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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI ESTRUTURA DA MATÉRIA GUARULHOS – SP SUMÁRIO 1 PARTÍCULAS SUBATÔMICAS ............................................................................ 3 1.1 Descoberta do próton ........................................................................................... 3 1.2 Isótopos ................................................................................................................ 7 1.3 Nêutron ................................................................................................................. 8 1.4 Elétron................................................................................................................. 11 2 EVOLUÇÃO DOS MODELOS ATÔMICOS ........................................................ 13 2.1 Consolidação do Atomismo ................................................................................ 15 2.2 O átomo de Dalton .............................................................................................. 16 2.2.1 A divisibilidade do átomo ............................................................................ 17 2.2.2 A descoberta do elétron ............................................................................... 19 2.2.3 Determinação da relação carga/massa do elétron .................................... 22 2.2.4 Determinação da carga e da massa do elétron .......................................... 23 2.2.5 As partículas positivas – a descoberta do próton ..................................... 25 2.3 O modelo atômico de Thomson .......................................................................... 26 2.4 Modelo atômico de Rutherford ............................................................................ 27 3 A NATUREZA ONDULATÓRIA DA LUZ ............................................................. 29 3.1 Quantização de Energia...................................................................................... 34 3.2 O efeito fotoelétrico ............................................................................................. 35 3.3 Dualidade onda-partícula .................................................................................... 37 4 PROPRIEDADES PERIÓDICAS DOS ELEMENTOS ......................................... 39 4.1 Raio Atômico ....................................................................................................... 39 4.2 Energia de Ionização .......................................................................................... 43 4.3 Eletronegatividade .............................................................................................. 47 4.4 Eletropositividade ................................................................................................ 50 4.5 Eletroafinidade ou afinidade eletrônica ............................................................... 52 5 LIGAÇÕES QUÍMICAS ....................................................................................... 55 5.1 Ligação Iônica ..................................................................................................... 56 5.1.1 Princípio da ligação iônica ........................................................................... 57 5.2 Ligação Covalente .............................................................................................. 61 5.2.1 Ligação Covalente Dativa ............................................................................ 64 5.3 Ligação Metálica ................................................................................................. 65 5.4 Teoria do Octeto ................................................................................................. 67 5.4.1 Tendências das famílias ............................................................................... 70 5.4.2 Exceções à Teoria do Octeto ....................................................................... 70 5.4.3 Teoria do Octeto ........................................................................................... 72 6 INTERAÇÕES MOLECULARES ......................................................................... 74 6.1 Descrição das forças intermoleculares ............................................................... 78 6.2 Interações iônicas ............................................................................................... 80 6.3 Interações do tipo dipolo-dipolo .......................................................................... 81 6.4 Interações dipolo-permanente–dipolo induzido ................................................... 84 6.5 Interações de dispersão ...................................................................................... 85 6.6 Ligações de hidrogênio ....................................................................................... 85 6.7 Tendências observadas nas interações intermoleculares .................................. 87 7 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 89 3 1 PARTÍCULAS SUBATÔMICAS O átomo, que era apenas esfera sem estrutura no modelo de Dalton, já estava dividido pelo menos em duas partes: o núcleo e os elétrons. Mas, e o núcleo, será que é maciço ou formado possui alguma estrutura? Quantos elétrons há em um átomo? Existe alguma relação entre a massa e a carga do núcleo? Rutherford e outros cientistas buscaram essas respostas. Fonte: sergiorbtorres.com 1.1 Descoberta do próton O início do século XX foi marcado por diversas e incríveis descobertas. Por isso, não se sabe ao certo quem descobriu o próton. A descoberta é geralmente atribuída a Rutherford, que foi também quem deu esse nome ao então conhecido núcleo do átomo de hidrogênio. Em 1919, Rutherford e seus colaboradores realizaram o sonho dos alquimistas e conseguiram experimentalmente, pela primeira vez na história, transmutar um elemento em outro. https://sergiorbtorres.blogspot.com/ Elder Realce 4 O experimento consistia em bombardear o gás nitrogênio com partículas alfa altamente energizadas. Como resultado, alguns núcleos de hidrogênio eram detectados, e Rutherford estava certo que eles somente poderiam ser provenientes dos núcleos dos átomos de nitrogênio. Nesse processo, o que ocorreu é que o nitrogênio era transmutado em oxigênio, através de uma reação nuclear. Então, o núcleo do nitrogênio continha núcleos de hidrogênio. Como o hidrogênio era o elemento de menor massa, Rutherford concluiu que se tratava de uma partícula elementar dos núcleos de todos os átomos: o núcleo atômico possui uma estrutura, é formado por prótons. Entretanto, duas questões importantíssimas estavam em aberto: 1. O número de prótons em um núcleo é insuficiente para justificar sua massa. De onde viria o restante da massa? 2. Cargas de sinais opostos se atraem. Cargas de mesmo sinal se repelem. Como é possível os prótons ficarem juntos em um espaço tão pequeno como o núcleo? De acordo com a Lei de Coulomb, a força de repulsão seria descomunal. Descoberta do nêutron Quando Rutherford descobriu que o número de prótons em um núcleo suficientes para justificar sua carga não era suficiente para justificar sua massa, imediatamente sugeriu a existência de outras partículas, eletricamente neutras, no núcleo. Rutherford atribuiu a seu aluno James Chadwick (1891 – 1974) a tarefa de descobrir essa partícula. Fonte: brasilescola.uol.com.br https://brasilescola.uol.com.br/ 5 Em 1930, descobriu-se que bombardeando Berílio com radiação alfa, era emitida outra radiação extremamente penetrante e sem carga elétrica, semelhante à radiação gama. Posteriormente, foi descoberto que incidindo esse novo tipo de radiação em uma substância ricaem hidrogênio (como a parafina), prótons eram emitidos. Em 1932, Chadwick, com seus estudos quantitativos desse e de outros experimentos, concluiu que a radiação emitida pelo Berílio era na verdade um feixe de partículas neutras com massa quase igual à do próton: Chadwick descobriu o nêutron. Números atuais relacionados às partículas subatômicas: Observação com relação à notação: O modelo de Rutherford, aliado à descoberta do próton, nêutron e elétron, permitiu o entendimento e a classificação das substâncias através de dois números: Número atômico Z: é o número de prótons de um átomo. Número de massa A: é o número de prótons + o número de nêutrons de um átomo. Elder Realce 6 Além da carga q do elemento, no caso de ser um íon. Hoje, representa-se um átomo ou íon através da seguinte notação: Os elementos e os processos nucleares tornaram-se simples de serem representados. Observe os exemplos: A e o raio do núcleo. Já imaginou o quanto deve ser difícil medir o tamanho de um núcleo atômico? Já vimos que o modelo de Rutherford prevê que o raio do núcleo é da ordem de 10- 14m. Uma boa aproximação para calcular esse raio é considerar o núcleo uma esfera com densidade constante. Como a densidade é massa/volume, o raio do núcleo pode ser calculado usando a massa atômica A e a fórmula do volume da esfera. Após algumas simplificações, obtém-se o seguinte resultado: R = r0 ⋅ A , onde o valor experimental de r m15 0 1,25 10− = × . 