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A PROBLEMÁTICA DO DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO NO PENSAMENTO ECONÔMICO ATÉ OS ANOS 1940 Professor: Dr. Ivan Dias da Motta Diretoria Executiva Pedagógica Janes Fidelis Tomelin Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Projetos Educacionais Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Giovana Vieira Cardoso Editoração Victor Augusto Thomazini Ilustração Bruno Pinhata DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site shutterstock.com C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; MOTTA, Ivan Dias da. Direito e Desenvolvimento. Ivan Dias da Motta. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 36 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Desenvolvimento econômico. 2. Economia. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 330 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 04 sumário 06| ADAM SMITH E DAVID RICARDO E A FORMULAÇÃO DA CONCEPÇÃO LIBERAL DE DESENVOLVIMENTO 16| O PENSAMENTO MARXISTA COMO CONTRAPONTO ÀS IDEIAS LIBERAIS 20| O DESENVOLVIMENTO NO PENSAMENTO DO FINAL DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX 26| KEYNES E A CRÍTICA AO LIBERALISMO E O ESTADO E INTERVENÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Compreender a transição entre o individualismo mercantilista e o pen- samento de desenvolvimento liberal na Europa em Adam Smith e David Ricardo no período compreendido nos séculos XVII e XVIII, bem como a teoria de desenvolvimento de Alexander Hamilton na aplicação de manu- faturas nos Estados Unidos da América. • Compreender a teoria de desenvolvimento capitalista a partir de Karl Marx, a saber, a teoria da acumulação, bem como as crises do capitalismo. • Compreender o pensamento neoclássico implantado por volta de 1870 em oposição ao desenvolvimento econômico marxista. • Compreender a oposição ao liberalismo a partir da teoria econômica capi- talista de John Maynard Keynes, bem como a necessidade de intervenção estatal para alcançar o desenvolvimento econômico. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Adam Smith e David Ricardo e a formulação da concepção liberal de desenvolvimento • O Pensamento marxista como contraponto às ideias liberais • O Desenvolvimento no pensamento do final do século XIX e início do século XX • Keynes e a crítica ao liberalismo e o Estado e intervenção A PROBLEMÁTICA DO DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO NO PENSAMENTO ECONÔMICO ATÉ OS ANOS 1940 INTRODUÇÃO introdução A partir do final da Segunda Guerra Mundial, a teorização acerca do desenvol- vimento econômico se aprofunda e o número da produção intelectual sobre o tema é volumoso. É um momento em que o mundo se depara com um dilema: o que realmente não funcionou dentro de um sistema econômico liberal e quais as contribui- ções que a economia poderia ter dado e, supostamente, não deu para que o conflito não tivesse o fim trágico conhecido por todos? Era urgente a necessidade de procurar revisar pressupostos econômicos que antecederam a crise e, também, estudar uma nova perspectiva para a econo- mia a partir de um cenário: grande parte da economia mundial se encontrava destruída ou, na melhor das hipóteses, abalada seriamente pelas consequên- cias desse grande conflito. Não se tratava, contudo, apenas de abandonar o antigo e imperiosamente procurar a construção do novo, pois tal hipótese seria possível, uma vez que, quando se trata de economia, nem sempre as rupturas podem ser tão radicais quanto se possa desejar. Era preciso reconstruir os caminhos da teoria econô- mica, mas, agora, com o viés do desenvolvimento. Urge salientar que nem todo avanço na economia significa, necessariamente, avanços de desenvolvimen- to econômico e, mais ainda, a partir da perspectiva adotada após a Segunda Guerra Mundial, seria necessário pensar novas perspectivas para a ideia de desenvolvimento econômico, por exemplo, associar, de forma inexorável, o de- senvolvimento social e tecnológico. Nesse sentido, o presente estudo tem o objetivo de realizar uma revisão bibliográfica, buscando situar, no contexto da Teoria do Desenvolvimento Econômico até a década de 40, a nossa temática. Para tanto, o nosso ponto de partida é o mercantilismo. Contudo, nossa preocupação com o tema se refere às questões mais recentes, do final dos anos quarenta em diante. Por isso, a discus- são anterior a essa data não será demorada, preocupar-nos-emos tão somente com os seus aspectos mais relevantes. Pós-Universo 6 ADAM SMITH E DAVID RICARDO liberal de desenvolvimento e a formulação da concepção Pós-Universo 7 É difícil discutir a Teoria Clássica sem partir do mercantilismo, isso porque os clássicos vão propor uma forma de enriquecer a nação totalmente diferente do que propu- nha o pensamento econômico do período mercantilista. O mercantilismo organizava-se conforme os interesses dos comerciantes, os quais estavam sob a estreita observação do Estado, que impunha uma severa regulamen- tação às atividades econômicas. Controlava-se o comércio internacional, objetivando manter um equilíbrio nas cotas de importação e exportação; definia-se o nível de liquidez do mercado, fiscalizando a quantidade de metal em giro; incentivava-se o cres- cimento populacional, desejando-se, a longo prazo, uma mão de obra abundante para diminuir as despesas com salários; por fim, impunha-se uma férrea vigilância sobre as colônias, coibindo-lhes qualquer atividade comercial que não fosse com a metrópole. O mercantilismo é definido como um conjunto de ideias e mecanismos de intervenção econômica predominante entre os séculos XV e XVIII. Tal prática foi o centro da estruturação econômica dos Estados europeus, que passa- ram a intervir de maneira efetiva na economia com o intuito de garantir um acúmulo de riquezas e a subsistência de seus poderes. Fonte: Falcon (1993). quadro resumo O Estado foi, assim, o gestor das atividades econômicas. Tal situação era do agrado dos comerciantes, pois estes entendiam que uma autoridade central seria útil na defesa dos seus interesses, na medida em que ela lhes proporcionava proteção contra a concorrência. A explicação para a existência de um Estado forte é dada, por um lado, pela ne- cessidade de se romper com os vestígios da ordem feudal. Por outro lado, estava-se na fase da constituição dos Estados nacionais, o que implicava, necessariamente, um poder centralizado. Dessa forma, a ação econômica que não acontecesse no âmbito dos interesses estatais estava fundada a ter pouco sucesso. Contudo havia uma simbiose entre os in- teresses do Rei e os dos comerciantes. As grandes navegações, por exemplo, ao mesmo tempo em que simbolizavam o poder de uma nação forte, econômica e militarmente, demonstravam, também, a grandeza do comércio privado de uma classe comercial em ascensão. A produção e o comércio do açúcar na América Central e no Brasil são exemplos claros da junção dos interesses do Estado e os dos mercantilistas privados. Pós-Universo 8 Podemos concluir que o desenvolvimento econômico, para os mercantilistas, só poderia acontecer por meio das trocas internacionais, cuja finalidade era ampliar o comércio internacional para acumular riquezas, principalmentemetal precioso, sob os auspícios de um Estado interventor. Assim sendo, enquanto vigorou o mercantilismo, a filosofia individualista clássica debateu-se, de forma lenta e silenciosa, contra a antiga visão paternalista de mundo. Saiu vitoriosa, porque o individualismo refletia a necessidade de uma nova ordem econômica (HUNT; SHERMAN, 1986). O individualismo tinha como base a ação do homem egoísta, que, na busca de satisfazer suas necessidades, agia racionalmente num mercado livre. Contudo, a so- matória dos atos individuais promovia o bem comum. Tais atos só se realizavam plenamente quando não estavam submetidos a mecanismos de controle e coerção. A liberdade, principalmente a de mercado, era a principal referência dos liberais, daí a necessidade de abolir as formas paternalistas de proteção, inclusive as do Estado, deixando que a concorrência determinasse a sobrevivência do mais forte. Hunt e Sherman (1986, p. 61) afirmaram que, “ o mercado