Prévia do material em texto
2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 1 MICROBIOLOGIA AULA 3 Microbiota do Corpo Humano INTRODUÇÃO A microbiota do corpo humano é o conjunto de microrganismos saprófitas (não causam lesão ao hospedeiro), presente na superfície da pele e de algumas mucosas, que se instala no indivíduo ao nascimento permanecendo até depois da morte. • Pele: Bactérias depositadas na superfície da pele, nos ductos das glândulas sebáceas e sudoríparas, e nos folículos pilosos. • Mucosas: Algumas contém microbiota e outras são estéreis. → Mucosas com Microbiota: Conjuntiva ocular; trato respiratório superior (cavidade nasal, nasofaringe, orofaringe, laringe); oral; trato intestinal; vagina e uretra distal. → Mucosas Estéreis: Brônquica, alveolar, uterina, bexiga. SÍTIOS ANATÔMICOS COM MICROBIOTA • Pele; • Trato respiratório superior; • Cavidade oral; • Conjuntiva ocular; • Mucosa intestinal; • Porção terminal da uretra; • Mucosa vaginal. PATOGÊNICOS X NÃO PATÔGENICOS Não temos como dividir os microrganismos em não patogênicos e patogênicos, devido a existência dos oportunistas. Os oportunistas agem de acordo com o hospedeiro em que estão inseridos Dessa forma, microorganismos da nossa microbiota, geralmente não patogênicos, podem agir como patogênicos em algumas situações. TIPOS DE PATÓGENO • Patógeno Estrito: Sempre associado a uma doença. Se ele está presente em um organismo, ele provoca o processo de doença. → Ex: Mycobacterium tuberculosis • Patógeno Oportunista: Membros da microbiota, que quando introduzidos em sítios desprotegidos ou situações favoráveis, causam doença. → Ex: Escherichia coli (microbiota intestinal). Conhecida por causar infecção urinaria caso alcance a região do trato urinário TIPOS DE COLONIZAÇÃO A colonização indica a presença do microrganismo no corpo humano aderida a região, ela pode ser de dois tipos: • Colonização transitória: Presença temporária do microrganismo. • Colonização permanente: Não é eliminada completamente, podemos apenas diminuir sua presença. Em ambos os tipos, a presença da bactéria não interfere nas funções normais ou causam danos ao hospedeiro. No entanto, quando temos a presença do microrganismo e ele causa danos ao hospedeiro, consideramos que é uma infecção ou doença. TIPOS DE MICROBIOTA • Microbiota Residente: Microrganismos saprófitas, que vivem em harmonia com o hospedeiro. São típicas de cada sítio anatômico e não podem ser totalmente removidas pelos procedimentos de limpeza ou antissepsia. Sua composição é influenciada pelos hábitos de vida e condições do hospedeiro. → Ex: Staphylococcus epidermidis (pele); → Ex: Estreptococos alfa-hemolíticos (orofaringe); → Ex: Lactobacillus (mucosa vaginal da mulher adulta). PORTADOR O portador abriga o patógeno, mas não desenvolve a doença, agindo como transmissor. É um agente importante na cadeia de transmissão de uma doença, sendo as vezes necessário o seu tratamento, mesmo na ausência de sintomas, para que ele deixa de propagar o patógeno. Um exemplo é no caso da presença da Neisseria meningitidis, causadora da meningite meningocócica, a qual é inalada e se aloja no trato respiratório, podendo ocorrer ou não o desenvolvimento da doença. O não desenvolvimento da doença ocorre por diferentes motivos, como uma baixa quantidade de microrganismos, presença de microbiota residente ou devido uma resposta imunológica efetiva. 