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Ciências Sociais - POlítica I

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Idalécia Soares Correia
Valéria de Castro Santana
CIÊNCIAS SOCIAIS
Política I
período
º1
CIÊNCIAS SOCIAIS
Política I
CIÊNCIAS SOCIAIS
Política I
período
1
período
º1
Montes Claros/MG - 2013
Idalécia Soares Correia
Valéria de Castro Santana
2ª edição atualizada por 
Idalécia Soares Correia
Política l
2ª EDIÇÃO
2013
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
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Pró-Reitor de Ensino/Unimontes
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Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes
Jânio Marques dias
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes dumont Macedo
Autoras
Idalécia Soares Correia
Doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais – 
UFMG, Mestre nesta disciplina e especialista em Sociologia por esta mesma 
instituição, especialista em Planejamento e Administração de Sistemas de Saúde 
pela Escola de Saúde de Minas Gerais – Esmig e graduada em Ciências Sociais 
pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Atualmente é 
professora do Departamento de Política e Ciências Sociais da Unimontes.
Valéria de Castro Santana
Mestre em História e graduada em História pela Universidade Federal de 
Uberlândia - UFU. Atualmente é professora da Universidade Estadual de Montes 
Claros - Unimontes.
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
Maquiavel e a autonomia da política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 Maquiavel: vida e obra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.3 História e ação política em Maquiavel: entre a virtú e a fortuna . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
1.4 Natureza humana e poder: o lugar do conflito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
1.5 Formas de Governo, conquista e manutenção do poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17
1.6 Fundamentos do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
1.7 A política na aparência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23
Hobbes: o grande Leviatã e a teoria do Absolutismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2 Hobbes: contexto em que viveu e principais obras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.3 O Estado de natureza, natureza humana e o contrato social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.4 A teoria do contrato social em Hobbes e a defesa do absolutismo . . . . . . . . . . . . . . . .27
2.5 Liberdade e igualdade no Estado de natureza e na sociedade pós-instituição do 
Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
Locke e o liberalismo político . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.2 Locke: vida e obra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.3 O Estado de natureza e o contrato social em Locke . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
3.4 Fundamentos do Governo Civil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
3.5 Propriedade, liberdade e Igualdade em Locke . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
Montesquieu e a separação dos poderes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
4.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
4.2 Montesquieu: situando-o no contexto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
4.3 O espírito das leis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
4.4 A natureza dos Governos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.5 Sobre os princípios dos Governos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.6 Os três poderes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Unidade 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
Rousseau e a igualdade política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
5.2 Rousseau: vida e obra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
5.3 A origem da desigualdade entre os homens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
5.4 O contrato social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
5.5 Sobre o Governo e a soberania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61
Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
Referências básicas, complementares e suplementares . . . . .67
Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69
9
Ciências Sociais - Política I
Apresentação 
Caro(a)s acadêmico(a)s, 
A disciplina Política I é a primeira do núcleo de disciplinas da Ciência Política que vocês estu-
darão neste curso. Por isso, dizemos que essa disciplina abre as portas para a compreensão de fe-
nômenos do mundo da política. Mas o que é Ciência Política? E o que é política enquanto objeto 
dessa disciplina? Essa é a primeira reflexão importante para iniciarmos essa empolgante incursão 
na disciplina. Quais elementos entraram nas suas reflexões?
Devemos reconhecer que é um tema complexo, pois tendemos a pensar a política confun-
dindo-a com a prática dos políticos, e pior, muitas vezes tomando como referência os políticos 
que consideramos desonestos. Aí vem a nossa cabeça a corrupção, a mentira, as promessas não 
cumpridas e a facilidade de envolver e enganar as pessoas que, especialmente, os maus políticos 
demonstram ter. Devemos admitir que, com o olhar centrado na prática da política desenvolvida 
por políticos desonestos, criamos um preconceito da política. Necessariamente, temos que ad-
vertir que política vai além, e ultrapassa essa percepção, hoje muito generalizada. Mas vamos ver 
o que dizem os teóricos dessa disciplina acerca da definição do termo Ciência Política e do con-
ceito de política.
Inicialmente, temos que salientar que existem diferentes noções, ou pelo menos duas im-
portantes colocações sobre o termo Ciência Política. Trataremos dessas duas visões que podem 
ser problematizadas da seguinte forma: Ciência Política é uma disciplina que trata do Estado, 
ou é uma disciplina que discute o poder em geral? Temos então duas definições, uma restrita 
e outra ampla. Observando melhor, podemos notar que, na visão restrita da Ciência Política, a 
que faz referência ao Estado, caberia como objeto de estudo as instituições políticas ou aquelas 
que fazem parte da estrutura do Estado. Na segunda visão - ciência do poder a abrangência dos 
fenômenos que podem ser estudados na disciplina está ampliada. Nessa concepção, podemos 
pensar que a política está presente na relação dos indivíduos com a igreja, com os sindicatos, nas 
relações de gênero, na escola, etc. Podemos então concluir que o Estado não é a única instituição 
que possui soberania. A autoridade e o poder estão distribuídos também em outras instituições 
na sociedade.
Agora penso que ficou mais fácil discutirmos o que é política, não é verdade?Atualmente, 
tem prevalecido nas ciências sociais a visão ampliada do âmbito da política enquanto ciência. 
Isso interfere na definição do que vem a ser o seu objeto, a política. Escolhemos uma definição 
que retrata as duas perspectivas que o termo política engendra. Weber, em seu texto “Política 
como vocação”, discurso proferido em 1918, salienta que política é um termo abrangente que 
trata desde “a política de uma esposa prudente que busca orientar o marido”, até a “elevação para 
participação no poder ou para a influência na sua repartição, seja entre os Estados, seja no inte-
rior do Estado, entre grupos humanos que nele existem”. Embora o conceito mais comumente 
citado como definição de política em Weber privilegie a segunda parte da citação mencionada 
acima, ou seja, política com referência significativa ao Estado, esse autor reconhece a abrangên-
cia do termo. É corrente a definição de política recorrendo à origem da palavra. A palavra política 
origina-se do grego polis- politikós e refere-se ao que é da cidade, civil, público. Considerando a 
importância da polis na Grécia antiga, é possível dizer que política é uma ação humana relacio-
nada ao exercício do poder. Objeto de estudo da ciência política.
