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ESTÉTICA AVANÇADA FACIAL Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Ana Paula Dambros Taschetto CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Prof.ª Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Prof.ª Cristiane Lisandra Danna Prof. Norberto Siegel Prof.ª Camila Roczanski Prof.ª Julia dos Santos Prof.ª Ariana Monique Dalri Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof. Marcelo Bucci Revisão de Conteúdo: Elaine Watanabe Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2018 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. T197e Taschetto, Ana Paula Dambros Estética avançada facial. / Ana Paula Dambros Taschetto – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 126 p.; il. ISBN 978-85-53158-34-8 1.Face – Cuidado e higiene – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 646.726 Ana Paula Dambros Taschetto Farmacêutica Bioquímica (UFSM/2003), mestre em Ambiente e Desenvolvimento (UNIVATES/2010), doutora em Ciências Fisiológicas (2016) e pós-doutoranda no Laboratório de Investigação de Doenças Crônicas (UFSC/2018). Possui ampla experiência docente (ministrando disciplinas de Fisiologia, Farmacologia, Farmacologia Clínica, Parasitologia e Epidemiologia para cursos da área da saúde) além de atuar na área Farmacêutica (Análises Clínicas, Farmácia e Assistência Farmacêutica). Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Acne ...........................................................................................9 CAPÍTULO 2 Processo de Envelhecimento Cutâneo ..............................37 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 Diferentes Técnicas e Recursos Faciais, suas Atuações e Aplicabilidades nos Diversos Tipos de Peles .......................................................69 Tratamento das Hiperpigmentações ou Hipocromias.....101 APRESENTAÇÃO A disciplina Estética Avançada Facial aborda tópicos de grande relevância na área facial, buscando proporcionar ao aluno a compreensão dos mecanismos fisiológicos e patológicos envolvidos nos diferentes processos, para que este possa compreender mais facilmente os métodos empregados para prevenção e/ ou tratamento da pele facial. O primeiro tema a ser tratado será a Acne, uma dermatose crônica de grande incidência no Brasil e no mundo. Neste capítulo, será estudada a etiopatogênese desta patologia, os diferentes tipos de acne, a importância do tratamento, tanto para remissão da acne, como para as cicatrizes deixadas por ela. Na sequência, o capítulo 2 tratará dos mecanismos fisiológicos e bioquímicos do processo de envelhecimento facial, bem como, os mecanismos de ação das principais técnicas empregadas para prevenção do envelhecimento. Além disso, também será estudado o impacto nocivo da radiação UV sobre a fisiologia das células da pele e sua correlação com o envelhecimento facial. A disciplina também apresentará um enfoque sobre as diferentes técnicas e recursos faciais, seus mecanismos de ações e aplicabilidades destas técnicas para melhora da aparência da pele, redução da oleosidade, melhora das linhas de expressão, melhora da flacidez, entre outras. Ainda dentro do capítulo 3, serão estudados os diferentes tipos de pele e os respectivos cuidados que devem ser adotados para cada um deles. No último capítulo, a disciplina abordará um tema bastante comum na prática clínica, que é o tratamento das hiperpigmentações. Para isso, serão estudados: o processo de pigmentação da pele, os fatores que podem interferir neste processo e os recursos terapêuticos disponíveis para o tratamento. Em todos os capítulos da disciplina serão destacadas as principais indicações e contraindicações de cada uma das técnicas estudadas, com o objetivo de evidenciar ao aluno a importância da criteriosidade tanto na escolha, como na aplicação da técnica/método terapêutico. Ao final da disciplina é importante que o aluno tenha compreendido os principais conceitos, procedimentos e mecanismos de ação das diversas técnicas estudadas para que possa aplicar na prática os conhecimentos adquiridos na disciplina. CAPÍTULO 1 Acne A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Compreender a etiopatogenia da acne e seu impacto na pele. Conhecer os diversos fatores que podem potencializar a formação e desenvolvimento da acne, bem como, suas manifestações e complicações clínicas. Identifi car as manifestações clínicas da acne e relacionar com os tratamentos específi cos. 10 Estética Avançada Facial 11 ACNE Capítulo 1 ConteXtualiZaçÃo A pele, juntamente com os cabelos, pelos, unhas, glândulas sudoríparas e glândulas sebáceas compõem o nosso sistema tegumentar. A função mais importante da pele é formar uma barreira protetora entre o nosso corpo e o meio externo a ele, mas ela também tem uma participação muito importante na nossa autoestima, principalmente quando se trata de rosto. O mercado de tratamentos estéticos, seja para envelhecimento, fl acidez, cicatrizes, patologias dermatológicas, entre outros, cresce exponencialmente. Um refl exo é que o mercado estético brasileiro é o terceiro maior do mundo. Dentre as patologias que afetam a pele, a acne, um tipo de dermatose crônica que afeta o folículo pilossebáceo, ganha destaque. Ela é considerada uma das doenças de pele mais prevalentes no mundo. Não se trata de uma doença contagiosa, mas como em boa parte dos casos, as lesões são bastante inestéticas e acabam por ter um forte impacto psicossocial. Assim, este capítulo estará focado em descrever as causas da acne, o seu desenvolvimento, o agravamento ou regressão das lesões, bem como as cicatrizes que podem surgir, além de conhecermos os métodos de profi laxia e tratamento. O Que é a Acne? A acne é um tipo de dermatose crônica que afeta o folículo pilossebáceo, composto por pelos e suas bainhas, pelo músculo eretor do pelo e pela glândula sebácea. Trata-se de uma patologia não contagiosa, que acomete principalmente as áreas da pele com grandes concentrações de folículos pilossebáceos como a face, tórax anterior e dorso. Para entendermos como a acne acomete os folículos pilossebáceos, é importante relembrarmos a organização da pele. Ela é constituída pela epiderme, derme e hipoderme, que é uma camada de tecido conjuntivo frouxo, também chamada de camada subcutânea. A camada mais externa, a epiderme, é constituída por epitélio estratifi cado escamoso e é composta majoritariamente por queratinócitos, que apresentam um processo de maturação bastante complexo, infl uenciado por fatores genéticos, sistêmicos e ambientais (SAMPAIO; RIVITTI, 2008). 12 Estética Avançada Facial Na camada mais profunda da epiderme (camada germinativa ou basal), encontramos células basais e melanócitos que produzem a melanina. A melanina pode ser do tipo eumelanina (pigmento negro ou castanho) ou feomelanina (pigmento amarelo-avermelhado). São encontrados os dois tipos de melanina dentro de um mesmo melanócito, porém ocorre uma variação individual nas suas proporções. A epiderme possui importante função germinativa, originando as demais camadas da epiderme através da progressiva diferenciação celular. A derme apresenta uma constituição totalmente diferente da epiderme, sendo composta por fi bras elásticas, vasos sanguíneos, folículos capilares, poros, glândulas sebáceas e sudoríparas. Na camada subcutânea está a base dos folículos capilares, além do tecido adiposo. As glândulas sebáceas estão localizadas na dermee são distribuídas por todo o corpo, com exceção das regiões palmares e plantares. Elas estão conectadas ao canal folicular principal, por meio de ductos sebáceos curtos e seu tamanho varia de forma inversa às dimensões do pelo, presente no folículo. As glândulas são responsáveis pela produção de sebo, constituído por triglicerídeos, ácidos graxos livres, produtos de degradação, colesterol com seus ésteres e o esqualeno (antioxidante), apresentando um aspecto viscoso e de cor amarelo claro (MAKRANTONAKI; GANCEVICIENE; ZOUBOULIS, 2011). Os pacientes com acne apresentam um acúmulo anormal de queratina no infundíbulo folicular, que promove a obstrução do folículo e a formação de um microcomedão. Como veremos mais adiante, a formação do microcomedão sinaliza o início do processo de desenvolvimento da acne. É constituído por células queratinizadas que vão se sobrepondo, aumentando de volume e, então, formam o chamado comedo. Pode ser do tipo fechado, também chamado de cravo branco, ou do tipo aberto, chamado de cravo preto. O sebo de indivíduos com acne apresenta diferença na composição quando comparado ao de indivíduos não acometidos pela acne. Nos indivíduos com acne são observadas concentrações menores de triglicerídeos e de ácido linoleico (ácido graxo insaturado ômega-6 – ácido graxo essencial na dieta humana), e concentrações maiores de ésteres de cera (POWELL; BEVERIDGE, 1970). As variações na composição do sebo contribuem para a etiopatogênese da acne, pois ocorrendo aumento da secreção sebácea, há redução da concentração de ácido linoleico, acarretando defi ciência de ácidos graxos essenciais, prejudiciais para as células do epitélio folicular. 