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Conceito: reprovação pessoal pela realização de uma ação ou omissão típica e ilícita em determinadas circunstâncias em que se podia atuar conforme exigências do ordenamento jurídico. Assim, não há culpabilidade sem tipicidade e ilicitude, embora possa existir ação típica e ilícita inculpável (o crime existe, mas o agente não é culpado; a pena é ligada ao agente pelo juízo de culpabilidade). Portanto, a culpabilidade constitui o fundamento e o limite da pena (“fato típico e ilícito, praticado por agente culpável”). As causas excludentes de culpabilidade referem-se ao autor do crime (fato típico e antijurídico) – “é isento de pena” (Art. 26, caput e Art. 28, parágrafo 1º). A culpabilidade liga o agente à punibilidade (crime existe por si mesmo, mas, para que o crime seja ligado ao agente, é necessária a culpabilidade. A análise da presença da culpabilidade leva em consideração o perfil subjetivo do agente, e não a figura do homem médio. Teoria adotada: teoria finalista (primeiro é analisado se aconteceu um crime e, posteriormente, se o agente é isento de pena ou não – dolo e culpa como elementos da conduta e não da culpabilidade). Diante disso, a culpabilidade é a reprovabilidade da conduta típica e antijurídica. Existem causas supralegais de exclusão da culpabilidade (hipóteses que não constam em lei, mas verifica-se a anormalidade da circunstância, o que fez com que o agente agisse de forma diversa a que faria em uma situação normal), como é visto no caso de aborto de feto portador de doença grave ou má formação que inviabilize a vida extra-uterina, onde a mãe do bebê não possui culpabilidade, ainda que o crime tenha ocorrido. Elementos da culpabilidade: • Imputabilidade; • Possibilidade de conhecimento da ilicitude; • Exigibilidade de conduta diversa. Causas de exclusão da imputabilidade: • Erro de proibição (Art. 21); • Coação moral irresistível (Art. 22, 1ª parte); • Obediência hierárquica (Art. 22, 2ª parte); • Inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (Art. 26, caput); • Inimputabilidade por menoridade penal (Art. 27); • Inimputabilidade por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou de força maior (Art. 28, parágrafo 1º). POSSIBILIDADE DE CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE “O sujeito estava em condições de poder compreender a ilicitude de sua conduta?” A ordem jurídica não poderia subsistir sem que as leis se tornassem obrigatórias desde a sua publicação. Afirmar, portanto, não saber que matar, roubar, sonegar etc não exclui a responsabilidade pelo delito praticado. Espécies de consciência da ilicitude • Real: de acordo com o critério subjetivo (análise do indivíduo para julgar se ele tinha ou não consciência da ilicitude do fato). • Potencial (critério adotado): de acordo com um critério objetivo (investigar se o sujeito, ao praticar o crime, tinha a possibilidade de saber que fazia algo errado ou injusto, de acordo com o meio social que o cerca, mas são os aspectos externos – objetivos – que orientam o juiz na aferição da culpabilidade). Exemplo: a correção do filho com uso de violência física moderada, porém causadora de lesão corporal de natureza leve, analisada sob o prisma da potência consciência da ilicitude, poderá ofertar respostas idênticas para situações diversas. Interessará saber se o indivíduo, pelas suas condições de vida, tinha ou não como saber que aquela agressão é um fato injusto e inaceitável. Existindo a possibilidade de o indivíduo ter consciência disso, pouco importará se ele sabia que a conduta é proibida, pois ele responderá pelo crime cometido mesmo assim. A causa excludente de culpabilidade nesse caso é o erro de proibição. ERRO DE PROIBIÇÃO O agente tem perfeita noção sobre tudo o que está se passando. Seu equívoco incide sobre o que lhe é permitido fazer diante daquela situação, havendo uma errada apreciação sobre a injustiça do que faz (falsa percepção do agente acerca do caráter ilícito do fato típico por ele praticado). Assim, o sujeito conhece a existência da lei penal (presunção legal absoluta), mas não compreende adequadamente seu caráter ilícito. Exemplo: um holandês, em visita ao Brasil, fuma um cigarro de maconha, pois entendera, ao ver a foto na agência de viagens em que um brasileiro morador de cidade interiorana fumava um cigarro de palha, que a exemplo de algumas cidades de seu país era permitido o consumo de cannabis sativa. Art. 21. Erro sobre a ilicitude do fato. