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Cidade Resiliência e Meio Ambiente - Artigos Organizados

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Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 1 
 
organizadoras 
Jeane Ap. R. de Godoy Rosin 
Norma Regina Truppel Constantino 
Sandra Medina Benini 
 
 
 
cidade, 
resiliência e 
meio ambiente 
 
 
 
 
1ª Edição 
 
 
 
 
ANAP 
Tupã/SP 
2018 
2 
 
EDITORA ANAP 
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista 
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de setembro de 2003. 
Rua Bolívia, nº 88, Jardim América, Cidade de Tupã, São Paulo. CEP 17.605-310. 
Contato: (14) 99808-5947 
www.editoraanap.org.br 
www.amigosdanatureza.org.br 
editora@amigosdanatureza.org.br 
 
Editoração e Diagramação da Obra: Sandra Medina Benini; Jeane Ap. R. de Godoy 
Rosin 
Revisão Ortográfica: Smirna Cavalheiro 
 
 
 
 
 
Ficha Catalográfica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Índice para catálogo sistemático 
Brasil: Planejamento Urbano e Paisagismo 
 
 
R821c Cidade, Resiliência e Meio Ambiente / Jeane Ap. R. de Godoy Rosin; 
Norma Regina Truppel Constantino; Sandra Medina Benini (orgs). 1 
ed. – Tupã: ANAP, 2018. 
 
 180 p; il.; 14.8 x 21cm 
 
 ISBN 978-85-68242-69-8 
 
1. Espaço Urbano 2. Ambiente 3. Sustentabilidade 
I. Título. 
 
CDD: 710 
CDU: 710/49 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 3 
 
CONSELHO EDITORIAL 
 
Profª Drª Alina Gonçalves Santiago - UFSC 
Profª Drª Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão - UFPA 
Prof. Dr. André de Souza Silva - UNISINOS 
Profª Drª Andrea Holz Pfutzenreuter - UFSC 
Profª Drª Célia Regina Moretti Meirelles - UPM 
Profª Drª Daniela de Souza Onça - FAED/UESC 
Profª Drª Denise Antonucci - UPM 
Prof. Dr. Edson Leite Ribeiro - Unieuro - Brasília / Ministério das Cidades 
Profª Drª Eliana Corrêa Aguirre de Mattos - UNICAMP 
Prof. Dr. Francisco Marques Cardozo Júnior - UESPI 
Prof. Dr. Glauco de Paula Cocozza - UFU 
Prof. Dr. João Roberto Gomes de Faria - FAAC/UNESP 
Profª Drª Karin Schwabe Meneguetti - UEM 
Profª Drª Márcia Eliane Silva Carvalho - UFS 
Profª Drª Maria Augusta Justi Pisani - UPM 
Profª Drª Maria José Neto - UFMS 
Profª Drª Martha Priscila Bezerra Pereira - UFCG 
Prof. Dr. Maurício Lamano Ferreira - UNINOVE 
Profª Drª Natacha Cíntia Regina Aleixo - UEA 
Profª Drª Renata Cardoso Magagnin - FAAC/UNESP 
Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino - UNICAMP 
Profª Drª Risete Maria Queiroz Leao Braga - UFPA 
Profª Drª Ruth Maria da Costa Ataide - UFRN 
Prof. Dr. Salvador Carpi Junior - UNICAMP 
Profª Drª Simone Valaski - UFPR 
Prof. Dr. Vitor Corrêa de Mattos Barretto - FCAE/UNESP 
 
 
 
4 
 
ORGANIZADORAS DA OBRA 
 
Jeane Ap. R. de Godoy Rosin 
Professora e Pesquisadora do UNIVAG - Centro Universitário de Várzea Grande-MT. Possui 
Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Tupã 
(1986), Especialização em Planejamento e Gestão Municipal pela FCT/UNESP (2004), Mestrado 
em Direito do Estado pelo Centro Universitário Eurípedes de Marília (2011) e Doutorado em 
Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP (2016) e Pós-doutorado 
em Arquitetura e Urbanismo pela FAAC/UNESP - Campus de Bauru-SP (2018). Tem experiência 
na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase no Planejamento Urbano e Regional, atuando 
principalmente nos seguintes temas: gestão pública, sustentabilidade urbana, projetos de 
intervenção urbanística/requalificação de espaços públicos e políticas públicas atreladas ao 
direito à cidade. 
 
Norma Regina Truppel Constantino 
Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Paraná (1979), 
mestrado em Planejamento Urbano e Regional Assentamentos Humanos pela Universidade 
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1994) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela 
Universidade de São Paulo (2005). Atualmente é professor assistente doutor da Universidade 
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho no Curso de Arquitetura e Urbanismo e no Mestrado 
Acadêmico em Arquitetura e Urbanismo. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, 
com ênfase em Projetos de Espaços Livres Urbanos, atuando principalmente nos seguintes temas: 
paisagem urbana, paisagismo, espaços livres urbanos e história da cidade e do território. 
 
Sandra Medina Benini 
Professora e Pesquisadora do UNIVAG - Centro Universitário de Várzea Grande-MT. Possui 
Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Marília (1995), Bacharelado em 
Direito pela Faculdade de Direito da Alta Paulista (2005), Licenciatura em Geografia pelo Centro 
Universitário Claretiano de Batatais (2014), Especialização em Administração Ambiental pela 
Faculdade de Ciências Contábeis e Administração de Tupã (2005), Especialização em Engenharia 
de Segurança do Trabalho (2008), Mestrado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista 
Júlio de Mesquita Filho (2009), Doutorado em Geografia na Universidade Estadual Paulista Júlio 
de Mesquita Filho (2015), Doutorado em Arquitetura e Urbanismo pelo PPGAU/FAU Mackenzie 
(2016) e Pós-doutorado em Arquitetura e Urbanismo (PNPD/Capes) pela FAAC/UNESP - Campus 
de Bauru-SP (2017). Tem experiência na área de Planejamento Urbano e Regional, Planejamento 
Ambiental e Direito Urbanístico, atuando principalmente nos seguintes temas: políticas públicas, 
política urbana, gerenciamento de cidades e gestão ambiental. 
 
 
 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 5 
 
SUMÁRIO 
 
PREFÁCIO .......................................................................................... 
Antonio Busnardo Filho 
Antonio Soukef Júnior 
 
07 
Capítulo 1 ......................................................................................... 
 
QUALIDADE DE VIDA URBANA: DISCUTINDO 
VULNERABILIDADE E RESILIÊNCIA URBANAS 
Angela Santana de Oliveira 
Douglas Gallo 
 
09 
Capítulo 2 ......................................................................................... 
 
A METRÓPOLE EM PEDAÇOS: A FRAGMENTAÇÃO E OS 
PADRÕES DE CONURBAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE 
GOIÂNIA 
José Vandério Cirqueira 
 
23 
Capítulo 3 ......................................................................................... 
 
SEIS ELEMENTOS DA FORMA URBANA E UM PROCEDIMENTO 
DE ANÁLISE 
Adilson Macedo 
 
43 
Capítulo 4 ......................................................................................... 
 
MOBILIDADE URBANA E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: 
ORIENTAÇÕES PARA MEDIDAS ADAPTATIVAS 
Clarisse Linke 
Daniel Oberling 
João Pedro M. Rocha 
 
69 
6 
 
Capítulo 5 ........................................................................................ 
 
LEITURA E POTENCIALIDADES DA VEGETAÇÃO URBANA EM 
CALÇADAS DE CUIABÁ/MT 
Angela Santana de Oliveira 
Douglas Luciano Lopes Gallo 
Marcos de Oliveira Valin Jr. 
 
87 
Capítulo 6 ........................................................................................ 
 
AÇÕES DE SAÚDE AMBIENTAL NOS PLANOS MUNICIPAIS DE 
SAÚDE DO OESTE CATARINENSE 
Maria Assunta Busato 
Simone Cristine dos Santos Nothaft 
Lucimare Ferraz 
Carla Rosane Paz Arruda Teo 
 
101 
Capítulo 7 ......................................................................................... 
 
PROPOSTA DE SISTEMA SANITÁRIO PÚBLICO VOLTADA À 
PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE EM ASSENTAMENTOS DE 
INTERESSE SOCIAL NO ESTADO DO TOCANTINS, BRASIL 
Roberto Righi 
Eleana Patta Flain 
 
119 
Capítulo 8 ........................................................................................ 
 
OCUPAÇÃO URBANA EM MANANCIAIS: ESTUDO DE CASO DO 
RESERVATÓRIO BILLINGS 
Daniel Ladeira Almeida 
 
143 
Capítulo 9 ....................................................................................... 
 
AGRICULTURA URBANA E POLÍTICAS PÚBLICAS: EXIGÊNCIAS 
DA CIDADE CONTEMPORÂNEA 
Eloisa Carvalho de Araujo 
Fabíola Dornelles Torres Machado 
 
163 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 7 
 
PREFÁCIO 
 
Antonio Busnardo Filho1 
Antonio Soukef Júnior2 
 
 A presente obra, Cidade, Resiliência e Meio Ambiente,propõe a 
análise de temas de importância fundamental para a compreensão do espaço 
urbano contemporâneo e de como tratá-lo para se ter qualidade de vida e 
melhor sociabilidade, independente da violência e da segregação 
socioespacial, coisas comuns no cotidiano das cidades. 
 Os autores são profissionais competentes nas suas áreas de pesquisa 
e atuação, e apresentam, de forma instigante, esses temas que compõem o 
dia a dia das cidades, atingindo os cidadãos sem que eles se deem conta. Esses 
temas são assuntos de conversas, conforme os fatos urbanos são 
experienciados por todos que vivem e convivem em cidades. Assim, questões 
da saúde, de vulnerabilidade, da capacidade de recuperação dos aspectos 
originais após um desastre qualquer das áreas urbanas são motivos para uma 
conversa e para o apontamento de soluções. O tamanho das cidades, sem se 
compreender os processos de conturbação nem a formação das Regiões 
Metropolitanas, o trânsito e a mobilidade urbana, a vegetação, a saúde 
ambiental, políticas sanitárias em áreas menos privilegiadas ou de interesse 
social, ocupação de áreas de mananciais, são motivos de discussão de como 
se gerir uma cidade, permitindo que todos os cidadãos sejam gestores 
urbanos. 
Os autores, por experiência própria e vivência intelectual dos fatos, 
deram a esses assuntos, aparentemente tão generalistas, a profundidade que 
de fato esses assuntos têm. Analisaram-nos cuidadosamente, e o conjunto da 
obra demonstra um fio condutor na sua composição, regido por uma visão 
interdisciplinar, que ecoa nos diferentes artigos. Essa interdisciplinaridade 
permite que os assuntos se complementem, possibilitando a compreensão da 
cidade contemporânea, mesmo quando a abordagem é mais específica, ou 
 