levaria os produtores a aprimorar constantemente a qualidade de seus produtos e a organizar a produção de forma mais eficiente e menos dispendiosa possível. Todas essas ações benéficas seriam a decorrência direta da concorrência entre os homens egoístas, cada qual agindo em seu próprio interesse. No final do século XVIII, notadamente, no último quartel, as condições materiais para a consolidação do classicismo estavam dadas. O processo que antecedeu a Revolução Industrial e a própria revolução abriram possibilidades para um rápido desenvolvi- mento das forças produtivas. Tal desenvolvimento pode ser medido pelo número de invenções: no ano de 1760, foram registradas 205 patentes; em 1770, o número ele- vou-se para 294; e em 1780, foram contabilizadas 477 patentes (BENDIX, 1956 apud HUNTER; SHERMAN, 1986, p. 55). E mais: a sociedade criada em 1775 entre Malthew Boulton e James Walt realizou a união entre a indústria e a ciência, acelerando, ainda mais, o desempenho da Revolução Industrial, posto que a ciência passava a ter os capitais necessários para as pesquisas que seriam apropriadas pelo capitalismo. Pós-Universo 9 No plano do pensamento econômico, as maiores expressões do liberalismo são Adam Smith e David Ricardo. O período em que viveu Smith (1723-1790) era caracte- rizado por um capitalismo com base na acumulação comercial, exceção feita, talvez, para a Inglaterra. O restante do continente europeu convivia com diversos graus de desenvolvimento. Tal fato levou Napoleoni (1981, p. 91) a afirmar que: “ o mercado levaria os produtores a aprimorar constantemente a qualidade de seus produtos e a organizar a produção de forma mais eficiente e menos dispendiosa possível. Todas essas ações benéficas seriam a decorrência direta da concorrência entre os homens egoístas, cada qual agindo em seu próprio interesse. No entanto, não se deve esquecer que o liberalismo inglês é “ não só aquele permitido por uma sociedade que estabelecera formas avan- çadas de controle do poder público ainda no século XVII, como a expressão de uma economia em que os interesses mercantis dominantes e os interes- ses manufatureiros desenvolviam-se com rapidez (COUTINHO, 2013, p. 99, grifo nosso). Isso significa dizer que, apesar de Smith estar fazendo referência a uma Europa com estágios diferentes de desenvolvimento, ele percebeu que a manufatura estava em um processo rápido de evolução. No entanto, o objetivo de Smith foi “ordenar o mundo do qual ele estava no limiar: mas a sua maior contribuição foi destruir o velho mundo e assim abrir caminho para o que estava por vir” (GALBRAITH, 1983, p. 54). É nessa sociedade que o pensamento de Smith está inserido. Ele é considera- do o continuador dos filósofos liberais que o antecederam, principalmente Locke, Hutccheson, Hume e Bernard de Mandeville, mas é de Hume que ele receberá fortes influências. No pensamento clássico, não há, de forma acabada, uma teoria do desenvolvi- mento. A maioria dos intérpretes do período procurou inferir da obra de Smith e de Ricardo uma teoria do desenvolvimento, seguindo, quase sempre, o mesmo itinerá- rio. Isto é, buscaram entender como se deu a formação do excedente econômico1. 1 Sobre o assunto, consultar: Furtado (1963), Meier e Baldwin (1968) e Souza (1999). Pós-Universo 10 M A IO R D IV IS ÃO D O TR A BA LH O M A IO R PR O D U TI VI D A D E M A IO R LU CR O AU M EN TO D O CA PI TA L D E G IR O CR ES CI M EN TO D E EM PR EG O CR ES CI M EN TO D O M ER CA D OL IB ER A LI SM O A D A M S M IT H M A IO R D IV IS ÃO D O TR A BA LH O M A IO R PR O D U TI VI D A D E M A IO R LU CR O AU M EN TO D O CA PI TA L D E G IR O CR ES CI M EN TO D E EM PR EG O CR ES CI M EN TO D O M ER CA D OL IB ER A LI SM O A D A M S M IT H M A IO R D IV IS ÃO D O TR A BA LH O M A IO R PR O D U TI VI D A D E M A IO R LU CR O AU M EN TO D O CA PI TA L D E G IR O CR ES CI M EN TO D E EM PR EG O CR ES CI M EN TO D O M ER CA D OL IB ER A LI SM O A D A M S M IT H MAIOR DIVISÃO DO TRABALHO MAIOR PRODUTIVIDADE MAIOR LUCRO AUMENTO DO CAPITAL DE GIRO CRESCIMENTO DE EMPREGO CRESCIMENTO DO MERCADO LIBERALISMO ADAM SMITH MAIOR DIVISÃO DO TRABALHO MAIOR PRODUTIVIDADE MAIOR LUCRO AUMENTO DO CAPITAL DE GIRO CRESCIMENTO DE EMPREGO CRESCIMENTO DO MERCADO LIBERALISMO ADAM SMITH MAIOR DIVISÃO DO TRABALHO MAIOR PRODUTIVIDADE MAIOR LUCRO AUMENTO DO CAPITAL DE GIRO CRESCIMENTO DE EMPREGO CRESCIMENTO DO MERCADO LIBERALISMO ADAM SMITH MAIOR DIVISÃO DO TRABALHO MAIOR PRODUTIVIDADE MAIOR LUCRO AUMENTO DO CAPITAL DE GIRO CRESCIMENTO DE EMPREGO CRESCIMENTO DO MERCADO LIBERALISMO ADAM SMITHMAIOR DIVISÃO DO TRABALHO MAIOR PRODUTIVIDADE MAIOR LUCRO AUMENTO DO CAPITAL DE GIRO CRESCIMENTO DE EMPREGO CRESCIMENTO DO MERCADO LIBERALISMO ADAM SMITH MAIOR DIVISÃO DO TRABALHO MAIOR PRODUTIVIDADE MAIOR LUCRO AUMENTO DO CAPITAL DE GIRO CRESCIMENTO DE EMPREGO CRESCIMENTO DO MERCADO LIBERALISMO ADAM SMITH M A IO R D IV IS ÃO D O TR A BA LH O M A IO R PR O D U TI VI D A D E M A IO R LU CR O AU M EN TO D O CA PI TA L D E G IR O CR ES CI M EN TO D E EM PR EG O CR ES CI M EN TO D O M ER CA D OL IB ER A LI SM O A D A M S M IT H Figura 1 - O Liberalismo de Adam Smith Fonte: o autor. É possível extrair de Adam Smith uma teoria do desenvolvimento quando se tem como ponto de partida a divisão do trabalho. Com ela, o trabalhador passou a ter maior habilidade, houve uma redução do tempo de produção, foi possível que má- quinas fossem inventadas na própria produção, devido ao conhecimento que os trabalhadores adquiriram com o uso e conserto dos equipamentos colocados à sua disposição. Isto é, o trabalho prático permitiu aos trabalhadores não só conhecerem os mecanismos operacionais dos seus instrumentos de trabalho, mas também con- sertá-los e até fabricá-los. Tudo isso possibilitou um aumento da produtividade. E, segundo Smith, essa produtividade depende do tamanho do mercado. Em um amplo mercado, a divisão do trabalho é mais profunda, há mais especialistas nas diversas funções e, como consequência, a produtividade é maior. Aí, encontra-se, então, a ideia central da explicação do processo de desenvolvimento em Smith: o aumento de produtividade permite a elevação da taxa de lucro, que, deduzido o gasto pessoal do capitalista, é investido na produção, aumentando os capitais em giro. Como no pensamento clássico, a acumulação quase nunca encontra obstáculos ao seu cresci- mento, o processo anterior se repete, aumentando o produto da nação. Isso implica dizer que o desenvolvimento é cumulativo. Pós-Universo 11 Embora o crescimento econômico seja cumulativo, a economia poderá ingressar em um processo de estagnação denominado pelos clássicos de estado estacionário. Este acontece quando o capital de umanação aumenta continuamente, proporcio- nando uma alta taxa de lucro. Como consequência, essa alta é acompanhada do aumento das taxas de salários, já que a magnitude dos salários depende do volume do capital. Contudo, toda vez que os capitais aumentam, há uma tendência de acir- rar-se a concorrência entre os capitalistas. Cada um deles tenta baixar os seus preços para vencer o concorrente; com isso, a taxa geral de lucro diminui. Com os lucros em queda, o capitalista diminui os preços dos salários, objetivando compensar a queda do lucro. Se, por um lado, há queda na taxa de lucros e salários; por outro, estimula-se o uso intensivo de recursos naturais, no período de expansão econômica, causando seu esgotamento. Dessa forma, o esgotamento das riquezas naturais, aliado à queda nas taxas de lucros e de salários, acelera a vinda do estado estacionário, impossibili- tando o desenvolvimento. A superação só se dará com a descoberta e a ocupação de novas terras, quando, então, todo o processo se repete. O segundo economista da Escola Clássica é David Ricardo (1772-1823). Diferentemente de Adam Smith, que foi um acadêmico, Ricardo foi um prático. Desde cedo, dedicou-se aos negócios financeiros. Aos vinte anos, já havia constituí- do fortuna. A prática empreendida por Ricardo foi uma espécie de militância, posto que ele exerceu cargo político no Parlamento inglês. Tal prática, aliada à teoria, vai in- fluenciar na divulgação do liberalismo econômico. Denis (1975, p. 350), ao estudar o