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21 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 2 Conceitos fundamentais do marketing Neste segundo capítulo serão apresentadas abordagens teóricas e práticas sobre o escopo do marketing, os conceitos fundamentais de marketing e a perspectiva estratégica de marketing. Apesar de o marke- ting ser uma disciplina nova do ponto de vista teórico, houve uma série de reflexões e discussões para se chegar ao escopo mais aceito pelos profissionais e pesquisadores da área. A compreensão desse escopo pode contribuir para ampliar o en- tendimento da função do marketing na sociedade. Além disso, muitas palavras, como necessidade e desejo, por exemplo, fazem parte do vocabulário do dia a dia e circulam “livremente” em nossa sociedade; entretanto, os significados atribuídos pelo senso comum podem trazer SENAC Sublinhado 22 Gestão mercadológica Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .alguma confusão. Faz-se necessário neste momento, portanto, apre- sentar algumas nuances dessas palavras para distingui-las como con- ceitos de marketing. Por fim, será chamada a atenção para a perspectiva estratégica do marketing e a sua relação com a criação de valor. 1 Escopo do marketing Apesar de terem surgido para resolver problemas relacionados ao ambiente empresarial, os conceitos, as teorias e os processos do marketing não se limitam a organizações que visam ao lucro. Na práti- ca, sequer estão reduzidos a organizações, pois, além de ONGs, podem ser aplicados também a causas sociais, eventos, pessoas e lugares (OLIVEIRA, 2012). Em 1969, os professores Kotler e Levy declararam que marketing é uma atividade socialmente difundida cuja aplicação transcende a ven- da de bens – como pasta de dente, sabão e aço –, e que é relevante para todos os tipos de organizações, com ou sem fins lucrativos, des- construindo assim a visão que o restringe tanto como campo de estu- do como no emprego na gestão voltada à comercialização de produtos (KOTLER; LEVY, 1969). Na época, esse pensamento propôs uma abran- gência maior do escopo do marketing e teve uma grande repercussão sobre as reflexões e teorias da área no que se refere à utilidade dos conceitos para todos os tipos de organizações. Ainda sobre a abrangência do marketing, Kotler (1972) apresentou uma distinção em três estágios da consciência a respeito do escopo do marketing. Na primeira delas, a mais tradicional e também a que vem primeiro à mente das pessoas, o marketing é tratado como uma disciplina especificamente de mercado voltada para transações comer- ciais. Depois, na segunda consciência, sua aplicação avança, incluindo todas as organizações, desde que elas tenham clientes; entretanto, não SENAC Realce SENAC Realce SENAC Realce 23Conceitos fundamentais do marketing M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. necessariamente há trocas que envolvam valores monetários, como é o caso de um museu ou uma biblioteca pública. Finalmente, por meio da terceira consciência, que é também a mais abrangente, é proposta uma extensão a todas as organizações em suas relações com todo o público (acionistas, fornecedores, governo, etc.), e não somente com seus clientes. Figura 1 – Estágios da consciência a respeito do escopo do marketing 3ª consciência 2ª consciência 1ª consciência Estende-se a todas as organizações em suas relações com todo o público Inclui todas as organizações, desde que tenham clientes Disciplina especificamente de mercado voltado para transações comerciais Fonte: adaptado de Kotler (1972). Os profissionais que trabalham na área de marketing atuam na gestão da troca de produtos dos mais variados tipos, tais como: bens, serviços, eventos, experiências, pessoas, lugares, propriedades, organi- zações, informações e ideias (KOTLER; KELLER, 2012). Antes de avan- çarmos em outros temas, vamos compreender um pouco melhor cada tipo de produto citado (quadro 1). SENAC Realce SENAC Realce SENAC Sublinhado SENAC Sublinhado SENAC Sublinhado 24 Gestão mercadológica Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Quadro 1 – Produtos: principais categorias de ofertas básicas PRODUTO DEFINIÇÃO EXEMPLOS BENS Os bens tangíveis compõem a categoria de produtos que podem ser estocados e que geralmente circulam nos estoques de atacadistas e varejistas. Produtos alimentícios: chocolate, leite, carne, sucos e refrigerantes. Higiene pessoal: pasta de dente, lâmina de barbear, sabonete. Eletrodomésticos: geladeira, fogão, televisor, mobiliário. Uso industrial: máquinas, equipamentos e ferramentas. SERVIÇOS São produtos intangíveis e que não podem ser estocados. Os serviços podem ser prestados por profissionais