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1- Ética Profissional na Sociedade Contemporânea

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ÉTICA PROFISSIONAL NA SOCIEDADE 
CONTEMPORÂNEA 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
ÉTICA PROFISSIONAL NA SOCIEDADE 
CONTEMPORÂNEA 
 
 
DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES 
 
editorafamart@famart.edu.br 
 
 
TUTORIA ONLINE 
 
Segunda a Sexta de 09:30 às 17:30 
Acesse a aba Tutoria EaD em seu portal do aluno.
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 3 
2 ÉTICA COMO FUNDAMENTO SOCIAL .................................................. 10 
3 ÉTICA PROFISSIONAL E SUAS TENDÊNCIAS SOCIAIS ..................... 17 
3.1 Ética profissional: quando se inicia esta reflexão? ............................ 19 
3.2 Ética profissional: como é esta reflexão? ............................................ 20 
3.3 Ética profissional e relações sociais .................................................... 21 
3.4 Ética profissional e atividade voluntária .............................................. 22 
3.5 Ética profissional: pontos para sua reflexão ....................................... 22 
3.6 Sigilo de Informações ............................................................................ 24 
4 ÉTICA PROFISSIONAL NO CAMPO ARISTOTÉLICO ........................... 25 
4.1 Ética na sociedade brasileira ................................................................ 27 
4.2 O meio profissional e empresarial ........................................................ 29 
5 ÉTICA DO DISCURSO EM JÜRGEN HABERMAS: A IMPORTÂNCIA DA 
LINGUAGEM PARA UM AGIR COMUNICATIVO .................................. 31 
5.1 Significado do discurso para Habermas .............................................. 32 
5.2 Ética do discurso e a importância do agir comunicativo ................... 33 
5.3 Os valores morais na modernidade ...................................................... 39 
5.4 Relação entre os valores vigentes na sociedade e os valores que regem 
os grupos particulares .......................................................................... 42 
5.5 Características da ética profissional hoje ............................................ 44 
 ENCERRAMENTO ................................................................................... 49 
 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 50 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A ética tem sido um dos temas mais trabalhados nos últimos tempos, pois 
a corrupção, o descaso social e os constantes escândalos políticos e sociais 
expostos na mídia diariamente suscitam que a sociedade exija o resgate de 
valores morais em todas as suas instâncias, sejam elas políticas, científicas ou 
econômicas. Desse conflito de interesses pelo bem comum ergue-se a ética, tão 
discutida pelos filósofos de toda a história mundial. Ética é uma palavra com 
duas origens possíveis. A primeira advém do grego éthos, literalmente "com e 
curto", que pode ser traduzida por "costume"; a segunda também se escreve 
éthos, porém se traduz por "com e longo", que significa "propriedade do caráter". 
A primeira serviu de base para a tradução latina moral, enquanto que a segunda 
é a que, de alguma forma, orienta a utilização atual que damos à palavra ética. 
O vocábulo foi assimilado à língua portuguesa por intermédio do latim. 
O primeiro registro de seu uso é do século XV. Conceitua-se ética como 
sendo o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana, do ponto 
de vista do bem e do mal. É um conjunto de normas e princípios que norteiam a 
boa conduta do ser humano. A ética é a parte da filosofia que aborda o 
comportamento humano, seus anseios, desejos e vontades. É a ciência da 
conduta humana perante o ser e seus semelhantes e de uma forma específica 
de comportamento humano, envolvendo estudos de aprovação ou desaprovação 
da ação dos homens. É a consideração de valor como equivalente de uma 
medição do que é real e voluntarioso no campo das ações virtuosas. Ela ilumina 
a consciência humana, sustenta e dirige as ações do homem, norteando a 
conduta individual e social. Como um produto histórico-cultural, define em cada 
cultura e sociedade o que é virtude, o que é bom ou mal, certo ou errado, 
permitido ou proibido. 
 Segundo Heller (1999, p. 29), "ética é a ciência normativa dos 
comportamentos humanos". Já Maximiano a define como: 
 
[...] a disciplina ou campo do conhecimento que trata da definição e 
avaliação de pessoas e organizações, é a disciplina que dispõe sobre 
o comportamento adequado e os meios de implementá-lo, levando-se 
 
 
4 
 
em consideração os entendimentos presentes na sociedade ou em 
agrupamentos sociais particulares. (MAXIMIANO, 1974, p. 28) 
 
Adolfo Sánchez Vázquez afirma que: 
 
[...] valor não é propriedade dos objetos em si, mas propriedade 
adquirida graças à sua relação com o homem como ser social. Mas, 
por sua vez, os objetos podem ter valor somente quando dotados 
realmente de certas propriedades objetivas. (VÁZQUEZ, 2005, p. 41) 
 
Ética é basicamente uma questão de estudo dos valores, porque diz 
respeito aos valores em que o humano do ser, em linguagem fenomenológica, 
se sobrepõe ao ser humano. Como interpretar os valores éticos? Maximiano 
(1974, p. 299) diz que "a interpretação de valores éticos pode ser absoluta ou 
relativa". A primeira "baseia-se na premissa de que as normas de conduta são 
válidas em todas as situações", e a segunda "de que as normas dependem da 
situação". No que tange à ética relativa, os orientais entendem que os indivíduos 
devem dedicar-se inteiramente à empresa, que constitui uma família à qual 
pertence a vida dos trabalhadores. Já para os ocidentais, o entendimento é de 
que há diferença entre a vida pessoal e a vida profissional. Assim, por exemplo, 
encerrado o horário normal do trabalho em uma empresa, o restante do tempo é 
do trabalhador e não do patrão. Quanto à ética absoluta, parte-se do princípio de 
que determinadas condutas são intrinsecamente erradas ou certas, qualquer que 
seja a situação e, dessa maneira, devem ser apresentadas e difundidas como 
tal. 
Maximiano ainda ressalta que "um problema sério da ética absoluta é que 
a noção de certo e errado depende de opiniões" (ibid., p. 299). Cita como 
exemplo, os bancos suíços, que construíram uma reputação de confiabilidade 
com base na preservação do sigilo sobre suas contas secretas. Sob a 
perspectiva absoluta, para o banco, o correto é proteger a identidade e o 
patrimônio do cliente. Durante muito tempo, os bancos suíços foram admirados 
por essa ética, até ficar evidente que os clientes nem sempre eram respeitáveis. 
Traficantes de drogas, ditadores e nazistas haviam escondido nas famosas 
contas secretas muito dinheiro ganho de maneira ilícita. Os bancos continuaram 
 
 
5 
 
insistindo em sua política, enquanto aumentavam as pressões internacionais, 
especialmente, dos países interessados em rastrear a lavagem de dinheiro das 
drogas ou recuperar o que lhes havia sido roubado. Para as autoridades desses 
países, a ética absoluta dizia que o sigilo era intrinsecamente errado, uma vez 
que protegia dinheiro obtido de forma desonesta. Finalmente, as autoridades 
suíças concordaram em revelar a origem dos depósitos e iniciar negociações 
visando à devolução do dinheiro para os seus donos (ORIVES, 2008). É possível 
perceber que os valores predominantes na sociedade brasileira, refletidos nas 
práticas de seus governantes e políticos, são fatores determinantes para a 
qualidade dos serviços públicos. Ilusões e esperanças têm se desmoronado e é 
possível distinguir três fatores responsáveis por esta questão. 
Antes de tudo, destaque-se que cada um carrega consigo mesmo uma 
hierarquia abstrata de valores que orienta suas escolhas. Pode colocar no ápice 
da cadeiahierárquica a solidariedade, a comunhão, o interesse público ou, em 
vez disso, a rivalidade ostensiva, o individualismo exacerbado e o interesse 
pessoal. Em segundo lugar, possui uma visão, mais ou menos esquemática, das 
forças em competição, avaliando as que se sintonizam com seus valores, 
opondo-se e rejeitando aquelas que se afastam de si. Esses dois fatores são 
condicionados por um terceiro: o fluxo de informações que se registram no 
cérebro humano. A globalização da informação pode conduzir à desinformação 
à medida que a agilidade e a rapidez desse fluxo, além de sua quantidade em 
prejuízo da qualidade, levem administradores públicos a filiar-se a forças 
destruidoras de seus valores, impedindo sua realização. 
A ética pode ser interpretada como um termo genérico que designa aquilo 
que é frequentemente descrito como a "ciência da moralidade". Seu significado, 
derivado do grego, quer dizer "Morada da Alma", isto é, suscetível de 
qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada 
sociedade, seja de modo absoluto. 
Em Filosofia, o comportamento ético é aquele que é considerado bom. 
Sobre a bondade, os antigos diziam que o que é bom para a leoa, não pode ser 
bom à gazela. E o que é bom à gazela, fatalmente não será bom para a leoa. 
Este é um dilema ético típico. Portanto, no campo filosófico, a ética, ao lado da 
 
 
6 
 
metafísica e da lógica, não pode ser descrita de forma simplista. O objetivo de 
uma teoria da ética é determinar o que é bom tanto para o indivíduo como para 
a sociedade como um todo. Os filósofos antigos adotaram diversas posições na 
definição do que é bom: como lidar com as prioridades em conflito dos indivíduos 
versus o todo, e a universalidade dos princípios éticos versus a "ética de 
situação". Nesta, o que está certo depende das circunstâncias e não de uma lei 
geral qualquer. E ainda se a bondade é determinada pelos resultados da ação 
ou pelos meios pelos quais os resultados são alcançados. 
O homem vive em sociedade, convive com outros homens e, portanto, 
cabe lhe pensar e responder à seguinte pergunta: 
 
Como devo agir perante os outros?". Trata-se de uma pergunta fácil de 
ser formulada, mas difícil de ser respondida. Ora, esta é a questão 
central da a Moral e da Ética. Enfim, a ética é o julgamento do caráter 
moral de uma determinada pessoa (WIKIPEDIA, 2008). 
 
