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GINEAD AUDITORIA CONTÁBIL Unidade 1 - Origem, características e conceitos da auditoria SST Moreno, Fernanda Gualda; Pereira, Beatriz da Silva Unidade 1 - Origem, características e conceitos da auditoria / Fernanda Gualda Moreno; Beatriz da Silva Pereira Ano: 2020 nº de p.: 20 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Unidade 1 - Origem, características e conceitos da auditoria 3 Objetivos específicos • Abordar e compreender origem, características e conceitos da auditoria. • Diferenciar auditoria contábil dos demais tipos de auditoria, bem como dos diversos ramos da contabilidade. Apresentando a unidade Olá! Seja bem-vindo à disciplina de Auditoria Contábil. Nesta unidade, vamos aprender sobre a origem da auditoria, como ramo da contabilidade, e os diversos conceitos envolvidos na área. Esse conhecimento é fundamental, pois os avanços tecnológicos, principalmente em termos de sistemas, e o excesso de informação presente em nossas vidas podem ocasionar diversos transtornos, já que, muitas vezes, a mesma informação nos é transmitida por diferentes meios, o que pode criar distorções, como naquela brincadeira de “telefone sem fio”, não é mesmo? Devemos ainda considerar o risco de recebermos uma informação ambígua, criando um ruído no processo de comunicação entre o emissor e o receptor, impossibilitando a compreensão verdadeira de um fato. Origem da auditoria Você sabia que a auditoria surgiu da necessidade de se controlar ou verificar a condução de processos e procedimentos para a garantia da qualidade de produtos e serviços? Nesta unidade, veremos como a auditoria se originou e também os principais termos ou jargões usados na área. A auditoria surgiu a partir do desenvolvimento do sistema capitalista. Os fatos marcantes se deram na Inglaterra, em 1310, com a criação do Conselho de Londres, seguida da criação do cargo de auditor do Tesouro da Inglaterra em 1314. (ATTIE, 2011). Entretanto o reconhecimento dessa prática ocorreu em 1581, quando foi criado o primeiro Colégio de Contadores (Collegio dei Raxonati) em Veneza. 4 Inicialmente, os trabalhos de auditoria se limitavam à verificação dos registros contábeis, para checar a exatidão das informações (CREPALDI, 2009). A contabilidade surgiu da necessidade de se controlar o patrimônio (bens, direitos e exigibilidades) e suas variações. Trata-se de uma ciência social, pois é a ação do homem que cria e modifica o patrimônio. Entretanto ela se utiliza de outras ferramentas, como, por exemplo, métodos quantitativos – como a matemática e a estatística (ciências exatas) – e métodos qualitativos, como o empirismo, pautado na vivência e observação (ciências humanas). Dentre os ramos da Contabilidade, podemos destacar no Quadro 1.1: Quadro 1.1: Principais ramos da Contabilidade Ramificações Objetivos Contabilidade societária Aplicar os instrumentos legais e societários que envolvem as entidades, bem como a sua estrutura de capital, visando à realização de transações e negócios. Contabilidade de custos Avaliar o controle dos estoques e conhecimento dos instrumentos dos sistemas de custo, com o objetivo de servir de base para a tomada de decisão. Contabilidade aplicada ao setor público Gerar informações que orientem a tomada de decisão e a instrumentalização do controle social, permitindo a evidenciação que contribua para a transparência do setor público. Contabilidade aplicada às instituições financeiras Compreender o Sistema Financeiro Nacional, suas operações, bem como aplicar os procedimentos contábeis específicos às entidades bancárias. Contabilidade aplicada às entidades de interesse social Compreender o funcionamento das associações, fundações, organizações sociais, bem como da gestão contábil, prestação de contas, benefícios e obrigações. Contabilidade aplicada ao agronegócio Compreender o primeiro setor da economia, bem como aplicar os procedimentos contábeis compreendidos nas atividades agrícola, pecuária e agroindustrial. Perícia, avaliação e arbitragem Aplicar um conjunto de procedimentos destinados a levar à instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar a justa solução do litígio ou constatação de fato. Auditoria Verificar a regularidade dos registros de elementos patrimoniais e de resultado, aplicando procedimentos em extensão, profundidade e oportunidade adequadas. Fonte: Elaborado pelos autores (2018). 5 Como podemos ver, a auditoria é uma das especialidades da Contabilidade. Ela surgiu da necessidade de controlar os registros contábeis e as movimentações financeiras. Assim, podemos dizer que a auditoria é um dos ramos ou técnicas de que a Ciência Contábil se utiliza. A auditoria evoluiu pela ocorrência de vários eventos, dentre os quais destacamos a Revolução Industrial, no fim do século XVIII, quando alguns profissionais se declaravam “contadores públicos”, executando, entretanto, trabalhos mais especializados do que aquele efetuado por outros contadores. Já no século XIX, surge uma nova denominação, a de “perito contador”, cuja função básica era a de descobrir erros e fraudes. Você sabia que, entre 1850 e 1938, fiscais de órgãos de controle não eram autorizados a consultar os livros contábeis dos contribuintes em suas auditorias? A proibição tinha como origem o art. 17 do Código Comercial de 1850. Esse artigo foi revogado em 1938, pelo Decreto-Lei nº 385. Em 1939, o § 1º do art. 14 do Decreto-lei nº 1.168 tornou possível a punição das empresas que se recusassem a exibir os livros de escrita comercial. Curiosidade A evolução da auditoria no Brasil está intimamente ligada à instalação de empresas internacionais de auditoria independente, como a Deloitte Touche Tohmatsu, que abriu seu primeiro escritório na cidade do Rio de Janeiro, em 1911. Nas décadas seguintes, diversas multinacionais americanas e europeias abriram filiais no Brasil, que demandavam serviços de auditoria para reportar suas posições para suas matrizes no estrangeiro. Houve, ainda, a criação da tributação do imposto de renda em 1922, baseado nos resultados apurados em balanço, o que acelerou a evolução da auditoria. A Rodhia do Brasil foi fundada em 1919, onde atualmente fica o município de Santo André, mesmo ano em que a Ford do Brasil foi fundada no município de São Bernardo do Campo. Já a General Motors do Brasil, fundada em 1925, começou a operar sua fábrica em 1930 no município de São Caetano do Sul, na região geograficamente conhecida como ABC, marcada pela forte industrialização no início do século XX. A Coca-Cola, por sua vez, iniciou suas atividades no Brasil em 1942. 6 Alguns anos depois, outros investimentos internacionais foram aqui implantados e, compulsoriamente, suas demonstrações contábeis deveriam ser auditadas, quando o mercado de capitais brasileiro ganhou importância no final dos anos 1960, com a aprovação da Lei nº 4.728 em 1965 (ATTIE, 2010, p. 8). Em 1972, o Banco Central do Brasil passou a emitir normas, tornando obrigatória a auditoria externa, ou independente, em quase todas as entidades integrantes do Sistema Financeiro Nacional e companhias abertas. Finalmente, em 1976, a prática de auditoria se consolidou com a criação da Comissão de Valores Mobiliários e da Lei das Sociedades por Ações (Lei n.º 6.404). Essas companhias de auditoria e consultoria foram crescendo a partir da abertura de novos escritórios ao redor do mundo. O Quadro 1.2 mostra quais são as seis maiores firmas de auditoria no mundo. Quadro 1.2: Maiores empresas globais de auditoria Firma Sigla Fundação Sede Deloitte Touche Tohmatsu Limited DTT 1845 Nova Iorque PricewaterhouseCoopers PwC 1849 Londres Klynveld Peat Marwick Goerdeler KPMG 1917 Amsterdã Ernst & Young EY 1849 Londres Grant Thornton GT 1924 Chicago Binder Dijker Otte & Co BDO 1910 Bruxelas Fonte: Elaborado pelos autores (2018). As quatro primeiras empresas listadas são, geralmente, denominadas Big Four ou “quatrograndes” empresas globais de serviços contábeis de auditoria e consultoria. Entretanto a lista contempla ainda mais duas empresas, que são conhecidas como Large Six ou “seis maiores”. 7 Conceitos e classificação da auditoria Nesta seção, veremos os principais conceitos envolvidos com a prática da auditoria, ou seja, o ato de confrontar a condição com o critério (situação encontrada versus situação que deve ser). A palavra auditoria tem origem no latim audire, que significa “ouvir”. Esse termo foi utilizado pelos ingleses para classificá-la como uma técnica contábil da revisão, ou auditing. Da mesma forma, a palavra auditor também se origina do latim, qui audit, que significa “aquele que ouve, o ouvinte”. O termo auditor também está relacionado à expressão inglesa to audit, que significa “examinar, ajustar, corrigir, certificar”. Agora que já conhecemos a origem dos termos, podemos começar a nos aproximar de determinados conceitos que são fundamentais para a compreensão da disciplina. Por exemplo, você sabe qual é a diferença entre fraude e erro? Será que são sinônimos? Observe os exemplos para que você fixe esses conceitos. Segundo a NBC TA 240 (R1) (CFC, 2016), a fraude aplica-se a atos intencionais, isto é, voluntários, seja por omissão e/ou manipulação de transações, adulterações de documentos, registros e demonstrações contábeis. Além disso, a fraude pode estar relacionada à corrupção. São exemplos de fraudes os seguintes atos dolosos: a. manipulação, falsificação ou alteração de registros ou documentos, de modo a modificar os registros de ativos, passivos e resultados; b. apropriação indébita de ativos; c. supressão ou omissão de transações nos registros contábeis; d. registro de transações sem comprovação; e e. aplicação de práticas contábeis indevidas. Já o erro refere-se a atos não intencionais, isto é, involuntários, seja por descuido, seja por desconhecimento ou interpretação equivocada na elaboração de registros e demonstrações contábeis, que resultem em incorreções. São exemplos de erros os seguintes atos culposos (CFC, 2016, s.p.): a. erros aritméticos (digitação ou cálculo) na escrituração contábil ou nas de- monstrações contábeis; b. aplicação incorreta das normas contábeis; c. interpretação errada das variações patrimoniais (qualitativas ou quantitati- vas) (NBC TA 240 (R1), CFC, 2016). 8 Conforme a NBC T 11 (CFC, 1997) “ao detectar erros relevantes e quaisquer fraudes no decorrer de seu trabalho, o auditor tem a obrigação de comunicá-los à administração da entidade e sugerir medidas corretivas, informando sobre os possíveis efeitos no seu parecer, caso elas não sejam adotadas”. Por que as auditorias independentes têm dificuldade em detectar a corrupção em uma empresa? Será que os auditores externos têm instrumentos suficientes para investigar fraudes a fundo? O auditor trabalha, essencialmente, com amostragem, utilizada para obter uma base razoável para a sua conclusão. Ainda que seja sua obrigação reportar à administração da entidade quando encontrar fraudes, esse não é o seu objetivo principal, já que a amostragem pode resultar na não detecção dessas fraudes. Reflita Agora, já sabemos como a fraude e o erro podem ser definidos, mas temos que conhecer outros conceitos importantes em auditoria: risco, distorção relevante e asseguração. Esses conceitos complementarão nosso entendimento sobre a relevância e a importância da auditoria como técnica contábil. O risco de auditoria ocorre quando um auditor expressa uma opinião imprópria quando as demonstrações financeiras apresentam distorção relevante, sem que o controle interno da empresa auditada ou os testes substantivos do auditor detectem ou previnam essa falha (CFC, NBC TA 200, 2016). Observamos, então, que o auditor deve decidir sobre a quantidade de informações que fará parte da sua amostragem, ou seja, o que será analisado. A quantidade de itens analisados deve ser suficientemente ampla para reduzir o risco de amostragem a um nível mínimo tolerável. Assim, a dimensão da amostra, além de depender do ramo de atividade e do porte da empresa auditada, poderá ser determinada com base em fórmulas, estatísticas ou no julgamento profissional do auditor (CFC, NBC TA 200, 2016). Já a distorção pode ocorrer por erro ou por fraude, com ou sem intenção. Ela é considerada como a diferença entre o valor, a classificação ou a divulgação de uma demonstração contábil relatada e o que é exigido para que o item objeto de auditoria esteja de acordo com a estrutura das demonstrações contábeis, ou seja, 9 com as leis e regulamentos que as disciplinam. As distorções identificadas pelo auditor devem ser comunicadas ao nível adequado de administração da entidade, para que sejam feitas as correções cabíveis (CFC, NBC TA 200, 2016). Outro conceito que é bastante utilizado em auditoria é o de asseguração. Nesse caso, o objetivo do auditor é obter evidências adequadas e suficientes, para que, a partir delas, possa expressar uma conclusão embasada, ampliando, assim, o nível de confiança dos outros usuários. Em outras palavras, a asseguração compreende o resultado da mensuração ou avaliação de determinado objeto, baseando-se em critérios aplicáveis (CFC, NBC TO 3000, 2015). Mas fique atento: nem todos os trabalhos executados por auditores independentes são trabalhos de asseguração. Por exemplo, o serviço de consultoria executado por um auditor independente não é considerado asseguração. Você já deve estar se perguntando: como funciona uma auditoria? Existem etapas a serem seguidas? A auditoria é feita em conformidade com o estabelecido pelas Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC), classificadas como normas Profissionais e normas Técnicas. Essas normas são emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC). A auditoria, portanto, deve seguir uma diretriz, um padrão preestabelecido. As etapas de uma auditoria devem obedecer a uma sequência. Veja, no Diagrama 1.1, como funciona esse processo. Diagrama 1.1: Processo de auditoria independente Planejamento dos trabalhos Avaliação do Controle Interno Revisão Analítica Execução de procedimentos Colete de informações Emissão do Relatório de Auditoria Avaliação das informações Fonte: Elaborado pelos autores (2018). Nas próximas unidades, veremos, em detalhes, cada uma dessas etapas. Segundo Crepaldi (2009), atualmente, a auditoria é contemplada com os seguintes objetos de estudo: 10 a. comprovação, pela escrituração, de que são exatos os fatos patrimoniais; b. demonstração dos erros e fraudes encontrados; c. sugestão das providências cabíveis, visando à prevenção de erros e fraudes; d. verificação de que a contabilidade é satisfatória sob o aspecto sistemático e de organização; e. verificação do funcionamento do controle interno; f. proposição de medidas de previsão de fatos patrimoniais, com o propósito de manter a empresa dentro dos limites de organização e legalidade. A partir deste ponto, conheceremos as diferentes classificações da auditoria, que podem ser: independente externa; interna ou operacional; gerencial; auditoria pública ou governamental. Segundo Almeida (2012), a auditoria independente externa é uma atividade que tem por objetivo, por meio da inspeção das demonstrações financeiras, expressar uma opinião sobre a sua propriedade, e assegurar que elas representem adequadamente a posição financeira (fluxos de caixa) e patrimonial, assim como sobre o resultado (lucro ou prejuízo) de suas operações relativas aos exercícios financeiros correspondentes. Já a auditoria interna, também denominada de auditoria operacional, é uma atividade subordinada, que tem por objetivo assessorar a administração da empresa com subsídios relativos ao cumprimento de todos os procedimentos e políticas internas da entidade, por meio da análise dos sistemas contábeis e de controles internos, avaliando se eles estão sendo cumpridos e se todas as transações realizadas estão expressas contabilmenteem conformidade com os critérios técnicos e normativos previamente definidos (ALMEIDA, 2012). Na auditoria gerencial, o objetivo é avaliar o grau de segurança dos controles internos existentes na entidade. Assim, ela é realizada para avaliar: a eficiência, a eficácia, a economicidade, a efetividade e a qualidade de um sistema e seus processos. Portanto, nesse tipo de auditoria, verifica-se se o que foi definido no processo está sendo realmente executado; não se trata de uma validação do processo (como o melhor ou o que gera mais resultado), mas de uma verificação em relação ao seu cumprimento. Enquanto a auditoria operacional verifica os procedimentos, a auditoria gerencial verifica os processos. Por fim, a auditoria pública, ou governamental, é uma atividade que tem por objetivo verificar o cumprimento dos preceitos de legalidade, legitimidade e economicidade quanto à utilização, arrecadação, guarda, gerenciamento ou administração de 11 dinheiros, bens e valores públicos dos Entes Federativos (União, estados, Distrito Federal e municípios). A Constituição Federal (BRASIL, 1988), no art. 71, inciso IV, elenca cinco tipos de auditorias: contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial. Atualmente, as auditorias podem ser bem distintas, dependendo de seus objetivos, das atividades ou dos processos para os quais são utilizadas e dos relatórios que se espera receber dos auditores, sejam eles externos ou internos. No Quadro 1.3, podemos conhecer as principais diferenças entre o auditor externo e o auditor interno: Quadro 1.3: Auditoria interna e externa: principais diferenças Elementos Auditoria Externa Auditoria Interna Vínculo com a empresa auditada Não há. É funcionário da firma de auditoria É funcionário da empresa auditada, portanto há vínculo Objeto Demonstrações contábeis Controles internos Objetivo Opinar sobre as demonstrações contábeis Promover a melhoria dos controles internos Produto final Parecer ou relatório de auditoria Recomendações para eficiência administrativa Independência Ampla Limitada Responsabilidade Profissional, civil e criminal Trabalhista Continuidade do trabalho Periódico Contínuo Fonte: Adaptado de Pinho (2009). Como você pode ver, a auditoria contábil pode ser feita por um profissional legalmente habilitado de fora (terceiros) e/ou por um profissional de dentro da empresa (funcionário), cuja função é desempenhar essa atividade técnica e científica a partir do emprego de um conjunto de procedimentos, organizados e executados em uma determinada entidade. 12 Objetivo geral da auditoria Uma auditoria contábil tem como objetivo geral a confirmação de registros e das demonstrações contábeis, ampliando o nível de confiança por parte dos usuários (CREPALDI, 2009). Seja na auditoria interna ou externa, o intuito é opinar e recomendar ajustes sobre o processo e os procedimentos de escrituração contábil das empresas. Assim, o resultado dessa revisão será uma opinião, com razoável segurança, formada a partir de evidências apropriadas e suficientes de auditoria, a fim de reduzir, a um nível aceitavelmente baixo, o seu risco. Tal opinião será expressa em um relatório, que pode ser livre de distorções relevantes, independentemente se causada por fraude ou erro, de acordo com a NBC TA 200 (CFC, 2016). Até 2009, ano em que houve profundas transformações na auditoria no Brasil, o parecer de auditoria apresentava apenas três parágrafos resumidos com uma opinião sobre as demonstrações contábeis. A partir da edição da Resolução CFC nº 1.231/2009, o parecer passou a ser denominado relatório de auditoria independente e sua opinião passou a contar com outros elementos, como introdução, relatório da administração, relatório do auditor, opinião, parágrafos de ênfase e parágrafos de outros assuntos. Esse relatório pode ser não modificado (limpo ou sem ressalvas) ou com modificações (com ressalvas, adverso e com negativa de opinião) com base nos testes de auditoria. Esses testes, por sua vez, podem ser de observância ou substantivos. Tal opinião é prerrogativa dos bacharéis, graduados em Ciências Contábeis, com inscrição ativa no Conselho Regional de Contabilidade do estado em que atuam, conforme a Resolução CFC nº 560/1983, art. 3º, itens 33 (auditoria interna e operacional) e 34 (auditoria externa independente). Os contadores que atuarem em auditoria externa devem ainda ser aprovados no Exame de Qualificação Técnica para registro no Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), conforme a NBC PA 13 (CFC, 2015). Além disso, para poder atuar profissionalmente, ele deverá ser inscrito no âmbito do mercado de valores mobiliários, na Comissão de Valores Mobiliários, nos termos da Instrução CVM nº 308/1999. Observamos que a emissão do relatório independente, que tem por limite os objetivos da auditoria (demonstrações financeiras), não representa garantia de 13 viabilidade futura ou de eficácia da administração da entidade (ARAÚJO; ARRUDA, 2012). Esse relatório sobre a adequação das demonstrações contábeis deve contemplar, de forma específica, os seguintes atributos: existência, propriedade, ocorrência, abrangência, avaliação, realização, apresentação e divulgação. Assim, o fato de se fazer uma auditoria independente não retira as responsabilidades dos executivos e demais membros da empresa auditada. Nos Estados Unidos, no início dos anos 2000, vieram à tona, em empresas como Xerox, Enron, Tyco, WorldCom e outras, diversos escândalos financeiros, levando praticamente à extinção uma das maiores firmas de auditoria do mundo, a Arthur Andersen. Esses fatos colocaram a auditoria em evidência em todo o mundo. Na época, em 2002, em resposta a esses escândalos, o Congresso americano aprovou uma lei que endureceu as responsabilidades dos gestores de empresas. Essa lei ficou conhecida como Lei Sarbanes-Oxley, em homenagem aos deputados que a criaram, Paul Sarbanes e Michel Oxley. Sua finalidade é identificar, combater e prevenir fraudes que afetem o desempenho financeiro das organizações, garantindo o compliance, ou seja, estar em conformidade com os regulamentos internos e externos à empresa. Portanto, como você deve estar concluindo, o auditor não é responsável, nem pode ser responsabilizado pela prevenção de fraudes ou erros relevantes nas demonstrações contábeis; seu dever é apenas o de comunicar ao contratante se identificá-los a partir de sua análise (CFC, NBC TA 240, 2016). Porém isso não significa que ele não deva atuar com ceticismo profissional para formar seu julgamento, certo? Você deve estar se perguntando: ceticismo? Julgamento? O que esses termos significam em auditoria? Ceticismo é a atitude de questionamento contínuo para o conhecimento, fatos, opiniões ou crenças estabelecidas, ou seja, nunca acreditar em tudo ou sempre desconfiar. O profissional de auditoria não pode chegar à certeza alguma a respeito da verdade, pois trabalha com amostragens e com informações que lhe foram disponibilizadas, recaindo no risco de auditoria. Para que o auditor identifique e avalie esses riscos, ele deve compreender o funcionamento do controle interno da entidade. Ainda que a maioria dos controles sejam relacionados com as demonstrações contábeis, nem todos os controles que com elas se relacionam são relevantes para a auditoria, pois se trata de um julgamento profissional (CFC, NBC TA 200, 2016). 14 Conforme a NBC TA 200, o julgamento profissional é pautado nos fatos e nas circunstâncias que são conhecidos pelo auditor. Esse julgamento leva em consideração: • os resultados dos procedimentos de auditoria, executados no cumprimento das exigências das normas brasileiras de contabilidade; • a avaliação do auditor quanto à obtenção ou não de evidência de auditoria apropriada e suficiente; • se há algo mais que precisa ser feito nas circunstâncias específicas da au- ditoria. Figura 1.1: Auditoria das demonstraçõescontábeis Fonte: Plataforma Deduca (2018). Em suma, os procedimentos de auditoria trazem evidências para que o auditor fundamente sua opinião sobre as demonstrações contábeis auditadas, possibilitando-lhe emitir um parecer. Para tanto, ele reavalia os controles internos, livros contábeis, documentos e registros da entidade confrontando informações. O auditor não deve ser temido, pois ele irá propor sugestões de melhorias. É necessário que esse profissional tenha um comportamento ético que permita uma opinião isenta. A independência garante a habilidade de formar uma conclusão de asseguração sem se deixar afetar por influências internas ou externas, que possam comprometer sua opinião (CFC, NBC PA 290, 2017). Ela aperfeiçoa a capacidade de agir com integridade e isenção, de ser objetivo e de nunca acreditar plenamente nas informações prestadas pela empresa auditada, ou seja, de manter uma postura cética. 15 Segundo a NBC PA 290 (CFC, 2017, s.p.), os principais pontos que podem comprometer essa independência são: a) ameaça de interesse próprio é a ameaça de que interesse financeiro ou outro interesse influenciará de forma não apropriada o julgamento ou o comportamento do auditor; b) ameaça de autorrevisão é a ameaça de que o auditor não avaliará apropriadamente os resultados de julgamento dado ou serviço prestado anteriormente por ele, ou por outra pessoa da firma dele, nos quais o auditor confiará para formar um julgamento como parte da prestação do serviço atual; c) ameaça de defesa de interesse do cliente é a ameaça de que o auditor promoverá ou defenderá a posição de seu cliente a ponto em que a sua objetividade fique comprometida; d) ameaça de familiaridade é a ameaça de que, devido ao relacionamento longo ou próximo com o cliente, o auditor tornar-se-á solidário aos interesses dele ou aceitará seu trabalho sem muito questionamento; e) ameaça de intimidação é a ameaça de que o auditor será dissuadido de agir objetivamente em decorrência de pressões reais ou aparentes, incluindo tentativas de exercer influência indevida sobre o auditor. A NBC PG 100 (CFC, 2014), por sua vez, estabelece os seguintes princípios éticos que o auditor independente deve cumprir: integridade, objetividade, competência e zelo profissionais, sigilo profissional e comportamento profissional. De acordo com o artigo 9º da Resolução CFC nº 1.328/2011, a inobservância às Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) constitui infração disciplinar sujeita às penalidades previstas no artigo 27, “c” a “g” do Decreto-Lei nº 9.295/1946 e ao Código de Ética Profissional do Contador. 16 Quer saber mais sobre o posicionamento do profissional de auditoria quando ele se depara com dilemas morais envolvendo atos ilícitos da categoria? Então, leia o artigo “Ética do profissional de auditoria: dilemas morais envolvendo atos ilícitos na execução de sua atividade”, de Ariane Caruline Fernandes e Vidgal Fernandes Martins, publicado na Revista de Auditoria Governança e Contabilidade em 2016. Disponível em: http://fucamp.edu.br/ editora/index.php/ragc/article/view/687/486 Saiba mais Como você pode entender, a auditoria é um processo sistemático e ético, que se utiliza de procedimentos, como a avaliação de riscos e análise dos controles internos, cuja finalidade é a obtenção de evidência suficiente e adequada, de forma segura e razoável, de que as informações financeiras foram elaboradas em conformidade com uma estrutura e estão livres de distorção relevante e material causada por erro e fraude. Vimos que o objetivo do auditor é emitir uma opinião, que conclui seus trabalhos, sobre as demonstrações contábeis. Contudo, esta opinião, assim como a escrituração contábil, também está sujeita a erros de julgamento. Isto é conhecido como risco de auditoria, ou seja, ao se concluir e opinar sobre a posição financeira e patrimonial, não se detectaram distorções significativas, seja por erro ou fraude. O risco de auditoria pode ser classificado de duas formas: risco de distorção relevante e risco de detecção. Vamos conhecer esses conceitos. Segundo a NBC TA 200, o risco de distorção relevante decorre antes da auditoria e é subdividido em risco inerente e risco de controle. Assim, o risco inerente é a tendência de se afirmar sobre uma transação, saldo contábil ou divulgação antes da consideração de quaisquer controles relacionados. Por exemplo, a consideração de saldo de estoques de produtos tecnológicos, que em função de novas tecnologias, podem estar superavaliados. O risco de controle, por sua vez, é o risco de que uma distorção que possa ocorrer em se afirmar sobre uma classe de transação, saldo contábil ou divulgação não seja prevenida, detectada e corrigida em tempo hábil pelo controle interno da http://fucamp.edu.br/editora/index.php/ragc/article/view/687/486 http://fucamp.edu.br/editora/index.php/ragc/article/view/687/486 17 entidade. Por exemplo, limitações ao controle interno, subordinado, pela própria administração. Já o risco de detecção decorre da não identificação de uma distorção existente e que possa ser relevante, individualmente ou em conjunto com outras distorções. Esse risco pode ser reduzido, mas jamais eliminado, pelas próprias limitações de auditoria, como natureza das operações, custo e tempo para condução do trabalho. Conforme a NBC TA 200, a distorção para a auditoria significa: [...] a diferença entre o valor, a classificação, a apresentação ou a divulgação de uma demonstração contábil relatada e o valor, a classificação, a apresentação ou a divulgação que é exigida para que o item esteja de acordo com a estrutura de relatório financeiro aplicável. As distorções podem originar-se de erro ou fraude. Quando o auditor expressa uma opinião sobre se as demonstrações contábeis foram apresentadas adequadamente, em todos os aspectos relevantes, as distorções também incluem os ajustes de valor, classificação, apresentação ou divulgação que, no julgamento do auditor, são necessários para que as demonstrações contábeis estejam apresentadas adequadamente, em todos os aspectos relevantes. No entanto, devemos observar que, se não for possível obter segurança razoável e se a opinião do auditor sobre as demonstrações contábeis apresentar ressalva no relatório de auditoria, mesmo assim insuficiente para atender aos usuários, esse profissional deve se abster de opinar, ou mesmo renunciar ao trabalho (CFC, NBC TA 200, 2016). Então, vamos refletir: os controles sobre a integridade e a exatidão das informações geradas pela empresa contratante podem ou não ser relevantes para a auditoria? Correto! O auditor tem conhecimento das informações e se utiliza de seu julgamento profissional para planejar e executar os procedimentos necessários para a realização do seu trabalho. Assim, os controles relacionados aos objetivos operacionais, ou de curto prazo, também podem ser relevantes caso eles se relacionem com os dados analisados ou utilizados na aplicação de procedimentos de auditoria. Entretanto, além de opinar sobre as demonstrações financeiras, a auditoria contábil também revisa as transações contábeis, financeiras e operacionais de uma entidade. Com tais procedimentos, podem-se identificar deficiências nos controles internos e apresentar recomendações para saná-las. 18 De acordo com tudo o que vimos até aqui, podemos resumir os principais benefícios da auditoria em três pontos: • aumenta a transparência e confiança dos stakeholders da empresa auditada; • permite identificar falhas ou deficiências, que devem ser trabalhadas para a melhoria de processos e procedimentos internos; • a tomada de decisão será sustentada ou subsidiada com informações con- sistentes e confiáveis, livres de distorções relevantes. A partir disso, para encerrar esta unidade, vamos refletir: será que a auditora é, realmente, necessária? Ou seria apenas um custo a mais para as empresas? Se você respondeu sim para a primeira pergunta, você compreendeu a importânciada auditoria para as entidades! 