1 Doutor em Educação (FE-USP), formado em Arquitetura e Urbanismo, professor do UNIVAG - 
Centro Universitário de Várzea Grande-MT. 
2 Doutor em Estruturas Ambientais (FAU-USP), formado em Arquitetura e Urbanismo, professor 
do UNIVAG - Centro Universitário de Várzea Grande-MT. 
8 
 
seja, comente um lugar ou região mais singulares. É possível da análise desses 
lugares singulares se obter conhecimento para resolução de problemas de 
outras situações semelhantes enquanto procedimento metodológico, posto 
que as cidades contemporâneas têm as mesmas dificuldades de gestão. 
As propostas apresentadas levam em consideração os impactos 
causados sobre a coletividade, sugerindo políticas públicas que, às vezes, 
devem partir das fragilidades para se buscar um elemento integrador para as 
resoluções de problemas, pensando intervenções a partir de áreas de 
vizinhanças, possibilitando a observação e o reconhecimento do lugar. 
 A elaboração deste livro é de importância ímpar para o estudo do 
urbanismo e da cidade contemporânea, considerando-se que é o olhar sobre 
o território próximo que permite a compreensão dos territórios mais 
distantes e das igualdades das cidades contemporâneas naquilo que é a 
marca da modernidade, a funcionalidade, suplantada nas questões cotidianas 
e mais corriqueiras, que tiram a importância dos assuntos mais abstratos, 
trazendo a gestão urbana para os assuntos mais próximos do cidadão. 
 O interessante da obra é a análise de situações que parecem se 
eternizar na falta de soluções, mas os estudos mostram que com uma visão 
outra, com uma mudança paradigmática, é possível se ter uma nova forma de 
gestão, e considerar os problemas do ambiente urbano como princípios 
indutores de propostas viáveis para a organização das cidades 
contemporâneas. 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 1 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 9 
 
 
QUALIDADE DE VIDA URBANA: 
DISCUTINDO VULNERABILIDADE E RESILIÊNCIA URBANAS 
 
 
Angela Santana de Oliveira3 
Douglas Gallo4 
 
 
Discutir a qualidade de vida nas cidades nos leva a enfrentar o desafio 
de defini-la, e de imergir na cidade juntamente com suas questões materiais, 
subjetivas, sociais e ambientais. Essa temática vem adquirindo grande 
importância nas discussões sobre o planejamento e a gestão urbanas, sendo 
que suas abordagens podem ser pautadas em aspectos objetivos (indicadores 
socioambientais), subjetivos (percepção populacional) e análise das políticas 
públicas. 
O planejamento urbano modernista (progressista ou funcionalista) 
tem sido hegemônico por grande parte do século XX, defendendo um modelo 
urbano perfeito e obsessão pela higiene. Porém, o paradigma ecológico tem 
se oposto a ele, embora neste a questão social tenha sido substituída pelo 
discurso do desenvolvimento sustentável e da sustentabilidade urbana. O 
desenvolvimento urbano sustentável muitas vezes é visto como marketing na 
competição entre as cidades num mercado global, sendo utilizado de forma 
bastante imprecisa na prática. 
Já no modelo da sustentabilidade urbana as políticas públicas devem 
adaptar a oferta de serviços à quantidade e qualidade das demandas sociais, 
equilibrando as necessidades cotidianas da população e os investimentos em 
redes de infraestrutura. Entra nesta matriz também considerar a cidade como 
espaço da qualidade de vida. 
 
3 Doutora em Física Ambiental, professora do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), campus 
Octayde Jorge da Silva, e-mail: angela.oliveira@cba.ifmt.edu.br 
4 Doutorando em Urbanismo, mestre em Saúde Coletiva, professor do Instituto Federal de São 
Paulo (IFSP), e-mail:douglas.luciano@ifsp.edu.br 
10 
 
O presente texto buscou discutir a qualidade de vida e a promoção da 
saúde no espaço público com enfoque nos conceitos de vulnerabilidade e 
resiliência urbanas. 
O termo Promoção da Saúde surge pela primeira vez no Canadá, em 
1974, no chamado Informe Lalonde, quando o então ministro da Saúde, Marc 
Lalonde, demonstra, a partir de dados sanitários, que os investimentos 
efetuados exclusivamente em assistência não seriam capazes de assegurar a 
saúde de uma população. Lalonde mostrou que a política pública de saúde 
necessitava de mudanças, não apenas na forma de agir, mas especialmente 
na maneira de olhar e pensar a saúde e os problemas de saúde. 
Como consequência, em 1986 foi realizada a I Conferência 
Internacional da Saúde, no Canadá, cujo principal resultado foi o documento 
“Carta de Ottawa”, segundo o qual promoção da saúde consiste em capacitar 
a população para melhorar suas condições de saúde e aumentar seu controle 
sobre as mesmas. Hoje, trinta anos após esta primeira conferência, o conceito 
relaciona-se também com novas discussões sobre empoderamento e 
participação social. 
Para que uma cidade, município ou comunidade possam ser 
considerados saudáveis entende-se ser necessária uma vontade política do 
Estado, suas instituições e da sociedade civil em prol da efetivação de políticas 
públicas intersetoriais com foco na qualidade de vida urbana. 
Considerando o binômio vulnerabilidade-resiliência como conceitos 
integradores e multidimensionais, buscou-se reconhecer seu sentido e 
importância na discussão da promoção da saúde, como promoção de uma 
qualidade de vida urbana, intersetorial e transdisciplinar. O objetivo do 
presente ensaio é discutir os conceitos de vulnerabilidade e resiliência urbana 
e promoção de saúde, apresentando-se como referencial para a melhoria da 
qualidade de vida urbana e criação de cidades mais saudáveis. 
 
1 PENSANDO A SAÚDE EM SUA POSITIVIDADE – PROMOÇÃO DA SAÚDE 
O conceito de promoção de saúde reforça a importância da ação 
ambiental e política bem como do estilo de vida como eixos norteadores. 
Entende-se por promoção da saúde um 
 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 11 
 
[...] processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de 
sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no 
controle deste processo. Para atingir um estado de completo bem-
estar físico, mental e socialos indivíduos e grupos devem saber 
identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar 
favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser vista como um 
recurso para a vida, e não como objetivo de viver. Nesse sentido, a 
saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e 
pessoais, bem como as capacidades físicas. Assim, a promoção da 
saúde não é responsabilidade exclusiva do setor saúde, e vai para além 
de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global. 
(CARTA DE OTAWA, 1986, s/p). 
 
O foco da saúde muda, deixando de ser um objetivo a ser alcançado, 
tornando-se um recurso para o desenvolvimento da vida. 
O movimento sanitarista exerceu grande influência nas políticas 
públicas dos países desenvolvidos até o final do século XIX, mediante leis e 
grandes obras de engenharia. No início do século XX iniciou-se a era 
bacteriológica, quando a ênfase passou a ações de saúde com foco na 
prevenção pessoal. Até a década de 1970 as políticas públicas para a saúde, 
tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, estiveram 
dominadas por essa orientação, concentrando as ações na construção de 
grandes hospitais e superespecialistas (WESTPHAL, 2000). 
No início da década de 1970, na maioria dos países, o setor de saúde 
começou a entrar em crise, devido aos altos custos da medicina curativa que 
utilizava alta tecnologia. Essa crise foi paulatinamente levando ao surgimento 
de estratégias baseadas em novos conceitos, iniciando um período chamado 
de “nova saúde pública”. Esta nova saúde pública surgiu do questionamento 
do poder da medicina na resolução sozinha dos problemas de saúde e do 
reconhecimento de que tudo que existe é produto da ação humana, em 
contraposição à hegemonia da terapêutica. Como consequência surgiu uma 
nova era de interesse social e político na saúde pública. A saúde de um 
indivíduo ou de uma comunidade depende também das coisas que o homem 
criou e faz, das interações dos grupos sociais, das políticas adotadas pelo 
governo e também dos mecanismos de atenção à doença. 
A partir da Declaração de Alma-Ata sobre Atenção Primária à Saúde em 
1977, inúmeras iniciativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) 
culminaram com o projeto Cidades Saudáveis, em 1986. Os elementos 
principais dessas iniciativas foram o interesse pela pobreza, necessidade de 
12 
 
reorientação dos serviços de saúde, a importância da participação 
comunitária e o desenvolvimento de coalizões entre o setor público, setor 
privado e o voluntariado. 
Na década de 1980, em Toronto, no Canadá, aconteceu o congresso 
“Para Além da Assistência à Saúde”, que atraiu muitos interessados, visto que 
o Canadá já possuía inúmeras iniciativas que se caracterizavam como 
inseridas no Movimento Cidades Saudáveis. Os representantes do escritório 
europeu da OMS assumiram como novo paradigma este projeto estruturante, 
elaborando uma proposta de projeto de Promoção da Saúde, selecionando 
diversas cidades para adotarem os princípios definidos na proposta “Saúde 
para Todos” da OMS (WESTPHAL, 2000). 
A promoção da saúde surge então como uma reação à acentuada 
medicalização da vida social e como resposta que articula diversos recursos 
tecnológicos e posições ideológicas. Passa a ser um enfoque político e técnico 
em torno da questão da saúde como qualidade de vida. Seu conceito 
moderno surge e se desenvolve incluindo diversos procedimentos para a 
promoção da saúde: bom padrão nutricional; atendimento das necessidades 
para o desenvolvimento ótimo da personalidade; educação sexual; moradia 
adequada; recreação e condições agradáveis no lar e no trabalho. 
De acordo com Buss (2000), pode-se agrupar as diferentes 
conceituações da promoção da saúde em duas vertentes. A primeira consiste 
em atividades dirigidas à transformação dos comportamentos dos indivíduos, 
focando nos seus estilos de vida, ambientes e territórios onde se encontram, 
considerando a sua cultura particular, por consequência as ações se dariam 
no nível pessoal. A segunda vertente sustenta-se no entendimento de que a 
saúde é produto de um amplo espectro de fatores relacionados à qualidade 
de vida, incluindo aí a alimentação e nutrição, habitação e saneamento, 
condições de trabalho e oportunidades educacionais, ambiente físico e apoio 
social, além dos cuidados com a saúde de modo geral, exigindo ações mais 
globais e abrangentes. 
A criação de ambientes favoráveis à saúde implica o reconhecimento 
da complexidade das nossas sociedades e das relações de interdependência 
entre diversos setores. A proteção do meio ambiente e a conservação dos 
recursos naturais, o acompanhamento sistemático do impacto que as 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 13 
 
mudanças no meio ambiente produzem, bem como a conquista de ambientes 
que facilitem e favoreçam a saúde, eu sua dimensão positiva (BUSS, 2003). 
 