No nosso dia-a-dia, não fazemos distinção entre ética e moral, usamos as 
duas palavras como sinônimas, mas os estudiosos da questão fazem uma 
distinção entre as duas palavras. Assim, a moral é definida como o conjunto de 
normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o comportamento 
do indivíduo no seu grupo social. A moral é normativa. Já a ética é definida como 
a teoria, o conhecimento ou a ciência do comportamento moral, que busca 
explicar, compreender, justificar e criticar a moral ou as morais de uma 
sociedade. A ética é filosófica e científica. Não se pode falar de ética sem falar 
de moral, pois ambas estão interligadas na vida do ser humano. A palavra moral 
origina-se do latim morus, significando os usos e os costumes. Moral é o conjunto 
das normas para o agir específico ou concreto. Estabelece regras que são 
assumidas pela pessoa, como uma forma de garantir o seu bem viver. 
Segundo Vázquez (2005), se por moral entendemos um conjunto de 
normas e regras destinadas a regular as relações dos indivíduos numa 
comunidade social, o seu significado, função e validade não podem deixar de 
variar historicamente, nas diferentes sociedades. A moral é um fato histórico e, 
por conseguinte, a ética, como ciência da moral, não pode concebê-la como 
 
 
7 
 
dada de uma vez para sempre, mas tem de considerá-la como um aspecto da 
realidade humana mutável com o tempo. Mas a moral é histórica precisamente 
porque é o modo de um ser - o homem - se comportar, uma vez que é histórico 
por natureza, ou seja, é um ser cuja característica é a de estar-se fazendo ou se 
autoproduzindo constantemente, tanto no plano de sua existência material, 
prática, como no de sua vida espiritual (ibid.). 
A moral independe das fronteiras geográficas, que garante uma 
identidade entre pessoas que não se conhecem, mas utilizam o mesmo 
referencial moral comum. "Nenhum homem é uma ilha." Esta famosa frase do 
filósofo inglês Thomas Morus ajuda-nos a compreender que a vida humana é 
convívio. Para o ser humano, viver é conviver. É justamente na convivência, na 
vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto 
um ser moral e ético. É na relação com o outro que surgem os problemas e as 
indagações morais: o que devo fazer? Como agir em determinada situação? 
Como comportar-me perante o outro? Diante da corrupção e das injustiças, o 
que fazer? Constantemente no nosso cotidiano nos defrontamos com problemas 
morais. 
São problemas práticos e concretos da nossa vida em sociedade, ou seja, 
problemas que dizem respeito às nossas decisões, escolhas, ações e 
comportamentos - os quais exigem uma avaliação, um julgamento, um juízo de 
valor entre o que é socialmente considerado pela moral vigente bom ou mal, 
justo ou injusto, certo ou errado. 
A sociedade brasileira é historicamente marcada pela injustiça 
socioeconômica, pelo preconceito racial e sexual, pela exploração da mão-de-
obra infantil, pelo "jeitinho brasileiro", pela "Lei de Gerson", etc. Tal realidade, 
nos coloca diante de problemas éticos bastante sérios. Contudo, já estamos por 
demais acostumados com nossas misérias de toda ordem. Na vida pública, 
exemplos não faltam na nossa história recente: anões do orçamento, 
impeachment de presidente por corrupção, compra de parlamentares para a 
reeleição e para apoio ao governo, compra de ambulâncias superfaturadas, 
"caixa dois" de campanhas eleitorais, máfia do crime organizado, desvio de 
dinheiro público, entre outros. 
 
 
8 
 
Os princípios éticos são normas que nos obrigam a agir em função do 
valor do bem visado pela nossa ação, ou do objetivo final que dá sentido à vida 
humana; e não de um interesse puramente subjetivo, que não compartilhamos 
com comunidade. Esse valor objetivo deve ser considerado em todas as suas 
dimensões: no indivíduo, no grupo ou classe social, no povo, ou na própria 
humanidade. O alcance dos princípios éticos é ilimitado: na História, eles tendem 
a alcançar uma vigência universal. A qualidade própria dos princípios éticos nada 
mais é, na verdade, que uma decorrência lógica do fato de se fundarem na 
dignidade da pessoa humana, vista como componente essencial para a vida 
social. A classificação desses princípios obedece à sua ordem de abrangência. 
O respeito à dignidade da pessoa humana deve abrangê-la em todas as 
suas dimensões: em cada indivíduo, com a sua característica irredutível de 
qualidade; em cada grupo social; no interior dos povos politicamente 
organizados; em cada povo ou nação independente, nas relações internacionais; 
na reunião de todos os povos do mundo numa unidade política suprema em 
construção. É igualmente em todas as dimensões da pessoa humana que atuam 
os princípios fundamentais da verdade, da justiça e do amor, desdobrando-se 
especificamente, nos princípios de liberdade, igualdade, segurança e 
solidariedade. A norma técnica se alicerça na dignidade da pessoa humana 
como componente principal para a convivência em sociedade, diferenciando-se 
de regra técnica, que diz respeito aos meios aptos a se conseguir determinado 
resultado que, obviamente desejado pelo agente, pode ser bom ou mau para 
outros indivíduos ou para a coletividade em geral. A regra técnica, considerada 
em si mesma, é eticamente neutra. 
Kant bem salientou que: 
 
[...] as prescrições que deve seguir o médico para curar totalmente o 
paciente, e as que deve seguir um assassino para envenenar 
letalmente sua vítima têm o mesmo valor, na medida em que umas e 
outraslhes são úteis para realizarem, de maneira cabal, os desígnios. 
(KANT, 2003) 
 
A técnica guia-se, pois, exclusivamente, pelo valor da utilidade ou 
eficiência dos meios na produção de um resultado, ao passo que a ética acentua 
 
 
9 
 
o fim último visado pelo agente e o seu valor, relativamente a outras pessoas 
que com ele se relacionam, ou em relação à coletividade. Na perspectiva técnica, 
o agente deve atuar de certa maneira para poder obter o efeito por ele desejado, 
não necessariamente valioso à coletividade. No ambiente ético, o agente deve 
agir em vista de determinadas finalidades consideradas obrigatórias para todos, 
e o seu modo de agir há de adaptar-se ao valor ético dos fins visados. 
Na presente apostila, iremos abordar a ética, como fundamento social, as 
suas variações e possibilidades de uso no contexto da sociedade 
contemporânea. Iremos também trabalhar, especificamente, o conceito de Ética 
profissional, bem como a sua importância para as relações sociais consolidadas 
no contexto em que o sujeito está inserido. 
 
 
 
10 
 
2 ÉTICA COMO FUNDAMENTO SOCIAL 
 
Deve-se, pois, antes de tudo, estar de acordo sobre o gênero de vida que 
todos os homens – para servir-me desta expressão – devem preferir, e depois 
resolver se esse gênero de vida é o mesmo para os indivíduos em particular e 
para sociedade em geral. (ARISTÓTELES, 2009, p. 229-230, grifo nosso). 
Diremos, em princípio, os fundamentos culturais da sociedade são sua 
essência elementar. Identificar essa essência faz com que consigamos observar 
sedimentos de valores ou virtudes de outras épocas preservados na atualidade. 
Ainda que não aprovemos esses valores ou virtudes como harmonias em relação 
aquilo considerado por nós como moral ou ético, o comportamento ou a conduta 
recorrente do povo pode revelar essa contradição. Daí a necessidade de se ter 
em mente (ou se buscar) os motivos, a condição de mobilidade histórica como 
registro dos fatos que mantiveram inalterado determinado comportamento em 
detrimento da evolução material concreta e condicionada como elemento que dá 
importância à preservação de certos fundamentos sociais, dentre eles, a ética. 
 
Admitamos que as relações econômicas, consideradas como leis 
imutáveis, princípios eternos, categorias ideais, sejam anteriores aos 
homens ativos e atuantes; admitamos ainda que essas leis, esses 
princípios, essas categorias tivessem, desde o princípio dos tempos, 
dormitado “na razão impessoal da humanidade”. (MARX, 2006c, p. 
103). 
 
Assim como Marx: 
 
Já vimos que, com todas essas eternidades imutáveis e imóveis deixa 
de haver história, há quando muito história na ideia, ou seja, a história 
que se reflete no movimento dialético da razão pura. (MARX, 2006, p. 
103) 
 
E podemos também, com Marx, dizer que, referindo-nos não somente ao 
sr. Proudhon, mas ao conjunto hegemônico de senhores que domina as relações 
de valores para além da esfera econômica, que, ao dizerem que: 
 
[...] no movimento dialético, as ideias não se ‘diferenciam’” anulam “[...] 
quer a sombra do movimento quer o movimento das sombras, por meio 
 
 
11 
 
dos quais se poderia ainda criar um simulacro de história, quando 
muito. (MARX, 2006c, p. 103) 
 
Em vez disso, eles atribuem “[...] à história a sua própria impotência’, 
atribuem ‘culpas a tudo […]” (MARX, 2006c, p. 103). Não bastasse essa tentativa 
recorrente e histórica de se apartarem dos males dos quais podemos até afirmar 
que são seus legítimos mentores, feitores e carrascos ao mesmo tempo, 
complementam suas concepções na certeza de que a percepção concreta de 
suas ideias perpassa pela história de maneira incólume, afinal, como Marx e 
Engels mencionam: 
 
Sem dúvida – se dirá – as ideias religiosas, morais, filosóficas, 
políticas, jurídicas etc., modificaram-se no curso do 
desenvolvimento histórico, mas [por mais paradoxal e inteligível 
que isso represente], a religião, a moral, a filosofia, a política e o 
direito mantiveram-se sempre através dessas transformações. 
(MARX; ENGELS, 1988, p. 94.) 
 