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 2 • Microbiota Transitória: Não é saprófita, apresentando potenciais patógenos. Presente temporariamente no sítio anatômico, podendo ser eliminada por mecanismos normais de controle da microbiota. Sendo assim, é facilmente removida pelos procedimentos de limpeza e antissepsia. COMPOSIÇÃO DA MICROBIOTA COMPOSIÇÃO DA MICROBIOTA HUMANA SÍTIO ANATÔMICO AERÓBIOS ou FACULTATIVOS ANAERÓBIOS PELE Staphylococcus (S. epidermi) Difteroides Propionilbacterium TRATO RESPIRATÓRIO SUPERIOR Staphylococcus Difteróides Streptococcus α- hemolíticos Haemophilus Neisseria BOCA Streptococcus α- hemolíticos Difteróides Bacteroides Fusobacterium (100:1 facultativo) INTESTINO DELGADO Enterococcus Lactobacillus Difteróides Enterobacteriaceae INTESTINO GROSSO Enterobacteriaceae (Escherichia coli) Enterococcus Bacteroides Fusobacterium Clostridium Bifidobacterium (300:1 facultativo) MUCOSA VAGINAL AO NASCER: Lactobacillus INFÂNCIA: Cocos e bacilos variados ADULTA: Lactobacillus, enterococcus MENOPAUSA: Cocos e bacilos variados Clostridium Bifidobacterium Propionibacterium (5:1 facultativo) FATORES INFLUENCIADORES Alguns fatores influenciam a quantidade, qualidade e composição da microbiota humana, são eles: • Tipo de Parto: No caso parto vaginal, o recém- nascido tem contato imediato com a microbiota vaginal da mãe. • Alimentação Infantil: A amamentação durante os primeiros 6 meses de vida é importante, pois influencia a microbiota intestinal. Essa microbiota, possui um papel importante no desenvolvimento do sistema imune. • Estilo de Vida: O estresse, exericicio físico, hábitos de higiene etc. • Alimentação: Uma dieta rica em fibras, favorece uma microbiota boa. • Drogas: Os antimicrobianos agem, não só em microrganismos patogênicos, mas também na microbiota intestinal. Além disso, o uso recente de antibióticos também pode propiciar alterações. • Geográfico: Genética, hábitos diários etc. • Idade: Recém-nascido, adulto e idoso. BACTÉRIAS ANAERÓBIAS Importante saber que elas estão presentes em grande quantidade, por isso, o tratamento de infecções pós-cirurgia do intestino grosso, por exemplo, devem usar antimicrobianos para esse tipo de bactérias. Além disso, as anaeróbias da pele ficam nos ductos glandulares e folículos pilosos. 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 3 ALTERAÇÕES DA MICROBIOTA Um organismo saudável apresenta o equilíbrio na população bacteriana chamado de eubiose. Nesse caso, temos a predominância de microrganismos promotores de saúde, os quais proporcionam ações benéfica, sendo chamados de probióticos. Quando ocorre o desequilíbrio dessas populações, temos o estado de disbiose. Nessa situação, temos a predominância de microrganismos prejudiciais à saúde. EFITOS DA DISBIOSE • Processos inflamatórios crônicos; • Disfunções metabólicas; • Hiperimunidade/Hiperssenbilidade/Alergias; • Imunodeficiência. CONTROLE DA MICROBIOTA MECANISMOS FÍSICOS • Integridade do epitélio: Cortes, feridas e queimaduras, expõem camadas mais internas através de aberturas no epitélio. • Válvulas e esfíncteres do trato digestório: Cada região do trato digestório, por exemplo. • Muco: Substância que reveste as mucosas, exercendo uma ação protetora. MECANISMOS QUÍMICOS • Lisozima: Enzima presente nos fluídos corporais, a qual age como mecanismo natural de controle da microbiota, através da quebra do polímero que constitui a parede celular das bactérias, diminuindo e controlando o número de bactérias. → Ex: Age na conjuntiva ocular através das lágrimas. • Ácidos graxos da pele: São lipídios de cadeias longas, produzidos pelas glândulas sebáceas. Exercem ação tóxica a alguns tipos de bactérias. • Ácido clorídrico no estômago: Mantém o pH em torno de 2 e 3, sendo desfavorável a presença de bactérias,pois a maioria prefere um pH próximo da neutralidade. O estômago em jejum não apresenta microbiota residente, temporariamente podem existir bactérias veiculadas pelos alimentos, mas a instalação delas é muito difícil de ocorrer. • Ácidos e sais biliares: Protege a região do intestino delgado. • Cerume: Constituído por lipídios, protege o canal auditivo. • pH da urina: Levemente ácido, exercendo ação de controle na porção terminal uretra. AÇÕES FISIOLÓGICOS • Fluxos unidirecionais: Como ocorre na via