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INTRODUÇÃO A disciplina Contabilidade Geral visa capacitar os alunos a compreenderem as informações geradas pela Contabilidade Financeira e pela Contabilidade Gerencial. O Módulo 1 é dedicado à Contabilidade Financeira. Estudaremos a estrutura, o propósito e as características das demonstrações contábeis de uso geral, além de elaborarmos essas demonstrações como consequência da contabilização de várias operações. Nos módulos 2 e 3, estudaremos a contabilização de algumas transações típicas para a maior parte das empresas brasileiras: contas a receber de clientes, estoque e imobilizado. Nos módulos 4 e 5, estudaremos a análise das demonstrações contábeis. Nos módulos 6, 7 e 8, estudaremos a Contabilidade Gerencial, cujo foco será tanto na elaboração da informação de custos pelo custeio variável e pelo custeio por absorção quanto no uso da informação gerada pelo custeio variável para tomada de decisão gerencial, considerando a análise da margem de contribuição e do ponto de equilíbrio. SUMÁRIO MÓDULO I – INTRODUÇÃO ÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DE PROPÓSITO GERAL ............... 11 POR QUE ESTUDAR CONTABILIDADE? .......................................................................................... 12 CONTABILIDADE: DEFINIÇÃO ......................................................................................................... 13 OBJETIVO DA CONTABILIDADE ....................................................................................................... 13 USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL....................................................................................... 14 LIMITAÇÕES DA CONTABILIDADE .................................................................................................. 15 PRINCIPAIS DEMONSTRAÇÕES ELABORADAS PELA CONTABILIDADE FINANCEIRA ............... 15 Balanço Patrimonial ................................................................................................................ 16 Demonstração do Resultado do Exercício ........................................................................... 23 Demonstração dos Fluxos de Caixa ...................................................................................... 27 CONCEITOS FUNDAMENTAIS ......................................................................................................... 32 Patrimônio ................................................................................................................................ 32 Ativo ........................................................................................................................................... 32 Passivo ....................................................................................................................................... 32 Patrimônio Líquido .................................................................................................................. 33 Resultado .................................................................................................................................. 33 Receita ....................................................................................................................................... 33 Despesa ..................................................................................................................................... 34 Como Receita e Despesa afetam o Patrimônio Líquido (Ativo Líquido) ........................... 34 EQUAÇÃO CONTÁBIL E NATUREZA DAS CONTAS ........................................................................ 34 ANÁLISE E REGISTRO DAS TRANSAÇÕES FINANCEIRAS .............................................................. 36 MECÂNICA CONTÁBIL E ELABORAÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL ...................................... 38 REGIME DE COMPETÊNCIA X REGIME DE CAIXA .......................................................................... 48 MÓDULO II – CONTABILIZAÇÃO DE TRANSAÇÕES TÍPICAS (1ª PARTE) .......................................... 53 RECEITA DE CONTRATO COM CLIENTES ....................................................................................... 53 Conceituação ............................................................................................................................ 53 Cinco etapas para o reconhecimento da receita ................................................................. 53 Etapa 1: identificação do contrato com cliente .............................................................. 54 Etapa 2: identificação das obrigações de desempenho ................................................ 54 Etapa 3: determinar o preço da transação ..................................................................... 55 Etapa 4: alocar o preço da transação às obrigações de desempenho ....................... 56 Etapa 5: reconhecer a receita ........................................................................................... 57 Mecânica contábil e elaboração das demonstrações contábeis: receita ......................... 59 MENSURAÇÃO E RECONHECIMENTO DAS PERDAS EM CONTAS A RECEBER ..................................... 66 Mecânica contábil e elaboração das demonstrações contábeis: PECLD ......................... 70 Caso da Droga Raia: clientes .................................................................................................. 72 MÓDULO III – CONTABILIZAÇÃO DE TRANSAÇÕES TÍPICAS (2ª PARTE) ......................................... 75 OPERAÇÃO COM MERCADORIAS ................................................................................................... 75 Conceituação ............................................................................................................................ 75 Principais itens que compõem o Estoque ............................................................................ 76 Critérios de avaliação do estoque ......................................................................................... 77 Critérios de controle do estoque ........................................................................................... 81 Conceito e mensuração do CMV ............................................................................................ 81 Peps ou Fifo ......................................................................................................................... 82 Custo médio ponderado.................................................................................................... 84 CMPM: controle permanente ...................................................................................... 84 Identificação específica ...................................................................................................... 85 Mecânica contábil e elaboração das demonstrações contábeis: estoques ..................... 85 Caso da Droga Raia: estoques ............................................................................................... 91 IMOBILIZADO .................................................................................................................................... 92 Conceito .................................................................................................................................... 92 Caso da Droga Raia: imobilizado ........................................................................................... 92 Critérios de avaliação do imobilizado ................................................................................... 96 Significado de depreciação ..................................................................................................... 99 Critérios de mensuração da depreciação .......................................................................... 100 Métodos das quotas constantes ................................................................................... 101 Métododo benefício consumido .................................................................................. 104 Mecânica contábil e elaboração das demonstrações contábeis: depreciação ............ 106 MÓDULO IV – ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS (INTRODUÇÃO) ............................. 115 PROPÓSITO DA ANÁLISE .............................................................................................................. 116 OBTENÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ...................................................................... 117 INVESTIGAR A CONFIABILIDADE DA INFORMAÇÃO OBTIDA ................................................... 119 DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS ...................................................................................................... 122 CÁLCULOS ...................................................................................................................................... 123 Análise vertical ...................................................................................................................... 123 Análise horizontal ................................................................................................................. 125 Análise por indicadores ....................................................................................................... 129 Indicadores de liquidez ................................................................................................... 130 Liquidez corrente ....................................................................................................... 