2 QUALIDADE DE VIDA NA CIDADE – UMA ABORDAGEM INTEGRAL 
A ideia de qualidade de vida introduz uma valorização de horizontes 
desejáveis para os grupos sociais, onde diferentes níveis de exigência e de 
aspirações conformam aspectos mais subjetivos e afeitos à percepção dos 
indivíduos. O conceito de qualidade de vida guarda relação com a satisfação 
das necessidades humanas, com a capacidade de uma comunidade desfrutar 
de uma vida média longa, de forma saudável. A tese de Vitte (2009) é que a 
garantia das necessidades básicas está longe de ser suficiente para a 
qualidade de vida plena ou para uma vida de qualidade, sendo de suma 
importância os fatores relativos à sociabilidade como suporte a uma 
percepção mais positiva da qualidade de vida. É importante salientar que 
essas práticas de sociabilidade vêm sofrendo duros golpes nas cidades 
brasileiras, especialmente nas grandes metrópoles, devido ao crescimento da 
violência e à segregação socioespacial. 
Embora a expressão qualidade de vida tenha sido originalmente 
utilizada com um caráter individual, especialmente na área da saúde, é 
necessário lembrar que o planejamento governamental tem um caráter 
coletivo, e que as políticas públicas são sempre orientadas a grupos 
populacionais. Assim sendo, ao considerar a qualidade de vida numa 
perspectiva do planejamento e da gestão, essas necessidades devem ser 
satisfeitas por políticas públicas. 
As necessidades humanas são regidas por dois conjuntos de valores, 
os relacionados ao bem-estar social e os relacionados à diferença. Os valores 
de bem-estar social têm vínculo com o bem-estar individual em função da 
saúde, segurança e riqueza, já os valores afeitos à diferença se referem a 
respeito, integridade, afeto e derivados das relações humanas. De acordo com 
a hierarquia de Maslow, as necessidades se dividem em cinco níveis: o 
primeiro nível está relacionado às necessidades básicas de sobrevivência; o 
segundo corresponde às necessidades de segurança no ambiente; o terceiro 
relaciona-se à necessidade de pertencimento e amor, do afeto nas relações 
pessoais; o quarto nível é o da estima, relativo à necessidade de 
14 
 
reconhecimento e posição social; e o quinto é o da autonomização (VITTE, 
2009). 
A percepção de bem-estar e qualidade de vida nem sempre tem 
relação direta com a felicidade objetiva, mensurada por índices de nutrição, 
saúde, renda per capita, educação, etc. Ela está subordinada à percepção 
interna e ao julgamento que a pessoa faz da própria vida. Observa-se que nas 
sociedades democráticas ocorre uma relativa oferta de bem-estar social, 
porém, as necessidades humanas relacionadas ao verbo amar são mais 
complexas e muitas vezes esquecidas no debate da qualidade de vida. Esses 
aspectos podem ser relacionados às identidades sociais: vínculos e contatos 
com a comunidade local, vínculos com a família, amizades, participação em 
organizações e associações e relações com os colegas de trabalho. 
Uma característica importante é que as pessoas tendem a julgar a 
qualidadede seu ambiente mais pelo que percebem ser um bom vizinho do 
que pela condição física do bairro (VITTE, 2009). A qualidade de vida urbana 
é associada a aspectos das necessidades básicas e do ambiente físico, da 
imagem vinculada à paisagem urbana. 
A cidade é o lugar da manifestação do individual e da experiência 
coletiva, uma vez que existe uma multiplicidade de trocas que ajudam a 
produção da sociabilidade. É na cidade, como lugar, que ocorre a produção da 
vida, pelos modos de apropriação do espaço, e cada sociedade produz seu 
espaço de acordo com sua função social, os ritmos de vida, os modos de 
apropriação, projetos e desejos. A vida citadina se revela como espaço 
passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido pelo indivíduo, mediado 
pelo corpo que cria/percebe os referenciais necessários para dar sentido à 
experiência. A cidade pode ser entendida como um espaço concebido, vivido 
e percebido, agregando símbolos e valores elaborados por meio de 
impressões e experiências pessoais, mas também coletivas. Os indivíduos 
interagem com o mundo por meio das atividades cotidianas, na busca de 
satisfazer suas necessidades e desejos. 
O bairro, a praça, a rua e o pequeno comércio aproximam os 
moradores. Tais lugares podem ser mais que pontos de troca de mercadorias, 
podem possibilitar o encontro, reforçando a sociabilidade. Ao vivenciar a 
cidade o indivíduo percebe o meio e adquire uma imagem própria sobre o 
espaço, imagem esta que pode diferir de outros indivíduos. As paisagens 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 15 
 
urbanas constituem elementos representativos da qualidade de vida. 
Acessibilidade, fluidez, limpeza, iluminação, qualidade das edificações, 
tamanho das residências, presença de áreas verdes e disponibilidade de 
serviços básicos são indicativos do grau de satisfação de necessidades básicas. 
A consciência individual é um produto social, bem como as 
subjetividades, e o coletivo atribui ao espaço ocupado o seu sentido, onde 
coexiste uma dimensão subjetiva na qual ocorre interferências de fatores 
socioculturais, que afetam as percepções individuais mediadas por aquelas. 
As cidades contemporâneas vêm assumindo características muito 
perversas, tornando-se muitas vezes inumanas. No entanto, pode-se 
empreender mudanças necessárias ao mobilizar-se coletivamente as energias 
e desprendendo-se de uma imagem de cidade como um inferno. O bem-estar 
e uma alta qualidade de vida dever ser um direito do cidadão, e é por meio 
da política que os cidadãos lutam por estes direitos e não o contrário (VITTE, 
2009). 
O Estado, por meio de suas práticas, induz e provoca marcantes 
transformações nos usos e funções dos lugares na cidade. Ao direcionar 
investimentos em infraestruturas pode gerar desigualdades, já que no 
contexto da sociedade capitalista pode intervir aprofundando um processo de 
valorização diferencial da terra urbana. Qualquer intervenção na cidade 
capitalista não é necessariamente excludente, uma vez que todos os 
governos, o tempo todo, intervêm na cidade. Tais intervenções podem ser 
mais ou menos inclusivas de acordo com as forças sociais e políticas que estão 
operando no momento na realidade local. É preciso dar nova vida à cidade, 
fazer dela um espaço apropriável para a vida e para todos. 
Países como o Brasil e outros da América Latina, onde existe uma 
péssima distribuição de renda, analfabetismo e baixo grau de escolaridade, 
bem como condições ambientais e de habitação precárias, as condições de 
vida e saúde da população sofrem uma influência muito forte. O debate sobre 
a qualidade (condições) de vida e saúde tem um forte histórico na saúde 
coletiva (BUSS, 2000), no entanto, o desafio não é apenas mostrar que a 
qualidade/condições de vida afeta a saúde, influenciando fortemente a 
qualidade de vida, mas, sobretudo, investigar quais as intervenções, 
especialmente quais as políticas públicas intersetoriais, podem influenciar 
favoravelmente a qualidade de vida urbana. 
16 
 
 
3 VULNERABILIDADE E RESILIÊNCIA URBANAS – CONCEITOS INTEGRADORES 
O conceito de vulnerabilidade possui muitos sentidos e é utilizado em 
diferentes áreas do conhecimento. O termo vulnerabilidade designa, em sua 
origem, grupos ou indivíduos fragilizados, jurídica ou politicamente, na 
promoção, proteção ou garantia de seus direitos de cidadania (AYRES et al., 
2003). 
Segundo Porto (2007), podemos dividir três grandes campos 
fenomênicos de complexidade onde o conceito pode ser aplicado: o mundo 
fisicalista, o mundo da vida e o mundo humano. Para que o conceito 
vulnerabilidade possa ser utilizado de forma transdisciplinar, faz-se 
interessante entender como é tratado em cada um desses “mundos”. 
No mundo fisicalista, analisado pela física, química e pelas 
engenharias, a vulnerabilidade é definida como a perda de resiliência, ou seja, 
a incapacidade de um sistema conservar certas propriedades durante ou após 
um distúrbio qualquer. A física define resiliência como uma alteração elástica, 
como a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma 
original após terem sofrido uma deformação elástica. Já a plasticidade é uma 
característica importante para a modelagem de materiais, por manterem a 
deformação aplicada. Importante salientar que o grau de resiliência ou 
vulnerabilidade, neste caso, são propriedades intrínsecas a cada material, e 
dependem também do grau de impacto externo sofrido. O paradigma 
fisicalista incorpora à discussão um jogo dialético entre rigidez e flexibilidade, 
entre conservação e ruptura, entre o que se perde e o que se ganha com as 
transformações. 
O conceito de vulnerabilidade no enfoque da vida (biológico) aborda o 
tema em relação a ecossistemas complexos. Segundo este paradigma, certos 
ecossistemas, espécies ou comunidades podem ser mais vulneráveis a 
determinadas perturbações ou riscos, como às mudanças climáticas, 
desmatamentos ou contaminações. A resiliência de ecossistemas é expressa 
pela sua capacidade de enfrentar perturbações sem a perda de sua 
integridade, o que se manifesta por meio de ciclos e relações globais do 
ecossistema como um todo. A vulnerabilidade representaria a perda de 
resiliência, representada pela declinação do vigor e da biodiversidade, ou pela 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 17 
 
