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Aula 2 - Pessoa Natural Personalidade e capacidade

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Aula 2 - Pessoa Natural. Personalidade 
e capacidade. 
NOSSOS OBJETIVOS 
• Mapear os elementos conceituais do Direito Civil e a dinâmica das relações 
jurídicas,verificando suas consequências para ter uma compreensão ampla de sua influência 
sobre os atos da vida civil; 
• Orientar soluções, utilizando as regras jurídicas sobre personalidade, bem como as espécies 
de pessoas previstas no Código Civil Brasileiro, para atuação eficaz no interesse dos cidadãos 
e empreendedores. 
Pessoa Natural 
Como se sabe, a todo direito deve corresponder um sujeito, uma pessoa, que detém a sua 
titularidade. Por isso, prescreve o art. 1.º do Código Civil em vigor que “toda pessoa é capaz de 
direitos e deveres na ordem civil”. 
Ao contrário do Código Civil anterior, o atual prefere utilizar a expressão pessoa em vez de homem, 
constante do art. 2.º do Código de 1916, e tida como discriminatória, inclusive pelo texto da 
Constituição de 1988, que comparou homens e mulheres (art. 5.º, inc. I). Esse mesmo dispositivo da 
atual codificação traz a ideia de pessoa inserida no meio social, com a sua dignidade valorizada, à luz 
do que consta no Texto Maior, particularmente no seu art. 1.º, inc. III, um dos ditames do Direito 
Civil Constitucional. 
Por outra via, pelo que prescreve o aludido comando legal, não se pode mais afirmar que a pessoa é 
sujeito de direitos e obrigações, mas de direitos e deveres. A expressão destacada é melhor 
tecnicamente, pois existem deveres que não são obrigacionais, no sentido patrimonial, caso dos 
deveres do casamento (art. 1.566 do CC). No volume específico que trata do Direito das Obrigações, 
é comentado esse tratamento legal, particularmente quando do estudo dos conceitos de obrigação, 
de dever, de responsabilidade, de ônus e de estado de sujeição (TARTUCE, Flávio. Direito civi l ..., 
2019, v. 2). 
Personalidade e Capacidade 
Personalidade Jurídica 
Personalidade civil ou Jurídica é a capacidade que as pessoas têm de serem titulares de direitos e 
obrigações. Personalidade não é um atributo natural, isto é, não está necessariamente vinculado ao 
ser humano. Se assim fosse, a pessoa jurídica não teria personalidade.Por isso se diz que a 
personalidade é um atributo jurídico. O início da personalidade civil ocorre a partir do momento em 
que a pessoa nasce com vida, encerrando-se quando de sua morte.Por outro lado, a personalidade 
é, também, um valor ético emanado do princípio da dignidade da pessoa humana e da consideração 
pelo direito civil do ser humano em sua complexidade. (Rafael Garcia Rodrigues). É objeto de tutela 
privilegiada pela ordem constitucional. O art. 1º, CC, porém, está relacionado à personalidade 
enquanto aptidão genérica para adquirir direitos e contrair deveres na ordem civil. 
Capacidade 
Capacidade de direito: confunde-se com a própria personalidade jurídica. É a ela que se refere o 
caput do art. 1. 
LEI N o 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002 
PARTE GERAL - LIVRO I - DAS PESSOAS - TÍTULO I - DAS PESSOAS NATURAIS 
CAPÍTULO I - Da Personalidade e da Capacidade 
• Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 
Capacidade de fato: medida da personalidade. Aptidão para exercer pessoalmente os direitos e 
deveres adquiridos/contraídos em decorrência da personalidade. 
Início da personalidade civil: 
Ocorre a partir do momento em que a pessoa nasce com vida. 
 