7 Z e a identidade dos elementos químicos A massa atômica A já era conhecida antes da descoberta das partículas subatômicas e Mendeleev se baseou nela para ordenar os elementos em sua tabela periódica. Entretanto, ele teve que postular algumas exceções em deferência às propriedades químicas observadas experimentalmente. Após a descoberta do próton e do elétron, concluiu-se que usar o número atômico Z como referência na ordem dos elementos da tabela periódica era bem mais eficaz. Por esse motivo, se os elementos químicos possuíssem um número de identidade, este número seria Z. A definição moderna de "Elemento Químico" é dada pela IUPAC. Um elemento químico é uma entidade que representa um conjunto de átomos que possuem o mesmo número de prótons. Cada elemento químico ocupa uma posição na tabela periódica. Como a periodicidade dos elementos também é verificada em propriedades macroscópicas, as substâncias químicas puras formadas por átomos com o mesmo número de prótons também são incluídas ao conjunto "Elemento Químico". Assim, por exemplo, o elemento Hidrogênio é o conjunto de átomos com 1 próton, mais todas as substâncias puras formadas apenas com esses átomos como, por exemplo, o gás hidrogênio. A explicação teórica do número de prótons definir as propriedades físicas e químicas dos elementos só pode ser dada após a descoberta da Mecânica Quântica e será abordada posteriormente neste texto. 1.2 Isótopos Um mesmo elemento poder possuir diferentes números de nêutrons, ou seja, mesmo número de prótons (isto é, mesmo número atômico) e diferentes números de nêutrons (ou seja, diferentes números de massa). Átomos do mesmo elemento, mas com números de massa diferentes, são chamados de isótopos. Existem, na natureza, aproximadamente 340 núcleos diferentes, dos quais 250 são estáveis. Se incluirmos os núcleos gerados artificialmente, mais de 3.100 núcleos são atualmente conhecidos. Mas, apenas 105 elementos (pense nisso!). Elder Realce Elder Realce 8 Fonte: sergiorbtorres.com Como é o número de prótons de um átomo (ou seja, A) que define a identidade química de um elemento, os isótopos de um mesmo elemento ocupam o mesmo lugar na tabela periódica1. 1.3 Nêutron O átomo possui três partículas subatômicas de interesse primário que são os elétrons, os prótons e os nêutrons. O nêutron foi a última partícula dessas três a ser descoberta. O cientista Ernest Rutherford havia descoberto, em 1911, por meio de experimentos com partículas alfa, que o átomo era formado por uma região vazia denominada eletrosfera, onde os elétrons (partículas negativas) ficavam girando, e por um núcleo, uma região no centro do átomo, maciça, altamente densa e com carga positiva. Eugen Goldstein já havia descoberto que essa carga era em virtude dos prótons, partículas de carga positiva. No entanto, surgiu a seguinte questão: Se os prótons são positivos, por que eles não se repelem e o núcleo do átomo se desintegra? Isso é realmente verdade, visto que é amplamente conhecido que partículas de cargas iguais se repelem e de cargas opostas se atraem. 1 Extraído e adaptado do site: http://www.quimica.ufpr.br/nunesgg/CQ108/Estrutura%20atomica/SL_estrutura_atomica.pdf https://sergiorbtorres.blogspot.com/ http://www.quimica.ufpr.br/nunesgg/CQ108/Estrutura%20atomica/SL_estrutura_atomica.pdf 9 Essa questão foi solucionada em 1932 pelo cientista James Chadwick, na Universidade de Cambridge, Inglaterra. Existem alguns elementos que têm o núcleo instável e emitem partículas e radiações, sendo esse processo conhecido como radioatividade. Chadwick percebeu que o núcleo do berílio radioativo emitia partículas neutras, sem carga elétrica e com a massa praticamente igual à massa dos prótons (na verdade, é um pouquinho maior). Dessa forma, foi descoberta a terceira partícula subatômica, que foi denominada de nêutron. Os nêutrons ficam juntamente aos prótons no núcleo do átomo. Assim, eles diminuem as forças de repulsão entre os prótons e mantêm o núcleo estável, com as partículas unidas. Fonte: alunosonline.uol.com.br A massa de um nêutron é igual a 1,675 . 10-27 kg, sua massa em unidade de massa atômica é relativamente igual a 1. Conforme dito no texto “Prótons”, já mencionado, praticamente todos os elementos possuem isótopos naturais ou artificiais. O que significa que existem átomos com a mesma quantidade de prótons no núcleo, mas com quantidades de nêutrons diferentes. https://alunosonline.uol.com.br/ https://alunosonline.uol.com.br/quimica/protons.html 10 O hidrogênio, por exemplo, possui três isótopos: o hidrogênio comum ou prótio (1 próton e 1 nêutron), o hidrogênio pesado ou deutério (1 próton e 2 nêutrons) e o hidrogênio superpesado ou trítio (1 próton e 3 nêutrons). Veja na ilustração abaixo que o que muda é a quantidade de nêutrons (simbolizados pelas bolinhas verdes): Existem também os isótonos, que são átomos de diferentes elementos químicos com diferentes números de prótons, diferentes números de massa, mas com a mesma quantidade de nêutrons. Por exemplo, o 1737Cl e o 2040Ca são isótonos, pois sabemos o seu número de massa (A - na parte superior), que é a soma dos prótons com os nêutrons, e nós também sabemos quantos são os seus prótons (na parte inferior). Assim, basta diminuir esses valores que encontraremos quantos nêutrons cada átomo possui2: 17 37Cl 2040Ca A = N + P A = N + P N = A – P N = A – P N = 37-17 N = 40 – 20 N = 20 N = 20 2 Extraído e adaptado do site: https://alunosonline.uol.com.br/quimica/neutrons.html https://alunosonline.uol.com.br/quimica/neutrons.html Elder Realce Elder Realce 11 1.4 Elétron Agora que sabemos o que é um átomo podemos entender melhor a definição dos elétrons. Portanto definimos os elétrons como as partículas que constituem o átomo. Sendo que os elétrons estão localizados na eletrosfera do átomo, se movimentando ao redor do núcleo em órbitas circulares, que possuem uma energia bem definida e característica, que são definidas comoum nível de energia ou camada eletrônica. O elétron é uma partícula subatômica e que possui uma massa relativamente muito pequena, este valor é tão baixo que em relação a massa total do átomo que pode ser considerada desprezível. Para que fique mais claro, suponhamos que uma pessoa estivesse em cima de uma balança e neste exato momento um inseto também subisse na balança, então o valor que mostra na balança iria alterar? Não, portanto a massa do inseto seria desprezível em relação a massa de uma pessoa, da mesma forma acontece com o elétron em relação ao átomo. Fonte: mundodaeletrica.com.br É importante destacar que de acordo com o modelo atômico de Rutherford-Bohr existem sete camadas eletrônicas (K, L,M,N,O,P e Q), sendo que apenas algumas órbitas circulares são concedidas aos elétrons, porque em cada uma dessas órbitas o elétron apresenta uma energia constante, qualquer mudança dos elétrons entre essas camadas podem ocasionar em diversos fenômenos, sejam eles físicos ou químicos, liberando ou absorvendo energia por exemplo. http://www.mundodaeletrica.com.br/ 12 Elétron Livre O elétron livre é quando o átomo perde elétrons, e fica carregado positivamente em decorrência dos prótons que formam os cátions. Dessa maneira os elétrons são chamados de elétrons livres, pois estão mais distantes do núcleo do átomo, ou seja, se encontram na camada de valência. Fonte: infoescola.com Há muitos anos o filósofo grego Tales de Mileto (625 a.C. – 546 a.C.) observou que ao esfregar um âmbar em um tecido, como seda ou lã por exemplo, ele passava a atrair pequenos e leves corpos, como a palha, desta forma ficando “energizado”. Com o passar do tempo novos experimentos relacionados a eletricidade foram realizados, e com isso vieram novas descobertas, sendo que estes experimentos revelaram que a matéria constituía cargas positivas e cargas negativas. Mas que apenas no final do século XIX o cientista Joseph John Thomson realizou mais experimentos com tubos de raios catódicos que os levaram a descoberta dos elétrons, que através destes estudos que ele chegou a várias conclusões sobre o elétron, ou seja, o elétron é uma partícula subatômica, possui massa e carga negativa. Os raios catódicos foram chamados de elétrons e considerados a primeira partícula subatômica descoberta. Os elétrons têm tudo a ver com a eletricidade, pois se os elétrons não tivessem sido descobertos com certeza quase tudo que está em nossa volta não existiria, não haveria nada que dependesse da eletricidade, tanto para o funcionamento quanto para a fabricação de algo. http://www.infoescola.com/ Elder Realce 13 Como já sabemos, a corrente elétrica nada mais é do que um fluxo ordenado dos elétrons por um determinado material, que geralmente é um metal, onde existem elétrons livres. Portanto esses elétrons livres são conduzidos pela ação de um campo elétrico ou um campo magnético. Podemos entender a energia elétrica como uma relação entre três grandezas elétricas, que é a tensão elétrica, corrente elétrica e resistência elétrica , sendo que a variação de qualquer uma dessas grandezas interferem diretamente na quantidade de elétrons passando por um condutor por exemplo, está relação pode ser facilmente compreendida através da lei de ohm. Se a considerarmos um circuito que tenha uma tensão fixa e variarmos o valor da resistência deste circuito sua corrente irá variar de maneira inversamente proporcional a resistência, ou seja, quanto maior for a resistência, menor será a quantidade de elétrons passando por aquele circuito3. 