13 ACNE Capítulo 1 Assim, devido à defi ciência de ácidos graxos essenciais, ocorre hiperqueratinização na região do infundíbulo glandular que, por sua vez, torna a barreira epidérmica menos efi ciente, permitindo o crescimento bacteriano e uma liberação aumentada de ácidos graxos livres (DOWNING et al., 1986). É importante ressaltar que quanto menor é a concentração de ácido linoleico no sebo, mais grave é a acne. Na puberdade, a taxa de ácido linoleico diminui na proporção inversa do número de lesões de acne. Assim, a redução na concentração do ácido linoleico é considerada um dos principais fatores etiopatogênicos da acne. O aparecimento da acne está fortemente relacionado com as infl uências androgênicas, pois os hormônios são responsáveis pela ativação das glândulas sebáceas. A produção de hormônios andrógenos ocorre nas gônadas, glândulas adrenais e, também, no folículo pilossebáceo. No folículo são encontradas enzimas, que metabolizam os andrógenos circulantes, androstenediona e de hidroepiandrosterona (DHEA), em testosterona e di-hidrotestosterona. Os hormônios são ligados aos seus receptores, tanto no interior das glândulas sebáceas, como na bainha externa do folículo piloso, estimulando a produção de sebo (DOWNING et al., 1986). Ao fi nal da primeira infância, quando inicia a produção de hormônios adrenais, ocorre um aumento na secreção sebácea em ambos os sexos, sendo mais pronunciada nos meninos. É neste período, em torno dos 11 anos nas meninas, e dos 12 anos nos meninos, que surge a forma mais comum de acne, a Acne Vulgar ou Juvenil. Felizmente, na maioria dos casos, a patologia se resolve espontaneamente no fi nal da segunda década de vida, mas em muitos casos, deixa cicatrizes que podem levar ao acometimento da saúde emocional. No recém-nascido, as glândulas são moderadamente desenvolvidas, pois ele estava sob ação dos andrógenos maternos. Contudo, após o nascimento, as glândulas sebáceas entram em regressão e só serão desenvolvidas novamente na puberdade, por ação dos andrógenos (SAMPAIO; RIVITTI, 2008). Relação da dieta com a acne. Você encontrará uma revisão científi ca atualizada sobre o tema. Disponível em: <http://sban. cloudpainel.com.br/fi les/revistas_publicacoes/454.pdf>. Acesso em: 21 maio 2018. 14 Estética Avançada Facial Além da adolescência, a acne também pode ocorrer em outras fases da vida. Na vida adulta, a maior incidência é sobre mulheres e, o ciclo menstrual associado à variação hormonal, pode associar-se com hiperandrogenismo (alta concentração de hormônios androgênicos). É bastante comum ocorrer o agravamento pré-menstrual da acne, que pode ser parcialmente explicado pela diminuição do diâmetro de abertura do folículo dois dias antes do início da menstruação, levando à obstrução e ao desenvolvimento de acne. Etiopatogenia A acne apresenta uma etiopatogenia multifatorial, porém, entre os diversos fatores, ganham destaque: • Hiperprodução sebácea. • Hiperqueratinização folicular. • Colonização bacteriana do folículo. • Liberação de mediadores da infl amação no folículo e derme adjacente. a) Hipersecreção sebácea Como mencionado anteriormente, as glândulas sebáceas produzem o sebo, que desempenha um papel muito importante na proteção da pele, pois juntamente com os lipídios da queratinização, formam um fi lme lipídico na superfície cutânea. O recente estudo de revisão A global perspective on the epidemiology of acne relata uma prevalência de acne em 9.4% da população mundial, classifi cando-a como a oitava doença mais prevalente em todo o mundo. Além disso, o estudo relata que a acne é mais prevalente em meninas, em faixas etárias mais jovens, com aumento da prevalência em meninos, na medida que atingem a puberdade. Já os homens são mais propensos a ter acne do tipo mais grave (TAN; BHATE, 2015). 15 ACNE Capítulo 1 Em média, o sebo é constituído por aproximadamente 57,5% de triglicerídeos e ácidos graxos livres, 26% de ésteres de cera, 12% de escaleno, 3% de ésteres de colesterol e 1,5% de colesterol (MAGIN et al., 2005). Uma grande taxa de secreção sebácea leva ao decréscimo na concentração do ácido linoleico, acarretando defi ciência de ácidos graxos essenciais nas células do epitélio folicular. Provoca a redução da proteção da parede epitelial glandular, que pode ser agredida mais facilmente por ácidos graxos livres (AGL). Os AGLs são oriundos da hidrólise dos triglicerídeos pelas lipases do microrganismo Propionibacterium acnes (P. acnes), uma bactéria que coloniza o folículo pilossebáceo, levando à hiperqueratinização (hiperproliferação dos ceratinócitos e/ou separação inadequada dos corneócitos ductais), diminuindo a efi ciência da barreira epidérmica e, portanto, facilitando o crescimento bacteriano e infl amação dérmica (COSTA; ALCHORNE; GOLDSCHMIDT, 2008). Existem diferenças genéticas individuais na composição dos ácidos graxos livres (AGLs), que são originados da hidrólise dos triglicerídeos. Quanto maior for o tempo de exposição cutânea ao sebo, maior será a hidrólise dos triglicerídeos e, assim, ocorre aumento nos níveis de AGLs. O ácido linoleico é precursor do ácido araquidônico, que é essencial para produção de uma série de mediadores lipídicos, sendo fundamental para a manutenção da função da barreira epidérmica. Assim, reduções nas concentrações ocasionam descamação celular no folículo pilossebáceo, ou seja, o “rompimento” da barreira de proteção epidérmica, levando à liberação de interleucina-1alfa (IL-1alfa). A interleucina pró-infl amatória é conhecida por estar presente nas fases iniciais do processo de instalação da acne. Portanto, o prejuízo na integridade da barreira epidérmica, facilitará o acesso de microrganismos, principalmente bactérias, ao interior do folículo pilossebáceo, culminando com a instalação do processo infl amatório e/ou infeccioso (HORROBIN, 1989). Como já mencionado, é na puberdade que inicia o desenvolvimento das glândulas sebáceas estimuladas pelos hormônios androgênicos, porém não signifi ca que a presença de uma hipersecreção sebácea e a eclosão da acne sejam exclusivamente por causa das alterações androgênicas. Existem outros fatores importantes na etiopatogenia da acne (SAMPAIO;RIVITTI, 2008). Quando ocorrem elevações nas concentrações dos andrógenos circulantes, como na Síndrome de Cushing, ou na Síndrome dos Ovários Policísticos, nos Uma grande taxa de secreção sebácea leva ao decréscimo na concentração do ácido linoleico, acarretando defi ciência de ácidos graxos essenciais nas células do epitélio folicular. Provoca a redução da proteção da parede epitelial glandular, que pode ser agredida mais facilmente por ácidos graxos livres (AGL). 16 Estética Avançada Facial tumores produtores de andrógenos, na hiperplasia adrenal congênita ou na administração exógena de esteroides anabolizantes androgênicos, ocorrerá aumento na conversão local de testosterona em di-hidrotestosterona (realizada pela enzima 5-alfa-redutase). O metabólito formado é ainda mais potente que a testosterona e, entre suas inúmeras ações, promove o aumento da produção de sebo, podendo ocasionar a hipersecreção sebácea e o surgimento da acne (SAMPAIO; RIVITTI, 2008). A enzima 5-alfa-redutase apresenta maior atividade nos queratinócitos infra- infundibulares de indivíduos com acne, o que sugere uma maior capacidade das células em produzirem andrógenos ativos como a di-hidrotestosterona (LOURENÇO, 2011). É importante ressaltar que a conversão ocorre em meninos e meninas, porém com mais intensidade nos meninos. Outra questão importante, em relação à etiopatogenia da acne, é a infl uência exercida pelo consumo de alguns alimentos. Um estudo realizado por Cordain et al. (2002) demostrou que, em indivíduos submetidos a dietas com baixo índice glicêmico, não se verifi cava a presença de acne vulgar. Já um outro estudo realizado por Kwon et al. (2012) mostrou que o consumo de uma dieta rica em alimentos com alto índice glicêmico está diretamente relacionado à patogênese da acne. Curiosamente, a ingestão de leite e derivados, principalmente desnatados, também pode estar envolvida na patogênese da acne, pois levaria ao aumento dos níveis de fator de crescimento semelhantes à insulina -1 (IGF-1) e ao aparecimento da acne (ADEBAMOWO et al., 2006). Ainda, o hormônio de crescimento (GH), que apresenta os maiores níveis durante a puberdade/adolescência, age sobre o fígado, estimulando a produção de IGF-1, que estimula a produção de andrógenos pelas glândulas adrenais. Promove o aumento da proliferação, mas não da diferenciação dos queratinócitos e ativa a síntese