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25 Estrongjloidíase STRONGYLOIDES STERCORALI S: O PARASITO Afqrfowgia e biowgia Cicws direto e indireto RELAÇÕES PARASITO-HOSPEDEIRO lnf ectividade e vias de penetraçãc Resistência ao parasitismo Patowgia da estrongi/,oidíase Os Rbabdiasoidea SftO pequenos nematoides que vivem em geral no solo ou na agua, como seres de vida livre. No gênero Strongyloides encontram-se os de interesse médico ou veterinrui.o (ver, no Cap. 2, o Quadro 2.4). O homem é infectado por Strongyloides stercoralis que, em uma parte de seu ciclo vital, possui machos e fêmeas capazes de viver no solo; mas, em outra parte do ciclo, é obrigatoriamente parasito e tem por habitat a parede intestinal. A doença é deno- minada estron giloidíase, estrongiloidose ou anguilulose. As infecções leves SftO assintomaticas, as demais produzem quadros de enterite ou de enterocolite crônica que chegam a ser graves ou fatais, se houver imunodepresSfto. STRONGYLOIDESSTERCORALJS: O PARASITO Morfologia e Biologia As fêmeas parasitas SftO partenogeneticas e produzem larvas que, saindo para o meio externo, de.o machos e fêmeas de vida livre. Estas, por sua vez, põem ovos e originam nova geraçao de larvas (Fig. 25.1). Os estudos citológicos feitos em algumas espécies mostra- ram que os machos participam do processo reprodutivo apenas parcial mente, sendo necessaria a cópula e a penetraçao de espermatozoides para que os oócitos das fêmeas de vida livre embrionem, mas nao ha fuSfto do núcleo masculino com o do oócito (pseudogarnia). A reproduçao da fêmea de vida li vre é, portanto, por partenogenese meiotica. SINTOMATOLOGIA DA filTRONGILOIDÍASE DIAGNÓSTICO DA filTRONGILOIDÍASE TRATAMENTO DA ESTRONGILOIDÍASE ECOLOGIA, EPIDEMIOLOGIA E CONTROLE Tanto a morfologia como a biologia desses nematoides varia de acordo com a fase do ciclo em que se encontrem. No Ciclo de Vida Livre. A femea de vida livre mede l a 1,5 mm de comprimento e tem o corpo fusiforme, com a extremidade CICLO PARASITÁRIO. NO HOMEM (F(MEAS PAATENOGENtTICAS\ LARVAS FILARIOIDES LARVAS RAODITOIDES "'-.. Auto1nfeciçào __/ No 1nte•tino ou no セイQョ・ッ@ CICLO DE VIDA LIVRE. NO SOLO LARVAS FILARIOIDES __ __,c.,,1c,,,,10'-"d'"-"'º-"''º----_./ , ···--·---VERMES adultosセ@ / (machos• ftm•••l '····· · · -·-··LARVAS AABOITOIOES Fig. 25.1 Strongyloides sterr;oralis. A evoluçao do helminto oferece duas alternativas para o desenvolvimento das larvas produzidas pelas fêmeas pa- rasitas (partenogenéticas): o ciclo direto, com fOOIUIÇl!O de larvas filarioides infectanteS; e o ciclo indireto, com larvas rabditoides de segundo estadio que produzem vermes adultos (machos e fêmeas) de vida livre. O traço interrom- pido com:sponde-a concepçao de alguns autores e aos fatos verificados em relaçeo a Strongyloides fiUlebomi e a S. cebus, que produzem uma segunda geraçao de helmintos adultos (machos e fêmeas) de vida livre. anterior romba, onde se abre a boca cercada de três pequenos labios, enquanto a posterior constitui uma cauda bem afilada (Fig. 25.2 A). O esôfago traz, posteriormente, uma dilataçao bulhar. O intes- tino, simples e retilíneo, continua-se com o reto, muito curto, que se abre para o exterior por um -anus situado a alguma disl:ancia da extremidade posterior. Para tras do meio do corpo, encontra-se a abertura vulvar e a vagina, dando acesso a dois tubos uterinos, um anterior e outro posterior. Estes se prolongam nos respectivos ovidutos e ovarios. O macho é menor (0 ,7 mm de comprimento) e tem sua cauda recurvada ventralmente. Possui um só testículo, continuado pelo canal deferente e pelo canal ejaculador, que se abre na cloaca, onde termina também o tubo digestivo (Fig. 25 .2 B). A cópula é facilitada pela existência de dois pequenos espículos. Esses vermes vivem no solo ou no esterco, onde se alimentam de bactérias e de matéria organica. A fêmea põe ovos de casca muito delgada, medindo 70 X 40 µm. Nas fêmeas mais velhas, a eclosao desses ovos pode dar-se ainda no interior do útero. A ---- b .. \ ..t+- c d-" • , ... e - , ........ . . ·.. . . . . . . . '· . .. " . \ .. .. . セ@ .; セ@ • ·,t •.. . . . セ@. ' ... e D e . ' ' . . .. ;! •• '· < !, • .. ,, . , . Es'fRONGILOIDÍASE 245 As larvas que saem dos ovos têm o esôfago do tipo rabditoide, isto é, com a metade anterior cilíndrica (corpo do esôfago), um pseudobulbo no meio, seguido de uma porçao estreita (ou istmo) e de um bulbo posterior, terminal (Fig. 25.2 D). Essas larvas rabditoides medem 200 a 300 µm de comprimento. Elas sofrem uma ecdise, passando a larvas rabditoides de segundo estadio, que evoluirao para vermes adultos de vida livre. Contrariamente a conceitos que prevaleceram no passado e faziam crer na possibilidade do ciclo de vida livre manter-se indefinidamente no solo, proporcionando uma fonte contínua de larvas infectantes, pensa-se atualmente, com base em observa- ções experimentais, que apenas poucas espécies parasitas (como S.fülleborni e S. cebus) podem produzir uma segunda geraçao de machos e fêmeas de vida livre. No Ciclo Parasitario. Algumas larvas rabditoides de primei- ro estadio (quer produzidas por fêmeas de vida livre, quer por fêmeas parasitas), em lugar de produzirem outras de segundo estadio, passam a evoluir para um tipo diferente, denominado larva filarioide, por ter o esôfago muito longo e cilíndrico, sem dilataçao bulhar, como nas filarias (Fig. 25.2 E). E . .. . . ' .. . . • ' . . . ' .. ' • ' • F Fig. 25.2 Representaçe.o esquematica das diversas fases evolutivas de Strongyloides stercoralis: A, fêmea de vida livre; B, macho de vida livre; C, ovo; D, larva rabditoide; E, larva filarioide (infectante); F, fêmea parasita. Desenhos em escalas diferentes. As letras significam: a , boca; b , esôfago; c, anel nervoso; d , poro excretor; e, intestino; f , ovllrio; g , útero; h , vulva; i ,1!1lus. 246 BAsF.S DA PARASITOLOGIA MWI CA Essas larvas, que medem cerca de 500 µm de comprimento, 980 bastante ativas e podem permanecer vivas durante cinco semanas, no meio ambiente. Mas elas só completam sua evolu- çao se encontrarem um hospedeiro adequado e nele penetrarem através da pele. Depois de atravessarem o tegumento (para o que excretam enzimas do tipo colagenase, ativas contra glicoprotefnas da pele), as larvas alcançam a circulaçao venosa e realizam um ciclo que passa primeiro pela aurícula e ventrículo direitos do coraçao; depois pelas artérias pulmonares e rede capilar dos pulmões. Perfurando a parede dos capilares, chegam aos alvéolos e bron- quíolos, onde os movimentos do epitélio ciliado promovem seu transporte passivo, junto com as secreções brOnquicas, até a traqueia e a laringe, para serem deglutidas em seguida. Durante essa migraçao, denominada ciclo pulmonar, comple- ta-se a evoluçao larv&ia (comportando duas mudas), e ao chega- rem 11 cavidade intestinal os vermes adultos estso formados. No intestino, encontram-se apenas fêmeas. Elas têm caracterís- ticas morfológicas e biológicas diferentes das fêmeas de vida livre. Sflo maiores (pois medem 2;2. mm de comprimento), se bem que mais delgadas, e têm a extremidade anterior fina (Fig 25.2 F). A existência de machos parasitos DflO foi confirmada para nenhuma espécie do gênero Strongyloides e, no caso de S. ratti, conseguiu-se estabelecer a infecçao a partir de uma única larva, o que demonstra a capacidade de reproduçeo partenogenetica das f!meas parasitas. O habitat destas femeas fil arioides partenogeneticas é a mu- cosa do intestino, especialmente no duodeno e jejuno.Aí, perfuram o epitélio e se alojam na espessura da mucosa, onde se movem, alimentam-se e fazem suas desovas. Dos ovos, ja embrionados, saem imediatamente larvas rabditoides que se dirigem para a luz do intestino, misturam-se com o bolo alimentar e 980 expulsas (a partir da 31 ou 41 semana) com as fezes do paciente. Ciclos Direto e Indireto A partir das larvas rabdítoides eliminadas com as fezes,duas possibilidades evolutivas existem (Fig. 25.1): l. Em alguns casos, essas larvas, no meio exterior, sofrem muda pela qual se transformam em larvas fi larioides infectan- tes, capazes de penetrar em outro indivíduo e iniciar novo ciclo parasitario. Por essa razao, este é conhecido como o ciclo di.reto do parasitismo. Ele pode ter lugar tanto no solo como sobre a pele da regiao perineal do paciente. 