São institutos ou princípios simbólicos, mantidos e reproduzidos em sua 
forma, cuja tradição ideológica burguesa tem conseguido sustentar como pilares 
estruturantes da sociedade e como sustentáculo necessário ao processo 
evolutivo civilizacional. Acrescentam Marx e Engels (1998, p. 94) (nesse 
sentido), “[...] além disso, há verdades eternas, como a liberdade, a justiça, etc., 
que são comuns a todos os regimes sociais.” 
Considerando, inclusive, por se tratar de uma forma de postulado que vige 
quase em estado de perenidade por toda a civilização e é disseminado como 
válido à diversidade das classes sociais, pode-se arguir se o bem e a justiça 
professados são valores estabelecidos e distribuídos desigualmente entre os 
desiguais (beneficiários) para promover algum tipo de equilíbrio não captado 
pela racionalidade universal terrena ainda em estágio de evolução material. 
Assim, é fundamental levarmos em conta que distinguir quem são os 
beneficiários dessa evolução material faz toda a diferença. Por se tratar de 
processo evolutivo condicionado, temos que ter em mente a existência da 
realidade contraditória. Alguns ditam a condição e outros a cumprem ou seguem 
sem a percepção de seu estado. A universalidade do bem ou valor cuja 
 
 
12 
 
imanência é a representação da singularidade ligada a subjetividade humana 
não pode ser indutiva para a coletividade sem que seja antes algo que opere na 
realidade de valores como possibilidade comum, em que pesem as contradições 
adstritas da sociedade capitalista. Contradições essas, cada dia mais 
acentuadas e ascendentes. 
O homem tem sua humanidade integrada quando o ente social incorpora 
em si virtudes cujas características podem ser presenciadas em sua 
individualidade. O significado dessa percepção faz que o homem se estabeleça 
e seja notado a partir de si e daí se transforme juntamente de suas próprias 
produções e transformações que o caracterizam como ser racional e 
materializador da história. É no trabalho e com ele que essa condição vigora 
como precursora e instrumento (ao mesmo tempo) de mudanças da natureza. 
 
O aumento geral da produtividade do trabalho (em consequência do 
desenvolvimento da criação de gado, da agricultura e dos serviços 
manuais), bem como o aparecimento de novas forças de trabalho (pela 
transformação dos prisioneiros de guerra em escravos), elevou a 
produção material até o ponto de se dispor de uma quantidade de 
produtos excedentes, isto é, de produtos que se podiam estocar porque 
não eram exigidos para satisfazer necessidades imediatas. Criaram-
se, assim, as condições para que surgisse a desigualdade de bens 
entre os chefes de família que cultivavam as terras da comunidade e 
cujos frutos eram repartidos até então com igualdade, de acordo com 
as necessidades de cada família. (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1993, p. 30). 
 
É nos atributos e nas virtudes humanas que é possível encontrar um 
diferencial em que as relações podem ser admitidas como sociais e, também, 
válidas como objetos históricos observáveis. Situação vigente desde o momento 
em que a ação e comportamento são integrados no tempo e no espaço (ou 
ambiente), onde o trabalho se realiza sob condições comparáveis em todas as 
épocas, sobretudo, quando a realização humana passa a transformar a 
natureza, introduz necessidades e subjaz o homem à condição de explorado e 
explorador, induzindo à lógica de uma estranhada forma (principalmente para a 
época) de consumo e da propriedade privada como valor ascendente na história 
da humanidade. 
 
 
 
13 
 
Com a desigualdade de bens tornou-se possível a apropriação privada 
dos bens ou produtos do trabalho alheio, bem como o antagonismo 
entre pobres e ricos. Do ponto de vista econômico, o respeito pela vida 
dos prisioneiros de guerra, que eram poupados do extermínio para 
serem convertidos em escravos, transformou-senuma necessidade 
social. Com a decomposição do regime comunal e o aparecimento da 
propriedade privada, foi-se acentuando a divisão de homens livres e 
escravos. A propriedade – dos proprietários de escravos, em particular 
– livrava da necessidade de trabalhar. O trabalho físico acabou por se 
transformar numa ocupação indigna de homens livres. Os escravos 
viviam em condições espantosas e arcavam com o trabalho físico, 
particularmente o mais duro. […] Os escravos não eram pessoas, mas 
coisas, e, como tais, seus donos podiam comprá-los, vendê-los, 
apostá-los nos jogos de cartas ou inclusive matá-los. (SÁNCHEZ 
VÁZQUEZ, 1993, p. 30). 
 
Podemos até dizer, acerca da presença do valor moral ou ético, sob a 
lógica do consumo e da propriedade privada, já em sua origem, que se trata dos 
primeiros fundamentos sociais para as contradições que serão reveladas ao 
longo do percurso histórico. O homem traz em si a mobilidade adaptativa em que 
sua percepção moral ou ética em diversos momentos da história se contradiz e 
se relativiza – “relativismo ético” – em certos sentidos sem, entretanto, ceder em 
alguns valores que o acompanham pela história. Foi o que pudemos observar 
em nossa pesquisa e nas referências teóricas cotejadas desde a antiguidade até 
a atualidade. A caracterização do gênero humano como espécie racional distinta 
das demais espécies perde sua distinção se são impostas ao homem reações e 
relações de subsistência admitidas, mais diretamente, como definidoras das 
outras espécies. 
Considerar como real essa hipótese, ou melhor, o comportamento do 
homem como impulso reacional, peculiar aos instintos irracionais (apenas), 
como definidor de sua conduta, desconstitui a condição humana. Pode-se dizer 
que há, propositadamente, uma espécie de involução teleológica do 
conhecimento das espécies vivas, sobretudo dos animais (racionais e 
irracionais), admitindo-se uma forma de condicionamento social (gregarismo) ao 
gênero humano nivelando suas ações a reações desconstituídas da razão. A 
desconstituição de sua relação racional com a natureza, como se suas 
produções e transformações históricas não detivesse um processo evolutivo que 
a diferencia das outras espécies, especialmente, se referirmo-nos aos animais 
 
 
14 
 
irracionais. Como se as condições evolutivas do gênero humano se repetissem, 
fossem estacionárias, primitivas, admitindo-se (ainda) que suas necessidades se 
limitassem à nutrição e às sensações condizentes ao alívio da dor e ao estímulo 
do prazer. 
 
Os vários métodos específicos pelos quais os animais levam a efeito o 
processo de procura do alimento, da nutrição, a série de instintos que 
constituem o acasalamento, a criação e educação da prole, a 
elaboração dos vários dispositivos de locomoção, o funcionamento dos 
primitivos mecanismos defensivos e ofensivos, tudo isto constituem 
instintos. Em cada caso podemos correlacionar o instinto com um 
aparelho anatômico, com um mecanismo fisiológico e uma finalidade 
específica no vasto processo biológico da existência individual e racial. 
No conjunto da espécie cada indivíduo comportar-se-á de maneira 
idêntica, desde que se achem presentes as condições de seu 
organismo e as circunstâncias externas para desencadearem o 
instinto. (MALINOWSKI, 2000, p. 159). 
 
O caráter inato presumido por Malinowski passa a ser movido e 
sustentado pela exterioridade, mas não como algo a que instintivamente ou por 
impulso reagimos contra ou perseguimos como vital à subsistência, pois se 
tornou obstáculo ou ameaça à dor ou ao prazer e compromete a existência. Não 
é isso. A plasticidade dos instintos se dá sob a ótica citada em função de que já 
não são mais o prazer ou a dor de quem instila seus impulsos em sua própria 
defesa que prevalece. O que prevalece, de fato, é sustentação do prazer e todas 
as ações dirigidas para impossibilitar a dor de quem (ou do que) externamente 
impõe, como propriedade sua, a integridade (corpo e alma) do outro como 
instrumento para defender-se de um mal ou para produzir um bem ou um serviço 
do qual é ó único beneficiário. Trata-se da condição na qual as virtudes se tornam 
comprometidas pela dor e pelo prazer. Os instintos, nessa hora, sustentam essa 
condição, afinal, a dor e prazer movem os sentidos perceptivos dos excessos e 
da carência, dos quais Aristóteles sublinha como designativos para o vício e para 
a virtude. 
 
As virtudes têm a ver com ações e paixões e toda paixão e toda ação 
são acompanhadas por prazer e dor, isso constitui uma demonstração 
adicional de que a virtude diz respeito ao prazer e à dor. Os seres 
humanos se corrompem através de prazeres e dores, a saber, quer 
perseguindo e evitando os prazeres e dores equívocos, quer os 
 
 
15 
 
perseguindo e evitando no momento equívoco, ou da maneira 
equívoca, ou em um dos outros meios equívocos entre os quais erros 
de conduta podem ser logicamente classificados […]. A suposição de 
que a virtude moral é a qualidade segundo a qual se age da melhor 
forma em relação aos prazeres e dores e que o vício é o oposto. 
(ARISTOTELES, 2002, p. 68-69) 
 
Kant (2003, p. 77), em sentido semelhante, ao referir-se às “[...] 
faculdades de apetição superior e inferior”, insere elementos importantes para 
definir a condição com a qual a subsistência pode ser condicionante às questões 
de valor (moral ou ético) e da felicidade a partir das necessidades (carências). 
Os sentimentos de prazer e de desprazer são reflexo (reação instintiva) e 
constructo (reação condicionada) ao mesmo tempo para que em determinadas 
situação se consiga verificar o quanto as virtudes ou os vícios implicam ou 
comprometem a percepção moral e o comportamento ético em um determinado 
ambiente ou na sociedade na busca pela felicidade. 
O que se pensava e se pensa sobre os valores ou virtudes pode ser um 
bom exemplo dessa expressão aristotélica ao longo da história, no entanto, tal 
reflexão precisa de outro espaço teórico ou investigativo, para o qual esta tese 
não está direcionada e tampouco dá conta de abarcar. Ato subjetivo que 
incorpora a tendência do comportamento no qual a singularidade é influenciada 
diretamente por elementos particulares da cultura e da história, mas que ganham 
peso e participação circunstancial, de acordo com o momento ou a condição em 
que se situa na constituição de sociedade a partir do trabalho. Sánchez Vázquez 
(1993, p. 27) nos diz que “A moral só pode surgir – e efetivamente surge – 
quando o homem supera a sua natureza puramente natural, instintiva, e possui 
já uma natureza social […]”; uma superação que se dá, de fato, na produção e 
na transformação da própria natureza com o uso da força humana de trabalho 
como ação provedora das necessidades que não são mais adstritas à coleta e à 
caça, mas que representam um processo transformador da humanidade 
conferindo à espécie humana, as possibilidades da manifestação das suas 
virtudes e nelas se intensificam sua racionalidade. 
Os meios de produção, a precarização e o ambiente de trabalho – assunto 
tratado mais detidamente adiante, onde estão presentes e em exercício, se 
 