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. Espécies de erro (o critério utilizado para a decisão de em qual espécie a conduta recai é feita por meio do perfil subjetivo do agente, e não da figura do homem médio): • Sobre a existência de uma causa que excluiria a antijuridicidade da conduta: Não há culpabilidade quando o agente supõe, por erro inevitável, que sua conduta, ainda que típica, não é contrária à lei por estar amparada em uma causa excludente da antijuridicidade. o Exemplo: vender mercadoria do empregador para pagar salários atrasados; matar pessoa em estado terminal de doença incurável para livrá-la das dores que está sentindo, supondo ser a eutanásia permitida em nosso ordenamento. • Erro que incide sobre a norma proibitiva: o agente sabe que a lei veda, entretanto, acredita que a norma penal não incide sobre aquele comportamento, que tal, erroneamente, seria legal. o Exemplo: o agente mantém conjunção carnal "consentida" com mulher portadora de enfermidade mental moderada, ignorando, que nesse caso a lei presume a violência • Erro sobre a posição de garantidor: o agente não sabe que é considerado pela lei como garantidor da não ocorrência do resultado (não tem consciência de sua condição de garante). o Exemplo: o tutor que já considera um fardo a tutela com relação ao tutelado, presume que não deva arriscar a vida pra salvá-lo. • Erro sobre os limites objetivos e subjetivos da causa de justificação: o agente crê, equivocadamente, que está acobertado por uma excludente. o Exemplo: legítima defesa da honra. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA Expectativa social de um comportamento diferente daquele adotado pelo agente. Somente haverá exigibilidade de conduta diversa quando a coletividade podia esperar do sujeito que ele tivesse atuado de outra forma. Art. 22. Coação irresistível e obediência hierárquica. Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL Trata-se de causa excludente de culpabilidade fundada no princípio de que só podem ser punidas as condutas que poderiam ser evitadas. Esta, por sua vez, se refere apenas à coação moral e não física. Coação: emprego de força física ou grave ameaça para que alguém faça ou deixe de fazer alguma coisa. • Física (vis absoluta): emprego de força física – a conduta é excluída e o fato passa a ser atípico. • Moral (vis relativa): o irresistível (o coato não tem condições de resistir) = “Há crime, pois mesmo sendo uma grave ameaça, ainda subsiste um resquício de vontade que mantém o fato como típico. Contudo, o agente não será considerado culpado (ausência do elemento “exigibilidade de conduta diversa”). o resistível (o coato tem condições de resistir) = “há crime, pois a vontade restou intangida, e o agente é culpável, uma vez que sendo resistível a ameaça, era exigível conduta diversa.” – consequências: o coator responde com uma agravante, enquanto o coagido responde com uma atenuante. OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA“É a obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico, tornando viciada a vontade do subordinado e afastando a exigência de conduta diversa.” Requisitos: • Relação de direito público (hierarquia): o O poder hierárquico é inerente à administração pública; o Não existe em relações de Direito Privado (patrão x empregado); o Obrigatória a existência da subordinação; o Desnecessária a vinculação (juiz x policial militar no tribunal do júri). • Ordem superior de cunho ilícito: o Ilicitude da ordem: Ordem legal: “se o subordinado cumpre ordem legal, está no estrito cumprimento de dever legal. Não pratica crime, vez que está acobertado por causa de exclusão da ilicitude.” Ordem ilegal: manifestamente ilegal (o subordinado deve responder