2. Em outros casos, as larvas rabdítoides das fezes podem sofrer suas varias mudas no solo e produzir, ao fim de algum tem- po, machos e fêmeas de vida livre. Depois da cópula, as fêmeas põem ovos de onde saem larvas rabditoides (semelhantes 1lS produzidas pelas fêmeas parasitas) que evoluem finalmente para larvas fi larioides infectantes, as quais retomam ao parasitismo. Esse é o ciclo indireto. RELAÇÕES PARASITO-HOSPEDEIRO Inf ectividade e Vias de Penetra990 Somente as larvas do tipo filarioide 960 infectantes para o homem ou para os animais suscetíveis. A via de penetraçao ha- bitual é a culfillea, operando-se a inva9flo na maioria das vezes pelos pés. Depois de 24 horas, as larvas alcançam a circulaçao venosa, fazem o ciclo pulmonar e descem pelo tubo digestivo até chegarem ao intestino, alojando-se na mucosa. Outra via de infecçao possível, mas 1!8.0 usual, é a digestiva, quando o paciente venha a ingeriregua contaminada com larvas infectantes. Nesse caso llflO he migraçao pulmonar, pois o desenvolvimen- to larv&io se completa no próprio intestino e os vermes invadem diretamente a mucosa. Além dessas maneiras pelas quais um indivíduo suscetível adquire pela primeira vez o parasito, vindo de outro indivíduo ou do ciclo de vida livre no solo, e que chamamos de heteroin- fecçeo, pode ocorrer na estrongiloidíase a autoinfecçeo. Esta úlúma é sempre uma forma de reinfecçao, ou mesmo de superinfecçao, pois novos parasitos (fêmeas filarioides parteno- genéticas) acrescentam-se"llS ja existentes, aumentando a carga parasitaria ou substituindo as que envelhecem e morrem. Fala-se de autoinfecçeo externa quando ocorre a transfor- maçao de larvas rabditoides em filarioides infectantes na pele da regiao anal ou perianal contaminada com fezes. A penetraçao larv&ia faz-se através da pele ou da mucosa retal, com invasao da rede venosa e ciclo pulmonar. Algumas vezes, as condições locais do intestino podem propi- ciar a evoluçao do parasito na luz do tubo digestivo, e penetraçao direta da mucosa por larvas que 1!8.0 saíram para o meio exterior. Esta situaçao assegura llflO só a manutençao prolongada do pa- rasitismo como o desenvolvimento da superinfecçao, mediante um processo de autoinfecçeo interna, também denominado endoinfecçao. A frequência com que se de a autoinfecçao externa ou interna, nos indivíduos normais, nao deve ser grande, pois com uma só dose de tiabendazol (medicamento que destrói as fêmeas mas 1!8.0 as larvas) obtém-se a cura de 75 a 97% dos pacientes. Em alguns animais com estrongiloidíase (causada por S. ran- somi, S. papillosus ou S. westerl) je se demonstrou a presença de larvas no colostro e no leite e a possibilidade de transmissao da infecÇtlo aos filhos neonatos. No Zaire, onde só se encontra Strongyloides fülleborni in- fectando as pessoas, foram isoladas larvas de terceiro estedio do leite de uma mulher. O parasitismo tem sido encontrado na populaçao infantil daquele país. Resistencia ao Parasitismo Depois de repetidas inoculações, os ratos demonstram haver adquirido certo grau de resistência a superinfecções e reinfec- ções, resistência essa que só dura cerca de dois meses, depois de cessado o parasitismo anterior. Caes e gatos adquirem logo forte proteçao contra superinfec- ções com Strongyloides stercoralis. Os animais suscetíveis mos- tram resistência crescente com a idade. Porém, essa resistência maior, em funçao da idade, parece llflO ocorrer no homem. Em alguns pacientes oo desenvolvimento de uma hipersen- sibilidade, que se manifesta pela intensa resposta culfillea nos lugares de penetraçao larv&ia ou após a injeçao de material antigênico. O parasitismo pode levar, em certos casos, ao aparecimento de asma nos pacientes. A irnportancia dos mecanismos protetores imunológicos, nos seres humanos, pode ser avaliada quando se considera a evoluçao do parasitismo em pacientes imunodeprimidos. Os doentes que sofrem da síndrome de imunodeficiencia adquirida (AIDS). se parasitados por Strongyloides stercoralis, desenvolvem quadros de hiperinfecçao (de muito mau prognóstico), mesmo quando anteriormente seu parasitismo fosse leve ou assintometico. SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce Casos graves manifestam-se em pacientes utilizando cor- ticosteroides em doses elevadas (para impedir a rejeiçao de transplantes, p. ex.). Eles apresentam hiperparasitismo, com extensas lesões necróticas, quadro de suboclu98o intestinal alta ou disseminaçao dos parasitos em outros órge.os e tecidos, devido 1l autoinfecçao maciça, que pode levar rapidamente11 morte. Os corticosteroides, por seus metabólitos que se assemelham 11 hidroxiecdisona, causam completa traosformaÇtlo das larvas rabditoides em larvas filarioides (infectantes) que logo invadem a mucosa intestinal (autoinfecçao interna). Patologia da Estrongiloidíase As lesões devidas ao Strongyloides relacionam-se: (a) com a penetraçao do parasito no hospedeiro; (b) com sua migraçao du- rante o ciclo pulmonar; ( c) com sua permanência e multiplicaçao na mucosa intestinal ou em localizações ectópicas. Lesoes Cuteneas. Podem ser tao discretas que passam desper- cebidas, ou manifestam-se como pontos ou placas eritematosas, aparecendo nos lugares de penetraçao. Localizam-se de prefe- rência nos espaços interdigitais, no dorso do pé e no tornozelo. Quando ocorre autoinfecçao externa, surgem em torno do1!Ilus ou regiões adjacentes lesões urticariformes transitórias, recorrentes e com aspecto varit1vel. Lesoes Pulmonares. Hemorragias petequiais ou profusas 980 produzidas pelas larvas, quando em transito dos capilares para os alvéolos pulmonares, que aí realizam também suas mudas e crescem de tamanho. As lesões inflamatórias 980 as de uma pneumonite difusa e chegam a produzir a síndrome de Loefller, como na ascaríase (verCap. 27). Nos casos mais graves, formam-se focos múltiplos de consolidaçao pneumônica. No escarro e nos derrames pleurais podem ser encontradas as larvas. Tal situaçao sera agravada se houver demora das larvas nos pulmões, retidas pela abundancia de secreçao ou pelo edema local, o que da ensejo a que muitas delas cheguem 11 fase adulta (formaçao de fêmeas filarioides partenogenéticas) e se tornem, aí, capazes de pôr ovos ja embrionados. Tais ovos eclodem sem demora e aumentam consideravel- mente o número de larvas no tecido. Note-se que, em consequência das reinfecções e autoinfec- ções, os processos pulmonares podem repetir-se com frequência, ou prolongar-se, enquanto durar o parasitismo. Lesoes Intestinais. No duodeno e no jejuno, a presença e atividade das fêmeas filarioides, sua oviposiçao, bem como a eclost10 e rnigraçao das larvas, na espessura da mucosa, produzem lesões de ordem mecanica, histolítica e irritativa, que levam a uma inflamaçao catarral, com infiltraçao de eosinófilos, células epitelioides (histiócitos) e, ocasionalmente, gigantócitos. Pontos hemo1TI1gicos e ulcerações de varios tamanhos podem ser mais ou menos numerosos, dependendo da carga parasitaria. Congestao e edema, que tomam as paredes do duodeno e jejuno espessas, as pregas mucosas tumefeitas e as vilosidades alargadas e achatadas, completam o quadro da duodenojejunite catarral. O edema pode atingir a submucosa. Funcionalmente,além de secreÇtlO mucosa abundante, ha aumento do peristaltismo, produzindo evacuações diarreicas e por vezes mucossanguinolentas. Com o tempo, junta-se ao edema inflamatório certo grau de fibrose, alterações da submucosa e atrofia da camada muscular. A radiologia mostra que o duodeno e jejuno se vao transformando em tubos lisos (atrofia da mucosa) e relativamente rígidos, sinais esses muito característicos da estrongiloidíase cronica. Es'TRONCILOIDIA.sE 247 Nos casos mais graves, produzem-se extensas lesões ne- cróticas ou um quadro de suboclu98o intestinal alta (isto é, das primeiras regiões do intestino delgado). Infecções bacterianas podem complicar a evoluÇtlO do processo. Nos casos fatais, a necrópsia tem revelado disseminaÇtlo abundante de vermes adultos e de larvas, que neo se limitam aos intestinos delgado e grosso, pois ha também invastlo das vias biliares, vesícula, fígado, estômago, peritônio, ganglios linfaticos abdominais, rins etc. A morte pode ser o resultado de obstruçao intestinal alta, de íleo paralítico ou de caquexia. SINTOMATOLOGIA DA , ESTRONGILOIDIASE A penetraÇtlO cutanea é geralmente assintomatica, mas pode acompanhar-se de eritema, prurido, edema local e manifesta- ções urticariformes. Estas 980 particularmente acentuadas em pacientes que desenvolvera.m hipersensibilidade aos produtos parasitarios. O quadro pulmonar inicia-se poucos dias depois. É muito variavel e pode estar ausente. Tosse, expectoraçeo, ligeira febre e mal-estar podem compor uma síndrome benigna, como em outras helmintíases. Mas, por vezes, os sintomas 980 os de uma broncopneumonia ou de uma pneumonia atípica. Alguns pacientes queixam-se de asma. A sintomatologia mais frequente e mais importante costuma ser a relacionada com o aparelho digestivo. Aqui, também, as queixas podem estender-se desde os quadros mais benignos (ou ntlO existirem) até as formas mais graves e drameticas. No sangue ha leucocitose e eosinofilia, em geral maior na fase aguda da doença. Os eosinófilos podem representar 15 a 40% dos leucócitos. Surtos de diarreia intercalam-se, 1lS vezes, com períodos de constipaÇt10 intestinal. O paciente queixa-se de desconforto abdo- minal ou de dores vagas, podendo estas ter o carater de cólicas ou de dor epigastrica e simular outros padecimentos gastrintestinais. O acometimento, predominando no duodeno, imita por vezes um quadro de úlcera péptica, com dor ritmada pela ingestao ou neo de alimentos. Perda de apetite, nauseas e vômitos ocorrem em muitos casos, além de outros sintomas dispépticos. Quanto aos sintomas gerais - como anemia, emagrecimen- to, astenia, desidrataçao, irritabilidade nervosa, depresseo etc., referidos nos casos mais graves - é por vezes difícil decidir se resultam do parasitismo ou 980 causas de seu agravamento, pois tais formas acometem frequentemente pacientes que vivem em condições socioeconômicas precarias, onde a desnutriÇtlO existe independentemente da infecçao por estrongiloides. A autoinfeCÇtlO permite 1l estrongiloidíase manter uma evo- Iuçao crônica que, em certos casos, chega a durar 20 ou 30 anos e talvez mais. DIAGNÓSTICO DA ESTRONGILOIDÍASE Visto que esta parasitose produz síndromes pulmonares e di- gestivas comuns a outras doenças, o diagnóstico clínico é incerto. Nesses casos, ou quando houver eosinofilia sem outra raZfto, a estrongiloidfase deve ser lembrada, e solicitado um exame parasi- tológico. Ela tem de ser pesquisada, também, nos casos em que um paciente deva ser submetido a tratamentos ゥュオョッ、・ーセイ・ウ L@ pois a medicaÇt10 anti-helmíntica prévia é indispensavel. SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce < 248 BASES OA PARASITOLOGIA M ÉDICA Exames Coproscopicos. O período pré-patente pode variar entre três e quatro semanas. Depois desse prazo, o exame de fezes é o principal recurso para comprovar a presença dos parasitas. Aí podem ser encontradas as larvas rabditoides de Strongyloides stercoralis, mas DflO os ovos que eclodem logo depois da ovipo- siçao, ainda na mucosa intestinal. Em fezes envelhecidas ou quando o tl'allsito intestinal é muito demorado, por exemplo, podem ser vistas as larvas filarioides. Os métodos habitualmente utilizados para pesquisa de ovos de hehruntos nas fezes sao inadequados para larvas de estron- giloides, em vista do pequeno número destas eliminado diaria- mente. Nos casos crônicos, a tendência é para menor produçao de larvas. Recomendam-se, pois, métodos de enriquecimento adequados (Fig. 25.3). Extr•o das Larvas da Massa Fecal. É feita com egua tépida e baseada no hidro e termotropismo desses organismos, como ocorre no método de Baermann, no de Rugai e similares. A . - B . . . --. M セ ᄋ@. . . . - nlvel da água . ..