131 Liquidez geral .............................................................................................................. 131 Indicadores de endividamento ...................................................................................... 133 Endividamento geral .................................................................................................. 133 Endividamento oneroso ............................................................................................ 134 Indicadores de rentabilidade ......................................................................................... 136 Retorno sobre o patrimônio líquido ........................................................................ 136 A polêmica do PL médio ............................................................................................ 137 Retorno sobre o ativo ................................................................................................ 138 MÓDULO V – CONTABILIDADE DE CUSTOS .................................................................................... 141 CONCEITOS FUNDAMENTAIS E CLASSIFICAÇÃO DE CUSTOS .................................................. 141 Estrutura fundamental para o estudo de Contabilidade Gerencial............................... 141 Quanto ao produto: custos diretos e indiretos ................................................................ 143 Custos diretos .................................................................................................................. 143 Custos indiretos ............................................................................................................... 143 Quanto ao volume: custos fixos e variáveis ...................................................................... 146 Custos variáveis ............................................................................................................... 146 Custos fixos ...................................................................................................................... 147 Comentário sobre intervalo relevante ............................................................................... 148 Comentário sobre custos híbridos ..................................................................................... 149 Comentário sobre a mão de obra ...................................................................................... 150 SISTEMAS E MÉTODOS DE CUSTEIO ........................................................................................... 152 Fluxos de produção nos sistemas de custeio ................................................................... 154 Método de custeio por absorção ........................................................................................ 155 Método de custeio variável ................................................................................................. 156 Comentário sobre a conciliação entre os métodos de custeio ...................................... 158 Comentário sobre a capacidade instalada e a legislação societária ............................. 159 MÓDULO VI – RELAÇÃO CUSTO-VOLUME-LUCRO (1ª PARTE) ....................................................... 165 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 165 PONTO DE EQUILÍBRIO ................................................................................................................ 168 Ponto de equilíbrio contábil ................................................................................................ 168 Ponto de equilíbrio econômico ........................................................................................... 169 MARGEM DE SEGURANÇA ............................................................................................................ 170 MÓDULO VII – RELAÇÃO CUSTO-VOLUME-LUCRO (2ª PARTE) ...................................................... 173 MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO DE MÚLTIPLOS PRODUTOS: MIX DE PRODUTOS .................. 173 CONTRIBUIÇÃO MARGINAL E LIMITAÇÃO DA CAPACIDADE DA PRODUÇÃO: FATOR RESTRITIVO ..................................................................................................................................... 176 Solução gráfica ...................................................................................................................... 179 Solução com auxílio do Solver ............................................................................................ 180 CONTRIBUIÇÃO MARGINAL E PEDIDOS ESPECIAIS .................................................................. 183 APÊNDICE ........................................................................................................................................... 185 MÓDULO I ...................................................................................................................................... 185 I) Funções desempenhadas ................................................................................................. 185 II) Demais demonstrações ................................................................................................... 186 III) ESTRUTURA CONCEITUAL PARA ELABORAÇÃO E DIVULGAÇÃO DO RELATÓRIO CONTÁBIL- FINANCEIRO ................................................................................................................................... 188 CPC 00, Capítulo 1: Objetivo do relatório contábil-financeiro de propósito geral ....... 189 CPC 00, Capítulo 3: estrutura conceitual para elaboração e divulgação do relatório contábil-financeiro ................................................................................................................ 190 Características qualitativas fundamentais da informação contábil útil ................... 190 Características qualitativas de melhoria da informação ............................................ 193 Aplicação conjunta das características qualitativas de melhoria ........................ 195 Restrição de custo na elaboração e na divulgação de relatório contábil-financeiro ........................................................................................................................................... 196 CPC00, Capítulo 4: Premissa subjacente – Continuidade ............................................... 196 MÓDULO III .................................................................................................................................... 197 I) Custo médio ponderado fixo: controle periódico ......................................................... 197 II) Método do varejo (dos estoques) ................................................................................... 198 III) Perda por redução ao valor recuperável (impairment do imobilizado) .................... 198 MÓDULO IV .................................................................................................................................... 207 I) Elaboração do parecer ...................................................................................................... 207 Contextualização da empresa, dos produtos e das atividades ................................ 208 Propósito da análise ........................................................................................................ 209 Fonte dos dados, ajustes e reclassificações necessários, índice de preço .............. 209 Parâmetro de comparação ............................................................................................ 209 Estrutura de investimentos, financiamentos e de resultados: análise vertical ............ 209 Comportamento do resultado e da situação patrimonial da empresa: análise horizontal .......................................................................................................................... 210 Situação econômico-financeira: liquidez, endividamento e rentabilidade – análise por indicadores ....................................................................................................................... 211 Conclusão ......................................................................................................................... 212 MÓDULO VI .................................................................................................................................... 213 I) Quanto à ocorrência ......................................................................................................... 213 Custos básicos ................................................................................................................. 213 Custos de transformação ............................................................................................... 213 Custo fabril ....................................................................................................................... 214 Custo dos produtos fabricados ..................................................................................... 215 Custo dos produtos vendidos ........................................................................................ 215 II) Outras classificações de custos ...................................................................................... 216 Custo irrecuperável ......................................................................................................... 216 Custo de oportunidade ................................................................................................... 219 Custo controlável ............................................................................................................. 220 III) Comentário complementar sobre objeto de custeio ................................................. 