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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC
CURSO DE DIREITO
MAYARA MIRELLA DA SILVA
DIREITO AMBIENTAL
MACEIÓ – ALAGOAS
2019/02
O processo de Licenciamento Ambiental da Usina Hidrelétrica de Belo Monte
Toda a fase de implantação da UHE Belo Monte é marcada pelo diálogo com comunidades locais, que acompanham de perto o cumprimento dos compromissos socioambientais firmados pela Empresa. 
A Licença Prévia do empreendimento que exigia o cumprimento das condicionantes iniciais foi concedida pelo IBAMA em 2010, após realização de audiências públicas, que reuniram cerca de oito mil participantes. 
Determinadas irregularidades, consideradas pelo MPF do Pará como graves, também aconteceram em relação à LP, como a falta de um estudo aprofundado sobre as questões indígenas envolvidas e a não incorporação das contribuições feitas em audiências públicas. Segundo ainda o MPF, documentos oficiais e pareceres técnicos comprovam que o IBAMA não tinha certeza sobre a viabilidade ambiental de Belo Monte.
Nos últimos anos, as controvérsias acerca do projeto atingiram o âmbito internacional de debate de forma significativa devido ao acirramento dos conflitos durante o processo de licenciamento ambiental.
A Licença de Instalação foi concedida também pelo IBAMA, em 2011, para o início da construção da Usina. Após comprovar o cumprimento de suas obrigações legais, mantendo o compromisso com o desenvolvimento sustentável, a UHE Belo Monte conquistou, em novembro de 2015, a Licença de Operação que viabilizou o início da geração comercial de energia. 
Para licenciar a usina de Belo Monte, foi demandada dedicação exclusiva de uma equipe de analistas da Diretoria do Licenciamento Ambiental e incorporação de especialistas de outras áreas do instituto, garantindo a qualidade técnica dos pareceres. Ocorreram também seminários técnicos, painel com especialistas em socioeconômica, audiência com o consórcio de prefeituras, em complementação aos procedimentos rotineiros, a exemplo de vistorias de campo. O IBAMA manterá uma equipe técnica exclusiva para acompanhar a instalação de Belo Monte e avaliar o cumprimento das condicionantes. 
As análises críticas dos estudos de impactos ambientais afirmam que, além da segurança hídrica da região estar ameaçada, a redução da vazão a jusante da usina acarretará diversos impactos nos habitats aquáticos do rio Xingu e, consequentemente, nas populações ribeirinhas, pescadores e agricultores familiares que vivem na região e dependem do extrativismo vegetal (como açaí, cacau e buriti), da pesca e das plantações de subsistência.
A implantação do empreendimento envolveu apoio do consórcio formado por onze prefeituras dos municípios de influência indireta da UHE Belo Monte e manifestações técnicas favoráveis dos órgãos intervenientes (FUNAI, ICMBio, INCRA, Iphan, Ministério da Saúde, Secretaria do Patrimônio da União do Ministério do Planejamento).
A Funai, por exemplo, foi responsável pela análise e acompanhamento dos programas socioambientais voltados às comunidades indígenas e realizou seminário técnico e novas rodadas de reuniões nas aldeias. O ICMBio atuou, juntamente com o Ibama, na definição dos planos de ação para proteção das espécies ameaçadas e na proposição de áreas a serem transformadas em unidades de conservação. Já o Incra vem atuando na regularização fundiária na região do empreendimento.
A Usina de Belo Monte revela diversos desafios comuns tanto à avaliação do impacto ambiental como aos processos de licenciamento ambiental em toda a Amazônia brasileira. No que diz respeito à construção de grandes hidrelétricas na região, existe uma repetição de um mesmo padrão de política pública, que desrespeita a legislação ambiental brasileira e os direitos das populações tradicionais atingidas pela obra, que na maioria das vezes, são consideradas "entraves" ao desenvolvimento econômico. O lugar da Amazônia no desenvolvimento do país implica na garantia de direitos dos povos e na proteção ambiental. No entanto, um dos maiores desafios ainda presentes na região se relaciona à consideração dos conhecimentos e do bem-estar dos povos amazônicos. 
Permanece o complexo desafio de compatibilizar interesses antagônicos manifestos nas arenas públicas de participação e tomada de decisão de grandes projetos de infraestrutura com a direção desenvolvimentista do Estado brasileiro, que, de maneira explícita, exerce importante centralidade na garantia de concretização de projetos como Belo Monte.
O debate sobre Belo Monte se insere em um contexto mais amplo, onde se põe em causa o modelo de desenvolvimento do país e suas repercussões no planejamento energético na região amazônica. Portanto, a conjuntura analisada envolve uma reflexão mais profunda sobre o setor energético e à exploração de recursos hídricos no país e a partir do caso de Belo Monte, algumas lições podem ser aprendidas para futuros empreendimentos hidrelétricos: (I) as questões sociais e ambientais não devem ser colocadas em segundo plano diante dos imperativos de um modelo de desenvolvimento econômico associado à noção de progresso; (II) as condições de desenvolvimento e as contradições durante o processo de licenciamento ambiental de Belo Monte sugerem um caráter autoritário do projeto da usina, que evidencia a necessidade de uma concepção mais social, humana e democrática de sociedade; (III) Por fim, o desafio relacionado à formulação de soluções energéticas persiste, pois dimensões fundamentais da sustentabilidade ainda não foram devidamente valorizadas no planejamento e no desenvolvimento de políticas públicas.

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