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SOBRADO & MOCAMBOS (GILBERTO FREYRE) CAPÍTULO I - O SENTIDO EM QUE SE MODIFICOU A PAISAGEM SOCIAL DO BRASIL PATRIARCAL DURANTE O SÉCULO XVIII E A PRIMEIRA METADE DO XIX • Chegada da família real --> patriarcado rural perde importância --> descoberta das minas e desenvolvimento da riqueza de burgueses nas cidades • Cresce o interesse da metrópole pela a colônia (rompe com o isolamento) --> mais vigiada e governada --> mineração --> abertura dos portos dando espaço ao capitalismo comercial • Família real aburguesada --> ; a simples presença de um monarca em terra tão antimonárquica nas suas tendências para autonomias regionais e até feudais, veio modificar a fisionomia da sociedade colonial; alterá-la nos seus traços mais característicos • Influências passaram a alterar a estrutura da colônia --> antes mesmo da chegada (como as cidades e indústrias) --> chegada "consolidou" essas mudanças • Maior centralização do governo e o avigoramento do poder real --> fortalecimento do Estado --> menos independência dos senhores de engenho, dos fazendeiros (que antes desobedeciam às ordens da metrópole) • Guerra dos mascates (disputa entre senhores de engenho e os mascates (comerciantes) pelo controle do poder político --> choque de antagonismo políticos (interesses rurais x interesses burgueses)--> vitória dos interesses burgueses, apoiados pela Coroa) = em Recife definira-se o ANTAGONISMO entre o patriarcado rural e a burguesia dos sobrados • Domínio holandês comprometeu os senhores de engenho --> urbanização • O flamengo, vindo de uma civilização mais urbana do que rural, trouxera para uma colônia de matutos – excetuada a quase metropolitana Bahia – novidades de um efeito quase de mágica; conhecimentos e recursos da nova técnica europeia, isto é, a burguesa-industrial • Os reis portugueses do Brasil passaram a prestigiar os interesses urbanos e burgueses, embora sem hostilizar rasgadamente os rurais e territoriais • Minas Gerais foi outra área colonial onde cedo se processou a diferenciação no sentido urbano • Nos documentos brasileiros do século XVIII, já se recolhem evidências de uma nova classe, ansiosa de domínio: burgueses e negociantes ricos querendo quebrar o exclusivismo das famílias privilegiadas de donos simplesmente de terras, no domínio sobre as câmaras ou os senados • O casamento foi o meio de vários desses triunfadores, de origem burguesa ou plebeia, se elevarem socialmente até à classe rural, ao hábito de Cristo, ao título de sargento-mor ou capitão nos tempos coloniais, ao de barão ou visconde, no Império • Cobranças de dívida dos burgueses aos senhores feudais --> cidade crescendo às custas dos senhores de terras • A figura do judeu = CREDORES (chegaram aqui com muito dinheiro) não teve essa grandeza de criador, com um sentido profundo de permanência a animar-lhe o esforço. Ao contrário: viveu à sombra do português patriarcal --> emprestava dinheiro para os senhores a altos juros • Mas com o desenvolvimento da indústria das minas, com o crescimento das cidades e dos burgos, sente-se declinar o amor del-Rei pelos senhores rurais; enfraquecer-se a aristocracia deles --> redução de privilégios • Essa nova política da metrópole ficara claramente indicada por ocasião do conflito entre a aristocracia rural de Pernambuco e a cidade do Recife --> deixar a grande lavoura um tanto de lado, colocando sob o seu melhor favor as cidades e os homens de comércio • Acentuou-se com D. João VI o desprestígio da aristocracia rural --> cobrança de impostos e juros • O bacharel – magistrado, presidente de província, ministro, chefe de polícia – seria, na luta quase de morte entre a justiça imperial e a do pater famílias , o aliado do Governo contra o próprio pai ou o próprio avô --> mas ser dono de fazenda tinha virado um status, não perderá totalmente o seu poder • Além do que, bacharéis e médicos raramente voltavam às fazendas e engenhos patriarcais depois de formado --> foram enriquecer a corte • Em toda parte, o processo de agricultura destruidora da natureza dominou com maior ou menor intensidade no Brasil patriarca • Por outro, foi um período de diferenciação profunda – menos patriarcalismo, menos absorção do filho pelo pai, da mulher pelo homem, do indivíduo pela família, da família pelo chefe, do escravo pelo proprietário; e mais individualismo da mulher, do menino, do negro – ao mesmo tempo que mais prostituição, mais miséria, mais doença. Mais velhice desamparada. Período de transição. O patriarcalismo urbanizou-se. • Período de equilíbrio entre as duas tendências – a coletivista e a individualista – nele se acentuaram alguns dos traços mais simpáticos da fisionomia moral do brasileiro. O talento político de contemporização. O jurídico, de harmonização. A capacidade de imitar o estrangeiro e de assimilar-lhe os traços de cultura mais finos e não apenas os superficiais. De modo geral, o brasileiro típico perdeu asperezas paulistas e pernambucanas para abaianar- se em político, em homem de cidade e até em cortesão. • Processo de declínio do poder patriarcal familiar percebemos que estamos diante de uma grande transformação social quando Freyre destaca as mudanças nas bases econômicas e o desenvolvimento do poder do Estado. Com a passagem de uma sociedade ruralizada para uma outra citadina • Surgimento na nova classe burguesa nas cidades, novas profissões ANOTAÇÕES • Aspectos cruciais são a descoberta e exploração dos metais preciosos e a vinda