220 IV) Método de custeio baseado em atividades ................................................................. 224 MÓDULO VII ................................................................................................................................... 227 I) Ponto de equilíbrio financeiro ......................................................................................... 227 II) Alavancagem operacional ............................................................................................... 228 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 230 PROFESSOR-AUTOR ........................................................................................................................... 231 No fim deste módulo, o aluno deverá saber o que é a Contabilidade, o seu objeto de estudo e o seu objetivo1 e limitações. Além disso, neste módulo, você vai estudar as principais demonstrações contábeis: Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício e Demonstração dos Fluxos de Caixa. Buscando tornar o processo de aprendizagem mais dinâmico, ilustramos os conceitos mediante a apresentação das demonstrações contábeis da empresa Raia Drogasil S.A., referentes ao período encerrado em 31 de dezembro de 2018. Raia Drogasil S.A. é a razão social da firma conhecida pelas marcas Droga Raia e Farmasil, uma companhia aberta com ações negociadas na BM&FBovespa que comercializa medicamentos, cosméticos e outros itens de higiene pessoal.2 Para facilitar a sua identificação, vamos referir-nos à empresa pelo nome fantasia – Droga Raia. A estrutura conceitual estabelecida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC (conhecida como Pronunciamento CPC 00), aprovada pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM (Deliberação CVM nº 539/08) e pelo Conselho Federal de Contabilidade – CFC (Resolução CFC nº 1.121/08) é comentada no Apêndice. A adequada compreensão deste módulo é fundamental ao estudo dos Módulos II e V, que tratam do reconhecimento contábil de transações típicas que afetam a maior parte das empresas e da análise das demonstrações contábeis, respectivamente. 1 De acordo com os objetivos desta disciplina, a Contabilidade é ensinada como a “linguagem dos negócios”. 2 Detalhes sobre a empresa podem ser encontrados no seu website: <http://www.raiadrogasil.com.br>. MÓDULO I – INTRODUÇÃO ÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DE PROPÓSITO GERAL 12 Por que estudar Contabilidade? “A Contabilidade é a linguagem dos negócios”. Se você não sabe ler o placar, não sabe como anda o jogo nem distingue os vencedores dos perdedores. Segundo o grande investidor norte-americano Warren Buffett (BUFFETT; CLARK, 2007),3 existem muitas maneiras de descrever o que está acontecendo com uma empresa. No entanto, seja lá o que se diga, sempre se retorna à língua da Contabilidade. Quando a filha do seu amigo perguntou que disciplinas cursar na faculdade, ele respondeu: “Contabilidade, a língua dos negócios”. Para interpretar as demonstrações financeiras de uma empresa, você tem de saber interpretar os números. Para isso, precisa aprender Contabilidade. Desse modo, podemos concluir que, por meio da Contabilidade, traçam-se objetivos, mensuram-se resultados e avaliam-se desempenhos. É por meio dos relatórios elaborados com base no sistema de informações contábeis que administradores decidem o preço a ser praticado, o mix de produtos a ser vendido e a tecnologia a ser utilizada. Como toda e qualquer linguagem, a Contabilidade utiliza sinais e símbolos cognitivos próprios, possui um vocabulário específico e uma “gramática” própria. Não falar a linguagem própria, bem como não compreender os seus conceitos fundamentais e os seus princípios norteadores torna difícil a interpretação de relatórios e a participação no mundo dos negócios. Sem um conhecimento formal de Contabilidade, como seria a análise de uma empresa? Como se calcularia a sua capacidade de pagar as dívidas, a sua lucratividade ou mesmo o retorno do capital? A Demonstração da Controladora – muitas vezes, denominada pelo termo em inglês holding – representa a entidade constituída de forma legal que possui participações societárias em outras empresas. É essa empresa que possui ações negociadasna Bolsa de Valores, e que paga impostos e dividendos. Visando a gerar melhor informação, a Contabilidade desenvolveu uma técnica para evidenciar informações de uma entidade econômica abstrata, admitindo que a empresa controladora e as suas controladas sejam uma única entidade objeto de contabilização. Essa aglutinação gera as “Demonstrações Consolidadas”, que propiciam a visão integrada do conjunto formado legalmente pelas diversas empresas existentes. Em termos de análise, a Demonstração Consolidada tem uma qualidade superior e propicia a comparação com os outros conglomerados. Nesta edição, reproduzimos apenas as Demonstrações Consolidadas. 3 BUFFETT, Mary; CLARK, David. O Tao de Warren Buffett: como aplicar a sabedoria e os princípios de investimento do gênio das finanças em sua vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2007. 13 Contabilidade: definição A Contabilidade é a ciência social que tem por objetivo medir, para poder INFORMAR, os aspectos quantitativos e qualitativos do patrimônio de quaisquer entidades. Constitui um instrumento para a gestão e o controle das entidades, além de representar um sustentáculo da democracia econômica, já que, pelo seu intermédio, a sociedade é informada sobre o resultado da aplicação dos recursos conferidos às entidades. A contabilidade é o processo cujas metas são registrar, resumir, classificar e comunicar as informações financeiras. O input desse processo são as transações que a empresa efetua. O output são as demonstrações contábeis. Constitui-se no grande banco de dados de todas as empresas. Genericamente, pode-se dizer que a contabilidade é uma indústria, tendo como matéria-prima os dados econômico-financeiros captados pelos registros contábeis e processados de forma ordenada, gerando as Demonstrações Contábeis ou Demonstrações Financeiras – como são denominadas pela legislação brasileira – como produto final. É possível visualizar essa afirmação por meio da seguinte ilustração: Figura 1 – Contabilidade: matéria-prima e produto final A Contabilidade possui a estrutura lógica conceitual fundamentada nos seus princípios norteadores. A capacidade informativa da Contabilidade e a estruturação do sistema contábil são viabilizadas por meio da elaboração de um “bom” Plano de Contas, que ordena todas as contas utilizadas pela empresa por natureza e viabiliza a definição das áreas da empresa em que são incorridos os gastos. Além disso, um “bom” Plano de Contas deve, ainda, permitir o seu aprimoramento, bem como a criação de novas contas e detalhamentos (subcontas), sem prejuízo de toda a sua estrutura. Objetivo da Contabilidade A Contabilidade é uma ciência fundamentalmente utilitária. O seu grande produto é o provimento de informações para planejamento e controle, evidenciando informações referentes à situação patrimonial, econômica e financeira de uma empresa. 14 O propósito básico da Contabilidade é prover aos “tomadores de decisões” – diretores, gerentes, administradores da empresa e todos os interessados – informações úteis para a sua melhor atuação. De modo objetivo, a Contabilidade é um sistema de informação e avaliação destinado a prover os seus usuários com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e de produtividade no que tange à entidade objeto da contabilização. A Contabilidade Financeira – ou Societária –, a linguagem dos negócios, objetiva mostrar a saúde financeira da empresa. Usuários da informação contábil A coleta – obtenção –, o registro e a sumarização da informação econômica visam a fundamentar o processo decisório de todas as pessoas relacionadas com as entidades, tais como os administradores, os investidores, o governo, os empregados, os financiadores e toda a sociedade, ou seja, aqueles que constituem os agentes econômicos internos e externos. De acordo com o objetivo de cada usuário – decisão quanto a investimentos ou financiamentos, distribuição de resultados, entre outros –, existe uma demanda diferenciada de informações contábeis. Por esse motivo, podemos dividir os usuários da informação do seguinte modo: � acionista controlador – retorno do capital comparado com o risco, a valorização da empresa, o lucro e os dividendos; � administradores – retorno do capital e do ativo, otimização dos gastos realizados, otimização das decisões futuras, lucratividade do mix de produtos e participação nos lucros; � financiadores – capacidade de pagamento, grau de endividamento; � governo – tributação e arrecadação de impostos, taxas e contribuições, além da formulação de diretrizes da política econômica, bem como das atividades do Judiciário e das agências reguladoras; � acionista minoritário – fluxo regular de dividendos e valorização da empresa e � empregados – capacidade de pagamento dos salários, perspectivas de crescimento da empresa e participação nos lucros. De forma geral, pode-se dizer que o conjunto completo de demonstrações contábeis normatizadas pelo International Accounting Standards Board (Iasb) e pelo CPC visa a gerar informação relevante a um amplo grupo de usuários que não têm condições de exigir informação detalhada para atender às suas necessidades específicas. 