-;., .. -...... . .. , ) ' .., ' ' . ' ' 1 • J .· . ' . ... ) __ ..... / 1 • 1, -· .. . ,, " セ@ . . e.. v ᄋ セ@-l . ., . . e Fig. 25.3 Pesquisa de larva de helmintos. A, Método de Rugai, vendo-se -e. esquerda o recipiente com amostra fecal e, -e. direita, o mesmo em- borcado na agua a 45"C, mas protegido por tela de gaze. 8, Método de Baermann, no qual a terra ou a matéria fecal, sustentada por uma tela metalica, permanece em contato com agua aquecida. As flechas indicam a migraçao e a sedimentaçaO das larvas. e. Coprocultura pelo método de Harada-Mori: a matéria fecal é espalhada sobre uma tira de papel de filtro (com 3 X 15 cm) dobrada longitudinalmente, a extremidade inferior do papel deve mergulhar na agua, de modo a permitir que uma com:nte líquida suba, por capilaridade, estimulando as larvas a migrarem para o fundo do tubo. Esses métodos caracterizam-se pela simplicidade e rapidez de execuçao, dando resposta dentro de uma ou duas horas. Sua eficiência decore do uso de volumes relativamente grandes de matéria fecal, colocada sobre uma tela forrada de gaze, e posta em contato com a agua. As larvas migram para a agua e sedi- mentam. Um só exame revela 60 a 80% dos casos positivos, devendo-se repeti-lo três a cinco vezes para conseguir 100% de bons resultados. Coprocultura.É feita pelo método de Harada-Mori (em tubos de ensaio) ou pelo método de Baennann de cultivo sobrecarveo ativado em placas fechadas, que requerem menores quantidades de fezes e se adaptam melhor aos inquéritos parasitológicos de massa. Estas técnicas (e particularmente a cultura sobre carvao ati- vado) dao maiores percentagens de resultados positivos. O método de Harada-Mori (Fig. 25.3), de facil execuçao e leitura, é também adequado para o diagnóstico diferencial entre as larvas de Strongyloides e outras larvas de diferentes nematoi- des (entre as quais as de Ancylostoma e de Necator) encontradas parasitando o homem (Fig. 25.4). Testes Imunologicos. Os métodos imunológicos proporcio- nam boas indicações para o diagnóstico desta parasitose, mas a confirmaçao pelo encontro das larvas é essencial. O teste de ELISA, feito com antígeno de S. ratti, permite reconhecer a maioria dos casos de parasitismo, mas da reações cruzadas com ascaríase e, sobretudo, ancilostomiase. A B e Fig. 25A ldentificaçao de larvas de nematoides em coproculturas de fezes humanas. A, Larva de Strongyloides stercoralis. 8, Larva de Necator americanu.s. C, Larva de Ancylostoma ducdenale. As escalas representam 100 µ.m de comprimento, valendo a menor para as larvas inteiras e a maior para os segmentos de larvas. (Redesenhada, segundo Little, in: OMS, 1981.) ' SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce TRATAMENTO DA ESTRONGILOIDÍASE V fllÍOS medicamentos sao disponíveis contra as formas adultas do Strongyloidesstercoralis: 1. lvermectina, na dose de 200 µ.g/kg/dia, administrado em duas tomadas, por via oral. É absorvida rapidamente e eliminada pelas fezes. Contraindicada durante a gestaçao e a lactaçao. 2. Albendazol,400 mg/kg/dia, via oral,durante três dias, para adultos e crianças com mais de dois anos. Age também contra outros nematoides intestinais. 3. Tiabendazol, recomendado nos casos de hiperinfecçao, na dose de 25 mg/kg, duas vezes ao dia, oralmente, durante 7 a 10 dias. Outro esquema sugerido, para tratamento dos casos normais em um só dia, propõe que se administrem ao paciente 50 mg/kg de tiabendazol (até um maximo de 3 gramas), fracionando a dose em duas a quatro tomadas, sempre depois das refeições. Essa dose é suficiente para matar as fümeas filarioides, com o que as larvas tendem a desaparecer das fezes a partir do segundo ou terceiro dia. Alguns autores recomendam tratar dois dias com essa dose. A persistência de lavas depois desse prazo indica a sobrevi- vência de algumas fêmeas. Por outro lado, ooo sendo destruídas as larvas (que as fêmeas haviam produzido antes da medicaçao), o paciente estara sujeito a sofrer uma reinfecçao e voltar a exibir parasitismo completo depois de urna a quatro semanas. As curas com dose única sao da ordem de 70 a 90% dos casos. É imprescindível, portanto, repetir o tratamento para destruir os novos vermes adultos, antes que voltem a desovar. Os efeitos colaterais que podem apresentar-se sao: tonturas, neuseas, vômitos, dores de cabeça, dores abdominais, diarreia e sonolência. Eles dependem da dosagem empregada, mas tor- nam-se insignificantes e logo desaparecem com o esquema de três dias de tratamento. ECOLOGIA, EPIDEMIOLOGIA E CONTROLE Distribuiçeo セ」。@ e Prevalencia. A estrongiloidíase é cosmopolita, com distribuiçao geogrefica semelhante'll da ancilostomfase, se bem que as arcas endêmicas nem sempre sejam superponíveis e que suas taxas de prevalência sejam mais baixas; na maioria dos inquéritos, ooo vtlO além dos 10% de positividade. Es'TRONCILOIDIA.sE 249 Fontes de Infecçeo e Poluiçeo do Meio. Nas regiões endêmicas, a única fonte de infecçao é o homem, segundo as evidências atuais, ainda que cees, gatos e outros animais possam infectar-se com S. stercoralis e apresentar um para- sitismo transitório. A contaminaçao do solo resulta do habito de defecar no chtlo. Mas, para que as larvas rabditoides sobrevivam no solo, desenvolvam-se até vermes adultos (machos e fêmeas de vida livre) e estes se multipliquem, algumas condições sao necessarias: 1. O terreno deve ser poroso, rico em matéria organica e conter ceno grau de umidade; 2. O clima (ou melhor, o microclima) tem marcada influência sobre a prevalência da estrongiloidíase, sempre maior em regiões quentes e úmidas, e mais baixa em climas semifllÍdos. 3. As temperaturas favoreveis estao compreendidas entre 25 e 30"C, mas tanto o ciclo direto como o indireto podem realizar- se até 37°C. Temperaturas baixas tomam a evoluçao lenta, e matam as larvas rabditoides se inferiores a 8ºC. Fatores de Transmisseo. Além das características de uma helmintíase transmitida pelo solo (geo-belmint!ase), a estrongi- loidíase possui outras muito singulares, como o fato de tornarem- se infectantes as larvas expulsas nas fezes, poucas horas depois de eliminadas; e de conferirem elas alta contagiosidade a esses excretas, assim que depositados no solo. Uma transmissao maciça pode ter lugar diretamente,em tomo de um caso primfllÍo. Exemplo disso é a nipida propagaçao da parasitose em comunidades fechadas de deficientes mentais, descrita em instituiÇôes none-americanas. O ciclo de vida livre multiplica o potencial infectante do solo. E, se as larvas filarioides lltl O se mantêm af por mais de uma a três semanas, a cronicidade das infecçoes humanas assegura a manutençao do processo de transmissao nos seus focos paisa- gísticos. A visita frequente dos moradores de rústicas habitações rurais sempre aos mesmos lugares do peridomicllio, para defecar, e tendo os pés descalços, contribui fonemente para a heteroin- fecçao tanto quanto para as reinfecçoes. Controle de &trongiloidfase. Cabem aqui, de um modo geral, as medidas e a metodologia que se discutem no Cap. 27, item Controle das geo-helmintíases. Recomendamos ao leitor que leia esse texto, bem como o Cap. 26, onde se discuti!ll o controle da ancilostomfase, que apresenta muitos aspectos comuns com o tema que estamos analisando. > SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce 29 Enterobíase ou Oxiurose O PARASITO: ENTEROBIUS VERMICUI.ARIS Organização dos vermes adultos Fisiolo_gia e ciclo evolutivo , RELAÇOES PARASITO-HOSPFJJEIRO NA ENTEROBIASE Patologi.a e sintomatologi.a Diagnóstico da enterobíase Tratamento da enterobíase A enterobíase, enterobiose ou oxiurose, é a verminose intes- tinal devida ao Enterobius vermicu/aris, pequeno nematoide da ordem Oxyuroidea, mais conhecido popularmente como oxiúro (do nome, Oxyuris vermicu/aris, boje na sinonímia). A infecçao costuma ser benigna, mas incômoda, pelo intenso prurido anal que produz e por suas complicações, sobretudo em crianças. O PAR.ASITO: ENTEROBIUS VERMICUI.ARIS Organizaçao dos Vermes Adultos A fêmea é maior que o macho e mede cerca de 1 cm de comprimento. Ela é fusiforme, sendo sua cauda particularmente afilada. O macho mede 3 a 5 mm e tem a extremidade posterior enrolada ventralmente (Fig. 29.1). A cutícula dos vermes adultos é branca, brilhante e finamente estriada no sentido transversal. De cada lado da extremidade anterior, ela forma duas expansões vesiculosas (Fig. 29 .1 A) e, ao longo das linhas laterais do corpo, duas cristas que, nos cortes