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Emilia Ferreiro: Construtivismo e alfabetização Nelson Piletti e Solange Rossato (2018) Psicologia aula VI Ferreiro e sua pesquisa “Nenhum nome teve mais influência sobre a educação brasileira nos últimos vinte anos...”; Emília Beatriz Maria Ferreiro Schavi nasceu na Argentina em 1936; Graduou-se em Psicologia pela Universidade de Buenos Aires e doutorou-se nos anos 70, em Genebra, sob orientação de Jean Piaget; De 1974 a 1976 realizou pesquisa experimental em escolas primárias para compreender o desenvolvimento da escrita pela criança; Em 1979 publica, em co-autoria com Ana Teberosky, “A psicogênese da língua escrita”; A partir desse ano, muda-se para o México para trabalhar com crianças com déficit de aprendizagem. A crítica aos métodos tradicionais Método sintético: parte de unidades mínimas (letras, silabas) a unidades maiores (as palavras) Para Ferreiro e Teberosky, esse método caiu em desuso pois o método fonético, influenciado pela linguística, parte do som (fonema) identificado em palavras. Método analítico: parte do todo (o texto) para as partes, pois considera a leitura uma tarefa visual e não auditiva. Para Ferreiro e Teberosky, essa busca por estratégias só variam o requisito para a leitura; visual ou auditivo. Segundo as autoras, essas concepções elaboraram uma literatura que culpabiliza os alfabetizandos pelo fracasso escolar, levando em conta apenas o ponto de vista de quem ensina. O duplo marco conceitual da Psicogênese da Língua Escrita O construtivismo de Piaget aplicado à alfabetização Teoria geral do processo de aquisição do conhecimento; Alfabetizando = Sujeito cognoscente; Diferença entre método e processo de aprendizagem; O ponto de partida da aprendizagem é o sujeito, não o método ou o conteúdo; “Erro construtivo ou pedagógico”; O conhecimento é operatório e processual; As crianças possuem uma estrutura lógico-cognitiva que permite construir generalidades, sobre a língua, por exemplo. A influência da psicolinguística contemporânea de Noam Chomsky A criança tem um notável conhecimento de sua língua materna quando chega à escola; Essa concepção permitiu questionar os métodos, que ignoravam o conhecimento prévio das crianças; É errôneo pensar que a aprendizagem da língua escrita pressupõe uma reaprendizagem da língua oral; É errôneo que a criança não sabe diferenciar fonemas; É errôneo que a escrita alfabética é uma transcrição fonética. Princípios básicos da psicogênese da língua escrita A) Não identificar ler com decifrar: a escrita é um sistema de representação B) Não identificar a escrita com cópia de um modelo: a ênfase deve recair sobre o conteúdo, ou ideia da realidade. “A escrita não é cópia passiva e sim interpretação ativa dos modelos do mundo adulto” C) Não identificar progressos na conceitualização com avanços no decifrado ou na exatidão da cópia Concepções de crianças sobre a escrita As crianças vão, evolutivamente... a) distinguindo entre o que é para ser lido e para ser visto; b)Distinguindo entre letras e sinais de pontuação; c) Descobrindo a orientação espacial da leitura d) Construindo formas de diferenciação intrafigural e) Distinguindo entre letras e números f) Por fim, percebendo a relação entre o som silábico e a grafia. Etapas de estruturação da língua escrita NÍVEL 1 Início dessa construção. As tentativas das crianças dão-se no sentido da reprodução dos traços básicos da escrita que elas se deparam no cotidiano. O que vale é a intenção, pois, embora o traçado seja semelhante, cada um "lê" em seus rabiscos aquilo que quis escrever. Desta maneira, cada um só pode interpretar a sua própria escrita, e não a dos outros. Nesta fase, a criança elabora a hipótese de que a escrita dos nomes é proporcional ao tamanho do objeto ou ser a que está se referindo. Exemplos de escrita do nível 1: Nível 2 A hipótese central é de que para ler coisas diferentes é preciso usar formas diferentes. A criança procura combinar de várias maneiras as poucas formas de letras que é capaz de reproduzir. Nesta fase, ao tentar escrever, a criança respeita duas exigências básicas: a quantidade de letras (nunca inferior a três) e a variedade entre elas, (não podem ser repetidas). Exemplo