intensidade do impacto ambiental relacionado. O que isoladamente poderia 
ser considerado vulnerável pode representar o funcionamento normal de um 
conjunto maior. 
Na perspectiva do mundo do homem, o paradigma biomédico 
considera vulnerável a existência de indivíduos ou grupos suscetíveis com 
predisposição especial para contraírem enfermidades diante de situações de 
risco. O conceito evoluiu na perspectiva da Saúde Coletiva, ampliando o 
espectro de análise ao considerar não apenas a visão biológica e individual, 
mas também o contexto perante recursos e modos de vida que viabilizam ou 
restringem ciclos virtuosos de vida das pessoas e comunidades. Para tanto, 
tornou-se necessário entender um conjunto de processos políticos, 
econômicos, culturais e psicológicos, além dos propriamente biomédicos, que 
possibilitam o fortalecimento ou enfraquecimento diante da possibilidade de 
eventos mórbidos. Aqui o termo vulnerabilidade surge como estratégia 
conceitual e metodológica integradora. 
O conceito de vulnerabilidade se desenvolveu justamente em um 
período que considerava a chance de exposição das pessoas ao adoecimento 
como resultado de um conjunto de aspectos não apenas individuais, mas 
também coletivos, contextuais, que acarretam maior suscetibilidade a 
agravos, de modo inseparável com maior ou menor disponibilidade de 
recursos de todas as ordens para se proteger de ambos (AYRES et al., 2003). 
Embora risco e vulnerabilidade guardem, como vimos, uma estreita 
relação histórica, a confusão terminológica não traz benefícios a nenhum dos 
dois conceitos. Uma primeira diferençaque deve ser marcada é o caráter 
eminentemente analítico do risco, em contraste com as aspirações sintéticas 
da vulnerabilidade. Menos que isolar analiticamente, a grande pretensão é a 
busca da síntese, em termos abstratos, a elaboração teórica mais concreta e 
particularizada, nas quais os nexos e mediações entre os fenômenos são 
explicitadas. No plano das práticas de intervenção, especialmente nas práticas 
preventivas e de promoção de saúde, a confusão entre risco e vulnerabilidade 
é menos frequente, especialmente porque são raras as propostas que se 
colocam como referência a redução de vulnerabilidade (AYRES et al., 2003). 
A vulnerabilidade não é binária, ela é multidimensional, ou seja, em 
uma mesma situação estamos vulneráveis a alguns agravos e não a outros, o 
que pode nos deixar vulneráveis sob um aspecto pode nos proteger sob 
18 
 
outros. A vulnerabilidade não é unitária, não respondendo ao modelo “sim ou 
não”, há sempre gradações, estamos sempre vulneráveis em diferentes graus. 
A vulnerabilidade também não é estável, as dimensões e os graus de nossas 
vulnerabilidades mudam constantemente ao longo do tempo. 
O conceito de vulnerabilidade desenvolvido numa perspectiva 
transdisciplinar favorece uma abordagem integradora, ampliando o diálogo 
entre os diversos campos disciplinares e seus paradigmas. Essa abordagem 
integradora auxilia na compreensão dos problemas ambientais complexos 
pelos quais passam a cidade contemporânea, especialmente quando nos 
referimos à noção de qualidade de vida urbana. Conceitos integradores têm a 
capacidade de fornecer analogias e metáforas que facilitam a comunicação 
entre os distintos paradigmas, profissionais e não especialistas envolvidos nas 
discussões do conceito. 
Ao contrapor os significados de termos análogos utilizados por 
diferentes paradigmas e disciplinas, podemos criar condições para um novo 
olhar. Essa construção implica que ao nos debruçarmos sobre um problema 
complexo, as contradições e complementaridades sejam superadas. 
 
4 VULNERABILIDADE SOCIAL 
Lidar com dificuldades da vida acaba se transformando em 
vulnerabilidades estruturais para certos grupos e territórios com as injustiças 
ambientais. A vulnerabilidade faz parte da condição humana da mesma forma 
que enfrentá-la, sendo expressão simultânea da liberdade humana e de seu 
abuso. Ela deriva das opções de desenvolvimento econômico e tecnológico, 
do poder exercido pelos seres humanos sobre outros, ou sobre o 
funcionamento da natureza, que reage e intervém nos ciclos da vida humana 
e não humana (PORTO, 2007). 
As discussões sobre vulnerabilidade que buscam integrar diferentes e 
irredutíveis dimensões da realidade analisada (sociais, econômicas, culturais, 
ambientais e de saúde) explicitam aspectos éticos essenciais para enfrentar 
problemas urbanos e socioambientais. Os estudos sobre populações excluídas 
dos países subdesenvolvidos e diferentes populações e regiões submetidas a 
riscos naturais ou antropocêntricos em seus modos de sobrevivência em face 
das precárias condições de vida e trabalho são uma importante origem 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 19 
 
conceitual. Dessa forma, o tema vulnerabilidade foi desenvolvido neste 
campo para designar tanto os processos geradores quanto as características 
das populações e regiões com maior dificuldade de absorver esses impactos. 
A partir do final do século XX ocorreu o fim da contraposição entre 
natureza e sociedade, presente nas teorias sociais do século XIX. A natureza 
nem é mais predeterminada nem designada, transformando-se em produto 
social, sob as condições naturais de reprodução no universo civilizatório 
(socialização da natureza). Dessa forma, o real desafio tornou-se a 
transformação de ameaças civilizacionais à natureza em ameaças sociais, 
econômicas e políticas sistêmicas, características da sociedade de risco (BECK, 
2011). 
De acordo com Porto (2007), a vulnerabilidade social pode ser definida 
como a redução da capacidade de antecipar, sobreviver, resistir e recuperar-
se dos impactos decorrentes de desastres ou eventos de risco. Sua análise 
busca articular, num enfoque transdisciplinar, o entendimento das 
contribuições dos processos biológicos, geofísicos e tecnológicos aos 
processos socioeconômicos e políticos por trás do ciclo de geração-exposição-
efeitos de certos grupos populacionais, em diferentes escalas espaciais e 
temporais. 
Diante do cenário atual das mudanças climáticas, uma questão central 
a ser discutida é como se darão os processos adaptativos diante de tais 
cenários, quais regiões e comunidades estão mais vulneráveis e quais medidas 
podem ser tomadas para serem revertidas essas vulnerabilidades e impactos. 
A adaptabilidade, ou resiliência, refere-se ao grau dos ajustes possíveis, a 
curto ou longo prazo, que impedem ou reduzem efeitos negativos através de 
práticas, processos e estruturas de um sistema. A sensibilidade está 
relacionada ao grau de transformações que um sistema responderá em face 
de tais mudanças. Nesse contexto, a vulnerabilidade expressa a extensão dos 
danos ou perigos que um sistema passa a sofrer com as mudanças, resultando 
não apenas da sensibilidade de certos sistemas, mas do modo como as 
pessoas, populações e sociedades irão se adaptar. 
As contradições e conflitos sociais na formação do território das 
cidades constituem um tema especial para os estudos urbanos, de 
planejamento e da gestão das grandes cidades. A cidade é a expressão da 
produção social, da dinâmica de transformação e uso do território e dos 
20 
 
recursos naturais, isso significa pensar a urbanização e o urbano como 
expressões do modelo de sociedade que estamos desenvolvendo, sendo este 
contraditório, desigual e conflituoso (PENNA; FERREIRA, 2014). 
O espaço urbano entra no circuito de produção e consumo da 
sociedade, com suas contradições e lutas pelo espaço (movimentos sociais, 
políticas públicas, ações regulatórias de governos, ação de mecanismos 
imobiliários e empresariais, dentre outros). A variedade de fatores e o caráter 
multidimensional da vulnerabilidade fazem com que a problemática urbana 
seja tratada pontualmente. O conceito de vulnerabilidade tratado tem como 
objetivo garantir uma linha explicativa e integradora que expresse a 
conjuntura de carências, para além da relação de pobreza e renda. 
Mesmo que processos políticos, econômicos e culturais estejam por 
detrás da produção de vulnerabilidades sociais, de forma macroestrutural, 
elas emergem nos territórios concretos onde as pessoas vivem, trabalham e 
se encontram expostas a diferentes riscos. 
Porto (2007) também diferencia vulnerabilidades populacional e 
institucional, sendo que aquela corresponde a grupos sociais específicos, mais 
vulneráveis a certos riscos, enquanto esta é relacionada à ineficiência de uma 
sociedade e suas instituições de regular, fiscalizar, controlar e mitigar 
determinados riscos. A vulnerabilidade institucional decorre de fragilidades 
nos marcos jurídico-normativos, nas políticas e ações institucionais, bem 
como de restrições dos recursos econômicos, técnicos e humanos disponíveis. 
O conceito de vulnerabilidade é, simultaneamente, construto e 
construtor dessa percepção ampliada e reflexiva, que identifica as razões 
últimas de um agravo e seus impactos em totalidades dinâmicas formadas por 
aspectos que vão de suscetibilidades orgânicas à forma de estruturação de 
programas de saúde, passando por aspectos comportamentais, culturais, 
econômicos e políticos (AYRES et al., 2003). 
As abordagens de vulnerabilidade e risco requerem aproximações 
multidisciplinares; ao se falar em processos de urbanização é necessário 
considerar que essas novas dinâmicas estão vinculadas a novos aspectos de 
transformações socioeconômicas e espaciais das cidades, às novas dinâmicas 
populacionais, a mudanças no mercado de trabalho, a desigualdades 
regionaise à nova ocupação do território. O conflito entre urbanização, 
desenvolvimento e meio ambiente se manifesta no aumento de riscos, seja 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 21 
 
pela ocupação de áreas frágeis biofisicamente, seja na produção de 
vulnerabilidades sociais (MARANDOLA JUNIOR et al., 2013). 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O processo de urbanização das cidades trouxe novos desafios, 
impactando diretamente nas condições de vida das populações, 
especialmente das mais vulneráveis. Entende-se que a melhor forma de 
impactar sobre a coletividade é por meios das políticas públicas, uma vez que 
essas são produzidas do embate político entre diferentes classes e poderes 
em jogo na arena social. 
A promoção da saúde surge como uma nova orientação no setor 
saúde, que ao extrapolar sua própria área de conhecimento, abrange 
questões mais amplas para o desenvolvimento e obtenção da qualidade de 
vida. O conceito de vulnerabilidade, como conceito integrador, é capaz de 
auxiliar na compreensão e abordagem transdisciplinar da questão urbana e 
da sociedade de risco. Ao compreender uma abordagem dinâmica possibilita 
o diálogo entre diversas abordagens com vista à construção de uma sociedade 
com mais qualidade de vida. 
Outros temas que necessitam de maior aprofundamento, ampliando 
assim a compreensão da questão, são: participação social e 
“empoderamento” dos agentes responsáveis pela saúde urbana, no caso, a 
própria população. Assim, poderá ser construído um quadro teórico mais 
amplo sobre a problemática da qualidade de vida urbana e suas 
vulnerabilidades. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ADRIANO, J. R. et al. A construção de cidades saudáveis: uma estratégia viável para a melhoria 
da qualidade de vida? Ciência & Saúde Coletiva, v. 5, n. 1, p. 53-62, 2000. 
 
