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Regular Online CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Direito Penal Geral Professor: Gustavo Junqueira Aulas: 23 e 24 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO TEORIA DO CRIME 1. Culpabilidade 1.1. Evolução da culpabilidade 1.2. Elementos da culpabilidade vs. Dirimentes/excludentes da culpabilidade 1.3. Inimputabilidade 1.4. Erro de proibição TEORIA DO CRIME 1. Culpabilidade: significa censurabilidade. É o juízo de reprovação sobre aquele que pode e deve agir de acordo com o Direito. A grande base filosófica da culpabilidade, desde a escola clássica até o finalismo, é o livre arbítrio. Co-culpabilidade: ensina Zafaroni que, em determinadas circunstâncias, fatores sociais conduzem ou empurram o autor para a prática criminosa. Como a escolha pela ação criminosa não foi totalmente livre, pois o sujeito foi empurrado por tais fatores sociais, o juízo de reprovação deve ser amenizado. A carga de censura será repartida entre autor e a sociedade que produziu tais fatores criminógenos. Co-culpabilidade às avessas: possui duas acepções: 1. Na criminologia crítica é a percepção que nos países periféricos os mais vulneráveis não tem a pena atenuada pela co-culpabilidade, mas sim agravada pela miséria e outros fatores de vulnerabilidade; 2. O autor que teve todas a condições sociais para a vida no campo da licitude, deve ser especialmente reprovado se escolhe a prática do ilícito; 1.1. Evolução da culpabilidade: i. No causalismo de Liszt e Beling, a culpabilidade é “psicológica”, e tem como elementos o dolo ou a culpa. É chamada de psicológica porque representa a face subjetiva do indivíduo; ii. Num segundo momento (neokantismo), fala-se da culpabilidade neokantista de Mezger, que é “psicológico-normativa”. Essa culpabilidade tem como elementos a imputabilidade, dolo ou culpa, e exigibilidade de conduta diversa. O dolo ou a culpa possuem caráter psicológico, e a imputabilidade e a exigibilidade de conduta diversa representam uma valoração normativa (juízo de valor). Ou seja, possui uma face psicológica e outra normativa; iii. Após, no finalismo de Welzel (adotado/majoritário), fala-se em culpabilidade normativa ou normativa pura. Formada pela imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa, e a potencial consciência da ilicitude; Página 5 de 5 iv. No funcionalismo de Roxin, a culpabilidade é convertida em responsabilidade. O crime não seria o fato típico, antijurídico e culpável, e sim o fato típico, antijurídico e responsável. Essa responsabilidade teria duas estruturas: de um lado a culpabilidade e de outro a necessidade da pena. Para Roxin não basta que o sujeito seja culpável, a pena deve ser necessária. Por outro lado, não basta que a pena seja necessária. O autor deve ser culpável. Culpabilidade e necessidade da pena em Roxin limitam-se reciprocamente. A culpabilidade teria como estrutura a imputabilidade e a potencial consciência da ilicitude. A necessidade da pena orienta a leitura da exigibilidade da conduta diversa. v. No funcionalismo de Jakobs, a culpabilidade se resume a necessidade da pena. A individualidade é afastada. Não se olha pro individuo e sim pra necessidade social de pena; 1.2. Elementos da culpabilidade vs. Dirimentes/excludentes da culpabilidade: ELEMENTOS EXCLUDENTES/DIRIMENTES Imputabilidade Inimputabilidade Potencial consciência da ilicitude Erro de proibição inevitável Exigibilidade de conduta diversa Inexigibilidade de conduta diversa 1.3. Inimputabilidade: são quatro as causas da inimputabilidade: a. Menor de 18 anos: responde de acordo com o ECA. Foi adotado no art. 27/CP um critério biológico- etário; b. Silvícola não adaptado: indígena não aculturado responde de acordo com o Estatuto do Índio. Para parte minoritária da Doutrina, a questão do indígena não deveria ser tratada da imputabilidade, mas sim no erro de proibição; c. Embriagues acidental completa: d. Causa biológica com consequência psicológica: de acordo com o art. 26/CP é inimputável aquele que, em razão de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (causa biológica), não possui condições de compreender o caráter ilícito do fato ou portar-se de acordo com tal entendimento (consequência psicológica). Possível concluir que foi