pensamento ricardiano, afirmou que “no plano prático Ricardo teve uma influência considerável na medida em que foi o promotor do liberalismo econômico e parti- cularmente da política livre-cambista que a Grã-Bretanha adotou nos meados do século XIX e pôs em prática até 1914”. A grande obra de Ricardo, Princípios de Economia Política e Tributação, surge em 1817. Nos seus Princípios, mantém um constante “diálogo” com Smith, ora para confirmar, ora para negar os seus escritos. Continuador da tradição clássica, vai dar à Economia Política um caráter mais profundo e demonstrar um esquema analítico mais interativo, no que diz respeito à articulação entre os agregados macroeconô- micos presentes no livro. Pós-Universo 12 Em Ricardo, a teoria do desenvolvimento está, também, dispersa na obra Princípio de Economia Política e Tributação. Ele, como os demais pensadores clássicos, de uma forma geral, reconhece a existência de três classes sociais em uma nação: a dos capita- listas, a dos proprietários de terras e a dos trabalhadores. É entre essas três classes que o produto nacional se reparte. Segundo os clássicos, a renda que se reparte entre as classes sociais tem significados diferentes. Os proprietários da terra recebem, pelo seu aluguel, renda da terra, os trabalhadores recebem salários e os capitalistas recebem lucros, por terem adiantado o capital inicial para os produtores. Continuando, Ricardo nos diz que, em uma dada sociedade, a totalidade da renda em circulação é a renda bruta. Desta, de- rivou-se o conceito de renda líquida. Colocando em outros termos: Ricardo denominou de renda bruta o valor final de toda a produção de uma nação em um ano. Renda líquida, por sua vez, é o resultado da renda bruta menos o valor dos produtos que mantêm os trabalhadores mais o estoque de capital. No tocante ao desenvolvimento econômico, é o conceito de renda líquida que in- teressa. Quanto maior for a renda líquida, maior a possibilidade de desenvolvimento - isso porque a renda líquida é um importante excedente econômico. Contudo, ela só promoverá o desenvolvimento se for reaplicada no sistema. No paradigma ricardiano há empecilhos ao desenvolvimento, mais especificamente três: a queda de produtividade, decorrente da infertilidade da terra; os custos crescen- tes na agricultura; e, por último, o “boom” populacional. Supõe Ricardo que a colonização de uma nação jovem se dê com a ocupação inicial das terras mais férteis e que estas são divididas em várias faixas de fertilidade decrescentes. O custo de produção na primeira faixa de terra é quase inexistente. Ela vai paula- tinamente sendo ocupada e, com o passar do tempo, torna-se inevitável a explosão demográfica, devido ao crescimento vegetativo e às imigrações. Uma segunda faixa é ocupada e, como as terras nessa segunda faixa são menos férteis que na primeira, os custos de produção são mais elevados, porque requerem um maior esforço para se pro- duzir. A diferença de custos entre a segunda e a primeira faixa de terra faz surgir uma renda sobre a primeira que Ricardo denominou Renda Diferencial da Terra. Continuando a pressão demográfica, pelos motivos já explicitados, outra porção de terra mais no in- terior é ocupada. Os custos de produção nessas são mais elevados do que nas duas anteriores, assim, surge uma nova renda da terra com relação a segunda faixa anterior- mente ocupada. O processo continua até a ocupação da última faixa de terra, a menos fértil entre todas. Isso significa dizer que o custo de produção é o mais elevado possí- vel, implicando em uma alta renda. Só que, agora, Ricardo vai denominar de Renda de Monopólio a renda gerada a partir da ocupação da última faixa de terra. Pós-Universo 13 Ao produzir com um maior custo, o produtor vende seus produtos pelo maior preço de mercado e, se esses produtos tiveram uma boa aceitação, todos os outros produtores das faixas de melhor fertilidade do que a última irão elevar os preços dos seus produtos até igualá-los com os preços dos produtos da última faixa, de menor produtividade, surgindo, então, uma renda que não decorreu, segundo Ricardo, da diferença de fertilidade das terras, mas sim, do preço da última faixa da terra, ou da especulação decorrente do aumento de preço das terras férteis, que acompanha- ram, sem nenhum motivo, a elevação dos preços da camada de terra menos fértil. Ricardo a denominou Renda de Monopólio. É possível, então, inferir que, sendo os custos crescentes, há uma tendência de queda da taxa de lucro na economia, pois custos crescentes implicam lucros decres- centes. Além disso, como os custos são elevados no setor primário, principalmente os das matérias-primas, a produção na indústria também se fará com elevadas des- pesas, caindo, também, a sua margem de lucro. Com uma queda generalizada do lucro no sistema, a crise se instala. Essa crise leva a um estado estacionário, no qual o crescimento econômico é nulo. Saindo do mundo europeu, vamos encontrar, nos Estados Unidos da América, se não uma teoria do desenvolvimento econômico, uma política econômica que, nas suas linhas gerais, é uma afronta ao pensamento liberal ou, mais especificamente, à Escola Clássica. Essa política econômica foi posta em prática por Alexandre Hamilton, membro do secretariado do Presidente Washington. Hamilton era jurista e, desde cedo, foi portador da confiança do Presidente dos Estados Unidos, ao lado do qual participou da cam- panha da Independência, como comandante de uma unidade de artilharia. Em 1782, foi eleito para o Congresso americano. Em 1789, foi nomeado Secretário do Tesouro. As datas nos lembram de que o liberalismo era dominante no centro da economia mundial da época. E é justamente nesse período que desponta a política econômi- ca que constituiu a base do desenvolvimento americano, política essa de caráter nacionalista e intervencionista. Enquanto Secretário do Tesouro, Hamilton tinha que prestar conta de suas atividades ao Congresso e o fazia em forma de relatórios. Em um destes, que tinha apresentado em 5 de dezembro de 1791, como Relatório Sobre as Manufaturas, Hamilton consubstancia toda uma política de desenvolvimento de caráter protecionista, fortemente estatal, cuja finalidade última era estabelecer um parque manufatureiro nos Estados Unidos, país com uma economia baseada na agricultura. Pós-Universo 14 Logo no início do relatório, Hamilton refuta osargumentos dos que são contra o es- tabelecimento de um parque manufatureiro, notadamente os dos agricultores, os quais afirmavam que as manufaturas eram menos produtivas do que a agricultura, por isso, não geravam valor além daquele suficiente para se reproduzir, ou seja, a quantidade de valor incorporado à economia pelas manufaturas não ia além do valor inicial do capital empregado e da subsistência dos trabalhadores manufatureiros - daí achar perda de tempo insistir no estabelecimento de manufaturas. Hamilton, ao rebater tais argumen- tos, demonstrou que, com as manufaturas, o valor da produção aumenta por vários motivos, dentre eles, há uma maior divisão do trabalho na atividade manufatureira, o uso de máquinas, o engenho do trabalhador, o emprego de mulheres e crianças (obviamen- te, pagando menores salários) e o trabalho em turnos, esses fatores fazem aumentar a produtividade, proporcionando um maior produto líquido nacional. Segundo Hamilton, “ [...] pode-se ter como certo que as manufaturas abrem à aplicação do engenho humano um campo mais amplo do que a agricultura. Não será difícil concluir que o trabalho empregado nas manufaturas, sendo, por sua vez, mais cons- tante, uniforme e engenhoso do que o empregado na agricultura, é também mais produtivo (apud DENIS, 1975, p. 39). Quanto ao excedente produzido pelas manufaturas, Hamilton é taxativo: “em geral é muito menos difícil inferir que o produto líquido do capital investido em empresas ma- nufatureiras é maior que o capital investido na agricultura” (apud DENIS, 1975, p. 40). Após rebater todos os argumentos dos agricultores, Hamilton procura mostrar a importância das manufaturas para a economia americana. Elas proporcionam um maior uso de máquinas do que o setor agrícola, aumentando, com isso, o produto geral da nação; possibilitam