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C A P Í T U L O Patogênese da infecção bacteriana A patogênese da infecção bacteriana abrange o início do pro cesso infeccioso e os mecanismos que levam ao aparecimento dos sinais e sintomas da doença. Os fatores bioquímicos estru turais e genéticos que desempenham um papel importante na patogênese bacteriana são discutidos neste capítulo e podem ser revistos nos capítulos específicos para cada microrganismo. As bactérias patogênicas caracterizam-se por sua capacidade de disseminação, aderência e persistência, bem como invasão de células e tecidos do hospedeiro, toxigenicidade e capacidade de escapar ou sobreviver ao sistema imunológico do hospedeiro. A resistência a antimicrobianos e a desinfetantes também pode contribuir para virulência ou para capacidade do microrganis mo em causar doença. Muitas infecções causadas por bactérias geralmente tidas como patógenos são inaparentes ou assintomá ticas. Ocorrerá doença se as bactérias ou reações imunológicas à sua presença prejudicarem o hospedeiro. Os termos frequentemente empregados para descrever os aspectos da patogênese estão definidos no Glossário (ver adiante). No Glossário do Capítulo 8, encontram-se as defini ções dos termos utilizados em imunologia bem como os em pregados para descrever aspectos da resposta do hospedeiro à infecção. G LOSSÁ R I O Aderência {adesão, fixação): processo pelo qual as bactérias se fixam à superfície das células do hospedeiro. Após as bac térias terem penetrado no organismo, a aderência constitui uma etapa inicial importante no processo de infecção. Os termos aderência, adesão e fixação frequentemente são uti lizados como sinônimos. Infecção: multiplicação de um agente infeccioso no corpo. A multiplicação das bactérias que fazem parte da microbiota normal do trato gastrintestinal, da pele e assim por diante, geralmente não é considerada uma infecção. Já a multipli cação de bactérias patogênicas (p. ex., espécies de Salmo nel/a) - mesmo quando o indivíduo se mostra assintomáti co - é tida como uma infecção. Invasão: processo pelo qual bactérias, parasites animais, fun gos e vírus penetram nas células ou nos tecidos do hospe deiro e disseminam-se pelo corpo. Microbiota: microrganismos que colonizam diferentes sítios de indivíduos saudáveis. Não patógeno: microrganismo que não provoca doença; pode fazer parte da microbiota normal. Patogenicidade: capacidade que um agente infeccioso tem de provocar doença. (Ver também Virulência.) Patógeno: microrganismo capaz de causar doença. Patógeno oportunista: agente capaz de provocar doença apenas quando a resistência do hospedeiro está compro metida (i. e., quando o paciente se encontra "imunocompro metido"). Portador: indivíduo ou animal com infecção assintomática, que pode ser transmitida a outro indivíduo ou animal sus cetível. Superantígenos: toxinas que ativam o sistema imunológico se ligando diretamente à cadeia � do complexo de histo- 150 SEÇÃO Ili Bacteriologia compatibilidade principal (MHC) e ao receptor de linfócito T (T ce// receptor, TCR), assim resultando em intensa ativação policlonal de células T e na produção maciça de citocinas. Toxigenicidade: capacidade que um microrganismo tem de produzir uma toxina que contribui para o desenvolvimento de doença. IDENTIFICAÇÃO DAS BACTÉRIAS QUE CAUSAM DOENÇA Os seres humanos e os animais possuem uma microbiota normal abundante que habitualmente não provoca doença (Cap. 10), mas que atinge o equilíbrio com o hospedeiro, ga rantindo a sobrevivência, o crescimento e a propagação não apenas das bactérias, mas também do hospedeiro. Algumas bactérias que constituem importantes causas de doença cres cem comumente com a microbiota normal (p. ex., Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus). Algumas vezes, verifica-se a presença de bactérias nitidamente patogênicas (p. ex., Salmo nella typhi), porém a infecção permanece latente ou subclínica, de modo que o hospedeiro é um "portador" das bactérias. Pode ser difícil mostrar que determinada espécie bacteria na constitui a causa de uma doença específica. Em 1884, Robert Koch propôs uma série de postulados que foram amplamente aplicados para correlacionar muitas espécies bacterianas espe cíficas com determinadas doenças. Os postulados de Koch es tão resumidos no Quadro 9 .1. Virulência: capacidade quantitativa de um agente provocar doença. Os agentes virulentos causam doença quando in troduzidos no hospedeiro em pequeno número. A virulên cia envolve aderência, persistência, invasão e toxigenicida de (ver anteriormente). Os postulados de Koch continuam sendo uma base essen cial da microbiologia; no entanto, desde o fim do século XIX, constatou-se que muitos microrganismos que não preenchem os critérios dos postulados de Koch também provocam do ença. Assim, por exemplo, o Treponema pallidum (sífilis) e o Mycobacterium leprae (hanseníase) não podem ser cultivados in vitro; entretanto, existem modelos de infecção em animais com esses agentes. Outro exemplo é a Neisseria gonorrhoeae (gonorreia), para a qual não há modelo de infecção em ani mais, embora possa ser facilmente cultivada in vitro, tendo si do produzidas infecções experimentais em seres humanos que substituem o modelo animal. Em outros casos, os postulados de Koch foram satisfei tos, pelo menos em parte, ao se demonstrar a patogenicidade bacteriana em um modelo de infecção in vitro, em vez de um modelo em animal. Por exemplo, algumas formas de diarreia induzida por Escherichia coli (Cap. 15) foram defmidas pela in teração dessa bactéria com células do hospedeiro em cultura. As respostas imunológicas do hospedeiro também devem ser consideradas quando se investiga a presença de determinado QUADR0 9.1 Regras para o estabelecimento das causas das doenças infecciosas Postulados de Koch 1 . O microrganismo deve ser encontrado em todos os casos da doença em questão e sua distribuição no corpo deve estar em concordância com as lesões observadas 2. O microrganismo deve crescer em cultura pura in vitro (ou fora do corpo do hospedeiro) por diversas gerações 3 . Quando tal cultura pura for inoculada em um animal suscetível, deverá resultar no surgimento da doença típica 4. O microrganismo deve ser novamente isolado de lesões que produziram doença no modelo experimental Postulados de Koch moleculares 1 . O fenótipo ou propriedade sob investigação deve estar significativamente associado a cepas patogênicas de uma espécie e não a cepas não patogênicas 2. A inativação específica de um gene ou genes associados à virulência deve levar a uma diminuição mensurável da patogenicidade ou da virulência 3. Reversão ou substituição de um gene mutado com um gene selvagem deve levar a restauração da patogenicidade ou virulência Regras moleculares para o estabelecimento da relação micróbio-doença 1 . A sequência de ácidos nucleicos de um patógeno putativo deve estar presente na maior parte dos casos de uma doença infecciosa e preferencialmente em locais anatômicos onde o patógeno é evidente 2. A sequência de ácidos nucleicos de um patógeno putativo deve estar ausente na maior parte dos controles saudáveis. Se a sequência for detectada em controles saudáveis, ela deve estar presente com baixa prevalência quando comparada com o número de pacientes que têm a doença, e em um baixo número de cópias 3. O número de cópias de uma sequência de ácidos nucleicos associados a um patógeno deve diminuir ou tornar-se não detectável com a resolução da doença (p. ex., com um tratamento eficaz) e deve aumentar em casos de recidiva ou recorrência da doença 4. A presença de uma sequência de ácidos nucleicos associada a um patógeno em indivíduos sadios deve ajudar a prever o desenvolvimento subsequente da doença 5. A natureza do patógeno inferido a partir da análise da sequência de ácidos nucleicos deve ser condizente com as características biológicas conhecidasdos organismos relacionados com a natureza da doença. A importância de uma sequência microbiana detectada está aumentada quando o genótipo microbiano prevê a morfologia e a patologia microbianas, as características clínicas da doença e a resposta do hospedeiro microrganismo como possível causa de uma doença. Por con seguinte, a ocorrência de elevação nos títulos de anticorpos específicos durante a recuperação da doença constitui um im portante auxiliar dos postulados de Koch. A moderna genética microbiana abriu novas fronteiras pa ra o estudo das bactérias patogênicas e sua diferenciação das não patogênicas. A clonagem molecular possibilitou aos pes quisadores isolar e modificar genes de virulência específicos, estudando-os em modelos de infecção. A capacidade de estu dar genes associados à virulência levou à proposição dos pos tulados moleculares de Koch, resumidos no Quadro 9 .1. O crescimento de alguns patógenos em cultura é difícil ou mesmo impossível, e por esse motivo não é possível estabelecer a causa das doenças a eles associadas com base nos postulados de Koch ou nos postulados moleculares de Koch. Utiliza-se a reação em cadeia da polimerase para amplificar as sequências de ácidos nucleicos específicas do microrganismo isoladas de tecidos ou líquidos do hospedeiro, empregadas para a identi ficação dos microrganismos infectantes. As diretrizes molecu lares para o estabelecimento da causa da doença microbiana estão relacionadas no Quadro 9.1. Essa abordagem foi utilizada para o estabelecimento das causas de várias doenças, como a doença de Whipple (Tropheryma whipplei), angiomatose baci lar (Bartonella henselae), erliquiose monocítica humana (Ehr lichia chaffeensis), síndrome pulmonar por hanta-vírus (vírus Sin Nombre) e sarcoma de Kaposi (herpes-vírus humano 8). A análise da infecção e da doença mediante a aplicação de certos princípios, como os postulados de Koch, leva à classifi cação das bactérias como