de ácidos graxos, contribuindo para a hipersecreção sebácea (HARVEY; HUYNH, 2014). As evidências podem sugerir que altos níveis de insulina, associados ao IGF-1, poderiam estimular a síntese de andrógenos por vários tecidos do corpo que, por sua vez, estimulariam a hiperprodução sebácea e, provavelmente, o surgimento de acne (COSTA et al., 2008). Nos últimos anos, o uso de suplementos ricos em aminoácidos de cadeia ramifi cada, por pessoas com o objetivo de aumentar a massa muscular, tem sido associado ao desenvolvimento de acne (PONTES et al., 2013). Tais suplementos 17 ACNE Capítulo 1 são ricos em arginina, isoleucina, lisina e caseína, ou seja, aminoácidos capazes de estimular a produção de sebo. Em um estudo realizado por Chiu et al. (2003), sugere que o estresse também poderia estar envolvido com a patogênese da acne, uma vez que encontraram uma correlação positiva entre altos níveis de estresse e o agravamento da acne durante o período dos exames escolares. b) Hiperqueratinização folicular Nos folículos, há constantemente a descamação de queratinócitos que são carreados pelo sebo até a superfície da pele. A produção excessiva de células mortas contendo queratina é chamada de hiperqueratinização, decorrente da hiperproliferação e adesão dos queratinócitos, que ocorrem na porção proximal do infundíbulo do folículo. A hiperqueratinização folicular é um dos fatores mais importantes para o surgimento da acne, pois leva ao bloqueio do ducto folicular, criando um tampão de queratina, que causa retenção do conteúdo sebáceo no interior da glândula. O processo leva à formação do microcomedão, que evolui ao comedo devido ao acúmulo de lipídios, bactérias, fragmentos celulares, entre outros. A redução nos níveis de ácido linoleico no sebo, que ocorre devido à hipersecreção sebácea, é outro fator importante na formação dos comedões. Como citado anteriormente, a redução na concentração de tal ácido graxo essencial torna mais fácil a penetração de microrganismos e de ácidos graxos pró-infl amatórios e, assim, favorecendo a infl amação (HARVEY; HUYNH, 2014). Indivíduos com acne apresentam um sétimo da quantidade de ácido linoleico e, acredita-se que o défi cit na barreira de proteção ocorra pela má-formação da ceramida 1 (principal ceramida córnea), ocasionando aumento da queratinização da parede ductal, levando à formação das lesões (microcomedões e/ou comedões) (WERTZ et al., 1985). c) Colonização bacteriana do folículo A porção profunda do folículo sebáceo é colonizada pela bactéria Propionibacterium acnes (P. acnes), uma bactéria anaeróbica Gram-positiva do gênero Coryneobacterium, que utiliza a secreção das glândulas sebáceas como fonte de energia (NAKATSUJI et al., 2009). A hiperqueratinização folicular é um dos fatores mais importantes para o surgimento da acne, pois leva ao bloqueio do ducto folicular, criando um tampão de queratina, que causa retenção do conteúdo sebáceo no interior da glândula. 18 Estética Avançada Facial P. acnes possui enzimas esterases, que hidrolisam os triglicerídeos do sebo, liberando ácidos graxos que terão um papel irritante na parede do folículo e induzirão a queratinização da parede folicular tendo, portanto, um papel essencial no desenvolvimento da acne. O microrganismo é indutor de reação infl amatória, pois as proteínas de superfície do P. acnes estimulam as reações imunes que levam aos danos teciduais. A bactéria produz enzimas que facilitam a ruptura folicular (COSTA; ALCHORNE; GOLDSCHMIDT, 2008). Também é comum ocorrer a produção de citocinas, como a interleucina-1 alfa (IL- 1alfa), interleucina-8 (IL-8), beta defensina-2 (βD-2), pelos queratinócitos presentes nos ductos. As interleucinas promoverão a quimiotaxia de leucócitos, infi ltração de neutrófi los para os locais de infecção pelo P. acnes (NAGY et al., 2006). São encontrados nos comedões, anticorpos específi cos contra o P. acnes. Tais anticorpos acarretam a liberação de proteases hidrolíticas, que agem na parede folicular, fazendo com que ocorra a saída das substâncias irritantes para a derme, o que potencializa o processo. Acredita-se que o aumento da colonização de P. acnes na superfície cutânea possa estar correlacionado com a hiperprodução de triglicerídeos ou de colesterol. A hipótese está embasada no fato de haver maior população de P. acnes na face e no tronco, que são locais onde há grande concentração de lipídeos nas glândulas sebáceas. LiberaçÃo de Mediadores da InflamaçÃo no FolÍculo e Derme AdJacente Hoje, reconhece-se o processo infl amatório como “personagem principal” na patogênese da acne, desde a formação até as cicatrizes deixadas por ela. Ainda não estão totalmente desvendados todos os fatores envolvidos na gênese do processo infl amatório. Como mencionado, os indivíduos com acne apresentam maior secreção de sebo, que causa um aumento cumulativo dos ácidos graxos irritantes na pele. P. acnes possui enzimas esterases, que hidrolisam os triglicerídeos do sebo, liberando ácidos graxos que terão um papel irritante na parede do folículo e induzirão a queratinização da parede folicular tendo, portanto, um papel essencial no desenvolvimento da acne. 19 ACNE Capítulo 1 Ainda, as substâncias que compõem os comedões, são quimiotáticas para leucócitos mononucleares (linfócitos e monócitos). Também, espécies reativas de oxigênio (EROs), que são geradas a níveis baixos e lentos no metabolismo aeróbiconormal pela redução do oxigênio, apresentam papel importante no processo infl amatório em pacientes acneicos. As EROs podem induzir respostas imunológicas, pela ativação do factor nuclear kappa B (NF-kB) e da proteína ativadora-1 (AP-1), que são fatores de transcrição envolvidos na resposta celular a estímulos como o estresse, citocinas, radicais livres, infecções por bactérias e também por vírus (GILMORE, 1999; HESS; ANGEL; SCHORPP-KISTNER, 2004). Entretanto, a pele é equipada com enzimas antioxidantes como a glutationa peroxidase e moléculas não enzimáticas (vitaminas E, betacaroteno, ubiquinona e glutationa). Quando o estresse oxidativo supera a ação antioxidante dos compostos da pele, ocorre alteração da homeostase celular e pode originar processos degenerativos. Na verdade, os EROs induzem para a peroxidação lipídica, ou seja, para a degeneração oxidativa de ácidos graxos poli-insaturados, levando à formação de aldeídos altamente reativos que ocasionam danos às proteínas, apoptose ou liberação de mediadores indutores de infl amação (KURUTAS; ARICAN; SASMAZ, 2005). Já foi sugerido que níveis reduzidos das enzimas antioxidantes, associados a níveis aumentados de EROs, estão relacionados com a acne vulgar (AL- SHOBAILI, 2014). Sabe-se que a peroxidação lipídica de ácidos graxos como, por exemplo, do esqualeno, leva à formação de EROs, tanto intracelulares, como extracelulares. Assim, o P. acnes tem uma participação bastante expressiva, pois quando os queratinócitos são expostos ao microrganismo, ocorre a produção de EROs pelas proteínas de superfície. Acredita-se que o P. acnes seja um dos principais indutores do processo infl amatório, uma vez que produz enzimas que estão envolvidas no processo de ruptura folicular e difusão de mediadores celulares a partir do folículo sebáceo. Soma-se o fato do P. acnes estimular os monócitos, aumentando a secreção de citocinas pró-infl amatórias, como a interleucina 1-beta (IL1-beta) e a expressão dos genes caspase 1. 20 Estética Avançada Facial Todavia, mais recentemente, foi sugerido que o processo infl amatório estaria presente mesmo antes da formação do comedão. A sugestão pode ser sustentada pela existência de linfócitos T CD4+, macrófagos e níveis aumentados de IL-1 nos folículos pilossebáceos (TANGHETTI, 2013). Em 2017, foi publicado um artigo de revisão que traz, de forma resumida, mas muito atualizada, os fatores envolvidos na patogênese da acne. Acesse: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/ PMC5749694/pdf/jcad_10_10_18.pdf>. Acesso em: 21 maio 2018. Atividade de Estudos: 1) Explique o que é a acne. Por que ela apresenta maior incidência em adolescentes? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Por que o P. acnes tem uma grande participação na patogênese da acne? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 21 ACNE Capítulo 1 Manifestações ClÍnicas As principais manifestações clínicas observadas na acne podem variar muito de um indivíduo para o outro e ocorrem devido à diversidade de fatores causadores da patologia. Como já estudadas, variações nas concentrações de andrógenos, na composição do sebo, o consumo de alguns alimentos, fatores genéticos, dentre outros, podem originar acne, e dependendo da intensidade das alterações, bem como da associação desses fatores, são observadas diferentes manifestações clínicas. De acordo com Figueiredo et al. (2014), as principais manifestações clínicas da acne são: • Comedão – surge em consequência do aumento da espessura da camada córnea da epiderme, obstruindo o folículo piloso, sendo considerado a lesão inicial da acne. Os comedões podem ser fechados, conhecidos como pontos brancos, ou abertos, conhecidos como pontos negros. • Pápula – elevação sólida, geralmente de coloração avermelhada, que possui tamanho inferior a 1 cm e surge como área de edema ao redor do comedão. • Pústula – derivada da pápula, mais profunda, com um ponto purulento central, pode desaparecer em alguns dias, mas há a possibilidade de deixar cicatrizes. • Nódulo – lesões infl amatórias profundas e dolorosas com estrutura idêntica à pápula, mas com dimensões maiores, podendo atingir 2 cm. • Cicatriz – alteração causada pela presença de pele atrófi ca, que resulta da destruição do folículo pilossebáceo ocasionado pelo processo infl amatório. Basicamente, a acne pode ser classifi cada como acne não-infl amatória, quando apresenta somente comedões, não apresentando sinais infl amatórios, e acne infl amatória, quando há a instalação de um processo infl amatório que, segundo o número, a intensidade e as características das lesões, será classifi cada em formas clínicas de graus diferentes (II, III, IV e V). Você teve ou tem acne? Tente lembrar como era sua pele e de seus colegas no início da puberdade. Você sentiu ou sente algum tipo de alteração no seu comportamento psicossocial devido à acne? Você fez ou faz tratamento para acne? Como já estudadas, variações nas concentrações de andrógenos, na composição do sebo, o consumo de alguns alimentos, fatores genéticos, dentre outros, podem originar acne, e dependendo da intensidade das alterações, bem como da associação desses fatores, são observadas diferentes manifestações clínicas. 22 Estética Avançada Facial Acne NÃo-InflamatÓria a) Acne comedônica ou Acne de grau I É o tipo de acne mais simples, apresentando a presença de comedões. Em alguns casos, podem estar presentes pápulas e, mais raramente, em pústulas foliculares. Segundo Sampaio e Rivitti (2008), os tipos de comedões mais comumente encontrados são: • microcomedões: formados pelo acúmulo de corneócitos no infundíbulo do folículo pilossebáceo, produzindo uma dilatação visível somente ao microscópio; • comedões fechados (cravo branco): o acúmulo de corneócitos na parte acroinfundibular leva para a forma esférica, com cor esbranquiçada, sendo identifi cados quando a pele é distendida; • comedões abertos (cravo preto): ocorre devido ao acúmulo de corneócitos, sebo e colonização pelo P. acnes, apresentando cor escura na extremidade devido à presença de melanina. Figura 1 – Fotografi a da testa de paciente com acne comedônica Fonte: Disponível em: <http://www.dermis.net/dermisroot/ en/36338/image.htm>. Acesso em: 18 maio 2018. Acne InflamatÓria A acne infl amatória, como o nome já diz, é caracterizada pela presença de processo infl amatório no folículo polissebáceo, apresentando um grande infi ltrado de citocinas infl amatórias, neutrófi los, monócitos, dentre outras substancias que participam do processo. Segundo Sampaio e Rivitti (2008), a acne infl amatória pode ser classifi cada da seguinte forma: 23 ACNE Capítulo 1 a) Acne pápulo-pustulosa ou Acne de grau II Este tipo de acne é caracterizado pela presença de: - Comedões abertos. - Algumas pápulas. - Eritrema infl amatório em alguns pacientes. - Seborreia na maioria dos pacientes. - Processo infl amatório intenso. Figura 2 – Foto do rosto do paciente com acne pápulo-pustulosa Fonte: Disponível em: <http://www.dermis.net/dermisroot/ en/36371/image.htm>. Acesso em: 18 maio 2018. b) Acne nódulo-abscedante ou Acne grau III Também pode ser conhecida como Acne nódulo-cística. É caracterizada pela presença de: - Comedõesabertos. - Pápulas. - Pústulas. - Seborreia. - Em boa parte dos casos aparecem também nódulos furunculoides, que eliminam pus. 24 Estética Avançada Facial Figura 3 – Fotografi a do rosto de paciente com acne nódulo-abscedante Fonte: Disponível em: <http://www.dermis.net/dermisroot/ en/36443/image.htm>. Acesso em: 11 jun. 2018. c) Acne conglobata ou Acne grau IV É considerado o tipo mais grave de acne. É mais comum entre os homens, incidindo principalmente na face e pescoço. Caracteriza-se pela presença de: - Nódulos purulentos. - Abscessos grandes e numerosos. - E, na grande maioria dos casos, ocorre a formação de fístulas que drenam pus. Figura 4 – Rosto de paciente com acne conglobata Fonte: Disponível em: <http://www.dermis.net/dermisroot/ en/36714/image.htm>. Acesso em: 18 maio 2018. 25 ACNE Capítulo 1 d) Acne fulminante ou Acne grau V É um tipo raro de acne e caracteriza-se pela presença de: - Acne nódulo-abscedente ou conglobata. - Febre. - Leucocitose. - Eritrema Infl amatório. - Hemorragia nas lesões. Figura 5 – Fotografi a do ombro de paciente com acne fulminante Fonte: Disponível em: <http://www.dermis.net/dermisroot/ en/36734/image.htm>. Acesso em: 18 maio 2018. Além dos principais tipos de acne citados, classifi cados conforme suas características clínicas, também podemos encontrar outros tipos de acne classifi cados conforme os fatores que a originam: • Acne Vulgar ou Juvenil - Forma mais comum. - Relacionada com o aumento na produção de andrógenos no início da puberdade. - Grande prevalência na adolescência (85%). - Acomete ambos os sexos. - Geralmente regride de forma espontânea após os 20 anos. • Hiperandrogênica - Ocorre em 40% das mulheres portadoras da Síndrome do Ovário policístico. - Está relacionada com variações hormonais. - Apresenta difícil tratamento. 26 Estética Avançada Facial • Acne Neonatal, Infantil ou Pustulose Cefálica Neonatal - Originada nas primeiras semanas de vida. - Incide principalmente no nariz, fronte e bochechas. - As lesões desaparecem em algumas semanas, quando não existirem mais andrógenos de origem materna. • Pré-menstrual - Tipo de acne bastante comum entre as mulheres. - Provocada por variações nas concentrações hormonais durante o período pré- menstrual. - Lesões tendem a desaparecer após o período. • Ocupacional - É decorrente do contato com substâncias químicas durante o expediente de trabalho. - Leva à formação de comedões fechados e cistos infl amatórios. - Em alguns casos, ocorre a formação de lesões nas áreas onde ocorreu o contato. • Solar ou Estival - É decorrente de queimadura solar, que leva à formação de edema óstio folicular. - O quadro pode ser agravado pela oleosidade de cosméticos/protetores solares. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, uma má higienização da pele, não obrigatoriamente, causa acne, pelo contrário, uma higienização excessiva e mais agressiva pode causar traumas que deixariam a pele mais exposta à contaminação bacteriana. Ainda, não há comprovação científi ca sobre a melhora da acne após exposição ao sol (MAGIN et al., 2005). 27 ACNE Capítulo 1 Tipos de CicatriZes As cicatrizes deixadas pela acne estão relacionadas principalmente com a gravidade da acne, pois elas são consequência da intensidade do dano causado pelo processo infl amatório no folículo polissebáceo. Quanto mais profunda for a lesão, maior será a chance do paciente apresentar cicatrizes. As cicatrizes de acne podem ser classifi cadas em: a) Atrófi cas Acredita-se que o tipo de cicatriz seja consequência da degradação enzimática das fi bras de colágeno e gordura, porém, apesar dos inúmeros estudos, sua patogênese ainda não está completamente clara, pois alguns pacientes apresentam cicatrizes e outros não. A perda local da integridade tecidual está diretamente relacionada com o grau de profundidade e com a duração do processo infl amatório. Portanto, a realização de tratamento precoce da acne pode ser efi caz em prevenir o aparecimento de cicatrizes, principalmente quando se tratar de acne do tipo infl amatória. Segundo Jacob et al. (2001 apud NEGRÃO, 2017), este tipo de cicatriz pode ser subdividido em 3 tipos, conforme Quadro 1. As cicatrizes deixadas pela acne estão relacionadas principalmente com a gravidade da acne, pois elas são consequência da intensidade do dano causado pelo processo infl amatório no folículo polissebáceo. Quadro 1 – Subtipos de cicatrizes atrófi cas e suas características Subtipo de cicatriz atrófi ca Características Ice Pick - Depressões cilíndricas em forma de “V”. - Estreitas e profundas. - Estendem-se para o interior da derme. - Podem atingir o tecido subcutâneo. - São mais resistentes ao tratamento. - Apresentam difícil identifi cação. - Pacientes costumam chamar de “furo”. Box Scar - Arredondadas com depressões ovais – formato de “U”. - Bordas nítidas. - Geralmente, decorrem de lesões superfi ciais. - Assemelham-se a cicatrizes de varicela. - Podem ser classifi cadas em rasas ou profundas, dependendo da lesão. ROLLING - Grandes depressões superfi ciais. - Apresentam pouca demarcação. - Extensão vertical é limitada pela profundidade da espessura da epiderme. Fonte: Extraído e adaptado de Jacob et al., 2001 (apud Negrão, 2017, p. 58). 