liberais e autônomos, assim como por empresas. Existem produtos que são compostos tanto por bens como por serviços, como é o caso das refeições servidas em restaurantes. Profissionais liberais: médico, advogado, dentista, fisioterapeuta, jornalista, psicólogo, arquiteto, entre outros. Autônomos: jardineiro, mecânico de automóvel, esteticista, passeador de cachorro. Empresas: bancos, academias, empresas de transporte rodoviário e aéreo. EVENTOS Festivais de música, feiras setoriais, acontecimentos esportivos e comemorativos estão entre os produtos que fazem parte desta categoria. O público destes produtos pode ser tanto as empresas como indivíduos. Festivais de música: Lollapalooza, Rock in Rio, São Paulo Jazz Festival. Feiras setoriais: Feira da Mecânica, Feira do Livro, Feira do Empreendedor. Acontecimentos esportivos: Olimpíadas, Copa do Munddo. Acontecimentos comemorativos: Dia Internacional da Mulher, Quinhentos Anos do Descobrimento do Brasil. EXPERIÊNCIAS Os serviços e as mercadorias fazem parte da composição da oferta de uma experiência, mas seus papéis no consumo tornam-se secundários. O foco, neste caso, é a troca de informações, experiências e fantasias. Parques como o Epcot, da Disney, proporcionam a experiência de “visitar” vários países em um único dia. (cont.) 25Conceitos fundamentais do marketing M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. PRODUTO DEFINIÇÃO EXEMPLOS PESSOAS Pessoas famosas, como jogadores de futebol, políticos, esportistas, artistas, músicos e outras celebridades, têm notado a importância de cuidar da imagem enquanto pessoa pública e, por consequência, buscado ajuda de profissionais para comercializá-la e gerenciá-la como uma marca. Jogadores de futebol como Neymar, Cristiano Ronaldo e Messi comercializam sua imagem ao assinarem produtos esportivos. Políticos trabalham a sua imagem para conquistar votos dos eleitores. LUGARES Municípios, unidades da federação, regiões e países empenham esforços para atrair turistase investimentos financeiros externos. Algumas cidades já notaram a importância de pensar e gerir a si mesmas como um produto e de buscar uma posição que as destaque positivamente de outras regiões geográficas. A cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, faz questão de divulgar o apelido de “Cidade do Sol”, com a justificativa de ser uma das regiões com o maior número de dias de sol no Brasil, posicionamento que traz consigo a promessa de sol durante todo o ano ao turista. PROPRIEDADES Caracterizam-se pelo direito de posse sobre bens imóveis e bens financeiros. Em ambas as situações, podem ser compradas e vendidas e demandam esforços de marketing para que a transação ocorra. Bens imóveis: terrenos, apartamentos, casas, etc. Bens financeiros: títulos e ações. ORGANIZAÇÕES Assim como ocorre com as pessoas físicas, as organizações (pessoas jurídicas) também investem recursos para construir uma imagem positiva com seus mais diferentes públicos. Na Copa do Mundo realizada no Brasil, as patrocinadoras Coca-Cola, McDonald’s e Johnson & Johnson fizeram ações mais “silenciosas” para enviar recados institucionais ao consumidor (veja a caixa “Na prática” a seguir) INFORMAÇÕES As informações são produzidas, comercializadas e distribuídas nos mais diversos formatos. Os livros, por exemplo, são na verdade “recipientes” ou embalagens, e o objeto de consumo é o conteúdo informacional que trazem em suas páginas. Em escolas, busca-se por informação nas aulas. Nos relatórios de consultoria gerencial, espera- -se receber informações sobre a empresa. Em exames laboratoriais, recebe-se como produto informações para o diagnóstico da saúde do paciente. (cont.) 26 Gestão mercadológica Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . PRODUTO DEFINIÇÃO EXEMPLOS IDEIAS Os profissionais de marketing que atuam em campanhas sociais invariavelmente promovem ideias. Em 2014, durante a crise hídrica de São Paulo, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) veiculou na sua campanha publicitária o slogan “Água, sabendo usar não vai faltar”, sugerindo a ideia de que o esforço da população em racionar o uso da água apresentava-se como um caminho viável para que ela não faltasse. O Ministério da Saúde também promove campanhas que objetivam “vender” (difundir e gerar engajamento) ideias, como as antitabagistas, de doação de órgãos e de combate a criadouros do mosquito transmissor da dengue, zika e chicungunha. Fonte: adaptado de Kotler e Keller (2012). NA PRÁTICA Publicada no jornal O Estado de S. Paulo (SCHELLER; FRAGA, 2014), a matéria sobre ações de marketing nos campos de futebol durante a Copa do Mundo exemplifica o marketing voltado para organizações