As principais teorias sobre o início da personalidade são: 
a) Teoria natalista ou do nascimento: a personalidade inicia com o nascimento com vida, 
independente do critério de viabilidade desta vida. 
b) Teoria concepcionista: a personalidade inicia desde a concepção. 
c) Teoria da personalidade condicional: a personalidade civil do nascituro é condicional, dependendo 
do evento do nascimento. Tal condição, para os adeptos desta teoria, é suspensiva e enquanto não 
ocorrer o nascimento com vida existe apenas expectativa de direito. Maria Helena Diniz defende que 
enquanto não nascer com vida há apenas personalidade formal (relativa aos direitos de 
personalidade) e, uma vez implementada a condição suspensiva ocorre a aquisição da personalidade 
material. 
STJ afirmou que a teoria natalista foi superada em razão da evolução do 
reconhecimento dos direitos do nascituro, cliquem e leiam o julgado, abaixo: 
DIREITO CIVIL. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. ABORTO. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO 
OBRIGATÓRIO. DPVAT. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. ENQUADRAMENTO JURÍDICO DO NASCITURO. 
ART. 2º DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. EXEGESE SISTEMÁTICA. ORDENAMENTO JURÍDICO QUE 
ACENTUA A CONDIÇÃO DE PESSOA DO NASCITURO. VIDA INTRAUTERINA. PERECIMENTO. 
INDENIZAÇÃO DEVIDA. ART. 3º, INCISO I, DA LEI N. 6.194/1974. INCIDÊNCIA. 
CLIQUE AQUI e veja o documentos completo!1 
 
1https://www.conjur.com.br/dl/direi to-nascituro-stj.pdf 
https://www.conjur.com.br/dl/direito-nascituro-stj.pdf
Tutela jurídica do nascituro 
 
Em decorrência da parte final do art. 2o, CC, o nascituro faz jus, dentre outros, aos seguintes 
direitos: 
 
a)Titularidade de direitos personalíssimos (vida, proteção pré-natal etc.). 
Enunciado n. 1. A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne 
aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura. 
Enunciado n. 2: Sem prejuízo dos direitos da personalidade nele assegurados, o art. 2º do Código 
Civil não é sede adequada para questões emergentes da reprogenética humana, que deve ser objeto 
de um estatuto próprio. 
b) Receber doação; 
c) Direitos sucessórios (herança e/ou legado); 
d) Direito a um curador do ventre; 
e) Alimentos para garantir uma gravidez saudável (Lei n. 11.804 de 20082). 
 
Consulta Enunciados: https://www.cjf.jus.br/enunciados/ 
 
2http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/L11804.htm#:~:text=Disciplina o direito a 
alimentos,Art. 
https://www.cjf.jus.br/enunciados/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/L11804.htm#:~:text=Disciplina o direito a alimentos,Art.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/L11804.htm#:~:text=Disciplina o direito a alimentos,Art.
 
Capacidade de fato e de direito 
Capacidade de direito: artigo 1º do CC. 
A capacidade de fato pode ser entendida como a medida da personalidade, ou seja, é a possibilidade 
de pessoalmente serem exercidos direitos e contraídas obrigações. Nesse aspecto, a capacidade 
pode ser plena (capacidade de direito + capacidade de fato) ou limitada - temos aí o fenômeno da 
incapacidade. 
O incapaz, portanto, é aquele que sofre restrições ao exercício pessoal de direitos e obrigações. A 
incapacidade pode ser absoluta ou relativa. 
OS ABSOLUTAMENTE INCAPAZES somente podem praticar atos da vida civil 
mediante representação, sob pena de nulidade do ato. 
Ver alterações da Lei n. 13.146, de 06/07/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência)3, que em seu 
art. 114, alterou o art. 3º, CC, de modo a considerar absolutamente incapaz apenas o menor de 16 
anos (há revogação expressa dos incisos do art. 3º, CC, no art. 123, II, do Estatuto da Pessoa com 
Deficiência). 
 