28 Estética Avançada Facial b) Elevadas São elevações que aparecem no local onde havia lesão de acne. Podem ser divididas em papulosas, hipertrófi cas e queloideanas. As duas últimas são consequência de respostas anormais/exageradas, geralmente em relação à fi brótica, a lesões profundas que atingem a derme. O tipo de cicatriz tem um impacto psicológico importante, pois apresenta um aspecto pouco estético. Felizmente, são menos frequentes. No Quadro 2, estão relacionados os subtipos das cicatrizes elevadas e suas características. Quadro 2 – Subtipos de cicatrizes elevadas e suas características Subtipo de cicatriz elevada Características Hipertrófi ca - Aparece em algumas semanas após a lesão. - Caracterizada por placas espessas e salientes na área onde havia a lesão. - Apresenta a mesma coloração da pele, mas em alguns casos pode ter coloração rosa ou pruriginosa. - Apresenta regressão espontânea, em torno de 6 meses a 1 ano. Queloideanas - Aparecem após meses ou anos da lesão. - Suas bordas ultrapassam o limite da lesão. - Apresentam o aspecto de placas fi brosas duras. - Geralmente acabam por piorar com o passar do tempo. - Quando retiradas, podem apresentar recidivas. - Apresentam coloração rosada. - Pacientes, geralmente, sentem dor e coceira. - Ocorre redução de folículos pilosos e glândulas sebáceas na área da cicatriz. Papulosas - Elevações distensíveis. - Apresentam maior incidência na região mentoniana e tronco; - Com coloração avermelhada, arroxeada ou esbranquiçada. Fonte: Adaptado de Negrão (2017, p. 63-68). Além das cicatrizes atrófi cas e elevadas, também pode ser observado um quadro de hipercromia pós-infl amatória nos locais da lesão. Não é considerada uma cicatriz de acne, na verdade, são alterações na pigmentação da região da lesão devido ao aumento na produção de melanina. Determinado tipo de alteração também pode ocorrer em outras situações patológicas como: infecções cutâneas, reações alérgicas, traumas, reações fototóxicas, dentre outras (NEGRÃO, 2017, p. 68). 29 ACNE Capítulo 1 Os indivíduos portadores da hiperpigmentação, geralmente, apresentam máculas de cor rosada ou marrom, conforme a profundidade da lesão e a coloração da pele do indivíduo. Segundo Ferreira e D’Assumpção (2006), as lesões são consequência da liberação de mediadores infl amatórios, que estimulam o melanócito a produzir melanina e, assim, a exposição solar piora o quadro. Geralmente, o quadro regride de 3 a 24 meses após o aparecimento. Tratamentos Na literatura, existem inúmeras técnicas e métodos que podem ser empregados no tratamento da acne,tanto em relação à melhora do aspecto da pele, como em relação à contenção do grau de comprometimento dela. Entretanto, de forma geral, no tratamento da acne, são empregadas substâncias tópicas, como peróxido de benzoíla, retinoides ou ácido azeláico, e medicamentos orais anti-infl amatórios, antibióticos e antiandrógenos. É importante lembrar que boa parte dos medicamentos empregados no tratamento da acne podem levar ao aparecimento de efeitos adversos, que Atividade de Estudos: 1) Como a acne apresenta diferentes tipos, é importante identifi car as manifestações clínicas de cada um deles. Para ajudar você a conhecer melhor os diferentes tipos de acne, faça a atividade a seguir correlacionando as colunas: (a) Acne Comedônica (b) Acne Pápulo-pustulosa (c) Acne Nódulo-abscedante (d) Acne Conglobata ( ) Presença de abscessos que formam fístulas. ( ) Presença de comedões fechados e/ou abertos. ( ) Presença pápulas, pústulas e nódulos furunculoides. ( ) Presença de comedões abertos, pode conter pápulas. Fratamento da acne, são empregadas substâncias tópicas, como peróxido de benzoíla, retinoides ou ácido azeláico, e medicamentos orais anti-infl amatórios, antibióticos e antiandrógenos. 30 Estética Avançada Facial são pouco toleráveis pelo paciente, levando à falta de aderência/segmento do tratamento. Segundo Manfrinato (2009), o tratamento clínico da acne é, geralmente, baseado no tipo de acne e no seu grau de acometimento. Podendo então, o seu tratamento envolver: - Cuidados profi láticos (higiênicos e alimentares). - Uso de medicamentos orais e tópicos (anti-infl amatórios, antibióticos, cosméticos, dentre outros). - Uso de recursos terapêuticos (limpeza de pele, luz pulsada, microdermoabrasão, dentre outros). - Tratamento cirúrgico. - Tratamento alternativo (acupuntura, fi toterapia, dentre outros). Atualmente, já é um consenso que os tratamentos alternativos contribuem para a melhora dos diversos tipos de acne. A seguir, você conhecerá os principais tratamentos e em que situações eles são importantes. a) Limpeza de pele: é recomendada para remoção de comedões e, assim, impedir que os folículos pilossebáceos sejam infectados. b) Peelings: são utilizados para reduzir as manchas e cicatrizes mais superfi ciais da acne. c) Microdermoabrasão: é recomendado para promover a uniformização da pele. d) Despigmentantes: são recomendados para diminuir as manchas que surgem nos locais das lesões da acne. e) Crioterapia: recomendada para lesões localizadas e severas que não respondem ao tratamento tópico e/ou sistêmico. f) Geoterapia: recomendada para desintoxicação da pele devido a suas propriedades infl amatórias e bacterecida. g) Cataplasmas: devido às propriedades anti-infl amatória e bactericida da argila, são recomendados para atenuar principalmente o processo infl amatório. h) Laserterapia e Fototerapia: são recomendados pelas propriedades terapêuticas anti-infl amatória, bactericida e pela sua capacidade de reorganizar o colágeno da pele. Fonte: Extraído e adaptado de Pimentel (2008, p. 50-65) e Spethmann (2007, p. 45). 31 ACNE Capítulo 1 A acne deve ser tratada o mais precoce possível, tanto por fatores estéticos, como também para preservar a saúde da pele e psíquica do portador da patologia. Ainda, já é de conhecimento popular que, a manipulação (“espremer”) das lesões de acne, pode agravar a infl amação/infecção e deixar cicatrizes na pele afetada. A escolha do tratamento irá variar conforme a gravidade e a localização das lesões, sendo importante a análise criteriosa. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (2018), nas formas brandas o tratamento, geralmente, é apenas local, havendo possibilidade do emprego de medicamentos individuais ou combinados. Os mais empregados são o ácido salicílico, peróxido de benzoíla, retinoides (tretinoína, adapaleno), antibióticos (clindamicina e eritromicina) e ácido azeláico. Nos casos em que não ocorre melhora apenas com o uso medicamentoso tópico, é associado o tratamento por via oral, utilizando outros antibióticos como, por exemplo, doxiciclina, tetraciclina, sulfametoxazol-trimetoprim. Caso ainda não ocorra melhora, é indicado o uso de isotretinoína oral, mesmo em casos moderados, mas claro, se o paciente não possuir nenhuma contraindicação. A isotretíona é um fármaco retinoide que inibe a função das glândulas sebáceas e a queratinização, sendo amplamente empregada no tratamento da acne grave (UDA; WANCZINSKI, 2008), pois demonstra excelentes resultados. Entretanto, merece bastante atenção, existindo vários protocolos a serem seguidos antes da sua prescrição, bem como, uma série de exames para acompanhamento de parâmetros sanguíneos do usuário. A PORTARIA Nº. 1159, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2015 trata do Protocolo de uso da isotretinoína no tratamento da acne grave. É importante ressaltar que procedimentos complementares ao tratamento, como a extração de “cravos”, peelings químicos, microdermabrasão, infi ltração com corticoides em lesões nodulares ou em cicatrizes elevadas, são bastante efi cazes no controle da acne. O tratamento cirúrgico da acne é indicado somente quando existir a necessidade da extração de comedões. Também, podem ser realizadas injeções intralesionais de corticoides. A acne deve ser tratada o mais precoce possível, tanto por fatores estéticos, como também para preservar a saúde da pele e psíquica do portador da patologia. 32 Estética Avançada Facial Se você desejar conhecer mais sobre a acne, existem bons livros sobre o assunto: NEGRÃO, M. M. C. Cicatrizes de acne: da avaliação ao tratamento. 1. ed. São Paulo: CR8 Editora, 2017. SAMPAIO, S. A. P.; RIVITTI, E. A. Dermatologia. 3. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2008. AZULAY, R. D.; AZULAY, D. R. Dermatologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. 664p. Atividade de Estudos: Como a Isotretinoína é um fármaco amplamente empregado no tratamento da acne, é importante conhecer um pouco mais sobre esse fármaco. Disponível em: <http://conitec.gov.br/images/ Protocolos/ProtocoloUso_Isotretinoina_2015.pdf>. Acesso em: 18 maio 2018. Acesse e responda os questionamentos a seguir: 1) Por que o tratamento com isotretinoína oral para acne deve ser restrito aos casos mais graves e refratários da doença? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Em média, qual o tempo de tratamento com isotretinoína? Há a possibilidade do tempo ser estendido? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 33 ACNE Capítulo 1 3) Por que os pacientes que fazem uso da isotretinoína precisam fazer monitorização do perfi l lipídico? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4) Por que após o término do tratamento com isotretinoína o paciente deve fazer acompanhamento médico? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 5) Quais são os efeitos adversos mais comuns observados nos pacientes em uso de isotretinoína? ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações Neste capítulo, você pôde conhecer a etiopatogênese da acne e compreender os diferentes tipos que podem acometer a pele. Ainda, o capítulo lhe mostrou a importância do tratamento, tanto para remissão da acne, como para as cicatrizes deixadas por ela. Por se tratar de uma dermatose crônica de grande incidência no Brasil e no mundo, a acne ganha destaque dentre as demais patologias dermatológicas. Assim, é muito importante que você compreenda como as lesões no folículo pilossebáceo acarretam as manifestações clínicas da acne. É importante que você consiga relacionar os tipos de acne com os tratamentos específi cos. Devido ao impacto psicossocial, principalmente em adolescentes, é muito importante que o tratamento seja iniciado o quanto antes, pois já está bem 34 Estética Avançada Facial consolidado na literatura que a baixa estima e o isolamento social, muitas vezes como consequências do bullying sofrido, podem levar ao desenvolvimento de depressão. No próximo capítulo, abordaremos os processos do envelhecimento cutâneo, e iremos compreender os mecanismos fi siológicos envolvidos no processo de envelhecimento da pele e os diversos fatores envolvidos no processo. ReferÊncias ADEBAMOWO, C. A.; SPIEGELMAN, D.; BEREKEY, C. S.; DANBY, F.W.; ROCKETT, H. H.; COLDITZ, G. A., et al. Milk consumption and acne in adolescents girls. Dermatol Online J, n.12, v.4, p.1, 2006. AL-SHOBAILI, H. A. Oxidants and anti-oxidants status in acne vulgaris patients with varying severity. Annals of clinical & laboratory science, v. 44, n. 2, p. 202-207, 2014. ARAÚJO, A. P. S. de; DELGADO, D. C.; MARÇAL, R. Acne: diferentes tipologias e tratamento. VII Encontro Internacional de Produção Científi ca, 2011. CHIU, A.; CHON, S.Y.; KIMBALL, A. B. The response of skin disease to stress: changes in the severity of acne vulgaris as affected by examination stress. Arch Dermatol, n.139, v.7, p. 897-900, 2003. 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The composition of the ceramides from human stratum corneum and from comedones. J Invest Dermatol, v.84, p. 410-412, 1985. CAPÍTULO 2 Processo de Envelhecimento Cutâneo A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Compreender os mecanismos fi siológicos e bioquímicos envolvidos no processo de envelhecimento da pele. Estudar os diferentes fatores envolvidos no envelhecimento fi siológico ou potencializadores/antecipatórios do envelhecimento. Identifi car os diferentes tipos de envelhecimento e seus estágios. 38 Estética Avançada Facial 39 PROCESSO DE ENVELHECIMENTO CUTÂNEO Capítulo 2 ConteXtualiZaçÃo Nas últimas décadas, temos percebido um aumento nos estudos que buscam compreender o processo de envelhecimento, principalmente por causa do aumento da expectativade vida da população. Assim, o envelhecimento da pele, em especial da face, conhecida como nosso “cartão de visita”, tem tido destaque no mercado estético, seja para prevenir, retardar ou melhorar a aparência. Assim, estudaremos, neste capítulo, o processo de envelhecimento cutâneo, compreendendo os mecanismos moleculares, bioquímicos e fi siológicos envolvidos, bem como os diferentes fatores que o induzem e o potencializam. Compreenderemos que o envelhecimento é um fenômeno natural e progressivo e que ocorrem alterações estruturais nas camadas que compõem a pele, principalmente pela produção de radicais livres que induzem enzimas que degradam proteínas importantes na composição estrutural e funcional da pele. Fatores externos ao nosso organismo, com destaque para a radiação UV, potencializam o processo natural de envelhecimento, causando efeitos danosos nas diferentes camadas da pele. A radiação UV tem ação direta no DNA das células da pele e a exposição prolongada deve ser evitada. Envelhecimento Cutâneo O envelhecimento é um fenômeno fi siológico, progressivo e irreversível caracterizado pelo declínio funcional e estrutural das diferentes camadas da pele. Para que possamos entender como ele causa alterações na pele, precisamos estudar a estrutura organizacional e funcional da pele. Estrutura da Pele A pele é o maior órgão do corpo humano, correspondendo a 15% do peso corporal. É responsável por criar uma barreira entre o meio interno e o meio externo, mantendo o meio interno em equilíbrio, protegendo-o das agressões externas, participando do controle da temperatura corporal, além de também assumir funções sensoriais, imunológicas e bioquímicas. Como os demais órgãos que compõem o corpo humano, a pele também sofre alterações com o processo de envelhecime nto. 40 Estética Avançada Facial Ela não apresenta a mesma composição em todas as partes do corpo. A palma das mãos e a planta dos pés, por exemplo, apresentam uma epiderme com várias camadas celulares, além de uma camada superfi cial espessa de queratina, também chamada de pele grossa (ou espessa). As regiões também não possuem pelos e glândulas sebáceas, porém possuem glândulas sudoríparas. As demais regiões do corpo e rosto apresentam uma epiderme com poucas camadas celulares e uma delgada camada de queratina, sendo denominada pele fi na (ou delgada). Como já estudada no capítulo anterior, estruturalmente a pele é constituída de três camadas: epiderme, derme e hipoderme (ou tecido subcutâneo). a) Epiderme É a camada mais superfi cial, avascularizada e com um epitélio estratifi cado pavimentoso queratinizado. Nessa camada existem quatro tipos de células: queratinócitos (mais abundantes), melanócitos, células de Langerhans e células de Merkel. Conforme o grau de maturação dos queratinócitos, podem ser distinguidas cinco camadas celulares: extrato germinativo ou basal, estrato espinhoso ou malpighiano, estrato granuloso e estrato córneo (o mais superfi cial) (DIAS, 2008). O estrato basal é o mais profundo, é situado na membrana basal que separa a derme da epiderme. Ele contém as células-tronco da epiderme (queratinoblastos) com alta capacidade mitótica, assim também é chamado de germinativo. As células sofrem diferenciação celular originando os queratinócitos. Na medida em que as células sofrem diferenciação, elas se movem para as camadas mais superfi ciais. Assim, são consideradas responsáveis pela renovação contínua da pele, que pode ocorrer em um período que varia de 25 a 50 dias. Os melanócitos são células arredondadas com longos prolongamentos, geralmente presentes na junção da derme com a epiderme ou entre os queratinócitos do estrato basal da epiderme. Tais células oxidam o aminoácido tirosina em 3,4-di-hidroxifenilalanina (DOPA) com auxílio da enzima tirosinase, levando à produção de melanina, um pigmento pardo-amarelado para marrom- escuro (BERG; TYMOCZKO; STRYER, 2002). Os grânulos de melanina produzidos são introduzidos nos queratinócitos do estrato basal e do estrato espinhoso. A melanina é responsável pelo escurecimento da pele por exposição à luz solar. 