patógenos, patógenos oportunistas e não patógenos. Algumas espécies bacterianas são sempre con sideradas patogênicas, e sua presença é anormal. Como exem plos podemos citar o Mycobacterium tuberculosis (tuberculose) e Yersinia pestis (peste), bactérias que satisfazem facilmente os critérios dos postulados de Koch. Outras espécies fazem parte comumente da microbiota normal de seres humanos (e ani mais), mas também podem, com frequência, causar doença. Assim, por exemplo, a E. coli pertence à microbiota gastrintes tinal dos seres humanos sadios, mas também representa uma causa comum das infecções do trato urinário, diarreia do via jante e outras doenças. As cepas da E. coli que provocam doença são diferençadas daquelas que não o fazem pela determinação ( 1) da existência ou não de virulência em animais e modelos de infecção in vitro, bem como (2) da constituição genética significativamente associada à produção da doença. Outras bactérias (p. ex., espécies de Pseudomonas, Stenotrophomonas maltophilia e muitas leveduras e bolores) só provocam doença em indivíduos imunodeprimidos ou debilitados, e constituem patógenos oportunistas. TRANSMISSÃO DA INFECÇÃO As bactérias (e outros microrganismos) podem se adaptar a uma variedade de ambientes que incluem fontes externas co mo: solo, água e matéria orgânica ou em ambientes internos encontrados nos insetos vetores, animais e em seres humanos, onde normalmente habitam e subsistem. Assim, dotadas des sa capacidade, as bactérias asseguram sua sobrevida e aumen tam a possibilidade de transmissão. Ao produzirem infecção assintomática ou doença leve, em vez de levarem à morte do CAPÍTULO 9 Patogênese da infecção bacteriana 151 hospedeiro, os microrganismos que normalmente habitam em seres humanos aumentam a possibilidade de transmissão de uma pessoa para outra. Algumas bactérias que costumam provocar doença em se res humanos habitam principalmente em animais e infectam incidentalmente os seres humanos. Por exemplo, as espécies de Salmonella e Campylobacter infectam os animais, sendo trans mitidas aos seres humanos através de produtos alimentares. Outras bactérias produzem infecções de modo inadvertido em seres humanos, constituindo um erro no ciclo de vida normal do microrganismo; nesses casos, os microrganismos não se adaptam aos seres humanos, e a doença que provocam pode ser grave. Por exemplo, a Y. pestis (peste) tem um ciclo de vida bem estabelecido em roedores e pulgas de roedores, e a trans missão pelas pulgas a seres humanos é inadvertida; o Bacillus anthracis (antraz) é encontrado no meio ambiente, infecta oca sionalmente animais e é transmitido aos seres humanos por certos produtos de animais infectados, como pelos. As espé cies de Clostridium são onipresentes no meio ambiente, e são transmitidas aos seres humanos por ingestão (p. ex., gastrente rite por e. perfringens e e. botulinum [botulismo] ), ou quando ocorre contaminação de feridas pelo solo (p. ex., C. perfringens [gangrena gasosa] e C. tetani [tétano]). Tanto Bacillus anthra cis quanto as espécies de Clostridium formam esporos que pro tegem o ácido nucleico de diferentes fatores ambientais hostis como radiação ultravioleta, dessecação, detergentes químicos e alterações de pH. Esses esporos asseguram a sobrevivência do material genético em ambientes externos incluindo os ali mentos ingeridos pelo ser humano, que após sua ingestão ou inoculação germinam retornando ao estado vegetativo meta bolicamente ativo do patógeno. As manifestações clínicas das doenças (p. ex., diarreia, tosse, corrimento vaginal) causadas por microrganismos fre quentemente promovem a transmissão dos agentes. A seguir são apresentados alguns exemplos de síndromes clínicas e o modo pelo qual aumentam a transmissão das bactérias pato gênicas: o Vibrio cholerae pode causar diarreia volumosa, que pode contaminar a água do mar e a água doce; por conseguinte, tanto a água potável quanto os frutos do mar, como ostras e caranguejos, podem ser contaminados; a ingestão de água ou frutos do mar contaminados pode provocar infecção e doença. De modo semelhante, a contaminação dos alimentos com água de esgoto que contenha E. coli, que causa diarreia, resulta em transmissão da bactéria. O M. tuberculosis (tuberculose) infec ta naturalmente apenas os seres humanos, provocando doença respiratória com tosse e produção de perdigotos, o que resulta em transmissão da bactéria de uma pessoa para outra. Muitas bactérias são transmitidas de uma pessoa para outra por meio das mãos. Uma pessoa portadora de S. aureus na parte anterior das narinas pode esfregar o nariz, contaminar as mãos com os estafilococos e disseminá-los para outras partes do corpo ou para outra pessoa, resultando em infecção. Muitos patógenos oportunistas que provocam infecções hospitalares são transmi tidos de um paciente para outro por meio das mãos de membros da equipe hospitalar. Por conseguinte, a lavagem das mãos cons titui um importante componente no controle das infecções. As mais frequentes portas de entrada das bactérias pato gênicas são os locais do corpo nos quais as mucosas entram em contato com a pele: vias respiratórias (superiores e inferiores), trato gastrintestinal (principalmente a boca), trato genital e 152 SEÇÃO Il i Bacteriologia vias urinárias. As áreas anormais das mucosas e da pele (p. ex., cortes, queimaduras e outras lesões) também são portas de en trada frequentes. A pele e as membranas mucosas constituem o mecanismo de defesa primária contra a infecção. Para causar doença, os patógenos precisam vencer essas barreiras. O PROCESSO INFECCIOSO No corpo, as bactérias que causam doenças têm de se aderir às células do hospedeiro, geralmente às células epiteliais. Estabele cido um local primário de infecção, as bactérias multiplicam-se e disseminam-se diretamente, através dos tecidos ou do sistema linfático, para a corrente sanguínea. Essa infecção (bacteriemia) pode ser transitória ou persistente,e permite que as bactérias se propaguem amplamente pelo corpo até alcançarem os tecidos particularmente apropriados para a sua multiplicação. A pneumonia pneumocócica fornece um exemplo do pro cesso infeccioso. O S. pneumoniae pode ser cultivado a partir de material da nasofaringe de 5 a 40% dos indivíduos sadios. Em certas ocasiões, os pneumococos da nasofaringe são aspi rados para os pulmões, o que é mais comum nos indivíduos debilitados ou em determinadas situações, como, por exem plo, o coma, quando os reflexos normais da tosse e do vômito encontram-se diminuídos. Verifica-se o desenvolvimento de infecção nas vias respiratórias terminais dos pulmões de in divíduos que não produzem anticorpos protetores contra o antígeno capsular pneumocócico. A multiplicação dos pneu mococos e a consequente inflamação resultam em pneumonia. Os pneumococos penetram nos vasos linfáticos dos pulmões e dirigem-se para a corrente sanguínea. Entre 10 e 20% dos in divíduos com pneumonia pneumocócica apresentam bacterie mia por ocasião do diagnóstico de pneumonia. Quando ocorre bacteriemia, os pneumococos podem disseminar-se para locais secundários de infecção (p. ex., líquido cerebrospinal, valvas cardíacas, espaços articulares). As principais complicações da pneumonia pneumocócica consistem em meningite, artrite séptica e raramente endocardites. O processo infeccioso no cólera envolve a ingestão de V. cholerae, atração quimiotática das bactérias para o epitélio in testinal, motilidade das bactérias por meio de um único flagelo polar e penetração na camada mucosa da superfície intestinal. A aderência do V. cholerae à superfície das células epiteliais é me diada por pili e, possivelmente, por outras adesinas. A produção da toxina colérica resulta em fluxo de cloreto e água no lúmen intestinal, provocando diarreia e desequilíbrio eletrolítico. A GENÔMICA E A PATOGENICIDADE BACTERIANA As bactérias são haploides ( Cap. 7) e limitam as interações genéticas passíveis de alterar seus cromossomos e de afetar potencialmente sua adaptação e sua sobrevivência em nichos ambientais específicos. A natureza clonal das bactérias patogênicas Importante consequência da conservação dos genes cromos sômicos nas bactérias é o fato de os microrganismos serem clonais. Para a maioria dos patógenos, existem apenas um ou alguns tipos clonais que se disseminam no mundo durante certo período. Por exemplo, a meningite meningocócica epi dêmica do sorogrupo A ocorre na Ásia, no Oriente Médio e na África, e, em certas ocasiões, propaga-se para a Europa Se tentrional e para as Américas. Em várias ocasiões, ao longo de várias décadas, observou-se o aparecimento de tipos clonais isolados da Neisseria meningitidis do sorogrupo A em uma região geográfica e, posteriormente, em outras regiões, resul tando em doença epidêmica. Existem muitos tipos do Haemo philus influenzae, mas apenas o clone do H. influenzae tipo b costuma estar associado à ocorrência de doença*. Existem dois tipos clonais da Bordetella pertussis, ambos associados a doen ça. De modo semelhante, a S. Typhi (causadora da febre tifoi de) possui dois tipos clonais. Entretanto, há mecanismos que a bactéria utiliza, ou que foram usados há muito tempo, para transmitir genes de virulência de uma para outra. Elementos genéticos móveis Os mecanismos primários de troca de informação genética entre bactérias incluem a transformação natural e a trans missão de elementos genéticos móveis tais como plasmídeos, transpósons e bacteriófagos (frequentemente referidos como "fagos"). A transformação ocorre quando o DNA de um or ganismo é liberado para o ambiente e incorporado por um organismo diferente capaz de reconhecer e de se ligar a esse DNA. Em outros casos, os genes que codificam muitos fa tores de virulência bacteriana são carreados por plasmídeos ou fagos. Plasmídeos são estruturas extracromossomiais que apresentam capacidade de autorreplicação