 
16 
 
levarmos em conta (pelo menos), às condições de subsistência, concordaremos 
que a forma como certos trabalhadores são tratados, suas condições 
degradadas de trabalho e de saúde, a invisibilidade social em que vivem, são 
condizentes quando muito (direta e objetivamente) à (sub)existência nos polos 
de exclusão ou 85 de indigência marginal consentida e mantida sob a 
subserviência social do Estado regido pela lógica do poder capitalista. No 
entanto, visando estabelecer uma primeira abordagem à ética como fundamento 
social, é importante lançarmos um olhar naquilo que Aristóteles (2009, p. 253-
254) considera como as “três coisas fazem os homens bons e virtuosos: a 
natureza, os costumes e a razão”. 
 
Primeiramente, é preciso que a natureza faça nascer homem e não 
outra espécie qualquer deanimal. É preciso também que ela dê certas 
qualidades de alma e de corpo. Muitas destas qualidades não têm 
utilidade alguma; porque os costumes fazem com que elas mudem e 
se modifiquem. Os costumes desenvolvem, por vezes, as qualidades 
naturais, dando-lhes uma tendência para o bem ou para o mal. Os 
outros animais seguem principalmente o instinto da natureza; alguns 
mesmos, em pequeno número, obedecem ao império dos costumes. O 
homem segue a natureza e os costumes. Segue também a razão. Só 
ele é dotado da razão. É preciso que haja acordo e harmonia entre 
essas três coisas. Porque a razão leva os homens a fazerem muitas 
coisas contrárias ao hábito e à natureza, quando eles se convencem 
de que é melhor fazer de outra forma. (ARISTÓTELES, 2009, p. 253-
254) 
 
 
 
 
 
17 
 
3 ÉTICA PROFISSIONAL E SUAS TENDÊNCIAS SOCIAIS 
 
No presente capítulo pretendemos abordar o conceito da ética 
profissional, buscando trazer suas principais características e reflexões para que 
o discente possa, teoricamente, compreender o seu papel social nos contextos 
em que estão inseridos. 
As lideranças sociais têm um poder e uma responsabilidade decisivos em 
relação à ética. Nenhuma nação, povo ou grupo social pode realizar seu projeto 
histórico sem lideranças. A liderança social é o elemento de ligação entre os 
interesses do grupo social e as oportunidades históricas disponíveis para realizá-
los. A responsabilidade ética da liderança, portanto, se pudesse ser medida, teria 
o tamanho e o peso dos direitos reunidos de todos aqueles que ela representa e 
lidera. 
A liderança social tem uma dupla responsabilidade ética: institucional e 
pessoal. 
 
a) Institucional: porque devem cumprir fiel e estritamente os 
deveres que lhe são atribuídos. 
b) Pessoal: porque devem ser cada uma delas, um exemplo 
de cidadania: justas e eticamente íntegras. 
 
De forma sintética, João Baptista Herkenhoff (2001) exterioriza sua 
concepção de ética: o mundo ético é o mundo do “deve ser” (mundo dos juízos 
de valor), em contraposição ao mundo do “ser” (mundo dos juízos de realidade). 
Todavia, “a moral é a parte subjetiva da ética”. 
 
O homem nem sempre pode o que quer, nem quer sempre o que pode. 
Ademais, sua vontade e seu poder não concordam com seu saber. 
Quase sempre as circunstâncias externas determinam a sua sorte. 
(D’HONDT, 1966, p. 105). 
 
O estudo e o conhecimento da Deontologia (do grego deontos = dever e 
logos = tratado) se voltam para a ciência dos deveres, no âmbito de cada 
profissão. É o estudo dos direitos, emissão de juízos de valores, compreendendo 
 
 
18 
 
a ética como condição essencial para o exercício de qualquer profissão. A ética 
é indispensável ao profissional, porque na ação humana “o fazer” e “o agir” estão 
interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo profissional 
deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à conduta do 
profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho de sua 
profissão. Tanto a moral como o direito baseiam-se em regras que visam 
estabelecer certa previsibilidade para as ações humanas. Ambas, porém, se 
diferenciam. A moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como 
uma forma de garantir o seu bem-viver. Independe das fronteiras geográficas e 
garante uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam 
este mesmo referencial moral comum. 
O direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada 
pelas fronteiras do Estado. As leis têm uma base territorial, que valem apenas 
para a área geográfica onde uma determinada população ou seus delegados 
vivem. A ética é o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo 
ou injusto, adequado ou inadequado. Um dos seus objetivos é a busca de 
justificativas para as regras propostas pela Moral e pelo Direito. Ela é diferente 
de ambos – Moral e Direito – pois não estabelece regras. É extremamente 
importante saber diferenciar a Ética da Moral e do Direito. Estas áreas de 
conhecimento se distinguem, porém, têm grandes vínculos e até mesmo 
sobreposições. Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam 
estabelecer uma certa previsibilidade para as ações humanas. Ambas, porém, 
se diferenciam. A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, 
como uma forma de garantir o seu bem-viver. A Moral independe das fronteiras 
geográficas e garante uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem, 
mas utilizam este mesmo referencial moral comum. 
O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada 
pelas fronteiras do Estado. As leis têm uma base territorial, elas valem apenas 
para aquela área geográfica onde uma determinada população ou seus 
delegados vivem. Alguns autores afirmam que o Direito é um subconjunto da 
Moral. Esta perspectiva pode gerar a conclusão de que toda a lei é moralmente 
aceitável. Inúmeras situações demonstram a existência de conflitos entre a Moral 
 
 
19 
 
e o Direito. A desobediência civil ocorre quando argumentos morais impedem 
que uma pessoa acate uma determinada lei. Este é um exemplo de que a Moral 
e o Direito, apesar de referirem-se a uma mesma sociedade, podem ter 
perspectivas discordantes. 
A Ética é o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo 
ou injusto, adequado ou inadequado. Um dos objetivos da Ética é à busca de 
justificativas para as regras propostas pela Moral e pelo Direito. Ela é diferente 
de ambos, pois não estabelece regras. Esta reflexão sobre a ação humana é que 
caracteriza a Ética. 
 
3.1 Ética profissional: quando se inicia esta reflexão? 
 
Esta reflexão sobre as ações realizadas no exercício de uma profissão 
deve iniciar bem antes da prática profissional. A fase da escolha profissional, 
ainda durante a adolescência muitas vezes, já deve ser permeada por esta 
reflexão. A escolha por uma profissão é optativa, mas ao escolhê-la, o conjunto 
de deveres profissionais passa a ser obrigatório. Geralmente, quando você é 
jovem, escolhe sua carreira sem conhecer o conjunto de deveres que está preste 
a assumir tornando-se parte daquela categoria que escolheu. 
Toda a fase de formação profissional, o aprendizado das competências e 
habilidades referentes à prática específica numa determinada área, deve incluir 
a reflexão, desde antes do início dos estágios práticos. Ao completar a formação 
em nível superior, a pessoa faz um juramento, que significa sua adesão e 
comprometimento com a categoria profissional onde formalmente ingressa. Isto 
caracteriza o aspecto moral da chamada Ética Profissional, esta adesão 
voluntária a um conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais 
adequadas para o seu exercício. 
Mas pode ser que você precise começar a trabalhar antes de estudar ou 
paralelamente aos estudos, e inicia uma atividade profissional sem completar os 
estudos ou em área que nunca estudou, aprendendo na prática. Isto não exime 
você da responsabilidade assumida ao iniciar esta atividade. O fato de uma 
pessoa trabalhar numa área que não escolheu livremente, o fato de “pegar o que 
 
 
20 
 
apareceu como emprego”, por precisar trabalhar, o fato de exercer atividade 
remunerada onde não pretende seguir carreira, não isenta da responsabilidade 
de pertencer, mesmo que temporariamente, a uma classe, e há deveres a 
cumprir. Um jovem que, por exemplo, exerce a atividade de auxiliar de 
almoxarifado durante o dia e, à noite, faz curso de programador de 
computadores, certamente estará pensando sobre seu futuro em outra profissão, 
mas deve sempre refletir sobre sua prática atual. 
 
3.2 Ética profissional: como é esta reflexão? 
 