uma diversificação do mercado interno, que, se antes possuía só produção agrícola, agora, pode contar com os produtos manufatura- dos; diminuem as importações, o que é prejudicial ao país; aumentam o mercado de trabalho; também, proporcionam maior demanda para os produtos agrícolas, di- namizando o mercado interno. Hamilton, no tocante ao mercado interno, chega a afirmar que “para se criar tal mercado interno não há outro recurso senão promover os estabelecimentos manufatureiros” (apud DENIS, 1975, p. 50). Para viabilizar o parque manufatureiro, contudo, o relatório apresenta algumas sugestões: tarifas alfandegárias protecionistas, proibição de exportação de maté- rias-primas, subsídios financeiros, prêmios, isenção tarifária nas importações de matérias-primas para as manufaturas nacionais, melhoria nos transportes e sua agi- lização. O que chama a atenção no relatório é a indicação da presença do Estado Pós-Universo 15 e a proteção que este dá ao mercado contra a concorrência. Com outras palavras: Hamilton não admitia a liberdade de comércio nos moldes do pensamento liberal clássico, deixando que a “mão invisível” organizasse um parque manufatureiro. Se o mercado americano ficasse desprotegido fatalmente, as manufaturas estrangeiras (leia-se inglesas) aniquilariam qualquer tentativa de constituição de empresas fabris. Algumas passagens do relatório nos permitem verificar a importância da inter- venção governamental, notadamente com o objetivo de incentivar as manufaturas e protegê-las. Conforme Hamilton nos ensina, para produzir o quanto antes as mu- danças desejáveis, são necessários, pois, o estímulo e o patrocínio do governo. MANUFATURA ALEXANDER HAMILTON DINAMIZAÇÃO DO MERCADO MAIOR DIVISÃO DO TRABALHO AUMENTO DA PRODUÇÃO GERAL CRESCIMENTO DO MERCADO DE TRABALHO DIMINUI IMPORTAÇÃO DIVERSIFICAÇÃO DO MERCADO INTERNO MAIOR DEMANDA DE PRODUTOS AGRÍCOLAS MANUFATURA ALEXANDER HAMILTON DINAMIZAÇÃO DO MERCADO MAIOR DIVISÃO DO TRABALHO AUMENTO DA PRODUÇÃO GERAL CRESCIMENTO DO MERCADO DE TRABALHO DIMINUI IMPORTAÇÃO DIVERSIFICAÇÃO DO MERCADO INTERNO MAIOR DEMANDA DE PRODUTOS AGRÍCOLAS Figura 2 - A Manufatura em Alexander Hamilton Fonte: o autor. Em outra passagem, diz Hamilton que “ Os iniciadores de uma nova manufatura não apenas têm que vê-las com as desvantagens naturais de uma empresa nova, mas também com as gratifi- cações e remunerações dadas por outro governo. Para poderem competir com sucesso, é evidente que a intervenção e ajuda do seu próprio governo é indispensável (apud DENIS, 1975, p. 62). A conclusão que se pode tirar do relatório de Hamilton é que esse foi um instrumento de política econômica que permitiu aos Estados Unidos desenvolver uma economia forte, devido à proteção dada ao mercado interno. Essa economia tem como base a industrialização em grande escala, que aconteceu a partir do século XlX. Pós-Universo 16 O PENSAMENTO MARXISTA liberais como contraponto às ideias Pós-Universo 17 Voltando ao pensamento econômico europeu, notadamente ao marxismo, o que existe é uma teoria do desenvolvimento capitalista, mais especificamente, uma teoria da acumulação. Assim, o que o marxismo explica são as crises do capitalismo, suas contradições e a presumida derrocada final desse modo de produção. ~ ~ ~~ CR ES CI ME NT O PE LA A CU MU LA ÇÃ O DE R IQ UE ZA S: KA RL M AR X - E XP LO RA ÇÃ O DO TR AB AL HA DO R GE RA A M AI S V AL IA - A M AI S V AL IA R ES UL TA EM U M EX CE DE NT E - E SS E E XC ED EN TE P ER MI TE A P ILH AG EM - P OR TA NT O QU AN TO M AI OR A TA XA D A M AI S V AL IA , M AI OR O D ES EN VO LV IM EN TO C AP ITA LIS TA ~ ~ ~~ CR ES CI ME NT O PE LA A CU MU LA ÇÃ O DE R IQ UE ZA S: KA RL M AR X - E XP LO RA ÇÃ O DO TR AB AL HA DO R GE RA A M AI S V AL IA - A M AI S V AL IA R ES UL TA EM U M EX CE DE NT E - E SS E E XC ED EN TE P ER MI TE A P ILH AG EM - P OR TA NT O QU AN TO M AI OR A TA XA D A M AI S V AL IA , M AI OR O D ES EN VO LV IM EN TO C AP ITA LIS TA ~ ~ ~~ CR ES CI ME NT O PE LA A CU MU LA ÇÃ O DE R IQ UE ZA S: KA RL M AR X - E XP LO RA ÇÃ O DO TR AB AL HA DO R GE RA A M AI S V AL IA - A M AI S V AL IA R ES UL TA EM U M EX CE DE NT E - E SS E E XC ED EN TE P ER MI TE A P ILH AG EM - P OR TA NT O QU AN TO M AI OR A TA XA D A M AI S V AL IA , M AI OR O D ES EN VO LV IM EN TO C AP ITA LIS TA ~ ~ ~~ CR ES CI ME NT O PE LA A CU MU LA ÇÃ O DE R IQ UE ZA S: KA RL M AR X - E XP LO RA ÇÃ O DO TR AB AL HA DO R GE RA A M AI S V AL IA - A M AI S V AL IA R ES UL TA EM U M EX CE DE NT E - E SS E E XC ED EN TE P ER MI TE A P ILH AG EM - P OR TA NT O QU AN TO M AI OR A TA XA D A M AI S V AL IA , M AI OR O D ES EN VO LV IM EN TO C AP ITA LIS TA ~ ~ ~~ CR ES CI ME NT O PE LA A CU MU LA ÇÃ O DE R IQ UE ZA S: KA RL M AR X - E XP LO RA ÇÃ O DO TR AB AL HA DO R GE RA A M AI S V AL IA - A M AI S V AL IA R ES UL TA EM U M EX CE DE NT E - E SS E E XC ED EN TE P ER MI TE A P ILH AG EM - P OR TA NT O QU AN TO M AI OR A TA XA D A M AI S V AL IA , M AI OR O D ES EN VO LV IM EN TO C AP ITA LIS TA ~ ~ ~~ CR ES CI ME NT O PE LA A CU MU LA ÇÃ O DE R IQ UE ZA S: KA RL M AR X - E XP LO RA ÇÃ O DO TR AB AL HA DO R GE RA A M AI S V AL IA - A M AI S V AL IA R ES UL TA EM U M EX CE DE NT E - E SS E E XC ED EN TE P ER MI TE A P ILH AG EM - P OR TA NT O QU AN TO M AI OR A TA XA D A M AI S V AL IA , M AI OR O D ES EN VO LV IM EN TO C AP ITA LIS TA ~ ~ ~ ~ CRESCIMENTO PELA ACUMULAÇÃO DE RIQUEZAS: KARL MARX - EXPLORAÇÃO DO TRABALHADOR GERA A MAIS VALIA - A MAIS VALIA RESULTA EM UM EXCEDENTE - ESSE EXCEDENTE PERMITE A PILHAGEM - PORTANTO QUANTO MAIOR A TAXADA MAIS VALIA, MAIOR O DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA Figura 3 - A Acumulação de Riquezas em Karl Marx Fonte: o autor. Diversas partes d’O Capital podem ser sistematizadas com o intuito de se chegar a uma “teoria do desenvolvimento”. No livro primeiro, volume dois (O processo de produção do capital), e no terceiro (O processo global da produção capitalista), en- contramos as principais ideias acerca do desenvolvimento. Junte-se a esses livros o texto Manifesto Comunista de 1848. Lenine escreveu a respeito desta última obra de Marx: Esta obra expõe, com uma clareza e um vigor geniais, a nova concepção do mundo, o materialismo consequente aplicado também ao domínio da vida social, a dialéctica como a doutrina mais vasta e mais profunda do desenvolvi- mento, a teoria da luta de classes e do papel revolucionário histórico universal do proletariado, criador de uma sociedade nova, a sociedade comunista. Fonte: Lenine (1980). saiba mais Pós-Universo 18 Na perspectiva marxista, a acumulação capitalista, no início, foi precedida por um pro- cesso prévio de expropriação de terras, riquezas naturais e por pilhagem de diversas naturezas. Essa pilhagem ficou conhecida como acumulação primitiva. Foi com esse processo que se formou o estoque de capital necessário ao desenvolvimento capita- lista. Com essa prévia acumulação de estoque, foi possível realizar os investimentos necessários para fazer funcionar a acumulação. O total de capital investido deve per- mitir gerar uma quantidade de produtos que exceda o consumo dos trabalhadores e gere um excedente desse produto, sendo que parte desse excedente será reinves- tida na produção e outra parte será destinada aos gastos pessoais dos capitalistas. O excedente gerado, conforme o processo anteriormente descrito, só é possível com a exploração do trabalho. O trabalhador, durante o processo de trabalho, deve produzir uma quantidade de valor que permita ao capitalista repor os custos de pro- dução (salários, desgaste com o capital e o próprio capital empregado inicialmente) e produzir um plus de trabalho adicional. A esse adicional, Marx denominou mais-valia, ou seja, a parte do trabalho não pago. Podemos deduzir que o desenvolvimento capi- talista vai depender do “quantum” que a mais-valia possibilita acumular. Colocando em outros termos: quanto maior for a taxa da mais-valia, maior será o desenvolvimento ca- pitalista. Para Marx, a taxa de mais-valia é resultante da fórmula S/V, em que S é o total de mais-valia e V é o capital variável empregado na produção, ou seja, o total de capital. O capitalista, durante o processo de produção, usa vários