e transpósons são segmentos de DNA que podem se mover de um ponto para outro na fita de DNA. Esses dois fenômenos podem resul tar em recombinação entre o DNA extracromossômico e o cromossômico (recombinação ilegítima ou não homóloga; Cap. 7). Se essa recombinação se verifica, os genes que co dificam os fatores de virulência podem tornar-se cromos sômicos. Finalmente, vírus bacterianos ou fagos são outros mecanismos pelos quais o DNA pode ser transferido de um organismo para outro. A transferência desses elementos ge néticos entre membros de uma mesma espécie ou, menos comumente, interespécies pode resultar em transferência de fatores de virulência, incluindo genes de resistência a antimi crobianos. Alguns exemplos de fatores de virulência codifica dos em fagos ou plasmídeos estão no Quadro 9.2. Ilhas de patogenicidade Grandes grupos de genes associados à patogenicidade e locali zados no cromossomo bacteriano são chamados de ilhas de pa togenicidade (PAI - pathogenicity islands ). Existem grandes grupos de genes organizados, com tamanho entre 10 e 200 kb. As principais propriedades das PAI são as seguintes: possuem um ou mais genes de virulência; estão presentes no genoma dos * N. de T. Embora o H. influenzae do tipo b seja o principal patógeno do gênero, a implementação das vacinas conjugadas no esquema da vacinação em diferentes países está levando a pressão seletiva e consequentemente, um maior isolamento de outros biotipos não 1 e de outros sorotipos como o a, além de amostras de H. influenzae não tipáveis (HiNT) associadas a infecções como otite média e pneumonias. CAPÍTULO 9 Patogênese da infecção bacteriana 153 QUADRO 9.2 Exemplos de fatores de virulência codificados por genes em elementos genéticos móveis representam estruturas em mosaico com componentes adqui ridos em momentos diferentes. Em conjunto, as propriedades das PAI sugerem que se originaram de transferência gênica a partir de diferentes espécies. Alguns exemplos de PAI dos fato res de virulência encontram-se no Quadro 9.3. Gênero/Espécie Codificados por plasmídeo Escherichia coli Escherichia coli Escherichia coli • • e espec1es de Shigella Bacillus anthracis Codificados por fago Clostridium botulinum Corynebacterium diphtheriae Vibrio cholerae Fator de virulência e doença Enterotoxinas termoestáveis e termolábeis que causam diarreia Hemolisina (citotoxina) de doença invasiva e infecções do trato . , . unnano Fatores de aderência e produtos gênicos envolvidos em invasão de mucosas Cápsula, essencial para virulência (em um plasmídeo). Fator edema, fator letal e antígeno protetor são todos essenciais para virulência Fator de edema, fator letal, antígeno protetor, todos essenciais para virulência (em outro plasmídeo) Toxina botulínica que causa paralisia Toxina diftérica que inibe a síntese de proteínas humanas Toxina do cólera, que pode causar diarreia aquosa grave REGULAÇÃODOSFATORESDEVIRULÊNCIA BACTERIANOS As bactérias patogênicas (e outros patógenos) adaptaram-se tanto ao estado saprofítico quanto ao estado de vida livre, pos sivelmente a ambientes extracorporais, bem como ao hospe deiro humano. Em seu processo de adaptação, os patógenos preservaram suas necessidades e seus produtos metabólicos. Desenvolveram complexos sistemas de transdução de sinais para regular os genes importantes relacionados com a viru lência. Os sinais ambientais frequentemente controlam a ex pressão dos genes de virulência. Os sinais comuns consistem em temperatura, disponibilidade de ferro, osmolalidade, fase de crescimento, pH e íons específicos (p. ex., Ca2+) ou fatores nutrientes. Nos parágrafos que se seguem são apresentados al guns exemplos. O gene da toxina diftérica do Corynebacterium diphtheriae é transportado por bacteriófagos temperados. A toxina só é produzida por cepas lisogenizadas pelos fagos. A produção de toxina aumenta acentuadamente quando C. diphtheriae cresce em um meio com baixo conteúdo de ferro.membros patogênicos de uma espécie; são de grande tamanho; geralmente possuem um conteúdo de guanina mais citosina (G + C) diferente do restante do genoma bacteriano; estão nor malmente associadas a genes do RNAt; são geralmente encon tradas com partes do genoma associado a elementos genéticos móveis; com frequência apresentam instabilidade genética e A expressão dos genes de virulência de B. pertussis aumenta quando as bactérias crescem a 37ºC, mas é suprimida a tempe raturas mais baixas ou na presença de altas concentrações de sulfato de magnésio ou ácido nicotínico. Os fatores de virulência de V. cholerae são regulados em múltiplos níveis e inúmeros fatores ambientais. A expressão da toxina colérica é maior em pH de 6,0 do que em pH de 8,5, e também é maior a 30ºC do que a 37ºC. QUADRO 9.3 Alguns exemplos do elevado número de ilhas de patogenicidade (PAI) em patógenos humanos Gênero/Espécie Escherichia coli Escherichia coli Escherichia coli (EHEC) Salmonella typhimurium Yersinia pestis Vibrio cholerae EI Tor O 7 Staphylococcus aureus Staphylococcus aureus Enterococcus faecalis PAI, ilha de patogenicidade. SPI, ilha de patogenicidade de Salmonella. HPI, ilha de alta patogenicidade. VPI, ilha de patogenicidade de Vibrio. SCC, cassete cromossômico estafilocócico mec. Nome da PAI PAI 153611536 PAI IJ96 01 57 SPl-1 HPl/pgm VPl-1 SCC mec SaPll NPm SaPI, ilha de patogenicidade de Staphylococcus aureus. NP, não protease. Características de virulência Alfa hemolisina, fímbrias, aderências, em infecções do trato urinário Alfa hemolisina, pilus P, em infecções do trato urinário Toxina de macrófagos em E. coli êntero-hemorrágica (EHEC) Invasão e destruição das células hospedeiras, diarreia Genes que aumentam a captação de ferro Neuraminidase, utilização de aminoaçúcares Resistência a meticilina e outros antibióticos Toxina 1 da síndrome do choque tóxico, enterotoxina Citolisina, formação de biofilme 154 SEÇÃO Ili Bacteriolog ia A osmolalidade e a composição dos aminoácidos também são importantes. Até 20 outros genes do V. cholerae são regula dos de maneira semelhante. Y. pestis produz uma série de plasmídeos de virulência que codificam determinadas proteínas, uma das quais é uma fra ção antifagocítica da proteína capsular que resulta em função antifagocítica. Esta proteína tem sua expressão máxima entre 35 e 37ºC, a temperatura do hospedeiro, e minimamente entre 20 e 28ºC, que corresponde à temperatura da pulga, na qual a atividade antifagocítica não se faz necessária. A regulação dos outros fatores de virulência em espécies de Yersinia também é influenciada por fatores ambientais. A motilidade das bactérias permite sua disseminação e multi plicação em seus nichos ambientais ou nos indivíduos. A Yersinia enterocolitica e a Listeria monocytogenes são comuns no ambien te em que a motilidade se torna importante para essas bactérias. Presumivelmente, a motilidade não é importante na patogênese das doenças causadas por essas espécies. A Y. enterocolitica é mó vel quando cresce a 25ºC, mas não quando cresce a 37ºC. De mo do semelhante, a Listeria é móvel quando cresce a 25ºC e imóvel ou com motilidade mínima quando cresce a 37ºC. FATORES DE VIRULÊNCIA BACTERIANOS Muitos fatores determinam a virulência bacteriana ou a capaci dade de provocar infecção e doença. Fatores de aderência Após as bactérias penetrarem no hospedeiro, precisam aderir as células de um tecido. Se não conseguirem fazê-lo, serão eliminadas pelo muco e por outros líquidos que banham a superfície tecidual. A aderência, que constitui apenas uma etapa no processo infeccioso, é seguida pelo desenvolvimento de microcolônias e por etapas subsequentes na patogênese da infecção. As interações entre as bactérias e as superfícies celulares dos tecidos no processo de aderência são complexas. Diversos fatores desempenham importantes papéis: a hidrofobicidade superficial e a carga efetiva da superfície; as moléculas de ligação nas bacté rias (ligantes) e interações dos receptores das células do hospe deiro. As bactérias e células do hospedeiro geralmente possuem cargas negativas na superfície e, portanto, forças eletrostáticas repulsivas, superadas por interações hidrofóbicas e outras mais específicas entre as bactérias e as células do hospedeiro. Em ge ral, quanto mais hidrofóbica for a superfície da célula bacteria na, maior será sua aderência à célula do hospedeiro. Diferentes cepas de bactérias de uma mesma espécie podem variar bastante quanto a suas propriedades superficiais hidrofóbicas e sua capa cidade de aderir às células do hospedeiro. As bactérias também possuem moléculas de superfície espe cíficas que interagem com as células do hospedeiro. Muitas são dotadas de pili ou fímbrias, apêndices semelhantes a "pelos" que se estendem a partir da superfície da célula bacteriana e ajudam a mediar a aderência das bactérias à superfície das células do hos pedeiro. Por exemplo, algumas cepas da E. coli possuem pili tipo l, que aderem a receptores de células epiteliais; a aderência pode ser bloqueada in vitro pela adição de n-manose ao meio. As E. coli que causam infecções do trato urinário não costumam exibir aderência mediada pela n-manose*, mas possuem pili P, que se fi xam a uma porção do antígeno de grupo sanguíneo P; a estrutura de reconhecimento mínima é o dissacarídeo a-n-galactopiranosil ( 1 a 4)-�-d-galactopiranosídeo (adesão de ligação GAL-GAL). As amostras de E. coli, que provocam doenças diarreicas (ver Cap. 15), exibem aderência mediada por diferentes tipos de pili (fírnbrias) em células epiteliais do intestino. Os tipos pili e os seus mecanismos moleculares específicos de aderência são diferentes, dependendo da cepa de E. coli que induz a diarreia. Outros mecanismos específicos de ligantes-receptores estão envolvidos na aderência das bactérias às células do hospedeiro, ilustrando os diversos mecanismos empregados pelas bactérias. Os estreptococos