Para melhorar nossa compreensão, podemos discutir a sistematização que Young (1965 
apud Pedroso, 1988) propõe sobre o âmbito da ciência política. Esse autor sugere quatro aborda-
gens possíveis de serem trabalhadas na Ciência Política:
•	 A perspectiva institucional (o Estado e suas sub-unidades, governo, etc.);
•	 A natureza, o locus e a utilização do poder;
•	 Relações e padrões de interação entre os indivíduos – comportamento político; e
•	 Produção e alocação de valores numa sociedade.
A ementa e os objetivos desta disciplina
Objeto e conceitos básicos da Ciência Política. O problema do poder, da legitimidade e da 
autoridade como dimensões fundamentais do objeto da Ciência Política. As interações humanas 
e a conformação dos conflitos políticos. A formação e a trajetória do pensamento político mo-
10
UAB/Unimontes - 1º Período
derno. A concepção moderna de política vis-à-vis o tratamento da questão da propriedade, li-
berdade, igualdade e direitos pelo pensamento clássico: Maquiavel, Hobbes, Locke, Rousseau e 
Montesquieu.
Objetivos
Geral:
•	 Discutir os aspectos centrais da fundação do pensamento político ocidental em suas várias 
correntes, enfatizando a construção de conceitos centrais na teoria política clássica.Específicos:
•	 Refletir sobre as concepções que fundamentam o pensamento dos autores citados na 
ementa;
•	 Discutir a contribuição dos autores clássicos para a construção do pensamento político.
Vale discutir alguns aspectos da ementa, uma vez que se trata de um elemento norteador 
para professores e acadêmicos e, portanto, precisam ser bem compreendidos. Em todos os au-
tores estudados, encontraremos acepções ou conceitos sobre os assuntos propostos na ementa, 
situados num período que vai do século XVI ao XVIII, período de formação do Estado moderno. 
Situar esses pensadores nesse processo histórico, com todas as transformações que provocou, 
é fundamental, como salienta Weffort (1999), para perceber o vínculo entre as suas ideias e as 
lutas históricas nas quais viveram. Nesse sentido, são pensadores que contribuíram para o bom 
entendimento do seu tempo e, mais do que isso, se transformaram em grandes clássicos. O que 
significa ser um clássico? Em weffort (1999, p.8) encontramos uma definição precisa sobre isso. 
Significa dizer que suas ideias permanecem. “Significa dizer que suas idéias sobreviveram ao seu 
próprio tempo e, embora ressonâncias de um passo distante, são recebidas por nós como parte 
constitutiva da nossa atualidade.” São pensadores provocativos que ainda dizem muito sobre a 
política.
O conhecimento acerca do contexto em que os clássicos a serem estudados viveram ajuda a 
compreendê-los melhor. Entendê-los como homens da sua época demonstrará porque são clás-
sicos, pois veremos que se trata de pensadores com percepção muito clara dos problemas de sua 
época e, para além disso, com profunda capacidade e sensibilidade para captar na essência as 
questões que são fundamentais para os analistas da política.
Bem, agora é investir na leitura deste caderno e nas leituras recomendadas. 
Bom estudo!
As autoras.
11
Ciências Sociais - Política I
UnIdAde 1
Maquiavel e a autonomia da 
política
Idalécia Soares Correia
1.1 Introdução
Sabemos que toda disciplina científica 
passa por um processo de constituição. No 
caso da Ciência Política, observam-se contro-
vérsias em relação ao seu início. De um lado 
autores afirmam que a disciplina se funda no 
final do século XIX. Por outro, está posto o 
argumento de que o nascimento da discipli-
na se deu na Grécia antiga. Nessa polêmica, 
a defesa de que o berço da disciplina está na 
Grécia aponta Aristóteles (384/382 a.C.) como 
seu fundador. O argumento é que Aristóteles, 
além de elaborar uma análise filosófica, cria 
uma teoria do Estado através do método indu-
tivo, reconhecido como um método utilizado 
na observação científica. Uma das principais 
obras de Aristóteles é intitulada Política, o que 
aquece o debate sobre a origem da disciplina. 
Participam ainda deste debate Platão e São 
Thomás de Aquino, referências importantes 
para a filosofia política e com certeza mere-
cem a leitura por todos os estudantes e inte-
ressados pela ciência política.
Embora a discussão sobre quem seria 
o pai fundador da ciência política seja reto-
mada com frequência, no meio desse debate 
construiu-se “um meio consenso” de que o pai 
fundador da disciplina é o pensador florentino 
Nicolau Maquiavel (1469 -1527). Não há dúvi-
das de que em Maquiavel encontramos duas 
credenciais fundamentais para a definição de 
uma disciplina científica, quais sejam: um ob-
jeto próprio e um método. Maquiavel definiu 
como objeto da disciplina o Estado, a conquis-
ta e o exercício do poder. Propõe um método 
– a observação direta dos fatos, ver e examinar 
os fatos. Sua importância para a Ciência Políti-
ca é incontestável. Maquiavel imprime em sua 
obra uma leitura realista da política. Rompe 
com as perspectivas normativas centradas na 
prescrição do como deve ser, quando propõe 
a busca da “verdade efetiva das coisas”, ou 
como os fenômenos se apresentam na realida-
de. Essa proposição se torna uma questão me-
todológica fundamental no pensamento do 
florentino. Não mais a política como ela deve-
ria ser que marca o pensamento filosófico an-
terior, mas com Maquiavel a regra principal é a 
análise da política como ela é. Com base nesse 
realismo, Maquiavel aponta uma concepção 
de política que é resultado das “ações con-
cretas dos homens em sociedade, ainda que 
nem todas as suas facetas venham do reino da 
racionalidade e sejam de imediato reconhecí-
veis” (SADEK, p.18, 1999).
As principais contribuições de Maquiavel 
para a disciplina serão tratadas na primeira 
unidade da disciplina Política I. Propusemo-
-nos a conhecer melhor a obra do intelectual 
florentino Nicolau Maquiavel. Nesse caminho 
os nossos objetivos são: descrever o contexto 
do nascimento da ciência política a partir de 
Maquiavel. Compreender por que esse autor é 
um clássico da política; discutirmos “conceitos/
concepções” fundamentais para compreen-
são do pensamento de Maquiavel como: virtù 
e fortuna; natureza humana, fundação: con-
quista e manutenção do poder e as lições para 
quem governa.