2 EVOLUÇÃO DOS MODELOS ATÔMICOS As primeiras especulações relativas à origem da natureza são devidas ao filósofo grego Tales, que viveu na cidade de Mileto, aproximadamente entre os anos 640 e 548 a.C. Fugindo de figurações extraídas da imaginação – muitas vezes de inspiração religiosa, fantástica ou poética –, Tales deduzia que a natureza (ou a phisis, como era dito em grego) teria a água como princípio (ou substrato) único, ou seja: todo o universo teria a água como origem. Deve-se reconhecer que esse pensamento carecia de uma base teórica ou material consistente, além de ser pouco esclarecedor. Porém, evidenciava um questionamento ou uma contestação sobre o pensamento que prevalecia até então e, ao mesmo tempo, induzia à reflexão investigativa, fundamental para o desenvolvimento do conhecimento. 3 Extraído e adaptado do site: https://www.mundodaeletrica.com.br/o-que-sao-eletrons-e-qual-sua- importancia/ https://www.mundodaeletrica.com.br/o-que-e-corrente-eletrica/ https://www.mundodaeletrica.com.br/tensao-eletrica-x-voltagem/ https://www.mundodaeletrica.com.br/lei-de-ohm/ https://www.mundodaeletrica.com.br/o-que-sao-eletrons-e-qual-sua-importancia/ https://www.mundodaeletrica.com.br/o-que-sao-eletrons-e-qual-sua-importancia/ 14 Os próximos registros sobre a constituição da natureza vieram de Abdera, na Ásia Menor, onde o filósofo Leucipo se fixou por volta de 478 a.C. Ele acreditava que o universo era constituído por elementos indivisíveis e pelo vazio, e que os movimentos desses elementos, gerando união ou separação, produziam ou destruíam os materiais. Leucipo não deixou registros sobre suas reflexões. Porém, elas permaneceram e foram melhoradas pelo seu seguidor Demócrito, que viveu entre 460-370 a.C. e, seguindo as ideias do seu mestre, afirmava que a menor partícula constituinte de qualquer tipo de matéria não poderia ser fragmentada, pois se fosse divisível ao infinito, confundir-se-ia com o vazio. Por essa característica, denominou tal partícula de átomo, palavra grega que significa indivisível. Como corolário, Demócrito postulou que as únicas coisas existentes eram os átomos e os espaços entre eles e que qualquer matéria resultaria da combinação de átomos de quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Fonte: eleve-se.com.br Essas ideias foram apoiadas por alguns filósofos. Porém, outros, entre os quais, Aristóteles, que foi um dos maiores filósofos de todos os tempos, consideravam um absurdo existir algo indivisível, estabelecendo-se, então, duas correntes de pensamento. Para Aristóteles, a matéria era contínua (não atômica) e suas ideias terminaram prevalecendo entre a maioria dos pensadores até o século XVI, quando outros estudiosos, como Pierre Gassendi (1592 – 1655), rompendo com a filosofia aristotélica, passaram a defender o atomismo e adotar o empirismo como prática para o estabelecimento da verdade científica. https://eleve-se.com.br/ 15 2.1 Consolidação do Atomismo A partir do século XVII, muitos cientistas começaram a realizar experiências utilizando métodos e materiais distintos e, logo cedo, ficou demonstrado que a possibilidade da matéria ser contínua não era respaldada pelos resultados obtidos, fazendo com que o modelo de Aristóteles para a constituição da matéria desmoronasse e o atomismo se firmasse como uma realidade incontestável. Para isso, os resultados dos trabalhos do físico e químico irlandês Robert Boyle, publicados em 1661, foram decisivos. Nesses trabalhos, ele concluiu que todos os objetos eram compostos por átomos, que seriam as unidades fundamentais da matéria. Fonte: kucinephoto.com Para chegar a essa conclusão, ele atentou para o fato de que algumas das substâncias já conhecidas podiam se combinar formando outras. Assim, o bronze podia ser formado combinando-se cobre com zinco; os sais podiam ser preparados combinando-se ácidos com álcalis e algumas substâncias podiam se separar, formando outras mais simples, como se observava quando se aquecia as amálgamas, fato que resultava na produção de mercúrio e de outro metal. Desses resultados, Boyle concluiu que: Os átomos existiam e eram diferentespara cada tipo de elemento; http://cpredacaosxhv.kucinephoto.com/ 16 Combinações de tipos diferentes de átomos formavam os compostos, e Toda a matéria era formada por um pequeno número de substâncias simples (ou elementos) combinados de formas diferentes. Além de haver feito essas constatações, Boyle adotou o termo elemento, que era usado na Grécia Antiga, para designar cada substância simples. Parecia, portanto, que a existência do átomo já era irrefutável, mas ainda faltava descrevê-lo detalhadamente, fato que vem evoluindo até os dias de hoje. 2.2 O átomo de Dalton Na segunda metade do século XVII, a teoria atômica não podia mais ser negada, e o empirismo, associado à reflexão, passou a ser prática comum para muitos estudiosos da natureza. Entre os químicos que assim procediam, Lavoisier foi um dos que mais se destacou, tendo consagrado o uso da balança como instrumento para investigação em química, descoberto dezenas de elementos e estabelecido a lei da conservação das massas. Todo esse labor criativo fez com que Lavoisier ficasse reconhecido como um dos mais importantes químicos de todos os tempos. Na sequência aos trabalhos de Lavoisier, outros químicos – como Proust, Dalton e Richiter – estabeleceram as leis ponderais das combinações químicas, expressando as relações de massas entre os elementos nas reações químicas. Em 1808, analisando os resultados dos experimentos que conduziram ao estabelecimento das leis ponderais, observando as relações entre as massas dos reagentes nas reações e, mais uma vez, resgatando as ideias de Leucipo e Demócrito, Dalton (1766-1844) formulou uma teoria atômica, cujos postulados estabeleciam que: a matéria seria constituída por partículas extremamente pequenas e indivisíveis chamadas de átomos, que preservariam suas individualidades nas transformações químicas; os átomos idênticos eram caracterizados pelas respectivas massas e constituiriam um mesmo elemento químico; Elder Realce 17 os compostos químicos seriam formados pela união de átomos de diferentes elementos, em proporções numéricas simples e definidas. Os átomos de Dalton eram partículas indivisíveis, esféricas, maciças, impenetráveis e indestrutíveis que ficaram conhecidos como bola de bilhar. Fonte: manualdaquimica.com Dalton teve o mérito de consolidar a idéia do átomo como unidade elementar da matéria, utilizando dados experimentais quantitativos. Porém, o seu modelo atômico continha uma série de equívocos, que foram demonstrados através de experimentos realizados a partir da segunda metade do século XIX. Nesses experimentos, verificou-se que os átomos não eram esferas maciças, eram divisíveis, penetráveis, destrutíveis e nem sempre eram iguais para um mesmo elemento químico. 2.2.1 A divisibilidade do átomo A primeira evidência experimental sobre a divisibilidade do átomo foi obtida em 1834 pelo físico e químico inglês Michael Faraday (1791-1867), dando sequência a trabalhos preliminares sobre eletrólise, realizados no início do século XIX por Humphrey Dave. http://www.manualdaquimica.com/ 18 Em seus trabalhos, Faraday – considerado o descobridor da eletrólise como fenômeno físico-químico bem definido – observou que a passagem de corrente elétrica através de soluções de alguns tipos de substâncias provocava reações químicas nas quais as quantidades de eletricidade utilizadas e as quantidades de substâncias que reagiam eram proporcionais entre si, fatos que o levaram a estabelecer as leis da eletrólise. Além de haver enunciado as leis da eletrólise, Faraday introduziu os termos cátodo e ânodo para designar os eletrodos nos quais as reações eletrolíticas aconteciam. Ao mesmo tempo, criou os termos ânion e cátion (íons) para designar as espécies que reagiam durante a passagem de eletricidade pelas soluções e, nessas definições, já ficava implícito que as unidades elementares da matéria apresentavam natureza elétrica diferente. Tais fatos não tiveram interpretação imediata, mas, em 1874, George Johnstone Stoney (1826-1911), analisando os resultados dos trabalhos de Faraday, sugeriu que a eletricidade existia associada à matéria e seria constituída por partículas de carga negativa denominada de eletrine, no caso da partícula associada ao hidrogênio. Uma contribuição importante e para o esclarecimento sobre as unidades elementares da matéria foi dada por Svante Arrhenius, em sua tese de doutorado, defendida em 1884, quando deduziu que os cátions e os ânions eram produzidos pelos eletrólitos ao serem dissolvidos. Arrhenius propôs que, nessas dissoluções, a soma das cargas das partículas positivas (cátions) seria igual à soma das cargas das partículas negativas (ânions), o que asseguraria que as cargas dos eletrólitos, dissolvidos ou não, seriam nulas. Essas novas observações tornaram Stoney mais convicto sobre a natureza corpuscular da eletricidade e, em 1891, ele propôs o nome elétron para designar as partículas portadoras de eletricidade, constituintes da matéria. Se isso era verdade, e considerando que as substâncias não apresentam cargas elétricas, então os átomos seriam divisíveis, devendo ser constituídos, pelo menos, por dois tipos de partículas com cargas opostas (positivas e negativas), o que possibilitaria a neutralidade elétrica das substâncias e dos materiais em geral. Elder Realce 19 A partir dessas conclusões, as ideias dos atomistas gregos, concretizadas no modelo atômico de Dalton, perderam consistência. Já não se considerava o átomo indivisível, pois era constituído por partículas com cargas positivas e negativas. Consequentemente, estava lançado o desafio para se investigar os constituintes atômicos, tendo-se como perspectiva já colocada o elétron, proposto por Stoney. 