15 Limitações da contabilidade Infelizmente, deve-se reconhecer que as informações contábeis não podem reproduzir o patrimônio da empresa com total fidelidade e certeza de forma a atender com plenitude às necessidades informacionais de todos os usuários. A contabilidade utiliza avaliações e, como todo sistema de mensuração, tem limitações – inclusive de custo-benefício –, pois deve conciliar a utilidade da informação com os requisitos da praticabilidade e da objetividade. O fato de a contabilidade se concentrar na avaliação monetária apresenta um grande aspecto positivo, mas também enseja limitações, visto que é impossível a quantificação monetária de todos os eventos econômicos. O processo de avaliação é agravado pelo problema da flutuação de preços, que impacta de forma definitiva a avaliação do patrimônio líquido e do resultado ao longo do tempo. Desse modo, a informação do lucro líquido não deveria ser a única medida de avaliação do sucesso de uma empresa durante um período. O resultado exato de uma empresa – ou seja, a variação do patrimônio investido pelos proprietários – somente poderá ser apurado no fim da sua vida, quando os ativos da empresa forem liquidados. No entanto, para proporcionar informações úteis, a Contabilidade tem a missão de calcular o resultado a intervalos regulares de tempo. Esse é o motivo pelo qual a Contabilidade é estruturada sobre o conceito de lucro – regime de competência –, e não sobre o conceito de caixa – regime de caixa. Para aprimorar essa informação, é preciso introduzir, na quantificação do lucro, variáveis não monetárias de mensuração subjetiva, como custo de oportunidade, inovação tecnológica, qualidade de produtos, satisfação da clientela, investimentos sociais, ambientais e treinamento de empregados. No entanto, um aspecto fundamental deve ser esclarecido. O controle por meio das informações contábeis é imprescindível para todas as empresas. Em longo prazo, na avaliação da gestão da empresa, o conceito de Lucro é superior ao de Caixa, apesar de este ser uma informação contábil de grande utilidade. O conceito de lucro é obtido por meio do Regime de Competência, que representa a alocação lógica e racional do fluxo de caixa ao longo da vida da empresa. Dessa forma, a diferença entre o conceito de lucro e de caixa é apenas temporal, visto que esses conceitos são idênticos no fim da vida da empresa. Principais demonstrações elaboradas pela Contabilidade Financeira As principais demonstrações elaboradas pela Contabilidade Financeira são as demonstrações contábeis de propósito geral. Isto é: relatórios contábil-financeiroselaborados com o objetivo de gerar 16 informação útil a uma ampla gama de usuários – investidores e credores, potenciais e efetivos – que não têm condições de exigir relatórios específicos para as suas necessidades informacionais. De acordo com os International Financial Reporting Standards (IFRSs), o conjunto completo de demonstrações contábeis de propósito geral é composto de: balanço patrimonial, demonstração do resultado do exercício, demonstração dos fluxos de caixa, demonstração das mutações do patrimônio líquido e notas explicativas. A legislação brasileira (Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976 – LSA) adicionou a demonstração do valor adicionado a esse rol. A seguir, apresentamos tais relatórios. Balanço Patrimonial O Balanço Patrimonial tem como objetivo mostrar a posição patrimonial e financeira de determinada empresa em um momento específico e informar a capacidade de geração dos fluxos futuros de caixa. Toda empresa prepara o seu Balanço Patrimonial no fim de cada ano. As companhias abertas têm a obrigação de divulgá-lo ao público assim como as demais peças contábeis, a cada trimestre. Para efeito interno (gerencial), o ideal é a elaboração na periodicidade mensal. O Balanço Patrimonial relaciona e quantifica cada conta do Ativo, do Passivo e do Patrimônio Líquido no último dia do período. Por meio dessa relação, o proprietário sabe o que possui (ex.: caixa, estoque, equipamentos), o que deve (contas a pagar, empréstimos) e quanto possui de patrimônio, líquido de dívidas, no fim do período. Este consiste no capital empreendido no negócio mais os lucros, menos os prejuízos. O Balanço Patrimonial consiste na relação, de modo ordenado, dos ativos (bens e direitos), dos passivos (obrigações) e do patrimônio líquido (diferença entre os ativos e os passivos) de uma empresa. A estrutura do Balanço Patrimonial é a seguinte: ativo passivo patrimônio líquido O Ativo evidencia onde está o dinheiro aplicado na empresa. O Passivo e o Patrimônio Líquido mostram qual é a fonte do dinheiro aplicado na entidade. ativo passivo aplicação de recursos Onde está o dinheiro? origem de recursos De onde o dinheiro veio? patrimônio líquido 17 A seguir, o Balanço Patrimonial representa a posição financeira da Droga Raia, em 31 de dezembro de 2017. Tabela 1 – Posição financeira da Droga Raia (31/12/2018) Descrição 31/12/2018 31/12/2017 Ativo Total 7.352.005 6.464.249 Ativo Circulante 4.529.825 3.928.204 Caixa e Equivalentes de Caixa 241.568 264.873 Clientes 937.389 930.071 Adiantamentos a Funcionários 6.849 6.216 Devoluções a Fornecedores 3.824 6.656 Acordo Comerciais 99.376 94.240 Outros 46.798 11.891 Estoques 3.087.275 2.517.594 Tributos a Recuperar 84.852 78.778 Despesas Antecipadas 21.894 17.885 Ativo Não Circulante 2.822.180 2.536.045 Ativo Realizável em Longo Prazo 72.832 68.753 Outras Contas a Receber 1.589 1.622 Despesas Antecipadas 1.128 4.941 Depósitos Judiciais 25.770 29.215 Tributos a Recuperar 44.345 32.975 Imobilizado 1.546.960 1.276.276 Intangível 1.202.388 1.191.016 Descrição 31/12/2018 31/12/2017 Passivo Total 7.352.005 6.464.249 Passivo Circulante 2.913.445 2.493.779 Obrigações Sociais e Trabalhistas 237.541 202.799 Fornecedores 2.141.274 1.815.687 18 Obrigações Fiscais 92.964 130.432 Empréstimos e Financiamentos 272.939 196.248 Dividendos e JCP a Pagar 24.843 37.474 Aluguéis 78.653 65.768 Demais Contas a Pagar 40.697 33.579 Provisões 24.534 11.792 Passivo Não Circulante 903.793 720.098 Empréstimos e Financiamentos 570.211 414.711 Programa de Recuperação Fiscal 10.568 20.988 Obrigações com Acionista de Controlada 36.380 47.515 Tributos Diferidos 237.757 228.715 Provisões 48.877 8.169 Patrimônio Líquido Consolidado 3.534.767 3.250.372 Capital Social Realizado 1.808.639 1.808.639 Reservas de Capital 116.363 151.156 Reservas de Lucros 1.593.063 1.280.751 Ajustes de Avaliação Patrimonial -18.208 -18.033 Participação dos Acionistas Não Controladores 34.910 27.859 Fonte: CVM. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br>. Acesso em: 16 jan. 2020. As contas do Ativo representam onde os recursos da empresa foram aplicados, e são apresentadas em ordem decrescente de liquidez, ou seja, inicia-se com os itens de maior liquidez4 – caixa, bancos e clientes –, que logo serão convertidos em caixa. No fim, são colocados os itens que deverão permanecer mais tempo na empresa, como edifícios, equipamentos, veículos e móveis. As contas do Passivo representam a origem dos recursos de terceiros e devem ser, inicialmente, separadas considerando a data de vencimento, ou seja, se ela é inferior ou superior a um ano. Os Passivos são agregados pela sua natureza, como fornecedores, empréstimos, impostos a pagar e salários a pagar. A seguir, é apresentado o Patrimônio Líquido, indicando o capital integralizado, as reservas de capital e as reservas de lucros ou prejuízos acumulados. 4 Entende-se por liquidez a capacidade e a velocidade de transformar bens e direitos em dinheiro. 19 O Passivo Total é formado pela soma do Passivo, que representa dívidas ou obrigações, e do Patrimônio Líquido, que representa o valor pertencente aos acionistas. De forma ideal, deve-se procurar utilizar o termo Passivo apenas para as dívidas da empresa, não utilizando esse termo em referência ao Patrimônio Líquido. O total do Ativo e o total do Passivo + Patrimônio Líquido são sempre iguais, por isso, sendo chamados Balanço. Daí, a equação fundamental da contabilidade: Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido Estrutura do Balanço Patrimonial Consolidado ativo passivo patrimônio líquido: participação acionistas não controladores participação acionistas controladores Observe o Balanço Patrimonial da Droga Raia de 2018: � Ativo total = R$ 7.352.005 mil. � Passivo = R$ 3.817.238 mil = (Passivo Circulante R$ 2.913.445 mil + Passivo não Circulante R$ 903.793 mil). � Patrimônio Líquido = R$ 3.534.767 mil. � Passivo + Patrimônio Líquido = R$ 7.352.005 mil = Ativo total. Os elementos componentes da estrutura do balanço patrimonial são definidos assim: a) Ativo – recursos econômicos (bens e direitos) que a empresa controla e espera que lhe gerem benefícios futuros. Os Ativos podem ter corpo, matéria definida – tais como prédios, máquinas ou mercadorias –, sendo denominados de Ativos Tangíveis. Além disso, podem ter valor legal ou representar direitos – como a marca e o ponto comercial –, sendo denominados Ativos Intangíveis. Um dos problemas mais controversos em Contabilidade é mensurar o real valor dos Ativos. Os itens do Ativo são agrupados do seguinte modo: � Ativo Circulante – recursos que serão realizados no exercício seguinte, ou seja, no período de 12 meses após o encerramento do Balanço. Isso significa que todos serão utilizados na atividade da empresa no curto prazo (máximo de 12 meses). Exemplo: caixa, bancos, investimentos temporários, contas a receber, mercadorias e despesas antecipadas. � Ativo Não Circulante – Ativos não classificados no Ativo Circulante. Compreende os Ativos Realizáveis em Longo Prazo, os Investimentos, os Imobilizados e os Intangíveis. 