1.2 Maquiavel: vida e obra
Para começar essa caminhada, faço-lhes 
um convite: vamos ao encontro de Maquiavel? 
Onde encontrá-lo? Bem, Maquiavel é um clás-
sico do pensamento político. O que significa 
que Maquiavel, ou melhor, a sua obra, tem vi-
gor explicativo. As suas lições continuam sen-
dICA
Quentin Skinner 
escreveu um livro que 
trata das fundações do 
pensamento político 
moderno. O autor 
mobiliza os autores 
preocupados com as te-
máticas da política que 
participaram da tran-
sição da idade média 
para a idade moderna, 
incorporando inclusive 
o Maquiavel. O livro é 
uma importante fonte 
de consulta. Ao ler este 
material comente nos 
fóruns os esclarecimen-
tos do autor. SKINNER, 
Quentin. As fundações 
do pensamento político 
moderno. Tradução e 
revisão de Renato Jani-
ne Ribeiro. São Paulo: 
Companhia das letras, 
1996.
PARA SABeR MAIS
Boa parte dos aponta-
mentos contidos nessas 
páginas iniciais sobre a 
área de conhecimento, 
conceitos e questões 
dos debates sobre a 
disciplina pode ser en-
contrada entre outros 
textos introdutórios, no 
texto: PEDROSO, Eliza-
beth. A ciência política. 
In: PETERSON, Áurea. 
et al. Ciência política: 
textos introdutórios. 
Porto Alegre: Mundo 
jovem, 1988.
12
UAB/Unimontes - 1º Período
do importantes para a política. Então, propo-
nho dois roteiros para alcançarmos Maquiavel. 
No primeiro, podemos rapidamente visitar o 
seu tempo, os quinhentos, e o seu lugar, a Pe-
nínsula itálica dos séculos XV e XVI. No segun-
do, com um pouco mais de investimento, tra-
tamos de discutir os aspectos centrais do seu 
pensamento. Preciso advertir que esse é um 
grande empreendimento, um caminho com-
plexo e pontilhado de grandes controvérsias. 
Mas também instigante. Vamos lá!
Nicoló Di Bernardo Dei Machiavelli nas-
ceu em Florença, no dia 3 de maio de 1469. 
Viveu na Península Itálica marcada pela frag-
mentação do território em pequenos estados, 
com regimes e culturas diferenciadas. A figura 
a seguir demonstra esta fragmentação.
Vivendo a política na prática, Maquiavel 
se torna secretário encarregado da presidên-
cia da segunda chancelaria de Florença, cargo 
que ocupa até 1512. 
Com a queda de Soderini e a restituição 
do poder dos Médicis, Maquiavel é destituí-
do do cargo. O secretário florentino conhece 
o exílio, ficando recluso numa vila próxima à 
Florença, Sant’Andrea in Percussina, onde ti-
nha casa de campo.
Em 1513, no exílio, escreve O Príncipe e o 
oferece a Lorenzo de Médici (1492- 1519), neto 
de Lorenzo, o magnífico. O presente é acom-
panhado de uma carta, da qual transcrevemos 
trechos a seguir, que ilustram especialmente a 
visão de Maquiavel sobre o livro e suas espe-
ranças, ao ofertar o livro a Lorenzo de Médici:
[...] Desejando eu, portanto, oferecer-me a Vossa Magnificência com um tes-temunho de minha submissão, não encontrei entre os meus cabedais coisa 
a mim mais cara ou que tanto estime quanto o conhecimento das ações dos 
grandes homens apreendido através de uma longa experiência ,perscrutado e 
examinado e, agora, reduzido a um pequeno volume, envio a vossa magnifi-
cência.
E, se bem julgue esta obra indigna da presença de Vossa Magnificência, não 
menos confio que deva ela ser aceita, considerado que de minha parte não 
lhe possa ser feito maior oferecimento senão dar-lhe a faculdade de poder, em 
tempo assaz breve, compreender tudo aquilo que eu, em tantos anos e com 
tantos incômodos e perigos, vim a conhecer. Não ornei este trabalho, nem o 
enchi de períodos sonoros ou de palavras pomposas e magníficas, ou de qual-
quer outra figura de retórica ou ornamento extrínseco, com os quais muitos 
costumam desenvolver e enfeitar suas obras; e isto porque não quero que ou-
tra coisa o valorize, a não ser a variedade da matéria e a gravidade do assunto a 
tornarem-no agradável [...]
Receba, pois, Vossa Magnificência este pequeno presente com aquele intuito 
com que o mando; nele, se diligentemente considerado e lido, encontrará o 
meu extremo desejo de que lhe advenha aquela grandeza que a fortuna e as 
Figura 1: Estátua de 
Maquiavel na Galleria 
Degli Uffizi 
Fonte: Revista História 
viva. Grandes temas. Edi-
ção especial, n.15.2007
►
▲
Figura 2: A Península Itálica no Renascimento
Fonte: Revista História viva. Grandes temas. Edição 
especial temática, n.15, 2007
13
Ciências Sociais - Política I
outras suas qualidades lhe prometem. E se Vossa Magnificência, das culminân-
cias em que se encontra, alguma vez volver os olhos para baixo, notará quão 
imerecidamente suporto um grande e contínuo infortúnio. (MAQUIAVEL, 1985) 
Dedicatória do livro O Príncipe. 
A menção de Maquiavel ao livro demons-
tra o respeito pela reflexão minuciosa a que se 
propôs e também a expectativa de vir a par-
ticipar do governo. Essas linhas são lidas tam-
bém como a intenção de Maquiavel de orien-
tar as ações dos príncipes para se manterem 
no poder.
Ainda no exílio, inicia a escrita de mais um 
livro fundamental da sua obra, Comentários 
sobre a Primeira Década de Tito Lívio, os Dis-
cursi. Desta vez, oferece o livro a dois jovens 
republicanos: Zenóbio Buondelmonti e Cos-
mo Ruccellai. Neste livro, Maquiavel analisa a 
história romana, trata dos acontecimentos na 
história de Roma num período republicano 
tratada por Tito Lívio. Segundo Bath (1994), 
tradutor do livro citado anteriormente, Ma-
quiavel buscava confirmar suas convicções 
sobre a política italiana. Uma Itália dividida em 
Cidades-Estado com problemas intestinos.