do grupo A (Streptococcus pyogenes) (Cap. 14) também possuem apêndices filiformes, denominados fímbrias, que se estendem a partir da superfície celular. Nas fírnbrias, são encontrados o ácido lipoteicoico, a proteína F e a proteína M. O ácido lipoteicoico e a proteína F induzem a aderência dos es treptococos às células epiteliais bucais, mediada pela fibronecti na, que atua como molécula receptora da célula do hospedeiro. A proteína M atua como molécula antifagocítica e como um dos principais fatores de virulência.Os anticorpos dirigidos contra os ligantes bacterianos específicos que promovem a aderência (p. ex., pili e ácido lipoteicoico) podem bloquear a aderência às células do hospedeiro e, assim, protegê-lo de infecção. Após a aderência, mudanças conformacionais ocorrem na célula hospedeira provocando alterações do citoesqueleto de actina, resultando na endocitose do microrganismo pela célula. Algumas vezes, essas adesinas após promoverem a aderência ativam genes de virulência associados à invasão ou outras mu danças patogênicas descritas adiante. Invasão das células e dos tecidos do hospedeiro Para muitas bactérias que causam doença, a invasão do epitélio do hospedeiro é essencial para o processo infeccioso. Algumas bactérias (p. ex., espécies de Salmonella) invadem os tecidos através das junções existentes entre as células epiteliais. Outras bactérias (p. ex., espécies de Yersinia, N. gonorrhoeae, Chla mydia trachomatis) invadem tipos específicos de células epite liais do hospedeiro, podendo, subsequentemente, penetrar nos tecidos. No interior da célula do hospedeiro, as bactérias podem permanecer encerradas em um vacúolo constituído pela mem brana celular do hospedeiro, ou a membrana do vacúolo pode dissolver-se, permitindo a dispersão das bactérias no citoplasma. Algumas bactérias (p. ex., espécies de Shigella) multiplicam-se no interior da célula do hospedeiro, enquanto outras, não. O termo invasãocostuma ser utilizado para descrever a en trada das bactérias nas células do hospedeiro, implicando um * N. de T. Na realidade, as fímbrias do tipo 1 (manose sensível) desempe nham diferentes funções importantes no processo de patogenicidade das amostras de E. coli uropatogênica (UPEC). As fímbrias do tipo 1 se ligam às glicoproteínas uroteliais ricas em manose (uroplaquinas Ia e ilia), atra vés da subunidade frmH, que funciona como adesina e está localizada na ponta da fímbria. Esta interação resulta na invasão e na apoptose das célu las uroteliais. As fímbrias do tipo l, juntamente com as fímbrias P também atuam em sinergia facilitando a colonização renal que pode resultar em obstrução do néfron. Além disso, a proteína Tamm-Horsfall (THP), pro duzida por células renais é liberada na urina humana e pode atuar como um receptor solúvel para fimH, obstruindo a interação célula-hospedeiro e limitando a capacidade de UPEC em colonizar o trato urinário. papel ativo para os microrganismos e um papel passivo para as células do hospedeiro. Em muitas infecções, as bactérias produ zem fatores de virulência que influenciam as células do hospedei ro, induzindo-as a ingerir as bactérias. As células do hospedeiro desempenham um papel muito ativo nesse processo. Em geral, a produção de toxinas e outras propriedades de vi rulência são independentes da capacidade das bactérias de inva dir células e tecidos. Por exemplo, Corynebacterium diphtheriae é capaz de invadir o epitélio da nasofaringe e provocar faringite sintomática mesmo quando as cepas de C. diphtheriae não são toxigênicas. Estudos in vitro com células em cultura de tecido ajudaram a caracterizar os mecanismos de invasão de alguns patógenos; todavia, os modelos in vitro não fornecem necessariamente um quadro completo do processo de invasão. A compreensão global do processo, como ocorre na infecção adquirida natu ralmente, exigiu o estudo de mutantes obtidos por engenharia genética bem como sua capacidade de infectar animais e seres humanos suscetíveis. Por conseguinte, a compreensão da in vasão das células eucarióticas por bactérias exige que seja sa tisfeita grande parte dos postulados de Koch e dos postulados moleculares de Koch. Os parágrafos seguintes fornecem exem plos de invasão bacteriana de células do hospedeiro como parte do processo infeccioso. As espécies de Shigela aderem às células do hospedeiro in vitro. Em geral, são utilizadas células HeLa, que consistem em células indiferenciadas não polarizadas obtidas de um carcino ma cervical. A aderência provoca a polimerização da actina na porção adjacente da célula HeLa, o que induz a formação de pseudópodos pelas células HeLa com a consequente ingestão das bactérias. A aderência e a invasão são mediadas, pelo menos em parte, por produtos de genes localizados em um grande plasmí deo comum a muitas Shigelas. Inúmeras proteínas, inclusive os antígenos do plasmídeo de invasão (IpA-D, invasion plasmid antigens), contribuem para o processo. No interior das células HeLa, as Shigelas são liberadas ou escapam da vesícula fagocíti ca, multiplicando-se no citoplasma. A polimerização da actina impulsiona os microrganismos para o interior de uma célula HeLa e de uma célula para outra. ln vivo, as Shigelas aderem a integrinas na superfície das células M nas placas de Peyer, e não às células de absorção polarizadas da mucosa. Normalmente, as células M selecionam antígenos e os apresentam aos macrófa gos na submucosa. As Shigelas são fagocitadas pelas células M, passam através delas e escapam à ação dos macrófagos. As Shi gelas situadas no interior das células M e dos macrófagos podem matar essas células por ativação do processo de morte celular (apoptose). As Shigelas disseminam-se pelas células adjacentes da mucosa de modo semelhante ao modelo de invasão celular in vitro, por polimerização da actina, que impulsiona a bactéria. Com base em estudos que utilizaram células in vitro, parece que o processo de aderência-invasão da Yersinia enterocoliti ca assemelha-se ao da Shigella. A Yersinia adere à membrana celular do hospedeiro e induz a projeção de extensões proto plasmáticas. Em seguida, as bactérias são ingeridas pela célula do hospedeiro, com a formação de vacúolos; posteriormente, a membrana do vacúolo se dissolve. A invasão aumenta quando as bactérias são cultivadas a 22ºC mais do que a 37ºC. Após a penetração da Yersinia na célula, a membrana vacuolar dis solve-se, e as bactérias são liberadas no citoplasma. ln vivo, acredita-se que as espécies de Yersinia possam aderir às células CAPÍTULO 9 Patogênese da infecção bacteriana 155 M das placas de Peyer e invadi-las em vez de fazê-lo nas células mucosas polarizadas de absorção, a exemplo da Shigella. A L. monocytogenes presente no ambiente é ingerida nos alimentos. Presumivelmente, as bactérias aderem à mucosa intestinal, invadem -na, alcançam a corrente sanguínea e disse minam-se. A patogênese desse processo foi estudada in vitro. L. monocytogenes adere aos macrófagos e a células intestinais indiferenciadas cultivadas, invadindo-os rapidamente. As es pécies de Listeria induzem a sua própria ingestão pelas célu las do hospedeiro. Uma proteína, a internalina, desempenha um papel primordial em tal processo. O processo de ingestão, movimento no interior da célula e deslocamento entre células, exige a polimerização da actina para impulsionar as bactérias, como no caso da Shigella. Legionella pneumophila infecta os macrófagos pulmonares, provocando pneumonia. A aderência de Legionella ao macró fago induz a formação de um pseudópodo longo e delgado que, em seguida, se enrola ao redor da bactéria, formando uma vesícula (fagocitose por enrolamento). A vesícula permane ce intacta; a fusão do fagolisossomo é inibida; e as bactérias multiplicam-se no interior da vesícula. N. gonorrhoeae utiliza pili como adesinas primárias e pro teínas associadas à opacidade (Opa) como adesinas secundá rias às células do hospedeiro. Certas proteínas Opa medeiam a aderência das bactérias às células polimorfonucleares. Alguns gonococos sobrevivem após fagocitose por essas células. Jun tos, os pili e as proteínas Opa aumentam a invasão das células cultivadas in vitro. Em culturas de tuba uterina (de Falópio), os gonococos aderem às microvilosidades das células não ci liadas e parecem induzir a sua ingestão por essas células. Os gonococos multiplicam-se no interior da célula e migram para o espaço subepitelial por um processo desconhecido. Toxinas Em geral, as toxinas produzidas por bactérias são classificadas em dois grupos: exotoxinas, e endotoxinas. As exotoxinas são proteínas frequentemente excretadas pela célula bacteriana. Contudo, algumas exotoxinas se acumulam no interior do ci tosol e são injetadas diretamente no interior da célula hospe deira ou são liberadas durante lise celular. As endotoxinas são moléculas lipídicas que são componetes da membrana da cé lula bacteriana. O Quadro 9.4 traz as principais características dos dois grupos. A. Exotoxinas Muitas bactérias gram-positivas e gram-negativas produzem exotoxinas de considerável importância clínica. Algumas des sas toxinas desempenharam importantes papéis na história mundial. Por exemplo, o tétano causado pela toxina do C. te tani matou até 50.000 soldados das forças do Eixo na Segunda Guerra Mundial; entretanto, as forças dos Aliados imunizaram os soldados contra tétano, de modo que apenas um número muito pequeno morreu por essa doença. Foram desenvolvidas vacinas para algumas das doenças mediadas por exotoxinas; tais vacinas continuam sendo importantes na prevenção de doenças. As vacinas - denominadas toxoides - são prepara das a partir das exotoxinas, modificadas de modo a perder sua toxicidade. Muitas exotoxinas consistem nas subunidades A e B. Em geral, a subunidade B medeia a aderência do complexo 156 SEÇÃO Ili Bacteriologia QUADRO 9.4 Características das exotoxinas eendotoxinas (lipopolissacarídeos) Exotoxinas Excretadas pela célula viva; altas concentrações em meio líquido Produzidas por bactérias gram-positivas e gram-negativas Polipeptídeos, com massa molecular de 1 0,000 a 900,000 Relativamente instáveis; com frequência, a toxicidade é rapidamente destruída por aquecimento a temperaturas acima de 60º( Altamente antigênicas; estimulam a formação de altos títulos de antitoxina. A antitoxina neutraliza a toxina Convertidas em toxoides não tóxicos e antigênicos por formalina, ácidos, aquecimento entre outros métodos. Os toxoides são usados para imunização (p. ex., toxoide tetânico) Altamente tóxicas; fatal para animais em microgramas ou menos Geralmente ligadas a receptores específicos em células Em geral, não provocam febre no hospedeiro Frequentemente controladas por genes extracromossômicos (p. ex., plasmídeos) da toxina a uma célula do hospedeiro e ajuda na penetração da exotoxina no interior da célula. A subunidade A é que for nece a atividade tóxica. A seguir, são apresentados exemplos de alguns mecanismos patogênicos associados a exotoxinas. As toxinas de bactérias específicas são discutidas nos capítulos de dicados a essas bactérias. C. diphtheriae é um bastonete gram-positivo capaz de crescer nas mucosas das vias respiratórias superiores ou em pequenas feridas cutâneas (Cap. 12). As cepas de C. diphtheriae que trans portam um corinebacteriófago lisogênico temperado (fago-� ou fago-w) com o gene estrutural da toxina são toxigênicas e produzem toxina diftérica, causando difteria. Muitos fatores regulam a produção da toxina; quando a disponibilidade de fer ro inorgânico constitui o fator limitante da velocidade de cres cimento, ocorre a máxima produção de toxina. A molécula de toxina é secretada em forma de molécula polipeptídica isolada (massa molecular [MM], 62,000). Essa toxina nativa é degrada da enzimaticamente em dois fragmentos, A e B, ligados entre si por uma ponte dissulfeto. O fragmento B (MM, 40,700) liga-se a receptores específicos da célula do hospedeiro e facilita a entrada do fragmento A (MM, 21,150) no citoplasma. O fragmento A inibe o fator de alongamento da cadeia peptídica EF-2 ao catali sar uma reação que retira um radical adenosina difosfato ribosil da molécula de NAD e o transfere para o EF-2. Com o complexo inativo de difosfato de adenosina ribose-EF-2 ocorre a parada da síntese proteica que interrompe as funções fisiológicas normais da célula. A toxina diftérica é muito potente. o e. tetani é um bastonete gram-positivo anaeróbio que provoca o tétano (Cap. 11). O C. tetani do ambiente contamina feridas, e os esporos germinam no ambiente anaeróbio do teci do desvitalizado. Com frequência, a infecção é insignificante e não se mostra clinicamente aparente. As formas vegetativas do C. tetani produzem a toxina tetanospasmina (MM, 150.000), Endotoxinas Parte integrante da parede celular de bactérias gram-negativas. Liberadas com a morte bacteriana e em parte durante o crescimento. Pode não ser necessário que sejam liberadas para terem atividade biológica Encontradas somente em bactérias gram-negativas Lipopolissacarídeos complexos. A porção lipídeo A provavelmente é responsável pela toxicidade Relativamente estáveis; resistem ao aquecimento a temperaturas acima de 60ºC por horas sem perda da toxicidade Fracamente imunogênicas; anticorpos são antitóxicos e protetores. A relação entre títulos de anticorpos e proteção contra doenças é menos nítida do que com exotoxinas Não convertidas em toxoides Moderadamente tóxicas; fatais para animais em dezenas a centenas de microgramas Não possuem receptores específicos em células Em geral causam febre no hospedeiro por l iberação de interleucina 1 e outros mediadores Síntese dirigida por genes cromossômicos clivada por uma protease bacteriana em dois peptídeos (MM, 50.000 e MM, 100.000) ligados por uma ponte dissulfeto. Ini cialmente, a toxina liga-se a receptores existentes nas membra nas pré-sinápticas dos neurônios motores. Em seguida, migra pelo sistema de transporte axônico retrógrado pelos corpos ce lulares desses neurônios até a medula espinal e o tronco encefá lico. A toxina difunde-se nas terminações de células inibitórias, inclusive interneurônios glicinérgicos e neurônios secretores do ácido y-aminobutírico (GABA) do tronco encefálico. A to xina degrada a sinaptobrevina, uma proteína necessária para li gar as vesículas neurotransmissoras à membrana pré-sináptica. A liberação da glicina inibitória e do GABA é bloqueada, po rém os neurônios motores não são inibidos. Em consequência ocorre paralisia espástica. Quantidades extremamente peque nas da toxina podem ser letais para os seres humanos. O tétano é uma doença totalmente passível de prevenção em indivíduos com sistema imunológico normal, mediante a imunização com toxoide tetânico. C. botulinum provoca botulismo. Trata-se de um microrga nismo gram-positivo e formador de esporos encontrado no solo ou na água, e que pode crescer em alimentos (p. ex., enlatados e pacotes embalados a vácuo) se o ambiente for apropriadamente anaeróbio. Produz uma toxina extremamente potente (a mais potente que se conhece), mas termolábil, sendo, portanto, des truída por aquecimento. Existem 7 tipos sorológicos distintos de toxina. Os tipos A, B, E e F estão mais comumente associados à doença humana. A toxina assemelha-se muito à toxina tetâni ca, com a clivagem de uma proteína com MM de 150.000 dál tons (Da) em duas proteínas com MM de 100.000 Da e MM de 50.000 Da ligadas por uma ponte dissulfeto. A toxina botulínica é absorvida pelo intestino e liga-se a receptores das membranas pré-sinápticas dos neurônios motores no sistema nervoso peri férico e nos nervos cranianos. A proteólise pela cadeia leve da toxina botulínica das proteínas-alvo nos neurônios inibe a li beração da acetilcolina nas sinapses, resultando em ausência de contração muscular e paralisia flácida. Esporos de C. perfringens são introduzidos em feridas por contaminação com solo ou fezes. Na presença de tecido necró tico (ambiente anaeróbio), os esporos germinam, e as células vegetativas podem produzir várias toxinas diferentes. Muitas dessas toxinas são necrosantes e hemolíticas, e - juntamente com a distensão do tecido pelo gás formado a partir dos car boidratos e da interferência no suprimento sanguíneo - fa vorecem a propagação da gangrena gasosa. A toxina alfa do C. perfringens é uma lecitinase que lesiona as membranas celu lares por clivagem da lecitina em fosforilcolina e diglicerídeo. A toxina teta também exerce efeito necrosante. Os clostrídeos produzem ainda colagenases e DNAses. Algumas cepas de S. aureus, que crescem em mucosas (p. ex., na vagina em associação com a menstruação) ou feridas, elaboram a toxina 1 da síndrome do choque tóxico (TSST 1), que provoca a síndrome do choque tóxico ( Cap. I 3). A doença caracteriza-se por choque, febre alta e exantema vermelho di fuso que posteriormente se descama; além disso, ocorre o com prometimento de vários outros sistemas orgânicos. A TSST I é um superantígeno que estimula os linfócitos T a produzirem grandes quantidades de interleucina 2 (IL2) de fator de necrose tumoral (TNF) (Cap. 8). As principais manifestações clínicas da doença parecem secundárias aos efeitos das citocinas. Mui tos dos efeitos sistêmicos da TSST I assemelham-se aos da to xicidade causada pelo lipopolissacarídeo (LPS; ver adiante). Algumas cepas de estreptococos �-hemolíticos do grupo A produzem a exotoxina pirogênica A, que se assemelha ou é igual à toxina eritrogênica estreptocócica, a qual resulta em fe bre escarlatina. A infecção rapidamente progressiva dos tecidos moles por estreptococos que produzem a exotoxina pirogênica A apresenta muitas manifestações clínicas semelhantes àquelas observadas na síndrome do choque tóxico por estaftlococos. A exotoxina pirogênica A também é um superantígeno,que atua de modo semelhante à TSST I. B. Exotoxinas associadas às doenças diarreicas e intoxicação alimentar As exotoxinas associadas às doenças diarreicas são frequen temente denominadas enterotoxinas. (Ver também o Qua dro 48.3) A seguir, são discutidas as características de algumas enterotoxinas importantes. O V. cholerae já provocou doença diarreica epidêmica ( có lera) em muitas partes do mundo (Cap. I7). Trata-se de outra doença causada por toxina de importância histórica e atual. Após entrar no hospedeiro através da água ou de alimentos con taminados, o V. cholerae penetra na mucosa intestinal e fixa-se às microvilosidades da borda em escova das células epiteliais do intestino. Geralmente do sorotipo OI (e OI39), o V. cholerae pode produzir uma enterotoxina com MM de 84.000 Da, a qual consiste em duas subunidades: A, que pode dividir-se em dois peptídeos, A 1 e A2, ligados por uma ponte dissulfeto; e B. A su bunidade B possui cinco peptídeos idênticos e liga rapidamente a toxina às moléculas dos gangliosídeos da membrana celular. A subunidade A penetra na membrana celular e provoca grande aumento na atividade da adenilatociclase e na concentração de AMPc. O efeito final consiste em rápida secreção de eletrólitos CAPÍTULO 9 Patogênese da infecção bacteriana 157 no lúmen do intestino delgado, com o comprometimento da absorção de sódio e cloreto, bem como perda de bicarbonato. Pode ocorrer diarreia maciça e potencialmente fatal (p. ex., 20 a 30 L/dia), verificando-se ainda o desenvolvimento de acidose. Os efeitos deletérios do cólera decorrem da perda de líquido e do desequilíbrio ácido-básico; por conseguinte, o tratamento con siste em reposição hidreletrolítica. Algumas cepas do S. aureus produzem enterotoxinas quan do crescem em carnes, laticínios ou outros alimentos. Nos ca sos típicos, o alimento foi recentemente preparado, mas não adequadamente refrigerado. Existem pelo menos sete tipos distintos de enterotoxina estaftlocócica. Após a