20 � Ativo Realizável em Longo Prazo – realização após o término do exercício social seguinte, ou seja, em um período superior a 12 meses após o encerramento do Balanço Patrimonial. Exemplo: contas a receber em longo prazo, despesas antecipadas em longo prazo, empréstimos concedidos a receber em longo prazo. No Ativo Realizável em Longo Prazo, é importante verificar que a lei societária apresenta um posicionamento que representa uma exceção à classificação de acordo com o período de recebimento do Ativo. No art. 179, a lei afirma que é obrigatório que sejam reconhecidos,no Realizável em Longo Prazo, os direitos derivados de vendas, os adiantamentos ou os empréstimos a sociedades coligadas ou controladas, diretores, acionistas ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios usuais na exploração do objeto da companhia, mesmo que a data de vencimento prevista seja no curto prazo: � Investimentos – investimentos permanentes, inclusive as propriedades para investimento. Exemplo: investimentos em ações ou quotas, obras de arte, imóveis para aluguel ou destinados à valorização de capital, ou ambos. � Imobilizado – direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da companhia ou exercidos com essa finalidade, e os decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, os riscos e o controle desses bens. Exemplo: terrenos, edifícios, máquinas e equipamentos, móveis e utensílios, instalações, obras em andamento, desde que destinados ao uso nas operações. � Intangível – direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido. No Balanço Patrimonial, os Ativos Intangíveis não podem ser avaliados a valor de mercado. Exemplos: fundo de comércio, direitos autorais, marcas e patentes. Verifique o Balanço Patrimonial da Droga Raia de 2018: � R$ 241.568 mil estão aplicados em dinheiro e depósitos bancários à disposição da entidade (Caixa e Equivalentes de Caixa). � R$ 3.087.275 mil estão aplicados em mercadorias disponíveis para serem vendidas (Estoques). � R$ 1.546.960 mil estão aplicados em bens destinados ao uso pela entidade, nas suas operações normais (Imobilizado). Todos esses itens representam aplicações de recursos realizadas no passado pela entidade, das quais se tem expectativa de geração de benefícios, presentes e futuros, a serem percebidos e controlados pela entidade. Tais benefícios podem ser representados pela geração de caixa – como as mercadorias que serão vendidas aos clientes – ou podem evitar a saída de caixa – como os prédios e os equipamentos que não precisarão ser alugados, uma vez que a entidade já é proprietária ou os arrenda de terceiros (Ativo Imobilizado). 21 b) Passivo – são obrigações da empresa, contraídas junto a outras pessoas físicas ou jurídicas. Os itens do Passivo são agrupados desta forma: � Passivo Circulante – espera-se a sua liquidação dentro dos 12 meses seguintes à data final do Balanço – fornecedores, empréstimos, impostos a pagar e encargos sociais a recolher. � Passivo Não Circulante – compreende as obrigações não classificadas no Passivo Circulante, isto é, cujo vencimento ocorrerá após o término do exercício social seguinte, ou seja, no prazo superior a 12 meses seguintes à data do Balanço. São exemplos: fornecedores em longo prazo, empréstimos em longo prazo e algumas provisões. Desse modo, as obrigações da companhia – inclusive financiamentos para aquisição de direitos do Ativo não Circulante – serão classificadas no Passivo Circulante, quando vencerem no exercício seguinte, e no Passivo não Circulante, se tiverem vencimento em prazo maior. Observe o Balanço Patrimonial da Droga Raia de 2018 (Passivo + PL): � R$ 2.141.274 mil são financiados pelos fornecedores das mercadorias – Fornecedores. � R$ 103.532 mil são financiados pelo governo – Obrigações Fiscais (R$ 92.964 mil) mais Programa de Recuperação Fiscal (R$ 10.568 mil). � R$ 843.150 mil são financiados por bancos – Empréstimos e Financiamentos, sendo R$ 272.939 mil de curto prazo + R$ 570.211 mil de longo prazo. Todos esses itens têm uma característica em comum: representam obrigações da entidade assumidas, no passado, que ainda não foram pagas, e exigirão desembolsos de recursos no futuro. c) Patrimônio Líquido – origens de recursos dos acionistas. Em outras palavras, corresponde à parcela do Ativo que excede o total dos Passivos. São exemplos: capital social, reserva de capital e reserva de lucros. Conjunto de bens e direitos de uma entidade, deduzida das suas obrigações para com terceiros. Diferença entre o Ativo e o Passivo, ou seja, o valor contábil líquido da empresa. � Capital Social � Subscrito – compromisso de integralizar; � A realizar – subscrito, mas não integralizado; � Integralizado – valor já capitalizado; � Reserva de Capital � Ágio na colocação de ações; � Alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição; � Reservas de Lucros – apropriação de Lucros que, no caso das três primeiras (legal, para contingências e de lucros a realizar), podem ser dedutíveis do Dividendo Mínimo Obrigatório: � Reserva Legal – 5% do Lucro Líquido, limitado a 20% do Capital Social; 22 � Reservas para Contingências, como perdas futuras previstas em função da seca esperada; � Reserva de Lucros a Realizar: � Lucro na Venda de Imobilizado em longo prazo; � Receita de Equivalência Patrimonial; � Reservas Estatutárias – retenção de lucros prevista nos estatutos da empresa; � Reserva de Reavaliação – é uma conta em desuso, pois a legislação brasileira proíbe novas reavaliações a partir de 2008. Com isso, o seu saldo representa o efeito da reavaliação (substituição do valor de custo histórico pelo valor de reposição) de itens do ativo imobilizado. � Ajustes de Avaliação Patrimonial – utilizada para registrar a contrapartida do aumento ou redução de itens do ativo ou do passivo mensurados a valor justo sem transitar pelo resultado do período. A sua aplicabilidade é bastante restrita. Exemplo de ativos e passivos mensurados a valor justo sem transitar pelo resultado do período são os instrumentos financeiros mentidos para fins de proteção (hedge). � Lucros ou Prejuízos Acumulados – por força de lei, essa conta não deverá apresentar saldo no fim do exercício. Essa conta terá caráter transitório, reconhecendo o lucro líquido do período, as apropriações e reversões de reservas e a distribuição dos lucros. � Ações em Tesouraria (conta devedora, redutora do PL) – representa as ações de própria emissão da entidade que ela recompra no mercado. Veja o Balanço Patrimonial da Droga Raia de 2018: � R$ 1.808.639 mil são contribuições efetivas dos sócios – Capital Social. � R$ 1.593.063 mil são lucros obtidos pela entidade e ainda não distribuídos aos sócios na forma de dividendos – Reserva de Lucros. Em uma situação normal de descontinuidade da entidade – encerramento das suas atividades – e liquidação dos seus Ativos – venda e transformação dos bens e direitos em dinheiro –, todo o Passivo deve ser pago, e o PL sobra para os sócios. Em caso de falência, pode não haver capacidade de pagamento dos passivos. 23 Demonstração do Resultado do Exercício Uma das várias medidas de desempenho é representada pelo lucro líquido referente a determinado período. Tal lucro é apurado pela Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). O lucro ou prejuízo é obtido pela subtração de todas as despesas das receitas auferidas. Desse modo, poderá ser avaliado se determinada despesa está sendo incorrida de modo desproporcional, podendo-se avaliar os motivos de tal fato, para que as possíveis soluções sejam mais prontamente identificadas. A DRE é uma forma estruturada de evidenciar a composição do resultado da entidade, ou seja, é um critério de organização das receitas auferidas e das despesas incorridas no período. Ao apresentar o resultado (lucro ou prejuízo), a DRE evidencia a riqueza gerada pela entidade em determinado período (exercício), sabendo-se que essa riqueza pertence, no fim das contas, aos acionistas da entidade. A forma de evidenciação básica das Despesas na estrutura da DRE, até o resultado operacional, é constituída para gerar informações por meio de quatro funções organizacionais da empresa: 1. produção; 2. comercial; 3. administrativa e 4. financeira.A composição do primeiro item decorre da forma de atuação da empresa. Em uma indústria, é apresentado o Custo dos Produtos Vendidos (CPV), que abrange gastos com a transformação da matéria-prima em produto acabado. Em uma empresa comercial, o CPV é substituído pelo Custo das Mercadorias Vendidas (CMV), que representa o custo dos estoques entregues aos clientes. Em uma empresa de serviços, objetivando gerar informações úteis, procura-se destacar os gastos relacionados à produção dos serviços. No item denominado Custo dos Serviços Prestados (CSP), por exemplo, em uma empresa do setor de transporte rodoviário, os gastos com combustível, salários dos motoristas, manutenção e depreciação dos veículos devem ser apresentados nessa conta. OBSERVAÇÃO: Na prática, certos itens específicos são difíceis de ser enquadrados. Nesses casos, a legislação prevê o item Outras Receitas e Despesas Operacionais. No estudo da contabilidade, você verificará contas iniciadas com o título “Outras”, embora essa classificação receba críticas recorrentes. Em diversas situações, representam a solução mais prática para a classificação. O importante é que não ocorra o abuso. 