▲
Figura 3: A Florença da 
época de Maquiavel
Fonte: Livro o Príncipe 
disponível em http://
www.defesabr.com/Me-
dia/livros_maquiavel_01.
htm Acesso 07 de julho 
de 2013.
◄ Figura 5: O Príncipe – 
Principal obra
Fonte: História viva. 
Grandes temas.Edição es-
pecial temática, n.15.2007
▲
Figura 4: Casa del Machiavelli Sant’Andrea in 
Percussina
Fonte: Florence Dayly News disponível em http://www.
florencedailynews.com Acesso em 07 de julho de 2013
14
UAB/Unimontes - 1º Período
O Príncipe e os Discorsi são as duas princi-
pais obras políticas de Maquiavel. Desses livros 
nascem também as grandes controvérsias pre-
sentes na interpretação de Maquiavel. A quem 
Maquiavel deu lições, aos príncipes ensinou 
como se manterem no poder a qualquer cus-
to, ou aos cidadãos? Apresentando a questão 
de outra forma, trata-se de compreender Ma-
quiavel como um pensador atuando em defe-
sa do absolutismo, ou de um republicano pre-
ocupado com a disponibilidade dos cidadãos 
em se envolverem com a vida pública? Entre 
os intérpretes brasileiros, esse dilema está pre-
sente. Voltaremos a essa questão através do li-
vro de Newton Bignotto, Maquiavel republica-
no. Espero que vocês se interessem e possam 
ter clareza das questões que envolvem esse 
debate para participar deles nas próximas pá-
ginas que se seguem, construindo as suas pró-
prias perspectivas de análise.
Maquiavel ainda empresta o seu nome 
ao adjetivo maquiavélico e ao substantivo 
maquiavelismo. Certamente, todos nós já ou-
vimos esses termos. E a que se referem? Sem-
pre a manipulações inescrupulosas, tramoias, 
um pensamento engenhoso. Mas essa é mais 
uma das formas de apreensões de Maquiavel, 
e está longe de ser a única.
Tentaremos fundamentar esses argu-
mentos nos escritos próprios do autor, como 
também nos intérpretes de Maquiavel. Para 
facilitar o nosso percurso, trabalharemos 
com as seguintes questões: visão da história 
e ação política, natureza humana, formas de 
governo, conquista e manutenção do poder, 
fundamentos do Estado, a política na aparên-
cia, autoridade e consentimento.
Antes de iniciarmos, temos que advertir 
que Maquiavel se apresenta como um estra-
tegista na forma como escreve as suas obras. 
Nosso autor faz a opção por introduzir as 
questões, inicialmente em capítulos curtos e, 
depois, por várias vezes, retoma-as acrescen-
tando um ou outro aspecto. Assim vai proble-
matizando essas questões, como quem não 
quer afugentar o leitor, mas, ao contrário, ga-
rantir a leitura até o final. Esta advertência é 
para dizer que somente uma leitura de todo 
o texto nos leva a uma compreensão mais 
completa ou, pelo menos, com a possibilida-
de de cometer menos equívocos na leitura 
de obras tão complexas e polêmicas. Talvez 
nessa última afirmação tenhamos os maiores 
consensos sobre Maquiavel.
1.3 História e ação política em 
Maquiavel: entre a virtú e a 
fortuna
Uma das grandes novidades do pensa-
mento maquiaveliano é a concepção sobre 
história e capacidade de ação humana, que 
o difere dos autores do seu tempo. Bignotto 
(1991) nos chama a atenção para isso, quando 
diz que Maquiavel opta pelo risco de investir 
num pensamento sinuoso que varia entre ser 
o herdeiro da tradição e propor uma grande 
inovação. Isso é perceptível na obra de Ma-
quiavel quando ele chama para a imitação dos 
antigos, ao mesmo tempo em que diz que o 
príncipe tem que mirar muito mais alto que 
os seus antecessores. Curiosamente essa dis-
cussão só aparece nos capítulos finais de O 
Príncipe. Para Bignotto (1991), Maquiavel deixa 
clara essa posição diferenciada de história e 
ação política quando afirma que, nas grandes 
ações, não se encontra nem príncipe nem re-
pública que recorra aos exemplos dos antigos. 
Reitera essa posição quando comenta sobre os 
governos de principados novos.
Até Maquiavel, a crença corrente em re-
lação à história era de que as coisas são go-
vernadas pela fortuna e por Deus. Os homens 
não podem modificá-las nem evitá-las, não 
convém insistir na mudança dos fatos, mas ao 
contrário, deixar-se governar. O que é fortu-
na? Boa pergunta. Entender o que é fortuna 
em Maquiavel é razoavelmente fácil. O mesmo 
não podemos dizer para conceituar o que é 
fortuna. Não encontramos esse termo concei-
tuado claramente em Maquiavel. Mas vamos 
lá. O secretário florentino se refere à fortuna 
quando trata do acaso, dos acontecimentos 
inesperados, da sorte. É essa concepção que 
está no centro da visão sobre a história no 
tempo de Maquiavel.
Maquiavel, ao negar a tradição, trata com 
cuidado da questão. Inicia chamando a aten-
ção para a importância de requerer a inter-
venção do homem na história. Credita essa 
capacidade aos príncipes que têm virtù. Nes-
15
Ciências Sociais - Política I
se texto, considerando que o termo virtù não 
tem tradução direta para o português, man-
temos a grafia da palavra da forma como apa-
rece no livro original, bem como aparece na 
literatura nacional. O que é virtù? O consenso 
construído entre os intérpretes de Maquiavel 
é que virtú pode ser traduzida como capaci-
dade de ação política. Eficácia da ação. Açãocom prudência e perspicácia que tem a capa-
cidade de equilibrar os efeitos da fortuna. Não 
nega a interferência da fortuna, mas requer 
que a “sorte seja o árbitro da metade das nos-
sas ações, mas que ainda nos deixe governar a 
outra metade, ou quase” (MAQUIAVEL, 1985, 
p.139). Adverte aos príncipes que o apoio total 
na sorte é motivo de ruína, de perda do poder. 
Em toda sua obra, Maquiavel credita à virtù a 
maior forma de consentimento dos súditos e 
dos cidadãos. A virtù é uma qualidade precio-
sa a quem governa e quer se manter no poder.