Algumas perguntas podem guiar a reflexão, até ela tornar-se um hábito 
incorporado ao dia-a-dia. Tomando-se o exemplo anterior, esta pessoa pode se 
perguntar sobre os deveres assumidos ao aceitar o trabalho como auxiliar de 
almoxarifado,como está cumprindo suas responsabilidades, o que esperam dela 
na atividade, o que ela deve fazer, e como deve fazer, mesmo quando não há 
outra pessoa olhando ou conferindo. 
Pode perguntar a si mesmo: Estou sendo bom profissional? Estou agindo 
adequadamente? Realizo corretamente minha atividade? 
É fundamental ter sempre em mente que há uma série de atitudes que 
não estão descritas nos códigos de todas as profissões, mas que são comuns a 
todas as atividades que uma pessoa pode exercer. 
Atitudes de generosidade e cooperação no trabalho em equipe, mesmo 
quando a atividade é exercida solitariamente em uma sala, ela faz parte de um 
conjunto maior de atividades que dependem do bom desempenho desta. Uma 
postura proativa, ou seja, não ficar restrito apenas às tarefas que foram dadas a 
você, mas contribuir para o engrandecimento do trabalho, mesmo que ele seja 
temporário. Se sua tarefa é varrer ruas, você pode se contentar em varrer ruas 
e juntar o lixo, mas você pode também tirar o lixo que você vê que está prestes 
a cair na rua, podendo futuramente entupir uma saída de escoamento e 
causando uma acumulação de água quando chover. Você pode atender num 
balcão de informações respondendo estritamente o que lhe foi perguntado, de 
forma fria, e estará cumprindo seu dever, mas se você se mostrar mais 
 
 
21 
 
disponível, talvez sorrir, ser agradável, a maioria das pessoas que você atende 
também serão assim com você, e seu dia será muito melhor. 
Muitas oportunidades de trabalho surgem onde menos se espera, desde 
que você esteja aberto e receptivo, e que você se preocupe em ser um pouco 
melhor a cada dia, seja qual for sua atividade profissional. E, se não surgir, outro 
trabalho, certamente sua vida será mais feliz, gostando do que você faz e sem 
perder, nunca, a dimensão de que é preciso sempre continuar melhorando, 
aprendendo, experimentando novas soluções, criando novas formas de exercer 
as atividades, aberto a mudanças, nem que seja mudar, às vezes, pequenos 
detalhes, mas que podem fazer uma grande diferença na sua realização 
profissional e pessoal. Isto tudo pode acontecer com a reflexão incorporada a 
seu viver. E isto, é parte do que se chama empregabilidade: a capacidade que 
você pode ter de ser um profissional que qualquer patrão desejaria ter entre seus 
empregados, um colaborador. Isto é, ser um profissional eticamente bom. 
 
3.3 Ética profissional e relações sociais 
 
O varredor de rua que se preocupa em limpar o canal de escoamento de 
água da chuva, o auxiliar de almoxarifado que verifica se não há umidade no 
local destinado para colocar caixas de alimentos, o médico cirurgião que confere 
as suturas nos tecidos internos antes de completar a cirurgia, a atendente do 
asilo que se preocupa com a limpeza de uma senhora idosa após ir ao banheiro, 
o contador que impede uma fraude ou desfalque, ou que não maquia o balanço 
de uma empresa, o engenheiro que utiliza o material mais indicado para a 
construção de uma ponte. Todos estão agindo de forma eticamente em suas 
profissões, ao fazerem o que é correto, mesmo quando não estão sendo 
observados, preocupando-se assim, não só com os deveres profissionais, mas 
também, com as pessoas. 
As leis de cada profissão são elaboradas com o objetivo de proteger os 
profissionais, a categoria como um todo e as pessoas que dependem daquele 
profissional, mas há muitos aspectos não previstos especificamente, e que 
 
 
22 
 
fazem parte do comprometimento do profissional em ser eticamente correto, 
aquele que, independente de receber elogios, faz a coisa certa. 
 
3.4 Ética profissional e atividade voluntária 
 
 Outro conceito interessante de examinar é o de Profissional, como aquele 
que é regularmente remunerado pelo trabalho que executa ou atividade que 
exerce, em oposição a Amador. Nesta conceituação, se diria que aquele que 
exerce atividade voluntária não seria profissional, e esta é, uma conceituação 
polêmica. 
Em realidade, voluntário é aquele que se dispõe, por opção, a exercer a 
prática Profissional não-remunerada, seja com fins assistenciais, ou prestação 
de serviços em beneficência, por um período determinado ou não. Aqui, é 
fundamental observar que só é eticamente adequado, o profissional que age, na 
atividade voluntária, com todo o comprometimento que teria no mesmo exercício 
profissional se este fosse remunerado. 
Seja esta atividade voluntária na mesma profissão da atividade 
remunerada ou em outra área. Por exemplo, um engenheiro que faz a atividade 
voluntária de dar aulas de matemática. Ele deve agir, ao dar estas aulas, como 
se esta fosse sua atividade mais importante. É isto que aquelas crianças cheias 
de dúvidas em matemática esperam dele. Se a atividade é voluntária, foi sua 
opção realizá-la. Então, é eticamente adequado que você a realize da mesma 
forma como faz tudo que é importante em sua vida. 
 
3.5 Ética profissional: pontos para sua reflexão 
 
É imprescindível estar sempre bem informado, acompanhando não 
apenas as mudanças nos conhecimentos técnicos da sua área profissional, mas 
também, nos aspectos legais e normativos. Vá e busque o conhecimento. Muitos 
processos ético-disciplinares nos conselhos profissionais acontecem por 
desconhecimento, negligência. 
 
 
23 
 
Competência técnica, aprimoramento constante, respeito às pessoas, 
confidencialidade, privacidade, tolerância, flexibilidade, fidelidade, envolvimento, 
afetividade, correção de conduta, boas maneiras, relações genuínas com as 
pessoas, responsabilidade, corresponder à confiança que é depositada em você. 
Comportamento eticamente adequado e sucesso continuado são indissociáveis. 
 
Quem é o melhor colaborador? 
 
a) Não é o mais “inteligente” e “brilhante” – é o mais “comprometido”; 
b) É o que atende aos pedidos imediatamente – tanto dos chefes quanto 
dos clientes e colegas de trabalho; 
c) É o sempre pronto a colaborar com seus colegas de trabalho – mesmo 
quando a tarefa não é sua; 
d) É o que participa, dá opiniões, “briga pela empresa” – mesmo correndo 
o risco de não ser bem compreendido; 
e) É o que termina as coisas que começa; 
f) É aquele presta atenção aos detalhes nas coisas que faz – procura 
fazer tudo bem feito em seus detalhes; 
g) É o que demonstra estar feliz – abaixo os “entediados” no trabalho; 
h) É o que estar constantemente procurando saber mais sobre a 
empresa – para poder servir melhor, clientes e colegas; 
i) É aquele que repassa as informações relevantes a seus subordinados 
e chefes – não “guarda” informações relevantes para si como forma 
de demonstrar “poder”; 
j) É aquele que “não fica olhando o tempo todo para o relógio” – para 
saber a hora de ir embora; 
k) É o ético – no sentido mais amplo da palavra – não mente, respeita os 
clientes e os colegas – sejam superiores ou subordinados; 
l) É o “comprometido com a marca e com os produtos da empresa”; 
m) É aquele que “respeita” o ambiente de trabalho desde como se veste, 
até como se comporta, até o que fala; 
n) É o mais “polido” e “educado” – além de competente. 
 
 
24 
 
3.6 Sigilo de Informações 
 
Uma empresa independente de ser pequena, média ou uma grande 
corporação tem sua forma própria trabalhar, metas, dados estatísticos, etc. 
As informações que tomamos conhecimento com nosso trabalho, devem 
ser restritas a empresa, pois não é ético divulgar assuntos de interesse da 
empresa a pessoas externas. Pode ocorrer de um colaborador tomar 
conhecimento de um assunto que não lhe diz respeito, pois ficou sabendo “por 
acaso” e sair falando a todos inclusive dentro da própria empresa a outros 
colegas, depois se o fato de forma diferente ou não ocorre, todos ficarão sabendo 
da notícia e por onde ela começou. 
Exemplos de comportamento inadequados: 
 
a) Um colaborador do departamento de pessoal ouviu seu gerente falar 
com o diretor que teriam um aumento de 10%, pronto a notícia seespalhou e aumento só era para os cargos de chefia. As 
consequências, não poderiam ser piores, uma insatisfação enorme. 
b) Na fila do banco dois “boys” conversando, um deles divulga uma 
estratégia de marketing da venda de sabonete SPERT e o outra escuta 
calmo e tranquilo, quando chega de volta a empresa em que trabalha 
procura seu chefe e divulga o fato, pois se tratam de empresas 
concorrentes, cujo principal produto é o tal do sabonete. 
 
 
 
 
25 
 
4 ÉTICA PROFISSIONAL NO CAMPO ARISTOTÉLICO 
 
O discurso exposto pelo realismo aristotélico, considerava o universo 
como ordenado por leis constantes e imutáveis. Essa ordem rege não só 
fenômenos naturais, mas também, os de ordem política, moral ou estética. 
Alegando existir uma ciência "primeira", a metafísica, que estuda o ser e procura 
enunciar que essa ordem torna inteligíveis todos os fenômenos. 
Neste cenário, a teoria ética filosófica objetiva estabelecer o bem tanto ao 
indivíduo quanto à sociedade num todo. Então, o comportamento ético é o que 
se considera prudente. Porém, uma questão central que a moral e a ética tratam, 
e que é muito difícil de responder, é "como devo agir para com os outros?". A 
visão sob a ética na filosofia grega clássica se faz mais empírica, claramente 
exposta nas obras de Aristóteles. 
A ética, segundo Aristóteles (2009), serve como condução do ser humano 
à felicidade, no sentido mais amplo da palavra. E é em toda interação, na 
dinâmica do convívio social, que se possibilita transparecer os valores éticos e 
morais humanos, assim como o desenvolvimento destes. 
Aristóteles acreditava que o exagero é motivador para a criação de 
conflitos com outros indivíduos ou com a sociedade, e enquanto tal pode afetar 
o nosso caráter, com isso os excessos prejudicam a imagem do homem social. 
E é na observação e reflexão de tais fatos que irá surgir, originar-se a doutrina 
do justo meio, onde a virtude intermedia pontos extremos, os vícios ou defeitos 
de caráter. O comedimento, a moderação, o afastamento do excedente vêm para 
amparar a conduta virtuosa. 
Em a Ética a Nicômaco, principal obra de Aristóteles sobre ética, o 
pensador esclarece que a finalidade suprema que governa e justifica a maneira 
do ser humano conduzir seus atos e sua vida é a felicidade, que não está 
correlatada com os prazeres, nem implícita nas honrarias recebidas pelo ente 
agraciado, mas numa vida repleta de posturas e comportamentos virtuosos. E o 
homem dotado de prudência e habituado ao exercício de tal, encontra no justo 
meio entre os extremos de seus atos e decisões a virtude. 
 