24 A Demonstração de Resultado do Exercício (DRE ou Derex) é um resumo ordenado de receitas e despesas da empresa em determinado período, chegando-se ao lucro ou ao prejuízo. As receitas são representadas pelas vendas de produtos – bens e serviços – realizadas no período de referência (exercício), ainda que não tenham sido recebidas. Por sua vez, as despesas representam o esforço da entidade para conseguir a sua receita do período sob exame, mesmo que não haja desembolso de recursos nesse mesmo período. Para compreender a DRE, é necessário conhecer a definição de alguns conceitos fundamentais: � Receitas – são aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil sob a forma de entrada de recursos, isto é, do aumento de ativos ou da diminuição de passivos, que resultam em aumento do patrimônio líquido e que não sejam provenientes de aportes de capital pelos proprietários. � Despesas – são reduções de benefícios econômicos durante o período contábil sob a forma de consumo de recursos, isto é, da redução de ativos ou do aumento de passivos, que resultam em redução do patrimônio líquido e que não sejam decorrentes de distribuição de lucros aos proprietários. � Resultado – diferença algébrica entre receitas e despesas. O resultado é também chamado de lucro (se positivo) ou prejuízo (se negativo). Na prática, a DRE é a apresentação, em forma resumida, das operações realizadas pela empresa durante o exercício social, destacando-se o resultado líquido do período. Na verdade, a análise do resultado do exercício significa a avaliação do desempenho da empresa. 25 Observe, a DRE da Droga Raia de 2018: Tabela 2 – DRE da Droga Raia de 2018 Descrição 2018 2017 Receita de Venda de Bens e/ou Serviços 14.801.445 13.212.505 Custo dos Bens e/ou Serviços Vendidos -10.355.923 -9.224.505 Resultado Bruto 4.445.522 3.988.000 Despesas/Receitas Operacionais -3.724.012 -3.195.416 Despesas com Vendas -3.261.896 -2.825.959 Despesas Gerais e Administrativas -402.568 -369.669 Outras Despesas Operacionais -59.548 212 Resultado Antes do Resultado Financeiro e dos Tributos 721.510 792.584 Receitas Financeiras 71.783 106.883 Despesas Financeiras -154.437 -212.923 Resultado Antes dos Tributos sobre o Lucro 638.856 686.544 Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro -129.543 -173.891 Lucro/Prejuízo Consolidado do Período 509.313 512.653 Atribuído a Sócios da Empresa Controladora 502.447 511.163 Atribuído a Sócios Não Controladores 6.866 1.490 Lucro Básico por Ação - (Reais / Ação) 1,52531 1,55047 Lucro Diluído por Ação - (Reais / Ação) 1,52473 1,54855 Fonte: CVM. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br>. Acesso em: 16 jan. 2020. Em 2018, a Droga Raia apurou: � A Receita de vendas foi de R$ 14.801.445 mil. � Os Custos das Mercadorias Vendidas totalizaram R$ 10.355.923 mil. � O Lucro Bruto (isto é, Receita menos os Custos das Mercadorias Vendidas) foi de R$ 4.445.522 mil. � O Lucro Líquido foi de R$ 509.313 mil. 26 Além da DRE, as entidades são obrigadas a apresentar a Demonstração de Outros Resultados Abrangentes, quando houver “outros resultados abrangentes” – o que não foi o caso da Droga Raia em 2018. Os “outros resultados abrangentes” são todos os eventos que atendem perfeitamente à definição de receita ou despesa, mas não são reconhecidos na DRE como receita nem como despesa por força dos pronunciamentos contábeis em vigor. São exemplos de “outros resultados abrangentes” (nenhum deles discutido neste material): � ajuste ao valor justo de instrumentos financeiros de cobertura (hedge); � ajustes na provisão para benefícios a empregados de planos de benefício definido decorrentes da alteração de premissas atuariais e � ajustes de variação cambial decorrentes de conversão de demonstrações contábeis para uma moeda de apresentação diferente da moeda funcional. O art. 187 da Lei das Sociedades por Ações (LSA) disciplina a apresentação da DRE por função. A Demonstração é iniciada com o valor total da receita apurada nas suas operações de vendas e prestação de serviços, da qual são subtraídas as deduções da receita e os custos das mercadorias vendidas (CMV, CSP, CPV), apurando-se o lucro bruto. Desse modo, o lucro bruto corresponde ao valor que a empresa consegue obter após recuperar o CMV. A partir disso, são subtraídas as despesas operacionais segregadas por subtotais, conforme a sua natureza, ou seja: � Despesas com vendas – despesas comerciais, realizadas para vender o produto, como despesa de marketing e distribuição. � Despesas gerais e administrativas – gastos para direção geral da empresa, que representam atividades que geram benefícios para todas as fases do negócio da empresa. � Despesas financeiras e receitas financeiras – as receitas e as despesas financeiras correspondem aos rendimentos financeiros auferidos sobre as suas aplicações financeiras (Ativo); e os juros incidentes, sobre empréstimos ou financiamentos (Passivo), respectivamente. Assim sendo, deduzindo-se as despesas operacionais totais do lucro bruto, apresenta-se o lucro operacional, denominado na DRE como Resultado Antes dos Tributos sobre o Lucro – outro dado importante na análise das operações da empresa. Nesse sentido, o Lucro Operacional corresponde ao valor que a empresa consegue obter após recuperar o CMV e todas as despesas necessárias para obter as receitas, ou seja, é o quanto a atividade operacional gera de riquezas para a entidade. Uma empresa também pode efetuar a venda dos seus ativos não circulantes após um período de uso. O valor desse resultado – que pode ser positivo ou negativo – é classificado dentro do Resultado Operacional, na linha de Outras Receitas ou Despesas Operacionais. 27 A seguir, deduz-se a despesa com o imposto de renda e a Contribuição Social. Finalmente, deduzem-se as participações (previstas no estatuto) de terceiros calculáveis sobre o lucro – tais como empregados administradores, partes beneficiárias, debêntures e contribuições para fundos de benefícios a empregados –, dessa forma, chegando-se, ao lucro ou ao prejuízo líquido do exercício. Ao ser dividido pelo número de ações, chega-se ao lucro ou ao prejuízo por ação, valor final da DRE. Como se nota no texto da alínea b do § 1º do art. 187 da LSA, nos mesmos períodos em que forem lançados os rendimentos e as receitas, deverão estar registrados todos os custos, as despesas, os encargos e os riscos correspondentes àquelas receitas. Por esse conceito – também denominado contraposição de receitas e despesas (Princípio da Confrontação de Despesas com Receitas e com o Período Contábil) –, ao se contabilizar, por exemplo,a receita da venda de determinado produto, devem-se registrar, no mesmo período, todas as despesas em que se incorre no que tange àquela receita, tais como: � o custo do produto vendido, que englobaria material, mão de obra e demais custos da sua fabricação; � as despesas operacionais incorridas, seja de comercialização, seja de administração, e � o imposto sobre a renda (lucro) auferida. Nesse sentido, se a empresa conceder, por exemplo, um período de garantia e de revisões gratuitas ao cliente pelo produto vendido, o custo de tal garantia deverá estar apropriado, por estimativa, nesse mesmo período, e não no período futuro, quando será realizada a substituição de peças ou a revisão gratuita. Por esse motivo é que, havendo a cláusula de garantia sobre as vendas, deve-se constituir uma provisão para custos de garantia. A partir dessa filosofia, a comissão dos vendedores deve estar provisionada como despesa, no mesmo período do reconhecimento da venda – mesmo sendo paga, total ou parcialmente, somente quando do recebimento das duplicatas correspondentes. Um aspecto muito relevante ocorre quando a empresa efetua vendas e compras a prazo. Nesse caso, há um efeito decorrente do “custo do dinheiro” entre a data original da transação e o efeito financeiro. Nesse caso, quando os valores são materiais, o ideal é a aplicação do conceito de Ajuste a Valor Presente. Demonstração dos Fluxos de Caixa A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) evidencia a variação do caixa, indispensável para o pagamento das obrigações no prazo previsto assim como para o bom funcionamento da empresa. A Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007, tornou obrigatória a evidenciação da DFC. O CPC emitiu o Pronunciamento Técnico nº 3, apresentando as normas para a sua elaboração. 28 A DFC mostra as origens e aplicações de caixa, que são a base para a avaliação da situação financeira da empresa e a sua capacidade de pagamento das obrigações. Essa demonstração auxilia a responder a perguntas vitais, como “Onde foi obtido o dinheiro?” e “Onde o dinheiro foi aplicado e com que objetivo?”, e a perguntas específicas, como: � Onde a empresa consegue recursos? � Quanto dos recursos financeiros foi gerado internamente pela empresa? � Como foi financiada a expansão com a compra de ativos imobilizados? � A empresa está-se expandindo em ritmo mais acelerado do que a sua geração de recursos? � A política de distribuição de dividendos está em equilíbrio com a geração operacional? � Quais são os movimentos financeiros com os acionistas e os financiadores? O caixa é vital para o bom funcionamento de qualquer empresa. O modo como os fluxos de caixa é administrado pode determinar o sucesso ou fracasso de uma empresa. As contas devem ser pagas no seu vencimento, e o dinheiro excedente pode ser aplicado na compra de estoque, de equipamentos ou na geração de rendimentos financeiros. Entende-se por “Equivalente à Caixa” os recursos aplicados em Bancos conta-movimento e Aplicações Financeiras de imediata realização, ou seja, aqueles com valores resgatáveis no curto prazo e insignificante risco de mudança de valor. Dessa forma, ∆Cx = (Cx1 + Bancos1 + Aplic. Fin. resgatável em CP1) – (Cx0 + Bancos0 + Aplic. Fin. resgatável em CP0). 