pelo crime praticado, pois tinha como conhecer sua ilegalidade) e aparentemente legal (o subordinado não podia perceber sua ilegalidade, logo, exclui-se a exigibilidade de conduta diversa, ficando isento de pena). • Ilegalidade da ordem não manifestada. Pensando no massacre do Carandiru: considerando-se que os policiais irão a júri popular e supondo- se que alguns, dentre os 113 pronunciados, sejam soldados e aleguem que tão somente cumpriram ordens superiores (ordenadas pelo Cel. Ubiratan) ao atirar nos presos, você, como jurado/a, aceitaria o argumento e considerando a existência da excludente de culpabilidade votaria pela sua absolvição? • Se a ordem não foi manifestamente ilegal (“atirem só para se defender”): sim, visto que não houve excesso (estrito cumprimento do dever legal e legítima defesa). • Se a ordem foi manifestamente ilegal (“atirem para matar”): não, visto que há o emprego de excesso. • É necessária uma análise para verificar se houve excesso: “necessário que o agente pratique o fato em estrita obediência à ordem, sendo responsabilizado por aquele que se excede na prática do ato.” Conceito de imputabilidade: capacidade mental, inerente ao ser humano de, ao tempo da ação ou da omissão, entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. “Quem carece desta capacidade, por não ter maturidade suficiente ou por sofrer de graves alterações psíquicas não pode ser declarado culpado e, por conseguinte, não pode ser responsabilizado penalmente pelos seus atos, por mais que sejam típicos e antijurídicos.” (Muños Conde) Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Assim, o Art. 26 cuida dos inimputáveis (indivíduos que, ao tempo da ação ou da omissão, eram inteiramente incapazes de levar em consideração a ilicitude do fato). A imputabilidade penal depende de dois elementos: (1) intelectivo – integridade biopsíquica, consistente na perfeita saúde mental que permite ao indivíduo a compreensão do caráter ilícito do fato; (2) volitivo – domínio da vontade, ou seja, o controle e comando do agente de seus impulsos relativos à compreensão do caráter ilícito do fato, determinando-se de acordo com esse entendimento. Assim, ambos elementos devem estar presentes concomitantemente, pois, na falta de um deles, o sujeito será tratado como inimputável. Além disso, o Brasil adotou um critério cronológico, de modo que, a partir do dia em que o indivíduo completa 18 anos de idade, ele é imputável. Causas de inimputabilidade: Menoridade (Art. 27); Doença mental (Art. 26, caput). Desenvolvimento mental incompleto Desenvolvimento mental retardado Embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior (Art. 28, p. 1º). O momento em que é constatada a imputabilidade se dá durante a prática da conduta (ao tempo da ação ou da omissão). Esta imposição constitui-se em desdobramento lógico da teoria da atividade, adotada pelo CP no Art. 4º. Assim, se ao tempo da conduta, o réu era imputável, a superveniência de doença mental não altera esse quadro. INIMPUTABILIDADE POR DOENÇA MENTAL A expressão deve ser interpretada em sentido amplo, englobando os problemas patológicos e também os de origem toxicológica, de modo que ingressam nesse rol todas as alterações mentais ou psíquicas que suprimem do ser humano a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Pode ser permanente ou transitória, mas deve existir no momento da prática da conduta para acarretar o afastamento da imputabilidade. Além disso, não é necessário que emane de enfermidade mental, pois há enfermidades físicas que atingem o aspecto psicológico do indivíduo. Questão: hipnotismo pode ser considerado como inimputável por doença mental? Sem consciência e vontade, o hipnotizado “age” sem culpabilidade, como mero instrumento da vontade criminosa do hipnotizado, que é o autor mediato, enquanto o hipnotizado não é autor, mas mero executor inculpável. Não tem conduta e, portanto, não tem crime. INIMPUTABILIDADE POR DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO Abrange os menores de dezoito anos (presunção absoluta), os surdos-mudos (presunção relativa) e os silvícolas (presunção relativa). • Presunção absoluta: automaticamente inimputável. • Presunção relativa: não é automaticamente inimputável. Os silvícolas nem sempre serão inimputáveis, visto que essa situação depende do grau de assimilação dos valores sociais revelado pelo exame pericial (meio legal de prova da inimputabilidade). Podendo ser: imputável, semi-imputável ou inimputável. INIMPUTABILIDADE POR DESENVOLVIMENTO MENTAL RETARDADO Oligofrênicos: Sujeito com desenvolvimento mental retardado é aquele que não atingiu a maturidade psíquica. EFEITOS DA INIMPUTABILIDADE Os menores de 18 anos são sujeitados à legislação especial (ECA), enquanto os demais são submetidos à justiça penal (processados e julgados como imputáveis, mas sem que haja condenação). Art. 149/CPP. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal. "Excluída a imputabilidade por incapacidade total de entendimento da ilicitude do fato ou de autodeterminação, o autor do fato é absolvido e aplicar-se-á obrigatoriamente a medida de segurança de internação* em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado." A aplicação da medida de segurança de internação configura uma absolvição imprópria (o réu é absolvido, mas cumpre medida de segurança). Isso ocorre em razão de que, quando se tratam de inimputáveis, o juízo de culpabilidade (necessário para a pena) ser substituído pelo juízo de periculosidade (necessário para a medida de segurança). Além disso, o Art. 97, caput/CP presume de forma absoluta a periculosidade dos inimputáveis, ordenando a imposição de medida de segurança. “A comprovada inimputabilidade do agente não dispensa o juiz de analisar na sentença a existência ou não do delito apontado na denúncia e os argumentos do acusado quanto à inexistência de tipicidade ou antijuridicidade.” (MIRABETE) Sendo assim, há a inexistência de culpabilidade, mas o juiz não pode deixar de analisar porque, se não houve o crime, não é possível aplicar medida de segurança ao inimputável. • Se não houve o crime = inimputabilidade própria (absolvição real). • Se houve o crime, é possível exercer o juízo de reprovabilidade? Se sim, aí vem a punibilidade. Culpabilidade diminuída: Art. 26. Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou dedeterminar-se de acordo com esse entendimento. A perturbação da saúde mental também é uma doença mental, embora mais suave. Não elimina totalmente, mas reduz, por parte do agente, a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar- se de acordo com esse entendimento, o que igualmente ocorre em relação ao desenvolvimento mental incompleto e ao desenvolvimento mental retardado. A diferença em relação à inimputabilidade, portanto, é de grau. "Entre a imputabilidade e a inimputabilidade existem determinadas gradações, por vezes insensíveis, que exercem, no entanto, influência decisiva na capacidade de entender e autodeterminar-se do indivíduo." - Bitencourt. Como o sujeito encontra-se em posição biológica e psicológica inferior a um imputável, a reprovabilidade da conduta é menor, determinando a lei a redução de pena de 1 a 2/3 (causa obrigatória de diminuição de pena), desde que a condição limítrofe entre a imputabilidade e a inimputabilidade do réu seja demonstrada pericialmente nos autos. Consequência jurídico penal: culpabilidade diminuída acarreta a diminuição da pena. A operação é realizada em três etapas: a. condenação do juiz; b. diminuição da pena de 1 a 2/3; c. se o réu necessitar de especial tratamento curativo, o magistrado substitui a pena diminuída por medida de segurança. Isso ocorre por conta da vigência do sistema vicariante (Art. 98/CP), de modo que o réu cumpre apenas uma das sanções penais (que não são cumulativas). EMOÇÃO E PAIXÃO Art. 28. Não excluem a imputabilidade penal: I – a emoção ou a paixão (...) HUNGRIA, Nelson: a paixão é a emoção que se alonga no tempo, criando um estado contínuo e duradouro de perturbação afetiva. Enquanto isso, a emoção é temporária, não permanente ou constante. Emoção é o estado afetivo que acarreta na perturbação transitória do equilíbrio psíquico (é rapidão), enquanto a paixão é emoção mais intensa (perturbação duradoura do equilíbrio psíquico – uma emoção em câmera lenta). Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente: c) cometido o crime (...) sob a influência de violenta emoção (...). Art. 66. A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. MENORIDADE Art. 27/CP. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. Art. 228/CF. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas de legislação especial. Crimes permanentes e superveniência da maioridade penal: é possível que uma conduta se inicie quando a pessoa ainda é menor de idade e apenas se encerre quando atingida a maioridade penal. O indivíduo poderá ser responsabilizado pelos atos praticados após o início da sua imputabilidade penal, mas os anteriores devem ser desprezados para fins penais. Exemplo: Laura, com 17 anos de idade, pratica extorsão mediante sequestro contra Cabral, mantendo-o em cativeiro por diversos meses, período no qual completa 18 anos de idade. Se Laura torturou a vítima quando tinha 17 anos de idade, essa circunstância não poderá ser utilizada no campo penal, seja como crime autônomo ou como agravante de pena. Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990). Art. 98/ECA. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta lei forem ameaçados ou violados: III - em razão de sua conduta. Enfoque educativo-pedagógico em contraposição ao enfoque repressivo-punitivo. Ato infracional: toda conduta descrita na legislação como crime ou contravenção. Inimputabilidade: opção política de conveniência (sem relação com a (in)capacidade de entendimento). Medidas sócio-educativas (Art. 112/ECA): • Advertência: admoestação verbal. • Obrigação de reparar o dano: delitos patrimoniais (nem sempre é possível). • Prestação de serviços à comunidade: prazo máximo de 06 meses; 06 horas semanais (s/ prejuízo de frequência escolar). • Liberdade assistida: prazo mínimo de 6 meses; acompanhamento contínuo do adolescente/família; acompanhamento do desempenho escolar. • Internação (privação de liberdade): prazo mínimo de 6 meses e prazo máximo de 03 anos (mas não pode persistir após o indivíduo completar 21 anos); reavaliação a cada 06 meses; liberação compulsória dos infratores ao completar 21 anos. o Condições da internação: ato infracional cometido com violência ou grave ameaça à pessoa; reiteração de cometimento de infrações; descumprimento de medidas anteriormente impostas; cumprimento em entidade exclusiva; obrigatoriedade de desenvolvimento de atividades pedagógicas. EMBRIAGUEZ Conceito: intoxicação aguda produzida no corpo humano pelo álcool ou por substâncias de efeitos análogos, apta a provocar exclusão da capacidade de compreensão do caráter ilícito do fato ou de determinar- se de acordo com esse entendimento. A embriaguez definida anteriormente não exclui a imputabilidade penal (CP, art. 28, II), sendo denominada como embriaguez aguda, embriaguez simples ou embriaguez fisiológica. Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. FASES DA EMBRIAGUEZ 1ª fase: excitação ou eufórica (“fase do macaco”) – estado eufórico inicial provocado pela inibição dos mecanismos de autocensura, de modo que o agente torna-se inconveniente, além de perder a acuidade visual e ter seu equilíbrio afetado. 2ª fase: depressão ou agitada (“fase do leão”) – caracteriza-se por perturbações psicossensoriais profundas, de modo que é estabelecida uma confusão mental, além da irritabilidade, responsável por deixar o indivíduo mais agressivo. Alteram-se as funções intelectuais, o juízo crítico, a atenção e a memória. Os delitos normalmente são praticados com agressões ou contra a liberdade sexual, o que não impede crimes de outras espécies. Nessas duas fases, o indivíduo pode cometer crimes comissivos e omissivos. 3ª fase: sono ou comatosa (“fase do porco”) – essa ultima fase só ocorre quando grandes doses de substâncias entorpecentes são ingeridas. O agente fica em um estado de dormência profunda, com perda de controle sobre suas funções fisiológicas. Nessa fase, o ébrio só pode praticar delitos omissivos, próprios ou impróprios. ESPÉCIES DE EMBRIAGUEZ Embriaguez não acidental 1. Voluntária (dolosa ou intencional): a ingestão da substância alcoólica ou de efeitos análogos dá-se com a intenção de embriagar-se, mas sem intenção de prática de infrações penais. Há, portanto, o desejo de ingressar em um estado de alteração psíquica, daí falar-se em embriaguez dolosa. 