 
26 
 
Então, seguindo a concepção do realismo aristotélico de que uma ordem 
subjacente rege as coisas, a virtude aparece como a medida determinada por 
esta ordem e pelos fins que a sobre determinam visando o desenvolvimento 
pleno do ser humano. 
 
Costuma-se dizer que nada há que acrescentar nem tirar nas coisas 
bem-feitas, considerando-se que o excesso ou a falta destrói a 
perfeição e a justa medida a conserva [...]. E a virtude que é mais 
perfeita e melhor que toda a arte, do mesmo modo que a natureza, 
tenderá para o meio. [...] Chamo meio da coisa o igualmente distante 
dos extremos, que é um e idêntico para todos, meio a respeito de nós, 
o que não é excesso nem falta. E este não é único nem idêntico para 
todos. (ARISTÓTELES, 2009) 
 
A virtude é uma disposição adquirida voluntariamente, consistindo, em 
relação a nós, em uma medida, definida pela razão conforme a conduta 
de um homem que age refletidamente. Ela consiste na medida justa 
entre dois extremos, um pelo excesso, outro pela falta. 
(ARISTÓTELES, 2009) 
 
Portanto, a virtude está no meio termo das decisões de comportamento, 
de como atuar para uma situação específica, e o vício se dá pela falta ou pelo 
excesso. Procurando estabelecer uma aplicação de tal conceito, creio que não 
seria um equívoco dizermos que, em um processo de negociação onde as partes 
têm interesses diferentes, chegar à satisfação desejável destas (cliente e 
empresa) é o que podemos chamar de virtude, enquanto que seus opostos são: 
a exploração do poder aquisitivo do cliente aproveitando o seu desconhecimento 
quanto ao custo-benefício do objeto da venda e o valor monetário de mercado 
comum ao mesmo objeto (excessos na margem de lucratividade sobre o custo 
do produto); e a concessão de descontos maiores que o lucro obtido na 
negociação na tentativa de fidelizar este cliente desvalorizando o valor monetário 
de mercado do objeto da venda e seu custo-benefício (ausência de lucratividade 
sobre o custo do produto). 
 
[...] a virtude está em nosso poder, do mesmo modo que o vício, pois 
quando depende de nós o agir, também depende o não agir, e vice-
versa. de modo que quando temos o poder de agir quando isso é nobre, 
também temos o de não agir quando é vil; e se está em nosso poder o 
não agir quando isso é nobre, também está o agir quando isso é vil. 
logo, depende de nós praticar atos nobres ou vis, e se é isso que se 
 
 
27 
 
entende por ser bom ou mau, então depende de nós sermos virtuosos 
ou viciosos. (ARISTÓTELES, 2009) 
 
Em suma, para Aristóteles a ética é tratada como a ciência das condutas 
humanas, objetivando enfim comprometer-se em possibilitar ao homem a 
garantia da felicidade através de uma vida regida por virtudes morais e éticas. 
Pois, a razão deve direcionar o cotidiano, e com isso dominar os vícios e criar 
bons hábitos, e a mediana entre as atitudes, as condutas e as decisões, é o mais 
importante para estabelecer o equilíbrio e proporcionar o bem, assim como o 
desenvolvimento harmonioso do ser em seu meio. 
 
4.1 Ética na sociedade brasileira 
 
Trazendo a teoria ética aristotélica para a nossa realidade atual, parece-
nos à primeira vista que o cidadão brasileiro, em grande parte, esqueceu ou 
optou por distanciar-se de certos "valores formadores". 
Ressaltando que, o comportamento ético é o ato de agir, de decidir, de 
fazer o bem de fato, por uma conduta virtuosa na comunidade em que estamos 
inseridos, deste modo conduzimos uma vida mais harmoniosa em sociedade, na 
busca da felicidade, da liberdade e da justiça. E na filosofia moderna, a conduta 
virtuosa designa uma disposição moral para o bem individual e comum. 
A sociedade brasileira, nas últimas décadas, vem sofrendo grandes 
alterações, principalmente se considerarmos o comportamento dos cidadãos, as 
crenças e os valores culturais. Modificações estas, que veem deixando perplexa 
uma gama cada vez maior de seus cidadãos, no entanto, seria aceitável, ou 
melhor, seria consciente esta perplexidade, uma vez que esta transformação se 
não foi por ela motivada, não deixou de por ela ser aceita? Portanto, vive-se hoje 
em nosso país em uma imensa e profunda crise moral e ética. 
O que falar dos sucessivos escândalos na política, que alcançam da mais 
baixa a mais alta esfera dos cargos públicos? Da utilização de verbas públicas 
para interesses particulares e enriquecimentos ilícitos? O que dizer do cidadão 
que se diz indignado com a corrupção dos políticos, no entanto, em suas ações 
 
 
28 
 
particulares age dentro da mesma lógica, por exemplo, furar fila em bando? Ou 
pagar propina para receber a carteira de motorista sem fazer o teste? Comprar 
o voto de eleitores "inconscientes" ou "indecentes" por meio de programas 
assistencialistas? Assim como, vender a sua cidadania e perder a sua dignidade 
em prol de quantias irrisórias e ou a obtenção de uma subsistência pelo menor 
esforço? Outro exemplo desta inversão: hoje, interpretar a criminalidade como 
principal causa da exclusão social e da heterogeneidade na concentração de 
renda é entender apenas parte da dimensão desta realidade, devido a estas não 
serem causas e sim, consequências. 
O problema da exclusão não é somente social, é, principalmente, moral. 
Pois, vemos que, não é a vontade de seguir em conformidade com normas deconduta ética ou leis estabelecidas para a sociedade que faz com que os 
cidadãos brasileiros se comportem como espera o meio social, e sim, o medo de 
sansões punitivas originárias de desvios de conduta. 
Neste quadro, seguem "impregnados" na rotina dos brasileiros, 
novamente sem generalismo, atos imorais e antiéticos, o que não concede 
direitos de julgamento e crítica a transgressões corruptas em qualquer ordem 
social, pois o "jeitinho brasileiro" também se configura inserido numa moral 
oportunista, onde o individualismo ampara o interesse do triunfo conveniente em 
detrimento do interesse do outro ou da coletividade. Passando o Brasil a carregar 
consigo a imagem de uma sociedade corruptora e corruptível, descrente das 
práticas virtuosas de seu povo e das suas instituições. 
Contudo, existem os íntegros em que se pode confiar; àqueles que não 
pensam egoisticamente, que se incomodam com o rompimento dos valores 
éticos e morais na dinâmica das relações sociais. E, ainda, no íntimo ou 
explicitamente, ninguém quer ser flagrado em desvios de conduta, transgredindo 
a posturas esperadas pela coletividade a que está inserido, ou a valores culturais 
preestabelecidos. É a partir desta moral da integridade que se emoldura o 
homem virtuoso, honesto, leal, idôneo, amparado por uma postura ética 
fundamentada nos princípios aristotélicos para a busca da convivência 
harmônica do ser com seu meio em prol do bem individual e comum. 
 
 
 
29 
 
4.2 O meio profissional e empresarial 
 
Atualmente, a ética se faz essencial para a interação no meio social 
comum, e assim, também se faz primordial na regulação e regulamentação das 
relações profissionais e empresariais, numa contextualização que deixa de ser 
mais empírica, filosoficamente como tratava Aristóteles, e passa a ser mais 
descritiva na conduta ética regida por códigos normativos. A aplicação da ética 
é sumariamente importante para a efetividade profissional e organizacional, 
principalmente no Brasil, que traz em seu povo valores deturpados do que é 
moral e virtuoso, e a descrença no que se afirma responsável socialmente. 
No âmbito profissional, a ética é relevante por estar presente nas menores 
atitudes e fica claro que em todas as profissões existe uma maneira certa, 
prudente e justa, de decidir, de conduzir e fazer uma específica tarefa em uma 
determinada atividade profissional. Assim, a ética auxilia no desenvolvimento do 
bem-estar individual e coletivo por caminhos regidos pela virtude nos atos 
funcionais e administrativos dentro de uma empresa, no segmento liberal ou no 
segmento autônomo, em prol da harmonia social. 
E para tal, existe o código de ética profissional, um instrumento regulador 
que apresenta normas de conduta para o cumprimento de determinada 
profissão. Sendo de interesse geral dos inseridos naquela classe, na tentativa 
de levar o profissional ao cumprimento do exercício de uma virtude obrigatória, 
com existência de órgãos fiscalizadores e controladores do respeito ao referido 
código na execução das atividades pertinentes a profissão. Abaixo, o juramento 
do administrador: 
 
Prometo dignificar minha profissão, consciente de minhas 
responsabilidades legais, observar o Código de Ética, objetivando o 
aperfeiçoamento da Ciência da Administração, o desenvolvimento das 
instituições e a grandeza do homem e da pátria. (CFA, s.d.) 
 