ingestão da toxina pré-formada, esta é absorvida no intestino, onde esti mula os receptores do nervo vago. O estímulo é transmitido ao centro do vômito no sistema nervoso central. Vômitos, quase sempre em jato, ocorrem em poucas horas. Diarreia é menos frequente. A intoxicação alimentar por estafilococos constitui a forma de intoxicação alimentar mais comum. As enterotoxi nas do S. aureus são superantígenos. As enterotoxinas também são produzidas por algumas cepas de Y. enterocolitica (Cap. I9), Vibrio parahaemolyticus (Cap. I7), espécies de Aeromonas (Cap. I7) e outras bactérias; todavia, o papel dessas toxinas na patogênese ainda não foi de finido. A enterotoxina produzida pelo C. perfringens é discuti da no Capítulo II . C. Lipopolissacarídeos das bactérias gram-negativas Os LPS (endotoxinas) das bactérias gram-negativas são compo nentes da parede que frequentemente são liberados quando a bactéria sofre lise. Essas moléculas são termoestáveis, têm MM entre 3.000 e 5.000 (lipo-oligossacarídeos, LOS) e alguns mi lhões (lipopolissacarídeos, LPS), podendo ser extraídas (p. ex., com fenol-água). Apresentam três regiões principais (Fig. 2.I9). Os efeitos fisiopatológicos dos LPS são semelhantes, inde pendentemente de sua origem bacteriana, à exceção dos observa dos em espécies de Bacteroides, que possuem estrutura diferente e são menos tóxicas ( Cap. 2 I). O LPS na corrente sanguínea liga se inicialmente a proteínas circulantes que, em seguida, intera gem com os receptores presentes nos macrófagos, neutrófilos e outras células do sistema reticuloendotelial. As citocinas pró-in flamatórias, tais como ILI, IL6, IL8, TNF-a., entre outras, são li beradas, além das cascatas do complemento e da coagulação são ativadas. Dos pontos de vista clínico ou experimental, podem-se observar febre, leucopenia e hipoglicemia; hipotensão e choque, resultando em comprometimento da perfusão de órgãos essen ciais (p. ex., cérebro, coração, rim); coagulação intravascular; e morte por disfunção orgânica maciça. A injeção de LPS causa febre depois de 60 a 90 minutos, tempo necessário para a liberação de ILI pelo hospedeiro. A injeção de ILI provoca febre em 30 minutos. A injeção repetida de ILI produz a mesma reação febril todas as vezes; todavia, a injeção repetida de LPS provoca uma resposta febril unifor memente decrescente em decorrência da tolerância, devido em parte ao bloqueio reticuloendotelial e em parte a anticorpos da lgM dirigidos contra o LPS. A injeção de LPS provoca leucopenia precoce assim como bacteriemia por microrganismos gram-negativos. Posterior mente, ocorre leucocitose secundária. A leucopenia precoce coincide com o início da febre em consequência da liberação 158 SEÇÃO Ili Bacteriologia de 111. O LPS aumenta a glicólise em muitos tipos de célula, podendo levar a hipoglicemia. Ocorre hipotensão na fase inicial da bacteriemia por mi crorganismos gram-negativos ou após a injeção de LPS. Pode se verificar o aparecimento de constrição arteriolar e venular disseminada, seguida de dilatação vascular periférica, aumento da permeabilidade vascular, diminuição do retorno venoso, re dução do débito cardíaco, estagnação da microcirculação, vaso constrição periférica, choque e redução da perfusão dos órgãos e suas consequências. A coagulação intravascular disseminada (CID) também contribui para essas alterações vasculares. Os LPS situam-se entre os inúmeros agentes diferentes que têm a capacidade de ativar a via alternativa da cascata do com plemento, desencadeando uma variedade de reações mediadas pelo complemento (p. ex., anaftlatoxinas, respostas quimiotá ticas e lesão da membrana) e queda nos níveis séricos de com ponentes do complemento (C3, C5-C9). A coagulação intravascular disseminada (CID) representa uma complicação frequente da bacteriemia por microrganismos gram-negativos, embora também possa ocorrer em outras infec ções. O LPS ativa o fator XII (fator de Hageman) - a primeira etapa no sistema da coagulação intrínseca - e desencadeia a cas cata da coagulação que culmina na conversão do fibrinogênio em fibrina. Ao mesmo tempo, o plasminogênio pode ser ativa do pelo LPS em plasmina (uma enzima proteolítica), capaz de atacar a fibrina, com a consequente formação dos produtos de degradação da fibrina. A redução da contagem plaquetária e dos níveis de fibrinogênio, bem como a detecção dos produtos de degradação da fibrina constituem evidências de CID. Algumas vezes, a heparina pode prevenir lesões associadas à CID. O LPS provoca a aderência das plaquetas ao endotélio vas cular e a oclusão dos pequenos vasos sanguíneos, ocasionando necrose isquêmica ou hemorrágica em diferentes órgãos. Os níveis de endotoxina podem ser determinados pelo teste do límulo: um lisado de amebócitos do artrópode marinho límu lo (limulus) se solidifica ou coagula na presença de 0,0001 µg/mL de endotoxina. Esse teste é raramente usado em laboratórios clí nicos uma vez que é difícil de ser realizado de maneira eficiente. D. Peptidoglicano de bactérias gram-positivas O peptidoglicano das bactérias gram-positivas é constituído por macromoléculas de ligação cruzada que circundam as células bacterianas (Cap. 2 e Fig. 2.15). Podem ocorrer também altera ções vasculares que resultam em choque nas infecções causadas por bactérias gram-positivas que não contêm LPS. As bactérias gram-positivas possuem consideravelmente mais peptidoglicano associado à parede celular do que as bactérias gram-negativas. O peptidoglicano liberado durante a infecção pode ter muitas das mesmas atividades biológicas dos LPS, embora seja invariavel mente muito menos potente do que estes. Enzimas Muitas espécies de bactérias produzem enzimas não intrinseca mente tóxicas, mas que desempenham importante papel no pro cesso infeccioso. Algumas dessas enzimas são discutidas a seguir. A. Enzimas que degradam tecidos Muitas bactérias produzem enzimas que degradam tecidos.As mais bem caracterizadas são as enzimas de C. perfringens (Cap. 11), e, em menor grau, das bactérias anaeróbias (Cap. 21), de S. auerus (Cap. 13) e dos estreptococos do Grupo A (Cap. 14). O papel das enzimas que degradam tecidos na patogênese das infecções parece óbvio, embora de difícil comprovação, parti cularmente no caso de determinadas enzimas. Por exemplo, os anticorpos dirigidos contra as enzimas dos estreptococos que degradam tecidos não modificam as características da doença estreptocócica. Além da lecitinase, o e. perfringens produz a enzima pro teolítica colagenase, que degrada o colágeno, a principal pro teína do tecido conectivo fibroso, promovendo a disseminação da infecção nos tecidos. S. aureus produz a coagulase, que atua em combinação com fatores sanguíneos para coagular o plasma. A coagulase contribui para a formação das paredes de fibrina ao redor das lesões estaftlocócicas, ajudando esses microrganismos a per sistirem nos tecidos. Também provoca a deposição de fibrina sobre a superfície de alguns estafilococos, podendo ajudar a protegê-los contra fagocitose ou destruição no interior das cé lulas fagocíticas. As hialuronidases são enzimas que hidrolisam o ácido hia lurônico, um componente fundamental da substância do tecido conectivo. Essas enzimas são produzidas por muitas bactérias (p. ex., estaftlococos, estreptococos e anaeróbios), e ajudam sua disseminação através dos tecidos. Muitos estreptococos hemolíticos produzem estreptoqui nase (fibrinolisina), substância que ativa uma enzima proteo lítica do plasma. Em seguida, essa enzima é capaz de dissolver o plasma coagulado e, provavelmente, ajudar na rápida propa gação dos estreptococos através dos tecidos. A estreptoquinase tem sido utilizada no tratamento do infarto agudo do miocár dio para dissolver os coágulos de fibrina. Muitas bactérias produzem substâncias que são citolisinas - isto é, têm a propriedade de dissolver eritrócitos (hemo lisinas) ou destruir as células dos tecidos ou leucócitos (leu cocidinas). Por exemplo, a estreptolisina O, produzida por estreptococos do grupo A, é letal para camundongos e hemolí tica para os eritrócitos de muitos animais. A estreptolisina O é oxigenolábil, e pode, portanto, ser oxidada e inativada, embora seja reativada por agentes redutores. Além disso, é antigênica. Os mesmos estreptococos também produzem estreptolisina S oxigenoestável e induzível pelo soro, não antigênica. Os clos trídeos produzem diversas hemolisinas, como a lecitinase já descrita. As hemolisinas são produzidas pela maioria das cepas de S. aureus; os estafi.lococos também produzem leucocidinas. A maioria dos bastonetes gram-negativos isolados de locais de doença produz hemolisinas. Por exemplo, as cepas de E. coli que provocam infecções do trato urinário produzem tipica mente hemolisinas, enquanto as que fazem parte da microbiota gastrintestinal normal podem ou não produzir hemolisinas. B. lgA1 proteases A imunoglobulina A é o anticorpo secretor existente na superfi cie das mucosas. Ocorre em duas formas primárias, IgAl e IgA2, que diferem próximo ao centro ou região da dobradiça das ca deias pesadas das moléculas (Cap. 8). A IgAl possui uma série de aminoácidos na região da dobradiça que não estão presentes na IgA2. Algumas bactérias que causam doença produzem enzi mas, as lgAl proteases, que clivam a IgAl nas ligações prolina treonina ou prolina-serina específicas na região da dobradiça, inativando sua atividade de anticorpo. A IgAl protease é um importante fator de virulência dos patógenos N. gonorrhoeae, N. meningitidis, H. influenzae e S. pneumoniae. As enzimas também são produzidas por algumas cepas de Prevotella melaninogenica, certos estreptococos associados a doença dentária e algumas ce pas de outras espécies que ocasionalmente provocam doença. As espécies não patogênicas dos mesmos gêneros não possuem genes que codificam a enzima e, portanto, não a produzem. A produção da IgAl