transversais, aparecem como pequenos triangulos. O aparelho digestivo é simples, iniciando-se com três peque- nos lebios retreteis. Segue-se o esôfago relativamente longo e musculoso, cujo diametro vai aumentando para tres e termina por urna formaçeo esférica, o bulbo esofagiano, provido inter- namente de ve.lvulas que asseguram a progres9fto unidirecional dos alimentos (Fig. 292). O intestino das fêmeas termina pelo reto e orifício anal, si- tuado na unifto do terço médio com o terço posterior do corpo; EPIDEMIOLOGIA E CONTROLE DA ENTEROBÍASE Distribuição geográfica e prevalência O ecossistema e a trans1nissão Controle da enterobíase o dos machos, na cloaca. O aparelho reprodutor (Fig. 29.l) Iltl.O apresenta particularidades. Fisiologia e Ciclo Evolutivo O bftbitat dos vermes adultos é a regttio cecal do intestino grosso humano e suas imediações, sendo os enteróbios encon- trados muitas vezes na luz do apêndice cecal. Machos e fêmeas vivem aderidos'El mucosa ou livres na cavidade, alimentando-se saprozoicamente do conteúdo intestinal. As fêmeas fecundadas llftO ovipõem no intestino, mas acumu- lam de 5.000 a 16.000 ovos,de modo que seus úteros acabam por se transformar em um único saco, distendido pela massa ovular, que ocupa quase todo o espaço entre a regttio bulbar do esôfago e o início da cauda. En!fto, elas abandonam o cécum e migram para o reto e o períneo do paciente. Com a oviposiçeo, que se de na regifto perianal, completa-se a vida do helminto adulto, que DftO tardara a morrer. Outras vezes, ao chegarem ao períneo, as fêmeas morrem, ficam ressecadas e se rompem, liberando en!fto vftrios milhares de ovos cada uma. A duraçeo de sua existência é estimada em 35 a 50 dias. A dos machos é desconhecida. Na ausência de reinfecções, o parasi- tismo cessa, espontaneamente, em poucas semanas. Os Ovos. Silo muito característicos (Fig. 29.I C). Medem 50 a 60 µm de comprimento por 20 a30 µm de largura e se apresentam ligeiramente achatados de um lado. Têm superfície pegajosa, que adere facilmente a qualquer suporte. No interior do ovo encontra-se uma larva je formada, por ocasifto da postura - pois ela pode desenvolver-se até o se- SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce A ------- a B ······---- b - -------- e - ----- -d _____ j h------- ----- d --- g e Fig. 29.1 Enterobius vermicularis. A , Representaçao esquelJlfltica da fêmea: a , expansões vesiculosas (aletas cervicais); b , esôfago com bulbo esofagiano; e, intestino; d , úteros; e, vagina; f, ovwios e ovidutos; g, reto e1lDUS. 8 , Macho: h ,canal ejaculador; i, testículo. e. Ovo deenteróbio, com duas cascas bem evidentes e uma larva no interior. gundo estedio em condições de anaerobiose. Mas para a con- tinuaÇftO do seu desenvolvimento é necesseria uma atmosfera com oxigênio. Na temperatura da pele (cerca de 30"C), a maturaÇftO do ovo faz-se em 4 a 6 horas. No solo, o processo é mais lento. Assim que completada a evoluÇfto no meio externo, os ovos tornam-se infectantes e,ao serem ingeridos, vtlO eclodir no intestino delgado do novo hospedeiro (ou do próprio paciente, je parasitado). Aí, as larvas Ílllo alimentar-se, crescer e transfonnar-se em vermes adultos, enquanto migram lentamente para o cécum. Neo he ciclo pulmonar. No habitat definitivo, copulam e reiniciam seu ciclo biológico, que é completado em um ou dois meses. RELAÇÕES PARASITO-HOSPEDEIRO , NA ENTEROBIASE A suscetibilidade'El infecçao por Enterobius é universal. Apesar da curta vida dos hei mintos, o parasitismo dura,'Els vezes, muitos anos, dada a facilidade com que as pessoas se reinfectam. EN°TEROBfA.sE OU 0 XIUROSE 277 Fig. 29.2 Enterobius vermicularis: extremidade anterior de uma fêmea madura, onde podem ser vistos os minúsculos labios que cercam a boca, as aletas cervicais, o esôfago musculoso com seu bulbo posterior e o início do intestino. À esquerda destes últimos encontra-se uma alça uterina cheia de ovos. Entretanto, a convivência de pessoas pouco parasitadas com outras que apresentam infecções pesadas, em ambientes favore- veis11 transmisseo, fala em favor de alguma forma de resistência ou imunidade. Patologia e Sintomatologia A aÇftO patogênica no intestino é principalmente de natureza mecaruca e irritativa, ao produzirem os vennes pequenas erosões da mucosa, nos pontos em que se fixam com seus lobios; ou ao determinarem uma ioflamaÇfto catarral se o número de parasitas for suficientemente grande. Em casos excepcionais, foram registrados 5 .000 a 1 O .000 ver- mes por paciente. Mas, habitualmente, uma só ou talvez algumas fêmeas podem ser recolhldas do períneo, cada manha. De cada vinte crianças parasitadas apenas uma apresenta sintomas atribuíveis aos enteróbios, pois o parasitismo leve é geralmente assintometico. O sintoma que aparece com maior frequência é o prurido anal, causado pela presença do parasito na pele da regieo. A margem do1lllus apresenta-se,enltlO, avermelhada, congestionada e por vezes recoberta de muco que chega a ser sanguinolento. Pode haver lesões na mucosa retal. O prurido é intenso, levando o paciente a coçar-se e a produzir escoriações na pele, que abrem caminho a infecções bacterianas. A coceira manifesta-se sobretudo'El noite, logo após deitar-se. Nas meninas, acompanha-se por vezes de prurido vulvar. Fenômenos SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce 278 BAsF.S DA PARASITOLOGIA M WICA de hipersensibilidade devem estar envolvidos no processo, pois outro sintoma frequente é o prurido nasal. Crises de urticaria nao 980 raras. Resultam, daí, perturbações do sono, o que acaba por trazer nervosismo, irritabilidade e insô- nia. Na esfera genital, a irritaçao local pode conduzir a exagerado erotismo, masturbaçe.o e acessos de ninfomania. Nos casos de parasitismo intenso, instala-se uma colite crô- nica, com produçe.o de fezes moles ou diarreicas, inapetência e emagrecimento. Diagnostico da Enterobíase Sintomas como o prurido anal, que se manifesta sobretudo11 noite, sinais de irritaçe.o cutanea perineal em crianças, ou eosi- nofilia ligeira (4 a 15% de eosinófilos) sem outra causa, levam a pensar em enterobíase. O diagnóstico é facil, quando as pessoas que cuidam da higiene dos pacientes encontram os vermes na roupa íntima ou de cama, ou no períneo das crianças. Mas os Enterobius passam em geral despercebidos. Os exames de fezes, mesmo com técnicas de enriquecimento, só revelam 5 a 10% dos casos de parasitismo. A melhor forma de encontra-los consiste em aplicar sobre a pele da regifto perineal (onde as セュ・。ウ@ gravidas se encontram e fazem suas desovas) uma fita adesiva transparente. Os ovos, quando presentes, aderem 1l superfície gomada da fita. Depois de removida da pele, a fita seni colada sobre uma lamina de microscopia e examinada ao microscópio (Fig. 29.3). Nessa preparaçe.o, além de ovos típicos, podem ser vistas, por vezes, uma ou mais fêmeas de Emerobius (eventualmente também ovos de Taenia). Mas, se o exame for negativo, deve-se repeti-lo cinco ou seis vezes, em dias sucessivos. Fazer o exame pela manhtl, assim que o paciente se levantar e antes de banhar- b A '- ' ... .. セIN[@ • • . • ·-- b B e -- Fig. 29.3 Técnjca do exame parasitológico para o diagnóstico da en- terobfase (oxiurose). A, Maneira de dispor a fita adesiva transparente (a) e as tiras de papel (b) sobre uma espatula, lamina ou "abaixador de Ungua". 8, Aplicaçe.o da fita adesiva contra a pele da regifto perianal. C, Fita adesiva, depois de retirada da pele, colada sobre a lamina de microscopia e pronta para o exame. se, pois a positividade diminui no decurso do dia, 11 medida que os ovos se desprendem da pele. Tratamento da Enterobíase Baseia-se no emprego de um dos seguintes anti-helmínticos ja descritos para o tratamento da ascaríase (ver Cap. 27): • Albendazol. Administrar, por via oral, a dose única de 400 mg, que deve ser repetida duas semanas depois. • Mebendazol. Dar 100 mg, duas vezes ao dia, durante três dias (total: 600 mg), para qualquer peso ou idade. Taxa de cura, 90% ou mais. Repetir o tratamento se necessario. • Pamoato de pirantel. A dose é de 10 mg/kg de peso cor- poral, em dose única, por via oral (maximo 1 g). Com um só tratamento curam-se 80 a 90% dos casos e, com dois, 100%. Alguns autores recomendam repetir o tratamento três vezes, com intervalos de 15 dias. Contraindicado na gestaçe.o. • Pipcrazina. Tratar, durante uma semana, com dose diaria de 50 mg por quilo de peso do paciente. A expectativa de cura é de 80 a 90%. Além desses medicamentos de largo espectro, eficazes, ao mesmo tempo, contra os ascaris, ancilostomídeos, estrongiloides e trícuris, também se recomenda: • Pamoato de pirvínio. Que é um corante vermelho, in- solúvel na agua e portanto nao absorvível pelo intestino. Prescreve-se, por via oral, na dose única de 5 a 10 mg/kg de peso do paciente. Administrar em jejum ou depois da primeira refeiçe.o, avisando aos pacientes que as fezes semo coradas de vennelho e manch!ll'll.o a roupa. Nao apresenta efeitos colaterais. Obtém-se a cura parasitológica em 90 a 95% dos casos. EPIDEMIOLOGIA E CONTROLE DA , ENTEROBIASE Distribuiçao Geografica e Prevalencia Verminose de ampla distribuiçe.o, estimava-se a existência de mais de 200 milhões de casos em todo o mundo, em meados do século passado. Nos países latino-americanos foram registradas taxas de in- fecçe.o de: 48 a 51 % no México; 36,5% em Santiago do Chile; 42% em Buenos Aires; 60% em Silo Paulo e 22,3% no Rio de Janeiro. Entretanto, esses índices sao pouco comparaveis devido 1l falta de critérios homogêneos para a escolha das amostras,ao