AKERMAN, M. et al. Avaliação em promoção da saúde: foco no “município saudável”. Rev Saúde 
Pública, v. 36, n. 5, p. 638-646, 2000. 
 
AYRES, J. R. C. M. et al. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas 
e desafios. In: CZERESNIA, D.; FREITAS, C. M. Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, 
tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. p. 117-139. 
 
22 
 
BECK, U. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34, 2011. 
 
BONETI, L. W. Políticas públicas por dentro. 2. ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007. 
 
BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciência & Saúde Coletiva, v. 5, n. 1, p. 163-
177, 2000. 
 
BUSS, P. M. Uma introdução ao conceito de promoção da saúde. In: CZERESNIA, D.; FREITAS, C. 
M. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. p. 15-
38. 
 
CARTA DE OTTAWA. Primeira conferência internacional sobre promoção da saúde. 1986. In: 
BRASIL. Ministério da Saúde. As cartas da promoção da saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 
2002. 
 
MARANDOLA JUNIOR, E. et al. Crescimento urbano e áreas de risco no litoral norte de São 
Paulo. Rev. Bras. Est. Pop., Rio de Janeiro, v. 30, n. 1, p. 35-56, 2013. 
 
PENNA, N. A.; FERREIRA, I. B. Desigualdades socioespaciais e áreas de vulnerabilidades nas 
cidades. Mercator, Fortaleza, v. 13, n. 3, p. 25-36, 2014. 
 
PORTO, M. F. S. O conceito transdisciplinar de vulnerabilidade. In: PORTO, M. F. S. Uma ecologia 
política dos riscos: princípios para integrarmos o local e o global na promoção da saúde e da 
justiça ambiental. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007. p. 145-186. 
 
VITTE, C. C. S. A qualidade de vida urbana e sua dimensão subjetiva: uma contribuição ao 
debate sobre políticas públicas e a cidade. In: VITTE, C. C. S.; KEINERT, T. M. M. Qualidade de 
vida, planejamento e gestão urbana: discussões teórico-metodológicas. Rio de Janeiro: 
Bertrand Brasil, 2009. p. 89-110. 
 
WESTPHAL, M. F. O movimento cidade/municípios saudáveis: um compromisso com a qualidade 
de vida. Ciência & Saúde Coletiva, v. 5, n. 1, p. 39-51, 2000. 
 
 
 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 23 
 
Capítulo 2 
 
A METRÓPOLE EM PEDAÇOS: 
A FRAGMENTAÇÃO E OS PADRÕES DE CONURBAÇÃO DA 
REGIÃO METROPOLITANA DE GOIÂNIA5 
 
 
José Vandério Cirqueira6 
 
 
A injunção [...] não pode ser una a não ser dividindo-se, 
rasgando-se, diferindo de si mesma, falando a cada vez 
diversas vezes – e com diversas vozes. 
(Jacques Derrida, 1994, p. 33) 
 
 
1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS REGIÕES METROPOLITANAS NO BRASIL: OS 
DESAFIOS DA GESTÃO TERRITORIAL 
 
No Brasil, atualmente, existem oficializadas 35 Regiões Metropolitanas 
(RMs) e três regiões integradas de desenvolvimento econômico (RIDEs)7. No 
final da década de 1960 e início de 1970, elas começaram a ser definidas e 
reconhecidas pelo governo federal. No ano de criação das mesmas, Eurico de 
Andrade Azevedo (1967, p. 121) demonstrou que a institucionalização dessas 
 
5 Este texto é fruto de parte do capítulo 01 da dissertação de mestrado em geografia intitulada 
Fragmentação da metrópole: constituição da Região Metropolitana de Goiânia e suas 
implicações no espaço intraurbano de Aparecida de Goiânia, orientada pelo professor Dr. Tadeu 
Pereira Alencar Arrais, defendida no Instituto de Estudos Socioambientais da UFG, no ano de 
2009. 
6 Doutor em geografia, professor do quadro permanente do IFG, líder do Grupo de Estudos em 
Ambiente e Sociedade (– GEAS), e-mail: vanderioifg@gmail.com 
7 Para mais detalhes quanto às RMs e RIDEs, ver o relatório Regiões Metropolitanas do Brasil, do 
Observatório das Metrópoles (GARSON; RIBEIRO; RODRIGUES, 2010). Segundo esse relatório, 
“Algumas RMs contam ainda com colares metropolitanos, áreas de expansão metropolitana e 
entorno metropolitano definidos em lei. No caso das RIDEs, vale lembrar ainda, que na sua 
composição inclui municípios de diferentes unidades de federação. As 38 RMs/RIDEs comportam 
444 municípios e estão distribuídas por 22 unidades da federação nas cinco grandes regiões” 
(GARSON; RIBEIRO; RODRIGUES, 2010, p. 2). 
24 
 
regiões metropolitanas no Brasil seguia uma lógica mundial que ocorria nos 
países desenvolvidos, e que no Brasil foram reconhecidas pelo seguinte 
conceito: 
 
A região metropolitana caracteriza-se por um conjunto de 
aglomerações urbanas em torno da cidade grande, com a qual 
desenvolvem uma série de relações, que passam a constituir um 
sistema socioeconômico próprio que, no conjunto, é mais importante 
do que a simples soma de suas partes. [...] O que releva notar é que 
esses complexos humanos abrangem extensas áreas, sem apresentar 
solução de continuidade no espaço urbanizado, num fenômeno de 
conurbação, onde o maior empolga o menor, ou, quando menos, o faz 
diretamente dependente, entrelaçando os problemas, fazendo-os 
carentes de solução comum. 
 
As RMs brasileiras só foram reconhecidas com a constituição de 1969, 
em plena Ditadura Militar. Esse momento histórico possibilitou a 
institucionalização dessas Regiões de Planejamento, que até a Constituição 
de 1988 eram de responsabilidade federal. Os militares viram na criação 
dessas áreas urbanas maior possibilidade de gestão territorial, pois no 
momento havia um grande fervor sobre as megacidades, a urbanização 
intensa em curso e, consequentemente, a sua transformação em territórios 
de gestão. 
Ronaldo Guimarães Gouvêa (2005, p. 101) alerta que, nas RMs do 
Brasil não há uma ação de fomento politicamente capaz de instaurar uma 
intervenção integrada e descentralizada na administração, na promoção de 
infraestrutura básica e na geração de emprego e renda. O autor argumenta 
que essa insuficiência de gestão integrada está no descompromissado e 
ausente planejamento urbano do Brasil, que se delonga desde início do século 
XX. O fenômeno da concentração populacional nas RMs, das conurbações e 
das novas “funções urbanas e regionais com alto grau de diversificação, 
espacialização e integração socioeconômica, exige planejamento integrado e 
ação conjunta permanente dos entes públicos nela atuantes” (GOUVÊA, 
2005, p. 101). 
 MarceloLopes de Souza (2003) discute que as primeiras RMs 
brasileiras8, as quais tinham o objetivo de tornar mais racional, sob o ângulo 
econômico, a prestação dos serviços comuns das metrópoles, como coleta de 
 
8 As primeiras RMs foram: Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de 
Janeiro e São Paulo. 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 25 
 
lixo, abastecimento de água, etc., no interesse de uma gestão integrada. Mas 
havia outro objetivo por trás desse, alerta Souza (2003), o objetivo de 
geopolítica interna diz respeito a facilitar a intervenção do regime nos 
espaços-chave da vida econômica e político-social brasileira. 
 Conforme demonstra Fany Davidovich (2003, p. 11), as primeiras 
RMs do Brasil se sustentaram sobre uma base conservadora. Nelas, um 
planejamento altamente “centralizado impôs um modelo que prescindiu de 
práticas de cooperação intermunicipal e que preteriu a efetiva representação 
política dos municípios participantes da região metropolitana”. Esse 
momento de centralização política e concentração urbana possibilitou a 
generalização de extensas áreas metropolitanas e acirrados processos de 
conurbação. 
Luís Dórich (1966, p. 7), discutindo o futuro das cidades latino-
americanas já na década de 1960, apontou sérios problemas urbanos ligados 
ao crescimento desordenado e aos recentes processos de conurbação das 
cidades pobres da América Latina. A partir dessa reflexão, o autor 
demonstrou-se pessimista, argumentando que essas problemáticas cidades 
carecem de “órgãos de governo metropolitano que se encarregarão de 
coordenar todos os aspectos fundamentais dos serviços públicos”. 
Conforme defende Souza (2003), quando as aglomerações urbanas 
aceleram seu crescimento e se destacam, apresentando-se como áreas 
econômicas fortalecidas, com polarização regional, então elas passam a ser 
efetivamente constituídas enquanto RMs, e “nelas os espaços urbanos se 
acham fortemente ‘costurados’, especialmente com a ajuda da ‘linha’ mais 
importante, [...] que são os deslocamentos diários dos trabalhadores” 
(SOUZA, 2003, p. 33)9. Essa complexidade de elementos das metrópoles 
brasileiras incita a necessidade de apoio institucional e de enfrentamento dos 
problemas de ordem interna e regional. 
Segundo Gouvêa (2005, p. 245), as Regiões Metropolitanas brasileiras 
“carecem de apoio institucional para equacionar questões que, por sua 
complexidade, magnitude e abrangência, não se limitam ao âmbito de uma 
municipalidade específica, por mais importante que seja”. Sandra Lencioni 
 