protease possibilita aos patógenos inativarem o anticor po primário encontrado na superfície das mucosas, eliminando, assim, a proteção do hospedeiro conferida pelo anticorpo. Fatores antifagocíticos Muitos patógenos bacterianos são rapidamente destruídos após sua ingestão por células polimorfonucleares ou macrófagos. Alguns patógenos escapam da fagocitose ou dos mecanismos microbicidas dos leucócitos ao adsorverem componentes nor mais do hospedeiro à sua superfície. Por exemplo, S. aureus possui a proteína A de superfície, que se liga à porção Fc da IgG. Outros patógenos possuem fatores de superfície que im pedem a fagocitose (p. ex., S. pneumoniae e N. meningitidis) e muitas outras bactérias apresentam cápsulas de polissacarídeo. S. pyogenes (estreptococos do grupo A) têm a proteína M. N. gonorrhoeae (gonococos) são dotadas de pili. A maioria dessas estruturas de superfície antifagocíticas exibe muita heteroge neidade antigênica. Por exemplo, existem mais de 90 tipos de polissacarídeo capsular pneumocócico e mais de 150 tipos de proteína M dos estreptococos do grupo A. Os anticorpos contra um tipo de fator antifagocítico (p. ex., polissacarídeo capsular, proteína M) protegem o hospedeiro contra as doenças causadas por bactérias desse tipo, mas não das causadas por outros tipos antigênicos do mesmo fator. Algumas bactérias (p. ex., Capnocytophaga e Bordetella) produzem fatores solúveis ou toxinas que inibem a quimiota xia dos leucócitos e, portanto, evitam a fagocitose por um me canismo diferente. Patogenicidade intracelular Algumas bactérias (p. ex., M. tuberculosis, Listeria monocyto genes, espécies de Bruce/la e de Legionella) vivem e crescem em ambiente hostil no interior das células polimorfonucleares, macrófagos ou monócitos. As bactérias vencem esse desafio por vários mecanismos: podem evitar sua entrada nos fago lisossomos, sobrevivendo no citosol dos fagócitos; impedir a fusão do fagossomo-lisossomo e sobreviver no interior do fa gossomo; ou ser resistentes às enzimas lisossômicas e sobrevi ver no interior do fagolisossomo. Muitas bactérias são capazes de sobreviver no interior de células não fagocíticas (ver seção anterior, Invasão das células e dos tecidos do hospedeiro). Heterogeneidade antigênica As estruturas de superfície das bactérias (e de muitos outros mi crorganismos) exibem considerável heterogeneidade antigênica. Com frequência, esses antígenos são utilizados como parte de um sistema de classificação sorológica das bactérias. A classifica ção de 2.000 ou mais espécies diferentes de Salmonella baseia-se principalmente nos tipos de antígenos O (cadeia lateral do LPS) CAPÍTULO 9 Patogênese da infecção bacteriana 159 e H (flagelar). De modo semelhante, existem mais de 150 tipos de E. coli O e mais de 100 tipos de E. coli K (cápsula). O tipo an tigênico das bactérias pode constituir um marcador de virulên cia, relacionado com a natureza clonal dos patógenos, embora possa não ser realmente o fator (ou fatores) de virulência. O tipo antigênico de V. cholerae O 1 e o tipo antigênico O 139 caracteris ticamente produzem a toxina do cólera, enquanto um número muito pequeno dos vários outros tipos O produz a toxina. Ape nas alguns dos tipos de proteína M de estreptococos do grupo A estão associados à elevada incidência de glomerulonefrite pós estreptocócica. Os tipos de N. meningitidis com polissacarídeo capsular A e C estão associados à meningite epidêmica. Nos exemplos citados anteriormente, bem como em outros sistemas de tipagem que utilizam antígenos de superfície na classificação sorológica, os tipos antigênicos para determinado microrganis mo isolado da espécie permanecem constantes durante a infec ção e o repique das bactérias. Algumas bactérias e outros microrganismos têm a capacida de de efetuar alterações frequentes na forma antigênica de suas estruturas de superfície in vitro e, presumivelmente, in vivo. Um exemplo bem conhecido é o de Borrelia recurrentis,que provoca febre recorrente. Um segundo exemplo amplamente estudado é N. gonorrhoeae (Cap. 20). O gonococo possui três antígenos de superfície expostos que mudam suas formas a uma taxa muito elevada, de cerca de uma em cada 1.000: lipo-oligossacarídeo, 6 a 8 tipos; pili, inúmeros tipos; e proteína Opa, 1 O a 12 tipos para cada cepa. O número de formas antigênicas é tão grande que cada cepa de N. gonorrhoeae parece antigenicamente distin ta das outras cepas. A mudança de formas para cada um dos três antígenos parece estar sob o controle de diferentes mecanismos genéticos. Acredita-se que a frequente mudança de formas anti gênicas possibilite aos gonococos escaparem do sistema imuno lógico do hospedeiro. Os gonococos não atacados pelo sistema imunológico sobrevivem e causam doença. Sistemas de secreção bacteriana Os sistemas de secreção bacteriana são importantes na pato gênese da infecção e são essenciais para a interação da bac téria com as células eucarióticas do hospedeiro. As bactérias gram-negativas possuem paredes celulares com membranas citoplasmáticas e membranas externas, e uma fma camada de peptidoglicano está presente. As bactérias gram-positivas pos suem uma membrana citoplasmática e uma espessa camada de peptidoglicano (Cap. 2). Algumas bactérias gram-negativas e algumas gram-positivas também possuem cápsulas. A com plexidade e a rigidez das estruturas da parede celular exigem mecanismos de translocação de proteínas através das membra nas. Esses sistemas de secreção estão envolvidos em funções celulares, tais como o transporte de proteínas que formam os pili ou flagelos e na secreção de enzimas ou toxinas para o meio extracelular. As diferenças de estrutura da parede celular entre bactérias gram-negativas e gram-positivas resultam em dife renças nos sistemas de secreção. Os mecanismos básicos dos diferentes sistemas de secreção são discutidos no Capítulo 2. (Observação: os sistemas de secreção bacteriana foram nome ados segundo a ordem de sua descoberta e não por seus meca nismos de ação.) Bactérias gram-negativas e gram-positivas possuem uma via geral de secreção (Sec) como principal mecanismo de secreção 160 SEÇÃO Ili Bacteriologia proteica. Essa via está envolvida na inserção da maior parte das proteínas de membrana bacterianas e fornece a principal via pa ra proteínas que atravessam a membrana citoplasmática bacte riana. As bactérias gram-negativas apresentam seis mecanismos adicionais denominados sistemas de secreção (SS) 1-6, ou tipo 1-VI, para secreção de proteínas. Esses sistemas podem ainda ser caracterizados como Sec dependentes (tipos 2 e 5) e Sec in dependentes (tipos l, 3, 4, 6). O SS do tipo 2 usa o sistema Sec para transportar proteínas para o periplasma e, então, formar um canal na membrana externa composto por um complexo de proteínas formadoras de poros. Esse sistema é usado para secre ção de toxinas bacterianas do tipo AB como a toxina colérica. De forma similar, o SS do tipo 5 usa o sistema Sec para exportar moléculas denominadas autotransportadores para o periplas ma. Uma vez no periplasma, essas moléculas se autotranspor tam através da membrana externa. Um exemplo desse sistema inclui a IgA protease secretada pelo Haemophilus influenzae. As vias independentes da sec incluem os sistemas de secreção tipo 1 ou sistema de secreção ABC (A TP binding cassette) e o sistema de secreção tipo 3. As vias de tipos 1 e 3 não interagem com proteínas que tenham sido transportadas através da mem brana citoplasmática pelo sistema Sec. Em vez disso, estes siste mas translocam proteínas através da membrana citoplasmática e da membrana externa. O tipo 3, que é ativado sob contato com uma célula eucariótica hospedeira, promove o transporte de proteínas diretamente do interior da bactéria para o interior da célula hospedeira empregando uma estrutura semelhante a uma agulha de seringa denominada injectosoma. Uma vez no citoplasma da célula hospedeira, as proteínas transportadas po dem manipular as funções da célula hospedeira. A via do siste ma de secreção tipo 4 consiste em um complexo de proteínas que forma um canal capaz de transportar diretamente proteínas e moléculas de DNA .. O mais recente SS a ser descoberto é a do tipo 6. Esse sistema desempenha um papel importante na se creção de proteínas de virulência em Vibrio cholereae e Pseudo monas aeruginosa entre outros patógenos gram-negativos. Um sétimo SS foi descoberto em Mycobacterium tuberculosis e ain da não está totalmente compreendido. Parece que esse sistema transporta proteínas de membrana necessárias para a virulência do microrganismo. Outros exemplos dos sistemas de secreção e seus papéis na patogênese estão mostrados no Quadro 9.5. Es ses exemplos são apenas uma pequena amostra concebida para ilustrar os papéis do grande número de atividades de secreção molecular usadas pelas bactérias para fornecer nutrientes e faci litar a sua patogênese. Necessidade de ferro O ferro é um nutriente essencial para o crescimento e o meta bolismo de praticamente todos os microrganismos e é um co fator essencial de vários processos metabólicos e enzimáticos. A disponibilidade de ferro em seres humanos para a assimilação microbiana é limitada, pois o ferro é sequestrado pelas proteínas transferrina, de alta afinidade pelo ferro no soro, e pela lacto ferrina, em superfícies mucosas. A habilidade de um patógeno microbiano para obter o ferro de maneira eficaz a partir do am biente é fundamental para a sua habilidade de causar doenças. A necessidade de ferro, como a bactéria o adquire e o metabolismo bacteriano do ferro são discutidos no Capítulo 5. A disponibilidade de ferro afeta a virulência de muitos pa tógenos. Por exemplo, o ferro é um fator de virulência essencial em P. aeruginosa. O uso de modelos em animais em infecção por Listeria monocytogenes mostrou que o aumento de ferro resultou em aumento da suscetibilidade à