seu tamanho geralmente pequeno e 1lS diversas técnicas de diagnóstico empregadas. Contrariamente a outras parasitoses, a eoterobfase é mais comum nos climas frios e temperados, inclusive nos países mais desenvolvidos, devido 1l menor frequência dos banhos e ao uso mais constante de roupa de baixo (que pode per- manecer djas sem trocar), além do maior confinamento em ambientes fechados. Para alguns autores, o que mais influi 980 os oobitos pessoais de cada membro da populaçe.o. Povos cujas crianças vestem pouca roupa e nao usam calças de baixo estilo menos sujeitos 1l parasitose do que os que usam. A vida em ambientes abertos, nos trópicos, a nataçe.o e os banhos de rio contribuem também para protegê-las da enterobíase. SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce O Ecossistema e a Transmisseo Enterobius vermicularis é um parasito quase exclusivo da espécie humana. A enterobíase apresenta-se como endemia de careter focal, constituindo a casa, ou melhor, a família, o foco epidemiológico elementar. As crianças em idade escolar Silo as mais parasitadas, o que indica ser a escola lugar de intensa disseminaçao das formas infecLantes (ovos). Os pré-escolares ocupam o segundo lugar como grupo de risco, seguidos pelo das mees que cuidam das crianças parasitadas. Nos orfanatos, c-olégios e instituições que reúnem grande número de crianças, alojadas quase sempre em dormitórios coletivos, é onde as taxas de prevalência e as cargas parasitarias costumam ser as mais elevadas. O Meio Exterior e a Resisttncia dos Ovos. O parasitismo passa de uma pessoa a outra pela transferência de ovos, que de- vem permanecer pelo menos algumas horas no meio externo para completarem sua evoluçao larvruia e tomarem-se infecLantes. As temperaturas adequadas para a evoluçao situam-se entre 23 e 43°C. O desenvolvimento cessa abaixo ou acima desses limites; entretanto, o frio conserva melhor os ovos do que o calor. A umidade requerida para a sobrevivência é tanto maior quanto mais alta a temperatura, raztlO pela qual Si!O rapidamente destruídos pelo calor seco. Os ambientes muito ventilados matam os ovos ao provocarem sua desidrataçao. Normalmente, os ovos Silo abundantes na pele da regiao perianal e no períneo dos indivíduos infectados, principalmente durante a noite e as primeiras horas da manhtl. Daí, passam para a roupa de dormir (pijamas e camisolas), para a roupa de cama (lençóis) ou ficam na roupa íntima (calças e cuecas). Em seguida, com a movimentaçao dos pacientes ou dessas peças de roupa, dispersam-se no ambiente e misturam-se com a poeira. Os ovos de Enterobius resistem aos desinfetantes comuns nas concentrações habituais, mas Silo destruídos em 5 minutos pelo cresol saponificado (a 10%), pelo fenol (a 7%) e pela cloramina (a 4%). Mecanismos de Transmisseo. Devemos distinguir duas formas de transmisStto: a heteroinfecÇtlO e a autoinfeCÇtlO, cada uma com duas modalidades principais: por via aérea e por meos sujas. 1. A transmisStto do parasitismo de um indivíduo a outro (heteroinfecçao) da-se geralmente pela inalaçao e ingeslilo de ovos disseminados por via aérea. Ocorre facilmente entre pessoas que dormem no mesmo quarto e, mais ainda, na mesma cama; também entre pessoas que frequentam as mesmas instalações sanitarias. Pois no ato de despir-se e vestir-se, descobrir-se eco- brir-se com os lençóis, a agitaÇtlo da roupa contaminada lança no ENn:ROBfA.sE OU 0XIUROSE 279 ar grande quantidade de ovos. Assim se explica a alta incidência de enterobíase em orfanatos, colégios e instituições que reúnem grande número de crianças em alojamentos coletivos. 2. A transmisStto indireta, da regiao anal para a boca, através de meos contaminadas de outra pessoa (heteroinfecçao), ocorre com frequência entre as crianças pequenas e os adultos que cuidam delas. 3.A autoinfecçao,ou seja, a reinfecçao com ovos procedentes do mesmo indivíduo, pode realizar-se por via aérea, como foi indicado no item 1, com maior facilidade que a heteroinfecçao, tanto na cama como no momento de trocar os trajes da noite, puxando-os pela cabeça. 4. A transmiSSi!o direta do11Dus para a boca do mesmo paciente assegura a possibilidade de autoinfecções maciças, quando a pessoa, depois de coçar-se, impelida pelo prurido irresisúvel, levar a meo 11 boca (mormente crianças que chupam o dedo e indivíduos que roem unha) ou quando tocam alimentos, copos, talheres, cigarros etc. que em seguida vao11 boca. O número de ovos que se acumulam sob as unhas pode ser considerevel. Controle da Enterobíase Do que foi dito, conclui-se que nenhuma medida isolada, inclusive a quimioterapia, é suficiente para interromper a trans- misStto do Enterobius e a autoinfecçe.o. Mas, quando aplicada repetidamente a todos os membros da família ou do grupo em causa, a terapêutica é a medida fundamental. A desparasitaçao deve ser repetida a intervalos cunos (cerca de 20 dias), inferiores11 duraçao do ciclo parasitario. E o trata- mento deve acompanhar-se e seguir-se de medidas higiênicas pessoais e gerais, como: a) banhos matinais diruios, preferivelmente de chuveiro; b) lavagem cuidadosa das IUflOS, após a defecaçao, antes de comer e antes de preparar alimentos; manter as unhas curtas ou usar escova para sua limpeza; combater a onicofagia e evitar a co- çagem direta da regiao perineal (para as crianças pequenas, usar macacões para dormir e aplicar pomadas antipruriginosas); c) mudar frequentemente as roupas de baixo, as roupas de dormir, os lençóis de cama e as toalhas; fervê-las ou lava-las em maquinas que aqueçam a mais de 55°C, para destruir os ovos; d) evitar a superlotaçao dos quartos e alojamentos, que devem ser amplamente arejados, durante o dia; e) dispor de instalações sanitruias adequadas e assegurar estrita limpeza do ambiente; t) outras medidas muito úteis, sempre que possível, consistem em remover o pó por meio de aspiradores e usar desinfetantes; g) a educaçao sanítruia deve ser promovida nas escolas, nas instituições que abrigam crianças, nos clubes e nos domicílios. SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce O r d em T rich ine llic lae Deborah Aparecida Negrão-Corrêa Stefan Michel Geiger Na ordem T rich inellida encontram os as espécies dos gêneros Trichuris, Trichinella e Capillaria que com importância médica e veterinária. Estes nematódeos são classificados como pertencentes à classe Enoplea (= Adenophorea), se caracterizando por não apresentar órgãos sensoriais denominados de fasmides, além da ausência de canais laterais do sistema excretor. Estudos recentes de nlogenia analisando genes da pequena subunidade do RNA ribossomal propõem uma reorganização da classe Enoplea, subdividindo-a em duas subclasses: Enoplia e Dorylaimia, sendo que nesta última inclui-se a ordem Trichinellida, com as famílas Trichuridae, Trichinellidae e Capillaridae, cujos principais gêneros serão estudados neste capítulo. As espécies que compõem a ordem Trichinellida são caracterizadas por abertura bucal localizada na extremidade anterior do parasito, sendo desprovida de lábios e a cavi dade bucal é muito reduzida ou ausente. O esôfago constitui um tubo delgado e longo, com musculatura pouco desen volvida, sendo que na porção posterior é marginado por uma coluna de células glandulares denominadas de esticóci- tos. O conjunto dos esticócitos geralmente é referido como esticossomo. Os representantesda ordem Trichinellida são dioicos e com dimorfismo sexual. Ambos os sexos apre sentam apenas um conjunto único de órgãos genitais e os machos podem ou não apresentar um espículo terminal. F am ília T richuridae Os vermes adultos da família Trichuridae apresen tam forma típica semelhante a um chicote (whipworms, como são conhecidos na língua inglesa). Esta aparência é consequência do afilamento da região esofagiana, que compreende cerca de 2/3 do comprimento total do corpo destes nematódeos, seguido de alargamento abrupto da região posterior, que compreende o intestino e os órgãos genitais (Figuras 34.1 e 34.2). Portanto, a denominação do gênero Trichuris (cauda em forma de cabelo), proposta por Roederer, 1761, morfologicamente representa um engano. Em 1782, Goeze propõe a designação de Trichocephalos (cabeça em forma de cabelo) para o gênero, e Schrank, em 1788, corrige para Trichocephalus, que, apesar de morfo logicamente correto e amplamente utilizado por laborató rios de análises clínicas, não foi aprovado pelo Comitê de Nomenclatura da Sociedade Americana de Parasitologia. Yamaguti (1961) descreveu 70 espécies do gênero Trichuris que parasitam ceco e colón de uma grande diver sidade de espécies de mamíferos. Entre as espécies deste gênero vale citar Trichuris ovis, que é parasito de ruminan tes e apresenta elevada prevalência em ovinos, Trichuris suis, que é frequentem ente encontrado em suínos, e Trichuris vulpis que é encontrado em cães, raposas e coio- tes, especialmente em áreas quentes e úmidas. A espécie Trichuris muris ocorre naturalmente em ratos e camundon gos e tem sido utilizada como modelo experimental para o estudo de vários aspectos desta interação parasito-hospe- deiro pela facilidade de manutenção no laboratório. Dados arqueológicos sugerem que a associação Tri churis x hospedeiro é bastante antiga em vertebrados encontrados na América. No Piauí, coprólitos de felinos datado de 9.000 anos apresentam ovos característicos de Trichuris sp., e na Patagônia temos relatos de ovos característicos de Trichuris em coprólitos de espécies de roedores datados de 9.000-10.000 anos. Provavelmente, o parasitismo por Trichuris em humanos tenha se