e, em certa medida, o diferencia do marketing que tem como foco os bens. Patrocinadores como Coca-Cola, McDonald’s e Johnson & Johnson não restringiram as suas ações a outdoors eletrônicos ao lado do campo para promoverem suas marcas e produtos. Ações tácitas foram feitas para enviar mensagens institucionais ao consumidor, geralmente liga- das a projetos sociais, bem como para explanar melhor a clientes po- tenciais suas linhas de produtos menos conhecidos: “Para especialis- tas em marketing, o investimento nessas ações ‘silenciosas’ serve para que as marcas associem seu nome a conceitos positivos” e também “[…] pode ser uma boa forma de o consumidor entender melhor a pro- posta de uma marca” (SCHELLER; FRAGA, 2014). A empresa produtora de bebidas selecionou os gandulas dos jogos. Já a rede de fast-food indicou as crianças que entraram no campo de mãos dadas com jogadores de todas as seleções. Na ação planejada pelo McDonald’s, todas as crianças do projeto Sonho de Craque entraram no SENAC Sublinhado SENAC Sublinhado SENAC Sublinhado 27Conceitos fundamentais do marketing M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. campo vestidas de vermelho e amarelo – cores da marca de fast-food no mundo. A Johnson ficou responsável por organizar o atendimento médico a equipes e torcedores. Duas ações institucionais foram realizadas pela empresa. Em parceria com hemocentros, uma campanha de doação se propôs a coletar 20 mil bolsas de sangue nas doze cidades-sede nos meses que antecederam a realização do evento esportivo. A justificativa para tal ação foi o fato de que os hemocentros ficam vazios nos pe- ríodos dos eventos. Como parte da campanha, os doadores encheram quatro recipientes com cartões vermelhos assinados por eles que repre- sentavam grandes bolsas de sangue. A obra, criada pelo artista plástico Eduardo Srur, foi instalada em frente ao estádio do Maracanã e chamou a atenção dos pedestres. De acordo com Ricardo Wolff, diretor de marketing institucional da Johnson & Johnson no Brasil, a empresa buscou usar o espaço do campo para divulgar “[…] um lado menos conhecido de sua atuação: a fabricação de equipamentos médicos e hospitalares”. Com essa intenção, a marca esteve presente na sinalização dos ambulatórios e também na maleta de primeiros socorros que os médicos das equipes levavam ao campo. Após entendermos que o produto pode se referir a algo diferente de um bem tangível, torna-se mais compreensível que “[…] o profissional de marketing é alguém que busca uma resposta (atenção, compra, voto, doação) de outra parte, denominada cliente potencial (prospects)” (KOTLER; KELLER, 2012, p. 5); ou seja, um gestor de demandas é res- ponsável por “[…] influenciar o nível, a oportunidade e a composição da demanda para atender os objetivos da organização” (KOTLER; KELLER, 2012, p. 5). 2 Conceitos fundamentais Além do escopo do marketing, alguns conceitos são centrais para a compreensão da sua função. Palavras como necessidade, desejo, mer- cado, setor e valor fazem parte do vocabulário cotidiano da maioria das pessoas e são usadas com certa frequência no ambiente organizacional. SENAC Realce SENAC Realce SENAC Sublinhado SENAC Realce 28 Gestão mercadológica Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Entretanto, antes de apresentar outras teorias, é apropriado apresentar essas palavras como conceitos de marketing e compreendê-las dentro desse contexto. 2.1 Necessidades e desejo Essas duas palavras são muitas vezes tratadas como sinônimas ou com uma distinção não muito clara. Reconhecer, no entanto, as di- ferenças entre elas é ponto fundante para compreender a função do marketing. A necessidade é algo que pode ser inerente ao ser humano ou ser aprendida socialmente (SAMARA; MORSCH, 2012). As necessidades humanas são estados em que percebemos a falta de algo. Essa carên- cia pode ser física (alimento e bebida, proteger o corpo das intempéries, etc.) ou social (ser aceito em um grupo, ser benquisto por aqueles com quem convive). As necessidades não podem ser criadas pelos profis- sionais de marketing (KOTLER; ARMSTRONG, 1998). No entanto, são responsáveis por despertar os desejos. Por exemplo, uma pessoa tem a necessidade de saciar a sua sede. Essa condição não pode ser cria- da por uma organização. Porém, há várias formas parasatisfazer essa necessidade. O desejo manifesta-se em algo específico para satisfazê-lo (KOTLER; KELLER, 2012), como em um copo de suco, de refrigerante ou até mes- mo de água. O desejo, por sua vez, sofre a influência da cultura e de preferências individuais. Os desejos dos indivíduos evoluem junto com a sociedade na mesma medida em que os indivíduos são expostos a novas formas