artifícios com a intenção de extrair o maior percentual possível de mais valia. Um dos artifícios é aumentar a jornada de trabalho (mais-valia absoluta), outro é a introdução de máquinas e equi- pamentos modernos (mais-valia relativa), com o objetivo de facilitar e aumentar a produtividade do trabalho. Percebe-se que o capitalista, ao aumentar a produtivida- de, aumenta, também, a participação do capital constante na produção. Para o capitalista, o que interessa é a taxa de lucro, daí o desejo de sempre au- mentar o capital constante. O capital variável, por sua vez, perde sua participação relativa no processo de produção. Isto é, diminui o percentual da mão de obra as- salariada no setor produtivo ou, o que é a mesma coisa, com o aumento de capital constante, diminui o número de trabalhadores empregados. Estes, em um primei- ro momento, podem ser alocados com outros ramos da economia. Contudo, com o passar do tempo, o número de trabalhadores que irá engrossar as fileiras do Exército Industrial de Reserva aumenta - isso é possível porque o desemprego é de caráter estrutural, é desemprego tecnológico. E a rapidez do desemprego será tão maior quanto mais rápido for o aumento do capital constante. Pós-Universo 19 Dessa forma, o sistema evidencia a formação de um stock constante de capital humano ou Exército Industrial de Reserva. Ao aumentar o stock, este constitui uma ameaça para os trabalhadores empregados, na medida em que os patrões podem usar o contingente da reserva como uma forma de pressão para baixar salários. Não podemos nos esquecer de que, no período em que Marx viveu, a mercadoria salário estava, como todas as mercadorias, sujeita à concorrência. Com a compressão para baixa dos salários, devido ao desemprego tecnológi- co e pela constante “ameaça” do Exército de Reserva, há uma inevitável diminuição na demanda efetiva. Assim, não há venda de mercadoria, isto é, a mercadoria não se realiza. Como corolário, o que se tem é uma queda tendencial da taxa de lucro, advindo daí as crises. Embora as crises capitalistas, no modelo marxista, sejam inevitáveis, elas podem ser adiadas. Estamos nos reportando ao fato de que o comércio internacional pode superar os momentos mais graves das crises ou podem favorecer um melhor pro- cesso de acumulação, empurrando as crises para um período mais distante. As trocas internacionais possibilitam que os países mais desenvolvidos acumu- lem riquezas com a exportação de mercadorias e de capital financeiro. A exportação de capital financeiro gera obrigações nos países tomadores de empréstimos, em forma de pagamento de juros da dívida. Esses lucros são incorporados à economia dos países que fazem o empréstimo, gerando neles mais empregos, minimizando ou afastando as crises. Além disso, o pagamento de know-how e royalties pelos países atrasados são formas sofisticadas de acumular riquezas por parte dos grandes im- périos econômicos. Segundo alguns marxistas – Lenin, Baran e Swezee são partidários dessa explica- ção –, as transações internacionais entre os países periféricos e centrais estabelecem uma situação de dependência para os países periféricos: dependência econômica e política. Essa situação dificulta o desenvolvimento dos países periféricos. Pós-Universo 20 O DESENVOLVIMENTO NO e início do século XX pensamento do final do século XIX Pós-Universo 21 Por volta de 1870, um grupo de economistas, ante as transformações capitalistas do mundo europeu, rompe com as explicações clássica e marxista do desenvolvimento econômico - são os neoclássicos. Na época do início da interpretação neoclássica, o mundo europeu havia desenvolvido boas condições econômicas. O pleno emprego parecia ser uma meta possível, o desenvolvimento tecnológico contrariava as “pro- fecias” marxistas e o ritmo de crescimento dava a ideia de que não haveria maiores crises que pudessem abalar a “ordem natural” do desenvolvimento capitalista. Devido à boa situação econômica europeia, os pensadores neoclássicos preocu- param-se com o estudo da economia nos aspectos de curto prazo. Então, o objetivo primordial das análises dos neoclássicos centrou-se nos problemas econômicos loca- lizados em um momento particular do tempo. Isso significa dizer que eles estavam mais preocupados com as transformações conjunturais e, em menor escala, com as mudanças a longo prazo. Contudo, é possível fazer uma exceção a essa regra: eles realizaram o estudo do juro tendo em conta o longo prazo. O estudo do juro, confor- me observaram Baldwin e Meier (1968), ligou o presente e o futuro no pensamento neoclássico. O estudo da taxa de juros possibilitou a teorização acerca da acumulação de capital. Para os pensadores neoclássicos, a taxa de juros e o nível de renda determi- nam a taxa de poupança. Eles entendiam que o futuro é incerto e, por isso, é preferível possuir uma certa quantidade de dinheiro hoje do que uma quantidade maior no futuro. Isto é, um investidor deve ter a certeza de que ao investir R$ 1,00 hoje, ele re- ceberá R$ 1,05 no próximo ano, ou seja, receberá 5% a mais do que foi inicialmente investido. Os neoclássicos raciocinavam, ainda, que quanto maior for a poupança no presen- te, maior será a preferência pelo rendimento atual. Assim, é cada vez mais necessária umaelevada taxa de juros para garantir uma maior taxa de poupança. Em outras palavras, um poupador só poupa hoje – e essa poupança se torna investimento no presente –, se houver garantia de um retorno maior no futuro, compensando, dessa forma, a poupança realizada no presente. Assim, como a taxa de juros determina a de poupança, perceberam eles que tal taxa também determina a taxa de investimento. É a partir dessas, digamos, premissas, que os neoclássicos explicam a acumulação. Pós-Universo 22 Na teoria Neoclássica, há algumas premissas que facilitam o entendimento do de- senvolvimento que pode ser explicado da seguinte forma: um investidor, desejando elevar constantemente os lucros, compra ativos de capital, desde que a produtivi- dade marginal do capital seja maior do que o custo. Para tanto, é necessário que se tenha uma baixa taxa de juros no sistema; caso contrário, haverá inibição de in- vestimentos, posto que os investidores deslocarão suas rendas para os setores que propiciarem uma maior taxa de juros. Os juros no sistema podem ser diminuídos, de um lado, pela oferta de capital e, de outro, pelas altas taxas de investimentos, que elevam os preços dos bens de capital. Explicitadas as premissas do desenvolvimento no pensamento neoclássico, note-se, então, que a explicação do processo de acumulação segue a seguinte lógica: inicialmen- te, supõe-se uma melhoria no nível da técnica. Como consequência, há um aumento nos investimentos, o que é fundamental para a acumulação. Com isso, cresce a demanda por bens de capital, elevando-se os preços desses produtos, já que os fatores de pro- dução alocados na fabricação de tais bens são escassos. As elevadas taxas de juros e o aumento dos preços dos bens de capital diminuem os investimentos, restringindo-os aos projetos mais rentáveis. Quando tais projetos são finalizados, tanto a taxa de juros quanto os preços dos bens de capital caem, sobrando para investimento os projetos de pouca rentabilidade, mas que, com o passar do tempo, tornam-se mais lucrativos, permitindo uma maior acumulação. Contudo, devido à tendência de queda na taxa de juros, a acumulação tende a entrar no estado estacionário. Nesse momento, o sistema encontra dificuldades para propiciar um bom nível de desenvolvimento. Ainda conforme o pensamento neoclássico, existe também outra maneira de a acumulação se viabilizar: quando há um aumento na oferta de trabalhador, ou seja, quando a oferta de mão de obra for elástica, esse aumento deve acontecer sem alterar a massa monetária no sistema, sem emissão de dinheiro. Com o aumento da oferta de trabalho, há uma tendência de diminuírem os salários, o que é bom para os empresários. Nesse momento, os produtores preferem que o processo de acumula- ção se dê pelo lado do trabalho, porque terão suas despesas diminuídas, devido aos baixos salários, e, obviamente, serão aumentados os seus lucros. Os neoclássicos entendem, ainda, que a tecnologia