Acomodando as suas proposições à na-
tureza do seu tempo, passa a discutir o que é 
necessário para conter os ímpetos da fortuna. 
Para tanto, volta-se aos pensadores da an-
tiguidade, onde encontra uma visão dife-
rente da que predominava no seu tempo. Na 
idade média, a fortuna havia se transformado 
num poder cego que distribui de forma indis-
criminada os seus bens. Mas, entre os antigos, 
segundo Sadek (1999, p.21), a fortuna era “uma 
deusa boa, uma aliada em potencial, cuja sim-
patia era possível atrair. Esta deusa possuía 
os bens que todos os homens desejavam: a 
honra, a riqueza, a glória e o poder”. Para ser 
favorecido por essa deusa, era necessário se-
duzi-la. A fortuna era uma deusa mulher e só 
um homem viril e corajoso poderia realizar tal 
façanha. Essa era a figura a que Maquiavel re-
corria para definir o perfil de um príncipe de 
virtú. Coerente com o seu próprio pensamen-
to, Maquiavel conclama à não passividade. O 
príncipe de virtú tem que transpor os obstá-
culos para então dominar a fortuna. Isso exige 
capacidade de transformar a cautela em impe-
tuosidade, exige audácia.
As figuras 6 e 7 ilustram as duas perspec-
tivas: a fortuna como roda da sorte (o acaso) e 
a fortuna uma deusa passível de ser seduzida, 
conquistada.
No capítulo XXV d’O Príncipe, Maquiavel 
apresenta o porquê da necessidade da mudan-
ça de natureza para modificar e atrair a fortuna:
[...] Se alguém se orienta com prudência e paciência e os tempos e as situa-
ções se apresentam de modo a que a sua orientação seja boa, ele alcança a 
felicidade; mas, se os tempos e as circunstâncias se modificam, ele se arruína, 
visto não ter mudado o seu modo de proceder. Nem é possível encontrar ho-
mem tão prudente que saiba acomodar-se a isso, seja porque não pode se 
desviar daquilo a que a natureza o inclina, seja ainda porque, tendo alguém 
prosperado seguindo sempre por um caminho, não se consegue persuadi-
-lo de abandoná-lo. Por isso, o homem cauteloso, quando é tempo de passar 
para o ímpeto, não sabe fazê-lo e, em conseqüência, cai em ruína, dado que 
se mudasse de natureza de acordo com os tempos e com as coisas, a sua for-
tuna se modificaria (MAQUIAVEL, p.209-210, 1985).
◄ Figura 6: A roda da 
fortuna no tempo de 
Maquiavel
Fonte: Paris: Bibliothèque 
Nationale de France (Dept. 
Estampes Ad 144 a). 
In: A roda da fortuna, prin-
cípio e fim dos homens. 
COSTA, Ricardo; ZIERER, 
Adriana. Disponível em 
www.hottopos.com/con-
venit Acesso em 25 maio 
de 2013.
◄ Figura 7: A deusa 
fortuna 
Fonte: crônica - Por que 
a moeda sob o mastro? 
Tradição milenar. In: 
Ribeiro, Danilo Chagas. 
Disponível em http://
www.popa.com.br/docs/
cronicas/moedasobmas
tro/fortuna.prime4_small.
jpg acesso em 07 de julho 
de 2013.
16
UAB/Unimontes - 1º Período
Maquiavel utiliza recorrentemente os ter-
mos virtú e fortuna em toda a sua obra. Entre 
outros, identifica como atos de virtú os mo-
mentos de fundação, ato que oferece obstácu-
los significativos, especialmente as que se dão 
adversidade, e a criação das repúblicas. Mas o 
que é fundação? O que vocês pensam quan-
do leem essa palavra? Vamos ver de que se 
trata? Em Maquiavel, fundação é o momento 
de criação, leis, de instituição de novas formas 
políticas. Esse termo continua sendo muito uti-
lizado, o momento fundacional é um elemento 
importante na análise política.
Criar boas leis é o desafio e expressão da 
virtù do fundador ou reformador que perse-
gue interesses públicos e, não, particulares. Ao 
reformador cabe conservar as reformas à som-
bra dos antigos costumes, se pretende obter o 
consentimento do povo. E bons costumes só 
podem ser conservados por boas leis, e a ob-
servação das leis exige bons costumes.
A estabilidade de uma república é oriun-
da da interação da virtù do soberano com a 
virtude do povo, e o risco que ameaça uma 
república é a corrupção, que significa a perda 
da liberdade. Por povo virtuoso, entende-se a 
capacidade de expressão dos seus interesses 
e ambições direcionados para o bem comum. 
Na república, configura-se uma divisão de po-
der onde o povo adquire autoridade. As leis 
expressam o conflito próprio das cidades, en-
tre os poderosos e o povo e, portanto, deve 
refrear a ambição dos nobres. A ênfase na au-
toridade do povo, na liberdade, nos costumes 
baseados em práticas virtuosas e na canaliza-
ção dos conflitos através das leis é o funda-
mento da chave para a leitura da existência do 
republicanismo em Maquiavel.
Para a manutenção da liberdade na repú-
blica, Maquiavel observa ser absolutamente 
necessário o funcionamento de um sistema 
de recompensas que premie as boas ações e 
puna as más, e se institua o direito de acusa-
ção pública. Características fundamentais para 
manutenção da república.
A manifestação da virtù do soberano é es-
sencial na condução de qualquer governo. Na 
república prende-se, principalmente, à obser-
vância das leis e à garantia de segurança dos 
cidadãos, o que contribui para a conservação 
da liberdade. Nesse aspecto, Maquiavel consi-
dera que as repúblicas têm uma vantagem em 
relação a outras formas de governo, uma vez 
que, sendo o governante escolhido por sufrá-
gio universal, cria a possibilidade da sucessão 
de homens virtuosos à frente do governo.
Uma desvantagem é apontada em relação 
ao processo de deliberação que se torna mais 
lento devido às decisões serem tomadas de for-
ma compartilhada e passarem por regulação. A 
autoridade conferida pelo sufrágio é limitada 
pela lei e nenhum homem ou segmento do go-
verno assume plenamente a autoridade.
Como vimos, leis são fundamentais na 
república. A eficácia das leis: boas leis são fun-
damentais para a canalização dos conflitos. 
