Buscar

Saúde coletiva Verdadeiro


Prévia do material em texto

Aluno: Francis Túlhio Ventura. 
O conceito de saúde pública surge a partir dos Estados modernos aonde o trabalhador é visto como uma riqueza que precisa ser cuidada. Diante da ótica capitalista, é vantajoso se ter pessoas empregadas e saudáveis, pois essas consomem fazendo a máquina do capital girar. Embora se tenha tido essa percepção nos primórdios do operariado, foram necessários diversos movimentos para culminarem em uma saúde pública de fato. Pode-se citar a Polícia Médica alemã e seu forte autoritarismo com médicos controlando diversos aspectos da vida humana, o Movimento Higiene na França que apesar de menos coercitivo e o contexto revolucionário ainda apresentava fortes tendências repressivas, e a Medicina social, aonde se começou a perceber as influências do contexto social na saúde do indivíduo. Dentro desse cenário reflexivo, em 1910 Abraham Flexner lança o Relatório Flexner. Esse relatório trouxe diversas diretrizes com a finalidade de organizar e melhorar o ensino médico em solo norte americano (Canadá e Estados Unidos). O relatório se mostrou muito importante e algumas de suas recomendações são seguidas até hoje. No entanto, o relatório era pautado quase que exclusivamente no cientificismo, negligenciando o aspecto social. Nos anos de 1950, surgiram críticas a esse documento, pois se compreendeu o impacto que as relações sociais tem sobre os indivíduos. O contexto de críticas ficou conhecido como flexinerismo e culminou no movimento denominado Medicina preventiva. Esse movimento caracterizou-se por buscar uma medicina menos fragmentada com a introdução de disciplinas que buscam a prevenção como a epidemiologia. Porém, atendeu somente os mais ricos. A baixa cobertura dos mais pobres e idosos deu origem a Medicina comunitária. Vale ressaltar que o brasil também teve movimentos semelhantes a esse como a sua Medicina Social importada da Europa. 
Os movimentos acima citados, apesar de simbolizarem grandes avanços precisavam ter seus preconceitos e limitações superados por algo que fosse mais amplo até mesmo que a própria Saúde Pública que durante todo o século XX atuou como uma vertente do liberalismo de mercado, surge aí a Saúde Coletiva. Enquanto a primeira pode ser definida como um órgão governamental que busca o diagnóstico, tratamento das enfermidades e bem estar da população, a segunda é uma área muito mais ampla e transdisciplinar ( segundo Jantsch-Vasconcelos-Bibeau, transdisciplinaridade, “trata-se do efeito de uma integração das disciplinas de um campo particular sobre a base de uma axiomática geral compartilhada. Baseada em um sistema de vários níveis e com objetivos diversificados, sua coordenação é assegurada por referência a uma finalidade comum, com tendência à horizontalização das relações de poder. Implica criação de um campo novo que idealmente desenvolverá uma autonomia teórica e metodológica perante as disciplinas que o compõem”). Já a Saúde Coletiva é um termo usado somente no Brasil, que apesar de diversos especialistas relutarem em defini-la devido sua amplitude, apresenta-se como consenso que se trata de uma área do conhecimento que abrange diversos pontos e conceitos, sendo resultado dos diversos movimentos que ocorreram ao longo da história, apresentando além de um olhar cientificista, um olhar social sobre a saúde. A saúde Coletiva se preocupa em estudar o fenômeno saúde/doença enquanto processo social e sua distribuição em relação as situações de trabalho e afins. Tal definição vai ao encontro da importância de se entender as desigualdades sociais como processo de produção e impacto sobre o tratamento e controle de doenças, defendida pela médica e professora da Universidade de São Paulo, Rita Barradas Barata, em seu livro “Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde”. A Saúde Coletiva apresenta 3 pilares fundamentais: Ciências Sociais e Humanas, Epidemiologia e Planejamento/Administração em Saúde. 
Sendo a Odontologia uma área da saúde, ela também passou por diversas etapas até chegar no que é denominado hoje, Saúde Bucal Coletiva. Essa é diferente de odontologia, sendo a odontologia uma de suas vertentes. Ela é inseparável da Saúde Coletiva bem como a saúde bucal é inseparável da saúde sistêmica. Como já relatado foram diversos os movimentos que ocorreram para se chegar na Saúde Bucal Coletiva. O primeiro movimento que englobava a odontologia e que realmente tinha um viés preventivo e chegava até uma parcela das massas foi a Odontologia Sanitária. Esse movimento se caracterizava pela presença de cirurgiões dentistas no ambiente escolar de algumas cidades dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. Tal modelo foi trazido pela fundação CESP dos EUA, no ano de 1952. No entanto, apesar do evidente progresso, o atendimento era limitado aos escolares não atingindo um coeficiente alto de pessoas. Mas apesar dessa tentativa, o que perseverou no Brasil e resiste de forma consistente até hoje é a odontologia de mercado. Essa é ligada ao capital e quem não pode pagar pelos tratamentos fica sem acesso. É um ramo mercadológico que movimenta algo na casa dos milhões todos os anos chamando a atenção de empresas multinacionais. Segundo a revista Exame, a empresa de produtos odontológicos Dental Cremer foi comprada por capital estrangeiro por cifras milionárias, no ano de 2016. Também existiram outros movimentos como a Odontologia Social e a Odontologia Social e preventiva. Essas muito marcadas pelo viés acadêmico. A saúde Bucal Coletiva é o campo do conhecimento e práticas que integra um conjunto mais amplo de saberes visando a saúde bucal como fundamental e indissociável a saúde sistêmica tendo a odontologia como um de seus ramos mas transcendo-a. Ela se preocupa com as dimensões social, biológica, psicológica e busca uma produção de melhores condições de saúde bucal a partir das necessidades das pessoas, através de incorporações e desenvolvimento de novas políticas de saúde bucal e conhecimento científico além da assistência individual. Por fim, a SBC deve buscar a garantia da saúde bucal como direito humano. 
Referências:
Barata, Rita Barradas, Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde. Editora Fiocruz. Publicação: 2009
Filho, Naomar de Almeida. Transdisciplinaridade e Saúde Coletiva. Ciênc. saúde coletiva vol.2 no.1-2 Rio de Janeiro  1997
Soares, Catharina Leite Matos; Cruz, Denise Nogueira; Paim, Jairnilson Silva; Barros, Sandra Garrido; Chaves; Sonia Cristina de Lima; Rossi, Thais Regis Aranha. O movimento da Saúde Bucal Coletiva no Brasil. Revista: Ciência. saúde coletiva vol.22 no.6 Rio de Janeiro jun. 2017

Mais conteúdos dessa disciplina