infecção, enquanto uma depleção de ferro resultou em uma sobrevida prolongada; terapias de suplementação de ferro resultam em aumento de in fecções letais. A diminuição da disponibilidade de ferro também pode ser importante na patogênese. Por exemplo, o gene para a toxina diftérica reside em um bacteriófago lisogênico e somente as cepas de e. diphtheriae que portam o bacteriófago lisogênico são toxigênicas. Na presença de pouco ferro disponível ocorre uma produção aumentada de toxina diftérica e de doença po tencialmente mais grave. A virulência de N. meningitidis em camundongos aumenta 1.000 vezes ou mais quando as bacté rias crescem em condições de restrição de ferro. A deficiência de ferro no homem também desempenha um papel no processo infeccioso. A deficiência de ferro acomete mi lhões de pessoas no mundo inteiro. A deficiência de ferro pode afetar múltiplos órgãos e sistemas, inclusive o sistema imuno lógico, e pode resultar em comprometimento da imunidade mediada por células e diminuição da função de células poli morfonucleares. A utilização de terapia por ferro durante uma infecção ativa provavelmente deverá ser adiada, pois muitos mi crorganismos patogênicos podem utilizar pequenas porções do ferro suplementar, resultando em aumento da virulência. O papel dos biofilmes bacterianos Um bioftlme é um agregado de bactérias interativas ligadas a uma superfície sólida ou umas às outras, revestidas por matriz exopolissacarídica. Distingue-se da forma planctônica ou bac teriana de crescimento livre, onde as interações entre os mi crorganismos não ocorrem da mesma maneira. Os biofilmes formam uma espécie de camada de limo em superfícies sólidas e ocorrem em toda a natureza. Uma única ou várias espécies de bactérias podem estar envolvidas, podendo coagregar-se para formar um biofilme. Os fungos (inclusive as leveduras) estão envolvidos ocasionalmente. Uma vez formado o biofilme, as moléculas de quorum sensing produzidas pela bactéria no bio ftlme acumulam-se, resultando em modificaçãoda atividade metabólica bacteriana. A biologia básica dos biofilmes exopo lissacarídicos (glicocálice) é discutida no Capítulo 2, as molé culas de quorum sensing são discutidas no Capítulo 1. As bactérias na matriz exopolissacarídica podem estar pro tegidas dos mecanismos imunológicos do hospedeiro. A ma triz também funciona como uma barreira à difusão de alguns antimicrobianos, enquanto outros podem ligar-se a ela. Algu mas bactérias no interior do bioftlme mostram acentuada re sistência aos antimicrobianos em contraste com a mesma cepa bacteriana que cresce em meio de cultura (forma planctônica), o que ajuda a explicar por que é tão difícil tratar as infecções associadas a biofilmes. Os biofilmes são importantes em infecções humanas per sistentes e difíceis de tratar. Alguns exemplos incluem infec ções por Staphylococcus epidermidis e S. aureus em cateteres venosos centrais, infecções oculares como as que ocorrem com lentes de contato e lentes intraoculares, na placa dental e em infecções em próteses. Talvez o melhor exemplo de biofilme em infecções humanas sejam as causadas por Pseudomonas ae ruginosa em pacientes com fibrose cística. CAPÍTULO 9 Patogênese da infecção bacteriana 161 QUADRO 9.5 Exemplos de moléculas translocadas por sistemas de secreção bacteriana e sua relevância na patogênese Sistema de secreção Tipo 1 (sec independente) Tipo 2 (sec dependente) Tipo 3 (sec independente e dependente de contato) Tipo 4 (sec dependente e independente) Substratos proteicos Substratos de DNA Tipo 5 (sec dependente) Tipo 6 (sec independente) Tipo 7 (sec dependente) Gênero/Espécie Escherichia co/i Proteus vulgaris Morganella morganii Bordetella pertussis Pseudomonas aeruginosa Serratia marcescens Pseudomonas aeruginosa Legionella pneumophila Vibrio cholerae Serratia marcescens Espécies de Yersinia Pseudomonas aeruginosa Espécies de Shigella Salmonella enterica subespécies entérica sorotipos Choleraesuis, Dublin, Paratyphi, Typhi, Typhimurium entre outros. Escherichia co/i Vibrio parahaemolyicus Bordetella pertussis Helicobacter pylori Neisseria gonorrhoeae Helicobacter pylori Neisseria gonorrhoeae Haemophilus influenzae Escherichia co/i Shigella flexneri Serratia marcescens Espécies de Bordetella Bordetella pertussis Yersinia pestis Pseudomonas aeruginosa Vibrio cholerae Mycobacterium tuberculosis CFP, proteína de filtrado de cultura de lOkDa. ESAT-6, alvo antigênico precocemente secretado de 6kDa. RESUMO DO CAPÍTULO • Animais e humanos são colonizados por uma microbiota normal abundante, que em regra geral não é patogênica e é benéfica ao hospedeiro. • Bactérias virulentas causam doenças utilizando uma série de fatores de virulência que facilitam a aderência, persistên cia, invasão e toxigenicidade. • Genes que codificam fatores de virulência podem ser car reados por elementos genéticos móveis tais como plasmí deos, bacteriófagos ou são localizados em grandes ilhas de patogenicidade no cromossomo bacteriano. • Pili e fímbrias são estruturas em forma de bastão ou fio de cabelo, respectivamente, que facilitam a aderência nas célu las do hospedeiro. Substrato e papel na patogênese a.-Hemolisina faz poros na membrana das células Hemolisina Hemolisina Adenilatociclase que catalisa a síntese do AMPc Protease alcalina Zn protease produz danos à célula hospedeira Elastase, exotoxina A, fosfolipase C, outros Fosfatase ácida, lipase, fosfolipase, protease, RNAse Toxina do cólera Hemolisina Sistema Ysc-Yop; toxinas que bloqueiam fagocitose e induzem apoptose Citotoxina Controla a sinalização, invasão e morte das células do hospedeiro Efetores para ilhas de patogenicidade 1 e li (SPl1 e SPl2) de Salmonella, que promovem a fixação e invasão das células hospedeiras �ntero-hemorrágica (EHEC) e enteropatogênica (EPEC); ruptura das barreiras epiteliais e junções estreitas Citotoxicidade direta Toxina pertússica Citotoxina Sistema de exportação de DNA Sistema de captação e liberação de DNA lgA 1 protease altera a região da dobradiça e destrói a atividade do anticorpo (dependente de sec) lgA 1 protease, adesinas Se ri na protease, adesinas, pili tipo 1 , pili P Serina protease Proteases Adesinas Hemaglutinina filamentosa Antígeno capsular Toxina formadora de poros Hcp1 Fatores de virulência CPF-1 O, ESAT-6 e antígeno alvo de células T • A invasão das células do hospedeiro é um mecanismo com plexo que envolve a elaboração de proteínas que facilitam a entrada. • Toxinas bacterianas podem ser extracelulares (exotoxinas) ou serem componentes da parede da célula bacteriana (en dotoxina, LPS) e estão entre as toxinas mais potentes na natureza (p. ex., toxina botulínica). • Outros importantes mecanismos de sobrevivência e de virulência bacteriana incluem: enzimas que degradam te cidos, fatores antifagocíticos, IgA proteases, heterogenici dade antigênica e a habilidade de quelar ferro. • Devem existir, pelo menos, sete sistemas de secreção bacte rianos conhecidos, por complexos proteicos ou canais res ponsáveis pelo transporte de proteínas e toxinas através da célula bacteriana. 162 SEÇÃO Ili Bacteriologia QUESTÕES DE REVISÃO 1. Uma mulher de 22 anos, que trabalha em uma creche, apresen ta-se com história de febre e tosse há 2 meses. Durante este pe ríodo, perdeu 5 kg. A radiografia de pulmão mostrou infiltrado bilateral nos lobos inferiores com cavidades. Um esfregaço co rado do seu escarro mostrou bacilos álcool-acidorresistentes. O modo mais provável pelo qual a paciente adquiriu a infecção foi (A) Atividade sexual (B) Ingestão de microrganismos na comida (C) Ter segurado um corrimão contaminado ao entrar em um transporte público (D) Ter manuseado um pote que continha terra (E) Ter aspirado gotículas em aerossol contendo microrganismos 2. Durante uma pandemia por doença bem caracterizada, um grupo de 175 passageiros voou de Lima, capital do Peru, para Los Angeles, EUA. O lanche servido no avião, que incluía salada de caranguejo, foi ingerido por cerca de 66% dos passageiros. Após pousar em Los Angeles, muitos passageiros seguiram voo com destino a outras partes da Califórnia e outros Estados do Oeste dos EUA. Dois dos passageiros que permaneceram em Los An geles desenvolveram diarreia aquosa grave. Não se sabe qual é o estado dos demais passageiros. A provável causa da diarreia dos dois passageiros foi a(o): (A) Escherichia coli 0157:H7 (lipopolissacarídeo O antígeno 157; antígeno flagelar 7) (B) Vibrio cholerae tipo 0139 (lipopolissacarídeo O antígeno 139) (C) Shigella dysenteriae tipo 1 (D) Campylobacter jejuni (E) Entamoeba histolytica 3. Uma mulher de 65 anos recebeu um cateter venoso central para terapia intravenosa. Ela apresentou febre e posteriormente teve várias culturas de sangue positivas para S. epidermidis. Todos os isolados de S. epidermidis apresentaram a mesma morfologia co lônica e o mesmo padrão de sensibilidade aos antimicrobianos, sugerindo ser a mesma cepa. Acredita-se que essa cepa formou um biofilme no cateter. Qual das seguintes afirmativas sobre esta infecção está correta? (A) O biofilme contendo S. epidermidis provavelmente foi reti rado por lavagem do cateter (B) A produção de um polissacarídeo extracelular inibe o cres cimento de S. epidermidis, limitando a infecção (C) A cepa de S. epidermidis presente no biofilme provavelmente é mais suscetível a terapia antimicrobiana, pois a bactéria apresenta uma diminuição de sua atividade metabólica (D) A habilidade do sistema de quorum sensing da cepa de S. epidermidis resulta em uma diminuição da suscetibilidade a terapia antimicrobiana (E) As complexas interações moleculares presentes no biofilme tornam difícil uma terapia antimicrobiana eficaz, sendo provável que o cateter tenha que ser removido para curar a infecção 4. O primeiro microrganismo a satisfazer os postulados de Koch (no fim do
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