de satisfazer seus interesses. SENAC Sublinhado SENAC Realce SENAC Sublinhado SENAC Sublinhado SENAC Realce SENAC Sublinhado SENAC Sublinhado SENAC Sublinhado SENAC Realce SENAC Realce SENAC Realce SENAC Realce 29Conceitos fundamentais do marketing M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 2.2 Mercado e setor Mercado remete, em primeiro lugar, à ideia de um espaço físico ao qual compradores se dirigem para adquirir algum produto. O uso do ter- mo pelos profissionais de marketing, no entanto, não se restringe a um determinado espaço físico. Pride e Ferrell (2015, p. 34) definem merca- do como “[…] um grupo de indivíduos e/ou organizações que necessita de produtos de determinada classe e tem habilidade, disposição e auto- ridade para comprá-los”. Enquanto o mercado refere-se ao agrupamento de consumidores, o setor é o conjunto dos vendedores (figura 2). Os mercados, segundo Kotler e Keller (2012), podem ser: consumidor – comercialização pelas empresas de produtos em massa; B2C (business-to-consumer); organi- zacional – venda de bens e serviços entre empresas, também conheci- do como B2B (business-to-business); global – empresas que vendem seus produtos em escala global; e sem fins lucrativos – empresas que vendem seus produtos a organizações sem fins lucrativos (ONGs). Figura 2 – Um sistema simples de marketing Setor (vendedores) Mercado (compradores) Comunicação Bens/serviços Dinheiro Informação Fonte: Kotler e Keller (2012, p. 7). SENAC Sublinhado SENAC Realce SENAC Realce SENAC Realce SENAC Sublinhado SENAC Sublinhado SENAC Realce SENAC Realce SENAC Sublinhado SENAC Realce SENAC Sublinhado SENAC Realce SENAC Sublinhado SENAC Realce 30 Gestão mercadológica Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 2.3 Valor O valor é um dos principais conceitos do marketing e é um termo que muitos confundem com preço ou custo. O valor envolve uma avaliação pessoal sobre as gratificações advindas do consumo e os sacrifícios decorrentes; ou seja, ele é muito mais do que preço. O valor “[…] é a diferença entre aquilo que os consumidores abrem mão por um pro- duto (dinheiro, tempo e outros recursos) e os benefícios que recebem” (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2013, p. 36). Ainda usando termos matemáticos, o valor pode ser definido como a somatória das recompensas (benefícios – consequências positivas) obtidas contra a somatória dos sacrifícios despendidos (custos – con- sequências negativas). Como bem observado por Kotler e Keller (2012, p. 9), “[…] as percepções de valor aumentam com a qualidade e o servi- ço, mas diminuem com o preço”. PARA PENSAR Quem nunca se questionou: como certas pessoas estão dispostas a pagar certo preço por determinado produto? Seguramente, você já ficou surpreso com o fato de algumas pessoas estarem dispostas a fazer sacri- fícios, tanto de ordem financeira como de outros recursos (como tempo e energia física) para adquirir determinado produto; sacrifícios esses que estavam distantes daquilo que você estava disposto a realizar. Pense nesses casos e procure elencar os benefícios que essas pessoas identificam e consideram importantes nesse produto e compare com a sua percepção sobre ele para compreender os fatores que levam a essa discrepância de percepção de valor. O entendimento das particularidades dos conceitos de necessidade, desejo, mercado, setor e valor apresentados neste tópico é um primeiro passo, porém importante, para a compreensão das teorias e de outros conceitos que serão apresentados ao longo deste volume. SENAC Sublinhado SENAC Realce SENAC Realce SENAC Realce SENAC Sublinhado 31Conceitos fundamentais do marketing M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 3 Perspectiva estratégica do marketing O termo estratégia é outra palavra bastante usual nas conversas co- tidianas. É frequente em bate-papos sobre futebol, em ambientes milita- res e nas conversas de cafezinho no escritório. Uma definição simples foi apresentada por Richers (2000, p. 29), para quem “[…] estratégia é a busca de um caminho para a empresa como um todo”. Em um am- biente de negócios, as estratégias de marketing são meios (caminhos) planejados que buscam (com análise e reflexões) produzir a resposta desejada pela organização nos consumidores por meio da criação e oferta de valores para o mercado (KOTLER, 1972). Como já foi dito no item anterior, o valor é uma percepção que existe aos olhos dos consumidores, e a grande questão do marketing, portanto, é descobrir como criar valores que sejam atrativos para o público-alvo da organização. Nessa perspectiva, a estratégia de marketing deve se fundamentar e partir do entendimento refinado e profundo sobre o