19 Referências ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2012. ARAÚJO, I. da P. S.; ARRUDA, D. G. Fundamentos da auditoria: a auditoria das demonstrações financeiras em um contexto global. São Paulo: Saraiva, 2012. ATTIE, W. Auditoria: conceitos e aplicações. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 2 jan. 2018. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM n.º 308 de 14 de maio de 1999. Dispõe sobre o registro e o exercício da atividade de auditoria independente no âmbito do mercado de valores mobiliários, define os deveres e as responsabilidades dos administradores das entidades auditadas no relacionamento com os auditores independentes. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 19 mai. 1999. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC n.º 560 de 28 de outubro de 1983. Dispõe sobre as prerrogativas profissionais de que trata o artigo 25 do Decreto-lei nº 9.295, de 27 de maio de 1946. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 28 dez. 1983. ______. Resolução CFC n.º 1.328, de 18 de março de 2011. Dispõe sobre a estrutura das normas brasileiras de contabilidade. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 22 mar. 2011. ______. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PG 100, de 24 de janeiro de 2014. Dispõe sobre a NBC PG 100 - aplicação geral aos profissionais da contabilidade. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 mar. 2014. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm 20 ______. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PA 13 (R2), de 21 de agosto de 2015. Dá nova redação à NBC PA 13 (R1) que dispõe sobre o Exame de Qualificação Técnica. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2 set. 2015. ______. Normas Brasileira de Contabilidade – NBC TO 3000, de 20 de novembro de 2015. Dá nova redação à NBC TO 3000 que dispõe sobre trabalhos de asseguração diferente de auditoria e revisão. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 2015. ______. Normas Brasileira de Contabilidade – NBC TA 200 (R1), de 19 de agosto de 2016. Objetivos gerais do auditor independente e a condução da auditoria em conformidade com normas de auditoria. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 set. 2016. ______. Normas Brasileira de Contabilidade – NBC TA 240 (R1), de 19 de agosto de 2016. Altera a NBC TA 240 que dispõe sobre a responsabilidade do auditor em relação a fraude, no contexto da auditoria de demonstrações contábeis. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 set. 2016. ______. Normas Brasileira de Contabilidade – NBC PA 290 (R2), de 19 de maio de 2017. Independência nos trabalhos de auditoria e revisão. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 26 mai. 2017. ______. Normas Brasileira de Contabilidade – NBC T 11, Resolução 820 de 17 de dezembro de 1997. Normas de Auditoria Independente das Demonstrações Contábeis com alterações e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 21 jan. 1998. CREPALDI, S. A. Auditoria Contábil: teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009. PINHO, R. C. de S. Fundamentos de auditoria: auditoria contábil, outras aplicações de auditoria. São Paulo: Atlas, 2009. GINEAD AUDITORIA CONTÁBIL Unidade 2 - Normas Técnicas e Profissionais da Auditoria SST Moreno, Fernanda Gualda; Pereira, Beatriz da Silva Unidade 2 - Normas Técnicas e Profissionais da Audito- ria / Fernanda Gualda Moreno; Beatriz da Silva Pereira Ano: 2020 nº de p.: 20 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Unidade 2 - Normas Técnicas e Profissionais da Auditoria 3 Objetivo específico • Conhecer as normas técnicas de auditoria referentes à execução do trabalho e à pessoa do auditor. Apresentando a Unidade Esta unidade será o primeiro passo para que você conheça as normas técnicas e profissionais que regem a auditoria. Serão conceituadas as normas de auditoria interna e externa e de asseguração, sua importância e aplicação, tanto na elaboração e execução dos trabalhos de auditoria quanto no estabelecimento de parâmetros para o exercício da função do auditor. Além disso, também serão explanados os principais órgãos relacionados à fiscalização e os pontos considerados essenciais na elaboração de uma auditoria, como: planejamento, relevância, riscos, amostragem, transações com partes relacionadas, transações e eventos subsequentes, carta de responsabilidade da administração, contingências etc. Vamos começar? Importância e aplicação das normas de auditoria O primeiro passo para o estudo das normas técnicas e profissionais da auditoria é o conhecimento de alguns conceitos importantes. Então, vamos lá? De acordo com Crepaldi (2009, p. 23), a auditoria pode ser conceituada como “[...] o levantamento, estudo e avaliação sistemática das transações, procedimentos, operações, rotinas e das demonstrações financeiras de uma entidade”. A auditoria pode ser interna ou externa. A principal diferença entre os dois métodos é que a auditoria externa é realizada por membros que não são colaboradores da empresa (SANTOS; GOMES, 2006). 4 A atividade de auditoria no Brasil é regulamentada por diversas normas, tanto para os profissionais quanto para a técnica, as quais iremos elucidar detalhadamente no decorrer deste estudo. Existem diversos órgãos que estão relacionados com a fiscalização, regulamentação e controle da auditoria, seguem alguns deles: • CRC – Conselho Regional de Contabilidade: é a entidade de classe dos con- tadores e tem como principal finalidade o registro e fiscalização do exercício da profissão contábil. • CFC – Conselho Federal de Contabilidade: é o responsável pela elaboração das Normas Brasileiras de Contabilidade. • CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis: tem como objetivo a emissão de Pronunciamentos Técnicos, para permitir a emissão de normas pela en- tidade reguladora brasileira, considerando a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. • CVM – Comissão de Valores Mobiliários: é uma entidade autárquica, vincula- da ao Ministério da Fazenda, que funciona como órgão fiscalizador do mer- cado de capitais no Brasil. • IFAC – (International Federation of Accountants/Federação Internacional de Contadores): organização mundial que representa a profissão contábil. • IASB – (International Accounting Standards Board/Normas Internacionais de Contabilidade): responsável pela revisão e publicação das IFRS (International Financial Reporting Standard/Norma Internacional de Relatórios Financei- ros), que são pronunciamentos com normas internacionais de contabilidade; o Brasil é representado pelo CFC e IBRACON. • FASB – (Financial Accounting Standards Board): é uma entidade privada, cujo objetivo principal é desenvolver os princípios contábeis geralmente aceitos (GAAP) nos Estados Unidos da América. O FASB é responsável pela publica- ção dos FAS (Statements of Financial Accounting Standars/Normas de Con- tabilidade Financeira). • IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil: tem por objeti- vo, entre outros, elaborar normas e procedimentos relacionados com audito- ria e perícias contábeis. • AUDIBRA – Instituto dos Auditores Internos do Brasil: é uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, que tem por objetivo principal a pro- moção do desenvolvimento da auditoria interna, mediante a troca de ideias, reuniões, conferências, intercâmbio com outras instituições, congressos, pu-blicações de livros e revistas e divulgação da importância da auditoria inter- na junto a terceiros. 5 As Normas Brasileiras de Contabilidade classificam-se como: profissionais – que estabelecem a conduta para o exercício da profissão – e técnicas – que estabelecem os conceitos doutrinários, a estrutura técnica e os procedimentos a serem aplicados. Figura 2.1: As normas estabelecem conceitos, estrutura e procedimentos Fonte: Plataforma Deduca (2018). A auditoria é um dos instrumentos de controle mais importantes para os administradores das empresas, pois, por meio da análise e da certificação da auditoria nos controles internos e nas demonstrações contábeis, é possível identificar se os processos internos e políticas definidas pela empresa estão sendo seguidos, principalmente em consonância com as Normas Brasileiras de Contabilidade. As normas profissionais – NBC TA – conduzem o auditor na realização de suas tarefas de forma imparcial, zelosa, cética, responsável e criteriosa. As NBC TA conduzem o auditor, de forma técnica, no trabalho do material utilizado. As normas técnicas de auditoria são convergentes com as normas internacionais. Elas vão sendo aperfeiçoadas e, periodicamente, consolidadas no decorrer dos anos, com os pronunciamentos, afastando lacunas ou interpretações dúbias relativas ao trabalho do auditor. As Normas de Auditoria são imprescindíveis para a profissão, para adequar e padronizar a correta verificação dos saldos financeiros e contábeis, analisar os controles e verificar a fragilidade. Elas definem quais procedimentos devem ser adotados na auditoria, os critérios de materialidade e os riscos envolvidos. Seu 6 objetivo também é a regulação da profissão, garantindo a qualificação técnica dos auditores por meio da educação continuada. No Brasil, a legislação é presente em todas as áreas de atividade profissional e não seria diferente para a auditoria, cujo objeto é o conjunto de controle do patrimônio administrativo, os quais compreendem papéis, fichas, arquivos e as demonstrações financeiras e contábeis. Assim, as normas de auditoria são: • normas relativas à execução do trabalho; • normas relativas ao relatório; • normas relativas à pessoa do auditor. Vamos conhecer cada tipo de norma nos próximos tópicos. Normas relativas à execução do trabalho de auditoria A NBC TA 300 refere-se ao planejamento da realização dos trabalhos de auditoria, já que esse é o primeiro passo de uma auditoria. Ela norteia o auditor no desenvolvimento dos trabalhos e define o escopo e limitação da auditoria. Um planejamento eficaz é o caminho para o bom desenvolvimento e resultado da auditoria. Quando o auditor faz um bom planejamento, ele pode explorar mais as áreas importantes, fazer um trabalho organizado, otimizar o tempo, resultando na seleção dos membros da equipe com capacidade e competência adequadas para mensurar o nível de riscos e alocação apropriada nas tarefas. É importante salientar que o planejamento da auditoria não deve ser visto como uma etapa isolada, mas como um processo contínuo. De acordo com a NBC 300, o planejamento contribui para: • Auxiliar o auditor a dedicar atenção apropriada às áreas importantes da auditoria; • Auxiliar o auditor a identificar e resolver tempestivamente problemas potenciais; • Auxiliar o auditor a organizar adequadamente o trabalho de auditoria para que seja realizado de forma eficaz e eficiente; 7 • Auxiliar na seleção dos membros da equipe de trabalho com níveis apropriados de capacidade e competência para responderem aos riscos esperados e na alocação apropriada de tarefas; • Facilitar a direção e a supervisão dos membros da equipe de trabalho e a revisão do seu trabalho; • Auxiliar, se for o caso, na coordenação do trabalho realizado por outros auditores e especialistas (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE). Figura 2.2: O planejamento é o primeiro passo de uma auditoria Fonte: Plataforma Deduca (2018). O planejamento deve buscar atender a alguns requisitos, tais como: • Envolvimento de membros-chave da equipe de trabalho – na definição de como será realizado o trabalho de auditoria é importante que todos os mem- bros da equipe de trabalho discutam e participem da elaboração do planeja- mento que será posto em ação. • Atividades preliminares do trabalho de auditoria – no início do trabalho de auditoria o auditor deve realizar as seguintes atividades: a. Supervisão e controle de qualidade: os controles internos de qualidade re- lacionam-se à garantia da qualidade dos serviços. Para a sua estruturação, deve-se levar em consideração o porte, a cultura, a organização e a com- plexidade dos serviços que serão realizados. Todas as atividades do audi- tor deverão seguir o controle interno de qualidade (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, NBC TA 220). 8 b. Avaliação da conformidade com os requisitos éticos – no decorrer de todo o trabalho desenvolvido, a equipe de trabalho deve seguir as exigências éticas relevantes. De acordo com a NBC 200, o ceticismo envolve estar alerta a: • Evidências de auditoria que contradigam outras evidências obtidas; • Informações que coloquem em dúvida a confiabilidade dos documentos e respostas a indagações a serem usadas como evidências de auditoria; • Condições que possam indicar possível fraude; e • Circunstâncias que sugiram a necessidade de procedimentos de auditoria além dos exigidos pelas NBCs TA (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE). Se tais elementos forem cumpridos, os auditores conseguirão diminuir os riscos relacionados à desconsideração de situações que não sejam comuns, generalização excessiva e uso inadequado de princípios ao estabelecer a natureza, a época e a extensão dos procedimentos de auditoria e ao avaliar os seus resultados (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, NBC TA 200). c. Estabelecimento do entendimento dos termos do trabalho: O auditor deve estabelecer como adequado os termos do trabalho. Tais termos devem ser formalizados na carta de contratação da auditoria ou em um documento es- crito que seja adequado. Ele deve abranger (NBC 300): • O objetivo e o alcance da auditoria das demonstrações contábeis; • As responsabilidades do auditor; • As responsabilidades da administração; • A identificação da estrutura de relatório financeiro aplicável para a elaboração das demonstrações contábeis; • Referência à forma e ao conteúdo esperados de quaisquer relatórios a serem emitidos pelo auditor; e • Declaração de que existem circunstâncias em que o relatório pode ter forma e conteúdo diferente do esperado. • Aplicação dos procedimentos de auditoria – os procedimentos de auditoria devem ser aplicados por causa da complexidade e do volume de operações da empresa. É papel do auditor, com base na análise de riscos de auditoria e 9 outros elementos que ele tenha, estabelecer uma estratégia global, e a partir dela ele deve: a. Identificar as características do trabalho para definir o seu alcance; b. Definir os objetivos do relatório do trabalho de forma a planejar a época da auditoria e a natureza das comunicações requeridas; c. Considerar os fatores que no julgamento profissional do auditor são signifi- cativos para orientar os esforços da equipe do trabalho; d. Considerar os resultados das atividades preliminares do trabalho de audi- toria e, quando aplicável, se é relevante o conhecimento obtido em outros trabalhos realizados pelo sócio do trabalho para a entidade; e e. Determinar a natureza, a época e a extensão dos recursos necessários para realizar o trabalho (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE). • Documentação da auditoria – este item corresponde à documentação obri- gatória exigida na realização dos trabalhos de auditoria das demonstrações contábeis. Os papéis de trabalho fazem parte dele (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, NBC TA 300). • Risco de auditoria – o risco de auditoria corresponde à possibilidade de o auditor emitir uma opinião inadequada em relação às demonstrações con- tábeisque estejam erradas. A análise dos riscos também ocorre na fase de planejamento (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, NBC TA 300). É importante destacar que cabe ao auditor sempre observar todas as regras de auditoria vigentes, e no caso de outras auditorias já terem sido realizadas na empresa por outro auditor é de extrema importância que o auditor entre em contato com o profissional responsável. Na auditoria interna, também são considerados alguns pontos destacados na execução da auditoria externa, como planejamento e riscos. De acordo com a NBC T 12, devem fazer parte do processo de auditoria interna os exames e investigações, testes de observância e testes substantivos, que possibilitem ao auditor obter as informações necessárias para dar base às conclusões e recomendações emitidas à administração da empresa. No Quadro 2.1, podemos ver, de forma sintética, todas as normas e suas respectivas resoluções, referentes à execução dos trabalhos de auditoria: 10 Quadro 2.1: Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas referentes à execução dos trabalhos de auditoria Norma Resolução CFC Descrição NBC TA DOU 25/11/15 Estrutura Conceitual para Trabalhos de Asseguração NBC TA 210 DOU 05/09/16 Concordância com os Termos do Trabalho de Auditoria NBC TA 220 DOU 05/09/16 Controle de Qualidade da Auditoria de Demonstrações Contábeis NBC TA 230 DOU 05/09/16 Documentação de Auditoria NBC TA 240 DOU 05/09/16 Responsabilidade do Auditor em Relação à Fraude NBC TA 250 1.208/09 Consideração de Leis e Regulamentos na Auditoria de Demonstrações Contábeis NBC TA 260 DOU 04/07/16 Comunicação com os Responsáveis pela Governança NBC TA 265 1.210/09 Comunicação de Deficiências de Controle Interno NBC TA 300 DOU 05/09/16 Planejamento da Auditoria de Demonstrações Contábeis NBC TA 315 DOU 05/09/16 Identificação e Avaliação dos Riscos de Distorção Relevante por meio do Entendimento da Entidade e do seu Ambiente NBC TA 320 DOU 05/09/16 Materialidade no Planejamento e na Execução da Auditoria NBC TA 330 DOU 05/09/16 Resposta do Auditor aos Riscos Avaliados NBC TA 402 1.215/09 Considerações de Auditoria para a Entidade que utiliza a Organização Prestadora de Serviços NBC TA 450 DOU 05/09/16 Avaliação das Distorções Identificadas durante a Auditoria NBC TA 500 DOU 05/09/16 Evidência de Auditoria NBC TA 501 1.218/09 Evidência de Auditoria - Considerações Específicas para itens Selecionados NBC TA 505 1.219/09 Confirmações externas NBC TA 510 DOU 05/09/16 Trabalhos iniciais - saldos iniciais NBC TA 520 1.221/09 Procedimentos analíticos NBC TA 530 1.222/09 Amostragem em Auditoria NBC TA 540 DOU 05/09/16 Auditoria de Estimativas Contábeis, Inclusive do Valor Justo, e Divulgações Relacionadas NBC TA 550 1.224/09 Partes relacionadas 11 NBC TA 560 DOU 05/09/16 Eventos subsequentes NBC TA 570 DOU 04/07/16 Continuidade operacional NBC TA 580 DOU 05/09/16 Representações formais NBC TA 600 DOU 05/09/16 Considerações Especiais - Auditorias de Demonstrações Contábeis de Grupos, incluindo o Trabalho dos Auditores dos Componentes NBC TA 610 DOU 29/01/14 Utilização do Trabalho de Auditoria Interna NBC TA 620 1.230/09 Utilização do Trabalho de Especialistas NBC TA 710 DOU 05/09/16 Informações Comparativas - Valores Correspondentes e Demonstrações Contábeis NBC TA 800 DOU 22/02/17 Considerações Especiais - Auditorias de Demonstrações Contábeis Elaboradas de acordo com Estruturas de Contabilidade para Propósitos Especiais NBC TA 805 DOU 22/02/17 Considerações Especiais - Auditoria de Quadros Isolados das Demonstrações Contábeis e de Elementos, Contas ou Itens Específicos das Demonstrações Contábeis NBC TR 2400 DOU 30/10/13 Trabalhos de Revisão de Demonstrações Contábeis NBC TR 2410 1.274/10 Revisão de Informações Intermediárias Executada pelo Auditor da Entidade NBC TO 3000 DOU 25/11/15 Trabalho de Asseguração Diferente de Auditoria e Revisão NBC TI 01 NBC T 12 Da auditoria interna Fonte: Elaborado pelos autores (2018). No próximo tópico, falaremos sobre as normas relativas ao parecer de auditoria. Vamos lá? Normas relativas ao parecer/relatório de auditoria O parecer/relatório de auditoria é a peça mais importante, pois nele o auditor informa o resultado de seu trabalho. Nessa fase, o auditor deve revisar os papéis de trabalho, assegurando que todas as etapas da auditoria foram cumpridas, e concluir 12 se os objetivos da auditoria foram alcançados e se as evidências foram suficientes para fundamentar sua conclusão. No Quadro 2.2, apresentaremos as principais normas e as respectivas resoluções referentes ao parecer/relatório de auditoria: Quadro 2.2: Normas Brasileiras de Contabilidade referentes ao parecer/relatório NBC Resolução CFC Descrição NBC TA 700 - Formação da Opinião e Emissão do Relatório do Auditor Independente sobre as Demonstrações Contábeis DOU 04/07/16 Esta norma refere-se à obrigação do auditor de formar uma opinião sobre as demonstrações contábeis analisadas, além de determinar a forma e o conteúdo do relatório referente à auditoria realizada. De acordo com o item 6 da respectiva norma, os objetivos a serem atingidos pelo auditor ao elaborar o relatório/ parecer são: a) formar uma opinião sobre as demonstrações contábeis com base na avaliação das conclusões alcançadas pela evidência de auditoria obtida; b) expressar claramente essa opinião por meio de relatório por escrito. NBC TA 701 - Comunicação dos Principais Assuntos de Auditoria no Relatório do Auditor Independente. DOU 04/07/16 Esta norma refere-se à responsabilidade do auditor de informar os assuntos mais relevantes no relatório. Ela também trata do que é levado em consideração para determinar qual conteúdo precisa ser informado no relatório, além da forma como essa informação será apresentada. NBC TA 705 - Modificações na Opinião do Auditor Independente DOU 04/07/16 Esta norma refere-se à responsabilidade do auditor de emitir um relatório específico quando as informações se encontram incompletas e possuem imprecisões. De acordo com o item 2 da respectiva norma, existem três tipos de opiniões modificadas: opinião com ressalva, opinião adversa e abstenção de opinião. A decisão sobre que tipo de opinião modificada é apropriada depende: a) da natureza do assunto, caso as demonstrações contábeis apresentem distorção relevante ou, no caso de faltar evidências de auditoria apropriada e suficiente; b) da avaliação do auditor sobre a divulgação de forma geral sobre os efeitos ou possíveis efeitos das informações presentes nas demonstrações contábeis. 13 NBC TA 706 - Parágrafos de Ênfase e Parágrafos de Outros Assuntos no Relatório do Auditor Independente DOU 04/07/16 Esta norma é referente a informações adicionais que constem no relatório do auditor. A finalidade desses dados é: a) chamar a atenção para um assunto quando a informação à que ele se refere é importante para o entendimento das demonstrações contábeis, ou b) chamar a atenção sobre um assunto que, caso não seja apresentado nas demonstrações contábeis, fará com que os usuários não entendam a auditoria, as responsabilidades do auditor ou o seu relatório. NBC TA 810 Trabalhos para a Emissão de Relatório sobre Demonstrações Contábeis Condensadas DOU 22/02/17 Esta norma refere-se à responsabilidade do auditor de elaborar o relatório/parecer das demonstrações contábeis de acordo com informações que sejam compactas e que tenham sido auditadas em consonância com as normas de auditoria vigentes pelo mesmo auditor. Fonte: Elaborado pelos autores (2018). No próximo tópico, iremos conhecer as normas relativas ao auditor. Vamos adiante? Normas relativas ao auditor No decorrer desta unidade, vimos que as normas fornecem as diretrizes e regras para as atividades de auditoria. Mas sua aplicação não se limita aos documentos emitidos, o auditor contábil responsável pela emissão dos relatórios também tem a sua funçãoregida pelas normas. O auditor contábil é um profissional com registro ativo no Conselho Regional de Contabilidade (CRC) e com conhecimentos sobre a área contábil, financeira e patrimonial. Ele pode ser um auditor interno ou externo. Sua principal função é identificar falhas nos sistemas de controle, contribuindo, assim, para a tomada de decisão com base em dados fidedignos (MELO; SANTOS, 2017). 14 Na auditoria externa: • não existe vínculo empregatício com a empresa auditada; • os exames das operações são feitos principalmente para atender a sócios, acionistas, investidores, e demais interessados. Na auditoria interna • existe vínculo empregatício com a empresa auditada; • os exames das operações são feitos, principalmente, visando aos aspectos de eficiência operacional/administrativa. Atenção Caso a auditoria seja feita em uma empresa de capital aberto, é preciso que o contador também tenha registro profissional na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). De acordo com a NBC PG 100, alguns princípios devem nortear a conduta do profissional de contabilidade. São eles: princípios éticos, integridade, objetividade, competência e zelo profissionais, sigilo profissional e comportamento profissional. Para saber mais a esse respeito, acesse o link: <http://www1.cfc.org.br/sisweb/ SRE/docs/NBCPG100.pdf>. Saiba mais http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCPG100.pdf http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCPG100.pdf 15 A Resolução CFC 803/96, em seu art. 5º, posteriormente atualizada pela Resolução 3.107/10, estabelece alguns princípios éticos que o contador deve seguir como auditor: I – recusar sua indicação quando reconheça não se achar capacitado em face da especialização requerida; II – abster-se de interpretações tendenciosas sobre a matéria que constitui objeto de perícia, mantendo absoluta independência moral e técnica na elaboração do respectivo laudo; III – abster-se de expender argumentos ou dar a conhecer sua convicção pessoal sobre os direitos de quaisquer das partes interessadas, ou da justiça da causa em que estiver servindo, mantendo seu laudo no âmbito técnico e limitado aos quesitos propostos; IV – considerar com imparcialidade o pensamento exposto em laudo submetido a sua apreciação; V – mencionar obrigatoriamente fatos que conheça e repute em condições de exercer efeito sobre peças contábeis objeto de seu trabalho, respeitado o disposto no inciso II do Art. 2º; VI – abster-se de dar parecer ou emitir opinião sem estar suficientemente informado e munido de documentos; VII – assinalar equívocos ou divergências que encontrar no que concerne à aplicação dos Princípios de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo CFC; VIII – considerar-se impedido para emitir parecer ou elaborar laudos sobre peças contábeis observando as restrições contidas nas Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade; IX – atender à Fiscalização dos Conselhos Regionais de Contabilidade e Conselho Federal de Contabilidade no sentido de colocar à disposição desses, sempre que solicitado, papéis de trabalho, relatórios e outros documentos que deram origem e orientaram a execução do seu trabalho; e X - cumprir os Programas Obrigatórios de Educação Continuada estabelecidos pelo CFC. (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE) 16 Além de prezar pelos princípios éticos, no caso do auditor independente (externo), é preciso seguir as Normas Brasileiras de Auditoria, emitidas em conjunto pelos seguintes órgãos: Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Instituto de Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), Banco Central do Brasil (Bacen), Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Superintendência de Recursos Privados (Susep). De acordo com o art. 3º da instrução da CVM 308/99, o auditor independente precisa ter registro no CFC, na categoria contador. Ele deve ter exercido atividade de auditoria no país por, pelo menos, cinco anos (consecutivos ou não), período contado desde o seu registro no órgão. O art. 7º da instrução da CVM 308/99 estabelece como poderá ser comprovado o exercício da atividade de auditoria. Saiba mais detalhes sobre isso acessando o link: <http://www.cvm. gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/300/ inst308consolid.pdf>. Saiba mais O auditor externo deve ainda ter um escritório profissional legalizado, em seu nome, com instalações compatíveis com o exercício da atividade de auditoria independente, prezando pelo sigilo de documentos e informações dos clientes, além de, evidentemente, ter conhecimentos permanentemente atualizados sobre a área de atuação. Existem outras diretrizes e regras que o contador que exerce a função de auditor precisa seguir. No Quadro 2.3, podemos ver as principais normas e suas respectivas resoluções: http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/300/inst308consolid.pdf http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/300/inst308consolid.pdf http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/300/inst308consolid.pdf 17 Quadro 2.3: Normas Brasileiras de Contabilidade do Profissional de Auditoria – NBC PA NBC Resolução CFC Descrição NBC PI 01 821/97 Esta norma determina as competências técnico- profissional do auditor interno. Ela ainda trata de sua autonomia profissional, sobre a responsabilidade na execução dos trabalhos, além da manutenção do sigilo profissional e cooperação com o auditor independente. NBC PA 13 – Exame de Qualificação Técnica 1.109/07 Tem por objetivo examinar o nível de conhecimento e competência técnico-profissional dos auditores independentes. O exame de qualificação técnica é composto de prova escrita, contemplando questões para respostas objetivas e dissertativas. Os conhecimentos exigidos são: a) Ética Profissional; b) Legislação Profissional; c) princípios Fundamentais de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade, editados pelo Conselho Federal de Contabilidade; d) Auditoria Contábil; e) Legislação Societária; f) Legislação e Normas de Organismos Reguladores do Mercado; e, g) Língua Portuguesa Aplicada. O profissional obterá a aprovação mediante acerto de no mínimo 50% das questões objetivas e 50% das questões dissertativas elencadas nas provas, ocorrendo a aprovação no Exame de Qualificação Técnica para registro no Cadastro nacional de Auditores Independentes (CNAI). O resultado será publicado no Diário Oficial da União e a certidão de aprovação será divulgada no site do CFC. A avaliação será aplicada pelo menos uma vez em cada ano. NBC PA 01 – Controle de Qualidade para Firmas 1.201/09 Esta norma destaca o controle de qualidade para auditores (pessoas jurídicas e físicas) que executam o trabalho de auditoria. O principal objetivo, manter o controle de qualidade para obter segurança razoável, a fim de que todos os profissionais envolvidos cumpram as normas técnicas e as exigências éticas relevantes na emissão dos relatórios. Ainda de acordo com a norma, o profissional deve ter independência, ou seja, permite a apresentação da conclusão sem os efeitos da influência que possam comprometer o julgamento. Além disso, é um sistema de controle de qualidade que inclua políticas e procedimentos que tratam dos seguintes elementos: (a) responsabilidades da liderança pela qualidade; (b) exigências éticas significativas; (c) aceitação e continuidade do relacionamento com clientes e de trabalhos específicos; (d) recursos humanos; (e) execução do trabalho; e, (f) monitoramento. 