2.2.2 A descoberta do elétron Em 1878, o cientista inglês Wiliam Crookes (1832-1919) criou um dispositivo – constituído por uma ampola de vidro conectada a uma bomba de vácuo, contendo, no seu interior, dois eletrodos ligados a uma fonte de energia elétrica –, com o qual vários pesquisadores passaram a fazer estudos sobre descargas elétricas através de gases. Fonte: docente.ifrn.edu.br Nesses estudos, verificou-se que se a pressão dos gases estivesse próxima de 10 mmHg não haveria condução de eletricidade. Mas, a partir dessa pressão e até próximo de 1 mmHg, os gases passavam a conduzir eletricidade, o que podia ser percebido pelo aparecimento de um feixe luminoso saindo do cátodo para a região oposta da ampola ou podia ser medido com instrumentos de aferição de fluxo de corrente. Em 1876, Eugen Goldstein demonstrou que os feixes luminosos observados nas ampolas de Crookes formam sombras de objetos colocados em sua trajetória, em posição oposta ao eletrodo negativo do tubo de descarga. Como esse eletrodo havia sido denominado cátodo por Faraday e acreditando que o feixe luminoso era constituído por radiações, Goldstein denominou-os de raios catódicos. 20 Fonte: espetacularquimica.com Estudos posteriores mostraram que os constituintes do feixe luminoso possuíam massa, sendo, portanto, de natureza material, pois faziam girar uma ventoinha colocada em sua trajetória dentro de uma ampola de Crookes. Noutro experimento, Goldstein utilizou uma ampola de Crookes com um cátodo perfurado e observou novos feixes luminosos que pareciam sair desses furos ou canais e se dirigiam em sentido inverso aos raios catódicos. Goldstein não sabia o que formava esses feixes luminosos, porém, acreditando tratar-se de radiações, deu o nome de raios canais aos constituintes dos feixes emitidos a partir dos canais dos catodos das ampolas de Crookes. Fonte: docente.ifrn.edu.br O fato, porém, é que não existiam dados sufi cientes para uma definiçãosobre o que era observado nos experimentos, surgindo um conflito de opiniões em relação aos constituintes dos raios catódicos e dos raios canais: entre cientistas alemães, prevalecia a idéia de que seriam radiações e, entre os britânicos, de que seriam partículas. http://espetacularquimica.blogspot.com/ https://docente.ifrn.edu.br/ 21 No meio dessa polêmica, os experimentos realizados em 1897 por Joseph John Thomson (1856-1940) foram decisivos para mostrar que os raios catódicos, na verdade, eram elétrons, portanto, partículas com carga elétrica negativa e que os raios canais eram íons carregados positivamente. Nos seus experimentos, Thomson mostrou que os raios catódicos eram atraídos pelos polos positivos de campos elétricos formados por duas placas metálicas colocadas dentro de ampolas de Crookes, ligadas aos eletrodos de baterias. Verificou, também, que esses raios eram desviados pelos campos magnéticos de forma semelhante à que se observava em experimentos sobre eletromagnetismo (já realizados naquela época), conforme é ilustrado. Fonte: alunosonline.uol.com.br Vale ressaltar que outros cientistas já haviam tentado realizar experimentos semelhantes sem alcançar sucesso. Porém, Thomson foi persistente e conseguiu essa proeza baixando a pressão do gás dentro das ampolas, o que provocava a diminuição do efeito de blindagem criado pelos íons gasosos existentes no tubo. Todos esses experimentos indicavam que a matéria era constituída por partículas positivas e negativas e que os raios catódicos, sendo os componentes de carga elétrica negativa, deveriam ser os elétrons que haviam sido propostos por Stoney. Faltava, porém, uma prova definitiva, mas esta foi encontrada por Thomson quando determinou alguns parâmetros relativos aos raios catódicos, sendo o mais importante deles a relação entre a carga elétrica e a massa dessas partículas. 22 2.2.3 Determinação da relação carga/massa do elétron Para determinar a relação entre a carga e a massa dos elétrons, Thomson utilizou um aparelho de Crookes semelhante aos tubos de televisão usados atualmente. Fonte: docente.ifrn.edu.br No aparelho, existiam dois ânodos perfurados (discos D) por onde um feixe de elétrons poderia passar e ir se chocar com a parede frontal do tubo, na posição B. Nos experimentos, era aplicado um campo elétrico sobre o feixe de elétrons e isso provocava um desvio (x) do feixe para a posição A. Já a aplicação de um campo magnético perpendicular ao campo elétrico, provocava um desvio (y) do feixe de elétrons para a posição C, oposto àquele provocado pelo campo elétrico. Nesses experimentos, o ponto de incidência do feixe de elétrons era facilmente visualizado colocando-se um anteparo com material fluorescente frontal à sua trajetória. Assim, utilizando os dados experimentais obtidos e aplicando equações da eletrodinâmica, Thomson deduziu uma equação que correlacionava a carga e a massa dos elétrons, expressa na forma: https://docente.ifrn.edu.br/ 23 Na qual e e m são a carga e a massa dos elétrons, k e k são constantes definidas pelas características do aparelho e pelas intensidades dos campos elétrico e magnético aplicados e x e y são os desvios do feixe de elétrons sob a ação de cada tipo de campo aplicado, medidos diretamente no “vídeo” do aparelho utilizado. Usando essa equação, Thomson calculou a relação entre a carga e a massa dos elétrons (e/m), encontrando valores sempre muito próximos de −1, 76108 C/g, mesmo utilizando catodos de materiais diferentes ou gases diferentes nas ampolas de Crookes. Esses resultados constituíram a prova definitiva de que os raios catódicos eram elétrons, que estes eram iguais entre si e que estavam presentes em todo tipo de matéria, sendo, portanto, as unidades básicas de carga negativa propostas por Stoney. Estando convencido disso, em l897, Thomson anunciou que: o átomo era divisível, tendo em sua constituição partículas de carga negativa; essas partículas tinham sempre as mesmas massa e carga elétrica, independentemente do tipo de material que as emitiam. 2.2.4 Determinação da carga e da massa do elétron Robert A. Milikan, através de um experimento bastante engenhoso. Para isso, ele construiu uma câmara fechada provida de um nebulizador, dois eletrodos em forma de placas (com a placa superior perfurada no centro), um visor com uma escala graduada e uma fonte de raios-X. Para realizar as experiências, Milikan acionava a fonte de raios-X e aspergia gotículas de óleo no interior da câmara. Com isso, moléculas de ar eram ionizadas pelos raios-X e os íons formados eventualmente captados pelas gotículas de óleo que, assim, ficavam carregadas de eletricidade. Como consequência, quando os eletrodos estavam despolarizados (desconectados de uma fonte de corrente contínua), as gotículas, carregadas ou não, caíam com a mesma velocidade, submetidas, apenas, à força gravitacional e à força de atrito com o ar. 24 Porém, quando as placas eram polarizadas, as gotículas eletrizadas tinham suas velocidades modificadas e a direção do movimento podia até ser invertido, dependendo da natureza (positiva ou negativa) da carga da gotícula e da intensidade do campo produzido pelos eletrodos. Fonte: docente.ifrn.edu.br Analisando os movimentos das gotículas, Milikan demonstrou que a carga de cada gotícula podia ser expressa através da equação: Na qual q, r, v e d eram, respectivamente, as cargas, os raios, as velocidades e a densidade das gotículas de óleo; η era a viscosidade do ar; g a aceleração da gravidade e E a intensidade do campo aplicado. Com essa equação, Milikan realizou várias determinações de cargas elétricas (q) nas gotículas de óleo, obtendo sempre valores múltiplos inteiros de −1, 6×10−19 coulombs, fato que o levou a deduzir que esta deveria ser a carga do elétron. Dispondo desse valor, tornou-se simples calcular a massa do elétron, bastando usar a relação entre a carga e a massa (e/m = −1, 76 × 1011 C/kg), estabelecida por Thomson, o que resultou em 9, 11 × 10−31 kg como sendo a massa do elétron. 25 Assim, desfez-se parte do mistério sobre a composição dos átomos. Os elétrons estavam caracterizados. Quanto às partículas positivas, complementares aos elétrons na constituição dos átomos, ainda havia muito a ser esclarecido. Porém, alguns pesquisadores já vinham procurando estabelecer as suas propriedades e não demorou muito para que parte significativa dessa tarefa fosse realizada. 2.2.5 As partículas positivas – a descoberta do próton Depois da descoberta, em 1876, a primeira observação importante sobre os constituintes positivos dos átomos foi feita em 1895 por Jean Perrin, ao demonstrar que os raios canais eram partículas com cargas positivas. Em 1898, Wilhelm Wien determinou a relação carga/massa dos raios canais produzidos pelo hidrogênio no tubo de Crookes, verificando que essa relação era igual a 9,6 x 107 C/kg, sendo, portanto, quase 2000 vezes inferior à relação encontrada para o elétron. Posteriormente, Thomson confirmou esse resultado e concluiu que o raio canal produzido pelo hidrogênio correspondia à partícula fundamental de carga positiva e que a sua carga deveria ser igual (mas contrária) à do elétron. Com esse pressuposto, após a determinação da carga do elétron, foi determinada a massa dessa partícula, obtendo-se o valor 1,26 x 10-27 kg. Em 1919, como resultado de experiências realizadas por Rutherford, a partícula positiva formada a partir do hidrogênio passou a ser considerada como formadora de todos os elementos, razão pela qual recebeu a denominação de protos (palavra grega que significa origem) e posteriormente passou a ser chamada de próton. Esses estudos mostraram,também, que os raios canais podiam ser diferentes para um mesmo elemento. Um desses estudos, realizado por Thomson, em 1912, mostrou que o neônio formava dois tipos de raios canais com massas diferentes. Mais adiante, com o refinamento dos métodos experimentais, foi verificado que o próprio hidrogênio forma três raios canais diferentes. Com essas observações ficou evidenciado que existiam átomos com pesos diferentes formando um mesmo elemento químico e a esses tipos de átomos, Frederick Soddy, em 1913, denominou de isótopos do elemento. 