adaptado ainda no ancestral primata. Relatos da presença de ovos no solo, em coprólitos ou no intestino de múmias sugerem que a tricurose era endêmica por toda a Eurásia, mesmo em regiões de clima temperado. O fato de atualmente se observar uma alta prevalência desta parasitose somente em regiões tropicais e subtropicais é, provavelmente, consequência da melhora das condições sanitárias das populações humanas residentes em regiões temperadas. Na América, ovos de Trichuris foram iden tificados no intestino de um menino inca da região do Chile, que viveu no ano 500, indicando que a infecção por T. trichiura na população da América do Sul se estabeleceu antes da chegada dos colonizadores europeus. Novas inves- CAPÍTULO 34 SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce FIGURA 34.1. Trichuris trichiura; (A) fêmea; (B) macho; (C) ovo; a: ânus; b: útero; c: ovário; d: vagina; e: faringe filiforme; f: canal deferente; g: espículo; h: cloaca; i: testículo. (Adaptado de Rey, 197-3.) * FIGURA 34.2. Características gerais de Trichuris: (A) vermes adultos (macho e fêmea); (B) ovo de T. trichiura; (C) porção anterior do verme adulto, na região do esôfago, evidenciando céíulas glandulares denominadas "esticócitos" (seta). (Fotos da autora.) CAPÍTULO 34 tigações em uma caverna no México relatam a presença de ovos de T. trichiura em coprólitos humanos datados de cerca de 1.400 anos (Jiménez e cols., 2012), fortale cendo a hipótese de a infecção estar presente na população '.ativa. Apesar de humanos serem o principal hospedeiro de T. trichiura e o único relevante para a transmissão desta infecção, existem relatos da infecção por esta espécie de Trichuris em porcos e macacos. Por outro lado, também existem alguns relatos de diarreia em crianças da índia causada pela infecção por T. vulpis, a espécie de tricurídeo cue utiliza canídeos como hospedeiro. Trich u r is tr ich iu ra A infecção de T. trichiura (Linnaeus, 1771) é ampla mente distribuída na população humana, sendo que as esti mativas globais indicam que 600 a 800 milhões de pessoas encontram infectadas. Estimativas de prevalência da infecção realizada com dados obtidos de levantamentos realizados a partir de 2010 indicam uma redução global da míecção por T. trichuris, sendo estimado que 465 milhões re pessoas estejam infectadas, das quais 72,2 milhões ré em na América latina. Uma grande parte dos infectados apresentam idade nferior a 15 anos e, geralmente, estão expostas a infec ções com alta carga parasitária, apresentando os quadros _mis graves desta helmintose. A redução da prevalência da mfecçào por T. trichiura com a idade do hospedeiro deve etir uma menor exposição e o desenvolvimento de uma reposta imune mais eficiente para o controle do parasito r s adultos de áreas endêmicas. A mortalidade associada _ infecção por geo-helmintos é difícil de ser estimada e os m ios apresentados variam de 12.000 a 135.000 mortes/ aco. sendo mais utilizado o cálculo de DALYs (Disability- j t i usted life years) para avaliar com parativam ente a — rbidade associada à geo-helmintoses. Apesar da signi- icante redução, as estimativas mais recentes indicam que 5 200.000 DALYs foram atribuídos a geo-helmintoses, sendo 638.200 a tricurose. Fatores climáticos, como temperatura e umidade média «cr ml elevada, mas não extrema, pouca variação climática mrante o dia, além do pH do solo variando de 5,3 a 5,6 e istxo nível de desenvolvimento humano (IDH) são fatores . m aumentam o risco de contaminação humana por T. tri- rcura. Também foi verificado que atualmente, a população z :n maior risco de adquirir a infecção por este nematódeo *: Brasil vive na periferia de centros urbanos e não em xeas rurais (Bethony e cols., 2006; Pullan e cols., 2014). M orfo log ia A dultos Medem de 3 a 5 cm de comprimento, sendo os machos menores que as fêmeas. A boca, localizada na extremidade arrerior, é uma abertura simples e sem lábios onde pode cr i rservado um pequeno estilete, seguida por um esôfago •accan^ longo e delgado, que ocupa aproximadamente 2/3 bc EomçnTrrettio total do verm e (Figura 34 A e 34 .2A). V i porção final, o esôfago apresenta-se como um tubo de parede delgada, circundado por uma camada unicelular de grandes esticócitos (Figura 34.2C). Na superfície ventral da região esofageana também se encontra uma fileira de pequenos poros associados a células glandulares e célu las não glandulares, denominada de camada bacilar, cuja função ainda não está definida, mas tem sido sugerido que possa estar associada à regulação osmótica e iônica. A parte posterior do corpo de T. trichiura, cerca de 1/3 do comprimento total, compreende a porção alargada, onde se localiza o sistema reprodutor simples e o intestino, que ter mina no ânus, localizado próximo a extremidade da cauda. Os verm es adultos são dioicos e com dim orfism o sexual. O macho é menor (3 a 4,5 cm de comprimento), possui testículo único seguido por canal deferente, canal ejaculador que termina com um espículo. A extremidade posterior é curvada ventralmente, apresentando o espículo protegido por uma bainha, recoberta por pequenos espinhos (Figura 34.3C e 34.3D). Na fêmea, que mede 4 a 5 cm de comprimento, pode-se observar ovário seguido do útero contendo muitos ovos não embrionados, que se abre na vulva, localizada na proximidade da junção entre esôfago e intestino (Figura 34.3A e 34.3B). O vo s Medem de 50 a 54 m de comprimento por 22-23 pm de largura, apresentam um formato elíptico característico com poros salientes e transparentes em ambas as extremi dades, preenchidos por material lipídico. A casca do ovo de Trichuris é formada por três camadas distintas, uma camada lipídica externa, uma camada quitinosa intermediáriae uma camada vitelínica interna, que favorece a resistência destes ovos a fatores ambientais (Figura 34.2C). B io lo g ia H á b ita t Os adultos de T. trichiura são parasitos de intestino grosso de hum anos, sendo que em infecções leves ou moderadas, estes vermes habitam principalmente o ceco e o cólon ascendente do hospedeiro. Nas infecções intensas ocupam também cólon distai, reto e porção distai do íleo. T. trichiura é considerado por muitos autores um parasito tis- sular, pois toda a região esofageana do parasito penetra na camada epitelial da mucosa intestinal do hospedeiro, onde ingere muco e células, principalmente restos dos enterócitos lisados pela ação de enzimas proteolíticas secretadas pelas glândulas esofageanas do parasito. Alguns autores demons tram a presença de sangue no esôfago de vermes adultos, sugerindo a possível utilização de sangue do hospedeiro como fonte alimentar, entretanto sua utilização é muitas vezes menor que por ancilostomídeos. A porção posterior de T. trichiura permanece exposta no lúmen intestinal, facilitando a reprodução e a eliminação dos ovos. Ciclo B iológico Aspectos gerais ào cicio biológico àe Trichuris tri chiura foram revisados por Bundy e Cooper (1989). O de 24PÍTUL0 34 335 SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce senvolvimento das espécies de Trichuris é do tipo mono- xeno; fêmeas e machos que habitam o intestino grosso reproduzem-se sexuadamente e os ovos são eliminados para o meio externo juntamente com as fezes. Diferentes estudos relatam que a relação de vermes fêmeas para cada macho é próxima de 1 (1,01 a 1,28). A sobrevivência dos vermes adultos no homem é estimada em cerca de 3 a 4 anos com base no período de eliminação da infecção de populações que migram de uma área endêmica para outra área sem transmissão. Entretanto, estes dados podem representar uma esti mativa de sobrevida exagerada, uma vez que considera a sobrevivência máxima do parasito. Estim ativas indi retas, baseadas na intensidade da infecção em diferentes faixas etárias da população de áreas endêmicas, indicam uma sobrevida de 1 a 2 anos para os vermes adultos de T. trichiura. A maioria dos estudos indica que a fêmea fecundada de T. trichiura elimina em média 3.000 a 5.000 ovos por dia; entretanto, dados recentes (Hansen e cols., 2015) estimam que as fêmeas possam produzir 18.000 ovos por dia, que representa uma reposição diária de 5% a 30% dos cerca de 60.000 ovos encontrados no útero. A falta de diagnóstico e tratamento de grande parte dos indivíduos infectados, associada a uma estrutura sanitária deficitária ou mesmo inexistente são os principais fatores associados à contami nação ambiental com ovos do parasito, que são elimina dos através das fezes de pessoas infectadas. Uma vez »: ambiente, estes ovos sofrem embriogênese formando uirn larva de primeiro estágio. O periodo necessário para completar a embriogênese depende de condições ambientais, especialmente tempe ratura e umidade; à temperatura de 25°C, o processo de embriogênese ocorre em cerca de 21 dias, enquanto a 34 a embriogênese é mais rápida, podendo ser observadas larvas infectantes nos ovos após 13 dias. Em temperatura abaixo de 20°C este processo pode ser bastante retardac: por exemplo, T. suis, parasito de suínos, cujos ovos embr. > nam em cerca de 37 dias a 25°C, levam de 434 a 630 dias para completar sua embriogênese no sudeste da Inglaterra. onde a temperatura do solo varia de 4 a 20°C. Temperaturas muito elevadas (acima de 52°C) ou muito baixas (-9°C ) não permitem o desenvolvimento dos ovos de T. trichiurs De maneira semelhante ao descrito para Ascaris lu~- bricoides, os ovos de T. trichiura são muito sensíveis i dessecação, não sobrevivendo por mais de 15 dias quar: a umidade relativa é menor que 77% ou em áreas com in>:^ lação direta. Entretanto, em condições ambientais favo i veis, os ovos de T. trichiura contendo as larvas infectantes podem permanecer viáveis por longo período de tempo. En um estudo realizado com solo recolhido da área do pátio à-. um hospital psiquiátrico da Inglaterra, foi demonstrado que após 12 meses, sem nova contaminação, cerca de 50% dcs ovos de T. trichiura permaneciam viáveis. FIGURA 34.3. (A-B) Fêm ea d e Trichuris sp. m ostrando o ov idu to (o) c o n te n d o ovos e a a b ertu ra d a vulva (v) próxim a d a separaçã: d o esôfago com intestino (seta); (C-D) Porção posterior d o m acho d e Trichuris sp., m ostrando o espécu lo envolto em um a bair com esp inhos (seta). (Fotos d a autora .) 