valor que o consumidor procura (CRAVENS; PIERCY, 2007), da análise de uma possível obsolescência das ofertas da empresa e do exame criterioso das propostas de valor (conjunto de benefícios) dos concorrentes. Uma vez que o valor para o consumidor surge daquilo que ele recebe em uma troca, pautado em uma ponderação entre o benefício total e o custo total envolvidos nesse processo, é plausível afirmar que o pro- cesso de criação de valor abarca tanto iniciativas para aumentar os be- nefícios procurados e percebidos pelos consumidores como a redução dos custos que estes procuram na atividade de consumo do produto. A empresa orientada para o mercado, portanto, se vale de processos de inteligência de mercado para diagnosticar, identificar e tomar decisões que possibilitem se proteger das ameaças e aproveitar as oportunida- des de adicionar valor. A estratégia de marketing envolve também a alocação, articulação e otimização dos recursos, competências e capacidades organizacionais SENAC Sublinhado SENAC Realce SENAC Sublinhado SENAC Realce SENAC Sublinhado SENAC Realce SENAC Sublinhado SENAC Sublinhado SENAC Realce 32 Gestão mercadológica Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .para o desenvolvimento e a venda de produtos que sejam percebidos pelos clientes como mais valiosos do que aqueles oferecidos pela con- corrência, sem se esquecer do lucro, é claro (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2013; KOTLER; KELLER, 2012; PRIDE; FERRELL, 2015). Portanto, cabe aos gestores uma avaliação sincera dos pontos fortes e dos pon- tos fracos da empresa em relação ao mercado e das respectivas impli- cações desses pontos na competividade para a criação de valor para o seu público-alvo. Da perspectiva estratégica do marketing, é primordial a criação de valores para os clientes da empresa. A criaçãode valor, por sua vez, per- passa pelo entendimento das necessidades e dos desejos dos consu- midores, pela análise do ambiente empresarial e por um perfil honesto das próprias competências e capacidades e dos recursos disponíveis. Considerações finais Com a leitura deste capítulo você compreendeu que o marketing é uma atividade socialmente difundida e que seu escopo vai além da pre- ocupação com a venda de mercadorias como bens de consumo (carros, eletrodomésticos, celulares, etc.) e tampouco se restringe às organiza- ções com fins lucrativos. Foram ainda definidos conceitualmente os ter- mos necessidade, desejo, mercado, setor e valor, os quais têm um papel central para a compreensão da função do marketing e dos próximos capítulos. E, por último, foi apresentada a face estratégica do marketing e sua relação com a geração de valor para o cliente. No capítulo seguinte daremos continuidade ao tema da estratégia de marketing com foco na análise ambiental. A abordagem inicial será pelo microambiente e pelos fatores que o constituem – entre eles, a pró- pria empresa, os fornecedores, intermediários de marketing, clientes e concorrentes. SENAC Sublinhado SENAC Realce SENAC Realce SENAC Sublinhado SENAC Realce SENAC Sublinhado SENAC Realce 33Conceitos fundamentais do marketing M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Referências BLACKWELL, Roger D.; MINIARD, Paul W.; ENGEL, James F. Comportamento do consumidor. São Paulo: Cengage Learning, 2013. CRAVENS, David W.; PIERCY, Nigel F. Marketing estratégico. 8. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2007. KOTLER, Philip. A Generic Concept of Marketing. Journal of Marketing, Chicago, v. 36, n. 2, p. 46, abr. 1972. ______; ARMSTRONG, Gary. Fundamentos de marketing. 7. ed. Rio de Janeiro: Prentice Hall, 1998. ______; KELLER, Kevin. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Education, 2012. ______; LEVY, Sidney J. Broadening the concept of marketing. Journal of Marketing, Chicago, v. 33, n. 1, p. 10-15, 1969. OLIVEIRA, Braulio (Org.). Gestão de marketing. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. PRIDE, William. M.; FERRELL, O. C. Fundamentos de marketing. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2015. RICHERS, Raimar. Marketing: uma visão brasileira. São Paulo: Negócio Editora, 2000. SAMARA, Beatriz Santos; MORSCH, Marco Aurélio. Comportamento do consu- midor: conceitos e casos. São Paulo: Prentice Hall, 2012. SCHELLER, Fernando; FRAGA, Nayara. O marketing institucional entra em cam- po. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 26 maio 2014. Economia e negócios. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,o-marketing- -institucional-entra-em-campo-imp-,1171691>. Acesso em: 15 fev. 2017. http://economia.estadao.com.br/noticias/geral
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