é um fator importante no aumento da renda de um país. Quando novas melhorias acontecem nos métodos de fabricação, os custos são reduzidos, os produtores se sentem encorajados a au- mentarem as quantidades produzidas e, como consequência, toda a economia se dinamiza, porque maior produção significa maiores investimentos e mais poupança. Pós-Universo 23 No pensamento econômico neoclássico, o desenvolvimento econômico é gradual e contínuo. A economia está em contínuo equilíbrio. Dessa forma, o desemprego é esporádico. O estado estacionário pode ser afastado com o uso da tecnologia. É uma teoria otimista. Divergindo dos neoclássicos, um pensador no final do século passado e início do presente século elabora uma das mais intrigantes explicações do desenvolvimento econômico - estamos nos referindo a Joseph Alois Schumpeter (1883-1950). BUSCA DO LUCRO PELO EMPRESÁRIO DESENCADEIA INOVAÇÕES NA PRODUÇÃO E NOVAS INDÚSTRIAS ABERTURA DE CRÉDITO BANCÁRIO PARA EMPRESÁRIOS AUMENTA DEMANDA AGREGADA DA ECONOMIA CRIAÇÃO DE NOVOS MERCADOS FAZ COM QUE AS INDÚSTRIAS SE ADEQUEM E MANTENHAM A CONCORRÊNCIA O LUCRO DE CADA EMPRESA IRÁ SE ESPALHAR PELO MERCADO MANTENDO O CRESCIMENTO ECONÔMICO JOSEPH ALOIS SCHUMPTER BU SCA D O LU CRO PELO EM PRESÁ RIO D ESEN CA D EIA IN O VA ÇÕ ES N A PRO D U Ç Ã O E N O VA S IN D Ú STRIA S A BERTU RA D E CRÉD ITO BA N CÁ RIO PA RA EM PRESÁ RIO S A U M EN TA D EM A N D A A G REG A D A D A ECO N O M IA CRIA Ç Ã O D E N O VO S M ERCA D O S FA Z CO M Q U E A S IN D Ú STRIA S SE A D EQ U EM E M A N TEN H A M A CO N CO RRÊN CIA O LU CRO D E CA D A EM PRESA IRÁ SE ESPA LH A R PELO M ERCA D O M A N TEN D O O CRESCIM EN TO ECO N Ô M ICO JO SEPH A LO IS SCH U M PTER Figura 4 - Lucro, Crédito e Mercado em Joseph Alois Schumpter Fonte: o autor. Schumpeter presenciou as grandes transformações que marcaram o seu tempo. Vivenciou o tumultuado fin-de-siècle, a Primeira Guerra Mundial, a Depressão de Trinta, a Segunda Guerra Mundial e, finalmente, a recuperação pós-guerra. Todo esse cenário lhe forneceu os elementos empíricos necessários à explicação do desenvol- vimento econômico contido na sua obra A Teoria do Desenvolvimento Econômico, publicada em 1909. Na teoria schumpeteriana, encontramos, inicialmente, um rompimento teórico com os economistas neoclássicos. O autor não concorda que o desenvolvimento seja harmônico e gradual, conforme pensavam os economistas neoclássicos. Para ele, o processo de desenvolvimento apresenta momentos de prosperidade e de depressão. Pós-Universo 24 Para Schumpeter, a figura central envolvida no processo de desenvolvimento é o empresário, porém, o empresário inovador. Este não é, necessariamente, o proprie- tário da empresa, ou seja, o capitalista, mas pode ser um representante. Reconhece o autor que, às vezes, a posição de proprietário se confunde com a do seu proposto ou com a função diretiva; contudo, o mais importante é que o empresário seja um inovador. Por isso, o empresário deve ser um homem motivado e talentoso, para de- tectar as oportunidades no mundo dos negócios. Além do mais, na concepção de Schumpeter, a busca de lucro por parte do empresário não é motivada somente por razões econômicas, mas também por questões subjetivas inerentes ao ser humano, como vontade de conquistas, desejo de fundar uma dinastia e a satisfação com o ato de criar. São as condições subjetivas apontadas por Baldwin e Maier (1968, p. 124). As inovações, conforme Schumpeter, ocorrem quando há novos arranjos nos fatores de produção. Como decorrência, há a introdução de um novo bem no mercado, descobre-se um novo método de produção, abre-se um novo mercado e reorgani- zam-se novas indústrias. Na visão schumpeteriana, toda inovação suscita o problema do financiamento, isso porque o empresário inovador deve construir as instalações para possibilitar a existência da inovação, o que requer um poder de compra novo, que se adiciona ao conjunto da economia, ou seja, aumenta a demanda agregada, porque as inovações implicam novos investimentos e consumo. Então, para viabilizar as inovações, é ne- cessário o crédito bancário. No paradigma schumpeteriano, não existe poupança prévia que se transforme em investimentos inovadores, porque o seu modelo de desenvolvimento tem como referência inicial uma economia no estado estacionário. Daí a necessidade do crédito bancário, que funcione como start na economia. Nesse sentido, devemos notar que por meio da participação do crédito no pro- cesso de desenvolvimento econômico é que se pode afirmar a irregularidade do desenvolvimento e isso se dá porque o crédito pode ser aumentado ou diminuído. Colocado o crédito à disposição do empresário inovador; o que se espera é a obten- ção de lucros decorrentes das inovações empresariais. Pós-Universo 25 Nesse sentido, Napoleoni (1990, p. 52) observou que: “ O exemplo maisóbvio de inovação que dá lucro é o da produção de um bem de uso comum a um custo unitário menor do que o de qualquer outra firma e isto porque se usa na sua produção um método novo que comporta por unidades de produtos uma quantidade menor de um ou de todos os fatores. Assim sendo, o empresário comprará os meios de produção de que necessita a preços de mercado, ou seja, a preços com que operam as velhas empresas, fará algumas inovações durante a produção e venderá o seu novo produto, também, a preços de mercado, quase sempre elevados. Como houve uma diminuição de custos devido à inovação, a diferença entre o preço de mercado e os custos é o lucro. Podemos, então, dizer que a inovação possibilitou diminuir custos e elevou a produtividade, aumen- tando, com isso, a receita do empresário inovador. Finalmente, no que diz respeito ao de- senvolvimento econômico, deve-se levar em conta que o lucro que surge em uma firma tende a se generalizar por todo o sistema devido à concorrência entre as empresas. Estas tenderão a manter um nível de tecnolo- gia semelhante para melhor concorrerem. Aliás, a concor- rência, para Schumpeter, se dá entre as firmas inovadoras e as firmas velhas, sendo assim, essa relação é, para ele, a verdadeira concorrência. Pós-Universo 26 KEYNES E A CRÍTICA intervenção ao liberalismo e o estado e Pós-Universo 27 Seguindo na linha de divergências com os clássicos, em 1936, o economista inglês J. M. Keynes publica A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, ou simplesmen- te A Teoria Geral, como se tornou conhecida a obra. Os fatos econômicos que se desenrolaram desde o final da década de vinte e início dos anos trinta colocaram em dúvida alguns dos postulados dos economistas clássicos. Os acontecimentos da época, como queda no emprego e superprodução, mostraram que não ocorria, na prática, uma regulação automática do mercado nem uma demanda correspondente à oferta, advindo daí uma superprodução, ou seja, não se verificava a premissa da Lei de Say de que a oferta gerava a própria demanda. Dessa forma, para se contrapor aos clássicos e para mostrar o funcionamento de uma moderna economia capitalista, Keynes escreveu A Teoria Geral. Logo no pri- meiro capítulo do livro 1, que mal passa de dez linhas, o autor já mostra, com muita clareza, a sua posição em relação aos clássicos. “ DANDO A ÊSTE (sic) livro o título de Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro, pretendo destacar a palavra geral com o intuito de fazer ressaltar o contraste entre os meus argumentos e conclusões e os da teoria clássica em que me formei, e que governa o pensamento econômico, tanto prático como teórico, dos meios académicos e dirigentes desta geração, tal como os dominou no curso dos últimos cem anos. Demonstrarei que os postula- dos da teoria clássica se aplicam apenas a um caso especial e não ao caso geral, pois a situação que ela supõe se acha no limite das situações de equi- líbrio possíveis. Além disso, as características desse caso especial não são as da sociedade econômica em que realmente vivemos de modo que os en- sinamentos daquela teoria resultariam ilusórios e nefastos se tentássemos aplicar as suas conclusões aos fatos da experiência (KEYNES, 1964, p. 20). Pós-Universo 28 QUANTIDADE DE EMPREGO DEPENDE DA RENDA NACIONAL RELAÇÃO ENTRE DEMANDA E PLENO EMPREGO INTERVENÇÃO ESTATAL