41 PROCESSO DE ENVELHECIMENTO CUTÂNEO Capítulo 2 O processo resulta, inicialmente, no escurecimento da melanina preexistente através da foto-oxidação e, posteriormente, na aceleração do processo de síntese de melanina e da sua transferência aos queratinócitos. Nos queratinócitos, a melanina é concentrada no núcleo com a fi nalidade de proteger o material genético da radiação ultravioleta, como veremos mais adiante. As células de Merkel estão apoiadas na membrana basal, na parte mais profunda da epiderme. Elas são mecanorreceptores (receptores sensoriais) que conferem a sensibilidade táctil à pele. Estão presentes em peles sujeitas à fricção, manipulação, locomoção, como a palma das mãos e planta dos pés (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004). O estrato espinhoso é chamado assim porque, no corte histológico, as pontes intercelulares parecem espinhos, apresentando como principal característica a presença de desmossomos nas células, que promovem grande adesão. Ainda, é constituído por agregados densos de fi lamentos de queratina, concentrados na periferia dos queratinócitos e em projeções da célula que terminam nos desmossomos. O estrato é crucial para a integridade e estabilidade da epiderme. No estrato espinhoso também se encontram as células de Langerhans, com o importante papel na imunidade da pele, uma vez que fagocitam e processam os antígenos estranhos. Determinadas células são fundamentais para a resposta imunológica, pois apresentam os antígenos capturados aos linfócitos T que iniciam a resposta imunológica (CARVALHO, 2014). O estrato granuloso é constituído de duas até cinco camadas de células pavimentosas. Nele, as células perdem o núcleo e os fi lamentos de queratina, e se agregam para formar microfi brilas, fazendo com que a membrana celular seja substituída por um invólucro constituído de proteínas reticuladas com lipídios covalentemente ligados à superfície. Ocorre a síntese de colesterol, de ácidos graxos livres e ceramidas, que são acondicionados e, posteriormente, exocitados para o espaço intercelular para formar uma barreira impermeável à água, ou seja, para impedir a desidratação do tecido. O estrato córneo é constituído por cerca de 10 a 15 camadas de células achatadas que se assemelham a escamas. As células são pavimentosas, anucleadas e queratinizadas. Os queratinócitos passam a ser chamados de corneócitos, pois atingem o estado máximo de diferenciação. 42 Estética Avançada Facial No estrato, observamos que as células estão circundadas por uma estrutura lipídica lamelar, que tem por função promover coesão entre os corneócitos através da formação de uma estrutura rígida constituída por lipídios (20-25%) (ceramidas, ácidos graxos, triglicerídeos, ésteres de colesterol e fosfolipídios) e, principalmente, por proteínas (75-80%) (RANG et al., 2016). Devido às propriedades estruturais, o estrato apresenta um papel muito importante na composição da barreira à permeação, sendo fundamental no controle da absorção percutânea . No estrato córneo também há melanócitos, células de Langerhans e células de Merckel, ou seja, além de proteção ao atrito, também protegem contra a invasão de microrganismos e auxiliam na sensibilidade. As células superfi ciais desse estrato descamam com a abrasão e não apresentam desmossomos. Na literatura, alguns autores falam do estrato lúcido, que se torna evidente somente em peles espessas, não sendo observado nas demais. Nele, observam- se células transparentes, com aparência achatada em estado de degeneração ou mortas (CARVALHO, 2014). b) Derme A derme, situada logo abaixo da epiderme, é composta por tecido conjuntivo denso, fi broso e elástico. Nessa camada, observamos a presença de fi broblastos que produzem e segregam proteínas para o espaço extracelular. Por suavez, estas irão compor a matriz extracelular na forma de: fi bras elásticas, colágeno, fi bronectina, glicosaminoglicanos e proteoglicanos. Ainda, também se encontram na derme de células imunes, como macrófagos e os mastócitos (HWANG; YI; CHOI, 2011). Portanto, devido à constituição, a derme confere sustentação estrutural, elasticidade e resistência da pele. Ainda, na derme há a presença de vasos sanguíneos responsáveis pela nutrição e oxigenação tanto das células da derme, como da epiderme. Nela também estão localizadas estruturas anexas como as glândulas pilossebáceas Você pode encontrar mais informações sobre a estrutura organizacional da pele. Bons estudos! Disponível em: <http:// dermatopatologia.com/histologia/>. Acesso em: 8 jun. 2018. 43 PROCESSO DE ENVELHECIMENTO CUTÂNEO Capítulo 2 e sudoríparas, além de corpúsculos sensoriais e terminações nervosas livres (BARATA, 1994). O colágeno é a proteína mais abundante na derme. Devido à confi guração de tripla hélice e à associação aos proteoglicanos, ele forma os feixes de colágeno que são responsáveis por conferir força e sustentação à pele. Na derme, a maior parte do colágeno presente é do tipo I, que forma fi bras com maior espessura. Todavia, também há a presença de colágeno do tipo III, que forma fi bras fi nas, responsáveis pela elasticidade (BARATA, 1994). Ainda, na derme também existem fi bras elásticas, constituídas por elastina e fi brilina, que mesmo em quantidade inferior em comparação ao colágeno, são importantes para a elasticidade da pele, permitindo que ela resista a forças de deformação (HWANG; YI; CHOI, 2011). Tais fi bras podem ser classifi cadas em: • Elaunícas: estão dispostas paralelamente à lâmina dermoepidérmica, com a função de permitirem o movimento de distensão e contração da derme papilar. • Oxitalânicas: estão dispostas perpendicularmente à lâmina dermoepidérmica, constituídas por fi brilina e responsáveis pelo suporte do tecido. • Elásticas: constituídas principalmente por elastina e, em menor quantidade, por fi brilina. Sua função é possibilitar os movimentos de distensão e contração da derme reticular. c) Hipoderme A hipoderme, ou tecido subcutâneo, é constituída por células adiposas e vasos sanguíneos ligados à derme através de fi bras de colágeno. Suas principais funções são absorver choques contra a pele e funcionar como um isolante de calor (DIAS, 2008). HidrataçÃo do Tecido Cutâneo Assim como cada camada da pele apresenta uma composição diferente, também são observados diferentes graus de hidratação da pele ao longo de suas camadas. A camada que apresenta maior hidratação é a basal (aproximadamente 70%). A camada córnea apresenta um grau de hidratação de cerca de 10-20% e, nessa camada, a água exerce uma função plastifi cante, sendo fundamental para que as propriedades mecânicas, como a plasticidade, a elasticidade e a fl exibilidade sejam mantidas (BARATA, 1994). 44 Estética Avançada Facial As células da epiderme apresentam canais de água chamados de aquaporinas (AQPs), que têm como função transpor água quando necessário e manter a homeostasia. Nas células da camada basal, são encontradas aquaporinas do tipo 3 (AQP3) e nos corneócitos da camada córnea estão as aquaporinas do tipo 1 (AQP1). Essas AQPs são essenciais para manter a hidratação, a elasticidade e, também, para que ocorra a reparação da barreira cutânea, quando lesada. Como veremos a seguir, o processo do envelhecimento ocasiona perturbação na organização estrutural e funcional das diversas camadas da pele, causando desde a alteração na composição proteica até a perturbação do equilíbrio hídrico. Processo de Envelhecimento Cutâneo O envelhecimento é um fenômeno fi siológico, progressivo e irreversível, caracterizado pelo declínio funcional e estrutural das diferentes camadas da pele. É um processo variável de um indivíduo para outro, assim como de órgão para órgão. Já se sabe, hoje, que fatores genéticos também participam do processo. Por se tratar de um processo biológico complexo e contínuo, ele ocasiona a diminuição progressiva da capacidade de homeostase do organismo, levando à senescência e à morte celular programada (apoptose). Com o envelhecimento, a pele passa a apresentar uma aparência pregueada, enrugada e fl ácida (HARRIS; HOFFMANN; CRUVINEL, 2005). A preocupação com o envelhecimento, não só o da pele, mas do organismo como um todo, tem sido alvo de inúmeros estudos. Ainda, a busca por tratamentos estéticos de antienvelhecimento cresce de forma exponencial. Todavia, apesar do envelhecimento afetar todos os nossos órgãos, é na pele que ele se torna mais evidente. Há algumas décadas, milhares de grupos de pesquisas espalhados pelo mundo buscam identifi car o (s) fator (es) desencadeadores do envelhecimento, bem como uma maneira para retardar ou estagnar o processo. Na literatura, existem várias teorias que buscam explicar o processo do envelhecimento, porém a mais aceita é a “Teoria dos Radicais Livres”. A teoria é considerada a mais completa e explicativa do processo de envelhecimento, pois defende que o envelhecimento se deve a lesões cumulativas provocadas pelos radicais livres oriundos do metabolismo celular, seja ele fi siológico ou patológico. 45 PROCESSO DE ENVELHECIMENTO CUTÂNEO Capítulo 2 Estudos mostraram que cada célula possui um equilíbrio entre espécies oxidantes (espécies reativas de oxigênio – EROs), como o peróxido de hidrogénio (H2O2) e as espécies antioxidantes (superóxido dismutase – SOD, glutatião peroxidase, catalase, vitaminas C e E, tocoferóis etc). Entretanto, na maioria dos organismos, o equilíbrio é facilmente perdido, ocorrendo o predomínio de EROs, que gera o processo conhecido como estresse oxidativo (CRAS TES DE PAULET, 1990; DUNN; KOO, 2013). Segundo Ruivo (2014), as espécies reativas de oxigênio podem ter origem: a) Endógena: originadas, principalmente, a partir de: • Processos bioquímicos, como o metabolismo mitocondrial: • Citocromo P450. • Citoquinas infl amatórias. b) Exógena: originadas, principalmente, a partir de: • Raios UV. • Toxinas ambientais (poluição do ar). • Tabaco. • Má alimentação (consumo de grande quantidade de produtos industrializados). • Álcool (com exceção do vinho tinto). Diante do fato de vivermos constantemente expostos a várias EROs de origem exógena no nosso cotidiano, sem mencionarmos os de origem endógena e, sabendo que a pele é um órgão de proteção que está constantemente em contato com o meio externo, fi ca claro porque esse é o órgão em que o envelhecimento se torna mais evidente. As áreas que apresentam os sinais de envelhecimento de forma mais precoce são a face, mãos e pescoço, pois são áreas mais expostas. As principais alterações observadas nessas áreas são: ressecamento, enrugamento, perda de elasticidade, alteração da pigmentação, dentre outras. Como aparentar cinco anos a menos (sem gastar um centavo com cremes)? Ficou curioso? Você encontrará 13 ações anti-idade indicadas por especialistas. Disponível em: <https://brasil. elpais.com/brasil/2015/07/02/estilo/1435862704_774453.html>. Acesso em: 30 maio 2018. 