336 CAPÍTULO SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce Os ovos contendo uma larva de primeiro estágio são infectantes para o hospedeiro, sendo geralmente ingeridos jntamente com alimentos sólidos ou água contaminados. As larvas de T. trichiura eclodem através de um dos poros presentes nas extremidades do ovo, no intestino delgado do hospedeiro. Estudos in vitro indicam que o processo de eclosão das larvas do parasito é estimulado pela exposição sequencial dos ovos aos componentes do suco gástrico e do suco pancreático (Figura 34.4). O desenvolvimento das larvas de T. trichiura no in testino do hospedeiro ainda apresenta aspectos bastante controversos e desconhecidos, especialmente nos primeiros dias de infecção. Estudos experimentais com T. vulpis em cães indicam que as larvas recém-eclodidas penetram no epitélio da mucosa intestinal na região duodenal, pela base ias criptas de Lieberkuhn, permanecendo nesta localidade nor 5 a 10 dias, e posteriormente estas larvas ganham a az intestinal e migram para o ceco e o cólon onde com- oletam seu desenvolvimento. A permanência das larvas no duodeno do hospedeiro foi descrita em cães experimen talmente infectados com um grande número de ovos de T. vulpis, portanto, alguns autores discutem a relevância fisiologia da presença das larvas no duodeno e a existência desta fase em infecções humanas. Segundo Bundy e Cooper, os estudos histológicos revelam que as larvas de Trichuris sp. podem penetrar na mucosa em várias regiões do intestino, mas esta penetração ocorre principalmente no intestino grosso, e não foram encontradas evidências de que as larvas que penetram no duodeno completam seu desenvolvimento, ou mesmo que ocorra uma posterior migração das larvas do duodeno para o intestino grosso. Assim as larvas LI penetram preferen cialmente nas criptas cecais, penetrando na mucosa intes tinal onde as larvas habitam células da camada epitelial, formando túneis sinuosos na superfície epitelial da mucosa. Durante este período as larvas se desenvolvem em vermes adultos, passando pelos quatro estágios larvais típicos do desenvolvimento dos nematódeos. A primeira muda do ciclo deste parasito ocorre entre 9 e 11 dias após a penetração, a segunda muda ocorre a partir ^CURA 34.4. Ciclo d o Trichuris trichiura. (A) M achos e fêm eas no ceco . (1) Elim inação d e ovos nas fezes; (2) ovos to rn an d o -se em b rio n ad o s; (3) ovo in fec tan te c o n ta m in a n d o a lim en tos: ovo seg u e esô fago e a tinge estô m ag o , o n d e é sem id igerido ; larva eclode no d u o d e n o e m igra p ara o ceco ; d u ra n te a m igração, sofre q u a tro m udas; cerca d e 1 m ês ap ó s a infecção, as fêm eas niciam a postura. :-= IT U L 0 34 SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce de 17 dias, a terceira após 22 dias e a última muda do ciclo corre a partir de 32 dias de infecção. Após este período, ocorre a diferenciaçãodos esticócitos na região esofageana, e do órgão genital na porção posterior à junção do esôfago com o intestino. O crescimento e o desenvolvimento dos vermes levam ao rompimento das células epiteliais e a exposição da porção posterior do corpo de T. trichiura à luz intestinal do hospedeiro (Figura 34.4). Apenas um a pequena parte (5 a 22%) dos ovos in- fectantes de T. trichiura ingeridos completam o desen volvimento até vermes adultos. Estima-se que o período pré-patente da tricurose em humanos, tempo entre a infec ção até a eliminação dos ovos pelas fezes do hospedeiro, é de aproximadamente 60 a 110 dias (Flansen e cols., 2015). T ransm issão Os ovos de T. trichiura eliminados com as fezes do hospedeiro infectado contaminam o ambiente, em locais onde o saneamento básico é deficiente ou ausente. Como os ovos são extremamente resistentes às condições ambientais, podem ser disseminados pelo vento ou água e contaminar os alimentos e a água, sendo então ingeridos pelo hospe deiro. Ovos de T. trichiura também podem ser dissemina dos por moscas, que transportam os ovos do parasito do local onde as fezes foram depositadas até o alimento. Em áreas de alta prevalência, onde a contaminação do solo é elevada, a ingestão de ovos diretamente da mão contam inada e a prática de geofagia, com portam ento relativamente frequente em crianças e mulheres grávidas especialmente em algumas regiões da África, da índia e da América Latina, também contribuem para a transmissão deste parasito. Patogfenia Apesar do grande número de pessoas infectadas por T. trichiura, a tricurose não tem sido tratada com a devida atenção pelas autoridades de saúde pública das regiões de alta prevalência da infecção. Provavelmente, o descaso seja em razão da grande proporção de casos assintomáticos da doença e da falta de informações quanto à real consequên cia da infecção crônica, especialmente em crianças. Os principais aspectos da patogenia associada à in fecção por T. trichuris estão apresentados por Cooper e Bundy (1988), Stephenson e cols. (2000) e Khuroo e cols. (2010). A gravidade da tricurose depende da carga parasitá ria, mas também tem influência de fatores como a idade do hospedeiro, o estado nutricional e a distribuição dos vermes adultos no intestino. Com relação à carga parasitária, a Organização Mundial de Saúde recomenda que os progra mas de controle de helmintos considerem como infecções leves, os pacientes cujo exame de fezes revela um número menor que 1.000 ovos/g fezes, infecções moderadas as que os pacientes eliminam entre 1.000 e 9.999 ovos/g fezes, e infecções graves quando um número superior a 10.000 ovos/g fezes é quantificado nas fezes dos pacientes. Em geral, observa-se uma correlação positiva entre intensidade de infecção e gravidade da sintomatologia, por tanto, a maioria dos pacientes com infecções leves é assr- tomática ou apresenta sintomatologia intestinal discreta ; pouco específica. Pacientes com infecção moderada gera- mente apresentam dores de cabeça, dor epigástrica e ac baixo abdome, diarreia, náusea e vômitos em grau variao. que podem resultar em diminuição da ingestão de alimer.: - e aumento de perdas nutricionais, comprometendo o estao: nutricional do hospedeiro. A síndrome disentérica crônica é associada a infecções intensas, sendo que nestes cas:s se pode observar uma diarreia intermitente com presenç. abundante de muco e, algumas vezes, sangue, dor abdomi nal com tenesmo, anemia, desnutrição grave caracterizada por perda de peso e, algumas vezes, prolapso retal. É importante relembrar que, além da intensidade ca infecção, a idade do hospedeiro e o estado nutriciona também influenciam o desenvolvimento da sintomatologia, sendo relatados na literatura casos de crianças desnutridas com sintomatologia grave sem necessariamente ter uma infecção intensa (ou seja, estar eliminando mais de 10.(XX ovos/g fezes) ou de adultos bem nutridos com infecçã: intensa, mas sem sintomatologia correspondem*. A sintomatologia associada à tricurose é decorrênc a da interação deste parasito com seu hospedeiro. Com: não existe migração sistêmica das larvas de T. trichiw - em humanos, as principais lesões provocadas pelas lar\ as e vermes adultos deste parasito estão confinadas ao intes tino. Trichuris trichiura ocupa preferencialmente a mucosa da região do ceco do hospedeiro, entretanto em infecções intensas o verme pode atingir todo intestino grosso, o rer. : e o íleo distai. Neste ambiente, o parasito vive em túncã constantemente formados na camada epitelial através c_ penetraçâo da região anterior do verme. Na proxim idai; do verme, a movimentação e a alimentação destes causart lesões ao epitélio e à lâmina própria intestinal do hospe deiro, podendo ser observado um aumento na produçã: de muco pela mucosa intestinal, áreas de descamaçào át camada epitelial e infiltração de células mononucleares na lâmina própria. Eosinófilos são também encontrados associados à re gião dos esticossomos (glândulas da região esofageana) áas vermes. Portanto, infecções com pequena quantidade ce vermes adultos (infecções leves ou mesmo na maioria das infecções moderadas), que compreendem a grande maior.e dos casos, os vermes encontram-se restritos à região o : ceco e cólon ascendentes, consequentemente a inflama, ã se apresenta discreta e localizada, não interferindo si gr - ficativamente nos processos fisiológicos do hospedeiro t portanto, não produzindo sintomatologia expressiva. Entretanto, em infecções mais intensas, a inflamação da m ucosa intestinal pode resultar em colite e apend - cite, sintomas frequentemente associados à infecção per T. trichiura. Estudos com base na análise histopatológka. do apêndice retirado em casos cirúrgicos de apendicra aguda revelam que cerca de 8% deles estavam associados o infecção parasitária, especialmente os casos de infecção per Ascaris e Trichuris. O processo inflamatório pode ser p ar - cularmente intenso quando os vermes atingem o reto, senõ observado