26 A existência dos isótopos desfez mais um dos equívocos dos postulados de Dalton, que usava os pesos atômicos como parâmetro identificador. Porém, gerou a necessidade de se encontrar outra forma para identificar os elementos, o que ocorreu ainda em 1913, através dos trabalhos de Henry G. J. Moseley. Nesses trabalhos, Moseley verificou que os raios-X emitidos pelos átomos dependiam das respectivas cargas nucleares (Z) e que estas sempre correspondiam a números inteiros, os quais foram denominados de número atômico. Logo foi observado que não só os raios-X, mas todas as propriedades dependiam do número atômico e, por isso, esse parâmetro, que corresponde ao número de prótons em cada átomo, foi definido como o parâmetro identificador dos elementos. Como já se observava que a massa atômica de cada elemento era cerca de duas vezes maior do que se esperaria, tomando como base os números atômicos, tornou-se evidente a existência de outros componentes, além dos elétrons e dos prótons, constituindo os átomos. Desses componentes, o mais importante é o nêutron, cuja massa é quase igual à massa do próton e foi descoberto em 1932 por James Chadwick. 2.3 O modelo atômico de Thomson No final do século XIX, os dados experimentais relacionados com descargas através de gases rarefeitos e com a radioatividade (descoberta em 1896 por Henri Becquerel) já haviam mostrado que o modelo atômico de Dalton apresentava uma série de suposições equivocadas, tornando necessário se pensar num modelo compatível com os novos resultados experimentais disponíveis. Essa iniciativa foi assumida por Thomson que, em 1898, tornou-se o primeiro cientista a propor um modelo atômico constituído de partículas positivas e negativa. Com base nos estudos sobre as relações entre as cargas e as massas dos elétrons e dos raios canais, Thomson já sabia que os elétrons eram muito mais leves do que os átomos como um todo. Assim, ele propôs que cada átomo seria formado por uma esfera de carga positiva homogênea, onde ficaria quase toda a massa do átomo, com os elétrons distribuídos simetricamente em torno dela. 27 Esse modelo ficou conhecido como “modelo de pudim com passas” e teve vida curta, pois logo foi observada sua incompatibilidade com os resultados de novos experimentos realizados, conforme será visto nos itens seguintes. Fonte: portaleducacao.com.br 2.4 Modelo atômico de Rutherford Rutherford esteve envolvido em muitos estudos sobre radioatividade, tendo sido o descobridor das partículas α (alfa) e β (beta), emitidas por elementos radiativos. Num desses estudos, realizado em colaboração com os seus alunos Geiger e Marsden, eles pretendiam analisar o poder de penetração das partículas α sobre alguns materiais. O trabalho consistia em fazer incidir feixes de partículas α sobre uma lâmina de platina (ou outros materiais) e analisar o poder de retenção ou de penetração das partículas por essas placas. Como o modelo atômico aceito na época considerava que os átomos eram estruturas impenetráveis (o modelo de Thomson), havia a expectativa de que as partículas fossem retidas. Porém, foi observado que quase todas atravessavam a lâmina, com muito poucas sendo desviadas de sua trajetória inicial, o que podia ser visualizado pelo efeito produzido sobre placas fluorescentes (placas de sulfeto de zinco, ZnS) colocadas em volta da lâmina de platina. http://www.portaleducacao.com.br/ 28 Fonte: docente.ifrn.edu.br A partir dessas observações, Rutherford concluiu que o átomo teria um núcleo muito pequeno e compacto, onde se concentrariam as partículas positivas, que já se sabia serem bem mais pesadas do que as negativas. Como grande inovação em relação a Dalton, ele propôs que os elétrons ficariam circulando em grandes órbitas ao redor desse núcleo, de forma semelhante aos planetas em volta do sol, pois assim desenvolveriam uma força centrípeta que os impediria de se juntarem ao núcleo, levados pela força de atração eletrostática. Distribuídos dessa forma, os elétrons, com cargas negativas, neutralizariam as cargas nucleares positivas, formando os átomos no estado fundamental. Modelo atômico de Rutherford. (a) Modelo proposto. (b) Falência por emissão da luz. Pelas leis da eletrodinâmica, os elétrons perderiam energia e cairiam no núcleo. https://docente.ifrn.edu.br/ 29 O modelo de Rutherford ficou mais próximo da concepção atual do modelo atômico do que as anteriores. Mas, a sua idéia contrariava uma das leis de Maxwell sobre a eletrodinâmica. Por essa lei, se um elétron circulasse em torno do núcleo de carga positiva, ele estaria constantemente irradiando luz, perdendo energia e terminaria por colidir com o núcleo. Porém, argumentos não eliminam fatos, e os resultados dos experimentos de Rutherford eram muito consistentes com o modelo atômico proposto por ele. Portanto, o que se deveria fazer era buscar explicações para as observações de Rutherford que fossem fundamentadas em novos argumentos científicos sustentáveis. Felizmente, isso não demorou a acontecer graças aos trabalhos de Niels Bohr, que serão discutidos em aulas posteriores, pois agora encerraremos esta aula para que você tenha tempo de aprofundar seus estudos sobre o que já foi apresentado. Certamente, você já percebeu que o conteúdo deste texto apresenta informações básicas para sua aprendizagem. Mas, as atividades propostas indicam que você deve consultar obras mais completas para ampliar e consolidar seu aprendizado. Portanto, não perca tempo. Procure fortalecer suas bases de conhecimentos para, na próxima aula, continuar desvendando os caminhos trilhados na construção do modelo atômico4. 3 A NATUREZA ONDULATÓRIA DA LUZ Podemos observar a formação de uma onda quando jogamos uma pedra na água de um açude. O choque da pedra com a água gera uma onda na superfície que se propaga, afastando-se do ponto da queda da pedra. Se no caminho da onda estiver um flutuador (barco), observa-se um movimento periódico para cima e para baixo, provocado pela sucessão de cristas e vales que se repete em intervalos de tempo regulares. 4 Extraído e adaptado do site: https://docente.ifrn.edu.br/denilsonmaia/evolucao-dos-modelos-atomicos https://docente.ifrn.edu.br/denilsonmaia/evolucao-dos-modelos-atomicos 30 Fonte: brasilescola.uol.com.br Movimento periódico de um flutuador provocado pela sucessão de cristas e vales. O número de oscilações por segundo é a frequência do flutuador. O número de vezes que o flutuador oscila para cima e para baixo pela passagem de uma onda completa (oscilação ou ciclo) por unidade de tempo é a frequência da onda, representada pela letra grega ν (ni). Por exemplo, se pelo flutuador passam 10 ondas completas em um segundo, a frequência da onda é 10 ciclos por segundo, que é igual a 10 hertz (Hz). 31 Em geral, a palavra ciclo é suprimida das unidades de frequência, que são dadas apenas como “por segundo” que é o inverso do segundo (1/s ou s-1), ficando subentendido que estão envolvidos ciclos ou oscilações (1 s-1 = 1 Hz). A distância entreduas cristas consecutivas ou dois vales é denominado comprimento de onda, representado pela letra grega λ (lambda), que é expresso em unidade de comprimento, por exemplo, o metro (veja a Tabela 1). A altura da onda acima da linha central é a amplitude da onda, representada por A. (a) Dois ciclos completos ou duas oscilações com o comprimento de onda λ e amplitude A percorrem 10 cm. (b) A onda tem o dobro de cristas e vales da onda em (a) e a mesma amplitude. A frequência da onda ν em (b) é o dobro da frequência ν em (a). Em (c), a onda tem a mesma frequência de (b), porém, a amplitude é menor. 32 Até agora descrevemos as características de uma onda simples. Da mesma maneira que o flutuador na superfície do açude oscila quando uma onda passa por ele, uma partícula carregada eletricamente é perturbada por uma radiação eletromagnética. A luz tem características ondulatórias que provêm das oscilações dos campos elétricos e magnéticos perpendiculares entre si, que se propaga no vácuo com velocidade constante c, de 3,00 × 108 m s−1. A luz visível, as ondas de rádio, os raios X, microondas, radiação gama são todas radiações eletromagnéticas que diferem entre si pela ν e λ. E, quando organizadas na sequência de comprimentos de ondas, constituem um espectro eletromagnético, veja a figura a seguir. Provavelmente, você já viu um arco-íris num dia chuvoso. A gama de cores do vermelho ao violeta que compõe o arco-íris é um espectro da luz visível. Ele é formado pela decomposição da luz branca quando passa por gotículas de água que funcionam como um prisma. 