9 Souza (2003) trata a conurbação de forma pragmática, não considerando o conceito de Gedds 
(1994), que a classifica como qualquer forma de integração e polarização de uma cidade a outra, 
sendo assim uma cidade-região ou metrópole, não necessariamente sendo rígida a necessidade 
de encontro morfológico das cidades. Ou seja, conurbação não é somente um termo, e sim um 
conceito. Com relação a esse assunto, Beaujeu-Garnier (1980, p. 135) diferencia conurbação de 
aglomerado urbano, definindo a aglomeração como “a forma mais simples de desenvolvimento 
urbano; define-se classicamente como uma cidade envolta por arredores; quer dizer que, neste 
caso, é monocêntrica”. Já a “conurbação é uma aglomeração com várias cabeças. Nela, 
numerosos problemas têm de ser tratados em comum” (p. 136). 
26 
 
(2003) destaca a emergência de um novo fato urbano, delineado por distintas 
escalas de análise. Segundo a autora, nas metrópoles mais recentes ocorrem 
certas particularidades em sua produção espacial, estas, por sua vez, estão 
vinculadas à latente estratificação social no bojo do corpo urbano. 
As RMs do Brasil são muito variadas entre si no tamanho e portam 
consigo distintos problemas, tanto no âmbito social e econômico quanto 
ambiental. Esses problemas urbanos, consequentemente, estão relacionados 
aos temas da ingovernabilidade urbana e às propostas de superação dessas 
questões estruturais da metrópole, caso do trabalho de José Luís Fiori (2000). 
Há também trabalhos que cuidam de temas relacionados aos desafios da 
governança metropolitana, conforme elucidam Sérgio de Azevedo e Virgínia 
R. dos Mares Guia (2000). Esses trabalhos preocupam-se, de forma mais 
veemente, com a gestão interna, a equalização das complexidades, a 
participação popular e o enfrentamento dos problemas urbanos partindo a 
escala local. Conseguinte a esta perspectiva, o caso dos trabalhos de Souza 
(2003), Orlando Alves dos Santos Junior (2000) e Jose Luís Coraggio (2000) 
também suscitam as experiências de superação dos problemas 
metropolitanos diante do crivo da política de gestão local e horizontal, da 
mediação entre a cooperação e o conflito. 
Davidovich (2003, p. 12) argumenta que a implementação dessas 
novas regiões metropolitanas a cargo dos Estados se desenvolveu de forma 
abrupta e descontrolada, caracterizando uma “imprecisão de conceitos e de 
atribuições, principalmente quanto às linhas de financiamento e aos recursos 
financeiros”. Por outro lado, há de se considerar, conforme destaca Souza 
(2003), que essas novas RMs, dotadas de pouco teor verdadeiramente 
metropolitano, têm um lado positivo no que tange à busca mais flexível de 
soluções para a região, de forma local e mais democrática. 
Segundo Souza (2005), Milton Santos (1993), ao se preocupar com a 
desintegração e espraiamento das cidades, como também Luis Cesar Ribeiro 
(2000, 2004) ao utilizar o conceito de metrópole dual ou repartida, tentam 
chamar a atenção para a fragmentação, porém se limitam ao tecido 
socioespacial. Para Souza (2005), deve ser elucidado o fator mais importante, 
a dimensão política, principalmente no caso das metrópoles nacionais, por 
estarem embebidas pela violência urbana, tráfico de drogas e de armas e o 
conflito entre polícia e traficantes, que alardeiam o espectro da 
ingovernabilidade urbana. O autor denomina esse fenômeno de 
fragmentação do tecido sociopolítico-espacial. 
 O necessário, no momento, é poder perceber que as RMs brasileiras 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 27 
 
nasceram da intenção de gestão e planejamento regional. Esse planejamento 
sempre esteve vinculado às relações de poder e aos arranjos institucionais. 
Portanto, as RMs brasileiras foram baseadas em dois principais objetivos: 
agente político, voltado ao enfrentamento dos desafios metropolitanos; e o 
agente de gestão e de controle territorial. O último objetivo se sobressaiu, e 
o primeiro ainda não se materializou, figurando apenas em esparsas 
experiências pouco sólidas e raras exceções. 
 
2 A METRÓPOLE EM PEDAÇOS: OS PADRÕES DE CONURBAÇÃO DA REGIÃO 
METROPOLITANA DE GOIÂNIA 
No aspecto intraurbano, Goiânia nasceu diferenciada, devido a seu 
plano urbano radio-concêntrico – moderno para o período de 1930 no país – 
e o zoneamento rígido e funcional dos setores comerciais, industriais e dos 
setores residenciais, embasados nos moldes das cidades-jardins. Assim, seu 
plano se organizou como uma réplica do plano urbano de Versalhes, na 
França, não se esquecendo da arquitetura Art Déco, que modelou sua 
paisagem, conforme destaca Célson Ferrari (1986). Segundo James H. 
Johnson (1974), esses planos radio-concêntricos com cidades-jardins se 
tornaram modismo que expressava estilo monumental e reprodutor do 
poder. 
O processo de mudança da capital da cidade de Goiás para Goiânia, na 
década de 1930, foi contraditório, pois se baseou em um planejamento 
arrojado, moderno, devido à sua instalação no interior de um Estado de Goiás 
ainda marcado por traços da cultura agrária. Segundo Egmar Felício Chaveiro 
(2004, p. 127), Goiânia nasceu devido ao interesse de sanar o atraso existente 
no Estado de Goiás, ou seja, “fora inventada no seio de uma diversidade de 
conflitos para antecipar a modernização conservadora” em curso. Mas devido 
ao fato de Goiâniater sido gerada nesse universo sertanejo, na sua 
característica metropolitana ainda se encontra um comportamento 
interiorano. 
 
A sua invenção, a sua construção e o desenvolvimento, em certa 
medida, marcam a história da desconstrução do plano moderno, de tal 
modo que a cidade vive, hoje, num momento de travessia na 
elaboração de outra configuração espacial, que não perde aquele, 
28 
 
todavia não o obedece. Temos hoje uma Goiânia articulada aos eixos 
de transformação do mundo, da Região Centro-Oeste e do estado de 
Goiás, sem perder a sua genealogia, mas nunca presa a ela. [...] Goiânia 
metropoliza-se conservando, todavia, traços e signos da tradição 
agrária do estado de Goiás. Isso lhe dá a sua especificidade. 
(CHAVEIRO, 2004, p. 140). 
 
Em contrapartida à perspectiva citada acima, autores como Barsanufo 
Gomides Borges (1990) e Nasr Fayad Chaul (1997) não se ativeram ao caráter 
singular da produção espacial de Goiás, e se dedicaram ao tratar do assunto 
discutindo as ações de intervenção e modernização do território goiano. 
Desse modo, a produção espacial goiana não ocorreu desligada do todo, mas 
foi participante e integrada desigualmente da configuração espacial 
brasileira. 
Sobre a produção da metrópole goiana, Tadeu Alencar Arrais (2005, p. 
351) mostra que “na análise da Região Metropolitana de Goiânia (RMG) não 
podemos deixar de notar a primazia de Goiânia, ou seja, como foi construída 
sua centralidade”. Essa polarização causa um dilema aos habitantes das 
cidades no entorno de Goiânia, pois não encontram serviços necessários nos 
seus municípios, obrigando-se a migrar em busca não somente de trabalho, 
mas de serviços coletivos, como hospitais, escolas, serviços de bancos, etc., 
fazendo com que Goiânia acabe drenando a renda desses municípios, 
concentrando mais poder e fragilizando a autonomia dos municípios à sua 
volta. Essa condição de dependência e não de interação dos municípios do 
entorno de Goiânia levou Arrais (2005, p. 353) a chamar a atenção para o 
desafio político desse fenômeno: 
 
A disparidade que se construiu na relação de Goiânia com os demais 
municípios da RMG, compreendida à luz da mobilidade e 
centralização, sugere não somente um desafio interpretativo, mas 
antes de tudo, um desafio político. É preciso pensar alternativas 
institucionais que atendam às demandas de todas as cidades da RMG, 
com políticas de geração de emprego e também descentralização dos 
serviços públicos. [...] Ao pensar e sugerir um equilíbrio entre 
mobilidade e centralidade, estamos pensando, antes de tudo, no 
rompimento de um padrão de fragmentação do tecido territorial 
próprio dos ambientes metropolitanos. 
 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 29 
 
A própria rígida dualidade urbana ou, como comenta Ribeiro (2000), a 
metáfora da “cidade partida”, por si só não explica a complexidade da cidade 
atual e suas várias naturezas. Segundo o mesmo autor, ao analisar a cidade 
dual, este afirma que ela é a expressão de uma nova ordem urbana, que tem 
como resultado a fragmentação do espaço urbano como sua expressão 
maior. Se essa nova ordem é a fragmentação, então não deveria ser 
denominada de dualidade, pois sabe-se que múltiplos atores, de diferentes 
formas, usufruem, se relacionam e transformam o espaço urbano, tendo 
assim um espaço fragmentado, um mosaico de interposições, intersecções e 
sobreposições. Vale lembrar que na cidade há uma luta por apropriação dos 
distintos segmentos sociais, conforme discute Heitor Frúgoli Jr. (2000), e essa 
luta faz com que atores santificados ou antagônicos se relacionem numa 
complexa teia de envolvimento, de subjugações e de dependência 
simultânea. 
O processo de crescimento das periferias de Goiânia acarretou na sua 
conurbação com os municípios vizinhos, reproduzindo no decurso desse 
processo a formação da RMG. Vários fatores determinaram esse crescimento 
urbano. De um modo geral, o crescimento urbano nas cidades dos países 
ditos subdesenvolvidos está ligado à ação do Estado como regulador do 
território. A disputa pela terra urbana acarreta na formação de periferias 
precárias, favelas ou áreas de habitação sub-humana. Ermínia Maricato 
(1996, p. 63) discute esse assunto da seguinte forma: 
 
A maior tolerância e condescendência para com a produção ilegal do 
espaço urbano vem dos governos municipais aos quais cabe a maior 
parte da competência constitucional de controlar a ocupação do solo. 
A lógica concentradora da gestão pública urbana não admite a 
incorporação ao orçamento público da imensa massa, moradora da 
cidade ilegal, demandatária de serviços públicos. Seu 
desconhecimento se impõe, com exceção de ações pontuais definidas 
em barganhas políticas ou períodos pré-eleitorais. Essa situação 
constitui, portanto, inesgotável fonte para o clientelismo político. 
 