de escrita do nível 2: Pré-silábica: colocam letras e as trocam de lugar, com critério mínimo de três letras. (jabuticaba) Nível 3, são feitas tentativas de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõem a palavra. Surge a chamada hipótese silábica, isto é, cada grafia traçada corresponde a uma sílaba pronunciada, podendo ser usadas letras ou outro tipo de grafia. Há, neste momento, um conflito entre a hipótese silábica e a quantidade mínima de letras exigida para que a escrita possa ser lida. A criança, neste nível, precisa usar duas formas gráficas para escrever palavras com duas sílabas, o que vai de encontro às suas ideias iniciais de que são necessários, pelo menos três caracteres. Este conflito a faz caminhar para outra fase... Exemplo de escrita do nível 3: Silábica: percebe o corte silábico auditivo e representa cada "pedaço" com uma letra. 13 Nível 4 ocorre, então a transição da hipótese silábica para a alfabética. O conflito que se estabeleceu - entre uma exigência interna da própria criança ( o número mínimo de grafias ) e a realidade das formas que o meio lhe oferece, faz com que ela procure soluções. Ela, então, começa a perceber que escrever é representar progressivamente as partes sonoras das palavras, ainda que não o faça corretamente. Exemplo de escrita do nível 4: Silábico-alfabética: coloca mais letras, ora construindo completamente uma sílaba, ora usando só uma letra . (jabuticaba) Nível 5 Finalmente, é atingido o estágio da escrita alfabética, pela compreensão de que para cada um dos caracteres da escrita correspondem valores menores que a sílaba, e que uma palavra, se tiver duas sílabas, exige, dois movimentos para ser pronunciada e,portanto, necessita mais do que duas letras para ser escrita e, ainda, a existência de uma regra produtiva que lhes permite, a partir desses elementos simples, formar a representação de inúmeras sílabas, mesmo aquelas sobre as quais não se tenham exercitado. Exemplo de escrita no nível 5 Alfabética: a criança desvenda nossa escrita convencional, construindo todas as sílabas, embora sem correção ortográfica “Ignorar que a criança pensa e tem condições de escrever desde muito cedo é um retrocesso" Implicações psicopedagógicas da psicogênese da língua escrita Revelar a função social, e não apenas escolar, da escrita; A escrita infantil passa a ser vista com “verdadeira”, indício de um saber prévio; Uma visão diferente do sujeito da aprendizagem, da leitura e da escrita; Contribuições e interações na construção do saber. Alfabetização de jovens e adultos: Emília Ferreiro e Paulo Freire Contribuição reconhecida do paradigma psicogenético por apontar singularidades do pensamento lógico dos alfabetizandos; Ao lado da teoria/método de Paulo Freire tem sido fonte de inspiração para professores da EJA; Os jovens devem convidados a propor problemas, criar hipóteses, encontrar caminhos coerentes para ampliar sua aprendizagem. Considerações críticas Tradicionalistas acusam o método psicogenètico de ter se tornado uma “verdade dogmática”; Desempenho da alfabetização no Brasil em baixa; As discussões finais sempre retornam à questão dos métodos; Como estimular e conduzir os processos internos de aprendizagem? “A minha contribuição foi encontrar uma explicação, segundo a qual, por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa.”(Emília Ferreiro) Questão 1. Observe os trechos: “Eles têm uma tendência obsessiva pela silabação. E eu fico sem saber como agir quando o professor, ao perceberas dificuldades das crianças com uma determinada palavra, passa a dividi-las em silabas. Eles dizem que isso ajuda a fixação. E eu tenho dúvida se devo continuar censurando essa atitude” “Mesmo em São Paulo, onde o empenho da secretaria é forte em favor do construtivismo, é comum ver o professor usando o jornal e literatura infantil no lugar de cartilha, mas de um forma que não muda em nada o sistema tradicional. Ele parte de um texto, mas pede para o aluno recortar as palavras e depois trabalha as sílabas.” (LAGÔA, 1991) Comente os trechos, relacionando as contribuições da psicogênese da escrita e os equívocos de sua interpretação por pedagogos e professores
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