AUMENTARIA DEMANDA EFETIVA JOHN MAYNARD KEYNES RENDA = CONSUMO + INVESTIMENTO PROMOÇÃO DA MELHOR DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS QUANTIDADE DE EMPREGO DEPENDE DA RENDA NACIONAL RELAÇÃO ENTRE DEMANDA E PLENO EMPREGO INTERVENÇÃO ESTATAL AUMENTARIA DEMANDA EFETIVA JOHN MAYNARD KEYNES RENDA = CONSUMO + INVESTIMENTO PROMOÇÃO DA MELHOR DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS QUANTIDADE DE EMPREGO DEPENDE DA RENDA NACIONAL RELAÇÃO ENTRE DEMANDA E PLENO EMPREGO INTERVENÇÃO ESTATAL AUMENTARIA DEMANDA EFETIVA JOHN MAYNARD KEYNES RENDA = CONSUMO + INVESTIMENTO PROMOÇÃO DA MELHOR DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS QUANTIDADE DE EMPREGO DEPENDE DA RENDA NACIONAL RELAÇÃO ENTRE DEMANDA E PLENO EMPREGO INTERVENÇÃO ESTATAL AUMENTARIA DEMANDA EFETIVA JOHN MAYNARD KEYNES RENDA = CONSUMO + INVESTIMENTO PROMOÇÃO DA MELHOR DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS QUANTIDADE DE EMPREGO DEPENDE DA RENDA NACIONAL RELAÇÃO ENTRE DEMANDA E PLENO EMPREGO INTERVENÇÃO ESTATAL AUMENTARIA DEMANDA EFETIVA JOHN MAYNARD KEYNES RENDA = CONSUMO + INVESTIMENTO PROMOÇÃO DA MELHOR DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS QUANTIDADE DE EMPREGO DEPENDE DA RENDA NACIONAL RELAÇÃO ENTRE DEMANDA E PLENO EMPREGO INTERVENÇÃO ESTATAL AUMENTARIA DEMANDA EFETIVA JOHN MAYNARD KEYNES RENDA = CONSUMO + INVESTIMENTO PROMOÇÃO DA MELHOR DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS QUANTIDADE DE EMPREGO DEPENDE DA RENDA NACIONAL RELAÇÃO ENTRE DEMANDA E PLENO EMPREGO INTERVENÇÃO ESTATAL AUMENTARIA DEMANDA EFETIVA JOHN MAYNARD KEYNES RENDA = CONSUMO + INVESTIMENTO PROMOÇÃO DA MELHOR DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS QUANTIDADE DE EMPREGO DEPENDE DA RENDA NACIONAL RELAÇÃO ENTRE DEMANDA E PLENO EMPREGO INTERVENÇÃO ESTATAL AUMENTARIA DEMANDA EFETIVA JOHN MAYNARD KEYNES RENDA = CONSUMO + INVESTIMENTO PROMOÇÃO DA MELHOR DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS QUANTIDADE DE EMPREGO DEPENDE DA RENDA NACIONAL RELAÇÃO ENTRE DEMANDA E PLENO EMPREGO INTERVENÇÃO ESTATAL AUMENTARIA DEMANDA EFETIVA JOHN MAYNARD KEYNES RENDA = CONSUMO + INVESTIMENTO PROMOÇÃO DA MELHOR DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS Figura 5 - Desenvolvimento Econômico em Keynes Keynes (1964) demonstrou que há uma relação entre demanda e pleno emprego. Contudo, a demanda a que se refere o autor é a demanda efetiva, ou seja, a que se realiza. No fundo, o que determina o emprego é a quantidade total de dinheiro co- locada à disposição no mercado, isto é, a Renda Nacional. Para o autor, a quantidade total de empregos depende do volume da Renda Nacional, dos gastos que são efe- tuados na economia. Assim, renda e gasto são iguais e esses gastos são divididos em despesas correntes e poupança. Entende, ainda, Keynes (1964) que as rendas não são gastas de uma só vez, em sua totalidade. Essa afirmação nos permite inferir que o consumo cresce numa proporção menor do que a renda. Desse modo, uma renda maior significa um consumo menor, em termos proporcionais. Assim, as despesas totais diárias de certa comunidade não são equivalentes ao dispêndio total da renda dessa mesma comunidade. A renda da comunidade será igual ao gasto em consumo diário mais outros gastos - os quais são denominados investimentos. Podemos concluir que a renda é igual ao consumo mais investimen- to. Essa afirmação pode ser expressa por meio da seguinte fórmula matemática: R= C+I, em que R é renda; C, consumo; e I é igual a investimento. Podemos, também, dizer que o nível de emprego é determinado por consumo mais investimento, ou seja, pelo nível da renda, o que é a mesma coisa. A poupança (P), por sua vez, é resul- tado da diferença entre renda e consumo. Matematicamente, podemos expressá-la também pela fórmula: P= R-C. Pós-Universo 29 Contudo, para Keynes (1964) é a propensão marginal para o consumo que indi- cará qual vai ser o volume da produção a ser dividido entre investimento e consumo futuro. Se houver uma elevada propensão marginal a consumir, baixará o nível de in- vestimento, porque restará pouco para poupar, e tanto o consumo quanto a renda diminuirão, só que a renda diminuirá em proporção menor. Nesse momento, há um movimento descendente, porque, baixando a renda, há uma nova queda de consumo. Esse movimento continuaria até que toda renda fosse consumida. Isso significa dizer que, quando a renda é igual ao consumo, o investimento é nulo. E, do ponto de vista do desenvolvimento econômico, é necessário haver investimento positivo para gerar emprego, o que, inevitavelmente, será acompanhado de consumo. Segundo Keynes (1964), investimento é determinado pela eficiência marginal do capital e pela taxa de juro. A eficiência marginal do capital é a relação entre ren- dimentofuturo, proporcionado por uma unidade de capital, e o custo para produzir tal unidade. Essa relação redunda em um coeficiente denominado taxa de descon- to. Quanto maior for a taxa de desconto, menor será o incentivo do empresário para investir no presente. Assim, é desejável, para a promoção do desenvolvimento eco- nômico, que o empresário opte mais por rendimentos no presente do que no futuro, para tanto, é necessário que a taxa de desconto seja a mais baixa possível. A política de juros é um dos mais importantes instrumentos de política monetária keynesiana. Controlando-se a quantidade de moeda no sistema e a taxa de desconto oficial, as autoridades monetárias podem elevar ou diminuir as taxas de juros. O que Keynes pretendia com a política monetária era aumentar a eficiência marginal do capital. Por isso, o objetivo primeiro da política monetária é o de aumentar a oferta de moeda para diminuir a taxa de juro de “tal maneira que tendo em conta a curva da eficiência marginal do capital do momento, ele induza um fluxo de investimento líquido compatível com o pleno emprego” (DELFAUD, 1988, p. 67). Ainda conforme Delfaud (1988), a redução do investimento provoca, simultanea- mente, uma baixa da taxa de juro real e uma subida da produtividade marginal do capital. É, portanto, estimulada a tendência a investir, dinamiza-se o sistema. Na perspectiva keynesiana, o desenvolvimento econômico acontece com a in- tervenção do Estado. Keynes não acreditava que o desenvolvimento econômico se desse sob a autorregulação do mercado. Além disso, a intervenção estatal era um fator preponderante para o aumento da demanda efetiva. A ação do Estado na eco- nomia promoveria um aumento e uma melhor distribuição de recursos, por meio do planejamento, objetivando superar o baixo consumo. atividades de estudo Neste estudo, apresentamos as principais teorias econômicas que irão predominar já a partir do século XIX e servir de substrato para a prevalência do liberalismo como modelo econômico predominante. Com base nesses fundamentos, responda as questões a seguir. 1. A máxima de Adam Smith e que norteia a defesa de sua teoria econômica, denomi- nada de “a mão invisível da economia regularia os mercados”, quer dizer que: a) O Estado deve interferir, como lhe convier, na economia, pois a intervenção estatal é necessária para garantir a negociação entre os comerciantes. b) O Estado entra como um suporte necessário para organizar a vida em sociedade, contudo, como forma de garantir o maior grau de liberdade possível e necessá- rio, ele deve se abster o máximo possível de interferir na vida dos cidadãos. c) A intervenção estatal depende de toda uma política de desenvolvimento de caráter protecionista, fortemente estatal. d) O desenvolvimento econômico é baseado na produção dos comerciantes, ou seja, “a mão invisível” são os recursos gerados pelos produtores agrícolas. e) Nenhuma das alternativas anteriores. 