 Na contramão dessa lógica peculiar e perversa dos países 
subdesenvolvidos, Mark Gottdiener (1993) aponta outros modelos de 
suburbanização ampliada das metrópoles estadunidenses. Para o referido 
autor, a suburbanização nos Estados Unidos tem conotação de bairros-
30 
 
dormitórios a serviço das novas classes médias tecnocráticas, expressando 
um novo estilo de vida no país. A suburbanização se instaurou após a 
decadência da cidade central, sendo motivada, principalmente, pela 
generalização de meios de transporte mais flexíveis, como o automóvel. 
Gottdiener (1993, p. 17), ao realizar uma crítica à ecologia urbana, 
argumenta que há uma ligação estruturante no meio urbano com o modo de 
produção vigente, sendo que a produção social do espaço urbano está ligada 
a padrões espaciais e forças profundas que residem em modos de 
organização social. Essas forças se estruturam de forma “hierárquica pela 
qual todos os espaços de assentamento são integrados através de ações de 
formas sistêmicas”. Nesse sentido, as forças sociais do capitalismo tardio são 
determinantes para a organização dos novos assentamentos urbanos, tendo 
a iniciativa privada a necessidade de um novo modelo de habitação, além da 
ação do Estado como os principais motivadores da expansão urbana 
estadunidense. Este exemplo elucida que, no caso mais específico do Brasil, 
o crescimento urbano se centra mais voltado à ampliação desordenada do 
espaço urbano, através da manutenção de um estilo de vida precário nas 
periferias. 
No caso específico da conurbação da RMG, pode-se afirmar que ela se 
iniciou no final da década de 1960. Vale lembrar que, neste caso restrito, 
considera-se conurbação somente como o simples encontro entre duas 
cidades. Posteriormente, a conurbação onde é hoje a RMG, se generalizou 
como um fenômeno urbano, que não representava mais somente o encontro 
entre cidades, mas a integração entre municípios vizinhos. 
No período de 1960, 1970 e 1980 a conurbação entre Goiânia e 
Aparecida de Goiânia e o crescimento urbano dos outros centros que se 
localizavam próximos à capital, passou a se enquadrar no processo inicial de 
formação do Aglomerado Urbano de Goiânia (AGLUG). Vale lembrar que a 
década de 1980 foi o período de criação deste Aglomerado Urbano. Somente 
após a década de 1990 que o desenvolvimento urbano da RMG pôde ser 
considerado uma conurbação no sentido conceitual, aquele apontado por 
Patrick Geddes (1994) e Jacqueline Beaujeu-Garnier (1980), ou seja, uma 
conurbação que apresenta “várias cabeças”, nodalidades e articulação entre 
entorno e a cidade polo. 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 31 
 
A partir do momento em que houve um processo avançado de 
“encontro entre cidades” (conurbação física), e de integração intermunicipal, 
como também a congregação de situações similares entre os municípios do 
entorno de Goiânia, formando assim uma região com especificidade própria 
é que foi considerada a existência da RMG como uma metrópole no sentido 
estrito da palavra, sendo a escala intrametropolitana uma nova escalamontada em Goiás. 
Os elementos motivadores dessa conurbação foram vários. Dentre 
eles, e um dos mais importantes advém da ação do poder público como 
incentivador da indústria da suburbanização, conforme destacou Sérgio de 
Moraes (1991). Juntamente com o Estado, a iniciativa privada contribuiu com 
os fatores responsáveis pela conurbação e a expansão generalizada das 
periferias de Goiânia e, posteriormente, com a expansão urbana dos 
municípios do entorno. O Estado autoritário da Ditadura Militar, no final dos 
anos de 1970, com a desapropriação e/ou realocação de indesejados de 
bairros em processo de gentrificação e dos fundos de vales, direcionou o 
movimento de ocupação para Aparecida de Goiânia. Outro elemento que 
merece destaque são as políticas de transportes coletivos, drenando a 
população, renda e o emprego, fomentando a mobilidade e o parcelamento 
do solo das periferias. A multiplicação de polos econômicos secundários nas 
periferias também impulsionou a atração de população e o desenvolvimento 
urbano desigual, promovendo a conurbação entre Goiânia e Aparecida de 
Goiânia. 
A diversificação e a modernização das atividades econômicas de 
Goiânia também contribuíram para a construção de um polo regional, sendo 
assim um fator responsável pela atração de migrações das mais diversas áreas 
da nação que se dirigiam para Goiânia. Quando ela não mais suportou, ou 
quando acharam necessário depositar o novo contingente de 
subtrabalhadores, detentores das mais exploradas categorias ocupacionais, 
buscaram direcionar esses sujeitos aos assentamentos humanos dos 
municípios vizinhos, caso emblemático de Aparecida de Goiânia. 
O fácil acesso à terra urbana nos arrabaldes de Goiânia e a oferta de 
empregos com menor exigência técnica contribuíram, fortemente, com os 
processos de periferização e de conurbação. Um último elemento relevante 
a se considerar foi a expansão urbana induzida pelos vetores de crescimento 
32 
 
urbano, que são determinados pelas vias e rodovias de integração 
intermunicipal, implantando no seu curso os novos bairros pauperizados. 
Após o desenvolvimento das conurbações, gradativamente foi se 
montando uma metrópole espraiada, nas décadas de 1980 e 1990. A 
concentração urbana de Goiânia contrastava com os vazios urbanos de 
Aparecida de Goiânia, que perduram até hoje, e os outros loteamentos 
dispersos que iam surgindo nas proximidades de Senador Canedo, Goianira e 
Trindade. Essa estrutura dispersa começou a ser desfeita no momento atual, 
fortalecendo assim a ideia da metrópole Goiânia como uma região integrada 
e dinâmica. Por outro lado, o termo metropolização de Goiânia tornaria 
insuficiente, pois não houve nas décadas de 1970 e 1980 uma metropolização 
dotada de desenvolvimento urbano, e sim uma periferização, em síntese, 
uma simples expansão urbana, conforme defende David Clark (1985). 
Com base nas discussões levantadas por Moraes (1991), Lana de Souza 
Cavalcanti (2001) e Clorisnete Borges Marinho (2005), entre outras, a partir 
da década de 1970 a região sul de Goiânia sofreu acirrada expansão urbana, 
conurbando-se com Aparecida de Goiânia. Essa expansão para sentido sul da 
capital foi posteriormente sofrendo grande valorização fundiária e 
imobiliária, hoje é uma das regiões mais valorizadas. Marinho (2005, p. 77) 
argumenta que, a abertura da via T-63 impulsionou a mobilidade e o 
desenvolvimento da região, e a “pavimentação das vias da faixa sul dinamizou 
a sua acessibilidade, contribuindo, assim, para a produção de uma localização 
otimizada na capital”. 
Essas modificações no espaço intraurbano de Goiânia causaram a 
valorização do solo urbano e maior acirramento da conquista pela moradia, 
fazendo com que a população que chegava buscasse novas áreas. Na mesma 
dinâmica metropolitana de Goiânia, as cidades de Aparecida de Goiânia e, 
posteriormente, Trindade, Senador Canedo e Goianira, foram sendo 
impactadas pelo crescimento desordenado. Somente Senador Canedo não é 
anterior à Goiânia, mas as demais são pretéritas à capital. Trindade surgiu no 
século XIX, Goianira e Aparecida, no início do século XX. O crescimento 
explosivo que elas sofreram causou forte impacto em suas estruturas 
internas, justificando assim diferentes padrões de conurbação na RMG, com 
tempos, espaços e configurações socioterritoriais particulares. 
O mapa sobre a expansão urbana da RMG (mapa 1) ilustra quanto os 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 33 
 
eixos rodoviários foram determinantes para o direcionamento do 
crescimento urbano da RMG. A maior extensão do tecido urbano segue para 
a região sul, delineando profunda conurbação entre Goiânia e Aparecida de 
Goiânia. Trindade, Senador Canedo e Goianira apresentam relativo estágio de 
conurbação, e Hidrolândia e Aragoiânia apresentam iniciado fenômeno de 
conurbação. 
O primeiro padrão de conurbação (padrão A), é o de Aparecida de 
Goiânia com a capital estadual. Outro modelo de conurbação se desenhou no 
sentido oeste e noroeste da capital, através dos municípios de Trindade e 
Goianira, e das rodovias GO-060 e GO-070, respectivamente, sendo a 
conurbação de Goianira mais recente do que a de Trindade (padrão B). O 
outro padrão de conurbação é o de Senador Canedo, no sentido leste da 
capital, este está ligado à ação induzida do Estado em promover 
assentamentos humanos ligados à moradia popular (padrão C). Há também 
um padrão (D) de conurbação similar entre os municípios de Hidrolândia (ao 
sul de Aparecida de Goiânia) e Aragoiânia (sudoeste de Aparecida de Goiânia), 
sendo uma conurbação que se encontra em estágio inicial e se forma 
fisicamente com a cidade de Aparecida de Goiânia, sabendo que existe 
também forte integração funcional com a capital, completando a organização 
das conurbações da RMG. Mas o que chama a atenção dessa conurbação 
embrionária é a sua morfologia urbana, pois está ligada não aos processos de 
produção do espaço urbano e sim do espaço periurbano ou rural-urbano, 
usando a conceituação de Johnson (1974). 
 
 
34 
 
Mapa 1: Região Metropolitana de Goiânia – Expansão Urbana (2000) 
 
Fonte: PINTO, J. V. C. Fragmentação da metrópole: constituição da Região Metropolitana de 
Goiânia e suas implicações no espaço intraurbano de Aparecida de Goiânia. 173 f. 2009. 
Dissertação (mestrado), Geografia, IESA-UFG, Goiânia, 2009. 
 