18 NBC PA 11 – Revisão Externa de Qualidade pelos Pares 1.323/11 Esta norma aplica-se, exclusivamente, ao auditor com registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Ela foi criada objetivando assegurar a qualidade dos trabalhos desenvolvidos pelos auditores. Essa norma consiste no exame realizado por um auditor independente nos trabalhos de auditoria executados por outro auditor independente, visandoverificar se os procedimentos e as técnicas de auditoria utilizados para execução dos trabalhos nas empresas clientes estão em conformidade com as Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas e Profissionais, e quando aplicável, com outras normas emitidas por órgão regulador. Ela também analisa se o sistema de controle de qualidade desenvolvido e adotado pelo Auditor está adequado ao que é previsto na NBC PA 01 – Controle de Qualidade para Firmas (Pessoas Jurídicas e Físicas) de Auditores Independentes. A Revisão pelos Pares deve ocorrer, no mínimo, uma vez a cada ciclo de quatro anos. NBC PA 12 – Educação Profissional Continuada 1.377/11 Esta norma tem o objetivo de regulamentar o Programa de Educação Continuada exercida pelos contadores na atividade de auditoria independente. Essa norma determina que o auditor deverá cumprir no mínimo 40 pontos por ano- calendário, sendo, no mínimo oito pontos com atividades de conhecimento, e comprovar, mediante relatório de atividade e documentos relativos à atividade de educação no órgão de classe - CRC de sua jurisdição -, até o dia 31 de janeiro do ano subsequente. Cabe lembrar que, o descumprimento das disposições da norma constitui infração do profissional, podendo acarretar a baixa do registro no CNAI – Cadastro Nacional de Auditores Independentes. NBC PA 290 – Independência Trabalho de Auditoria e Revisão DOU 28/05/14 Esta norma trata-se da independência dos auditores em relação aos clientes para os trabalhos de auditoria. Os conceitos sobre a independência devem ser aplicados por Auditores para identificar ameaças à independência e avaliar a importância dessas ameaças. Além de aplicar salvaguardas, quando necessário, para eliminar as ameaças ou reduzi-las a um nível aceitável. Quando as salvaguardas apropriadas não estão disponíveis ou não podem ser aplicadas para eliminar as ameaças ou reduzi-las a um nível aceitável, o auditor deve eliminar a circunstância ou relacionamento que cria as ameaças, declinar ou descontinuar o trabalho de auditoria. O auditor deve usar julgamento profissional ao aplicar estes conceitos sobre a independência. NBC PA 291 – Independência Outros Trabalhos de Asseguração DOU 28/05/14 Assim como a NBC PA 290 essa norma refere-se a independência dos auditores, só que diferente da norma referida que trata dos trabalhos de auditoria e revisão, essa norma refere-se a outros trabalhos de asseguração. Fonte: Elaborado pelos autores (2018). 19 Dessa forma, você já deve ter concluído que o contador que exerce a função de auditor deve atender a diversas regras, como atualização constante da profissão e, acima de tudo, a ética, o ceticismo e a independência. 20 Referências CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. A estrutura das Normas Brasileiras de Contabilidade. Disponível em: <http://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de- contabilidade>. Acesso em: 29 dez. 2017. ______. Princípios fundamentais e Normas Brasileiras de Contabilidade, auditoria e perícia. Disponível em: <http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/ uploads/2013/01/livro_auditoria-e-pericia.pdf>. Acesso em: 30 dez. 2017. CREPALDI, S. A. Auditoria contábil: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2009. MELO, M. M. de; SANTOS, I. R. dos. Auditoria contábil: atualizada pelas Normas Internacionais de Auditoria emitida pela IFAC com adoção no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Maria Augusta Delgado, 2017. SANTOS, J. L. dos; GOMES, J. M. M. Fundamentos de auditoria contábil. São Paulo: Atlas, 2006. GINEAD AUDITORIA CONTÁBIL Unidade 3 - Controles internos SST Moreno, Fernanda Gualda; Pereira, Beatriz da Silva Unidade 3 - Controles internos / Fernanda Gualda Moreno; Beatriz da Silva Pereira Ano: 2020 nº de p.: 19 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Unidade 3 - Controles internos 3 Objetivo específico • Entender os procedimentos, métodos e rotinas do controle interno, além da sua contribuição na condução da auditoria contábil. Apresentando a Unidade Frequentemente, quando estudamos sobre estratégias, usamos a expressão “análise de ambiente”. Obviamente, estamos nos referindo ao ambiente organizacional, ou seja, em quais condições a empresa está e o que pode afetá-la. Essa análise é dividida em análise do ambiente interno (forças e fraquezas) e em análise do ambiente externo (oportunidades e ameaças). As variáveis que afetam o ambiente interno podem ser plenamente gerenciadas, porém não é de controle dos gestores o fato de haver (ou não) novos concorrentes, novas regulações governamentais que influenciem os resultados do negócio, como o aumento da carga tributária, por exemplo. É dever do auditor independente conhecer e compreender o ambiente de controle. Para as atividades de auditoria contábil, como vimos, são analisadas questões internas da empresa auditada que possam afetar os registros e, consequentemente, as demonstrações contábeis. No que diz respeito ao controle interno, o ambiente de controle será organizado conforme o estilo gerencial de cada empresa e a conscientização de seus colaboradores. O ambiente de controle deve incluir os seguintes juízos de valor: integridade, ética, competência, transparência e responsabilidade. Consequentemente, esses juízos materializam a cultura organizacional da entidade. Conceitos A palavra controle deriva de duas palavras do latim: contra e rotulus, que significa “rolo, escrito, registro”. Em outras palavras, significa o ato de verificação dos escritos ou as contas dos rolos ou pergaminhos’ O termo se referia, primeiro, à atividade da entidade controlada, que deveria ser sempre registrada, mas também 4 se referia a livros comerciais, como o livro diário, cujos registros poderiam ser comparados com os registros do livro original. Esse foi um método de contabilidade desenvolvido no século XIV pela família Médici, em Florença, e consistia na dupla entrada para o acompanhamento de débitos e créditos em seus negócios. Para Fayol (1990), controle consiste em verificar se a execução dos processos e dos procedimentos está em conformidade com as atividades planejadas, com as instruções emitidas e com os princípios preestabelecidos. As atividades de controle têm por objetivo apontar desvios (como as falhas, os erros e as distorções), para corrigi-los e evitar que voltem a ocorrer. O controle pode ocorrer de três formas: previamente, concomitantemente e subsequentemente à ocorrência de fatos e atos que podem alterar a situação patrimonial de uma empresa. No Quadro 3.1, veremos como cada uma delas ocorre: Quadro 3.1: Formas de controle Controle Descrição Prévio ou preventivo (a priori) Aquele que precede o início da realização de um ato, como validação das etapas de planejamento e organização. É de responsabilidade exclusiva de cada entidade. Concomitante ou sucessivo Aquele que acompanha a realização de um ato para verificar a regularidade de sua formação. É o controle no decorrer do ato, ou seja, quando há uma supervisão direta. Subsequente ou corretivo (a posteriori) Aquele que se efetiva após a conclusão de um ato controlado, visando corrigir eventuais falhas ou desvios, podendo-se validar ou não essa execução. Fonte: Elaborado pelos autores (2018). O Committee of Sponsoring Organization of the Treadway Commission (COSO), entidade fundada em 1985 nos Estados Unidos e referência mundial em normalização de boas práticas para prevenir e evitar fraudes nos procedimentos e processos internos, define o controle interno como sendo: [...] um processo conduzido pela estrutura de governança, administração e outros profissionais da entidade, e desenvolvido para proporcionar segurança razoável com respeito à realização dos objetivos relacionados a operações, divulgação e conformidade. (COSO, 2013, p. 6). 5 O controle interno, a partir dessa definição, deve ser planejado, implementado e mantido com a finalidade de encarar osriscos do negócio que ameacem a sua continuidade e para que sejam atingidos os seus objetivos institucionais. Conforme a NBC TA 315 (CFC, 2016), esses objetivos são classificados nas seguintes categorias: 1. confiabilidade das informações e demonstrações contábeis da entidade; 2. efetividade e eficiência de suas operações; e 3. sua conformidade com leis e regulamentos aplicáveis. Podemos interpretar, a partir dessa definição, que o controle interno é uma ação que promove a prática para que as políticas da companhia sejam atendidas com eficiência nas atividades operacionais, certificando-se de que as informações enviadas para a contabilidade sejam registradas de forma exata e completa, garantindo, assim, a existência dos bens e direitos (os ativos) da organização. Figura 3.1: O controle interno deve garantir o fornecimento de informações exatas e completas Fonte: Plataforma Deduca (2018). Portanto a finalidade do controle interno é fornecer segurança razoável quanto à realização dos objetivos (cumprimento da missão) da entidade, no que se refere à confiabilidade dos registros e demonstrações contábeis, e à efetividade e eficiência das operações, em conformidade com leis e regulamentos aplicáveis (compliance) (CFC, NBC TA 315, 2016). Uma das finalidades dessa atividade é descrever todas as medidas tomadas pela administração da empresa para dirigir e controlar seus recursos (humanos, financeiros e materiais) para o alcance dos objetivos estabelecidos. Segundo Attie (2010), o controle interno compreende o plano da organização e todos os métodos e medidas coordenadas, aplicados em uma empresa, a fim de assegurar os seguintes fatores: 6 • o plano de organização, que é o modo pelo qual se organiza um sistema, composto por elementos concretos e/ou abstratos; • o estabelecimento, por meio de métodos e medidas, dos caminhos e dos meios de comparação e julgamento para se chegar a determinado fim, ainda que não tenham sido preestabelecidos formalmente; • a proteção ou salvaguarda do patrimônio, que compreende a forma pela qual são protegidos e defendidos. Compreende tanto os bens quanto os direitos da empresa; • a exatidão e a fidedignidade dos dados contábeis, que devem corresponder tanto à precisão quanto à observância dos registros e livros contábeis e fis- cais; • a eficiência operacional, que compreende a ação ou energia a ser posta em prática nos acordos comerciais realizados pela empresa; e • as políticas administrativas, que compreendem o conjunto de regras referen- tes ao comando dos negócios e à prática dos valores, normas e funções para o cumprimento da missão. Talvez você esteja se perguntando: é possível aplicar o controle interno em qualquer tipo de empresa? Pensando em pequeno porte, como uma microempresa, em que só o proprietário trabalhe no estabelecimento, logicamente não há a necessidade de formalização de políticas e normas que garantam a ele que os ativos da microempresa (um refrigerador, por exemplo) existam, pois está em sua frente e ele pode vê-lo diariamente. Contudo, em entidades de grande porte e multinacionais, como Petrobras, General Motors, Coca-Cola, Nestlé, Microsoft, Vale, entre outras, a abordagem de controles é totalmente diferente. Os controles internos aplicados nessas empresas são fundamentais e indispensáveis em razão da sua expansão pelos países, do crescimento do volume de suas operações e, consequentemente, do aumento de seus níveis de risco. E o que é necessário para que o controle interno exista? O COSO (2013) definiu cinco componentes integrados ou inter-relacionados para os controles internos, cuja síntese podemos ver no Quadro 3.2: 7 Quadro 3.2: Componentes de controle interno Item Descrição Ambiente de controle Conjunto de normas, processos e estruturas que fornece a base para a condução do controle interno por toda a organização. Avaliação de risco Possibilidade de que um evento ocorra e afete, adversamente, a realização dos objetivos. Atividades de controle Ações estabelecidas por meio de políticas e procedimentos que ajudam a garantir o cumprimento das diretrizes determinadas pela administração para mitigar os riscos à realização dos objetivos. Informação e comunicação Informação é necessária para que a entidade cumpra responsabilidades de controle interno, a fim de apoiar a concretização de seus objetivos. Atividades de monitoramento Avaliações contínuas, independentes, ou uma combinação das duas, para a organização certificar-se da presença e do funcionamento de cada um dos cinco componentes de controle interno, inclusive a eficácia dos controles nos princípios relativos a cada componente. Fonte: COSO (2013). Portanto a função do controle interno é evitar e apontar falhas nas operações que possam ocorrer nos procedimentos e objetivos estabelecidos pela companhia. Para isso, é fundamental que a empresa crie uma cultura organizacional, na qual todos os seus funcionários conheçam e cumpram as políticas de conduta de negócios estabelecidas. A auditoria independente tem como principal objetivo, como já reforçado diversas vezes, a expressão de uma opinião sobre as demonstrações contábeis, materializada na emissão do relatório de auditoria. Entretanto essa é a última etapa do seu trabalho, ou seja, do processo de auditoria. Nesta unidade, estamos estudando, entre outros pontos, sobre a segunda etapa desse processo: a avaliação do controle interno. Ressaltamos que, na etapa de avaliação do controle interno, o auditor poderá se deparar com uma deficiência significativa. Trata-se de falhas e/ou desvios que, isoladamente ou em conjunto, dependendo da gravidade, possam comprometer as demonstrações contábeis. Com base em seu julgamento profissional, a deficiência de controle interno pode merecer atenção por parte dos responsáveis pela governança. Essa deficiência ocorre, principalmente, quando há falta de controle 8 preventivo, como, por exemplo, a falta de atividades de conciliação ou reconciliação de lançamentos contábeis ou a ineficiência na correta e adequada classificação de contas. Segundo a NBC TA 265 (CFC, 2010), o auditor tem o dever de fazer essa comunicação. Ele deve incluir, na comunicação por escrito, as deficiências consideradas significativas de controle interno, com a respectiva descrição do que julga deficiente e expor os seus possíveis reflexos nas demonstrações contábeis. Complementarmente, ele deve justificar que essa etapa do processo de auditoria tem como finalidade o planejamento de quais procedimentos de auditoria são adequados e apropriados nas circunstâncias, porém não cabe a ele expressar uma opinião sobre a eficácia (gestão) do controle interno. A fraude é uma questão ligada à ética e à moral, conceitos relacionados, porém diferentes. Fazer o certo ou o errado é uma questão de valores pessoais. Pode ocorrer por necessidade, vontade ou distúrbio. Obviamente, o indivíduo pode ser influenciado pelo ambiente em que cresceu, vive ou trabalha, mas a decisão de cometer ato ilícito é dele. Vimos que o erro, via de regra, ocorre involuntariamente, mas a fraude resulta de ato intencional. Como, então, é possível diminuir ou eliminar as fraudes? Reflita Vimos, anteriormente, que a Lei Sarbanes-Oxley (SOX) por regulamentação, obriga as companhias que operam no mercado de capitais norte-americano a seguir, entre outras regras, a implantação de adequado sistema de controle interno, sejam empresas norte-americanas ou estrangeiras, bem como as filiais de empresas norte-americanas baseadas em outros países. Essa lei objetiva, principalmente, proteger os investidores com a melhoria da precisão e confiabilidade das divulgações corporativas, em conformidade com a regulamentação da Securities and Exchange Commission (SEC), equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil. A SOX é baseada nos seguintes pilares: compliance – o cumprimento de regras e leis; accountability – deriva da prestação de contas de maneiraresponsável; disclosure – a atuação de forma transparente; fairness – o senso de justiça. Pautada nesses pilares, a SOX determinou, ainda, medidas como: 9 • aumento da independência do auditor externo; • definição do papel crítico dos controles internos por meio de certificações e declarações; • penalidades criminais para diretores e administradores. Portanto os controles internos assumem função crítica do processo e de seus administradores. Especificamente, o Presidente (CEO – Chief Executive Officer) e o Diretor Financeiro (CFO – Chief Financial Officer) deverão certificar, de maneira formal, os controles internos por meio de uma declaração explícita que será ou não ratificada pelo auditor independente. A SOX (USA GOVERNMENT, 2002) prevê, em suas Seções 302 e 404, as exigências com relação ao controle interno: A Seção 302 determina que Diretores Executivos e Diretores Financeiros devem declarar pessoalmente que são responsáveis pelos controles e procedimentos de divulgação. Cada arquivo trimestral deve conter a certificação de que eles executaram a avaliação do desenho e da eficácia desses controles. Os executivos certificados também devem declarar que divulgaram todas e quaisquer deficiências significativas de controles, insuficiências materiais e atos de fraudes ao Comitê de Auditoria. A SEC também propôs uma exigência de certificação mais abrangente que inclui os controles internos e os procedimentos para a emissão de relatórios financeiros, além da exigência relacionada com os controles e procedimentos de divulgação. (p. 33, tradução nossa). A Seção 404 determina uma avaliação anual dos controles e procedimentos internos para a emissão de relatórios financeiros. Além disso, o auditor independente da companhia deve emitir um relatório distinto que ateste a asserção da administração sobre a eficácia dos controles internos e dos procedimentos executados para a emissão dos relatórios financeiros. (p. 45, tradução nossa). Observamos que a seção 404 da SOX não especificou qual metodologia de controle interno deve ser adotada, mas, nos EUA, ficou definido, pela maioria das empresas, que a metodologia a ser implantada deva ser a que foi preconizada pelo Coso. 10 Uma entidade que presta serviços de formação, capacitação e certificação (com reconhecimento internacional) para profissionais que atuam em auditoria interna é o Instituto dos Auditores Internos do Brasil (IIA Brasil). Entre suas certificações, destacam-se: • CIA – Certified Internal Auditor; • CCSA – Certification in Control Self-Assessment; • CGAP – Certified Government Auditing Professional; • CFSA – Certified Financial Services Auditor; • CRMA – Certification in Risk Management Assurance. Curiosidade Como você deve ter observado, a lei SOX criou uma série de exigências não apenas para as empresas norte-americanas e suas filiais espalhadas pelo mundo, mas também para empresas estrangeiras que operam no mercado de capitais norte- americano, privilegiando, de forma significativa, a transparência da informação para a sociedade. Antes da criação da SOX, os auditores independentes somente opinavam sobre as demonstrações financeiras, fato que continua ocorrendo em países em que a legislação local ainda não obrigue o contrário, como é o caso do mercado de capitais brasileiro e das empresas que não sejam elegíveis de adaptação às novas regras. A sua adoção é obrigatória para as filiais instaladas no Brasil de matrizes norte-americanas que operam no mercado de capitais norte-americano e empresas brasileiras que captam recursos nesse mercado. No entanto a bolsa de valores brasileira – após a fusão da BM&F Bovespa e da Cetip, é denominada atualmente B3, que significa Bolsa Brasil Balcão – criou níveis diferenciados de governança corporativa para as empresas com ações listadas no país. São eles: Nível I, Nível II e Novo Mercado. Tanto o nível I como o nível II são considerados diferenciados, pois foram criados com o objetivo de preparar as empresas para o chamado Novo Mercado. Entre as exigências, estão a melhoria das 11 relações com investidores. No nível Novo Mercado, as empresas se comprometem a adotar práticas consistentes de governança e transparência (disclousure), além das exigidas pela legislação brasileira. Controles administrativos e contábeis Controles administrativos Os controles administrativos são parte do plano de organização, ou seja, o que é necessário para o início e o gerenciamento da empresa. Além disso, compõem, ainda, todos os métodos e procedimentos que dizem respeito à eficiência operacional e à decisão política traçada pela administração. Normalmente, se relacionam, de forma indireta, aos registros contábeis ou financeiros. Nesse tipo de controle, são também utilizadas análises estatísticas, estudos de tempo e movimentos, relatórios de desempenho, programas de treinamento e controle de qualidade (ATTIE, 2010). Os controles administrativos são importantes, pois garantem a qualidade individual dos setores, para, na consolidação, assegurarem a qualidade de toda a empresa. Esses controles exercem influência sobre os controles contábeis, uma vez que ele registrará e mensurará várias informações geradas pelos controles administrativos. Portanto contempla diferentes controles e relatórios sobre os procedimentos internos de cada departamento, ou seja, como são realizadas cada uma das atividades, cobrindo toda a estrutura organizacional. São exemplos de controles administrativos os relatórios de seleção de pessoal, produção individual por máquinas, por departamentos e por funcionários. Controles contábeis Os controles contábeis, assim como os controles administrativos, também são parte do plano de organização. Entretanto eles contemplam os métodos e procedimentos diretamente relacionados com a proteção do patrimônio (bens, direitos e obrigações) e com a fidedignidade dos registros contábeis. Os controles contábeis estão diretamente relacionados com a contabilização de atos e fatos e, consequentemente, das demonstrações contábeis. Um erro de 12 classificação, por exemplo, no plano de contas em uma classe, grupo ou subgrupo de uma operação mercantil, irá gerar outputs (relatórios) distorcidos. Eles são importantes, pois fornecem à administração informações claras, objetivas, confiáveis e em tempo, para auxiliar no processo de tomada de decisão, gestão e, principalmente, de avaliação dos resultados obtidos (lucros ou prejuízos). Garantem que as transações sejam contabilizadas, segundo o regime de competência e de acordo com as normas e regras contábeis e fiscais. E, ainda, garantem que a escrituração seja suportada por documentos confiáveis (ATTIE, 2010). O processo de escrituração contábil deve ser objetivo. A contabilidade não registra com base em critérios subjetivos. Para tanto, nos controles contábeis, devem ser contemplados cuidados de como são guardados os documentos de suporte aos registros, ou seja, como eles são arquivados, seja em meio físico ou digital. São exemplos de controles contábeis: • revisão periódica do plano de contas e do seu respectivo manual de funcio- namento; • implantação e manutenção de um manual de rotinas contábeis e fiscais; • conferência de livros ou fichas razões auxiliares e a conciliação dos seus saldos com a razão geral e com o livro diário; • verificação das formalidades extrínsecas e intrínsecas dos livros contábeis; • emissão de balancete de verificação por período de competência; • separação das funções de escrituração e elaboração dos relatórios contá- beis daquelas ligadas às operações; • emissão de relatórios de análise para demais departamentos. Princípios do controle do interno Você já deve ter ouvido falar em princípios, certo? Princípios constitucionais, princípios orçamentários, princípios de contabilidade, entre outros. Mas você sabe o que esse termo significa? Segundo o Dicionário Michaelis (2018), quando nos referimos a princípios em uma área de conhecimento,trata-se de conjunto de teorias fundamentais e diretivas que servem de base e às quais todo desenvolvimento posterior deve ser subordinado. A partir desse conceito, concluímos que os princípios compõem um conjunto de regras, diretrizes e sistemas para se atingir objetivos específicos. 13 No estudo sobre controle interno, também seguimos algumas regras básicas. Os principais princípios do controle interno, segundo Almeida (2010), são: responsabilidade, rotinas internas, acesso aos ativos, segregação de funções, confrontos dos ativos com os registros, amarrações do sistema, auditoria interna, controle de custo x benefícios e limitações do controle interno. Vamos ver cada um deles em detalhes? Responsabilidade Cada funcionário deve ser instruído de forma clara e objetiva sobre quais são as atividades de sua competência, suas funções na empresa (ALMEIDA, 2010). Pode ocorrer a delegação de competência, por substituição em férias ou licenças, com o objetivo de assegurar mais rapidez e objetividade ao processo decisório, que será cessada sempre que não mais se justificar. Assim sendo, em qualquer setor, divisão ou departamento deve ser observada a existência do regimento e do organograma da empresa. Rotinas internas Os colaboradores devem ser instruídos a seguir os manuais de rotinas/ procedimentos. Para tanto, é preciso que tenham qualificação adequada e, quando preciso, ações de capacitação. Essas medidas são fundamentais para que se evitem erros capazes de gerar distorções relevantes em objetos de controles administrativos e contábeis. Acesso aos ativos Segundo Almeida (2010), a empresa deve limitar o acesso dos colaboradores aos seus ativos, bem como estabelecer controles físicos sobre eles. Esse princípio está relacionado ao princípio da responsabilidade e ao princípio da segregação de funções. Trata-se de questão de segurança. Imagine se todos os funcionários tiverem acesso livre e ilimitado ao almoxarifado e aos registros contábeis. Como não conhecemos o caráter de todos, não teremos como saber ao certo quem cometeu eventuais furtos. Imagine, agora, em relação ao acesso à conta bancária da empresa. 