29 Vejamos a Demonstração dos Fluxos de Caixa da Droga Raia de 2018: Tabela 3 – DFC da Droga Raia de 2018 Descrição 2018 2017 Caixa Líquido Atividades Operacionais 682.866 628.840 Caixa Gerado nas Operações 1.168.165 1.123.361 Lucro Líquido Antes do I.R. e C.S.L.L. 638.856 686.544 Depreciações e Amortizações 414.134 337.914 Plano de Remuneração com Ações Restritas, Líquido 12.515 12.638 Juros sobre Opção de Compra de Ações Adicionais -11.135 2.287 Resultado na Venda ou Baixa do Ativo Imobilizado e Intangível 12.166 6.609 (Provisão) Reversão para Demandas Judiciais 49.167 7.788 (Reversão) Provisão para Perdas no Estoque -2.680 3.656 (Reversão) Provisão de Perdas Estimadas para Créditos de Liquidação Duvidosa -4.739 2.314 (Provisão) Reversão para Encerramento de Lojas 1.556 -811 Despesa de Juros 56.700 64.234 Amortizações de Custos de Transação de Debêntures 1.625 188 Variações nos Ativos e Passivos -323.440 -344.483 Clientes e Outras Contas a Receber 1.133 -173.728 Estoques -567.001 -371.782 Outros Ativos Circulantes -10.091 27.852 Ativos no Realizável a Longo Prazo -45.438 -17.895 Fornecedores 318.449 208.482 Salários e Encargos Sociais 34.743 3.421 Impostos, Taxas e Contribuições -69.041 -19.937 Outras Obrigações 921 -10.368 Aluguéis a Pagar 12.885 9.472 Outros -161.859 -150.038 Juros Pagos -43.478 -36.863 I.R e Contribuição Social Pagos -118.381 -113.175 30 Caixa Líquido Atividades de Investimento -702.968 -639.180 Aquisições de Imobilizado e Intangível -702.985 -640.330 Recebimentos por Vendas de Imobilizados 17 1.150 Caixa Líquido Atividades de Financiamento -3.203 -1.419 Empréstimos e Financiamentos Tomados 419.223 393.951 Pagamentos de Empréstimos e Financiamentos -201.879 -224.523 Recompra de Ações -46.925 0 Juros sobre Capital e Dividendos Pagos -173.622 -170.847 Aumento (Redução) de Caixa e Equivalentes -23.305 -11.759 Saldo Inicial de Caixa e Equivalentes 264.873 276.632 Saldo Final de Caixa e Equivalentes 241.568 264.873 Fonte: CVM. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br>. Acesso em: 8 mar. 2018. Analisando a DFC da Droga Raia de 2018, é possível perceber que: � O saldo final de Caixa e Equivalentes reduziu de R$ 264.873 mil em 2017 para R$ 241.568 mil em 2018. � A atividade operacional gerou caixa líquido no montante de R$ 682.866 mil, demonstrando que a compra e a venda de medicamentos e demais mercadorias é uma atividade geradora de caixa. � A atividade de investimento consumiu caixa líquido no montante de R$ 702.968 mil, demonstrando que a Droga Raia está investindo na sua expansão com a abertura de novas lojas. � A atividade de financiamento consumiu caixa líquido no montante de R$ 3.203 mil, demonstrando que a entidade distribuiu mais dinheiro aos sócios (dividendos) e aos credores (juros e amortização do principal) do que captou com eles – os sócios não aumentaram o capital social, e a entidade obteve empréstimo e financiamentos com credores em montante maior do que o da amortização do principal e o pagamento de juros. A Demonstração dos Fluxos de Caixa classifica os recebimentos e os pagamentos de caixa em três atividades: operacional, de investimento e de financiamento. 31 d) Atividades operacionais Consistem no reconhecimento dos ingressos e dos desembolsos atrelados, exclusivamente, às atividades principais do empreendimento, ou seja, da sua operação – como recebimentos de vendas à vista ou a prazo, decorrentes do recebimento de duplicatas, contrapondo-se aos desembolsos com a compra de mercadorias para revenda, de matérias-primas, mão de obra, despesas com vendas, administrativas e outras. O Fluxo de Caixa Operacional é apresentado de forma diferenciada pelo Método Direto e pelo Método Indireto. A Raia Drogasil S.A. apresentou o fluxo de caixa da atividade operacional de 2018 pelo método indireto. e) Atividades de investimento As atividades de investimento incluem entradas de caixa pela venda de imóveis, veículos, equipamentos, recebimento do principal em um empréstimo feito a outras empresas, operações financeiras em função de aplicações ou resgates. Nessa categoria, saídas de caixa podem resultar da compra de um imóvel ou equipamento, ou outro ativo para a produção, participações acionárias, concedendo empréstimo para terceiros ou efetuando aplicações financeiras de longo prazo, não incluídas no equivalente à caixa. f) Atividades de financiamento Reúnem todos os ingressos e desembolsos oriundos da captação derecursos de terceiros de curto e longo prazo (financiamentos, empréstimos bancários), bem como dos recursos dos proprietários (acionistas ou quotistas), abrangendo os aportes ou as reduções de capital e dividendos, objeto desses recursos. Dessa forma, são considerados gerações de caixa pela atividade de financiamento os ingressos de dinheiro decorrentes de aumento do Capital Social, obtenção de Empréstimos e Financiamentos. Por outro lado, são consideradas consumo de Caixa, pela atividade de financiamento, as saídas de dinheiro para pagar Dividendos, amortizar os Empréstimos e os Financiamentos. Note que o nome da demonstração é Demonstração dos Fluxos de Caixa, uma vez que apresenta a variação do saldo de caixa, que pode ser causada por três razões diferentes: pelas atividades operacionais, pelas atividades de investimento e pelas atividades de financiamento, abrangendo recursos de terceiros e recursos dos acionistas. As transações que não envolvem caixa – como a aquisição de um terreno em troca de ações ou o pagamento de um financiamento com um ativo imobilizado – apesar de não serem apresentadas no corpo da demonstração, devem ter a sua evidenciação efetuada em nota explicativa ou como informações complementares. 32 Conceitos fundamentais Patrimônio Uma informação fundamental apresentada pela Contabilidade é a avaliação do patrimônio da empresa e a quantificação da sua variação ao longo dos anos. De forma sintética, podemos dizer que o Balanço Patrimonial é formado por três componentes: Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido. A sua posição financeira é refletida pela relação entre tais componentes. O termo Balanço indica o equilíbrio entre eles, como pode ser demonstrado pela equação: ativo = passivo + patrimônio líquido A sua evidenciação: aplicações origens ativo passivo patrimônio líquido Essa equação pode ser entendida por meio do conceito de Origens e Aplicações. O Passivo e o Patrimônio Líquido representam as fontes de recursos – origens – obtidas pela empresa, e o Ativo indica a destinação – aplicações – desses recursos. Afinal, pelo método das partidas dobradas: aplicações = origens Ativo Entende-se por Ativo os recursos controlados por uma entidade em consequência de eventos passados dos quais se espera que resultem fluxos de benefícios econômicos futuros ou potencial de serviços para a entidade. O Ativo aumenta de valor pelo reconhecimento contábil de uma receita, pela obtenção de recursos com terceiros ou com sócios da entidade, ou pela venda de outro ativo com lucro. Passivo Entende-se por Passivo as obrigações presentes da entidade, derivadas de eventos já ocorridos, cujo pagamento se espera que resulte em saída de recursos da entidade, recursos capazes de gerar benefícios econômicos ou potencial de serviços. Também se pode dizer que o Passivo representa a origem de recursos financiados por terceiros, além das obrigações assumidas pela entidade que 33 exigirão desembolso de recursos no futuro, ou seja, contas a pagar, salários a pagar, impostos a pagar, entre outros. O Passivo aumenta de valor pela captação de um empréstimo ou financiamento, pela compra de um ativo a prazo ou pelo reconhecimento contábil de uma despesa ainda não paga. Por outro lado, o Passivo diminui de valor pelo efetivo pagamento ou pelo reconhecimento contábil de uma receita que havia sido recebida antecipadamente, como o adiantamento de clientes. Patrimônio Líquido Assim como o Passivo, o Patrimônio Líquido (PL) também representa origem de recursos, sendo que o PL corresponde aos recursos financiados pelos sócios da entidade, na forma de capital social, e também pelos lucros retidos. O PL também é chamado de Ativo Líquido, afinal, corresponde ao resíduo dos (diferença entre) ativos reconhecidos e passivos reconhecidos. Desse modo, o termo Ativo Líquido designa a parcela dos ativos que sobra depois de descontar todos os passivos da entidade. Resultado O resultado deriva do confronto das receitas com as despesas e, consequentemente, pode ser positivo – lucro –, se as receitas forem maiores do que as despesas; ou negativo – prejuízo –, se as receitas forem menores do que as despesas. No caso de lucro, representa a riqueza gerada pela empresa durante determinado período de tempo, que pertence aos acionistas da entidade. Quando a empresa incorre em prejuízo, ocorre uma destruição da riqueza dos acionistas. Receita Corresponde à geração de recursos provenientes da venda de mercadorias (como no setor varejista), da prestação de serviços (como em consultas médicas), entre outros. Resulta em um aumento em caixa ou em contas a receber. Entende-se por Receita os “aumentos de benefícios econômicos durante o período contábil sob a forma de entradas ou aumentos de ativos ou diminuições de passivos que resultam em aumento do patrimônio líquido e que não sejam provenientes de aportes dos proprietários da entidade” (IFRS for SMEs e CPC-PME § 2.23(a)). 