edema e intenso sangramento da mucosa local Esta reação edematosa produz um inchaço da mucos^ retal, que provavelmente é responsável por iniciar o refie 338 CAPÍTULC SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce de defecação, mesmo na ausência de fezes no reto. O esforço continuado de defecação associado a possíveis alterações nas terminações nervosas locais podem resultar em prolapso retal (Figura 34.5). O prolapso retal observado em casos de tricurose é relatado com maior frequência em crianças que vivem em áreas onde as condições ambientais e socioeconômicas favorecem o estabelecimento de infec ções intensas. No Brasil, os casos de prolapso retal são mais frequentemente relatados na região Norte. Como não ocorre com prom etim ento da m usculatura pélvica, o prolapso retal produzido na tricurose é reversível após a eliminação dos vermes e a resolução da reação inflamatória local. Extensas áreas de lesão e inflamação produzidas por um grande número de vermes também afetam a absorção de líquido, levando a um quadro de disenteria crônica, náusea e vômitos que também são frequentes em pacientes intensamente infectados. Pacientes com tricurose grave também apresentam um aumento significativo na permeabilidade intestinal, que só foi recuperada após o tratamento com mebendazol. Alguns autores sugerem que a alteração de permeabilidade intes tinal, importante elemento no desenvolvimento do quadro disentérico, pode ser consequência da produção de IgE e desgranulação de mastócitos que geralmente é observada na mucosa de pacientes com tricurose crônica. Estudos recentes revelaram que infecção crônica por Trichuris em modelos experimentais afetaa microbiota ntestinal, levando a uma grande redução da diversidade C1CURA 34.5. Prolapso retal provocado por alta infecção do Tri- zhuris trichiura; lesão relativamente frequente no norte do país. Segundo BeckJW , Davis JE. Medicai Parasitology, 1981). bacteriana e um aumento da abundância de bactérias dc gênero Lactobacillus, refletindo no balanço da resposta imune intestinal. A lesão da mucosa intestinal provocada pela presença dos vermes também pode facilitar a invasão por Entamoeba histolica e a infecção por Campylobacter jejuni, exacer bando o quadro de colite já estabelecido pelo verme. Além disto, a lesão na mucosa intestinal pode gerar sangramento, sendo relatado que em casos de infecção intensa a eva cuação pode ser mucossanguinolenta. A combinação das alterações observadas em pacientes intensamente infectados por T. trichiura pode resultar em sintomas sistêmicos como anemia, desnutrição e, no caso de crianças, retardamento no desenvolvimento físico e comprometimento cognitivo. Os casos mais graves são designados de síndrome disen- térica crônica. A indução das alterações sistêmicas, como anemia, desnutrição, retardamento do crescimento e da capacidade cognitiva, observadas em pacientes com tricurose grave, especialmente crianças, é multifatorial. Embora muitos autores tenham demonstrado que os vermes adultos podem ingerir sangue do hospedeiro, estima-se que o volume de sangue perdido por este mecanismo é bem pequeno, ao contrário do que ocorre para ancilostomose, dificilmente justificando os casos de anemia. Por outro lado, a presença de sangue nas fezes de tectado em alguns pacientes com tricurose grave, pode produzir perdas significativas de sangue que justificam o quadro de anemia, embora isto não aconteça em todos os pacientes com infecção intensa. Aliada a perda de sangue, a deficiência nutricional em consequência da falta de apetite também pode contribuir para a ingestão de quantidades insuficientes de ferro e agravar a anemia nas pessoas com infecção intensa. A relação entre tricurose e desnutrição é difícil de ser estabelecida, pois as infecções intensas geralmente ocorrem em populações pobres sujeitas à deficiência nutricional que as independe da helmintíase. Apesar desta dificuldade, alguns trabalhos demonstram que crianças com tricurose grave (síndrom e disentérica crônica) apresentam uma melhora significativa nos índices nutricionais, estimados pela relação peso e altura por idade, após o uso de trata mento anti-helmíntico. Esta melhora no estado nutricional é observada, sem que ocorram alterações em outros parâ metros socioeconômicos a que esta população esta sujeita, sugerindo a participação direta de T. trichiura no desenvol vimento do quadro de desnutrição. A pesar da infecção experim ental de T. m uris em camundongos mostrarem uma intensa resposta inflamató ria em infecções com um grande número de vermes, em crianças com tricurose grave a análise histopatológica de biópsia do ceco nem sempre revela um processo inflamató rio compatível com a gravidade da doença. Por esta razão, trabalhos recentes têm procurado outras alterações, locais e sistêmicas, além da intensidade da resposta inflamatória, que poderiam participar da patogenia da tricurose. Um detalhamento do estudo histopatológico do intes tino de crianças com parasitismo intenso demonstrou que, apesar do número total de macrófagos presentes na lâmina lAPITULO 34 339 SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce SAMSUNG Realce própria do intestino de crianças com tricurose grave ser semelhante ao número observado em crianças controle, a quantidade de células contendo TN F-a (fator de necrose tumoral alfa) é muito maior nas crianças com tricurose, e estas também apresentam níveis significativamente eleva dos de TNF-a no soro. Níveis elevados de TNF-a são responsáveis pela falta de apetite observada com frequência nas pessoas com infecção intensa, que podem levar a um quadro de desnutri ção. A influência da infecção por Trichuris no consumo de alimentos foi experimentalmente demonstrada em porcos infectados por T. suis, que ingerem uma quantidade signi ficativamente menor de alimentos e apresentam um menor ganho de peso. Além dos elevados níveis de T N F-a, crianças com síndrome disentérica crônica apresentam redução dos níveis plasmáticos do hormônio IGF-1 (insulin growth factor 1) e de um precursor de colágeno do tipo 1, que podem estar associados ao retardo de crescimento observado nestas crianças. IGF-1 é um hormônio produzido pelo fígado e células de origem m esenquimal, como fibroblastos e músculo liso, cuja concentração plasmática aumenta na infância atingindo o máximo na puberdade, sendo que a produção adequada deste hormônio está associada a um crescimento normal, enquanto o colágeno do tipo -1 é o principal componente da matrix orgânica dos ossos. Os níveis plasmáticos de IGF-1 e de colágeno aumentam após o tratamento com anti-helmínticos e a concentração de IGF-1 foi associada ao desenvolvimento da criança. Desta maneira, a produção reduzida de fatores de cres cimento, a diminuição do consumo de nutrientes pela falta de apetite, induzida pelo aumento de TNF-a, e o aumento das perdas alimentares, consequência de disenteria e vômi tos, bem como o prejuízo na absorção de alguns alimentos, como sais minerais, especialmente zinco e ferro, podem ser fatores essenciais no aparecimento das alterações sis têmicas, como anemia, desnutrição e comprometimento no desenvolvimento físico e cognitivo. Finalmente, existem relatos de infecções muito intensas resultarem na obstrução do cólon e na perfuração intestinal, entretanto, estes casos são extremamente raros. Estudos realizados em áreas onde a população foi submetida a tratamento anti-helmíntico em massa mostram que a redução da prevalência de tricurose após uma única dose de anti-helmíntico não é muito relevante, entretanto, a intensidade da infecção reduz drasticamente, diminuindo a morbidade associada a esta helmintose. Desta maneira, o tratamento da tricurose grave realizado em crianças, espe cialmente com idade inferior a 10 anos, resulta em melhora da anemia e da desnutrição. As crianças tratadas apresentam um aumento significa tivo de peso e altura com relação às que receberam placebo, e este crescimento é mais expressivo em crianças mais jovens (abaixo de 10 anos) e acontece mais rapidamente quando as crianças apresentam infecção leve e moderada, já que as crianças com infecções intensas demoram mais tempo para retomar o crescimento. Ao contrário da recu peração física observada após o tratamento de crianças com tricurose grave, a melhora no padrão cognitivo destas crianças ainda é bastante discutida e difícil de ser avaliada. Alguns estudos não revelam diferenças significativas no desempenho cognitivo das crianças tratadas, sugerindo que os prejuízos produzidos pela infecção seriam irreversíveis. Entretanto, outros mostram alguma melhora em alguns testes cognitivos, mas não todos, realizados pelas crianças após o tratamento. D ia g n ó s tic o Clínico Como a maioria dos pacientes infectados por T. tri- chiura são assintomáticos ou apresentam sintomatologia pouco característica, que não permite o diagnóstico espe cífico, portanto deve ser confirmado com o diagnósticc laboratorial. O diagnóstico específico da presença de infecção por T. trichiura é geralm ente realizado pela demonstração dos ovos do parasito nas fezes do paciente. Conforme fo: discutido anteriormente, ovos de T. trichiura apresentam morfologia característica e são produzidos e eliminados nas fezes do hospedeiro em quantidades relativamente elevadas, facilitando o diagnóstico parasitológico pelos métodos de exame de fezes de rotina. Para estudos epidemiológicos em áreas endêmicas, o método mais utilizado para o diagnós tico é o método de Kato-Katz, que permite
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