14 Um empregado pode ser responsabilizado pelos bens patrimoniais móveis de que se utiliza, por exemplo. Ele tem acesso a um computador, uma mesa, uma impressora, mas apenas limitados aos do seu setor. Segregação de funções Um dos mais relevantes, o princípio da segregação de funções diz respeito à estrutura organizacional e deve prever a separação entre as funções de quem autoriza ou aprova e de quem opera, executa, controla e contabiliza. Segundo Attie (2010), ninguém deve ter, sob sua inteira responsabilidade, todas as fases de um processo. Cada uma dessas fases deve, preferencialmente, ser executada por pessoas e setores independentes entre si. Na medida do possível, quem autoriza não deve ser quem aprova, para não expor a risco os interesses da empresa. Imagine alguém que receba um material de um fornecedor, faça a conferência, ateste a nota fiscal, pague o fornecedor e ainda seja usuário final desse material. Tal situação até pode ocorrer em empresas muito pequenas, mas em grandes corporações haveria um risco enorme de se fraudar o processo. Confronto dos ativos com os registros Periodicamente, sob responsabilidade de um ou mais funcionários, devem ser realizados os inventários, ou seja, o confronto entre o que existe e o que está registrado. Por exemplo, inventário de bens materiais de almoxarifado, inventário de bens patrimoniais móveis e imóveis, conciliação bancária etc. Observamos que esse procedimento de controle deve ser efetuado por outros colaboradores que não tenham acesso aos ativos inventariados. Esse fato é evidente, já que o empregado responsável (pela guarda ou utilização) poderia desviar o bem e informar à administração da empresa que os ativos existentes concordam com os registros contábeis (ALMEIDA, 2010). 15 Figura 3.2: Nas entidades, é necessário realizar um confronto periódico entre os ativos e os registros Fonte: Plataforma Deduca (2018). Amarrações do sistema Relacionado ao princípio de rotinas internas, o princípio das amarrações do sistema, na medida do possível, deve automatizar e/ou parametrizar as operações repetitivas e criar mecanismos para barrar inputs (entradas) inconsistentes. Devem ser criados controles sobre as transações, ou seja, o acompanhamento dos registros de fatos contábeis, financeiros e operacionais, objetivando que sejam efetuados mediante atos legítimos, relacionados com a finalidade do setor e autorizados por quem de direito, conforme o seu nível de acesso. Trata-se de conformidades prévias capazes de alertar o usuário de possíveis erros ou alertas que mereçam atenção ou revisão, com o objetivo de verificar a integridade dos dados. Assim, o sistema de controle interno deve ser arquitetado de maneira que sejam registradas apenas as transações autorizadas, por seus valores corretos e dentro do mês/exercício de competência (ALMEIDA, 2010). Auditoria interna Conforme Almeida (2010), não adianta a empresa implantar um excelente sistema de controle interno sem que alguém verifique, periodicamente, se os colaboradores estão ou não cumprindo o que foi determinado no sistema e nas políticas da empresa, ou ainda se o sistema ou as políticas não deveriam ser adaptados às novas exigências ou circunstâncias. Um setor de auditoria interna, para executar sua tarefa, não deve ser subordinado a nenhum departamento, mas ser um órgão de assessoria à alta administração. 16 Custos do controle x benefícios Também conhecida como relação custo versus benefício, consiste no cálculo do custo de um controle em relação aos benefícios que ele possa proporcionar. Será que um determinado controle é demasiadamente custoso em relação aos benefícios que pode trazer? Inclui uma questão de bom senso e de se verificar a materialidade ou relevância desse controle para a administração. Por exemplo, os organogramas nas empresas são cada vez mais horizontais, pois funções de encarregado ou supervisor, em alguns casos, foram suprimidas. As pessoas devem ser responsáveis por suas atividades e não necessariamente ser vigiadas todo o tempo. Pagar alguém para apenas vigiar outro alguém? Não faz sentido, não é mesmo? Portanto controles mais sofisticados (normalmente, mais onerosos) devem ser estabelecidos para transações de valores relevantes, enquanto os controles menos rígidos devem ser implantados para as operações menos importantes (ALMEIDA, 2010). Limitações do controle interno De nada adianta um excelente sistema de controle interno se não houver a participação e o envolvimento das pessoas. Assim, o fator limitante aqui são os próprios funcionários, que podem ser despreparados, negligentes e agirem de má fé. Essas questões podem ser evitadas com ações de capacitação, qualidade de vida, motivação e relações interpessoais. A empresa deve assegurar que todos observem as diretrizes, planos, normas, leis, regulamentos e procedimentos administrativos, bem como que os atos e fatos de gestão sejam efetuados mediante atos legítimos. Segundo Attie (2010), é necessário, quando possível, haver rotação de funcionários, ou seja, o rodízio dos funcionários designados para cada trabalho, pois possibilita reduzir as oportunidades de fraudes e resulta, geralmente, em novas ideias de trabalho para as funções. 17 Publicado no periódico “Sociedade, Contabilidade e Gestão”, em 2017, o artigo “Comitê de auditoria e gerenciamento de resultados em empresas reguladas e empresas não reguladas”, de Alessandra Carvalho de Vasconcelos, David Stanhy de Carvalho Silva e Márcia Martins Mendes De Luca, destaca que um comitê de auditoria deve ser constituído por membros independentes, para inibir a prática de gerenciamento de resultados. Leia-o na íntegra acessando: <https://revistas.ufrj.br/index.php/scg/article/view/14164/pdf>. Saiba mais Para finalizarmos esta unidade, vamos conheceras principais recomendações a serem adotadas pelos auditores independentes na avaliação do ambiente de controle da empresa auditada, conforme Crepaldi (2009): 1. considere quaisquer tipos de erros e irregularidades que possam ocorrer; 2. determine quais serão os procedimentos de controle contábil necessários para se prevenir ou detectar esses erros e irregularidades; 3. determine se esses procedimentos são formalmente estabelecidos e, princi- palmente, se eles estão sendo cumpridos; 4. avalie todas as falhas, ou seja, os tipos de erros e irregularidades potenciais e que não são cobertos pelo procedimento de controle existente para deter- minar seu efeito sobre a natureza, caráter oportuno ou extensão dos procedi- mentos de auditoria a serem aplicados; 5. envie sugestões ao cliente para melhoria dos seus processos. A partir dessas recomendações, o auditor poderá determinar quais dos procedimentos de auditoria serão utilizados em determinada entidade. https://revistas.ufrj.br/index.php/scg/article/view/14164/pdf 18 Referências ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ATTIE, W. Auditoria: conceitos e aplicações. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TA 265 – Comunicação de deficiências de controle interno. Aprova a NBC TA 265. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 3 fev. 2010. ______. NBC TA 315 (R1) – Identificação e avaliação dos riscos de distorção relevante por meio do entendimento da entidade e do seu ambiente. Dispõe sobre a identificação e avaliação dos riscos de distorção relevante por meio do entendimento da entidade e do seu ambiente. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 5 set. 2016. COMMITTEE OF SPONSORING ORGANIZATIONS OF THE TREADWAY COMMISSION - COSO. Internal Control - Integrated Framework. The Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission. Jersey City: 2013. Disponível em: <https://www.coso.org/Pages/ic.aspx>. Acesso em: 6 jan. 2018. CREPALDI, S. A. Auditoria Contábil: teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009. FAYOL, J. H. Administração industrial e geral: Previsão, organização, comando, coordenação e controle. 10. ed. São Paulo: Atlas, 1990. PRINCÍPIO. In: MICHAELIS Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2015. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br>. Acesso em: 5 jan. 2018. SILVA, D. S. de C.; VASCONCELOS, A. C. de; DE LUCA, M. M. M.Comitê de auditoria e gerenciamento de resultados em empresas reguladas e empresas não reguladas. Sociedade, Contabilidade e Gestão, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, set/dez 2017. Disponível em: <https://revistas.ufrj.br/index.php/scg/article/view/14164/pdf>. Acesso em: 25 jan. 2018. https://www.coso.org/Pages/ic.aspx 19 UNITED STATES GOVERNMENT. SOX. Act, an. Be it enacted by the Senate and House of Representatives of the United States of America in Congress assembled, Sarbanes-Oxley Act of 2002. Public Law, v. 107, 2002. GINEAD AUDITORIA CONTÁBIL Unidade 4 - Planejamento de Auditoria SST Moreno, Fernanda Gualda; Pereira, Beatriz da Silva Unidade 4 - Planejamento de Auditoria / Fernanda Gualda Moreno; Beatriz da Silva Pereira Ano: 2020 nº de p.: 17 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Unidade 4 - Planejamento de Auditoria 3 Objetivo específico • Identificar os procedimentos para o estabelecimento de metas e objetivos no processo de auditoria, determinando a melhor forma de atingi-las. Apresentando a Unidade Nesta unidade, você compreenderá os primeiros passos para a realização de uma auditoria: o planejamento. Esse processo, que consiste na avaliação da organização, é a base para todas as demais etapas. As informações obtidas nessa fase servirão para elaborar a documentação necessária que comprovará que o auditor executou todas as etapas, de acordo com as Normas de Auditoria. Também abordaremos os métodos aplicados no trabalho de auditoria, além de todas as etapas que envolvem a elaboração dos procedimentos de auditoria que possibilitarão o alcance dos resultados almejados. Vamos começar? Características do planejamento De acordo com Pinho (2009), o século XXI impõe uma profunda revisão sobre a execução das atividades de auditoria e das posturas dos auditores. Dessa forma, o planejamento é fundamental para a execução correta da auditoria. Ele é o pontapé inicial para a organização dos trabalhos de auditoria. Um bom planejamento auxilia o auditor a focar nas áreas mais importantes da auditoria, identificando e resolvendo problemas de forma preventiva, além de direcionar, da melhor forma, a equipe de trabalho. O planejamento deve considerar alguns fatores na execução dos trabalhos, como: • conhecimento das práticas contábeis, dos controles internos e das áreas importantes da empresa, avaliando o volume de transações e complexidade das atividades; • extensão dos procedimentos de auditoria que serão aplicados; • necessidade do trabalho de outros auditores; 4 • avaliar o conteúdo de relatórios e outras informações entregues à empresa; • obedecer a prazos estabelecidos por entidades reguladoras ou fiscalizado- ras. Figura 4.1: Realização do planejamento de auditoria Fonte: Plataforma Deduca (2018). Quando o planejamento da auditoria exigir a designação de equipe técnica especializada, ela deve ser orientada e supervisionada pelo auditor, que assumirá a responsabilidade pelos trabalhos executados. Isso deve ser previsto de modo que forneça segurança aos trabalhos. No planejamento, são definidos os princípios que nortearão os objetivos propostos para a auditoria, prezando sempre pela maneira mais eficaz de realizá- los (CREPALDI, 2009). O auditor deve planejar seu trabalho sempre direcionado pelas Normas Profissionais de Auditor Independente, obedecendo a prazos e compromissos assumidos por contrato com a empresa. O planejamento tem como premissa o nível adequado de conhecimento sobre a atividade da empresa, os fatores econômicos e a legislação que se aplica sobre suas operações. Dessa forma, o auditor obterá informações que o ajudarão na elaboração do planejamento, levando em consideração os riscos e os fatos relevantes que afetarão a execução do trabalho. Entre os principais objetivos do planejamento da auditoria, podemos mencionar: • obter conhecimento das atividades da empresa, a fim de identificar quais procedimentos são de significativa relevância e que podem afetar as de- monstrações contábeis; • propiciar que os serviços contratados de auditoria sejam entregues nos pra- zos e compromissos estabelecidos; 5 • assegurar que sejam quantificadas monetariamente as áreas mais impor- tantes da empresa e que esses valores estejam devidamente demonstrados em suas demonstrações contábeis; • identificar os problemas potenciais que possam afetar as atividades da em- presa; • identificar a legislação mais condizente com a empresa; • dimensionar a extensão do trabalho a ser feito e se ele está condizente com os termos da proposta de serviços para sua realização; • definir qual será a divisão das tarefas na equipe de trabalho, se houver; • quando houver equipe de profissionais envolvida, que seja facilitada a super- visão dos serviços executados; • possibilitar que a coordenação do trabalho possa ser feita por outros audi- tores; • buscar que os auditores internos também coordenem o trabalho; • identificar prazos de entrega de relatórios; • outros objetivos podem ser fixados, segundo a forma de execução de cada trabalho, principalmente quando houver outras partes relacionadas. Você já pensou na importância do planejamento? Assista a este vídeo <https://www.youtube.com/watch?v=LOyX-vgdQGQ> e reflita sobre o preço que se paga ao não se fazer um planejamento. Reflita A NBC TA 300 (R1) destaca que o planejamento é um processo contínuo que se inicia assim que termina a última auditoria (muitas vezes, atéantes do término). Ele precisa considerar os seguintes aspectos (CFC, NBC TA 300 (R1) A2): a. os procedimentos analíticos a serem aplicados como procedimentos de ava- liação de risco; b. obtenção de entendimento global da estrutura jurídica e o ambiente regula- tório aplicável à entidade e como a entidade cumpre com os requerimentos dessa estrutura; c. a determinação da materialidade; d. o envolvimento de especialistas; https://www.youtube.com/watch?v=LOyX-vgdQGQ 6 e. a aplicação de outros procedimentos de avaliação de risco. Após a observância desses aspectos, é possível iniciar o planejamento, que se divide em duas grandes fases: estratégia global e plano de auditoria. A estratégia global é feita antes do início dos procedimentos, visando à definição do alcance, período e a direção da auditoria, para a orientação e desenvolvimento do plano de auditoria. Estratégia global Ao definir a estratégia global, o auditor deve: a. identificar as características do trabalho para que possa, posteriormente, de- finir o seu alcance; b. definir os objetivos do relatório do trabalho visando planejar o período em que será feita a auditoria, além de definir a natureza das comunicações re- queridas; c. determinar e considerar os fatores que, no julgamento do auditor, são signi- ficativos para orientar os esforços da equipe do trabalho; d. considerar os resultados das atividades preliminares do trabalho de audito- ria; e. determinar a natureza, a época e a extensão dos recursos que serão neces- sários para realização o trabalho. Segundo Melo e Santos (2017), a documentação da estratégia global da auditoria refere-se ao registro de decisões relevantes, que serão de suma importância para que o planejamento da auditoria seja realizado de forma adequada e para a comunicação de temas significativos à equipe de trabalho. Plano de Auditoria O plano de auditoria consiste em uma série de notas que abrange o objetivo geral e a maneira de conduzir os trabalhos. Na fase de planejamento, o auditor deve estabelecer o nível de relevância nos planos e na auditoria. Devem ser determinadas as unidades a serem auditadas para medir essa evidência. 7 O planejamento da auditoria consiste no trabalho que o auditor realiza para elaborar uma estratégia de trabalhos a serem executados, tais como: grau de conhecimento da atividade da empresa auditada; se a empresa tem ou não auditoria interna; quais os procedimentos a serem aplicados; quais relatórios entregues; qual a equipe técnica que fará parte dos trabalhos. Quadro 4.1: Informações do plano de auditoria Informação Descrição Natureza A natureza do plano de auditoria refere-se à finalidade e ao tipo de auditoria. Esse é um procedimento muito importante para a determinação dos riscos de auditoria. Época A época no plano de auditoria refere-se ao período em que a auditoria será feita, ou a data à qual a evidência da auditoria se aplica. Extensão do procedimento A extensão do procedimento refere-se à quantidade de informações que será analisada na auditoria, por exemplo, o tamanho da amostragem ou ainda o número de observações de uma unidade de controle. Documentação do plano de auditoria A documentação do plano de auditoria refere-se ao registro da natureza, época e extensão planejadas para o procedimento de avaliação de risco e de procedimentos adicionais. Ela também serve para a revisão de registros de informações referentes ao planejamento de procedimentos de auditoria que serão aprovados antes de sua aplicação. Fonte: Adaptado de Melo e Santos (2017). Depois de conhecer as fases da auditoria, temos novo desafio: conhecer os fundamentos e as características que envolvem a primeira auditoria da empresa. Vamos lá? Vamos falar sobre a materialidade? Anteriormente, a definição da materialidade ficava a cargo do auditor, mas, com a promulgação da NBC TA 320, isso mudou. Ela trata da responsabilidade do auditor quanto à aplicação do conceito de materialidade no planejamento e na execução de auditoria de demonstrações contábeis. Para saber mais detalhes sobre esse assunto, acesse: <https://www. classecontabil.com.br/artigos/o-conceito-de-materialidade- para-a-auditoria>. Saiba mais https://www.classecontabil.com.br/artigos/o-conceito-de-materialidade-para-a-auditoria https://www.classecontabil.com.br/artigos/o-conceito-de-materialidade-para-a-auditoria https://www.classecontabil.com.br/artigos/o-conceito-de-materialidade-para-a-auditoria 8 Planejamento da primeira auditoria A primeira auditoria em uma empresa sempre requer alguns cuidados especiais, principalmente nas seguintes situações: • a entidade nunca passou por auditoria; • a entidade não foi auditada em período anterior; • a organização não foi auditada em período anterior e, mesmo assim, as de- monstrações contábeis irão servir de base para comparação. Nessa circunstância, o auditor independente deve incluir no planejamento da auditoria: análise dos saldos de abertura, procedimentos contábeis adotados pela empresa, padronização dos procedimentos contábeis, identificação de eventos relevantes no exercício anterior e revisão dos papéis de trabalho anteriormente feitos. Na Resolução CFC nº 1.035/2005, o planejamento de auditoria independente deve contemplar diversas situações que permitam ao auditor obter evidências ou provas para fundamentar sua opinião sobre as demonstrações contábeis auditadas. Em uma primeira auditoria, é recomendado que o auditor obtenha evidências suficientes, sejam do exercício atual ou do anterior, quando elas influenciam nas demonstrações contábeis do exercício atual. No Quadro 4.2, podemos ver as informações que devem ser observadas: Quadro 4.2: Informações relevantes para o planejamento da primeira auditoria Informação Descrição Saldos de abertura O auditor deve examinar e confrontar todos os saldos e registros contábeis das contas que componham o balanço patrimonial e verificar a sua consistência. Procedimentos contábeis adotados O auditor deve observar os princípios de contabilidade e das Normas Brasileiras de Contabilidade adotados pela empresa. No exercício anterior, há a necessidade de comparação, principalmente quanto aos procedimentos contábeis adotados. Para se certificar dos procedimentos contábeis adotados no exercício anterior, cabe ao auditor proceder a um exame sumário daqueles adotados pela entidade, inclusive pelo que constam nas respectivas demonstrações contábeis. Se o exercício anterior foi examinado por outro auditor independente, devem ser analisados o parecer dos auditores e o conteúdo das demonstrações contábeis, inclusive as notas explicativas, como fonte de informação para uma avaliação, pela auditoria, do exercício a ser auditado. 9 Uniformidade dos processos contábeis A comparação das demonstrações contábeis de dois exercícios depende dos procedimentos contábeis adotados. Quando o planejamento da auditoria é feito, os procedimentos contábeis adotados no exercício são comparados com os adotados no exercício anterior. Caso os procedimentos contábeis adotados não atendam aos princípios de contabilidade e às Normas Brasileiras de Contabilidade aceitos, o auditor deve debater isso com a administração da empresa. Eventos relevantes subsequentes ao exercício anterior Quando em uma primeira auditoria forem constatadas situações relevantes, elas devem ser discutidas com a administração da empresa e, se as demonstrações contábeis foram examinadas por outros auditores independentes, deve ser motivo de debate com estes auditores, para se inteirar dos fatos e das situações. Revisão dos papéis de trabalho Na primeira auditoria, o auditor deve avaliar a necessidade de revisão dos papéis de trabalho, a qual o auditor independente deve verificar a sua necessidade e a dos relatórios elaborados por outro auditor. Fonte: Elaborado pelos autores (2018). No próximo tópico, conheceremos as diferentes modalidades de auditoria. Está preparado? Modalidades de auditoriaOutro tópico relevante na realização de uma auditoria é determinar qual será o método adotado. Os métodos aplicados no trabalho de auditoria podem ser de dois tipos: o de retrospecção e o de análise, pelo trabalho técnico a ser feito. O trabalho de retrospecção é uma técnica de auditoria em que se verificam fatos passados, que já ocorreram na empresa. Já a técnica de análise verifica conduta de trabalho na técnica de auditoria utilizada. Geralmente, as execuções dos trabalhos envolvem: levantamento das rotinas administrativas, financeiras e contábeis; planejamento do trabalho de auditoria; levantamento das provas documentais; relatório final de auditoria; e, por fim, certificados. Em cada uma dessas fases, a técnica de auditoria possibilita processos de execução que serão devidamente estudados no desenvolver do presente trabalho, 10 constituindo matéria ou objeto da pesquisa e da orientação profissional. Segundo Crepaldi (2009, p. 31), “[...] a norma é exercer a verificação sobre fatos passados e em todas as verificações usar a decomposição de todos os elementos do fato, isto é, sua análise”. Quanto às modalidades, a auditoria divide-se em grandes grupos, como a auditoria de demonstrações contábeis e a auditoria operacional ou de gestão, além de outros métodos. Todos os métodos serão destacados a seguir. Auditoria de Demonstrações Financeiras Para entender o conceito de auditoria de demonstrações financeiras, é necessário, primeiro, entender sua função. As demonstrações contábeis/financeiras devem observar alguns requisitos, entre eles: • informar aos usuários sobre os critérios adotados; • apresentar parecer de terceiros (alheios à empresa) sobre a confiabilidade das demonstrações contábeis. Para informar aos usuários, são obedecidas as regras conhecidas como princípios e normas de contabilidade. Quanto à apresentação do relatório de auditoria a terceiros, alheios à empresa, o auditor pode emitir parecer técnico sobre sua finalidade. Figura 4.2: Na auditoria de demonstração financeiras, o auditor deve apresentar um relatório resul- tante de sua análise Fonte: Plataforma Deduca (2018). 11 O auditor deve conhecer bem o sistema contábil e os controles internos aplicados pela empresa, isso é necessário para determinar os procedimentos de auditoria a serem feitos, como: conhecimento do sistema de contabilidade; confiabilidade das informações do sistema contábil; e a confiabilidade dos controles internos. Agora, vamos conhecer a auditoria operacional ou de gestão? Auditoria operacional ou de gestão A auditoria conhecida como auditoria operacional tem como propósito a análise dos objetivos da organização, com a finalidade de medir a eficiência da gestão operacional. Geralmente, sua técnica é a medição dos métodos, com a finalidade de avaliar se os recursos da entidade estão sendo usados de forma eficiente e se os objetivos operacionais estipulados estão sendo alcançados. Em resumo, a auditoria operacional é um processo de avaliação de desempenho que visa à participação da auditoria em todos os processos da empresa e a avaliação de indicadores para estabelecer padrões de excelência. As auditorias operacionais podem ser: Quadro 4.3: Tipos de auditoria operacional ou de gestão Tipo Descrição Revisão limitada Quando o auditor examina as transações da empresa de modo global ou analítico, porém sem ter a necessidade de aplicar as normas de auditoria. Para esse tipo de trabalho, o auditor emite um relatório longo, ressaltando que os serviços não foram executados segundo as normas, comentando como se compõem os saldos das contas, sem entrar no mérito de examinar ou não, segundo a sua conveniência, os respectivos comprovantes hábeis e também sem a obrigatoriedade de observação dos inventários físicos. De caixa De uso especifico para determinar a extensão de fraudes. Parciais Dividindo-se em: auditoria em determinados setores, como exame das contas a receber; faturamento e cobrança; eficiência do setor de crédito; confirmações etc.; auditoria para a determinação de responsabilidades contingentes, processos em andamento, cálculos de juros, correção e outras obrigações; e auditoria de estoques e custos de produção. Outros tipos De fusão ou incorporação de empresas, de avaliação dos negócios para fins de aquisição, de ativos fixos, de investimentos etc. Fonte: Elaborado pelos autores (2018). 12 Outras modalidades de auditoria Além das modalidades de auditoria já citadas, vamos apresentar outros modelos que estão de acordo com a atividade desenvolvida pela auditoria nas organizações. Vamos lá? Quadro 4.4: Outras modalidades de auditoria Tipo Descrição Auditoria de natureza interna Executada pelo auditor funcionário da empresa, cujo objetivo principal é melhorar as operações da empresa e, consequentemente, a sua atividade. Auditoria tributária Objetiva o exame e a avaliação de planejamento tributário quanto ao pagamento e à recuperação de impostos. Auditoria de sistemas Objetiva aperfeiçoar o uso de recursos de processamento de dados e diminuir os riscos envolvidos nos processos de geração de informações. Objetiva, também, o exame e a avaliação das estruturas lógica, de controle e segurança de sistemas. Auditoria de compliance Objetiva verificar o cumprimento das normas e procedimentos estabelecidos pela empresa. Auditoria ambiental Objetiva revisar as normas da empresa em relação à sustentabilidade e ao meio ambiente. Auditoria na saúde A auditoria hospitalar geralmente é aplicada nas áreas de saúde. Auditoria especial Objetiva examinar fatos e/ou situações fora dos objetivos da empresa. Geralmente, inicia-se a partir da ocorrência de fatos relevantes, de natureza incomum ou extraordinária, e a pedido dos administradores, sócios, acionistas, entre outros. Auditoria de logística Objetiva a verificação das principais atividades que compõem o negócio na logística da organização, Auditoria de Riscos Decorrente dos riscos a que a empresa pode estar sujeita ou de fatos importantes que podem criar situações presentes ou futuras para a empresa, que impeçam o alcance de seus objetivos. Fonte: Elaborado pelos autores (2018). 