No meio empresarial, as instituições públicas ou privadas passaram a 
perceber como a ética é necessária para que o mercado tenha uma visão mais 
positiva da sua missão para com o público alvo de seus negócios e a sociedade, 
como exemplo, partindo a tratar com maior ênfase mecanismo que efetivamente 
 
 
30 
 
maximize a responsabilidade social e ambiental das organizações, a fim de 
afirmar uma imagem de comprometimento com o futuro da coletividade e do bem 
comum para desenvolvimento e sustentabilidade tanto da instituição quanto de 
sua relação com o meio inserido. 
Enfim, a ética empresarial condiz com um valor da organização que 
proporciona sua reputação e, consequentemente, seus bons resultados. A ética 
empresarial é "[...] o comportamento da empresa - entidade lucrativa - quando 
ela age de conformidade com os princípios morais e as regras do bem proceder 
aceitas pela coletividade (regras éticas)". (MOREIRA, 1999) 
 
 
 
 
 
31 
 
5 ÉTICA DO DISCURSO EM JÜRGEN HABERMAS: A IMPORTÂNCIA DA 
LINGUAGEM PARA UM AGIR COMUNICATIVO 
 
O discurso e o agir comunicativo na ética de Habermas é desenvolvido a 
partir da sua obra intitulada “consciência moral e agir comunicativo”, onde o autor 
desenvolve sua teoria a partir do discurso e do consenso desenvolvido pela 
comunicação. O agir comunicativo nasce na tentativa de fundamentar a ética a 
partir do discurso, levando em consideração a comunicação entre os sujeitos. 
Assim, a ética pautada no agir comunicativo busca a legitimidade das normas 
morais na intersubjetiva. De acordo com Lima: 
 
[...] a ética do discurso emerge dentro da filosofia alemã a partir dos 
anos 70 do século XX – com Apel e Habermas – como uma tentativa 
de oferecer uma fundamentação para o agir moral, fundamentação 
esta que busca transcender os limites das alternativas éticas de cunho 
metafísico-subjetivista. (LIMA, 2015, p. 2013) 
 
Este capítulo pretende demonstrar uma análise sobre a questão ética do 
discurso dentro do pensamento de Habermas, e sobre o consenso desenvolvido 
em uma comunidade (sociedade), que vise uma pragmática universal com o 
discurso; quais os pressupostos que conduzem o discurso para que se tenha 
validade universal normas morais, onde todos os interlocutores possuem direitos 
de expressarem seus pensamentos sobre as leis e ética vigente na comunidade. 
Na primeira parte será explicitado o significado do discurso no pensamento de 
Habermas, levando em consideração a importância que o discurso desempenha 
no agir comunicativo. O discurso desta forma torna-se a ação exercida pelos 
falantes para que aconteça o consenso; o discurso bem elaborado cria as 
possibilidades racionais para a existência do agir comunicativo. Na segunda 
parte, é feita uma análise sobre o agir comunicativa e qual a importância que 
essa ação exerce para a existência de uma ética que vise o consenso entre os 
interlocutores. Na terceira parte, é desenvolvida uma verificação sobre a 
importância da linguagem na ética discursiva de Habermas, tendo como principal 
característica a dependência que a ética tem da linguagem. 
 
 
 
32 
 
5.1 Significado do discurso para Habermas 
 
Antes de tudo é necessário entender o que Habermas quer dizer com o 
sentido do “Discurso”. De acordo com Peres Filho (2012, p. 13), em sua 
dissertação de mestrado, Habermas entende o “Discurso” “como sendo a ação 
social, comunicativa e consensual, que se dá por meio da linguagem e é 
orientada para o entendimento de participantes”. Diante disso, citando como 
exemplo dois indivíduos que estejam em quaisquer momentos, com desejo de 
se comunicarem, expõem, em qualquer tipo de ato de fala, presunções de 
validades universais. Segundo Lubenow: 
 
[...] todas as morais se movimentam em torno dos princípios relativos 
à igualdade de tratamento, à solidariedade e ao bem-estar geral. Estas 
são noções fundamentais que se reportam às condições de simetria e 
às expectativas de reciprocidade da ação comunicativa. (LUBENOW, 
2011, p. 63) 
 
Habermas também em sua Ética do Discurso procura sair daquilo que se 
prende somente à consciência. 
 
Ética do Discurso procura o ponto de partida kantiano, meramente 
interior e monológico procura superar a perspectiva monológica do 
paradigma da consciência, que atribui unicamente ao indivíduo 
singular à capacidade de examinar em seu foro interno as máximas da 
ação (LUBENOW, 2011, p. 65). 
 
O outro passo dado na Ética pensada por Habermas é tirar a razão como 
sendo o centro do julgamento e colocando o diálogocomo possibilidade de 
entendimento para os debates. Isso para não se cair em uma filosofia da 
consciência que incorre em solipsismo, quando uma consciência estaria 
adequada para projetar normas. Para Habermas o sentido das tradições deve 
ser antes de tudo, compartilhada em um diálogo consensual para que se chegue 
a leis com validade universal. 
É na argumentação que acontece a troca de ideias, no diálogo que surge 
o consenso em meio a tantos pensamentos. Aqui conta basicamente a 
intersubjetividade de entendimento que se desenvolve na rede comunicativa 
política. E na busca pelo sentido da verdade na ética do discurso, o diálogo deve 
 
 
33 
 
estar isento de qualquer ato de dominação, pois o consenso deve ser racional 
onde ambas as partes devem ser ouvidas. Vale ressaltar que a participação deve 
ser ativa e não de meros participantes que se deixam conduzir por diálogos que 
não condizem que a validade das normas éticas da comunidade. A 
argumentação deve estar desprovida de qualquer barganha ou incentivo 
negativo ligado à regalia. Dessa forma, a argumentação não está ligada com a 
consciência subjetiva, mas com ideia coletiva, onde os participantes discutem 
sobre o dever moral de maneira a facilitar a existência do consenso. 
 
5.2 Ética do discurso e a importância do agir comunicativo 
 
A Ética do discurso de Jürgen Habermas trata das questões filosóficas 
morais e políticas, onde a ética tem espaço dentro do discurso comunitário frente 
a um agir comunicativo que, para ele, se caracteriza como a oportunidade que 
todos os falantes têm para se expressarem frente às normas e condutas morais. 
Nessa ação, deve se ter como ideia fundamental, a interação mútua entre os 
sujeitos, para que só assim, seja possível acontecer uma ética pautada no 
discurso. Quanto a isso Habermas, esclarece o significado fundamental de 
interação comunicativa: 
 
[...] chamo comunicativa as interações nas quais as pessoas 
envolvidas se põem de acordo para ordenar seus planos de ação, o 
acordo alcançado em cada caso medindo-se pelo reconhecimento 
intersubjetivo das pretensões de validez. (HABERMAS, 1989, p. 79) 
 
Dessa maneira, a ideia fundamental do agir comunicativo é norteada pela 
interação entre os interlocutores dando oportunidades para que a ação seja 
exercida por todos sem que haja repreensão. A validez das normas possui 
sentido aceitável somente a partir do consenso entre os interlocutores. E esse 
consenso surge como a ação comunicativa de maneira racional exercida por 
todos aqueles que fazem parte da comunidade. 
Com isso, a validez nasce da discussão e ação elaborada pelos 
participantes. Segundo o próprio Habermas (1989), essa discussão serve para 
justificar os argumentos que forem discutidos dentro da comunidade, e fazer com 
 
 
34 
 
que tais argumentos tenham validade. O agir comunicativo por sua vez vai dar 
possibilidades a existência da validade das normas dentro da comunidade e 
possibilita uma ética ligada à linguagem. Assim, a ética discursiva de Habermas 
se torna dependente da linguagem exercida pelos participantes, pois é diante da 
linguagem coordenada que se compreende e se chega ao entendimento mútuo. 
Habermas (1990, p. 72), coloca que “uma vez que o agir comunicativo 
depende do uso da linguagem dirigida ao entendimento, ele deve preencher 
condições mais rigorosas”. E a partir dessas condições os participantes discutem 
suas ideias e fazem suas argumentações deliberando um planejamento de 
ações e normas. Apesar de a linguagem ter participação na ética discursiva 
habermasiana, não é qualquer discurso que se torna válido e nem muito menos 
qualquer participação por parte dos falantes. Tal ação deve ser coordenada e 
exercida racionalmente. Vale lembrar que a razão comunicativa aqui empregada, 
não é mesma razão expressa por Kant, quando o mesmo coloca a ação moral 
sobre a parte subjetiva. Em relação à maneira como deve ser apreendida à ação 
exercida sobre as questões normativas, Habermas esclarece, e faz a distinção 
entre o agir comunicativo e o agir estratégico: 
 
No agir estratégico um atua sobre o outro para ensejar a continuação 
desejada de uma internação, no agir comunicativo um é motivado 
racionalmente pelo outro para uma ação de adesão, e isso em virtude 
do efeito ilocucionário de comprometimento que um ato de fala suscita. 
Que um falante possa motivar racionalmente um ouvinte à aceitação 
de semelhança não se explica pela validade do que é dito, mas, sim 
pela garantia assumida pelo falante, tendo um efeito de coordenação, 
de que se esforçará, se necessário, para resgatar a pretensão erguida. 
(HABERMAS, 1989, p. 79) 
 
É sobre o agir comunicativo e não tão importante, o agir estratégico, que 
Habermas trabalha sua teoria da ética do discurso. Somente numa ação exercida 
racionalmente é possível encontrar adesões dentro da comunidade, pois é diante 
da intersubjetividade que o ato do falante terá grande respaldo e poderá ser tido 
como válido. A validez a que Habermas explica na citação é a de que só é 
aceitável o discurso que apresente validade racional, não sendo apenas algo dito 
de forma arbitrária ou que sofra influências externas. As forças que manterão as 
normas com validade dentro da comunidade não estão é um plano teleológico, 
 
 
35 
 
mas na própria ação comunicativa que se desenrola em “força racional 
motivadora de atos de entendimento” (HABERMAS, 1990, p. 72). 
Diante disso, é na razão comunicativa que surge um acordo pautado no 
consenso. Essas argumentações são desenvolvidas através do conhecimento 
moderno de mundo, frente à existência de uma sociedade com seres coerentes, 
mas com princípios segmentados pelo pluralismo desenvolvido dentro de cada 
espaço, sendo dessa maneira não inevitável, mas às vezes acaba por ser 
desejável, principalmente de acordo com modelos de vida específicos, 
desenvolver um ponto de vista moral, onde os interlocutores possam definir as 
ações de maneira cooperativa. De acordo com Lubenow: 
 