urinária, por exemplo. A urina faz a lavagem, indo de um local estéril para um contaminado e impedindo o acesso das bactérias da porção terminal da uretra. • Peristalse: Levar o bolo alimentar até o final da porção do intestino grosso carregando as bactérias e expulsando-as com as fezes. • Movimento ciliar: O movimento ciliar expulsa as bactérias através do reflexo da tosse, dificultando o acesso ao trato respiratório inferior. MECANISMOS BIOLÓGICOS • Antagonismo microbiano: A população residente protege o sítio anatômico através da competição de nutrientes e receptores. Além disso, produz bacteriocinas, que possuem ação antimicrobiana contra outros grupos, e alteram o pH. • IgA secretória: Anticorpo presente nas mucosas, protegendo de forma mais específica. • Macrófagos alveolares: São células residentes, que agem destruindo bactérias, as quais tenham passado pela barreira ciliar. • Defensinas: Proteínas de defesa produzidas por nossas células, possuem função antimicrobiana. MICROBIOTA RESIDENTE EFEITOS BENÉFICOS • Ocupação de receptores; • Síntese de vitaminas: Vit K e algumas do complexo B. • Antagonismo microbiano. • Indução de anticorpos naturais: Anticorpos são proteínas que protegem nosso organismo (defesa humoral). Eles são produzidos a partir do contato com antígenos, os quais podem ser representados pela microbiota residente. A presença da microbiota estimula a produção de anticorpos. • Modulação do sistema imune (probióticos): MAMPs (padrões moleculares associados a microrganismos) da microbiota estimulam a ação protetora, principalmente na mucosa intestinal, incentivando pela produção de substâncias protetoras. O corpo humano apresenta 10 vezes mais microrganismos do que células próprias do corpo. Por esse motivo, devemos ter o controle da microbiota quanto a localização, quantidade de qualidade. 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 4 EFEITOS DEFAVORÁVEIS • Infecções oportunistas: Microbiota residente se comporta como patógeno, por exemplo, a quebra de integridade, queimadura, cateter venoso etc. → Ex: Candidíase cutâneo devido ao crescimento exacerbado em locais de muita umidade. → Ex: Candidíase oral ou no trato digestório, começando pelo intestino e chegando até a boca, presente em pacientes imunocomprometidos. • Superinfecção: Desequilíbrio da microbiota provocado por antibióticos de largo espectro. Um componente é atacado pelo antibiótico e outro cresce. → Ex: Colite pseudomembranosa causa necrose do colón intestinal, devido a proliferação exagerada de um contingente da microbiota. • Bacteremia fisiológica: Chegada de bactérias ao sangue. → Ex: A microbiota da pele e mucosas pode chegar ao sangue, sendo um fator de risco em pacientes com lesão prévia de válvula cardíaca (endocardite). No individuo saudável ela seria eliminada pelos mecanismos antimicrobicidas naturais. Pode ocorrer em casos de escovação forte com lesão da gengiva; tratamentos odontológicos (uso profilático de antibióticos em procedimentos dentários); tosse vigorosa; evacuações com força maior; procedimento ginecológicos; prática sexual. MUCOSA VAGINAL E CANDIDÍASE O estrogênio é a fonte para formação de glicogênio no epitélio vaginal, o qual é degradado pelos lactobacilos, através da fermentação. Com isso, temos como produtos os ácidos, os quais diminuem o pH vaginal e evitam a candidíase. A recém-nascida apresenta lactobacillus pelo contato do parto normal com a mucosa vaginal e pela presença de estrogênio, transferido da mãe para ela durante o período intrauterino. TERMOS • Esterilização: Retirada de todos os agentes infecciosos de um material. • Desinfecção: Remoção de parte dos microrganismos de uma superfície inerte. • Antissepsia: Remoção de parte dos microrganismos de um tecido vivo. • Assepsia: Conjunto de procedimentos adotados para evitar a contaminação de um sítio estéril.