46 Estética Avançada Facial Principais Alterações BioQuÍmicas, FisiolÓgicas e MorfolÓgicas Causadas Pelo Processo de Envelhecimento O envelhecimento ocasiona a perda progressiva dos lipídios, que constituem a camada córnea, ocasionando aumento da suscetibilidade tanto a infecções por microrganismos, como aos traumas. Os queratinócitos, principal tipo celular da epiderme, perdem gradualmente a capacidade de renovação, se acumulando na superfície e levando ao espessamento cutâneo e ao prejuízo da permeabilidade cutânea. Outro ponto crucial do envelhecimento é a destruição exacerbada das fi bras de colágeno e elastina, devido à atividade das enzimas metaloproteinases responsáveis pela degradação de proteínas que constituem a matriz celular, chamadas de colagenases,que degradam colágeno, elastases e elastina ( QUAN et al., 2009). Acreditamos que o desequilíbrio na formação dos radicais livres estimula a ativação dessas enzimas e, portanto, seria um grande estimulador do metabolismo, da redução da síntese, da destruição e da degeneração das proteínas na matriz celular. Observamos também a hipotrofi a das glândulas sebáceas, o que resulta na diminuição dos lipídeos e causa prejuízo na produção de sebo e lubrifi cação da pele. A alteração pode ser explicada pela redução da produção hormonal, principalmente em mulheres após a menopausa, quando os ovários cessam a produção de hormônios sexuais que participam do controle das glândulas sebáceas. O envelhecimento traz a perda das células de Langerhans, que participam do sistema de defesa imunitário, identifi cando antígenos e protegendo a pele de agentes estranhos (MOSIEWICZ et al., 2010). A capacidade de sintetizar Vitamina D também é prejudicada pelo processo de envelhecimento. Fato agravado pela menor exposição solar por pessoas idosas, acarretando defi ciência de vitamina D . Outro processo que é amplamente prejudicado pelo envelhecimento é a reparação do DNA, um processo contínuo que permite a correção de erros durante o processo de replicação do DNA (tanto por fatores endógenos ou 47 PROCESSO DE ENVELHECIMENTO CUTÂNEO Capítulo 2 exógenos ao organismo). Assim, ocorre diminuição da capacidade de reparação de pequenas mutações, além de prejudicar o processo de renovação/síntese de novas proteínas (HOLT; REYES, 2012). Sabe-se que o consumo alimentar adequado age como um fator para a prevenção do envelhecimento da pele. O estudo do artigo “Ação das vitaminas antioxidantes na prevenção do envelhecimento cutâneo”, publicado na Revista Disciplinarum Scientia, permite- nos entender um pouco melhor essa correlação. Disponível em: <https://www.periodicos.unifra.br/index.php/disciplinarumS/article/ view/1067/1011>. Acesso em: 30 maio 2018. Bons estudos! Atividade de Estudos: 1) Conceitue o processo de envelhecimento. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Explique a “Teoria dos Radicais Livres”. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) Explique por que a pele da face é umas primeiras a apresentar sinais de envelhecimento. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 48 Estética Avançada Facial Tipos de Envelhecimento O envelhecimento cutâneo pode ser dividido em: intrínseco (ou cronológico) e extrínseco. a) Envelhecimento intrínseco ou cronológico Como o nome sugere, ele é dependente do tempo, resultado do processo natural de senescência. É um processo natural, inevitável, comum a todas as pessoas, de caráter cumulativo. É caracterizado por atrofi a da estrutura e funções da pele, afetando as fi bras colágenas e elásticas dérmicas e promove a perda de água. Ele está diretamente relacionado com os fatores hereditários e com a regulação hormonal. Em alguns livros, é também chamado de envelhecimento natural da pele. No processo, podemos observar a degeneração da função tecidual, com profundas alterações em nível estrutural da pele ( JENKINS, 2002). Essas alterações são resultantes de um conjunto de eventos: - Diminuição da capacidade de divisão celular. - Diminuição da síntese da matriz dérmica. - Aumento na quantidade de EROs que estimulam enzimas capazes de destruir a matriz de colágeno, dentre outros. É importante compreendermos que as EROs são produzidas na mitocôndria durante a produção de energia a partir da glicose e do oxigênio porém, quando ocorre um desequilíbrio entre sua produção e os agentes antioxidantes da célula (protetores), são observadas as ações danosas. Agem na parte enzimática intracelular, no material genético e nas membranas celulares, perturbando a homeostase celular. Esses danos juntos levam a alterações que acabam por alterar o DNA da célula. Nos seres eucarióticos, as porções terminais dos cromossomos, chamadas de telômeros, são diretamente afetadas pelo processo de envelhecimento cronológico, pois a porção do DNA diminui de tamanho a cada divisão, o que conduz a uma capacidade de divisão limitada de uma célula. Foi demonstrado que o comprimento do telômero, presente nos cromossomos das células dérmicas, sofre uma redução de mais de 30%, e impacta na codifi cação de novas proteínas que compõem a matriz celular ( MOTTA; FIGUEIREDO; DUARTE, 2004). 49 PROCESSO DE ENVELHECIMENTO CUTÂNEO Capítulo 2 Os fatores genéticos são considerados a base do envelhecimento intrínseco, pois as pequenas e cumulativas alterações no material genético, que ocorrem com o passar dos anos, conduzem à degeneração estrutural e funcional da pele. Um outro ponto interessante é o declínio hormonal que ocorre naturalmente ao longo da vida, apresentando grande infl uência no processo de envelhecimento cutâneo, pois todas as camadas da pele apresentam receptores hormonais. Na pele da face há grande número de tais receptores. Os hormônios estimulam a retenção de água na pele, mantendo-a hidratada, controlam a secreção sebácea, contribuindo para formação e estabilização do fi lme hidrolipídico que recobre a pele, além de estimularem a formação de fi bras de colágeno e de mucopolissacarídeos como o ácido hialurônico ( MAKRANTONAKI; BEKOU; ZOUBOULIS, 2012). Na menopausa, os ovários cessam sua produção de hormônios sexuais (estradiol e progesterona) e a redução, principalmente do estradiol, impacta na pele, promovendo ressecamento, perda de espessura e de elasticidade. Torna-se bastante visível em nível facial e, principalmente, labial, ocorrendo escurecimento, fl acidez e aparecimento de rugas. Como nas mulheres ocorrem reduções hormonais mais intensas do que nos homens, fi ca evidente que elas serão profundamente afetadas pelo envelhecimento intrínseco. Soma-se o fato de os homens possuírem uma pele mais espessa, com maior teor de colágeno, devido aos maiores níveis de testosterona. Vale lembrar que apesar de ocorrer redução nos níveis de testosterona, é bem mais amena quando comparada à redução dos hormônios femininos após a menopausa. Segundo Gilchrest (2006), as principais alterações histológicas e estruturais da constituição da pele que ocorrem com o envelhecimento intrínseco são: • Na Epiderme: - Diminuição da capacidade de renovação celular. - Redução das Células de Langherans. - Redução de melanócitos. - Diminuição da espessura. - Menor capacidade mitótica da camada basal. - Perda de consistência da junção dermoepidérmica. 50 Estética Avançada Facial • Na Derme: - Redução no número de fi broblastos. - Diminuição da quantidade de proteínas – colágeno e elastina. - Redução, como um todo, do número de células. • Nos anexos cutâneos: - Despigmentação do pelo. - Perda de pelos e/ou cabelos. - Redução da microcirculação. - Redução da produção de suor e sebo. - Diminuição da sensibilidade. Todas essas alterações serão refl etidas, principalmente, no aparecimento de rugas e na fl acidez da pele. b) Envelhecimento extrínseco Determinado tipo de envelhecimento é consequência da exposição a fatores externos ao organismo. Acredita-se que a principal causa seja a exposição à radiação ultravioleta (UV). No entanto, é consenso, hoje, que fatores como o tabaco, a poluição ambiental,
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