13 No próximo tópico, veremos como funciona a elaboração dos procedimentos de auditoria. Vamos lá? Elaboração dos procedimentos de auditoria Os procedimentos de auditoria referem-se a um conjunto de verificação que objetiva a coleta de informações necessárias para auxiliar o auditor a emitir uma opinião sobre as demonstrações contábeis como um todo. Essa avaliação observará a adequação aos Princípios Fundamentais da Contabilidade, Normas Brasileiras de Contabilidade e demais legislações pertinentes. Nos procedimentos de auditoria, o auditor precisa considerar o nível de relevância e a confiabilidade das informações que serão recolhidas na organização, como fonte de evidência dos fatos. Essas informações precisam ser suficientes para o alcance dos objetivos propostos. Não existe uma quantidade mínima considerada ideal, a quantidade selecionada de evidências fica a critério do auditor, que terá como desafio a avaliação dos riscos e distorções presentes nesses dados. A NBC TA 500 (R1), no item A10, cita dois tipos de métodos: procedimentos de avaliação de riscos e procedimentos adicionais de auditoria (CFC, 2016a). Procedimentos de avaliação de risco Os procedimentos de avaliação de risco consistem em um instrumento utilizado para a identificação e avaliação de riscos de distorção que possam refletir nas demonstrações contábeis. Eles incluem: a. indagações à administração, às pessoas apropriadas da auditoria interna (se houver essa função) e a outros na entidade que, no julgamento do auditor, possam ter informações com possibilidade de auxiliar na identificação de riscos de distorção relevante causados por fraude ou erro; b. procedimentos analíticos que visam identificar informações sobre a orga- nização de que o auditor não tinha conhecimento,mas que podem auxiliar na avaliação de risco de distorções que fornecerão uma base para o pla- nejamento e implementação de respostas para esses riscos. São exemplos: 14 informações financeiras ou não financeiras, a relação entre vendas e a área total do espaço de vendas ou volume dos produtos vendidos; c. inspeção e observação de relatórios, documentos e operações visando esti- pular se eles estão de acordo com o que era previsto. Procedimentos adicionais Quanto aos procedimentos adicionais, podemos subdividi-los em: a. testes de controles, se forem solicitados pelas normas de auditoria ou quan- do for opção do auditor; b. procedimentos de substantivos. De acordo com a NBC TA 330, no item 7, no planejamento de procedimentos adicionais o auditor deve (CFC, 2016b): (a) considerar as razões para a avaliação atribuída ao risco de distorção relevante no nível de afirmações para cada classe de transações, saldo de contas e divulgações, incluindo: (i) a probabilidade de distorção relevante devido às características particulares da classe de transações, saldo de contas ou divulgação relevantes (isto é, o risco inerente); (ii) se a avaliação de risco leva em consideração os controles relevantes (isto é, o risco de controle), exigindo assim que o auditor obtenha evidência de auditoria para determinar se os controles estão operando eficazmente (isto é, o auditor pretende confiar na efetividade operacional dos controles para determinar a natureza, época e extensão dos procedimentos substantivos). Vamos, agora, conhecer os testes de controle e os procedimentos substantivos. Teste de controle O teste de controle consiste em um procedimento utilizado para avaliar a efetividade operacional dos controles, para a prevenção e correção de distorções que possam influenciar, significativamente, as informações analisadas. Ao planejar a execução dos testes de controle, de acordo com a NBC TA 330, o auditor deve: 15 a. Executar outros procedimentos de auditoria junto com indagação visando obter evidência de auditoria sobre a efetividade operacional dos controles, incluindo: (i) o modo como os controles vêm sendo empregados ao longo do período. (ii) a solidez como os controles foram aplicados. (iii) quem e como foram aplicados os controles. b. Determinar se os controles que são avaliados dependem de outros controles (controles indiretos) e, caso a resposta seja positiva, se é preciso conseguir uma evidência de auditoria que suporte a operação eficiente desses contro- les indiretos. Esse tipo de controle pode ser verificado em retrospecto, quando o auditor investiga informações que fazem parte do passado, como, por exemplo, a conferência de assinaturas. Além disso, eles podem ser constatados em flagrante, quando o auditor identifica que os procedimentos não estão sendo seguidos de forma correta no momento em que a situação ocorre. As evidências resultantes desses testes envolvem a realização de questionamentos, exame de documentos, relatórios etc. Em relação ao período em que essa análise ocorre, não existe um tempo estipulado, a definição de quando fazer os testes de controle é opção do auditor. Há ainda outro ponto a ser levado em conta: nos casos de desvios em controles que seriam utilizados pelo auditor, é preciso determinar as potenciais consequências dessas falhas e se os testes de controle utilizados são confiáveis, ou se são necessários testes adicionais ou a determinação dos riscos envolvidos (MELO; SANTOS, 2017). Procedimentos substantivos Os procedimentos substantivos podem ser definidos como procedimentos de planejamento de auditoria, utilizados para detectar distorções relevantes no nível de afirmações. Eles incluem: a. testes de detalhes (de classes de transações, de saldos de contas e de divul- gações); b. procedimentos analíticos substantivos. 16 Os testes de detalhes consistem na verificação da veracidade dos fatos contábeis, com base em evidências colhidas no decorrer do exercício. Eles se dividem em: • Inspeção: consiste na contagem física e também no exame de documentos, internos e externos, físicos e eletrônicos. Essa inspeção será a base para de- terminar se os registros da contabilidade são reais, além disso, esse método deve ser utilizado em conjunto com outras metodologias; • Observação: consiste na constatação visual da forma como os empregados trabalham; • Confirmação com terceiros (também chamada de circularização e investi- gação): nesse método, realiza-se a confirmação com terceiros em relação a informações referentes aos bens, contas a pagar, obrigações, direitos a rece- ber, valores em caixa etc.; • Recálculo: consiste na conferência das operações, valores, números etc.; • Reexecução: consiste na execução de procedimentos de forma independen- te; • Indagações: nessa metodologia, são realizados entrevistas e questionários, que visam revelar erros e problemas nos itens examinados. Já os procedimentos analíticos consistem em análises e comparações por meio de índices. Nesse método, busca-se analisar, de forma crítica, as demonstrações contábeis, a fim de identificar tendências ou situações anormais. Esses testes, normalmente, são realizados ao final da auditoria. Alguns exemplos são: a comparação de informações de exercícios distintos, a comparação entre o orçado e o realizado e a comparação entre os resultados da empresa auditada com outras empresas do mesmo setor. Você acredita que os métodos citados são suficientes? Você consegue pensar em mais alguma forma de analisar as informações da empresa? Reflita 17 Referências CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TA 330 (R1). Altera a NBC TA 330 que dispõe sobre a resposta do auditor aos riscos avaliados. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 5 set. 2016a. ______. NBC TA 500 (R1). Altera a NBC TA 500 que dispõe sobre a evidência de auditoria. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 5 set. 2016b. CREPALDI, S. A. Auditoria contábil: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2009. MELO, M. M. de; SANTOS, I. R. dos. Auditoria contábil: atualizada pelas Normas Internacionais de Auditoria emitida pela IFAC com adoção no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Maria Augusta Delgado, 2017. MUITO DESGASTE sem planejamento. Produção de Graham Moloy. Direção: Rob Silvestri. ARC PRODUCTIONS LTD., 2009. Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=LOyX-vgdQGQ>. Acesso em: 25 jan. 2018. PINHO, Ruth Carvalho de Santana. Fundamentos de auditoria. São Paulo: Atlas, 2009. https://www.youtube.com/watch?v=LOyX-vgdQGQ https://www.youtube.com/watch?v=LOyX-vgdQGQ GINEAD AUDITORIA CONTÁBIL Unidade 5 - Papéis de trabalho SST Moreno, Fernanda Gualda; Pereira, Beatriz da Silva Unidade 5 - Papéis de trabalho / Fernanda Gualda Moreno; Beatriz da Silva Pereira Ano: 2020 nº de p.: 16 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Unidade 5 - Papéis de trabalho 3 Objetivo específico • Conhecer os documentos que constituem o registro permanente do trabalho efetuado pelo auditor, dos fatos e dados adquiridos, bem como das suas con- clusões sobre os exames. Apresentando a Unidade Você já deve ter ouvido falar ou ter perguntado alguma vez: qual é o fundamento disto? Bem, a fundamentação pode ser obtida de várias maneiras: em textos e normas legais; com provas documentais ou testemunhais; pela revisão de livros, de periódicos; por meio de pesquisas primárias ou secundárias, baseadas em experimentos ou em observações , o que chamamos de empirismo; ou ainda por pesquisas realizadas em campo, ou seja, no local onde ocorrem os fatos. Você sabe que a auditoria externa tem como objetivo principal emitir um relatório sobre as demonstrações contábeis. Mas sabe com qual fundamento o auditor emite sua opinião? Com base nos papéis de trabalho que o ajudaram a formá- la. Os papéis de trabalho são preenchidos com base em diferentes fontes e, em conjunto, auxiliam no julgamento profissional do auditor.Para tanto, é fundamental que o auditor conheça profundamente os processos e procedimentos da empresa auditada, pois somente assim poderá elaborar, de forma consistente, a sua opinião. Conceitos dos papéis de trabalho Geralmente conhecidos como papéis de trabalho (PT) ou papéis de trabalho de auditoria (PTA), atualmente são denominados documentação do trabalho, ou ainda documentação de auditoria. Segundo as normas da Federação Internacional de Contadores (Ifac) e referendadas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), correspondem ao registro do trabalho executado, dos resultados obtidos e das conclusões obtidas pelo auditor independente (CFC, 2009). Segundo Attie (2011), papéis de trabalho são os meios em que estão evidenciados todos os exames executados, todas as provas e conclusões obtidas pelo auditor 4 e que subsidiam sua opinião. Assim, o auditor deve considerar a relevância e confiabilidade das informações a serem utilizadas como evidência de auditoria nesses documentos. Atente, desde o início, que os papéis de trabalho são documentos e não rascunhos. Rascunhos servem apenas para esboçar uma ideia, uma anotação simplificada que servirá de apoio para algo maior. A documentação de auditoria deve, formalmente, seguir às exigências da NBC TA 230. Embora seja desnecessário que o auditor documente separadamente (em uma lista de verificação, por exemplo), o cumprimento de objetivos individuais, a documentação de uma falha em cumprir um objetivo o ajuda a avaliar se essa falha o impediu de cumprir os respectivos objetivos gerais de auditoria, como emitir uma opinião sobre as demonstrações financeiras (CFC, 2016). Ressaltamos que, mesmo no caso de uma empresa de auditoria externa contratada para emitir um relatório, a empresa contratante (auditada) não tem poder sobre a documentação de auditoria. Assim, os papéis de trabalho são de propriedade dos auditores independentes e representam o registro das atividades executadas, servindo de base para a emissão do parecer (relatório de auditoria). Portanto o acesso à documentação de trabalho deve ser controlado por uma questão de sigilo, a fim de se evitar que terceiros tenham acesso e, consequentemente, que ocorram vazamentos e interpretações distorcidas. A NBC PA 1 (2009) é taxativa ao mencionar que documentação de trabalho de auditoria é de propriedade da firma, não do cliente. A firma pode, a seu critério, disponibilizar partes ou trechos dos papéis de trabalho aos clientes, desde que essa divulgação não prejudique a validade do trabalho realizado ou, no caso de trabalhos de asseguração, a independência da firma ou do seu pessoal. Figura 5.1: A documentação implicada em uma auditoria é de propriedade da firma Fonte: Plataforma Deduca (2018). 5 E para que serve essa documentação de trabalho? O principal objetivo dos papéis de trabalhos de auditoria é o de acumular evidências apropriadas e suficientes para formar uma convicção de que os fatos contábeis ocorreram e, assim, subsidiar o parecer (relatório) de auditoria. Portanto, a documentação de trabalho, ao ser elaborada, deve indicar as conclusões alcançadas. Segundo a NBC TA 500 (CFC, 2016), evidência de auditoria abrange as informações utilizadas pelo auditor para chegar às conclusões em que se fundamenta a sua opinião, bem como as informações contidas nos registros contábeis que suportam as demonstrações contábeis e outras informações. Segundo Almeida (2012), existem diferentes tipos de papéis de trabalho, como programa de auditoria, papéis elaborados pelo auditor e demais documentos. Vejamos mais detalhadamente. 1. Os programas de auditoria são ações padrão planejadas, a serem preenchi- das pelos auditores, em um período determinado, para todas as áreas das demonstrações contábeis e para outros assuntos relacionados com o exame auditoria. 2. Os papéis de trabalho elaborados pelo auditor são constituídos à medida que são analisadas as diversas contas contábeis do livro razão geral da contabi- lidade. Por exemplo, lançamentos de estorno, ajustes e/ou reclassificações contábeis. 3. Outros documentos ou demais papéis de trabalho são outros meios para ob- ter evidências e concluir o julgamento profissional. São documentos levanta- dos, pois se trata de um procedimento denominado circularização, que pode ser interna ou externa. Na circularização externa, podem ser enviadas cartas de confirmação de terceiros, com o objetivo de se confirmar a existência e saldo de contas correntes bancárias, aplicações financeiras, contas a receber, estoques etc. Geralmente, é composta de ofícios. Na circularização interna, podem ser solicitadas cópias de documentos importantes, com o objetivo de se conhecer o ambiente e o negócio, como o estatuto social, contratos, manuais de procedimento internos etc. Geralmente, é composta de memorandos. 6 Além disso, a documentação de auditoria ainda tem duas classificações, conforme o teor e a relevância das informações para a formação do julgamento profissional (CREPALDI, 2009): papéis permanentes e papéis correntes. Os papéis permanentes são utilizados por mais de um exercício financeiro e contêm informações relacionadas ao arranjo e às atividades da empresa auditada. São levantados e compilados numa primeira etapa da auditoria, geralmente nas primeiras visitas, e mantidos sob constante atualização nos exercícios subsequentes. Attie (2011) exemplifica esses papéis como dados históricos, dados contábeis, de controle interno, contratuais, analíticos e dados de planejamento de longo prazo. São exemplos de papéis de trabalho de auditoria permanentes: constituição legal (contrato ou estatuto social), estatutos ou regimentos internos, listagem dos proprietários (shareholders), cópias dos principais contratos, plano e manual de contas e de procedimentos internos, organogramas, descrição dos negócios, cartões de assinaturas e rubricas dos responsáveis pelas aprovações, entre outros. Já os papéis correntes, também denominados papéis em curso, contêm as informações relacionadas com a auditoria já em andamento, e visam atender aos objetivos dos exames, dos testes realizados, assim como os problemas detectados no controle interno, a inspeção de documentos, entre outros. São exemplos de papéis de trabalho de auditoria correntes: listagens de verificação de procedimentos, cartas de confirmação de saldos, termos de inspeções físicas de caixa, aplicações financeiras, estoques, contas a receber, balancetes, entre outros. De autoria de Maria Arlete Almeida, Fernando Graça e Graça Azevedo, o artigo “A utilização dos procedimentos analíticos de auditoria: estudo de caso”, publicado no periódico Estudos do Isca, da Universidade de Aveiros, em 2016, permite conhecer, compreender e interpretar a aplicação de uma série de procedimentos de auditoria. Será que a utilização dos procedimentos analíticos de auditoria garante uma maior rapidez na detecção de erros e fraudes? Leia o artigo completo e descubra. Disponível em: <http:// revistas.ua.pt/index.php/estudosdoisca/article/view/4727>. Saiba mais http://revistas.ua.pt/index.php/estudosdoisca/article/view/4727 http://revistas.ua.pt/index.php/estudosdoisca/article/view/4727 7 Com a informatização, grande parte dos documentos de auditoria, agora, também são digitais. Você sabe o que deve conter na documentação de auditoria? Observe o Diagrama 5.1 e conheça as características dessa documentação: Diagrama 5.1: Características dos papéis de trabalho Identificação do trabalho Identificação do auditor que preparou, executou, revisou e aprovou Descrição do conteúdo e/ou finalidade Assinaturas e datas Codificação Fonte das informações Opiniões e conclusões Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Outro aspecto relevante é o compartilhamento das informações entre os membros da auditoria. Dificilmente, uma auditoria será executada por um único auditor. Assim, nas atividades de monitoramento, todo profissional deve se atentar ao preenchimentodos papéis de trabalho, pois a documentação precisa ser suficientemente completa e detalhada para consultas de outros profissionais sobre assuntos difíceis ou controversos (NBC PA 1, CFC, 2009). Conheça exemplos de ações apropriadas relacionadas com o monitoramento: • selecionar os trabalhos concluídos a serem inspecionados ou revisados; • registrar as avaliações, como aderência às normas técnicas e legais, sobre a existência de um controle de qualidade, e se ele gera relatórios satisfatórios; • identificar as deficiências observadas, avaliar o seu efeito e a base para de- terminar se e quais medidas adicionais serão necessárias. 8 Procedimentos de elaboração dos papéis de trabalho Para Attie (2011), nos registros dos papéis de trabalho, é necessário observar alguns aspectos fundamentais. • Integralidade: os papéis de trabalho necessitam estar completos, com início, meio e fim, detalhados conforme a extensão da auditoria. • Objetividade: os papéis de trabalho precisam ser objetivos, ou seja, demons- trar todos os passos executados pelo auditor na formulação, apresentar os registros em quantidade e qualidade mínimas para o entendimento e aonde se pretende chegar. • Concisão: necessitam ser sucintos, ter clareza e autossuficiência, para a compreensão de todos, sem muitas explicações, sem a presença de quem os elaborou. • Depuração ou limpeza: não deve apresentar nenhuma imperfeição ou incor- reção que possa prejudicar o entendimento da documentação. • Lógica: devem ser elaborados com lógica de raciocínio, seguindo uma se- quência natural dos fatos e objetivos a serem alcançados. A documentação de auditoria tem como finalidades evidenciar informações e fatos importantes, o escopo dos trabalhos efetuados, as fontes das informações obtidas e, consequentemente, as opiniões e conclusões alcançadas. Assim, a NBC T 230 (CFC, 2016) determina que o auditor, na elaboração dos papéis de trabalho, a faça pensando que outros terão acesso ao documento. Portanto eles devem conter: a natureza, época e extensão dos trabalhos, os resultados obtidos e os assuntos significativos identificados. Existem diversos modelos de papéis de trabalho. Evidentemente, eles terão um padrão preestabelecido, conforme a firma de auditoria. Sendo assim, nos concentraremos nos principais elementos e características desses documentos de trabalho de uma auditoria, para que eles contemplem a natureza, oportunidade e extensão dos procedimentos aplicados. Para que sejam compreendidos, a elaboração dos papéis de trabalho exige diferentes habilidades, técnicas e competências profissionais (CREPALDI, 2009). Para elaborar a documentação de trabalho, o auditor precisa fazer um trabalho abrangente, ou seja, que reflita declaradamente todas as informações referentes 9 à composição dos dados significativos registrados, assim como as técnicas e os métodos de verificação empregados. Não basta a sua preparação, deve-se, ainda, organizá-los e arquivá-los adequadamente, pois são fonte de consulta e isso deve ser feito de forma ágil. Uma das formas para se conhecer o estágio do trabalho, segundo Attie (2011), é pela indicação dos exames realizados pelo auditor, geralmente praticado com a utilização de uma simbologia própria, como o uso de tiques (marcações), letras ou notas explicativas, grafadas em cores diferenciadas. Os tiques, por exemplo, são usados para indicar conferências de valores. Já as letras são utilizadas para casos em que há necessidade de uma explicação adicional ao exame efetuado. Por fim, as notas explicativas indicam a definição dos trabalhos realizados, como quais critérios foram utilizados para a confirmação de valores e saldos. Essas simbologias e marcações devem ser simples, claras e diferentes entre si, quando utilizadas para se registrar atos e fatos diferentes. Assim, as cores utilizadas precisam ser diferentes daquelas que correspondem às já conferidas. No Quadro 5.1, elencamos alguns exemplos de marcações em papéis de trabalho. Observe: Quadro 5.1: Exemplo de codificação para status do trabalho Tique Descrição Conferência de cálculo Conferência de soma Conferência com atas Conferência com o boletim de caixa Confrontamos com as notas fiscais Examinado in loco ou com documentação-suporte Verificamos os recolhimentos subsequentes ou ou ou ou ou 10 Conferência com os papéis do ano anterior ou Conferido com o livro razão geral A Referência por letras – Caixa e equivalentes B Referência por letras – Contas a receber Conferência por notas – Nota explicativa 1 Conferência por notas – Nota explicativa 2 Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Segundo a NBC PA 1 (CFC, 2009), os papéis de trabalho podem ser digitalizados para sua inclusão nos arquivos de trabalho. Tal medida constitui uma questão de segurança (criação de backup). Esse processo deve contemplar a totalidade do documento, que deve incluir as assinaturas manuais, referências cruzadas e anotações. Outra recomendação é a indexação desses documentos de auditoria, para que os papéis escaneados sejam facilmente recuperados e impressos, se necessário. Recomendamos, então, que os documentos digitalizados sejam validados com certificado digital, pois isso garante a integridade e a autenticidade durante o processo de conversão do documento físico para o meio digital (escaneamento). Caso contrário, qualquer que seja o formato dos papéis de trabalho – impressos, eletrônicos ou em quaisquer outros meios – a integridade, acessibilidade e recuperabilidade dos dados de suporte podem ficar comprometidas se a documentação puder ser alterada, adicionada ou excluída, sem o conhecimento da firma, ou ainda se ela puder ser perdida ou danificada de forma permanente. É importante que o acesso à documentação de trabalho (impressa e eletrônica) fique restrito aos membros da equipe de trabalho da firma de auditoria, por uma questão de confidencialidade e sigilo. Entretanto, por um dever legal, Resolução CFC nº 1.530/2017, com base na Lei nº 9.613/1998, as operações analisadas que possam configurar indícios da ocorrência de ilícitos financeiros, “lavagem de dinheiro” ou financiamento ao terrorismo devem ser comunicadas diretamente ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). ou 11 Você sabia que outsourcing é um serviço muito buscado pelas empresas em firmas de auditoria? Diferente da terceirização, no outsourcing há uma atribuição de um trabalho para uma empresa fora do país de origem da empresa contratante. Ele consiste no desenvolvimento de uma determinada área da empresa. Justifica- se a contratação desse serviço quando existe falta de expertise (competência de um especialista) ou de infraestrutura necessária para o seu desenvolvimento. Curiosidade Certamente, a documentação de auditoria será arquivada na firma de auditoria ou na unidade de auditoria interna da empresa, que detém a posse e a propriedade dos papéis de trabalho. Como determinado pela NBC PA 1 (CFC, 2009), a auditoria independente deve estabelecer políticas e procedimentos sobre a revisão da documentação de trabalho, como exigência de controle de qualidade do trabalho. Deve-se checar, inclusive, se os procedimentos requeridos pelas políticas de trabalho foram adotados, bem como se a revisão de controle de qualidade foi concluída na data ou antes ou após o parecer de auditoria. Caso as cartas de recomendação não tenham a resposta, ou resolução, dos problemas, ou, ainda, se o revisor dos papéis de trabalho não tenha conhecimento dessas pendências, isso pode levá-lo a acreditar que os julgamentos significativos, feitos pela auditoria (equipe de trabalho), e as conclusões obtidas em sua elaboração não eram apropriados. Figura 5.2: Organização dos papéis de trabalho Célula mestra Programas de trabalho Índice Conclusão Pontos de atenção (relatório) Explicação das flutuações Falhas de controles internos Papéis suporte de trabalho 1 2 3 1 2 3 Ordem de importância dospapéis de trabalho Facultativo Obrigatório Fonte: Adaptada de Crepaldi (2009). 12 A Figura 5.2 ilustra a composição mínima dos papéis de trabalho realizada em cada determinada auditoria. Você deve perceber que há uma ordem, ou sequência, delineada para facilitar a montagem, a revisão e o arquivamento dos trabalhos desenvolvidos. Na sequência, veremos o que deve conter cada uma das seções da documentação de auditoria. Começamos tecendo algumas considerações sobre as células mestras, seção inicial que contém basicamente: • título dos grupos e/ou subgrupos de contas contábeis, conforme o Plano de Contas da entidade; • saldos iniciais e finais do exercício financeiro analisado; • valores e saldos já auditados e os ainda não auditados, com espaços em branco para eventuais ajustes e reclassificações. Na sequência, teremos as células de suporte ou detalhamento, que são os papéis de trabalho elaborados para cada uma das seções. Essa parte tem o objetivo de documentar os trabalhos de auditoria efetuados, como memórias de cálculo, para confrontar os saldos apresentados na célula mestra. Essa seção deve apresentar os seguintes elementos: • Nome da empresa • Título da seção • Nome do teste realizado Para Crepaldi (2009), o processo de elaboração e arquivo dessa seção deve seguir uma ordem. Vamos ver como isso ocorre? Primeiramente, os programas de auditoria (PA), também denominados programas de trabalho (PT), devem ser direcionados para as principais áreas da entidade, conforme sua estrutura organizacional. Os PAs devem ser aplicados durante as diferentes fases da auditoria, de forma a serem finalizados até a última visita. Os PAs, para fins de organização, devem ser numerados sequencialmente. Por exemplo: a “PTA” significa que essa é a primeira célula do programa de trabalho da Seção A – Caixa e seus equivalentes ou Disponibilidades. Os PAs recebem essa referência porque podem ser utilizados em mais vários exercícios financeiros, respeitado o rodízio de auditorias, a cada cinco anos, e, quando isso ocorre, são transferidos da pasta do exercício anterior para a pasta do exercício corrente. Assim, teremos duas colunas para cada ano: “Feito por” e “Referência”. 13 Segundo, deve constar o índice ou sumário da seção, para facilitar a localização dos temas. Isso é necessário quando o volume de células ou de uma seção for grande. O índice é preparado e arquivado logo após os PAs e serve como indicador dos aspectos de mais interesse ou relevância contidos na seção. Por fim, a conclusão geral da seção. A célula de conclusão serve para reportar, de forma concisa e clara, um resumo dos trabalhos e dos resultados obtidos. A redação das conclusões de auditoria oferece a oportunidade de se apresentar os conhecimentos dos objetivos do trabalho de auditoria. Cada auditor pode ter uma forma de redigir as conclusões do trabalho. Entretanto ela deve seguir, no mínimo, os seguintes tópicos: • adequação e qualidade dos procedimentos de controle interno da auditada; • adequação do escopo dos trabalhos de auditoria; • apresentação, ainda que razoável, das contas examinadas, de acordo com as normas brasileiras de contabilidade; • considerações sobre as características intrínsecas dos saldos e valores con- tidos na seção. Conclusões e arquivamento de papéis de trabalho Segundo a NBC TA 230 (CFC, 2016), o arquivo de auditoria compreende uma ou mais pastas ou outras formas de armazenamento, físicas ou digitais, com os registros que constituem a documentação de trabalho específico. Refere-se ao emprego de políticas e procedimentos para a salvaguarda da confidencialidade, custódia segura, integridade, acessibilidade e recuperabilidade da documentação de auditoria. Os papéis de trabalho devem ser arquivados imediatamente após a emissão do parecer de auditoria, por um prazo de, no mínimo, cinco anos ou por um período superior, se algum regulamento assim o exigir. Após a finalização do arquivo, não se deve apagar nem descartar nenhum documento de trabalho antes desse prazo. Fique atento, pois pode haver períodos de retenção especiais na ausência de exigências legais ou normas reguladoras específicas. Em casos excepcionais, nos quais o auditor julgue necessário fazer qualquer modificação na documentação de auditoria, ou adicionar novos documentos, após 14 a finalização do relatório de auditoria, o auditor, independentemente da natureza das modificações ou acréscimos, deverá justificar os motivos específicos para tais modificações, assim como evidenciar como, quando e quem as realizou e revisou. Fique atento às novas normas de auditoria editadas pelo CFC. Ressaltamos que, apesar das antigas normas de auditoria (NBC T 11 IT 2 e NBC T 11.3) serem taxativas quanto ao prazo de cinco anos para arquivamento da documentação de auditoria, de acordo com as normas internacionais e as adotadas no Brasil (NBC PA 1 (2009), o prazo de arquivamento deve ser de, no mínimo, cinco anos. Não é “prazo máximo”. Atenção A NBC PA 1 obriga que as firmas de auditoria estabeleçam políticas e procedimentos para a retenção da documentação de trabalhos. O período de retenção para trabalhos de auditoria, geralmente, não é inferior a cinco anos, a contar da data do relatório (parecer) do auditor ou, se posterior, da data do relatório do auditor do grupo. Entretanto o período de retenção pode depender, também, de outros fatores, como, por exemplo, se as leis ou regulamentos locais/regionais determinem períodos de retenção específicos para certos tipos de trabalho, ou se existirem períodos de retenção especiais na ausência de exigências legais ou reguladoras específicas (CFC, 2009). Observamos, ainda, que a finalização da montagem do arquivo final de auditoria após a data do relatório do auditor (parecer de auditoria) é um processo administrativo que não envolve a execução de novos procedimentos de auditoria, nem novas conclusões. Entretanto novas modificações podem ser realizadas nos papéis de trabalho durante a fase final de montagem, se essas forem necessárias e de natureza administrativa apenas. Conforme a NBC TA 230 (CFC, 2016), as modificações dos arquivos devem incluir: 1. apagar ou descartar documentação superada; 2. selecionar, conferir e acrescentar referências cruzadas aos documentos de trabalho; 3. conferir itens das listas de verificação, evidenciando ter cumprido os passos relativos ao processo de montagem do arquivo; 15 4. documentar evidência de auditoria que o auditor obteve, discutiu e com a qual concordou junto aos membros relevantes da equipe de trabalho, antes da data do relatório de auditoria. Assim, aluno, chegamos ao fim de mais uma unidade. Quantos conceitos e aplicações já vimos até aqui, não é mesmo? Lembre-se de revê-los sempre que necessário, pois eles serão utilizados na última etapa do processo de auditoria, que é a emissão do parecer– atualmente, chamado de relatório de auditoria. Até a próxima! 