33 As radiações eletromagnéticas apresentam diferentes comprimentos de onda e frequência, mas todas se propagam no vácuo com a mesma velocidade, ou seja, a uma velocidade constante, c. O produto da frequência, ν, pelo comprimento de onda, λ, é sempre igual à velocidade c, na qual a onda de luz se propaga, podendo ser expressa pela equação. Sendo m a unidade de λ e 1 s de ν, a unidade de velocidade é: Unidades mais usadas de comprimento de onda Exemplo de exercícios Uma radiação eletromagnética se desloca à velocidade da luz, 3 x 108 m s-1, com uma frequência de 4,32 x 1014 oscilações por segundo. a) Calcule o comprimento de onda da radiação em nm? 34 Resolução: Consultando a Tabela, vamos efetuar a conversão de metros (m) para nanômetro (nm). 3.1 Quantização de Energia No final do século XIX, muitos cientistas estudavam o fenômeno da emissão de radiação por um corpo aquecido, tentando entender a relação entre a temperatura, a intensidade e o comprimento de onda da radiação emitida por esse corpo. Como as leis da física clássica conhecida na época não proporcionavam explicações adequadas para tais observações, Planck, em 1900, tentando explicar essas emissões, formulou uma hipótese ousada para a época, admitido que a transmissão de energia entre os corpos ocorre através da troca de pacotes ou quanta de energia entre eles e que as radiações se constituíam de quanta (plural de quantum) de energia. Portanto, a energia é transferida de maneira descontínua, ou seja, quantizada. 35 De acordo com Planck, a energia E de um quantum é dada pelo produto de uma constante h, conhecida como constante de Planck, cujo valor é 6, 63 × 10−34J s, pela frequência da radiação, ν. E = hν Como a energia é quantizada, só são permitidos valores de energia que sejam múltiplos inteiros de hν. Por exemplo, 1hν, 2hν, 3hν, 4hν, . . . E = nhν n = 1, 2, 3, 4 . . . 3.2 O efeito fotoelétrico Desde 1887, experiências mostravam que elétrons poderiam ser ejetados de uma superfície metálica quando esta era exposta à luz, em geral, luz ultravioleta. A explicação para essas observações foi dada, em 1905, por Albert Einstein. Para ele, a luz não apresenta apenas propriedades ondulatórias caracterizadas pela frequência (ν) e pelo comprimento de onda (λ). Apresenta, também, propriedades corpusculares. Ele admitiu que a energia radiante está quantizada em pacotes de energia, que vieram a ser chamados de fótons. Esses fótons, de energia hν, ao colidirem com os elétrons do metal, transferiam toda sua energia para esses elétrons, que eram ejetados da placa metálica com uma determinada energia cinética. Tal fenômeno foi chamado de efeito fotoelétrico. As conclusões de Einstein sobre o efeito fotoelétrico foram as seguintes. 1. Na colisão de um fóton com um elétron, toda a energia do fóton era transferida para o elétron. 2. Os elétrons só eram ejetados da placa metálica quando a energia da radiação incidente era maior do que a energia que mantém os elétrons ligados ao átomo na placa metálica. 36 3. Os elétrons eram ejetados com uma determinada energia cinética, que variava com a energia da radiação incidente. Quanto mais energética era a radiação que atingia a superfície metálica, maior a energia cinética dos elétrons ejetados. 4. Um aumento na intensidade da radiação levava a um maior número de elétrons ejetados da superfície metálica. A intensidade da radiação estava relacionada com o número de fótons que compõe o feixe luminoso e não com sua energia. A energia dos fótons incidente provoca a ejeção de elétrons do metal, o excesso de energia converte- se em energia cinética dos fotoelétrons. Fotoelétrons são os elétrons ejetados da placa metálica A equação que expressa o efeito fotoelétrico é a seguinte: Nessa fórmula, E¡ é a energia da radiação que incide sobre a placa metálica. Eₒ, é a energia necessária para ejetar o elétron da superfície metálica, definida como função trabalho ou energia crítica e é um parâmetro característico de cada metal. Eᶜ é a energia cinética adquirida pelo elétron ejetado. Só ocorrerá emissão de elétrons se E¡ > Eₒ, pois neste caso o fóton terá energia suficiente para arrancar o elétron do metal5. 5 Extraído e adaptado do site: https://docente.ifrn.edu.br/denilsonmaia/modelos-atomicos-o-modelo-de- bohr https://docente.ifrn.edu.br/denilsonmaia/modelos-atomicos-o-modelo-de-bohr https://docente.ifrn.edu.br/denilsonmaia/modelos-atomicos-o-modelo-de-bohr 37 3.3 Dualidade onda-partícula Ao longo dos tempos o ser humano e os animais evoluíram de forma a ter uma sensibilidade maior para a luz visível. O estudo dos fenômenos ópticos é fascinante, pois os variados tipos de imagens podem trazer diversos tipos de emoções ao ser humano e mesmo aos animais. Mas a evolução vem da necessidade destes seres obterem informações do meio em que vivem. Na história da humanidade alguns estudos resultaram em grandes descobertas. Primeiramente, com relação à luz, estudou-se a possibilidade dela se propagar em linha reta. Mais tarde, Isaac Newton decompõe a luz em várias cores e também consegue demonstrar que várias cores compõe a luz branca. Muitas discussões foram feitas com relação à luz. Quando se fala em propagação automaticamente considera-se um deslocamento com certa velocidade. Mas velocidade do quê? De uma onda ou de uma partícula? Primeiramente, faz-se necessário fazer algumas considerações: Uma onda é uma perturbação que se propaga em um meio. No caso de uma onda eletromagnética a perturbação é do campo elétrico e do campo magnético. É um argumento plausível para explicar a luz. Mas alguns experimentos realizados no fim do século XIX mudam um pouco essa concepção com relação a este importante ente físico. Entre os mais relevantes, podem ser citados o efeito fotoelétrico, o espalhamento Compton e a produção de raios X. Quando se faz um experimento com partículas em fenda única, observa-se uma região de máxima incidênciade partículas, conforme mostra a figura: https://www.infoescola.com/biografias/isaac-newton/ https://www.infoescola.com/fisica/ondulatoria-ondas/ https://www.infoescola.com/fisica/ondas-eletromagneticas/ https://www.infoescola.com/fisica/campo-eletrico/ https://www.infoescola.com/fisica/campo-magnetico/ https://www.infoescola.com/fisica/efeito-fotoeletrico/ 38 As partículas são colimadas por uma fenda e incidem no anteparo formando um padrão de interferência com uma franja apenas. Quando a onda incide em um colimador com duas fendas observa-se um padrão de interferência com várias franjas. Isto ocorre devido ao fato de que há uma interferência construtiva quando a intensidade máxima da onda da luz emergente de uma fenda coincide com o máximo da onda emergente da outra fenda. Isso ocorre porque há uma diferença de caminho da luz emergente de cada fenda. O mesmo acontece com os mínimos e forma o padrão de interferência da figura: Várias franjas de intensidade luminosa máxima no centro 39 Quando a mesma experiência é realizada com partículas, o padrão deve ser formado apenas por duas raias de máxima intensidade. Mas não é isto que se observa se a mesma experiência for realizada com prótons, nêutrons ou elétrons. O que se observa é um padrão de interferência! É isto que intriga os físicos: a luz se comporta ora como onda, ora como partícula. E as partículas se comportam como onda em determinadas situações6. 4 PROPRIEDADES PERIÓDICAS DOS ELEMENTOS A Tabela Periódica organiza os elementos químicos até então conhecidos em uma ordem crescente de número atômico (Z – quantidade de prótons no núcleo do átomo). Muitas propriedades químicas e físicas dos elementos e das substâncias simples que eles formam variam periodicamente, ou seja, em intervalos regulares em função do aumento (ou da diminuição) dos números atômicos. As propriedades que se comportam dessa forma são chamadas de propriedades periódicas. As principais propriedades periódicas químicas dos elementos são: raio atômico, energia de ionização, eletronegatividade, eletropositividade e eletroafinidade. Já as físicas são: pontos de fusão e ebulição, densidade e volume atômico7. 4.1 Raio Atômico Medir o tamanho de um átomo é algo muito difícil porque a sua eletrosfera (região onde os elétrons ficam girando ao redor do núcleo) não possui um limite específico. Por isso, a forma mais comum é por meio do raio atômico, em que se considera o átomo como se ele fosse uma esfera (modelo atômico de Dalton). 