Diferentemente das ideias correntes na épo-
ca, Maquiavel aposta mais nas leis do que na 
formação do bom cidadão. Boa educação ou 
bons cidadãos são produzidos por boas leis. 
Nas leis está a expressão do bem-comum. Dois 
aspectos são fundamentais na discussão sobre 
as leis: a capacidade que as leis têm de expri-
mir os conflitos internos; serem a expressão da 
dissimetria da polis, e o fato de que, quando as 
leis não conseguem refrear a ambição dos in-
divíduos, a república se arruína.
A liberdade é resultado do conflito. Fica 
uma pergunta importante a ser respondida: 
quem é o melhor guardião da liberdade? A 
resposta mais uma vez retoma a prudência: 
quem agir com maior prudência. Consideran-
do os desejos opostos existentes na cidade, 
que aparecem polarizados entre povo e os 
grandes, Maquiavel identifica no povo inte-
resse de não ser oprimido, e aponta que, em 
função disso, o povo pode ser o melhor guar-
dião da liberdade. Contudo, o tempo leva ao 
desgaste e ao risco de corrupção, é inexorável 
o desgaste. A corrupção do povo está exata-
mente na ausência do desejo de liberdade. 
Reafirmando a sua convicção da história, res-
salta que esse fenômeno não é fruto de uma 
lei da história. Trata-se da ação política, que é 
recriadora. Mas há sempre que se pressupor a 
disposição perversa dos indivíduos.
1.4 Natureza humana e poder: o 
lugar do conflito 
Em vários momentos da sua obra, princi-
palmente quando discute a conquista, a ma-
nutenção do poder e a organização da ordem 
social, Maquiavel faz menção às características 
danatureza humana. O argumento que utiliza 
é que, depois de estudos históricos, observou 
17
Ciências Sociais - Política I
que essas características persistem no tempo, 
daí a possibilidade de tomá-las como traços da 
natureza humana.
Considerando o grau de dispersão dessa 
discussão no contexto das duas obras de refe-
rência desta breve apresentação do pensador 
florentino, trabalharemos com os intérpretes 
Bignotto (1991) e Sadek (1996). Esses intérpre-
tes compartilham o argumento de que Ma-
quiavel exprime a natureza humana como 
sendo instável e propensa a mudanças. Dife-
rente do que querem outros intérpretes, como 
é o caso de Mossini (1962) apud Bignotto 
(1991), que compreende em Maquiavel a des-
crição de uma natureza humana má e defeitu-
osa. Certamente essa interpretação de Mossini 
está assentada na afirmação maquiaveliana 
de que agir com a observância da “verdade 
efetiva dos fatos” necessariamente leva a su-
por que todos os homens são maus, egoístas 
e infiéis. Essa suposição tem o objetivo de im-
primir eficácia na ação, ao reforçar conscien-
temente elementos da realidade que podem 
ameaçar a autoridade soberana. Considerar 
a possibilidade de que homens possam ser 
maus, torna o soberano mais vigilante e preca-
vido, e, portanto, com maiores possibilidades 
de sucesso. Na situação contrária, no caso de 
os homens serem bons, virtuosos, são fiéis às 
causas públicas, e aliados em potencial. A sín-
tese dessa discussão é que “os homens são o 
que são, bons e maus”, o que é coerente com 
o conflito, elemento definidor da ação política.
A instabilidade natural dos desejos de 
mudanças em Maquiavel é associada a um 
dos fatores de instabilidade social. É disso que 
se trata quando Maquiavel afirma a existência 
de forças opostas em todas as sociedades. Es-
sas forças são oriundas do “não desejar o povo 
ser mandado nem oprimido pelos poderosos, 
e estes desejam governar e oprimir o povo”, 
assertiva que se encontra em O Príncipe (MA-
QUIAVEL, 1985, p.55).
Esse conflito é exaltado por Maquiavel 
como uma fonte de vigor que constrói a or-
dem social, pois, devidamente administrado, 
impede o triunfo de interesses particularistas. 
Contudo, a mobilização teórica do conflito 
sem chegar a uma ideia de conciliação marca 
um ponto de ruptura com o pensamento me-
dieval/cristão. Essa interpretação de Maquiavel 
sobre o conflito delineia uma importante fun-
ção da autoridade política, a de operar num 
cenário de instabilidade, de incertezas e pro-
duzir resultados positivos, a partir de critérios 
práticos e justificáveis e, não, de critérios mo-
rais ou éticos.
Não é central em Maquiavel a ideia de 
uma malignidade da natureza humana como 
determinante da organização do poder na 
ordem social. Mais do que isso, nosso autor 
despreza a ideia de bem e mal como fatores 
definidores das ações do campo da política. 
No entanto, elementos da natureza como de-
sejo de mudanças, combinados socialmente, 
geram o fator principal da política – o confli-
to. O resultado é a criação de um círculo de 
indeterminação onde também virtù e fortuna 
embatem-se e, às vezes, combinam-se, e deli-
neiam as trajetórias de comando e obediência 
e configuração do espaço público. Lembramos 
aqui que a existência e dinâmica do espaço 
público constituem elementos centrais na vida 
republicana.
1.5 Formas de Governo, conquista 
e manutenção do poder 
Discorrendo sobre as formas de governos, 
Maquiavel dá lições sobre a conquista e a ma-
nutenção do poder. Esse tema é bastante im-
portante no pensamento de Maquiavel, é pre-
ciso nos manter antenados. É uma discussão 
muito proveitosa e estaremos tratando das 
suas principais obras.
Maquiavel afirma a existência de duas 
formas de governo: república ou principados. 
Essa segunda forma é subdividida a partir de 
duas características, serem principados novos 
ou hereditários. República, palavra que desig-
na um governo em que o espaço público está 
constituído. Pesquise sobre o republicanismo, 
a pesquisa é uma das principais fontes de co-
nhecimento. O uso desse instrumento facilitará 
muito a compreensão da obra de Maquiavel.
Nosso autor salienta que a república é 
possível quando há estabilidade no jogo das 
forças que compõem a sociedade, ou seja, 
quando há canais apropriados para a manifes-
tação dos conflitos. Essa discussão encontra-se 
no primeiro capítulo d’O Príncipe, obra polê-
mica e reconhecida entre os estudiosos como 
uma fonte inesgotável de interpretações. Em-
bora no livro os comentários sobre a primeira 
década de Tito Lívio sejam mais apropriados 
para a fundamentação dos argumentos da 
18
UAB/Unimontes - 1º Período
existência do republicanismo em Maquiavel, 
a discussão da república comparece no livro O 
Príncipe.