16 Referências ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2012. ATTIE, W. Auditoria: conceitos e aplicações. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC n° 1.201, de 27 de novembro de 2009. Aprova a NBC PA 01 – Controle de Qualidade para Firmas (Pessoas Jurídicas e Físicas) de Auditores Independentes. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 3 Dez. 2009. ______. Normas Brasileira de Contabilidade – NBC TA 200 (R1), de 19 de agosto de 2016. Objetivos gerais do auditor independente e a condução da auditoria em conformidade com normas de auditoria. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 5 Set. 2016. ______. Normas Brasileira de Contabilidade – NBC TA 230 (R1), de 19 de agosto de 2016. Altera a NBC TA 230 que dispõe sobre a documentação de auditoria. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 5 Set. 2016. ______. Normas Brasileira de Contabilidade – NBC TA 315 (R1), de 19 de agosto de 2016. Dispõesobre a identificação e a avaliação dos riscos de distorção relevante por meio do entendimento da entidade e do seu ambiente. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 5 Set. 2016. ______. Normas Brasileira de Contabilidade – NBC TA 500 (R1), de 19 de agosto de 2016. Dispõe sobre a evidência de auditoria. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 5 Set. 2016. ______. Resolução CFC nº 1.530, de 22 de setembro de 2017. Dispõe sobre os procedimentos a serem observados pelos profissionais e organizações contábeis para cumprimento das obrigações previstas na Lei nº 9.613/1998 e alterações posteriores. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 28 Set. 2017. CREPALDI, S. A.. Auditoria contábil: teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 17 GINEAD AUDITORIA CONTÁBIL Unidade 6 - Execução da Auditoria Contábil SST Moreno, Fernanda Gualda; Pereira, Beatriz da Silva Unidade 6 - Execução da Auditoria Contábil / Fernanda Gualda Moreno; Beatriz da Silva Pereira Ano: 2020 nº de p.: 17 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Unidade 6 - Execução da Auditoria Contábil 3 Objetivo específico • Viabilizar e aprofundar os conhecimentos sobre a execução da auditoria con- tábil por meio da análise das demonstrações contábeis. Apresentando a unidade Nesta unidade, você compreenderá o funcionamento do programa de auditoria. Esse processo é executado quando as decisões referentes ao que fazer, como e por que fazer são transformadas em procedimentos de auditoria. Esse programa envolve: o objetivo do trabalho, os aspectos fundamentais de controles internos, os procedimentos de auditoria e o momento em que serão efetuados e a extensão dos trabalhos para que se obtenha segurança e confiabilidade nas evidências. Ainda nesta unidade, descreveremos os procedimentos de auditoria de acordo com a classificação das contas em análise, além dos demais procedimentos pertinentes à execução da auditoria contábil. Está preparado? Auditoria das contas patrimoniais O programa de auditoria busca examinar o conjunto de demonstrações contábeis com a finalidade de verificar a fidedignidade das informações apresentadas (SANTOS; GOMES, 2006). Nesta unidade, dividiremos as informações analisadas nos procedimentos de auditoria em quatro grupos: • auditoria das contas patrimoniais; • auditoria das contas de resultado; • auditoria das demais demonstrações contábeis; • auditoria dos eventos subsequentes. Iniciaremos nosso estudo com a auditoria das contas patrimoniais. Sua análise pode ser dividida em dois grandes grupos: auditoria das contas de ativo e auditoria de contas do passivo. O propósito do programa de auditoria nas contas do ativo é: 4 a. observar se foram respeitados os princípios fundamentais de contabilidade; b. confirmar a existência física dos estoques; c. assegurar que os objetos contabilizados realmente existem; d. certificar que as contas a receber são autênticas e têm origens legais; e. determinar se as contas foram devidamente classificadas. De acordo com a NBC T 11, para melhorar os procedimentos de auditoria, o auditor deve seguir as seguintes técnicas: Quadro 6.1: Técnicas para procedimentos de auditoria Inspeção Exame de registros, documentos e de ativos tangíveis. Observação Acompanhamento de processo ou procedimento quando de sua execução. Investigação e confirmação Obtenção de informações junto a pessoas ou entidades conhecedoras da transação, dentro ou fora da entidade. Cálculo Conferência da exatidão aritmética de documentos comprobatórios, registros e demonstrações contábeis e outras circunstâncias. Revisão analítica Verificação do comportamento de valores significativos, mediante índices, quocientes, quantidades absolutas ou outros meios, com vistas à identificação de situação ou tendências atípicas. Fonte: Elaborado pelos autores (2018). Agora, vamos nos aprofundar nos procedimentos de auditoria nas contas do ativo, como: caixa e bancos, contas a receber, estoques, e imobilizado. • começaremos com as contas caixa e bancos. Com esses elementos, o tra- balho do auditor consiste em analisar e verificar a veracidade dos registros e, para tanto, devem ser observados os seguintes objetivos: • verificar a autenticidade dos saldos; • analisar os fundos apresentados, se realmente abrangem a totalidade exis- tente; • examinar os valores efetivamente disponíveis; • verificar se os valores que dependem de avaliação foram convertidos e con- siderados corretamente. 5 Para a constatação sobre a posição das contas caixa e bancos, o auditor deverá obedecer aos procedimentos mínimos obrigatórios. Ou seja, verificar se: • a escrituração das contas em determinada data apresenta saldos disponí- veis, incluindo todas as operações do período examinado e tão somente des- se período; • a escrituração obedeceu aos princípios fundamentais de contabilidade, apli- cados de maneira uniforme em relação ao exercício anterior; • a escrituração foi feita com base na legislação em vigor, inclusive atendendo aos requisitos de ordem fiscal;. • os saldos indicados em determinada data estão representados por confirma- ções idôneas ou se foram examinadas fisicamente pelo auditor. Como sabemos, é impraticável o exame de todas as operações do exercício. Sendo assim, para chegar a uma conclusão satisfatória, os exames que o auditor deve seguir para auditar as contas do caixa e bancos, atendendo aos procedimentos obrigatórios, são: • realizar testes, ficando a extensão destes ligadas diretamente à eficiência dos controles internos. Para isso, o auditor deve estudar o sistema de con- trole interno da auditada, utilizando um método de avaliação adequado. Com base na avaliação, o auditor estabelecerá a natureza, a extensão e a profun- didade dos exames e testes; • estar de acordo com os princípios fundamentais de contabilidade, além dos procedimentos adotados pela empresa; • atentar que somente podem constar no caixa comprovantes de despesas idôneos; • obter confirmação direta e independente dos saldos bancários (Carta de Cir- cularização); • solicitar a conciliação bancária quando os saldos bancários dos extratos for- necidos pela empresa não coincidem com os saldos apresentados no Balan- ço Patrimonial; • inspecionar os fundos de caixa por meio de contagens físicas. Além dos procedimentos citados, a empresa deve adotar alguns processos básicos, como a conferência da entrada de numerário com os documentos que a geraram e a guarda em custódia dos cheques em branco, evitando extravios ou uso indesejado. No caso do adiantamento a terceiros, quando não prestada conta no dia, devem ser contabilizados. 6 As conciliações devem ser diárias e os saldos entre os boletins de caixa e a conta razão devem ser conferidos, assim como o saldo bancário contabilizado deverá estar de acordo com os saldos dos extratos. Também deve haver rodízio entre o pessoal de caixa para dificultar as manipulações de bens e numerários e segregação de função. Quem realiza os pagamentos e controla os recebimentos não pode, também, realizar a contabilização e conciliações. Quando essas regras não forem adotadas pela empresa auditada, deve ser objeto de recomendação do auditor para melhorar o desempenho dos controles internos. Agora, vamos conhecer os procedimentos referentes às contas a receber. Elas representam um dos ativos mais importantes para a empresa, refletindo o compromisso de pagamento dos clientes. Os procedimentos adotados pelo auditor são: • exame do razão contábil da conta de clientes, selecionando amostragem de lançamentos mais relevantes; • confrontar o relatório das contas a receber na data do saldo analisado com o saldo do Balanço na conta clientes e solicitar as conciliações de saldos divergentes; • investigar pelo exame detalhado da documentação suporte; • analisar a variação do saldo de contas a receber, obtendo explicação para as duplicatas incobráveisou em atraso, observando a existência de atrasos superiores a 180 dias para constituição de provisão de devedores duvidosos; • determinar a existência e representatividade dos devedores duvidosos; • verificar se foram utilizados os princípios de contabilidade geralmente acei- tos. O controle interno sobre as contas a receber é ajustado de acordo com a empresa, dependendo da materialidade, mas, normalmente, ele envolve a segregação de tarefas, ou seja, as pessoas que contabilizam e conciliam as contas a receber não podem ter relação com caixa, bancos, estoque, faturamento ou baixa de contas incobráveis. Além disso, a baixa dos incobráveis só pode ser realizada com autorização da administração e deve ser documentada. A próxima conta são os estoques. Nela, os principais objetivos do trabalho de auditoria são: • Existência: certifica que as quantidades e valores apresentados nos relató- rios existem fisicamente; • Cut-Off: certifica que o item está registrado de acordo com sua competência; 7 • Abrangência: certifica que todas as quantidades e saldos de estoques estão, adequada e integralmente, contabilizados; • Avaliação: verifica se estão em consonância com os princípios fundamentais de contabilidade e com os métodos de avaliação de estoque permitidos pelo Fisco, como PEPS ou custo médio. Figura 6.1: Existência, cut-off, abrangência e avaliação são os principais objetivos da auditoria na conta estoques Fonte: Plataforma Deduca (2018). Os procedimentos e itens a serem observados na auditoria, para constatar as evidências suficientes para a emissão do relatório, referem-se aos locais onde existem estoques e à disposição física, além dos tipos e quantidades existentes nesses locais. Também devem ser constatados o sistema de custo e o de recebimentos de mercadorias, matérias-primas etc. Os métodos de avaliação de mercadorias e das matérias-primas também devem ser observados, além da existência de estoque oferecido como garantia e/ou em poder de terceiros. O relatório de controle de inventário de estoques, as notas fiscais de compra de mercadorias para o estoque também devem ser analisados, além da verificar a existência de itens obsoletos ou vencidos no estoque; por fim, o acompanhamento de contagem física. Quanto à contagem física, o auditor deve levar em consideração fatores como: a natureza dos controles internos, o risco de desvios materiais, as condições do estoque, as instruções de inventário, o período de contagem e o tipo de teste a ser realizado. Com base nessas informações, o auditor terá condições de estabelecer 8 um plano detalhado dos trabalhos a serem executados, se certificando da veracidade para embasar o conteúdo de seu relatório. As contas do ativo imobilizado também são muito importantes para a avaliação da auditoria, já que a depreciação reflete sobre o lucro do exercício. As verificações devem abranger amortizações, exaustões, obsolescência, ociosidade, reavaliações corretas, contabilização, venda e existência física dos bens. Em conformidade com o objetivo da auditoria, o sistema de controle interno em uso deve ser analisado, para determinar qual seu grau de confiabilidade, bem como a existência de um sistema de controle patrimonial de bem, da identificação dos bens por etiquetas, que devem estar no relatório de controle patrimonial fornecido. O trabalho do auditor deve focar em: • avaliar os testes de impairment realizados pela empresa; • avaliar a existência, propriedade e posse dos bens; • avaliar os critérios e a extensão das depreciações ou amortizações e conferir os cálculos de amortização no período; • verificar a consistência em relação ao período anterior e reconciliar o valor amortizado como respectiva conta de despesa na demonstração do resulta- do do exercício; • certificar-se de que os ativos intangíveis foram testados para sua recupe- rabilidade, ou seja, o ativo não deve estar registrado por valor superior a seu valor de recuperação. Quando for esse o caso, o valor do ativo deve ser redu- zido (impairment) a seu valor de recuperação; • no mínimo, a cada exercício, a empresa deve analisar a existência ou não de indicadores de impairment em seus ativos; • ágio deve ser testado, no mínimo, uma vez ao ano, mesmo que não existam indicadores de impairment. Agora, partiremos para a identificação das práticas adotadas para auditar as contas de passivo. Essas contas representam as obrigações da organização que se enquadram no passivo circulante e no passivo não circulante. O auditor, pelo estudo prévio no balanço patrimonial, deve eleger as contas mais relevantes a serem auditadas. Os objetivos da auditoria nas contas do passivo são: 9 • verificar se os controles internos da empresa transmitem a confiabilidade e constatar que todas as obrigações estão contabilizadas e, principalmente, se existem documentos para respaldar os registros; • verificar o grau de endividamento da empresa e se há risco de falência ou concordata; • verificar os saldos pendentes de pagamento, sua origem e motivo de inadim- plência. Devido à relevância e influência na empresa, as contas que, geralmente, são auditadas são: fornecedores, empréstimos e financiamentos, encargos sociais a pagar, tributos a pagar, provisão de contencioso e patrimônio líquido. Primeiramente, analisaremos a conta de fornecedores. Os objetivos da auditoria nessas contas são: • verificar se as compras são efetuadas a partir de um planejamento; • verificar se as compras foram realizadas pelos preços de licitação, quando for o caso; • determinar a segurança dos controles internos observados para o pagamen- to das obrigações com os fornecedores; • verificar a idoneidade das notas fiscais de compras e se foram autorizadas pela alçada competente; • se existir um volume de contas em atraso relevante, verificar se há uma pro- visão; • verificar a adequada contabilização das operações de compras, de acordo com os princípios fundamentais de contabilidade, analisando algumas notas fiscais de entrada para observar se foram contabilizadas dentro da compe- tência correta; • verificar se os saldos a pagar a fornecedores foram confirmados, via carta de circularização ou verificação de existência de nota fiscal de entrada de suporte. É relevante que a empresa adote algumas diretrizes com o intuito de prevenir erros e fraudes. A seguir, vamos citar alguns exemplos: a. segregação de funções de compra, recepção, registro e pagamento de com- pras; b. adoção de formulários padronizados ou sistemas de informatização para or- dens de compras, requisições, transferências internas etc.; 10 c. manutenção do cadastro de fornecedores atualizado e registrado conforme a política da empresa, verificando sua idoneidade no mercado e se a empresa permanece em operação; d. realização de tomada de preço com os fornecedores, tendo um mínimo de três orçamentos; e. fixação de estoques mínimos e máximos, como forma de orientar o ponto do pedido; f. sistema de aprovação das requisições e conferência; g. conciliação periódica entre os registros fiscais e registros contábeis. Quando o auditor julgar necessário, pode enviar cartas de circularização para as empresas com as quais a empresa auditada tenha mantido maior volume de operações. No caso da auditoria dos empréstimos e financiamentos, é necessário obter da entidade as seguintes informações: • extrato bancário dos empréstimos e financiamentos na data do balanço; • concordância do saldo contábil do balanço com o saldo informado nos extra- tos de empréstimos e financiamentos; • conferência de todos os contratos e aditivos dos empréstimos e financia- mentos até a data do balanço; • existência de empréstimos em moeda estrangeira, assim como análise do cálculo de variação cambial decorrente desses empréstimos; e, • verificação da segregação contábil de curto e longo prazo e se estão conta- bilizadas corretamente no passivo circulante enão circulante. Os empréstimos e financiamentos são contabilizados por ocasião de sua contratação pelo regime de competência. Ou seja, o valor incorrido e não pago, referente aos encargos financeiros (juros, comissões, correção monetária, IOF, variação cambial sobre o valor do principal) deve ser provisionado na data das demonstrações financeiras. Adicionalmente, os encargos financeiros pagos antecipadamente devem ser apropriados ao resultado, de acordo com o prazo do contrato do empréstimo ou financiamento. Para a realização da auditoria na conta dos encargos sociais a pagar, é necessário analisar as folhas de pagamento do período, as guias de recolhimento de INSS, FGTS e os relatórios de provisões de férias e 13º sintético e analítico, assim como as conciliações do período analisado. Na conta de encargos sociais a pagar, deve-se ainda verificar se: 11 • existe saldo na conta salários a pagar, sua composição e motivo da pendên- cia; • existem adiantamentos a funcionários ainda não descontados em folha; • há provisões de 13º e férias e se o montante está de acordo com o total da remuneração e número de funcionários; • os recolhimentos de FGTS e INSS estão sendo efetuados. Na conta de tributos a pagar, o objetivo é verificar se os tributos estão sendo apurados, contabilizados e pagos corretamente. Essa conferência é realizada pela análise das guias de recolhimento e conciliações contábeis. Para isso, o auditor deve: • confrontar o valor da análise com o razão contábil; • verificar se existem itens antigos ou anormais na análise; • confrontar os saldos com os livros fiscais; • testar a base de cálculos; • analisar a flutuação dos saldos ao longo do ano em relação ao faturamento, especialmente para os impostos cuja base de cálculo seja o faturamento; • testar o recolhimento subsequente dos impostos. A próxima conta é a provisão de contencioso trabalhista ou tributário. Caso a empresa tenha essa conta, a auditoria deverá verificar se essa provisão está suportada por Carta de Advogados, comprovando sua existência e a estimativa provável de cada processo judicial. Por fim, a conta do patrimônio líquido. Para a auditoria nessa conta, é necessário analisar: • o saldo do patrimônio líquido no início do exercício; • os ajustes de exercícios anteriores; • as subscrições e aumentos de capital social; • as contribuições para as reservas de capital social; • as constituições e reversões de ajustes de avaliação patrimonial, lucro ou prejuízo líquido do exercício; • o cálculo e contabilização de dividendos propostos. Além disso, devem ser fornecidas à auditoria todas as atas de reuniões do Conselho de Administração da empresa (se houver), o contrato social da empresa, juntamente com as últimas alterações, as demonstrações do resultado abrangente (DRA) e a 12 demonstração das mutações do patrimônio líquido (DMPL). Além disso, deve-se observar se existe saldo na conta de lucros acumulados, já que ele deve estar todo distribuído ou contabilizado em reservas de lucros. No próximo tópico, vamos conhecer os procedimentos de auditoria nas contas de resultado. Figura 6.2: A conta lucros acumulados não deve conter saldo e é objeto da auditoria fazer essa verificação Fonte: Plataforma Deduca (2018). Os últimos anos têm sido marcados pelos avanços na tecnologia, que refletem também no método de trabalho das empresas. Com o programa de auditoria, não foi diferente. Já existem softwares específicos para auxiliar na realização da auditoria. Para saber mais detalhes sobre esse assunto, acesse: <https://www. softexpert.com.br/produto/planejamento-controle-auditorias/>. Saiba mais Auditoria das contas de resultado As receitas e despesas contabilizadas no demonstrativo de resultado (DRE) são testadas, para fins de auditoria, pela seleção de lançamentos mais relevantes constantes no razão contábil, das contas de despesas e receitas. Depois de https://www.softexpert.com.br/produto/planejamento-controle-auditorias/ https://www.softexpert.com.br/produto/planejamento-controle-auditorias/ 13 selecionada a amostragem, a documentação suporte desses lançamentos deverá ser analisada (notas fiscais de entradas e serviços adquiridos pela empresa e notas fiscais de saídas emitidas pela empresa). Na auditoria de despesas e receitas, os itens mais importantes a serem observados são: • se foram contabilizadas nas datas corretas de competência; • se existe um documento idôneo para suportar essas receitas ou despesas. As contas que, geralmente, são auditadas, devido à relevância e influência na empresa são receitas, despesas e custos. Vamos começar pelas receitas. Elas podem ser divididas em dois grupos, dependendo da sua natureza: as operacionais, derivadas do exercício da atividade da empresa, e as não operacionais, que não derivam da atividade da organização. O objetivo do programa de auditoria para as contas de receita são: • determinar se elas estão contabilizadas de acordo com os princípios funda- mentais de contabilidade; • determinar se as receitas estão classificadas corretamente; • verificar se todas as receitas foram devidamente comprovadas; • analisar se as receitas não atribuídas ao período, ou que beneficiem exercí- cios futuros, estão corretamente diferidas. As despesas representam o consumo ou a utilização de bens e serviços no processo de produzir a receita da empresa. Nessa conta, deverão ser analisadas as rubricas de despesas com mais representatividade sobre o total de despesas do DRE, como despesas de pessoal, despesas administrativas (depreciações, aluguéis, manutenção e serviços) e despesas de vendas e comerciais. As despesas são testadas, para fins de auditoria, pela seleção de lançamentos mais relevantes constantes no razão contábil das contas de despesas. Depois de selecionada a amostragem, deverá ser verificada a documentação suporte desses lançamentos (notas fiscais de entrada e serviços), conferindo sua idoneidade, se estão contabilizadas na competência correta e se essas despesas foram aprovadas pela alçada competente. Por fim, os custos. Os valores analisados pela auditoria são aqueles que compõem o custo da mercadoria vendida (CMV). A análise dessa conta é feita por meio da conferência do valor total do custo baixado, informado no relatório de inventário 14 estoque, com o total de custo das mercadorias vendidas informado no DRE. Além disso, também é feito um comparativo de proporcionalidade entre a variação da receita de vendas e a variação dos custos de mercadorias vendidas no período analisado. Posteriormente, vamos conhecer os procedimentos de execução de auditoria em contas que ainda fazem parte dos itens estudados até aqui. Preparados? Figura 6.3: As receitas e despesas contabilizadas no demonstrativo de resultado são testadas pela seleção de lançamentos mais relevantes constantes no razão contábil Fonte: Plataforma Deduca (2018). Você já parou para pensar que a execução da auditoria contábil não se limita ao cumprimento das normas? O que você considera importante para a realização de uma auditoria de qualidade? Reflita Verificação das demais demonstrações contábeis Além do programa de auditoria normalmente utilizado para a verificação das contas patrimoniais e de resultado, existe o programa de auditoria para uma verificação complementar. O objetivo dessa metodologia é verificar as contas, 15 independentemente de sua natureza (patrimoniais ou de resultado), que não tenham sido abrangidas por outros programas, visando a que todos os fatos contábeis registrados sejam analisados (CREPALDI, 2009). Esse programa de auditoria é mais abrangente do que o método normal, pois inclui as contas que já tenham sido encerradas no decorrer do exercício. O primeiro passo é verificar se as contas que serão analisadas têm certa uniformidade em relação ao exercício anterior. Outro teste que pode ser utilizado,nesse caso, é o da razoabilidade do montante da conta em relação à sua destinação e às finalidades operacionais da entidade. Caso existam orçamentos prévios, estimativas ou previsões (CREPALDI, 2009, p. 720): • Deve-se fazer comparação, para verificar a irregularidade. • Deve-se inspecionar o movimento das contas, em busca de flutuações acen- tuadas, lançamentos inusitados, contrapartidas incomuns e outros fatores anormais. • Pesquisar e analisar para assegurar-se de sua razoabilidade, • Verificar o crescimento/decréscimo das vendas e sua relação como custo dos produtos vendidos, o lucro bruto e qualquer outra conta diretamente liga- da às flutuações operacionais. A comparação é feita com o exercício anterior, desde que nenhum dos dois seja exercício atípico. No tópico a seguir, veremos como são tratados os eventos subsequentes na execução do programa de auditoria. Não perca tempo, vamos lá! Você já pensou como funciona a execução de auditoria na prática? Veja um exemplo de auditoria de contas de condomínio acessando este link: <http://www.direcionalcondominios.com.br/sindicos/ materias/item/1224-como-funciona-uma-auditoria-de-contas- no-condominio.html>. Saiba mais Auditoria dos eventos subsequentes http://www.direcionalcondominios.com.br/sindicos/materias/item/1224-como-funciona-uma-auditoria-de-contas-no-condominio.html http://www.direcionalcondominios.com.br/sindicos/materias/item/1224-como-funciona-uma-auditoria-de-contas-no-condominio.html http://www.direcionalcondominios.com.br/sindicos/materias/item/1224-como-funciona-uma-auditoria-de-contas-no-condominio.html 16 Até agora, vimos os programas de contas patrimoniais, de resultados e demais situações que não estavam incluídas nos itens anteriores, mas não terminamos! Temos ainda o programa de auditoria para eventos subsequentes. Os eventos subsequentes devem ser considerados no exame das demonstrações contábeis, além de serem considerados na elaboração do parecer. O auditor deve considerar três situações de eventos subsequentes (CREPALDI, 2009, p. 722): a. os ocorridos entre a data do término do exercício social e data da emissão do parecer; b. os ocorridos depois do término do trabalho de campo e da emissão do pare- cer e antes da divulgação das Demonstrações Contábeis; c. os conhecidos após a divulgação das Demonstrações Contábeis. De acordo com a NBC TG 24 (R1), são exemplos de eventos subsequentes (MELO; SANTOS, 2017): a. decisão ou pagamento em processo judicial após o término do período con- tábil das demonstrações contábeis analisadas, confirmando que a entidade já tinha uma obrigação ao final daquele período; b. obtenção de informações após o término do período contábil em questão, indicando que um ativo estava depreciado ao final do período contábil ana- lisado, ou que o total da perda por depreciação, reconhecido inicialmente, precisa ser recalculado; c. busca de informações, após o fim do período contábil, sobre o custo de ativos comprados, ou do valor de ativos obtidos em troca de ativos vendidos ante- riormente; d. busca de informações, após o fim do período contábil, sobre o valor referente ao pagamento de participação nos lucros ou gratificações, caso a empresa tenha obrigação legal de fazer esses pagamentos resultantes de eventos an- teriores. 17 Referências CREPALDI, S. A. Auditoria contábil: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2009. MELO, M. M.; SANTOS, I. R. Auditoria contábil: atualizada pelas Normas Internacionais de Auditoria emitida pela IFAC com adoção no Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: Maria Augusta Delgado, 2017. SANTOS, J. L. dos; GOMES, J. M. M. Fundamentos de auditoria contábil. São Paulo: Atlas, 2006. PORTAL DE CONTABILIDADE. Normas Brasileiras de Contabilidade. Disponível em <http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/t11.htm>. Acesso em: 17 jan. 2018. http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/t11.htm GINEAD AUDITORIA CONTÁBIL Unidade 7 - Parecer e relatórios de auditoria SST Moreno, Fernanda Gualda; Pereira, Beatriz da Silva Unidade 7 - Parecer e relatórios de auditoria / Fernanda Gualda Moreno; Beatriz da Silva Pereira Ano: 2020 nº de p.: 21 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Unidade 7 - Parecer e relatórios de auditoria 3 Objetivo específico • Identificar a estrutura e os tipos de pareceres e dos relatórios de auditoria. Apresentando a unidade Todo trabalho, seja ele qual for, gera uma contribuição positiva ou negativa, dependendo do ponto de vista. Uma energia foi despendida com um objetivo, uma finalidade. Essa contribuição advém da apresentação de resultados e de possíveis sugestões de melhoria. O parecer de auditoria também tem essa função. Você sabia que as auditorias independentes também são fiscalizadas? Além da fiscalização exercida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) criaram o Comitê Administrador do Programa de Revisão Externa de Qualidade (CRE), que atende à NBC PA 11 e à Instrução CVM nº 308/1999. A utilização desse mecanismo garante mais credibilidade na prestação dos serviços de auditoria. Estrutura dos pareceres dos auditores independentes Os Relatórios de Auditoria Independente (RAI), anteriormente denominados Pareceres de Auditoria Independente (PAI), desde 2010, seguem as regras estabelecidas nas NBC TA 700 (Formação de opinião e emissão do relatório do auditor sobre as demonstrações contábeis), NBC TA 705 (Modificações na opinião do auditor independente) e NBC TA 706 (Parágrafos de ênfase e parágrafos de outros assuntos). O relatório do auditor independente segue uma estrutura mínima, caso a opinião do auditor não seja modificada. Opinião modificada? Ele pode mudar de opinião? Calma. Iremos por partes. 