6 Extraído e adaptado do site: https://www.infoescola.com/fisica/dualidade-onda-particula/ 7 Extraído e adaptado do site: https://manualdaquimica.uol.com.br/quimica-geral/propriedades- periodicas.htm https://www.infoescola.com/fisica-nuclear/neutron/ https://manualdaquimica.uol.com.br/quimica-geral/modelo-atomico-dalton.htm https://www.infoescola.com/fisica/dualidade-onda-particula/ 40 O raio é a distância compreendida entre o centro e a extremidade da circunferência e é a metade do diâmetro da circunferência, como mostrado a seguir: Fonte: manualdaquimica.uol.com.br Algo similar aplica-se ao conceito de raio atômico. Consideram-se dois átomos de um mesmo elemento químico como esferas que devem estar o mais próximo possível um do outro, sem estarem ligados quimicamente. O raio atômico (r) é a metade da distância (d) entre os dois núcleos desses átomos vizinhos. Fonte: manualdaquimica.uol.com.br 41 Para conseguir essa medida, usa-se a técnica de difração por raios X. Nela, esses raios atravessam uma amostra de um material sólido de um único elemento químico (como um pedaço de ferro, pois ele é sólido e é formado somente por átomos de ferro), e os átomos ou íons que constituem esse material provocam um desvio na trajetória dos raios X. Depois os raios X incidem sobre uma chapa fotográfica e registram a posição dos núcleos dos átomos no material e a distância entre eles. Assim, basta dividir esse valor por dois para obter o raio atômico, que, em geral, é medido em nanômetros (1 nanômetro é igual à bilionésima parte de um metro (10 - 9 m)). O raio atômico é uma propriedade periódica porque ele varia periodicamente em função dos números atômicos. Podemos dizer que, na tabela periódica, o raio atômico dos elementos cresce de cima para baixo e da direita para a esquerda: Fonte: manualdaquimica.uol.com.br Para entender porque o aumento do raio atômico segue essa ordem periódica, considere separadamente os elementos de uma mesma família e de um mesmo período. Elementos de uma mesma família: De cima para baixo vai aumentando o número de camadas eletrônicas. Por exemplo, na família 1, o hidrogênio possui uma camada, o lítio possui duas camadas, o sódio possui três camadas e assim sucessivamente. Nesse sentido, aumenta também o número atômico e, por isso, o raio do átomo também aumenta. https://manualdaquimica.uol.com.br/quimica-geral/propriedades-periodicas.htm 42 Fonte: manualdaquimica.uol.com.br Elementos de um mesmo período: Da esquerda para a direita a quantidade de elétrons na camada de valência (camada mais externa ao núcleo) vai aumentando e todos possuem a mesma quantidade de camadas. Por exemplo, o potássio (K) possui quatro camadas eletrônicas e dezenove elétrons, o cálcio (Ca) possui também quatro camadas eletrônicas, mas apresenta vinte elétrons, o escândio (Sc) também possui quatro camadas eletrônicas, mas possui 21 elétrons, e assim por diante. Quando a quantidade de elétrons aumenta, a sua atração pelo núcleo, que é positivo, também aumenta. Assim, nesse sentido, em razão da atração entre o núcleo e a camada de valência, há uma contração do átomo, o que causa a diminuição do raio atômico. É por isso que o átomo cresce no sentido contrário: da direita para a esquerda8. 8 Extraído do site: https://manualdaquimica.uol.com.br//quimica-geral/raio-atomico.htm 43 Fonte: manualdaquimica.uol.com.br 4.2 Energia de Ionização Os átomos no estado fundamental possuem a mesma quantidade de prótons (cargas positivas) e de elétrons (cargas negativas), ou seja, são neutros. Mas na formação das ligações iônicas, ocorre a extração de um ou mais elétrons da camada de valência do átomo, que são transferidos para outro átomo, resultando na formação de íons. O átomo que perdeu os elétrons transforma-se em um cátion (espécie carregada positivamente). Para “arrancar” esses elétrons do átomo isolado ou de um íon, é necessário aplicar uma determinada quantidade de energia, que é chamada de energia de ionização (porque houve a formação de íons) ou potencial de ionização. Assim, podemos fazer a seguinte definição: “Energia de ionização ou potencial de ionização é a energia aplicada para retirar um elétron do átomo (ou do íon) isolado no estado gasoso. ” Os valores das energias de ionização podem ser expressos em eletrovolts (eV), mas de acordo com o SI (Sistema Internacional de Unidades), eles devem ser expressos em kJ/mol. https://manualdaquimica.uol.com.br/quimica-geral/ligacao-ionica.htm 44 Quando se retira o primeiro elétron de um átomo neutro, há a primeira energia de ionização (I1). Já a energia necessária para retirar o segundo elétron desse cátion que foi formado é chamada de segunda energia de ionização (I2) e assim por diante. A primeira energia de ionização é sempre menor que a segunda energia de ionização e assim sucessivamente. Isso acontece porque, no primeiro caso, o elétron está na camada mais externa ao núcleo e, como está mais longedos prótons, a atração entre eles é menor, sendo mais fácil retirar o elétron. Por exemplo, consideremos um átomo de cobre (Cu(g)) que possui quatro níveis de energia no estado fundamental e um elétron no subnível mais externo (4s1): Veja que a segunda energia de ionização foi maior do que a primeira. Isso nos mostra que a energia de ionização é uma propriedade periódica, que varia conforme o número atômico dos átomos dos elementos da Tabela Periódica. Podemos notar também que essa propriedade segue um padrão de variação relacionado com o do raio atômico, pois depende da distância que os elétrons estão do núcleo, ou seja, quanto maior o raio atômico, menor a energia de ionização e vice-versa. Isso quer dizer que os valores das energias de ionização dos elementos crescem no sentido oposto ao crescimento do raio atômico, ou seja, aumenta de baixo para cima e da esquerda para a direita. Os valores das energias de ionização são medidos experimentalmente e podemos comparar esses valores para confirmarmos esse padrão de variação mencionado: 45 Fonte: manualdaquimica.uol.com.br Considerando os elementos em uma mesma família: A primeira energia de ionização aumenta de baixo para cima. Isso acontece porque, conforme vai descendo, os níveis de energia e o raio atômico vão aumentando e os elétrons vão ficando mais distantes do núcleo, por isso fica mais fácil retirá-los. Por exemplo, o H (hidrogênio) possui somente uma camada eletrônica, então seu elétron está bem próximo ao núcleo. Já o Cs (césio) possui seis camadas eletrônicas, estando seus elétrons bem distantes do núcleo. É por isso que a energia de ionização do H é bem maior (1312) que a do Cs (376). 46 Fonte: manualdaquimica.uol.com.br Considerando os elementos em um mesmo período: A primeira energia de ionização9 aumenta da esquerda para a direita. Isso ocorre porque, conforme vai caminhando para a direita, a quantidade de níveis permanece a mesma, mas a quantidade de elétrons vai aumentando, ou seja, a atração pelo núcleo aumenta e seu raio diminui. Com isso, a energia necessária para vencer essa força de atração precisará ser maior. Por exemplo, o Na (sódio) e o Ar (argônio) pertencem ao terceiro período, o que significa que ambos possuem três camadas eletrônicas, mas o Na possui somente um elétron na sua camada mais externa, enquanto o Ar possui oito elétrons nessa camada. Por isso, a primeira energia de ionização do Ar será bem maior (1521) que a do Na (496). Fonte:manualdaquimica.uol.com.br 9Caso queira aprofundar o tema, acesse os links: https://youtu.be/UoTe2lwXoYU ; https://youtu.be/8eR-tO82QUQ 47 Isso significa que os maiores valores para a energia de ionização são dos elementos situados próximos ao Hélio, ou seja, na parte superior à direita da Tabela Periódica. Por outro lado, os menores valores são dos elementos situados próximos ao césio, na parte inferior à esquerda da Tabela Periódica. Fonte: manualdaquimica.uol.com.br Isso explica algumas propriedades dos elementos, como o fato de os elementos próximos ao Césio serem metais e os elementos próximos ao hélio serem ametais. Os metais são formados por aglomerados de átomos neutros e cátions mergulhados em uma “nuvem” ou “mar” de elétrons deslocalizados. Isso significa que eles devem ter maior facilidade de perder elétrons e, por isso, somente os elementos com baixa energia de ionização podem formar sólidos metálicos. Por outro lado, os elementos no canto superior à direita não possuem essa facilidade de perder elétrons, porque possuem altas energias de ionização e, por essa razão, são ametais. 4.3 Eletronegatividade A eletronegatividade é definida como a força que determinado átomo possui de atrair os elétrons de uma ligação covalente para si. Isso significa que a eletronegatividade é uma grandeza relativa, pois ela é analisada por meio de uma comparação entre a capacidade que dois átomos ligados possuem de atrair os elétrons. 48 Além disso, ela é uma propriedade periódica, uma vez que, à medida que o número atômico aumenta, ela adquire valores semelhantes para intervalos regulares. Existem várias formas de medir a eletronegatividade dos elementos, mas a forma mais conhecida e usada é a que foi determinada pelo cientista Linus Pauling. Os valores obtidos por ele estão presentes na imagem a seguir: Fonte: manualdaquimica.uol.com.br Veja que os valores da eletronegatividade crescem de cima para baixo e da esquerda para a direita. Fonte: manualdaquimica.uol.br https://manualdaquimica.uol.com.br/quimica-geral/propriedades-periodicas.htm 49 Significa que a eletronegatividade cresce com a diminuição do raio de um átomo. Por exemplo, quando consideramos os elementos pertencentes a uma mesma família (coluna), vemos que o raio dos átomos vai aumentando de cima para baixo, isso ocorre porque o número de camadas eletrônicas também vai aumentado. Com o aumento do raio atômico, a distância entre o núcleo (positivo) e os elétrons (negativos) da última camada eletrônica (camada de valência), que realiza a ligação covalente, fica maior e, consequentemente, a atração entre eles diminui. Assim, a eletronegatividade dos elementos de cima é maior que a dos elementos que ficam mais abaixo. Agora, quando consideramos os elementos pertencentes ao mesmo período (linhas), todos eles têm a mesma quantidade de camadas eletrônicas, a diferença é que a quantidade de elétrons na última camada aumenta da esquerda para a direita. Nesse sentido cresce, então, a atração entre os elétrons e o núcleo, ficando menor o raio atômico e aumentando a eletronegatividade. Desse modo, o elemento mais eletronegativo é o Flúor (4,0) e o menos eletronegativo é