Objetivando dar lições sobre a conquis-
ta do poder, como governar e manter-se no 
poder, Maquiavel explica as condições que fa-
cilitam e que dificultam esses processos. Nas 
explicações do autor, podemos observar contí-
nuas referências ao momento fundacional. Há 
maiores dificuldades nos principados novos do 
que nos hereditários. Nos principados heredi-
tários, um príncipe com capacidade ordinária, 
desde que não seja descomedido nos vícios, 
não encontra maiores dificuldades. O impor-
tante nesse caso é não preterir os costumes dos 
antepassados e contemporizar com os aconte-
cimentos. Nessas condições, mesmo quando 
por circunstâncias, o príncipe que for privado 
de poder tem maiores chances de reconquistas. 
Uma das explicações oferecidas por Maquiavel 
é que este príncipe é naturalmente mais amado 
e tem menos razões para ofender, o que facilita 
o consentimento do povo.
Língua, costumes e leis são aspectos im-
portantes a serem observados no processo da 
conquista. Quando os súditos falam a mesma 
língua, têm os mesmos costumes e leis, a con-
quista se torna mais fácil. As situações adver-
sas exigem mais habilidade do príncipe.
Nos seus aconselhamentos, Maquiavel 
sugere que o príncipe vá habitar no local. Uma 
das vantagens da proximidade com o povo é 
que, estando no local, ele vê nascer as desor-
dens e mais facilmente pode reprimi-las. Ma-
quiavel salienta que essa medida causa satis-
fação nos súditos e melhora o acesso a eles. 
Com isso, os súditos passam a ter razões para 
amá-lo, quando têm boa natureza, e temê-lo, 
caso não queiram ser bons. Outro desdobra-
mento importante dessa medida é o respeito 
externo, o que inibe a ação dos invasores.
Para que não nos cause estranhamento 
sobre as questões de que Maquiavel está tra-
tando, temos que lembrar as características 
do contexto em que o nosso autor está inse-
rido. E, ainda, o seu compromisso com “a ver-
dade efetiva dos fatos”, além da sua vivência 
prática da política. No contexto florentino do 
século XV e XVI, a invasão era um risco impor-
tante. Maquiavel então se ocupa de pensar na 
opção sobre forma de segurança mais ade-
quada para um principado. A questão é pos-
ta entre montar colônias ou organizar tropas. 
Argumenta favorável às colônias por enten-
der que elas são mais interessantes e menos 
dispendiosas. Nessa opção, apenas os donos 
dos campos se veem prejudicados ao terem as 
suas casas cedidas aos novos habitantes. Mas a 
possibilidade de reação dos prejudicados é di-
minuta, pois ficam dispersos e empobrecidos.
As tropas, ao contrário, além de compro-
meterem a arrecadação do Estado, cada habi-
tante vira um inimigo. Nesse inimigo, Maquia-
vel identifica um complicador, ele é portador 
de recursos, inclusive devido à manutenção da 
propriedade da sua casa.
Nas conquistas, ainda é necessário consi-
derar como se dá a conservação dos Estados 
que foram conquistados, mas estão acostu-
mados a viver em liberdade. A observação de 
Maquiavel é que, para se manter no poder, o 
príncipe tem a necessidade de arruiná-los, 
habitá-lospessoalmente, deixá-los viver com 
suas leis, arrecadando tributos, criando um go-
verno de poucos, e, ainda, desagregá-lo. Se os 
habitantes não são desagregados, não esque-
cem a liberdade nem as suas instituições. Nas 
repúblicas há mais vida, mais ódio.
A forma como a conquista se dá interfere 
diretamente no comportamento do príncipe. 
É necessário observar se na conquista o prín-
cipe utiliza as suas próprias armas e se a realiza 
virtuosamente. Nesse cenário, de conquistas 
virtuosas, o que o príncipe tem que fazer é se-
guir o exemplo dos grandes, imitar os excelen-
tes, mirar mais alto que o alvo.
Ainda que tenha dificuldade na conquis-
ta, no principado novo, observa-se nesses 
casos maior facilidade na conservação. Onde 
está a diferença? Nesse caso, não precisa in-
troduzir novas ordens, não tem por inimigo 
quem obtinha vantagens com antigas institui-
ções. Problema encontrado nas situações de 
inovações. Os homens só creem nas inovações 
a partir da experiência. Faz diferença também 
se os inovadores agem com forças próprias ou 
não. Rogar ou forçar. Rogar leva ao fracasso. O 
povo é fácil de ser persuadido, difícil de man-
ter a persuasão. Fazer crer pela força é uma al-
ternativa que deve ser utilizada pelo príncipe. 
Daí a importância de se ter boas formas. Ami-
zade e soldados na manutenção do principa-
do. O consentimento do povo vem da crença 
no príncipe.
Conquista com armas e fortuna dos ou-
tros apresenta maiores dificuldades na manu-
tenção do poder. Usar vontade e fortuna dos 
outros gera instabilidade. O comando ou o 
grande engenho e virtude podem conservar 
os bens proporcionados pela fortuna. Essas ca-
racterísticas são observadas em homens com 
trajetórias de vida pública, pois quando ocorre 
a transformação repentina em homem públi-
co, observa-se a falta de forças amigas e fiéis 
e a dificuldade de comando. Portanto, maior 
vulnerabilidade.
Maquiavel salienta que as conquistas que 
se dão através de crimes traduzem poder e, 
não, glória, nem fortuna nem virtude. A cruel-
dade “bem usada” se dá com o uso instantâ-
19
Ciências Sociais - Política I
neo, pela necessidade de manter-se, trans-
forma-se em utilidade para os súditos. Ações 
cruéis contínuas levam à perda do poder. Ao 
contrário, a garantia de segurança e benefícios 
conquista os homens. As ofensas aos súditos 
devem ser realizadas de uma vez, e os benefí-
cios de forma gradual.
Para explicitar os aspectos que dificultam 
a manutenção do poder nos principados no-
vos e mistos, Maquiavel retoma características 
da natureza humana. A assertiva maquiavelia-
na é que homens com satisfação mudam de 
senhor, acreditam que essa mudança pode 
favorecer uma melhora, o que quase nunca 
acontece, e até levam à piora.