adotado como regra pelo CP no art. 26 um critério biopsicológico. O inimputável do art. 26/CP que pratica fato típico e antijurídico receberá medida de segurança em uma sentença de absolvição imprópria. Página 5 de 5 Semi-imputabilidade: o semi-imputável tem a mesma causa biológica, ou seja, doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado. No entanto, a consequência psicológica tem menor intensidade, pois perde apenas parcial capacidade de compreender o caráter ilícito do fato e portar-se de acordo com tal entendimento. Consequência: Nos termos do art. 26, p. único do CP, o semi-imputável que pratica fato típico e antijurídico será condenado e receberá pena reduzida ou medida de segurança imposta em sentença condenatória; Observação No Brasil não são aceitos intervalos lúcidos. Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Sobre a emoção e a paixão: nos termos no art. 28, I, CP, a emoção não afetam e não excluem a imputabilidade. Paixão é extrema e duradoura, enquanto a emoção é o sentimento e passageiro; Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - a emoção ou a paixão; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Sobre embriagues: é uma intoxicação de caráter agudo gerada pela ingestão de álcool ou substancia de efeitos análogos capaz de gerar uma ligeira euforia até o estado comatoso. Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação Página 5 de 5 ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Graus de embriagues: i. Incompleta: é a euforia, a excitação, a perda de freios inibitórios; ii. Completa: perda da liberdade de autodeterminação (perda do autocontrole); iii. Comatosa: perda de controle das funções fisiológicas; Espécies de embriagues: i. Preordenada: o sujeito se embriaga para praticar um crime (“tomar coragem”). É circunstância agravante – art. 61, II, L, CP; Art. 61 - São circunstâncias que sempreagravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) II - ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) l) em estado de embriaguez preordenada. ii. Voluntária/culposa: a embriagues voluntária é intencional (o sujeito bebe porque quer), não há nada relacionado a um crime. A embriagues culposa não é intencional (sem querer, sem se dar conta). Nos termos do art. 28, II, CP, a embriagues voluntária ou culposa não exclui a imputabilidade; Crise: se a base da culpabilidade é a liberdade, e se o álcool vicia a liberdade, toda embriagues, mesmo a voluntária ou culposa, resultaria na exclusão da culpabilidade. No entanto, tal solução seria inadmissível do ponto de vista político-criminal, pois estariam abertas as portas da impunidade. Actio libera in causa: por essa teoria, ainda que o autor não seja livre no momento do ato lesivo, era livre na origem. (exemplo: era livre ao beber) era livre na causa. E será essa liberdade o objeto do juízo de censurabilidade. Problema: o dolo e a culpa. Na doutrina brasileira podem ser encontradas três respostas: i. Para Nucci e Regis Prado é dispensada a prova do dolo e da culpa e a responsabilidade é objetiva. Os autores criticam a solução mas admitem que é a que prevalece nos tribunais; ii. Para Nelson Hungria sempre resta um resíduo de dolo ou culpa por mais embriagado que esteja o autor; Página 5 de 5 iii. Para Narcélio de Queiroz deve ser investigado a existência de dolo ou culpa no momento da embriagues, que é o momento objeto de censura. Atenção: Prevalece o repúdio a responsabilidade objetiva, e assim é exigida a prova de dolo ou culpa em algum dos momentos; iii. Embriagues acidental: é aquela que vem de caso fortuito ou força maior. Se completa, afasta a imputabilidade (art. 28, §1º, CP), mas se incompleta (§2º) haverá diminuição da pena; Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) iv. Embriagues patológica: é o alcoolismo (doença mental). O tratamento mental obedece o art. 26/CP; 1.4. Erro de proibição: equivocada compreensão sobre o que é proibido ou permitido; a. Invencível/inevitável: é aquele em que o autor não sabe e nas suas condições de vida não poderia saber da proibição. Exclui/dirime a culpabilidade; b. Vencível/evitável: o sujeito não sabe, mas nas suas condições de vida poderia saber da proibição. Diminui-se a pena de 1/6 a 1/3;
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