da família real: – Diversificação da produção urbana. – Diversificação dos serviços urbanos. – Perda de poder político do senhor de engenho. – Centralização política. – Ganha importância o capital comercial e usurário (ex: holandeses e judeus). – Algumas revoltas urbanas (Mascates e Inconfidência) • Transição de época --> assimilação de novos valores --> com a vinda da família real veio não só um núcleo familiar, mas também todo um aparato estatal (artesãos, corte) --> um novo estilo de vida • Antes -> influencia ibérica --> patriarcalismo rural; agora-> influência europeia --> patriarcalismo urbano • Nova classe intermediária --> urbanização = novas oportunidades --> embranquecimento de valores (adoção de valores de brancos livres) • Despersonificação do senhor de engenho --> poder do senhor de engenho mais restrito ao privado do que ao público (privado não determina mais o público) CAPÍTULO V - SOBRADOS E MUCAMBOS • Casa= é uma das influencias sociais que atuam mais poderosamente sobre o homem e em particular sobre a mulher (sedentária e caseira) ---> principalmente no sistema patriarcal --> Casa-grande passa para sobrados (casa nobre) nas cidades, que tinham um maior contato com a rua, as outras casas --> DIMINUIÇÃO AOS POUCOS DE VOLUME E DE COMPLEXIDADE SOCIAL --> senzalas se tornaram "quarto para criados" • De outro lado, as senzalas diminuíram e houve formação de mocambos perto dos sobrados nas zonas mais desprezadas da cidade --> trabalhadores livres sem qualquer assistência ou amparo • Diluição do patriarcado rural nas cidades --> devido ao conjunto poderoso de circunstâncias desfavoráveis à conservação do seu caráter latifundiário • URBANIZAÇÃO deu outra característica aos antagonismos (da cultura africana, europeia e indígena) --> o antagonismo entre brancos de sobrado e pretos dos mocambos era diferente entre os brancos da casa grande e o negro da senzala --> maiores oportunidades de ascensão social, nas cidades (para aqueles que eram dotados de alguma aptidão) • MISCIGENAÇÃO era maior nas cidades --> equilíbrio (de certo modo) entre os antagonismos • Fim do período de patriarcalismo rural --> início do período industrial • SENHOR E ESCRAVO que na zona rural eram uma só estrutura econômica e social (íntimos dentro do patriarcalismo integral) passa a ser duas metades antagônicas no urbano --> indiferentes um ao destino do outro• A casa-grande no Brasil pode-se dizer que se tornou um tipo de construção doméstica especializado neste sentido quase freudiano: guardar mulheres e guardar valores --> sobrado conservou o quanto pode a função de casa grande • Desorientação da vida da mulher no Brasil --> varandas --> nova fase nas relações entre sexos • Nova fase nas relações entre casa e a rua --> os telhados conservados, por tradição, nos sobrados (presença de jardins) mais velhos do Recife parecem acusar reminiscência tão forte de telhados flamengos (Recife --> arquitetura holandesa, vida artificial --> tudo importado da Europa --> primeira tentativa de urbanização no BR ) • Além de sífilis, a disenteria e a gripe, em consequência, sem dúvida, da água poluída e das condições anti-higiênicas de habitação e da vida nos sobrados burgueses e nos sobrados- cortiços do Recife • Aumento da prostituição • Sobrado --> "aburguesado" --> influência europeia (não ibérica) --> nos costumes e na cultura (importação) • Antagonismo entre o sobrado e o mocambo; centro de cidade e subúrbio de capital • O surto cafeeiro, neste século XIX, muito contribuiu para a industrialização de nosso país, mas também colaborou para a grande exploração do trabalho negro nos cafezais e indústrias. A liberdade, tanto de negros quanto de brancos pobres, nunca se efetivou de maneira plena, já que, se antes estavam presos por laços físicos agora se encontram amarrados a empresários por questões econômicas e de sobrevivência nesta liberdade recém conquistada • As “casas de branco” eram casas que, diferentemente das comuns, preservavam características de vivências nos países europeus. Eram casas de mulheres brancas, que tiveram grande importância na colonização, como forma de consolidação da estrutura europeia, usando de materiais para construções como madeira de lei, pedra e cal, dentre outros ANOTAÇÕES • Patriarca deixa de ser referência absoluta de lei --> se limitando a sua própria casa --> regras mais universais e impessoais • Sociedade onde o mestiço tem grandes chances de ascensão social ---> talento pessoal --> embranquecimento de valores (maior o nível social, mais "branco") --> ASSIMILAÇÃO DE VALORES --> mobilidade social (por casamentos, graduação) • Desvalorização das condições polares (senhor e escravo) não traz condições melhores --> questão racial se dissolvendo --> DEMOCRACIA RACIAL (esforço leva a ascensão) • ANTAGONISMOS: o Poder pessoal x poder centralizado --> poder não mais absoluto no senhor de engenho o Familismo x valores universalizantes --> mulher não é mais tão protegida (contato grande com a rua) o Valores antieuropeus x valores europeus burgueses --> com a urbanização veio a assimilação de valores europeus burgueses (Exemplo: recife --> urbanização pelos holandeses --> importação de tudo) o Sobrado x mocambo o Para inglês ver x assimilação (PERGUNTAR) • Antagonismos ganham outras características --> não mais no SENHOR E ESCRAVO --> indiferentes • Proletarização e demonização do negro (PERGUNTAR) • Diferença entre o patriarcado rural e urbano
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