 Assim, as pessoas que por enfermidade ou deficiência mental que não tiverem necessário 
discernimento para a prática dos atos da vida civil (antigo inciso II do art. 3o, CC) e os que, mesmo 
por causa transitória não puderem exprimir a sua vontade (antigo inciso III do art. 3o, CC) não são 
mais considerados absolutamente incapazes. 
 
Enunciado n. 138, III Jornada de Direito Civil: A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese 
do inc. I do art. 3º é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles 
concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto. 
OS RELATIVAMENTE INCAPAZES 
Podem praticar atos da vida civil desde que assistidos, sob pena de anulabilidade do ato. O art. 4o, 
do CC, com a nova redaçãoconferida pela Lei n. 13.146 4(Estatuto da Pessoa com Deficiência), 
 
3http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm#:~:text=LEI Nº 13.146%2C DE 6 
DE JULHO DE 2015.&text=Institui a Lei Brasileira de,Estatuto da Pessoa com Defici ência). 
4http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm#:~:text=LEI Nº 13.146%2C DE 6 DE JULHO DE 2015.&text=Institui a Lei Brasileira de,Estatuto da Pessoa com Deficiência).
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm#:~:text=LEI Nº 13.146%2C DE 6 DE JULHO DE 2015.&text=Institui a Lei Brasileira de,Estatuto da Pessoa com Deficiência).
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm
elenca os relativamente incapazes: os maiores de 16 e menores de 18 anos; os ébrios habituais e os 
viciados em tóxico; aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir a sua 
vontade e os pródigos. 
Suprimento e cessação da incapacidade civil. 
Regra geral, a incapacidade cessa quando a pessoa atinge os 18 anos de idade, momento em que 
atinge a capacidade civil plena. No entanto, é possível que o menor tenha a aquisição de sua 
capacidade plena antecipada de virtude das hipóteses elencadas nos incisos do parágrafo único do 
art. 5°. É o que se chama de emancipação. 
 
Enunciado n. 3, I, Jornada de Direito Civil: A redução do limite etário para a definição da capacidade 
civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica situação 
de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de proteção 
previstas em legislação especial. 
 
Enunciado n. 397, da V Jornada de Direito Civil: a emancipação por concessão dos pais ou por 
sentença do juiz está sujeita à desconstituição por ato de vontade. 
 
Enunciado n. 530, VI Jornada de Direito Civil: a emancipação, por si, não elide a incidência do 
Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 
V. art. 140 do CTB5 c/c art. 228 da CF/886 e 27 do CP7. 
EMANCIPAÇÃO 
ESPÉCIES DE EMANCIPAÇÃO: 
a)Voluntária (art. 5º, parágrafo único, I, primeira parte): concessão dos pais, em comum acordo. É 
indispensável o consentimento harmônico dos pais, pois ambos são titulares do poder familiar (art. 
1.631, CC/2002). 
 
b) Judicial: é concedida pelo juiz em dois casos: 
- Na discordância entre os pais; 
- Quando o menor encontra-se sob tutela (art. 5°, parágrafo único, I, segunda parte) . 
 
c) Legal: independe de concessão dos pais ou do juiz, pois opera ope legis nos seguintes casos: 
-Casamento (art. 5°, parágrafo único, II): 
 
5http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9503.htm#art341 
6http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 
7http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9503.htm#art341
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm
V. art. 1.517, CC/2002 - idade núbil 
V. art. 1550, § 2º - Lei n. 13.146 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) 
- Exercício de emprego público efetivo (art. 5°, parágrafo único, III). A lei usou o termo emprego 
público para referir-se tanto a cargo, quanto emprego. Exige-se que seja efetivo, excluindo, dessa 
forma, os temporários. 
 - Colação de grau em curso de ensino superior (art. 5°, parágrafo único, IV). 
 - Empresa ou existência de relação de emprego, desde que o menor, em decorrência disso, possa 
prover seu próprio sustento (art. 5°, parágrafo único, V). 
Discute-se sobre a possibilidade de o menor empresário estar sujeito à falência, pois a emancipação 
não importa em antecipação da imputabilidade penal. Por isso, há quem entenda que o menor 
empresário submete-se às regras da insolvência civil, e não da falência. 
 