4 Você se lembra de que um dos objetivos do auditor independente é emitir uma opinião sobre as demonstrações contábeis? Pois bem, essa opinião é classificada de duas maneiras: uma opinião não modificada, que corresponde a um parecer sem ressalva; e uma opinião modificada, que pode corresponder a três tipos de parecer – opinião ou parecer com ressalva, adverso e abstenção de opinião (CREPALDI, 2009). Figura 7.1: A opinião do auditor independente pode ser modificada ou não modificada Fonte: Plataforma Deduca (2018). Portanto não significa que, após a conclusão dos trabalhos de auditoria, o auditor ou a equipe de trabalho pode alterar ou modificar um RAI já entregue. A modificação na opinião ocorrerá nos casos em que não haja segurança razoável de que as demonstrações contábeis estejam livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro, como forma, conteúdo e apresentação. Veremos, em detalhes, essas classificações no item 7.2. Um RAI pode conter as seguintes seções: 1. Apresenta a identificação da empresa auditada, das demonstrações contá- beis auditadas e do período auditado. 2. Seção “Responsabilidade da administração pelas demonstrações contábeis”. 3. Seção “Responsabilidades do auditor pela auditoria das demonstrações con- tábeis”. 4. Seção “Opinião”. 5. Seção “Base para opinião”. 6. Seção “Outras informações que acompanham as demonstrações contábeis e o relatório do auditor”. 7. Seção para parágrafo(s) de “Ênfase”. 8. Seção “Principais assuntos de auditoria”. 9. Seção para parágrafo(s) de “Outros assuntos”. 10. Seção “Demonstração do Valor Adicionado” (apenas para S.A. aberta). 5 A exigência de fazer com que os balanços sejam acompanhados de pareceres de auditores independentes surgiu com a Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965, embora essa lei incluísse apenas os fundos mútuos de investimento. As demais entidades ficaram a critério do Conselho Monetário Nacional, que estabeleceu as condições para a aplicação da exigência de auditoria das empresas que fossem registradas naquele banco na forma de Resolução nº 88, de 30 de janeiro de 1968 (GOLDKORN, 1976). CuriosidadeSegundo Almeida (2009), o RAI é endereçado aos gestores, para quem o relatório é elaborado, que, geralmente, são os acionistas ou os responsáveis pela governança, como o Conselho de Administração, cujas demonstrações contábeis estão sendo auditadas. Ressaltamos, nesse ponto, que, antes de finalizar os trabalhos, caso o auditor não obtenha essa evidência de auditoria apropriada e suficiente e, dessa forma, exija uma opinião modificada em seu relatório, ele deverá informar primeiro à administração governança da auditada, com antecedência, ou seja, no momento da descoberta de eventos irregulares, indicando em seus papéis de trabalho a origem e o valor das diferenças, ainda que calculáveis de forma global (ATTIE, 2010). Após a comunicação, os ajustes e as reclassificações dos registros contábeis, auditoria e auditada devem discutir sobre o assunto e dar a oportunidade à empresa de fornecer informações adicionais que resolvam o problema, ou que a entidade tenha que aceitar a emissão do RAI com a modificação da opinião. Figura 7.2: Auditor e auditada devem discutir o problema conjuntamente Fonte: Plataforma Deduca (2018). 6 Tipos de pareceres O auditor emitirá um relatório sem modificações, ou seja, sem ressalva, ou ainda denominado “parecer limpo”, quando não houver distorções relevantes nas demonstrações contábeis. Nesse caso, ele não conterá exceção e, geralmente, nenhum parágrafo adicional. O auditor somente emitirá um relatório com modificações quando o assunto ou tema tratado, com base no seu julgamento profissional, apresentar alguma incerteza ou irregularidade nas demonstrações contábeis, inclusive em notas explicativas. Nesse caso, torna-se exigência que o auditor emita um relatório com as modificações necessárias. Observe o Quadro 7.1, que sintetiza os principais aspectos de cada um dos tipos de RAI. Quadro 7.1: Tipos de relatório de auditoria independente Tipo Descrição Relatório não modificado Opinião sem ressalva O relatório sem ressalva é o denominado limpo, ou seja, sem exceção ou qualquer parágrafo adicional. Indica que o auditor está convencido de que as demonstrações contábeis foram elaboradas consoantes à legislação específica, em todos os aspectos relevantes. Relatório modificado Opinião com ressalva ou Opinião qualificada É emitido quando o auditor obtém evidências apropriadas, concluindo que há distorções relevantes, individualmente ou em conjunto, mas não generalizadas. Ou ainda quando não se obtém evidências apropriadas para suportar sua opinião, mas conclui que seus efeitos de distorções não detectadas poderiam ser relevantes, mas não generalizadas. Relatório modificado Opinião adversa É emitido pelo auditor para expressar adversidade de opinião, tendo como base evidências de auditoria suficientes para que as distorções individuais ou em grupo sejam relevantes e generalizadas. Relatório modificado Abstenção de opinião Quando o auditor não expressa sua opinião, pois não conseguiu obter evidências suficientes para embasar sua opinião e conclui que essas possíveis distorções poderiam ser importantes e generalizadas. Fonte: Adaptado de Almeida (2009). 7 Com base no Quadro 7.1, você já deve estar concluindo que o RAI limpo ou sem ressalva sugere que o auditor está convencido de que as demonstrações contábeis foram elaboradas de acordo com a Lei das Sociedades Anônimas (Lei nº 6.404/1976 e suas alterações), em todos os aspectos relevantes. Como a publicação das demonstrações financeiras se refere ao exercício financeiro atual e ao anterior, as alterações significativas estão corretamente refletidas e foram adequadamente comentadas em notas explicativas. De acordo com a NBC TA 705 (CFC, 2016), o auditor deverá emitir opinião modificada, com ressalva, em duas condições: quando as demonstrações contábeis apresentarem distorções relevantes, porém não generalizadas, ou quando não se conseguir obter evidência de auditoria suficiente, mas que não apresente maiores riscos aos investidores. Já nos casos de parecer modificado, a opinião adversa e a abstenção de opinião serão adotadas pelo auditor se não houver possibilidade de obter dados que evidenciem de forma correta a situação patrimonial (bens, direitos e obrigações), assim como os resultados (lucros ou prejuízos). Publicado em 2011, no periódico Contabilidade Vista & Revista, da Universidade Federal de Minas Gerais, o artigo “Estudo sobre os pareceres de auditoria: análise dos parágrafos de ênfase e ressalvas constantes nas demonstrações contábeis das companhias listadas na Bovespa” aponta quais são os fatores mais frequentes que ocasionam a emissão de pareceres de auditoria com ressalvas e/ou parágrafos de ênfase. Leia o artigo na íntegra, acessando: <http://revistas.face.ufmg.br/index.php/ contabilidadevistaerevista/article/view/939/pdf106>. Saiba mais Estrutura de um relatório de auditoria Bem, chegou o momento de você conhecer os modelos de cada um dos parágrafos de um relatório de auditoria independente. A estrutura aqui descrita está em conformidade com o Comunicado Técnico de Auditoria (CTA) nº 02 (CFC, 2015). http://revistas.face.ufmg.br/index.php/contabilidadevistaerevista/article/view/939/pdf106 http://revistas.face.ufmg.br/index.php/contabilidadevistaerevista/article/view/939/pdf106 8 Primeiro, veja a estrutura de um RAI limpo, ou seja, sem opinião modificada, sem ressalva: RELATÓRIO DOS AUDITORES INDEPENDENTES SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS (Destinatário apropriado) Examinamos as demonstrações contábeis da Companhia ABC (companhia), que compreendem o balanço patrimonial em 31 de dezembro de [ano] e as respectivas demonstrações do resultado, do resultado abrangente, das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa para o exercício findo naquela data, assim como o resumo das principais práticas contábeis e demais notas explicativas. Responsabilidade da administração sobre as demonstrações contábeis A administração da companhia é responsável pela elaboração e adequada apresentação das demonstrações contábeis, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil e pelos controles internos que ela determinou como necessários para permitir a elaboração de demonstrações contábeis livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro. Responsabilidade dos auditores independentes Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis, com base em nossa auditoria, conduzida de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria. Essas normas requerem o cumprimento de exigências éticas pelos auditores e que a auditoria seja planejada e executada com o objetivo de obter segurança razoável de que as demonstrações contábeis estão livres de distorção relevante. Uma auditoria envolve a execução de procedimentos selecionados para obtenção de evidência a respeito dos valores e divulgações apresentados nas demonstrações contábeis. Os procedimentos selecionados dependem do julgamento do auditor, incluindo a avaliação dos riscos de distorção relevante nas demonstrações contábeis, independentemente se causada por fraude ou erro. Nessa avaliação de riscos, o auditor considera os controles internos relevantes para a elaboração e adequada apresentação das demonstrações contábeis da companhia para planejar os procedimentos de auditoria que são apropriados nas circunstâncias, mas não para fins de expressar uma opinião sobre a eficácia desses 9 controles internos da companhia. Uma auditoria inclui, também, a avaliação da adequação das práticas contábeis utilizadas e a razoabilidade das estimativas contábeis feitas pela administração, bem como a avaliação da apresentação das demonstrações contábeis tomadas em conjunto. Acreditamos que a evidência de auditoria obtida é suficiente e apropriada para fundamentar nossa opinião. Opinião Em nossa opinião, as demonstrações contábeis acima referidas apresentam adequadamente, emtodos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Companhia ABC em 31 de dezembro de [ano], o desempenho de suas operações e os seus fluxos de caixa para o exercício findo naquela data, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil. [Local (localidade do escritório de auditoria que emitiu o relatório) e data do relatório do auditor independente] [Nome do auditor independente (pessoa física ou jurídica)] [Nome do profissional (sócio ou responsável técnico, no caso de o auditor ser pessoa jurídica)] [Números de registro no CRC da firma de auditoria e do profissional que assina o relatório] [Assinatura do auditor independente] Em 2010, a subsidiária brasileira da firma de auditoria independente Deloitte Touche Tohmatsu cometeu irregularidades referentes às demonstrações contábeis da companhia aérea Gol, descobertas apenas em 2012, e cuja multa foi aplicada somente em 2016. Alguns papéis de trabalho relacionados às auditorias externas da Deloitte tinham data posterior à conclusão dos serviços prestados, o que evidenciaria a manipulação de dados. Daí a necessidade de se documentar e guardar todos os trabalhos realizados. Reflita 10 Caso o RAI seja com opinião modificada, alguns pontos se alteram em relação à estrutura que vimos. Mas, para saber quando se utiliza uma ou outra forma de opinião, sintetizamos a adequada utilização no Quadro 7.2. Observe: Quadro 7.2: Diferenciação de opinião modificada Natureza do assunto que gerou a modificação Julgamento do auditor sobre a disse- minação de forma generalizada dos efeitos ou possíveis efeitos sobre as de- monstrações contábeis Relevante, mas não generalizado Relevante e generalizado Demonstrações contábeis apresentam distorções relevantes Opinião com ressalva Opinião adversa Impossibilidade de obter evidência de auditoria apropriada e suficiente Opinião com ressalva Abstenção de opinião Fonte: Adaptado da NBC TA 705 (CFC, 2016). Quando houver ressalva, por exemplo, a estrutura recomendada pela NBC TA 705 deve conter os seguintes dizeres: RELATÓRIO DO AUDITOR INDEPENDENTE SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Aos acionistas da Companhia ABC [ou outro destinatário apropriado] Opinião com ressalva Examinamos as demonstrações contábeis da Companhia ABC (Companhia) que compreendem o balanço patrimonial em 31 de dezembro de [ano] e as respectivas demonstrações do resultado, do resultado abrangente, das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa para o exercício findo nessa data, bem como as correspondentes notas explicativas, incluindo o resumo das principais políticas contábeis. Em nossa opinião, exceto pelos efeitos do assunto descrito na seção a seguir, intitulada Base para opinião com ressalva, as demonstrações contábeis acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Companhia 11 ABC em 31 de dezembro de [ano], o desempenho de suas operações e os seus fluxos de caixa para o exercício findo nessa data, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil. Base para opinião com ressalva Os estoques da companhia estão apresentados no balanço patrimonial por $ xxx. A administração não avaliou os estoques pelo menor valor entre o custo e o valor líquido de realização, mas somente pelo custo, o que representa um desvio em relação às práticas contábeis adotadas no Brasil. Os registros da companhia indicam que, se a administração tivesse avaliado os estoques pelo menor valor entre o custo e o valor líquido de realização, teria sido necessária a provisão de $ xxx para reduzir os estoques ao valor líquido de realização. Consequentemente, o lucro líquido e o patrimônio líquido teriam sido reduzidos em $ xxx e $ xxx, respectivamente, após os efeitos tributários. Nossa auditoria foi conduzida de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria. Nossas responsabilidades, em conformidade com tais normas, estão descritas na seção a seguir intitulada Responsabilidade do auditor pela auditoria das demonstrações contábeis. Somos independentes em relação à companhia, de acordo com os princípios éticos relevantes previstos no Código de Ética Profissional do Contador e nas normas profissionais emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade, e cumprimos com as demais responsabilidades éticas, de acordo com essas normas. Acreditamos que a evidência de auditoria obtida é suficiente e apropriada para fundamentar nossa opinião com ressalva. Outras informações que acompanham as demonstrações contábeis e o relatório do auditor A administração da companhia é responsável por essas outras informações que compreendem o relatório da administração. Nossa opinião sobre as demonstrações contábeis consolidadas não abrange o relatório da administração e não expressamos qualquer forma de conclusão de auditoria sobre esse relatório. Em conexão com a auditoria das demonstrações contábeis consolidadas, nossa responsabilidade é a de ler o Relatório da Administração e, ao fazê- lo, considerar se esse relatório está, de forma relevante, inconsistente 12 com as demonstrações contábeis ou com nosso conhecimento obtido na auditoria ou, de outra forma, aparenta estar distorcido de forma relevante. Se, com base no trabalho realizado, concluirmos que há distorção relevante no relatório da administração, somos requeridos a comunicar esse fato. Conforme descrito na seção “Base para opinião com ressalva”, acima, não foi possível obter evidência de auditoria apropriada e suficiente sobre o valor contábil do investimento da Companhia ABC na Empresa XYZ em 31 de dezembro de [ano] e da participação dela no lucro líquido da investida XYZ. Portanto não foi possível concluir se as outras informações apresentam distorção relevante, ou não, com relação a esse assunto. Principais assuntos de auditoria Principais assuntos de auditoria são aqueles que em nosso julgamento profissional foram os mais significativos em nossa auditoria do exercício corrente. Esses assuntos foram tratados no contexto de nossa auditoria das demonstrações contábeis como um todo e na formação de nossa opinião sobre essas demonstrações contábeis e, portanto, não expressamos uma opinião separada sobre esses assuntos. Responsabilidade da administração e da governança pelas demonstrações contábeis A administração da companhia é responsável pela elaboração e adequada apresentação das demonstrações contábeis, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil e pelos controles internos que ela determinou como necessários para permitir a elaboração de demonstrações contábeis livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro. Responsabilidade do auditor independente Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis, com base em nossa auditoria, conduzida de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria. Essas normas requerem o cumprimento de exigências éticas pelos auditores e que a auditoria seja planejada e executada com o objetivo de obter segurança razoável de que as demonstrações contábeis estão livres de distorção relevante. Uma auditoria envolve a execução de procedimentos selecionados para obtenção de evidência a respeito dos valores e divulgações apresentados 13 nas demonstrações contábeis. Os procedimentos selecionados dependem do julgamento do auditor, incluindo a avaliação dos riscos de distorção relevante nas demonstrações contábeis, independentemente se causada por fraude ou erro. Nessa avaliação de riscos, o auditor considera os controles internos relevantes para a elaboração e adequada apresentação das demonstrações contábeis da companhia para planejar os procedimentos de auditoria que são apropriados nas circunstâncias, mas não para fins de expressar uma opinião sobre a eficácia desses controles internos da companhia. Uma auditoria inclui, também, a avaliação da adequação das práticascontábeis utilizadas e a razoabilidade das estimativas contábeis feitas pela administração, bem como a avaliação da apresentação das demonstrações contábeis tomadas em conjunto. Um RAI com opinião adversa, segundo as NBC TAs 700 e 705, deve seguir o seguinte padrão: RELATÓRIO DO AUDITOR INDEPENDENTE SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Aos acionistas da Companhia ABC [ou outro destinatário apropriado] Opinião adversa Examinamos as demonstrações contábeis consolidadas da Companhia ABC (Companhia) e suas controladas, que compreendem o balanço patrimonial consolidado em 31 de dezembro de [ano] e as respectivas demonstrações consolidadas do resultado, do resultado abrangente, das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa para o exercício findo nessa data, bem como as correspondentes notas explicativas, incluindo o resumo das principais políticas contábeis. Em nossa opinião, devido à importância do assunto discutido no parágrafo a seguir, intitulado “Base para opinião adversa”, as demonstrações contábeis consolidadas, acima referidas, não apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira consolidada da Companhia ABC e suas controladas em 31 de dezembro de [ano], o desempenho consolidado de suas operações e os seus fluxos de caixa consolidados para o exercício findo nessa data, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil. 14 Base para opinião adversa Conforme explicado na Nota explicativa [número], a companhia não consolidou a controlada XYZ, adquirida durante [ano], devido não ter sido possível determinar os valores justos de certos ativos e passivos relevantes dessa controlada na data da aquisição. Esse investimento, portanto, está contabilizado com base no custo. De acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil, a controlada deveria ter sido consolidada. Se a controlada XYZ tivesse sido consolidada, muitos elementos nas demonstrações contábeis consolidadas, acima referidas, teriam sido afetados de forma relevante. Os efeitos da não consolidação sobre as demonstrações contábeis consolidadas não foram determinados. Nossa auditoria foi conduzida de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria. Nossas responsabilidades, em conformidade com tais normas, estão descritas na seção a seguir, intitulada “Responsabilidade do auditor pela auditoria das demonstrações contábeis”. Somos independentes em relação à companhia, de acordo com os princípios éticos relevantes previstos no Código de Ética Profissional do Contador e nas normas profissionais emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade, e cumprimos com as demais responsabilidades éticas, de acordo com essas normas. Acreditamos que a evidência de auditoria obtida é suficiente e apropriada para fundamentar nossa opinião adversa. Principais assuntos de auditoria Além do assunto descrito na seção “Base para opinião adversa”, não existem outros principais assuntos de auditoria a serem comunicados em nosso relatório. Responsabilidade da administração e da governança pelas demonstrações contábeis consolidadas A administração é responsável pela elaboração e adequada apresentação das demonstrações contábeis consolidadas de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil e pelos controles internos que ela determinou como necessários para permitir a elaboração de demonstrações contábeis livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro. Na elaboração das demonstrações contábeis consolidadas, a administração é responsável pela avaliação da capacidade de a Companhia continuar operando, divulgando, quando aplicável, os 15 assuntos relacionados com a sua continuidade operacional e o uso dessa base contábil na elaboração das demonstrações contábeis, a não ser que a administração pretenda liquidar a Companhia e suas controladas ou cessar suas operações, ou não tenha nenhuma alternativa realista para evitar o encerramento das operações. Os responsáveis pela governança da Companhia e suas controladas são aqueles com responsabilidade pela supervisão do processo de elaboração das demonstrações contábeis. Responsabilidade do auditor pela auditoria das demonstrações contábeis consolidadas Nossos objetivos são obter segurança razoável de que as demonstrações contábeis consolidadas, tomadas em conjunto, estão livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro, e emitir relatório de auditoria contendo nossa opinião. Segurança razoável é um alto nível de segurança, mas não uma garantia de que a auditoria, realizada de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria, sempre detecta as eventuais distorções relevantes existentes. As distorções podem ser decorrentes de fraude ou erro e são consideradas relevantes quando, individualmente ou em conjunto, possam influenciar, dentro de uma perspectiva razoável, as decisões econômicas dos usuários tomadas com base nas referidas demonstrações contábeis consolidadas. Como parte de auditoria realizada de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria, exercemos julgamento profissional e mantemos ceticismo profissional ao longo da auditoria. Além disso: Identificamos e avaliamos os riscos de distorção relevante nas demonstrações contábeis consolidadas, independentemente se causada por fraude ou erro, planejamos e executamos procedimentos de auditoria em resposta a tais riscos, bem como obtemos evidência de auditoria apropriada e suficiente para fundamentar nossa opinião. O risco de não detecção de distorção relevante resultante de fraude é maior do que o proveniente de erro, já que a fraude pode envolver o ato de burlar os controles internos, conluio, falsificação, omissão ou representações falsas intencionais. Comunicamo-nos com os responsáveis pela governança a respeito, entre outros aspectos, do alcance planejado, da época da auditoria e das constatações significativas de auditoria, inclusive as eventuais 16 deficiências significativas nos controles internos que identificamos durante nossos trabalhos. Fornecemos também aos responsáveis pela governança declaração de que cumprimos com as exigências éticas relevantes, incluindo os requisitos aplicáveis de independência e comunicamos todos os eventuais relacionamentos ou assuntos que poderiam afetar consideravelmente nossa independência, incluindo, quando aplicável, as respectivas salvaguardas. Dos assuntos que foram objeto de comunicação com os responsáveis pela governança, determinamos aqueles que foram considerados como mais significativos na auditoria das demonstrações contábeis do exercício corrente e que, dessa maneira constituem os Principais Assuntos de Auditoria. Descrevemos esses assuntos em nosso relatório de auditoria, a menos que lei ou regulamento tenha proibido divulgação pública do assunto ou quando, em circunstâncias extremamente raras, determinarmos que o assunto não deve ser comunicado em nosso relatório porque as consequências adversas de tal comunicação podem, dentro de uma perspectiva razoável, superar os benefícios da comunicação para o interesse público. Já um RAI com abstenção de opinião, segundo a NBC TA 705, deve mencionar: RELATÓRIO DO AUDITOR INDEPENDENTE SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Aos acionistas da Companhia ABC [ou outro destinatário apropriado] Abstenção de opinião Fomos contratados para examinar as demonstrações contábeis consolidadas da Companhia ABC (Companhia) e suas controladas que compreendem o balanço patrimonial consolidado em 31 de dezembro de [ano] e as respectivas demonstrações consolidadas do resultado, do resultado abrangente, das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa para o exercício findo nessa data, bem como as correspondentes notas explicativas, incluindo o resumo das principais políticas contábeis. Não expressamos uma opinião sobre as demonstrações contábeis consolidadas da Companhia ABC e suas controladas.Devido à relevância do assunto descrito na seção a seguir, intitulada “Base para abstenção de opinião”, não nos foi possível obter evidência de auditoria apropriada 17 e suficiente para fundamentar nossa opinião de auditoria sobre essas demonstrações contábeis consolidadas. Base para abstenção de opinião O investimento da Companhia no empreendimento controlado em conjunto XYZ está contabilizado por $ xxx no balanço patrimonial consolidado, o que representa mais de 90% do seu patrimônio líquido em 31 de dezembro de [ano]. Não nos foi permitido acesso à administração e aos auditores da Empresa XYZ, incluindo a documentação de auditoria do auditor da Empresa XYZ. Consequentemente, não foi possível determinar se havia necessidade de ajustes em relação à participação proporcional da companhia nos ativos da Empresa XYZ, que ela controla em conjunto, assim como sua participação proporcional nos passivos da Empresa XYZ, pelos quais ela é responsável em conjunto, e sua participação proporcional nas receitas, despesas e nos elementos componentes das demonstrações das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa do exercício findo nessa data. Responsabilidade da administração e da governança pelas demonstrações contábeis consolidadas A administração é responsável pela elaboração e adequada apresentação das demonstrações contábeis consolidadas, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil e pelos controles internos que ela determinou como necessários para permitir a elaboração de demonstrações contábeis livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro. Na elaboração das demonstrações contábeis consolidadas, a administração é responsável pela avaliação da capacidade de a Companhia continuar operando, divulgando, quando aplicável, os assuntos relacionados com a sua continuidade operacional e o uso dessa base contábil na elaboração das demonstrações contábeis, a não ser que a administração pretenda liquidar a Companhia e suas controladas ou cessar suas operações, ou não tenha nenhuma alternativa realista para evitar o encerramento das operações. Os responsáveis pela governança da Companhia e suas controladas são aqueles com responsabilidade pela supervisão do processo de elaboração das demonstrações contábeis. 