34 Despesa Corresponde ao consumo de recursos decorrentes das mesmas atividades que deram origem às receitas, tais como a venda de Estoque – Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) ou Custo dos Produtos Vendidos (CPV) –, a prestação de serviços – Custo dos Serviços Prestados (CSP) –, Salário de vendedores (Despesa com Vendas), Salário dos diretores (Despesa Administrativa), Juros sobre Dívidas (Despesa Financeira), Venda do Imobilizado com Prejuízo (Outra Despesa Operacional). Entende-se por Despesa os “decréscimos nos benefícios econômicos durante o período contábil sob a forma de saída de recursos ou redução de ativos ou incrementos em passivos que resultam em decréscimos no patrimônio líquido e que não sejam provenientes de distribuição aos proprietários da entidade” (IFRS for SMEs e CPC-PME § 2.23(b)). Como Receita e Despesa afetam o Patrimônio Líquido (Ativo Líquido) Os ativos da empresa contribuem para a sua continuidade e o seu futuro crescimento. As receitas e as despesas vão afetar o Patrimônio Líquido (Ativo Líquido), sendo apuradas para determinar se a empresa apurou um lucro (receitas superiores a despesas) ou um prejuízo (despesas superiores a receitas). Desse modo, o reconhecimento de receitas aumenta o lucro do período e, consequentemente, o PL. O contrário ocorre com o reconhecimento de despesas. Equação contábil e natureza das contas A equação contábil é baseada na dupla entrada, ou seja, cada transação possui efeito duplo. Uma transação pode afetar ambos os lados da equação, no mesmo valor, ou apenas um lado da equação, aumentando e diminuindo na mesma quantia, anulando a mudança nesse lado da equação. A equação fundamental contábil é: ativo = passivo + patrimônio líquido Exemplo 1: Se um negócio possui ativos de $ 500.000,00, obrigações (Passivo) de $ 300.000,00 e Patrimônio Líquido de $ 200.000, a equação contábil é a seguinte: ativo = passivo + patrimônio líquido $ 500.000 = $ 300.000 + $ 200.000 35 ativo = passivo + patrimônio líquido ativo = passivo + capital social + reserva de lucros (receitas – despesas) Se há somente uma receita, esta vai aumentar o resultado do período. Em contrapartida, se há somente uma despesa, está vai diminuir o resultado do período. Logo, se há receitas ou despesas no período, essas alterarão o resultado – lucro ou prejuízo – do período. No fim do período, é efetuado o confronto entre o total das receitas e das despesas, sendo apurado o resultado e, consequentemente, verificado o efeito no Patrimônio Líquido. O Patrimônio Líquido será aumentado se houver lucro ou será reduzido se ocorrer prejuízo. No fim desse período, se a empresa gerou uma receita de vendas de $ 300.000 e uma despesa de $ 250.000, se apresentou lucro líquido de $ 50.000 – exclusivamente compreendido por receitas e despesas que transitaram pelocaixa –, a equação contábil será: ativo = passivo + patrimônio líquido $ 550.000 = $ 300.000 + $ 250.000 ($ 500.000 + $ 50.000) ativo anterior + ativo da venda à vista ($ 200.000 + $ 50.000) PL anterior + lucro do período Exemplo 2: Se $ 10.000 forem utilizados para pagar dívidas com fornecedores (Passivo), a equação contábil passará a ser: ativo = passivo + patrimônio líquido $ 540.000 = $ 290.000 + $ 250.000 ($ 550.000 – $ 10.000) = ($ 300.000 – $ 10.000) ativo anterior – pagamento passivo anterior – pagamento Nesse caso, a conta Caixa (Ativo) diminuiu em $ 10.000 assim como a conta Fornecedores (Passivo), pois a dívida diminuiu no mesmo valor. 36 Análise e registro das transações financeiras Se, a cada transação, tivéssemos de fazer um novo Balanço Patrimonial, o tempo consumido seria muito grande. Além disso, muitas informações de determinado item poderiam perder-se. Por esse motivo, deve haver uma conta para cada item do Balanço Patrimonial (Ativos, Passivos e PL) bem como da Demonstração de Resultado (Receitas e Despesas). No fim do período, as demonstrações contábeis devem ser elaboradas com base no saldo de cada conta. Um modo mais simples de fazê-lo é por meio de razonetes. Os razonetes também são chamados de contas T, por causa da sua aparência. Os lançamentos são efetuados na estrutura de um T, em que é apresentado o nome da conta sobre a barra horizontal; do lado esquerdo, são apresentados os valores lançados a débito, representando as aplicações dos recursos da empresa; do lado direito, os valores lançados a crédito, que representam as origens dos recursos. Para facilitar a identificação das contrapartidas, os razonetes apresentam códigos aos lançamentos. Nenhum dos dois lados significa algo “bom” ou “ruim”. Os nomes débito e crédito representam apenas aplicações e origens, respectivamente, como fruto de uma convenção. A seguir, vejamos como isso ocorre: nome da conta valor dos lançamentos a débito valor dos lançamentos a crédito somatório dos débitos somatório dos créditos Cabe ressaltar que um lançamento a débito no Ativo aumentará o valor desse Ativo, e um lançamento a crédito diminuirá o seu valor. Seguindo o mesmo raciocínio, um lançamento a débito no Passivo diminuirá o valor desse Passivo, e um lançamento a crédito aumentará o seu valor. Pela mesma convenção, as despesas também aumentam por débitos e reduzem por créditos. Enquanto as Receitas e o Patrimônio Líquido, tal qual o Passivo, aumentam por créditos e reduzem por débitos. ativos e despesas passivos, PL e receitas débito crédito débito crédito aumento diminuição diminuição aumento Para cada transação, duas ou mais contas estão sempre envolvidas, e os débitos serão sempre iguais aos créditos (dupla entrada ou partidas dobradas). 37 Exemplo 1: No dia 1º de junho de X0, a Empresa Delta comprou um carro à vista por $ 45.000. Duas contas estão envolvidas. O ativo Carro aumenta, dessa forma, é um débito (Aplicação). Já o ativo Caixa diminui, desse modo, é um crédito: ativo = passivo + patrimônio líquido caixa (45.000) carro 45.000 $ 0 = sem lançamento sem lançamentos caixa carro débito crédito débito crédito – 45.000 + 45.000 Exemplo 2: O dono da empresa integraliza $ 250 em dinheiro como capital social inicial. ativo (caixa) = passivo + patrimônio líquido (capital social) $ 250 = nenhum lançamento + $ 250 ativo (caixa) passivo patrimônio líquido (capital social) débito crédito débito crédito débito crédito + 250 + 250 Exemplo 3: A Cia. Maratinga prestou serviços no valor de $ 300 (Receita), recebendo o seu valor à vista. ativo (caixa) = passivo + patrimônio líquido (reserva de lucros) $ 300 = nenhum lançamento + $ 300 38 ativo (caixa) passivo patrimônio líquido (reserva de lucros) débito crédito débito crédito débito crédito + 300 + 300 A grande vantagem dos razonetes é que os saldos das contas já são apurados automaticamente. Por outro lado, a informação dos históricos fica sumarizada nos códigos dos lançamentos, o que pode dificultar a identificação de eventuais erros. Partindo desses saldos, fica fácil apurar o Balanço Patrimonial: basta transcrever os saldos finais de cada conta. Mecânica contábil e elaboração do balanço patrimonial A mecânica contábil se baseia no método das partidas dobradas, ou seja, todo evento é reconhecido mediante dois registros, um que corresponde à aplicação dos recursos e outro que representa as origens, isto é, um lançamento a débito e outro a crédito. Pode haver mais de um lançamento a débito ou a crédito. Existem duas formas “clássicas” de se apresentar o método das partidas dobradas: por meio dos lançamentos em Diário e do registro em razonetes (ou conta T). O método das partidas dobradas demanda o conhecimento dos conceitos de débito e crédito. Por esse método, o Ativo tem natureza devedora, enquanto o Passivo e o Patrimônio Líquido têm natureza credora. Como o Ativo tem natureza devedora, precisamos fazer um lançamento a débito para aumentar o seu saldo. Por outro lado, para reduzir o seu saldo, fazemos um lançamento a crédito. O Passivo e o Patrimônio Líquido, por outro lado, têm natureza credora. Desse modo, para aumentar os seus saldos, fazemos lançamentos a crédito. Para diminuir, fazemos lançamentos a débito. Para muitos não contadores, é difícil entender a Contabilidade pela dificuldade de aceitar os conceitos de débito e crédito. Desse modo, além dessas duas formas clássicas de aplicação do método das partidas dobradas (diário e razonete), apresentamos outra, opcional no preparo das demonstrações contábeis: o preenchimento da Matriz de Lançamentos. Entre as vantagens da Matriz de Lançamentos, podemos destacar: � Auxilia a visualização dos lançamentos efetuados (partidas dobradas). � Auxilia a verificação de um possível erro. � Evita o uso dos termos “débito” e “crédito”, substituindo-os por “aplicação” e “origem”. A aplicação identifica o destino dos recursos, ou seja, responde à pergunta: “Onde o dinheiro foi aplicado?”. A origem identifica a fonte do recurso, isto é, responde à questão: “De onde o dinheiro veio?”. 39 Vejamos as duas formas de processamento contábil mediante um exemplo que será desenvolvido duas vezes. Na matriz, podemos ter ainda melhor visão dos nossos lançamentos. Ao mesmo tempo que vamos fazer dois lançamentos, débito e crédito, poderemos ver as duas contas afetadas para manter o equilíbrio do BP (A = P + PL). Cabe ressaltar que todas as formas nos permitem apurar as mesmas demonstrações contábeis. Exemplo: � Em 2 de janeiro de X7, dois amigos resolvem formar uma sociedade, a Cia. Comercial NECC. Eles contribuíram com $ 800 em dinheiro, cada um, para a formação do capital social da entidade. � No dia 18 de janeiro, a Cia. Comercial NECC comprou mercadorias, a prazo, por $ 500, para pagamento em março de X7. � No dia 31 de janeiro, a Cia. Comercial NECC comprou móveis e utensílios para o escritório administrativo por $ 350, à vista. Com base nessas transações, realize todos os lançamentos contábeis e apure o Balanço Patrimonial da Cia. Comercial NECC em 31 de janeiro de X7. Primeiramente, resolveremos pelos lançamentos na forma de diário. Estrutura de Lançamento em Diário: Data de ocorrência do evento: D conta devedora valor C conta credora valor Histórico, descrevendo as principais características da transação. Vejamos os lançamentos da Cia. Comercial NECC, seguindo a estrutura do Diário: Em 2 de janeiro de X7: D caixa – AC 1.600,00 C capital social – PL 1.600,00 No dia 2 de janeiro, constituição da empresa e contribuição de $ 800,00 de cada sócio, para a formação do capital social da entidade. 40 Em 18 de janeiro
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