Mais importante que classificar a forma da conurbação, é necessário 
compreender os seus vetores de expansão e sua integração, que é amarrada 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 35 
 
pela mobilidade intrametropolitana. 
Segundo Flávio Villaça (1998, p. 82), os eixos viários são um dos 
elementos mais determinantes para o crescimento urbano e a constituição 
da conurbação. “À medida que a cidade cresce, ela se apropria e absorve os 
trechos urbanos das vias regionais, como nos casos das rodovias antigas que, 
com o tempo, se transformaram em vias urbanas”. 
A partir do momento em que a malha urbana de Goiânia transbordou 
para Aparecida de Goiânia, esta vem transbordando-se para Hidrolândia. Na 
verdade, o que ocorre é uma indução do crescimento urbano e não um 
transbordamento propriamente dito, pois não se deve esquecer de que o 
município que sofre crescimento, em decorrência da demanda 
metropolitana, já tinha velhas formas espaciais que vão sendo ressignificadas 
ou descaracterizadas. Além da região sul da RMG, a região oeste apresenta 
considerada expansão urbana, composta por dispersos loteamentos, 
principalmente nos municípios de Goiânia e Trindade, o mesmo acontece 
com a região noroeste, no município de Goianira. Boggione, Ferreira e Silva 
(2005, p. 687) tratam desse assunto e mostram que os vetores do 
crescimento urbano de Goiânia estão mais acirrados nas regiões tratadas 
anteriormente, sintetizando a argumentação da seguinte forma: 
 
Entre os anos de 1975 e 2002, a área urbana de Goiânia praticamente 
duplicou, sendoque os setores norte e oeste foram os que 
apresentaram maiores expansões. Em particular, a região sul foi o que 
apresentou menor expansão e nos próximos anos esta região não mais 
se expandirá, pois naquela região a área urbana de Goiânia já atingiu 
o limite municipal, contudo é importante em trabalhos futuros, 
mensurar os vetores de crescimento da área urbana do município de 
Aparecida de Goiânia, que atualmente tem sua expansão influenciada 
por Goiânia. 
 
Em decorrência desses vetores de crescimento urbano foram se 
construindo distintos padrões de conurbação entre Goiânia e as cidades do 
seu entorno. Na RMG existem diferenciados estágios de conurbação. 
Distintos no sentido de tempo de formação, grau de contato entre os tecidos 
urbanos de Goiânia, integração funcional entre os municípios, e, por último, 
diversificação e dinamização econômica, reproduzindo maior ou menor 
autonomia e complementaridade entre os municípios que se conurbam com 
36 
 
a centralidade metropolitana. 
De forma objetiva, na RMG se desenvolveram quatro estágios 
diferenciados de conurbação: a conurbação Aparecida de Goiânia com 
Goiânia; depois a conurbação Trindade/Goianira com Goiânia; em seguida, a 
conurbação Senador Canedo com Goiânia; e, por último, o estágio inicial da 
conurbação Aragoiânia/Hidrolândia com Aparecida de Goiânia. 
 
Quadro 1: Os padrões de conurbação na Região Metropolitana de Goiânia 
Fonte: Organização José Vandério Cirqueira (2017). 
 
Nome da 
conurbação 
Quais cidades 
conurbam-se 
Região 
que se 
conurba 
Principais características 
A Aparecida 
Aparecida de 
Goiânia com 
Goiânia 
Sul de 
Goiânia 
– Densidade de contato físico com Goiânia; 
– Novas centralidades; 
– Novas lógicas de mobilidade; 
– Especulação e valorização imobiliária. 
B 
Trindade/ 
Goianira 
Trindade e 
Goianira com 
Goiânia 
Noroeste 
e oeste 
de 
Goiânia 
– Expansão urbana desordenada dirigida 
pela iniciativa privada; 
– Fragmentação dos bairros; 
– Ocupação popular da terra urbana. 
C 
Senador 
Canedo 
Senador 
Canedo com 
Goiânia 
Leste de 
Goiânia 
– Ocupação dispersa dirigida pelo poder 
público e capital privado; 
– Loteamentos populares e condomínios 
fechados; 
– Forte integração funcional com Goiânia. 
D 
Argoiânia/ 
Hidrolândia 
Aragoiânia e 
Hidrolândia 
com 
Aparecida de 
Goiânia 
Sul e 
Sudoeste 
de 
Aparecid
a de 
Goiânia 
– Estágio inicial de conurbação; 
– Reduzido contato físico com Aparecida 
de Goiânia; 
– Empreendimentos industriais, 
empresariais atacadistas e imobiliários; 
– Ocupação rural-urbana do espaço. 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 37 
 
O primeiro caso iniciou na década de 1960, motivado pela expansão 
urbana induzida pela ação do poder público, como gestor do território, 
facilitando o parcelamento do solo e a ocupação desordenada fora do 
município de Goiânia, consequentemente, no município de Aparecida de 
Goiânia. A ação do poder público teve como respaldo o discurso de amenizar 
as distorções que estavam se montando na nova capital Estadual, planejada 
três décadas atrás. Essa primeira conurbação (conurbação Aparecida), nas 
últimas décadas, vem sofrendo reestruturações, tendo como síntese a 
formação de novas centralidades, dinamização econômica (polos 
empresariais e industriais) e valorização do solo urbano (condomínios 
fechados verticais e horizontais), fortalecendo sua diferenciação das demais 
(ver Mapa 2). Na conurbação Aparecida, sua vinculação maior se dá, 
evidentemente, devido à localização na região sul de Goiânia, por outro lado, 
é uma conurbação integrada a quase todas as áreas da porção centro-sul da 
capital, pois a extensa área limitada com Goiânia e as várias vias e rodovias 
de acesso possibilitam essa articulação. 
 
 
38 
 
Mapa 2: Conurbação entre Goiânia e Aparecida de Goiânia 
 
Fonte: PINTO, J. V. C. Fragmentação da metrópole: constituição da Região Metropolitana de 
Goiânia e suas implicações no espaço intraurbano de Aparecida de Goiânia. 173 f. 2009. 
Dissertação (mestrado), Geografia, IESA-UFG, Goiânia, 2009. 
 
A segunda conurbação (conurbação Trindade/Goianira) iniciou nos 
primeiros anos da década de 1990 e teve como impulso as ações imobiliárias, 
em grande parte da iniciativa privada, constituindo tanto novos condomínios 
Cidade, Resiliência e Meio Ambiente - 39 
 
horizontais (caso da região de Trindade), loteamentos irregulares dispersos 
como extensão do eixo industrial e de comércio varejista na rodovia GO-070 
(região de Goianira). Nessa conurbação existe uma característica principal 
ligada à coesão socioeconômica (setores populares), fragmentação dos 
setores conurbados e com baixa ligação ao centro tradicional dos municípios 
que pertencem, proliferação de comércio de bairro, devido à demanda local 
produzida pela desintegração dos bairros aos centros comerciais, e 
lineamento da mancha urbana pelas rodovias e suas áreas adjacentes, 
estando mais integrada ao subcentro de Campinas, em Goiânia, conforme 
alertaram Correa, Paula e Pinto (2005). 
O terceiro padrão é o da conurbação Senador Canedo. Nessa 
conurbação, o traço característico que lhe diferencia das demais é que, na 
última década, o poder Estadual interferiu decisivamente no contato físico 
entre Senador Canedo e Goiânia através da produção de loteamentos para 
classes populares. Portanto, é uma conurbação fortemente marcada pela 
ação estadual e a demanda habitacional produzida pela expansão urbana da 
região leste de Goiânia. Outro diferencial é que a conurbação Senador 
Canedo se integra à Goiânia por três vias de acesso, estando mais vinculada 
ao centro tradicional e aos subcentros próximos da Avenida Anhanguera, na 
porção leste da capital. 
O último padrão de conurbação é o de Hidrolândia/Aragoiânia. Vale 
ressaltar que essas duas cidades apresentam contatos físicos com Aparecida 
de Goiânia ainda em estágio primário. A integração via mobilidade também é 
muito baixa, comparada com as outras conturbações; portanto, a 
apresentação desse quadro de conurbação é um esforço de antever a 
configuração da futura integração física. A perspectiva fragmentária da 
metrópole em pedaços reforça a tendência ao processo de conurbação nessa 
região sul, principalmente ao acompanhar as recentes transformações no 
eixo rodovia BR-153 (Aparecida de Goiânia e Hidrolândia), marcada por polos 
empresariais, empreendimentos comerciais atacadistas e condomínios 
habitacionais; e no eixo GO-040 (Aparecida de Goiânia e Aragoiânia), marcada 
pelos condomínios habitacionais e loteamentos de chácaras e sítios rurais. 
Mas no momento atual, o que se verifica é que essa conurbação se diferencia 
também por estar acontecendo entre Aparecida de Goiânia, Hidrolândia e 
Aragoiânia, ou seja, no segundo anel de expansão urbana da RMG. A 
40 
 
conurbação Aragoiânia/Hidrolândia tem como agente estruturante a 
produção periurbana ou rural-urbana do espaço, conforme já foi destacado. 
Nas duas cidades, loteamentos tipo chácaras, e no caso de Hidrolândia, o 
distrito rural de Nova Fátima, ao sul do ribeirão das Lages, que divide 
Hidrolândia de Aparecida de Goiânia, são os vetores de assentamento urbano 
das regiões, sendo assim, uma conurbação motivada pela auréola rural-
urbana de setores de chácaras, sítios, granjas e os arranjos locais de 
horticultura, e também por empreendimentos atacadistas e loteamentos 
habitacionais. Segundo Johnson (1974, p. 201), é na “aureola rururbana 
donde se mezclan varias características rurales y urbanas”. Sendo essas áreas 
uma indefinição ou fusão do urbano com o rural. 
 Com a consolidação de uma metrópole no interior de Goiás, o padrão 
urbano desse Estado se redirecionou. Goiânia não mais se articulava sozinha. 
Seu crescimento transbordou para além dos limites municipais da jovem 
capital cerradeira, através de um desenvolvimento metropolitano agressivo e 
perverso, constituindo-se hoje numa metrópole

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