Para Habermas, o ponto de vista moral é o que permite uma avaliação 
imparcial das questões morais; ele nada mais é do que o lugar, a 
perspectiva, que torna possível reconstruir as intuições, os valores, as 
normas do mundo vital e julgar imparcialmente conflitos morais 
concretos, principalmente os que nascem no contexto da validade e 
obrigatoriedade de normas morais. (LUBENOW, 2011, p. 60) 
 
Assim, a Ética do Discurso de Habermas surge diante do pluralismo e da 
maneira de desenvolver validades universais em meio a tantas controvérsias e 
formas de pensa diferentes. Para tanto, segundo Habermas (1996, p. 15) é 
preciso “reconstruir a validade universal do discurso”, validade esta que está 
inserida em qualquer ambiente, discurso e sociedade. De acordo com Hamel: 
 
A partir de Habermas, a ética passa a implicar coletividade, 
remodelando também a esfera pública, que deve ser pluralista, com 
forte consequência para as relações sociais, consubstanciando, ainda, 
uma realocação do direito moderno aliado a uma nova função, qual 
seja, a de garantir as regras democráticas de participação popular. 
(HAMEL, 2011, p. 165) 
 
A ética exposta por Habermas está fundamentada na perspectiva em que, 
a razão comunicativa deve ser a base principal que direciona os seres humanos 
dentro de uma comunidade, de forma que mantenham um diálogo que se traduza 
válidos universalmente, e que vise o bem comum e normas que estejam de 
acordo com o entendimento mútuo. Habermas ao colocar a linguagem como 
 
 
36 
 
força para a existência de uma ética do discurso mostra como deve agir os 
participantes e como o entendimento mútuo através da linguagem acontece. 
Essa razão comunicativa proporciona assim, por se dizer, 
responsabilidade comunicativa por parte de cada indivíduo em relação ao outro. 
É diante das falas dos participantes que dá sentido à validade das normas e 
reconhecimento intersubjetivo. É cooperaçãoe não em uma razão meramente 
subjetiva que se encontra a válida ou critério de verdade das normas. A busca 
pela validade da ação moral em Habermas não está em um sujeito isolado, mas 
no sujeito se relacionando com outro sujeito, existindo assim, a 
intersubjetividade. A ética do discurso não é embasada em um só individuo, mas 
na coletividade e na cooperação entre os indivíduos. 
Com isso, passa a se ter uma ideia de ética coletiva e normas escolhidas 
por todos sem uma força externa à comunidade e sem espaço para que um 
participante se interponha sobre o outro. Daí, pode-se dizer que existe na teoria 
ética habermasiana cooperação, solidariedade e uma vida que tem como 
pretensão o bem. 
Quanto a isso, comenta Zanella (2012, p. 134), Habermas traz “uma 
proposta de uma ética do viver bem, da felicidade e da solidariedade entre os 
indivíduos capazes de linguagem e ação”. Assim, essa ética foge dos moldes de 
uma ética meramente instrumental e passa a ser uma ética que tem a linguagem 
como pressuposto importante para a ação e comunicação para se chegar a uma 
moral dentro do agir comunicativo. 
O pensamento de Habermas sobre a argumentação comunitária parte do 
pensamento de Apel, visando uma fundamentação universalizada que possibilite 
leis morais escolhidas dentro de um âmbito democrático, onde todos os sujeitos 
poderão dar suas opiniões. Habermas retoma o pensamento sobre a ética do 
discurso de Karl-Otto Apel, onde o discurso dentro de uma comunidade é levado 
a sério. Assim, a linguagem tornaria o discurso de cada sujeito na ação prática, 
sendo que, o que foi escolhido por todos não seria infligido. Segundo Zanella 
(2012, p. 134) “Habermas defende a ideia de que a atividade argumentativa é 
uma ocupação eminentemente comunicativa”. 
 
 
37 
 
Desta forma, não mais seguindo uma ética direciona racionalmente como 
a proposta por Kant, mas uma ética que trabalhe a razão comunicativa abrindo 
espaço para a intersubjetividade dentro das relações dos seres que participam 
de determinados grupos. Assim, de acordo com Machado (1988, p. 36) “o sentido 
da comunidade da comunicação tem como pressuposto o reconhecimento de 
todos os membros com iguais direitos de discussão”, em que todos têm espaço 
para se expressarem de maneira livre. A pragmática é levada em consideração 
para Habermas, pois possibilita a ação do homem dentro dessa comunidade 
usando a linguagem. Vale ressaltar que a comunidade é real, sendo que, o 
discurso é entendido por todos do grupo. 
A teoria do discurso de Habermas é desenvolvida a partir do pensamento 
kantiano, com critérios morais racionais. Mas que depois passa por uma nova 
roupagem deixando de lado o indivíduo e dando possibilidades para que se 
pense o comunitário. Para Hamel (2011), a Ética do discurso de Habermas é 
uma reconfiguração do pensamento “deontológica” da Ética de Immanuel Kant, 
quando o dever está atrelado à razão de forma que agir racionalmente implica 
cumprir com obrigações éticas, sendo a razão o campo justiceiro para quem não 
cumpra com a moral. 
Ainda de acordo com Hamel ao comentar sobre Kant (2011, p. 165), “o 
estudo da ética deveria ser precedido da análise da metafísica da natureza e dos 
costumes, ressaltando a necessidade desta última para a construção de uma 
filosofia moral pura”. Habermas escreve sua teoria frente a um mundo pós-
metafísico do pensamento. A principal via escolhida por Habermas é do 
universalismo moral kantiano, como uma saída possível diante de tantos debates 
políticos, religiosos em um mundo com várias culturas. Habermas pretende uma 
ética universal inserida no meio social, sendo que, neste espaço é passível de 
erros, levando em consideração a própria ação que é exercida na comunidade. 
Mas esses erros são corrigíveis dentro do entendimento mútuo. E nessa relação 
de entendimento mútuo é possível se compreender o sentido pragmático 
universal. 
A abertura que o agir comunicativo faz, é convertida em ação entre os 
participantes, sendo que tal ação torna possível a existência de dois perfis. A 
 
 
38 
 
ética do discurso de Habermas dá espaço à maneira com que a linguagem 
possibilita uma forma pragmática de ação. Para Peres Filho (2012, p. 11), 
Habermas propõe uma pragmática formal, diferente da pragmática científica que 
analisava os contextos da linguagem, onde essa pragmática visa principalmente 
a reconstrução da validade universal do discurso, sendo que essa pragmática 
tem seu apoio principal em Kant. 
Assim, Habermas ao romper com a tradição, cria uma teoria baseada na 
pragmática ética, onde o espaço principal de fundamentação é a linguagem. É 
com a comunicação entre os interlocutores que a ética do discurso de Habermas 
ganha força e contribui para o consenso na comunidade. Dessa maneira, a 
linguagem é responsável por traduzir o pensamento de todos os participantes da 
comunidade, fazendo com que o espaço social se torne mais compreensível e 
comunicativo. Dessa maneira, a linguagem torna-se importante no pensamento 
de Habermas e faz com que todos os seres do espaço comunicativo participem 
de forma ativa e esclarecedora dos fatos morais existentes na comunidade. 
Vive-se hoje, no Brasil, um momento de redescoberta da ética, de ânsia 
por incorporar valores morais nas nossas práticas cotidianas, nas atividades 
científicas, políticas, econômicas, etc. Isto decorre do lamento geral de que 
estamos vivendo uma grave crise, a qual é identificada pelo senso comum pela 
falta de decoro e de compostura e pelos intelectuais, como uma anomia, ou seja 
pela ausência de condições que garantam a interiorização do respeito às leis e 
às regras sociais por parte dos indivíduos. Para muitos estudiosos, esta é uma 
crise decorrente da pós-modernidade, onde se privilegia a heterogeneidade, a 
diferença, a fragmentação e a descontinuidade. 
Para outros, ela não ultrapassou a modernidade, ao contrário, se instalou 
no seu seio apesar de alicerçar-se em novas bases, onde a prática pedagógica 
do adestramento e da manipulação estão sendo questionadas, a supremacia da 
razão e a adesão cega às leis já não encontram eco e onde os homens exigem 
ser tratados como organismos vivos, capazes de pensar, sofrer, se organizarem 
e construírem valores. Neste quadro de "crise" os cidadãos se organizam e 
clamam por respeitabilidade, por seriedade, justiça social e por valores morais. 
 
 
39 
 
Também os indivíduos, enquanto membros de categorias profissionais, 
investem em criar regras de conduta que possam garantir a convivência com 
seus pares, seus clientes, com as instituições a que fazem parte. etc. Resta 
saberem que bases essas regras acham-se alicerçadas, a que elas realmente 
se propõem, a que elas servem. É disto que trataremos neste capítulo. Para tal 
iniciaremos traçando um panorama dos valores morais que vigoram nas 
sociedades contemporâneas; em seguida, buscaremos compreender a relação 
existente entre os valores gerais da sociedade e os valores particulares que 
regem as condutas dos indivíduos enquanto membros de grupos de trabalho, 
identificaremos os pilares em que se embasam os atuais códigos profissionais 
da ética e por último, buscaremos distinguir até onde eles podem ser tomados 
como deontológicos - éticos - e até onde servem apenas aos interesses 
instituídos. 
 
5.3 Os valores morais na modernidade 
 
Dois fatos podem ser ilustrativos das transformações por que passaram 
os homens nas sociedades modernas. O primeiro diz respeito à evolução da arte 
de retratar e o segundo, à substituição do ato de biografar. No que se refere ao 
primeiro, havia uma tendência, até o advento da modernidade, a se retratar 
apenas os "universais concretos" - deuses, heróis e santos - com ela inaugurou-
se a prática de retratar o homem em detrimento do seu nome sua condição social 
e outros atributos. Do mesmo modo aconteceu no campo da literatura. Antes não 
havia espaço para

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