o césio (0,7). Existe uma forma de você saber a ordem de eletronegatividade dos elementos mais eletronegativos, que são: F > O > N > Cl > Br > I > S > C > P > H Os valores de suas eletronegatividades são, respectivamente: 4,0 > 3,5 > 3,0 > 3,0 > 2,8 > 2,5 > 2,5 > 2,5 < 2,1 50 4.4 Eletropositividade Uma característica interessante da grande maioria dos elementos químicos é a necessidade de adquirir estabilidade (obedecer à regra do octeto)10, já que poucos são gases nobres (apresentam oito elétrons na camada de valência) e, portanto, estáveis. Essa estabilidade é adquirida quando os átomos estabelecem entre si uma ligação química (interação entre átomos por meio dos seus elétrons e orbitais). Um exemplo de ligação química é a que ocorre entre um átomo de sódio e um átomo de cloro, formando o cloreto de sódio (sal de cozinha). Nessa ligação temos o envolvimento de um átomo metálico (sódio) e um átomo ametal (cloro). A seguir temos a fórmula que representa o cloreto de sódio: NaCl Ao avaliar a posição de um elemento químico na tabela periódica, podemos prever o seu comportamento durante uma ligação química. Esse tipo de avaliação é possível com o auxílio das propriedades periódicas (características dos elementos que dependem do período da tabela e do número atômico). Uma dessas propriedades periódicas é a chamada eletropositividade ou caráter metálico. Denomina-se eletropositividade ou caráter metálico a capacidade que um átomo apresenta de perder elétrons quando está ligado a outro átomo. Essa capacidade está intimamente relacionada com três fatores importantes: 1. Raio atômico: quanto maior for o raio atômico, maior será a eletropositividade. Se o átomo é grande, a força de atração do núcleo em relação aos elétrons da periferia é pequena, o que torna a perda do elétron mais fácil. 2. Período: quanto menor for o número atômico, maior será a eletropositividade. Isso ocorre porque, se o númerode elétrons no núcleo é pequeno, a força de atração tende a ser menor, facilitando a perda do elétron. Assim, nos períodos da Tabela Periódica, a eletropositividade cresce da direita para a esquerda. 10 Para compreender melhor esse tema acesse: https://manualdaquimica.uol.com.br/quimica- geral/teoria-octeto.htm https://manualdaquimica.uol.com.br/quimica-geral/elementos-quimicos.htm https://manualdaquimica.uol.com.br/quimica-geral/raio-atomico.htm Elder Realce 51 Fonte: manualdaquimica.uol.com.br 3. Família: quanto maior for o número atômico e o número de níveis, maior será a eletropositividade. Nas famílias da Tabela Periódica, os elementos localizados abaixo uns dos outros apresentam maior número atômico e maior número de níveis em seus átomos, o que favorece uma menor força de atração do núcleo em relação aos elétrons da periferia. Assim, nas famílias da tabela periódica, a eletropositividade cresce de cima para baixo. Fonte:manualdaquimica.uol.com.br Com esses conhecimentos, ao avaliar o exemplo do NaCl, temos a certeza de que nessa molécula quem perde elétrons na ligação química é o sódio, pois este apresenta maior eletropositividade que o cloro11. 11 Extraído e adaptado do site: https://manualdaquimica.uol.com.br/quimica- geral/eletropositividade.htm 52 Fonte:manualdaquimica.uol.com.br 4.5 Eletroafinidade ou afinidade eletrônica A afinidade eletrônica ou eletroafinidade, que é uma das propriedades periódicas existentes, avalia a quantidade de energia liberada quando um átomo em seu estado fundamental (neutro) recebe um elétron. A equação a seguir representa a afinidade eletrônica: X(g) + e → X-(g) + energia A afinidade eletrônica é uma propriedade extremamente difícil de ser medida. Muitos elementos não apresentam o valor dela definido experimentalmente e, em alguns casos, essa propriedade é teórica ou foi calculada em função do número atômico. Em outros casos, ela é simplesmente ignorada, como no caso dos gases nobres, que apresentam orbitais completos (ns2 np6) na camada de valência e são muito estáveis. Existem casos em que o valor da afinidade eletrônica é negativo, o que significa que, ao receber um segundo elétron, o átomo absorve energia, e não a libera (isso ocorre principalmente quando o átomo tornou-se um ânion após receber um primeiro elétron). Veja as equações a seguir que representam esse fato: O(g) + e- → O-(g) + energia O-(g) + e- → O-2(g) 53 Observação: Existe força de repulsão entre o ânion formado na primeira adição e o segundo elétron que está sendo adicionado. Isso faz com que uma energia seja gasta para que esse novo elétron entre no ânion. Ao estudar a Tabela Periódica, é possível comparar a afinidade eletrônica de vários elementos químicos. Para isso, vamos levar em consideração três aspectos: Raio atômico: quanto menor for o tamanho de um átomo, maior será a sua afinidade eletrônica. Isso ocorre porque a força de atração do núcleo em relação aos elétrons da periferia é maior. ↓R. A – ↑A.E ↑R.A – ↓A.E 1. Período: Em um mesmo período, quanto maior for o número atômico, maior será a afinidade eletrônica. Isso ocorre porque quanto mais prótons existirem no núcleo, maior será a força de atração nuclear em relação aos elétrons da periferia. Por isso, no período, a afinidade eletrônica cresce da esquerda para a direita. Fonte: manualdaquimica.uol.com.br 2. Família: em uma mesma família, quanto menor for o número atômico e o número de níveis, maior será a afinidade eletrônica. Na família, os elementos localizados acima um do outro apresentam menor número atômico e menor número de níveis em seus átomos, o que favorece uma maior força de atração do núcleo em relação aos elétrons da periferia. Assim, em uma família da Tabela Periódica, a afinidade eletrônica cresce de baixo para cima. https://manualdaquimica.uol.com.br/quimica-geral/raio-atomico.htm 54 Fonte:manualdaquimica.uol.com.br Após todas essas informações passadas, é fácil chegar à conclusão de que o elemento químico com a menor afinidade eletrônica é o Frâncio, enquanto o elemento de maior afinidade eletrônica é o flúor. Todavia, como toda regra tem exceções, a análise do comportamento dessa propriedade periódica diretamente na tabela é apenas uma previsão, já que o elemento de maior afinidade eletrônica é o Cloro. Abaixo temos um esquema geral da afinidade eletrônica na Tabela Periódica12: Fonte: manualdaquimica.uol.com.br 12 Extraído e adaptado do site: https://manualdaquimica.uol.com.br/quimica-geral/afinidade- eletronica.htm 55 5 LIGAÇÕES QUÍMICAS Ao nosso redor vemos uma grande diversidade de substâncias. Elas se diferenciam por muitos aspectos, como cor, estado físico (sólido, líquido e gasoso), cheiro, sabor, capacidade de entrar em combustão, pontos de fusão e ebulição, densidade etc. Isso se deve à capacidade que o átomo tem de combinar com outros átomos, seja de um mesmo elemento, seja de um elemento diferente, com a finalidade de realizar ligações químicas. Em 1920, Gilbert Newton Lewis chamou essa propriedade de chemical bond, que em português significa ligação química. Assim, a ligação química se estabelece quando átomos combinam (reagem) entre si. No entanto, surgem algumas questões: Por que o átomo possui essa tendência de realizar ligações químicas? E por que determinados átomos se sentem mais atraídos em realizar ligações com átomos de certos elementos do que com outros? Bom, a ligação química se estabelece entre os elétrons da camada mais externa da eletrosfera (camada de valência). Para tanto, duas características são essenciais: A força de atração eletrostática que existe entre as cargas elétricas de sinais opostos; A tendência que os elétrons têm de formar pares. Em 1916, Gilbert N. Lewis e Walter Kossel observaram que, na natureza, apenas os gases nobres (elementos da família 18, VIIIA ou 0 da tabela periódica) eram encontrados isolados na natureza. Isso acontecia porque eles tinham uma característica que os outros átomos não tinham: todos os elementos dessa família (com exceção do hélio, que tem apenas uma camada eletrônica) possuem a camada de valência de seus átomos preenchida com oito elétrons. Associando essa observação com as ligações realizadas pelos átomos dos elementos das outras famílias da Tabela Periódica, eles criaram uma hipótese chamada de regra ou teoria do octeto, que está enunciada a seguir: 56 Assim, para ficar estável, o átomo troca elétrons (compartilhando ou recebendo e doando), com a finalidade de possuir oito elétrons na camada de valência. As principais ligações químicas são três13: Fonte: saberenemquimicaefisica.com.br 5.1 Ligação Iônica Ligação iônica é o nome dado a uma das três formas como os átomos podem interagir entre si. As outras formas de interação entre átomos são a ligação covalente, que ocorre entre átomos de ametais, hidrogênios, ou ametal e hidrogênio, e a ligação metálica, a qual acontece somente entre átomos de um mesmo metal. 13 Extraído e adaptado do site: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/ligacoes-quimicas.htm http://saberenemquimicaefisica.com.br/ https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/ligacao-covalente.htm https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/ligacao-metalica.htm https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/ligacao-metalica.htm https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/ligacoes-quimicas.htm Elder Realce Elder Realce Elder Realce 57 Os átomos dos elementos químicos que participam
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