18 Responsabilidade do auditor pela auditoria das demonstrações contábeis consolidadas Nossa responsabilidade é a de conduzir uma auditoria das demonstrações contábeis consolidadas da companhia e suas controladas, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil e a de emitir um relatório de auditoria. Contudo, devido ao assunto descrito na seção intitulada “Base para abstenção de opinião”, não nos foi possível obter evidência de auditoria apropriada e suficiente para fundamentar nossa opinião de auditoria sobre essas demonstrações contábeis consolidadas. Somos independentes em relação à companhia, de acordo com os princípios éticos relevantes previstos no Código de Ética Profissional do Contador e nas normas profissionais emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade, e cumprimos com as demais responsabilidades éticas de acordo com essas normas. Observamos que, segundo a NBC TA 706, (CFC, 2016), a seção do parágrafo de “Ênfase” pode ser incluída antes ou após a seção “Principais assuntos de auditoria”. Por último, e com base no julgamento do auditor sobre a relevância das informações, será incluída a seção parágrafo de “Outros assuntos”, conforme o modelo a seguir: Ênfase Chamamos a atenção para a Nota Explicativa [número] às demonstrações contábeis, que descreve os efeitos do incêndio nas instalações fabris da Companhia. Nossa opinião não contém ressalva relacionada a esse assunto. Principais assuntos de auditoria Principais assuntos de auditoria são aqueles que, em nosso julgamento profissional, foram os mais significativos em nossa auditoria do exercício corrente. Esses assuntos foram tratados no contexto de nossa auditoria das demonstrações contábeis como um todo e na formação de nossa opinião sobre essas demonstrações contábeis e, portanto, não expressamos uma opinião separada sobre esses assuntos. Outros assuntos As demonstrações contábeis da Companhia ABC para o exercício findo em 31 de dezembro de 20X0 foram examinadas por outro auditor 19 independente, que emitiu relatório em 31 de março de 20X1 com opinião sem modificação sobre essas demonstrações contábeis. Logo após esse parágrafo de outros assuntos, o auditor deve descrever cada um dos principais itens relevantes, de conhecimento do auditor e não evidenciados no conjunto das demonstrações contábeis e que sejam úteis para complementar o entendimento das partes interessadas. Da mesma forma, seguirá com a identificação, localidade e assinaturas da auditoria. 20 Referências ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. ATTIE, W. Auditoria: conceitos e aplicações. São Paulo: Atlas, 2010. BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L6404consol. htm>. Acesso em: 28 jan. 2018. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM nº 308, de 14 de maio de 1999. Dispõe sobre o registro e o exercício da atividade de auditoria independente no âmbito do mercado de valores mobiliários, define os deveres e as responsabilidades dos administradores das entidades auditadas no relacionamento com os auditores independentes. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 19 maio 1999. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. CTA 02, de 27 de fevereiro de 2015. Dá nova redação ao CTA 02 que trata da emissão do relatório do auditor independente sobre demonstrações contábeis individuais e consolidadas. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 9 mar. 2015. ___. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC TA 700, de 17 de junho de 2016. Dá nova redação à NBC TA 700 que dispõe sobre a formação da opinião e emissão do relatório do auditor independente sobre as demonstrações contábeis. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 4 jul. 2016. ___. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC TA 705, de 17 de junho de 2016. Dá nova redação à NBC TA 705 que dispõe sobre modificações na opinião do auditor independente. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 4 jul. 2016. ___. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC TA 706, de 17 de junho de 2016. Dá nova redação à NBC TA 706 que dispõe sobre parágrafos de ênfase e parágrafos de outros assuntos no relatório do auditor independente. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 4 jul. 2016. 21 ___. Norma Brasileira de Contabilidade, NBC PA 11, de 8 de dezembro de 2017. Dá nova redação à NBC PA 11 - Revisão externa de qualidade pelos pares. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 13 dez. 2017. CREPALDI, S. A. Auditoria contábil: teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009. GOLDKORN, H. O que significa um parecer de auditoria. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 37-40, 1976. GINEAD AUDITORIA CONTÁBIL Unidade 8 - Auditoria governamental SST Moreno, Fernanda Gualda; Pereira, Beatriz da Silva Unidade 8 - Auditoria governamental / Fernanda Gualda Moreno; Beatriz da Silva Pereira Ano: 2020 nº de p.: 16 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Unidade 8 - Auditoria governamental 3 Objetivos específicos • Compreender os objetivos e a aplicação da auditoria na esfera governamen- tal. • Discutir as normas de auditoria em outras instituições de controle vinculadas ao governo. Apresentando a unidade Bem-vindo à última unidade da nossa disciplina! Nesta etapa do estudo, você conhecerá o funcionamento da auditoria governamental, as diferenças em relação ao modelo de auditoria empresarial, além dos demais fundamentos relacionados ao assunto. Ainda nesta unidade, descreveremosos procedimentos e a estrutura do setor público e a sua relação com o processo de auditoria, destacando, principalmente o funcionamento dessa área no Tribunal de Contas e na Controladoria Geral da União. Vamos lá! Introdução à auditoria governamental: estrutura de comunicação interna do setor público Para começar a falar sobre a auditoria governamental, o primeiro passo é conhecer a sua origem. Não existe uma data especifica, mas alguns marcos podem ser citados como relevantes para seu desenvolvimento. Um deles refere-se ao período referente ao Império Romano, quando já era comum que os imperadores nomeassem altos funcionários para a supervisão de todas as operações financeiras das províncias em poder do império e que, posteriormente, prestassem contas de forma verbal. Foi nessa época que se acredita ter surgido o termo auditoria, do latim, audire, que significa “ouvir” (CREPALDI, 2009). 4 No século XIII, na Inglaterra, o rei Henrique promulgou uma lei aprovada no Parlamento, que permitia aos barões nomearem seus representantes oficiais. Esses representantes tinham como obrigação elaborar um relatório das atividades desempenhadas. Esse relatório pode ser considerado um dos primeiros relatórios de auditoria. Já no século XIV, surgiram os primeiros órgãos de controle governamental, em 1318, na França, e em 1314, na Inglaterra. Um dos principais registros é do século XVI e VI a.C. na Índia, onde o Código de Manu fazia referência à organização administrativa do Estado, principalmente no que se relacionava às finanças públicas, podendo ser considerado como um dos primeiros vislumbres da auditoria pública. No entanto podemos considerar a Inglaterra, que também foi a precursora da Revolução Industrial e do capitalismo, como o berço da auditoria governamental, responsável pelo desenvolvimento da fiscalização das receitas públicas. Figura 8.1: A Revolução Industrial pode ser considerada o berço da auditoria governamental Fonte: Plataforma Deduca (2018). No Brasil, o marco da auditoria está ligado às expedições marítimas dos séculos XV e XVI, feitas, em sua maioria, por Portugal e Espanha. Ao chegarem ao Brasil, os portugueses trouxeram técnicas de auditoria já utilizadas na Europa. Porém não podemos deixar de citar que os índios, à sua maneira, já utilizavam algum tipo de controle sobre o resultado de suas operações (SÁ apud CRUZ, 2008). No entanto, a concepção de auditoria atual surgiu na década de 1940, com a vinda das multinacionais para o país. Essas empresas, oriundas da Europa e dos Estados Unidos, já utilizavam técnicas avançadas de auditoria. Nesse período, as técnicas tinham como principal foco a detecção de fraudes. 5 Como você já sabe, a auditoria consiste “[...] no exame de documentos, livros e registros, inspeções, obtenção e informações e confirmações internas e externas, obedecendo às normas apropriadas de procedimentos” (SANTOS; GOMES, 2006, p. 20). O intuito desses exames é verificar a veracidade das informações apresentadas, visando determinar se elas estão de acordo com os princípios contábeis vigentes. Na auditoria governamental, não é muito diferente, a avaliação dos controles da Administração Pública tem como finalidade proteger os ativos das empresas e promover a eficiência e a eficácia das operações do setor público, visando embasar a tomada de decisão em conformidade com a Lei de Responsabilidade Fiscal (FRANSOZI, 2004). A origem dessa lei é a Portaria nº 34, de 11 de maio de 1976, em que o Inspetor Geral de Finanças do Ministério da Fazenda – usando das atribuições que lhe conferem os artigos 2º, item IV, e 38, item XVII, do regimento aprovado pelo Decreto nº 64.136, de 25 de fevereiro de 1969, implementado pela Portaria GB-nº 69, de 28 do mesmo mês e ano, do Ministro da Fazenda, e tendo em vista o estatuído no art. 2º do Decreto nº 64.175, de 06 de março de 1969, combinado com o Decreto nº 67.090, de 20 de agosto de 1970, que estabelece normas de controle interno, fixa procedimentos de inspeção para o Serviço Público Federal – aprova o Manual de Auditoria-Procedimentos na Administração Direta, Autarquias e Fundações, cuja finalidade é estabelecer os procedimentos que deverão ser observados na atividade da inspeção realizada no âmbito da Administração Direta. O ato de prestação de contas pelo governo é chamado de accountability, assim conceituado pela Constituição Federal (BRASIL, 1988, s.p.): Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União [...] será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder. Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie, ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária. Para entender mais, veja a representação do accountability na Figura 8.2: 6 Figura 8.2: Sistema accountability Fonte: Tribunal de Contas da União (2011, p. 18). Conforme a imagem, você pode concluir que o poder legislativo é responsável pela representação dos interesses dos cidadãos que compõem a sociedade. Como exercer controle sobre as ações dos órgãos públicos? De maneira geral, não existe uma forma única de exercer controle, na verdade, existem vários mecanismos para isso, mas, na administração pública, essa área é um pouco mais específica, voltando-se para a fiscalização e para a correção das ações de todos os órgãos. De acordo com Meirelles (2003), o controle está associado à vigilância, orientação e correção que um poder, órgão ou autoridade exerce sobre a conduta funcional de outro. Conheça, no Quadro 8.1, os tipos de controle da administração pública: Quadro 8.1: Controles administrativos Controle administrativo É o chamado poder de autotutela da administração pública. É um controle de legalidade e de mérito, exercido pelos órgãos de administração de todos os poderes sobre suas próprias atividades, com vistas a mantê-las dentro da lei, segundo exigências técnicas e econômicas para atender às necessidades dos serviços. Controle legislativo Exercido pelo Poder Legislativo (Congresso Nacional, assembleias legislativas e câmaras de vereadores) sobre a administração pública nos aspectos políticos e técnicos, limitando-se às hipóteses constitucionalmente previstas, já que resulta na interferência de um poder em outro. 7 Controle judicial É, essencialmente, um controle de legalidade efetuado pelo Poder Judiciário sobre os poderes e órgãos da administração pública. Ocorre sempre a posteriori. A lei, como principal forma de indicação do interesse público, é tomada aqui no seu sentido genérico, abrangendo toda a forma de regramento, seja constitucional, legal ou regulamentar. Controle social É a participação da sociedade no acompanhamento e verificação das ações da gestão pública. Decorre de princípios de governança e accountability e é viabilizado, sobretudo, pela transparência. Os agentes de órgãos, entidades, programas e fundos públicos devem contribuir para aumentar a confiança sobre a forma como são geridos os recursos colocados à sua disposição, reduzindo a incerteza dos membros da sociedade sobre o que acontece no interior da administração pública. Fonte: Tribunal de Contas da União (2011, p. 27). A fiscalização interna é feita pelos órgãos da sua própria estrutura e a fiscalização externa é feita pelo Poder Legislativo, com o auxílio do Tribunal de Contas (TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, 2011). Segundo Fransozi (apud DIAS, 2004, s.p.), o campo de atuação da auditoria governamental são as seguintes áreas da gestão pública: • unidades da administração direta, dos poderes constituídos: Executivo, Le- gislativo e Judiciário; • entidades da administração indireta, constituídas de: Autarquias, Sociedade de Economia Mista, Empresas Públicas, Fundações instituídas e mantidaspelo poder público; • programas aprovados no orçamento público, em toda sua extensão; • recursos do tesouro nacional; • recursos objeto de captação externa, nas suas diversas formas, obedecendo a cláusulas de contrato específicas; • sistemas de controles administrativos, operacional, contábil e patrimonial de todas as unidades auditadas; • convênios, contratos e acordos ou ajustes celebrados pela instituição públi- ca, na conformidade da lei. Após essa breve introdução sobre a auditoria nos órgãos públicos, no próximo tópico, você conhecerá os fundamentos da auditoria governamental. 8 Você quer saber ainda mais sobre o funcionamento da auditoria governamental? Acesse o link a seguir: <https://www. portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/biologia/conceito-de- auditoria-governamental/43740> e leia o artigo. Saiba mais Fundamentos da auditoria governamental De acordo com o Instituto Rui Barbosa (2010, p. 13), a auditoria governamental pode ser conceituada como: [...] exame efetuado em entidades da administração direta e indireta, em funções, sub funções, programas, ações (projetos, atividades e operações especiais), áreas, processos, ciclos operacionais, serviços, sistemas e sobre a guarda e a aplicação de recursos públicos por outros responsáveis, em relação aos aspectos contábeis, orçamentários, financeiros, econômicos, patrimoniais e operacionais, assim como acerca da confiabilidade do sistema de controle interno (SCI). Como você já concluiu, a auditoria governamental é feita por profissionais de auditoria, por meio do levantamento de informações, análises com base na imparcialidade, avaliações independentes e apresentação de informações confiáveis, baseadas em evidências, de acordo com os princípios de legalidade, legitimidade, economicidade, eficiência, eficácia, efetividade, equidade, ética, transparência e proteção do meio ambiente. Além disso, ele deve observar a probidade administrativa e a responsabilidade social dos gestores da coisa pública, por se tratar da área pública (INSTITUTO RUI BARBOSA, 2010). Os auditores responsáveis pela auditoria governamental têm como dever a observação, o cumprimento e a execução da forma mais correta possível nas suas relações com todos os órgãos públicos e autoridades governamentais, além dos colegas de profissão, da sociedade e dele próprio. https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/biologia/conceito-de-auditoria-governamental/43740 https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/biologia/conceito-de-auditoria-governamental/43740 https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/biologia/conceito-de-auditoria-governamental/43740 9 O auditor governamental deve ter conhecimentos sobre Administração, Atuariais, Contabilidade, Direito, Economia, Engenharia, Estatística, Pedagogia, Saúde e Sociologia, bem como conhecimentos sobre a auditoria de forma geral e habilidades necessárias para o cumprimento das atividades. Outros aspectos que devem ser observados pelo auditor governamental são as relações humanas e a comunicação. Nesse sentido, a [...] cooperação recíproca e as habilidades e as atitudes apropriadas no trato com as pessoas e em se comunicar de maneira eficaz constituem atributos essenciais do profissional de auditoria governamental. A confiança e o respeito público que suscita um profissional de auditoria governamental são consequências, basicamente, da soma dos resultados obtidos pela conduta de todos os profissionais de auditoria anteriores e atuais. Por conseguinte, tanto para os profissionais de auditoria governamental, quanto para o público em geral, é importante que esse trate seus colegas de profissão de forma polida e equilibrada. (INSTITUTO RUI BARBOSA, 2010, p. 45). O funcionamento da auditoria governamental envolve: metodologia, escopo, planejamento, execução, supervisão e revisão, controle de qualidade, comunicação de resultados/relatório e monitoramento das recomendações. Em cada um desses estágios, o auditor precisa atender a responsabilidades específicas dispostas na lei. Na área pública, é a NGA 400 que trata dos trabalhos de auditoria governamental. Ela estabelece as formas de realizar os procedimentos de auditoria, além de traçar as diretrizes quanto à metodologia e à abrangência da auditoria, tratando do nível de controle de qualidade das atividades e do passo a passo para a elaboração dos relatórios (INSTITUTO RUI BARBOSA, 2010). Antes de iniciar o planejamento propriamente dito, é preciso estar atento à metodologia e ao escopo do trabalho. A metodologia consiste no estabelecimento do passo a passo da auditoria governamental. Além de determinar que todos os princípios da auditoria sejam seguidos, ela especifica outros elementos obrigatórios, expressos. Conheça esses elementos no Quadro 8.2: Quadro 8.2: Elementos metodologia Critério Consiste na situação ideal ou esperada, conforme normas legais e regulamentares aplicáveis e boas práticas ou planos da Administração, constituindo-se em padrões normativos ou operacionais, usados para determinar se o ente auditado atende aos objetivos fixados 10 Condição Condição é a situação encontrada pelo profissional de auditoria governamental e documentada, constituindo-se no fato ocorrido ou na própria existência do achado. Os achados ocorrem quando a condição verificada não se encontra aderente ao critério preestabelecido. Causa Consiste nas razões e nos motivos que levaram ao descumprimento da norma legal ou à ocorrência da condição de desempenho, representando a origem da divergência entre a condição e o critério. A identificação das causas com precisão permite a elaboração de recomendações adequadas e construtivas. Efeito Os efeitos são as reais consequências da diferença entre o critério preestabelecido e a condição constatada pelo profissional de auditoria governamental, representados por fatos que evidenciam os erros ou prejuízos identificados e expressos, sempre que possível, em unidades monetárias ou em outras unidades de medida que demonstrem a necessidade de ações corretivas. Opinião do auditado O profissional de auditoria governamental deve considerar, também, na análise das informações obtidas, a opinião do auditado acerca dos achados constatados e das recomendações propostas pela auditoria, para, então, proceder à conclusão sobre o assunto. A prática de discussão dos achados, durante a auditoria, proporcionará revelação dos pontos de vista e opiniões do auditado, para confronto pela equipe de auditoria, do qual resultará a conclusão. Conclusão Corresponde ao desfecho do relatório, quando os profissionais de auditoria governamental emitirão suas opiniões finais, de forma resumida, sobre o objeto auditado, com base no conteúdo exposto ao longo do relatório. Recomendação Sugestão proposta pelo profissional de auditoria governamental para a regularização da situação encontrada, se aplicável. Fonte: Instituto Rui Barbosa (2010, p. 50-51). A metodologia deve ainda sistematizar as informações contidas no relatório, além disso, os auditores governamentais devem estar disponíveis para esclarecer informações acerca da metodologia para gestores e demais colaboradores que tenham dúvidas. O escopo é outro estágio importante da auditoria governamental. Nele, são definidas a natureza e a extensão dos procedimentos de auditoria que fazem parte da sua execução. Por se tratar de órgãos públicos, deve-se levar em consideração as normas constitucionais, legais e regimentais que determinarão a direção geral quanto à finalidade desses trabalhos. 11 No planejamento de auditoria governamental, ocorre a determinação da estratégia e da programação que serão seguidas pela equipe de auditoria, deliberando a natureza, a oportunidade e a extensão dos exames, os prazos, as equipes de profissionais e outros recursos necessários para que o trabalho seja feito da melhor forma possível, prezando pela qualidade e pela realização no menor tempo e com o menor custo possível(INSTITUTO RUI BARBOSA, 2010). O planejamento é, sem dúvida, uma das principais etapas da auditoria. Ele irá definir como serão os próximos estágios, dessa forma, se for feito de maneira incorreta, existe grande possibilidade de que os próximos estágios reflitam esse erro. O correto planejamento pode ser a garantia de uma execução de qualidade e de menor custos e tempo. A execução é a fase de coleta e exame das informações que serão evidência, com o intuito de embasar os comentários e opiniões. Nesse estágio, são examinados os documentos, bem como analisados os sistemas orçamentários, financeiros, patrimoniais e operacionais, para determinar se são confiáveis e se estão de acordo com os princípios seguidos pela auditoria e com o desempenho de gestão e os resultados das políticas, programas e projetos públicos auferidos (INSTITUTO RUI BARBOSA, 2010). Na próxima etapa, ocorrem a supervisão e a revisão do trabalho. Ela funciona da seguinte maneira: na supervisão, os profissionais de auditoria com mais experiência orientam os profissionais com menos experiência, visando garantir mais qualidade ao processo. A revisão envolve o exame contínuo das atividades que estão sendo realizadas, para evitar a ocorrência de problemas ou, caso ocorram, que eles sejam rapidamente resolvidos. No controle de qualidade, são definidos as metas e os objetivos a serem alcançados. Nesse estágio, é estabelecido, de forma detalhada, o que deve ser feito para que as normas referentes à auditoria governamental sejam cumpridas. Para que o controle de qualidade seja mais simples, é bom que exista algum tipo de cartilha com os padrões de qualidade exigidos (INSTITUTO RUI BARBOSA, 2010). Após a elaboração do relatório, que tem características muito semelhantes ao das empresas que geram lucros, mas prezando pelas normas específicas do setor público, é preciso que ele seja divulgado. Quando concluídos, os trabalhos de auditoria devem ser comunicados e divulgados de modo formal a seus usuários, por meio de um relatório de auditoria governamental ou, simplesmente, relatório de auditoria (INSTITUTO RUI BARBOSA, 2010). 12 Por fim, é preciso que os gestores estejam dispostos a ouvir as recomendações destacadas pelos auditores, com a finalidade de eliminar as deficiências apontadas no relatório. No próximo tópico, você conhecerá um pouco mais sobre o funcionamento da auditoria do Tribunal de Contas da União e da Controladoria Geral da União. Você já parou para pensar que a sociedade também exerce uma espécie de controle semelhante ao da auditoria? Reflita Tribunal de Contas da União e Controladoria Geral da União Como você já sabe, o controle externo é exercido pelo Tribunal de Contas da União, com a finalidade de auxiliar o Congresso Nacional. A Controladoria Geral da União é o órgão central do sistema de controle interno do Poder Executivo (TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, 2011). Nos tópicos a seguir, você saberá qual o papel de cada um desses órgãos. Classificação adotada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) Segundo as Normas de Auditoria do Tribunal de Contas da União (BRASIL, 2010, p. 14), as auditorias do Tribunal classificam-se, quanto à natureza, em: • Auditorias de regularidade: objetivam examinar a legalidade e a legitimidade dos atos de gestão dos responsáveis sujeitos à jurisdição do Tribunal, quanto aos aspectos contábil, financeiro, orçamentário e patrimonial. Compõem as auditorias de regularidade as auditorias de conformidade e as auditorias contábeis. • Auditorias operacionais: objetivam examinar a economicidade, eficiência, eficácia e efetividade de organizações, programa e 13 atividades governamentais, com a finalidade de avaliar o seu desempenho e de promover o aperfeiçoamento da gestão pública. Ainda segundo as Normas de Auditoria de Contas da União, a classificação de uma auditoria como operacional ou de regularidade será determinada pelo objetivo da auditoria, já que ambos os tipos examinam os mesmos documentos (TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, 2011). Em relação à forma de execução, as auditorias do TCU são realizadas apenas pelos auditores do próprio TCU, no entanto essas equipes podem contar com o auxílio de auditores externos. A Instrução Normativa 49/2005, em seu artigo 4º, trata desse assunto: I - serão credenciados por portaria de fiscalização; II - estarão sujeitos aos mesmos deveres impostos aos servidores do Tribunal de Contas da União quando na realização de trabalhos de fiscalização; e III - reportar-se-ão ao coordenador da equipe de fiscalização. (BRASIL, 2005, s.p.). Mas a auditoria feita pelas suas próprias equipes não é a única forma de auditoria adotada pelo TCU, que também adota uma espécie de fiscalização, denominada Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC), com a participação de diversas unidades técnicas, para avaliar, de modo organizado, as áreas que são objetos do controle, em qualquer âmbito, para propor melhorias na gestão pública e no próprio sistema de controle utilizado (TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, 2011). Figura 8.3: O Tribunal de Contas da União tem o objetivo de auxilia o Congresso Nacional no controle externo Fonte: Plataforma Deduca (2018). 14 Uma Fiscalização de Orientação Centralizada pode ser conceituada como a fiscalização, ou um conjunto de fiscalizações, que envolve uma preparação centralizada, execução descentralizada e consolidação dos resultados. Saiba mais Classificação adotada pelo Tribunal de Contas da União O Manual do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal, aprovado pela IN SFC Nº 01/2001, classifica as atividades do sistema de controle do Poder Executivo da seguinte maneira: • Auditoria: conforme a Instrução Normativa nº 01 (BRASIL, 2001, p. 31), a auditoria pode ser conceituada como o “[...] conjunto de técnicas que visa avaliar a gestão pública, pelos processos e resultados gerenciais, e a aplicação de recursos públicos por entidades de direito público e privado”. Tal análise visa relacionar a situação encontrada em confronto com um critério técnico específico, que esteja relacionado à área operacional ou legal, com a finalidade de garantir os resultados almejados. • Fiscalização: conforme a Instrução Normativa nº 01 (BRASIL, 2001, p. 36), a fiscalização pode ser conceituada como uma “[...] técnica de controle que visa comprovar se o objeto dos programas de governo existe, corresponde às especificações estabelecidas, atende às necessidades para as quais foi definido”. Além disso, a fiscalização busca analisar se existe coerência em relação ao que está sendo feito e às leis vigentes, e se a estrutura do controle administrativo é eficiente. Já em relação aos tipos de auditoria, o manual do SCI as classifica da seguinte maneira: • Auditoria de avaliação da gestão • Auditoria de acompanhamento da gestão • Auditoria contábil 15 • Auditoria operacional • Auditoria especial • Auditoria de tomada de contas especial • Análise de processos de pessoal • Avaliação das unidades de auditoria interna Quanto às formas de execução, a CGU adota a seguinte tipologia, segundo a Instrução Normativa nº 01 (BRASIL, 2001, p. 32): Direta: são as atividades executadas diretamente por servidores em exercício nos órgãos e unidades do Sistema de Controle Interno (SCI) do Poder Executivo Federal, sendo subdividas em: • Centralizada: executada, exclusivamente, por servidores em exercício nos órgãos central ou setoriais do SCI do Poder Executivo Federal; • Descentralizada: executada, exclusivamente, por servidores em exercício nas unidades regionais ou setoriais do SCI do Poder Executivo Federal; • Integrada: executada, conjuntamente, por servidores em exercício nos órgãos central, setoriais, unidades regionais e/ou setoriais do SCI do Poder Executivo Federal. Indireta: são as atividades executadas com a participação de servidores não lotados nos órgãos e unidades doSCI do Poder Executivo Federal, que desempenham atividades de auditoria em quaisquer instituições da Administração Pública Federal ou entidade privada: • Compartilhada: coordenada pelo SCI do Poder Executivo Federal com o auxílio de órgãos/instituições públicas ou privadas; • Terceirizada: executada por instituições privadas, ou seja, pelas denominadas empresas de auditoria externa. • Simplificada: realizada por servidores em exercício nos órgãos central, setoriais, unidades regionais ou setoriais do SCI do Poder Executivo Federal, sobre informações obtidas por meio de exame de processos e por meio eletrônico, específico das unidades ou entidades federais, cujo custo-benefício não justifica o deslocamento de uma equipe para o órgão. Essa forma de execução de auditoria pressupõe a utilização de indicadores de desempenho que fundamentam a opinião do agente executor das ações de controle. 16 Referências BRASIL. Ministério da Fazenda. Secretaria Federal de Controle Interno. Manual do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal. Anexo à Instrução Normativa nº 01, de 6 de abril de 2001. Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/ sobre/legislacao/arquivos/instrucoes-normativas/in01_06abr2001.pdf/view>. Acesso em: 27 jan. 2018. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Instrução Normativa 49/2005. Dispõe sobre as fiscalizações realizadas pelo TCU, Brasília, DF, 13 de dezembro de 2005. Disponível em: <www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/IN/20090206/ INT2005-049.doc>. Acesso em: 27 jan. 2018. _______. ______. Normas de auditoria do Tribunal de Contas da União. Brasília, 2010. ______. ______. Auditoria Governamental. Instituto Serzedello, 2011. CREPALDI, S. A. Auditoria contábil: teoria e prática. 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