1 - Leia mais sobre as espécies de emancipação.8 
Família empresta R$ 300 mil, e garota de 17 anos cria cosméticos veganos 
Foi num tradicional almoço de domingo na casa dos avós em São Paulo, em 2016, que Isabelle 
Gantus, então com 17 anos, foi desafiada pelo avô Antônio, 74, a criar sua própria marca de 
cosméticos que não fizesse testes em animais. No mesmo ano, ela abriu a empresa Ametsa, com 
R$ 300 mil emprestados pelos pais e pelo avô... - CLIQUE AQUI E veja mais9 
 
8https://aldeiatabelionato.com.br/noticias/emancipacao 
9https://economia.uol.com.br/empreendedorismo/noticias/redacao/2018/07/17/adolescente-cria-marca-
cosmetico-ametsa-sp.htm 
https://aldeiatabelionato.com.br/noticias/emancipacao
https://economia.uol.com.br/empreendedorismo/noticias/redacao/2018/07/17/adolescente-cria-marca-cosmetico-ametsa-sp.htm
https://economia.uol.com.br/empreendedorismo/noticias/redacao/2018/07/17/adolescente-cria-marca-cosmetico-ametsa-sp.htm
Leitura Específica 
• STJ, AgRg no AgRg no AREsp 150.297/DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terce ira Turma,j. 
19.02.2013, DJe 07.05.201310 
• STJ, REsp 1.487.089/SP, Rel. Min. Marcos Buzzi. 4.ª Turma, j. 23.06.2015.11 
• STOLZE, Pablo. O Estatuto da Pessoa com Deficiência e o sistema jurídicobrasileiro de 
incapacidade civil (Editorial 41). Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 20, n.4.411, 30 jul. 
2015.12 
• Decreto n. 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os 
Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, 
em 30 de março de 2007: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/decreto/d6949.htm 
 
https://youtu.be/GnpBioPTIrU 
Abraços! 
Aula 2 de Direito Civil 1 - Parte Geral. Conteúdo extraído do material didático da Universidade 
Estácio de Sá. 
• Organização Profª. Drª. Rossana Fisciletti13 
 
10https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23528142/agravo-regimental-no-agravo-regimental-no-agravo-
em-recurso-especial-agrg-no-agrg-no-aresp-150297-df-2012-0041902-2-stj 
11http://www.stj.jus.br/static_files/STJ/Midias/arquivos/Noticias/REsp 1487089.pdf 
12https://jus.com.br/artigos/41381/o-estatuto-da-pessoa-com-deficiencia-e-o-sistema-juridico-brasileiro-de-
incapacidade-civil 
13http://lattes.cnpq.br/2512073224085058 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm
https://youtu.be/GnpBioPTIrU
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23528142/agravo-regimental-no-agravo-regimental-no-agravo-em-recurso-especial-agrg-no-agrg-no-aresp-150297-df-2012-0041902-2-stj
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23528142/agravo-regimental-no-agravo-regimental-no-agravo-em-recurso-especial-agrg-no-agrg-no-aresp-150297-df-2012-0041902-2-stj
http://www.stj.jus.br/static_files/STJ/Midias/arquivos/Noticias/REsp%201487089.pdf
https://jus.com.br/artigos/41381/o-estatuto-da-pessoa-com-deficiencia-e-o-sistema-juridico-brasileiro-de-incapacidade-civil
https://jus.com.br/artigos/41381/o-estatuto-da-pessoa-com-deficiencia-e-o-sistema-juridico-brasileiro-de-incapacidade-civil
http://lattes.cnpq.br/2512073224085058
https://youtu.be/GnpBioPTIrU

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