2. Culposa: o agente quer ingerir a substância, mas sem a intenção de embriagar-se, contudo, isso acontece em virtude da imprudência de consumir doses excessivas. Essas duas modalidades de embriaguez não excluem a imputabilidade penal, mesmo se forem completas ou incompletas. Embriaguez acidental 1. Caso fortuito: o agente não se embriagou culposa ou dolosamente, tal fato se deu em função de uma ocorrência ocasional, rara. Ex: (a) O indivíduo mora ao lado de uma destilaria de aguardente, e aos poucos acaba embriagado pelos vapores da bebida que inala sem perceber; (b) O agente faz tratamento com algum tipo de remédio, o qual potencializa os efeitos do álcool; (c) O indivíduo trabalha na manutenção de uma destilaria de aguardente e, em determinado dia, cai em um tonel cheio da bebida;. Caso fortuito = evento súbito e inesperado que não é possível prevenir de forma alguma. Não é possível exercer um juízo de reprovabilidade a um indivíduo que se encontra nessa situação. 2. Força maior: deriva de uma força externa ao agente, que o obriga a consumir a bebida alcoólica ou a droga. A coação irresistível pode ser física ou moral, e conduz à perdado controle das próprias ações pelo agente. Exemplos: (a) o agente é amarrado e injetam em seu sangue grande quantidade de álcool. Na coação física, não é possível sequer considerar a conduta (anulação da conduta, tendo em vista a instrumentalização do indivíduo que a cometeu). A embriaguez acidental, caso esteja completa, é capaz de, no momento da conduta, tornar o agente inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, exclui a imputabilidade penal (CP, Art. 28, parágrafo 2º). Por outro lado, caso esteja incompleta (retira parte da capacidade de entender o caráter ilícito ou de determinar-se de acordo com esse entendimento), autoriza a diminuição da pena de 1 (um) a 2/3 (dois a terços), e equivale, portanto, a semi-imputabilidade. Embriaguez patológica É o caso dos alcoólatras e dependentes químicos que se colocam em estado de embriaguez por conta de uma vontade invencível de continuar a consumir a droga. Trata-se de uma patologia, uma doença mental. Compromete total ou parcialmente a imputabilidade penal, e caracteriza-se pela desproporcional intensidade ou duração dos efeitos inerentes à intoxicação alcoólica. O efeito da embriaguez no organismo humano é contínuo, e as consequências do álcool ou da substância de efeitos análogos subsistem no sistema nervoso depois de sua eliminação. Em razão disso, a embriaguez patológica é equiparada às doenças mentais, de modo que é aplicado o Art. 26, caput, e seu parágrafo único. O ébrio é considerado inimputável ou semi- imputável, em conformidade com a conclusão do laudo pericial. Mirabete inclui, nesse grupo, os filhos de alcoólatras que possuiriam uma predisposição que faria com que, mesmo sob efeito de pequenas doses de álcool, poderiam ficar embriagados. Embriaguez preordenada O agente se embriaga já com a finalidade de cometer um delito nesse estado, ou seja, a ingestão da bebida alcoólica já constitui ato inicial do comportamento típico. A embriaguez funciona como fator de encorajamento para a prática do crime ou da contravenção penal. Além de não excluir a imputabilidade penal, funciona como agravante genérica (CP, art. 61, II, “I”). Embriaguez completa Ocorre a supressão da capacidade de entendimento e vontade do agente, que perde completamente a noção do que está fazendo. Embriaguez incompleta Há perda parcial da capacidade de entendimento e autodeterminação do agente, que ainda consegue manter um resíduo de compreensão e vontade. CONSEQUÊNCIAS Art. 28. Não excluem a imputabilidade penal: II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substâncias de efeitos análogos.
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