2. Quando se trata da teoria econômica de Alexander Hamilton, é possível dizer que: a) Torna-se importante a presença do Estado e a proteção que este dá ao mercado, contra a concorrência, além de possuir o objetivo de incentivar as manufaturas e protegê-las. b) Ela defende a ideia de que, quanto menor for a participação do Estado, melhor será para a atividade econômica, principalmente aquelas situadas na chamada “zona de risco”. c) A acumulação capitalista foi precedida por um processo prévio de expropriação de terras, riquezas naturais e por pilhagem de diversas naturezas, sendo a partir desse processo que se formou o estoque de capital necessário ao desenvolvi- mento capitalista. d) A taxa de juros e o nível de renda determinam a taxa de poupança. Entendia que o futuro é incerto e, por isso, é preferível possuir uma certa quantidade de dinhei- ro hoje do que uma quantidade maior no futuro. e) Nenhuma das alternativas anteriores. atividades de estudo 3. De acordo com a teoria econômica-política defendida por Karl Marx, os problemas que podem advir de um crescimento econômico com fundamento na acumulação de riquezas são: a) A exportação de capital financeiro gera obrigações nos países tomadores de empréstimos, em forma de pagamento de juros da dívida. Esses lucros são incor- porados à economia dos países que fazem o empréstimo, gerando neles mais empregos, minimizando ou afastando as crises. b) A possibilidade de um uso maior de máquinas do que o setor agrícola, aumen- tando, com isso, o produto geral da nação. c) A diminuição das importações, o que é prejudicial ao país, e o aumento do mercado de trabalho. d) O surgimento das crises em razão da diminuição da taxa de lucro, pois devido ao desemprego tecnológico e pela constante “ameaça” do Exército de Reserva, há uma queda da demanda efetiva e consequente redução da venda de mercadorias. e) Nenhuma das alternativas anteriores. 4. John Maynard Keynes é um liberal e disso não restam dúvidas. Além disso, ele de- senvolveu uma teoria geral que o diferencia dos demais teóricos de sua época. Um dos principais pensamentos de Keynes consiste em: a) Não concorda o autor que o desenvolvimento seja harmônico e gradual. Para ele, o processo de desenvolvimento apresenta momentos de prosperidade e de depressão. b) Segundo o autor, as transações internacionais entre os países periféricos e centrais estabelecem uma situação de dependência para os países periféricos: dependên- cia econômica e política. c) Um investimento determinado pela eficiência marginal do capital e pela taxa de juro. A eficiência marginal do capital é a relação entre rendimento futuro, proporcio- nado por uma unidade de capital, e o custo para produzir tal unidade. Essa relação redunda em um coeficiente denominado taxa de desconto. Quanto maior for a taxa de desconto, menor será o incentivo do empresário para investir no presente. d) Para produzir o quanto antes as mudanças desejáveis, são necessários, pois, o es- tímulo e o patrocínio do governo. e) Nenhuma das alternativas anteriores. resumo Neste estudo, foi possível expor uma breve e sintética construção das principais teorias econô- micas que moveram a sociedade dos séculos XIX e XX. Não se pode negar que a prevalência desse pensamento e dessa construção econômica é de ordem liberal; no entanto, com Karl Marx apresenta a possibilidade de uma análise diferente desses modelos econômicos tradicionais, tomando como ponto referencial que a história da hu- manidade é a história das lutas de classes e o grande motor é a economia. Como é da característica do pensamento liberal clássico, o Estado entra como um suporte ne- cessário para organizar a vida em sociedade, contudo, como forma de garantir o maior grau de liberdade possível e necessário, ele deve se abster o máximo possível de interferir na vida dos ci- dadãos e admitir a máxima de Adam Smith, acreditando na “mão invisível” que move a economia e que, em uma relação da lei da oferta-procura, possa regular os excessos. No entanto, na perspectiva desenvolvida por John Maynard Keynes, um liberal clássico, mas que constrói o seu próprio modelo econômico, o Estado precisa ser um agente ativo e participante diuturno da economia, principalmente em momento de crise emergente, como aquele que se caracteriza com o final da Segunda Guerra Mundial. Sendo assim, é possível inferir que é necessário, para o estudante de Direito e da própria socie- dade, reconhecer que, quando se trata de economia, duas perspectivas se apresentam: primeiro, se mantém na ignorância e passa a ser vítima de um processo que se torna cada vez mais incom- preensível; ou, em uma segunda opção, busca-se uma compreensão das teorias e dos fenômenos econômicos e se passa a ser um agente ativo, com capacidade de fornecer instrumentos para a interferência, amenização e alerta quanto aos resultados que se obtém por meio da economia. material complementar Introdução à Teoria do Crescimento EconômicoAutor: Charles I. Jones; Dietrich Vollrath Editora: Elsevier - Campus Sinopse: é difícil superestimar a importância do crescimento econômico. O aumento de mais de dez vezes na renda dos Estados Unidos no último século é resultado do crescimento econômico. Este também explica por que as rendas per capita dos Estados Unidos e da Europa Ocidental são cerca de cinquenta vezes maiores que as de muitos países da África subsaariana. Desde meados da década de 80, o crescimento tem sido um dos campos de pesquisa mais ativos da teoria econômica. Contudo, embora desempenhem um papel de grande proeminência no discurso acadêmico e nas pós-graduações, foi apenas há pouco tempo que os avanços da pesquisa chegaram ao nível de ensino da graduação. Boa parte desse atraso se deve ao fato de que esses avanços têm sido discutidos, principalmente, em textos acadêmicos. O resultado é um acúmulo de publicações fascinantes, mas altamente técnicas e repletas de matemática - a moderna linguagem da economia. Esse livro traduz essas contribuições em linguagem mais acessível. As percepções fundamentais das teorias do crescimento, antigas e modernas, são explicadas com ênfase na economia, em vez de na matemática. Não é ne- cessário um conhecimento muito além do cálculo ensinado pela maioria das faculdades e universidades, no primeiro período. Mais ainda, a maior parte da matemática necessária é apresentada com o modelo de Solow, no Capítulo 2; a análise dos capítulos seguintes apenas reutiliza essas ferramentas. referências BALDWIN, R. E.; MEIER G. M. Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Mestre Jou, 1968. COUTINHO, D. R. Direito, Desigualdade e Desenvolvimento. São Paulo: Saraiva, 2013. DELFAUD, P. Keynes e o Keynesianismo. Editora: Publicações. Europa. Portugal. 1988. DENIS, H. História do Pensamento Econômico. Lisboa: Editora, Livros Horizontes, 1975. FALCON, F. Mercantilismo e transição. São Paulo: Brasiliense, 1993. FURTADO, C. Desenvolvimento e Subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1963. GALBRAITH, J. K. O Pensamento Econômico em Perspectiva. Uma História Crítica. São Paulo: Edusp, 1983. HUNT, E. K.; SHERMAN, H. J. História Pensamento Econômico. Petrópolis: Vozes, 1986. 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São Paulo: Atlas, 1999. resolução de exercícios 1. b) O Estado entra como um suporte necessário para organizar a vida em sociedade, contudo, como forma de garantir o maior grau de liberdade possível e necessário, ele deve se abster o máximo possível de interferir na vida dos cidadãos. 2. a) Torna-se importante a presença do Estado e a proteção que este dá ao mercado, contra a concorrência, além de possuir o objetivo de incentivar as manufaturas e protegê-las. 3. d) O surgimento das crises em razão da diminuição da taxa de lucro, pois devido ao desemprego tecnológico e pela constante “ameaça” do Exército de Reserva, há uma queda da demanda efetiva e consequente redução da venda de mercadorias. 4. c) Um investimento determinado pela eficiência marginal do capital e pela taxa de juro. A eficiência marginal do capital é a relação entre rendimento futuro, proporcio- nado por uma unidade de capital, e o custo para produzir tal unidade. Essa relação redunda em um coeficiente denominado taxa de desconto. Quanto maior for a taxa de desconto, menor será o incentivo do empresário para investir no presente. _3j2qqm3 Adam Smith e David Ricardo e a formulação da concepção liberal de desenvolvimento O PENSAMENTO MARXISTA como contraponto às ideias liberais O DESENVOLVIMENTO NO pensamento do final do século XIX e início do século XX KEYNES E A CRÍTICA ao liberalismo e o estado e intervenção
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