário. A cessão sempre recairá sobre a cota- parte do herdeiro. Poderá haver a cessão de um bem específico, desde que haja a anuência dos demais coerdeiros. Pois estes precisam concordar com a incorporação do bem sobre o patrimônio do cedente, que poderá possuir, assim, o direito de dispor deste. É importante mencionar que não se transmite a condição de herdeiro, mas apenas as condições e os efeitos patrimoniais, sendo estes a transferência da posse e propriedade, bem como das ações defensivas, apenas a sub-rogação dos direitos do cedente. O Direito de prelação ou preferência do Co-herdeiro Se a cessão for de cunho oneroso, caberá o direito de preferência dos demais co-herdeiros, se a oferta desta estiver em igualdade de condições ofertadas por terceiros. Diante disso, o co- herdeiro possuirá direito de preferência, isto é, prioridade na aquisição dos efeitos patrimoniais (da cota-parte dos herdeiros), nos casos em que a oferta por ele oferecida estiver em iguais condições das ofertas remetidas por terceiro. Isso ocorre pelo fato de que, enquanto não há a realização do inventário e partilha, haverá a formação de um condomínio entre os herdeiros. Justamente por haver a relação de condomínio, é que o cedente fica obrigado a realizar, judicialmente ou extrajudicialmente, a notificação dos demais co-herdeiros, para que estes possam exercer os seus direitos de preferência. O herdeiro prejudicado, poderá ingressar com uma ação anulatória, no prazo de 180 dias da celebração do negócio jurídico firmado. O prazo é contado a partir do conhecimento do herdeiro preterido acerca da celebração do negócio, ou seja, a partir do momento de ciência da violação do direito pela parte legitimada a propor a ação.
Compartilhar