Nos principados mistos, o príncipe tem 
a necessidade de ofender os novos súditos, e 
lida com uma questão delicada onde não sa-
tisfazem os súditos e tem a necessidade do 
seu apoio. Essa é uma situação que tende a le-
var às rebeliões. A reconquista do poder exige 
a punição aos desleais e também a reparação 
dos pontos mais fracos do governo.
Nessa trama, Maquiavel aponta o que fa-
cilita a conservação do poder:
•	 extinção da estirpe do antigo príncipe;
•	 não alterar os costumes; e
•	 não alterar as leis nem os impostos.
No principado civil, o príncipe, para as-
cender ao poder, depende dos concidadãos. 
As lições aos governantes que vêm de Ma-
quiavel consideram o seguinte aspecto: o que 
ou quem o levou ao poder? Essa preocupação 
considera que a sociedade tem forças diferen-
ciadas no seu interior. Maquiavel não trabalha 
com o conceito de classes sociais, como hoje 
é comum nas ciências sociais. Nosso autor en-
fatiza que, no principado civil, são duas as for-
mas de ascensão ao poder: através do povo ou 
pelos grandes. Essas tendências têm objetivos 
opostos entre si. O povo não quer ser manda-
do e oprimido pelos poderosos, que por sua 
vez têm apetite de opressão, querem governar 
e oprimir o povo. Nascem daí três efeitos: 1º 
principado; 2º, liberdade; 3º, desordem. Qual 
dessas forças é preferível ao príncipe? Maquia-
vel responde favoravelmente ao alinhamento 
do príncipe com o povo, e explica sua posi-
ção com base no raciocínio: os grandes apre-
sentam maior igualdade com o príncipe. Caso 
o príncipe os tenha como aliados, terá maior 
dificuldade para se manter. O povo, além de 
ser maioria, tem o desejo de não ser oprimido. 
Esse objetivo é mais honesto, e o governante 
terá a maioria para defendê-lo na adversidade.
Essas preocupações com o sentido da 
ação política só não se mostram tão relevantes 
nos principados eclesiásticos. A explicação é 
simples. Esses principados estão sustentados 
por ordens há muito estabelecidas na religião 
– “direção por uma razão superior”. “Dispen-
sam defesa e governo, não sofrem ataques 
nem dos súditos nem externos” (MAQUIAVEL, 
1985, p. 65-66).
1.6 Fundamentos do Estado 
Em Maquiavel, os principais fundamentos 
do Estado são: as boas leis e boas armas, sen-
do que a segunda é condição para a primeira. 
A partir dessa consideração, podemos com-
preender por que se torna fundamental, nesse 
autor, a análise da configuração e da qualida-
de dos exércitos. São quatro os tipos de exér-
citos discutidos por Maquiavel: os próprios, os 
mercenários, os auxiliares oriundos de ajuda 
externa, e os mistos.
Na visão de Maquiavel, os exércitos mer-
cenários ou auxiliares são inúteis e perigosos. 
Os mercenários “não têm temor a Deus, nem 
fé nos homens” (MAQUIAVEL, 1985, p. 72). A 
desunião, ambição, indisciplina, infidelidade 
são as suas principais características. Não são 
capazes de enfrentar uma guerra.
Os exércitos auxiliares apresentam risco 
de aprisionamento do governante, ao passo 
que os exércitos próprios constituídos pelos 
súditos, cidadãos ou criaturas como funcioná-
rios, criados, ou servos trazem mais tranqui-
lidade para os governantes. A preocupação 
com os exércitos, para além das características 
do contexto vivenciado por Maquiavel, justifi-
ca-se também pela concepção maquiaveliana 
de que a arte da guerra é a única que compete 
a quem comanda expressão de virtù. Garantir 
qualidade nas ações dos exércitos passa pela 
seguinte condição: no principado o príncipe 
é o capitão. Na república o cidadão deve ser o 
capitão.
O governante que assume o comando do 
exército tem a estima dos soldados e exerce 
poder sobre os mesmos. A arte da guerra exi-
ge duas capacidades: ação e mente. Ação para 
a organização e exercícios para criar o costu-
me necessário à guerra, e obtenção de conhe-
cimentos que possibilitam montar estratégias 
de defesa e de ataque. Mente: conhecer histó-
rias, observar as ações dos grandes homens, 
distrair o povo com festas e espetáculos, cui-
dar das corporações e grupos sociais.
Salientando a importância das armas, Ma-
20
UAB/Unimontes - 1º Período
quiavel responde o motivo dos príncipes que 
perderam poder na Itália. Afirma veemente-
mente que o defeito estava nas armas, na ini-
mizade do povo ou, quando amigos, não sou-
beram garantir-se contra os grandes. Não se 
prepararam para as adversidades, fugiram ao 
invés de se defenderem. A redenção da Itália 
está na correção dos erros. Por fim, Maquiavel 
adverte que a estabilização externa influencia 
na interna. Daí creditar tanta importância às 
boas armas, e também aos bons amigos.
Um outro aspecto tratado com cuidado 
por Maquiavel é a escolha dos ministros. Esse 
é um ato que revela a prudência, o valor ou 
não do príncipe, a sua capacidade de obser-
vação. Na avaliação de um ministro, é funda-
mental buscar resposta para a pergunta: em 
quem pensa mais, no príncipe ou em si mes-
mo? Acrescenta: quem governa tem que se 
afastar dos aduladores. Fazer com que os ho-
mens entendam que não te ofendem dizendo 
a verdade. Escolher homenssábios e dar-lhes 
liberdade de falar-lhe a verdade daquilo que 
pergunte, quando queira, e nada mais. A deli-
beração tem que ser prerrogativa do príncipe, 
pois “bons conselhos devem nascer da pru-
dência do príncipe e não a prudência resultar 
dos bons conselhos”.
1.7 A política na aparência
A política na aparência é um dos aspec-
tos que participa do debate sobre Maquiavel 
enquanto um pensador absolutista, e também 
aparece nos fundamentos do maquiavelismo. 
Isso porque Maquiavel, enfaticamente, dá li-
ções, aconselhamentos sobre modos de viver 
e proceder para quem tem e quer manter o 
poder, mesmo que através de dissimulações 
de características que efetivamente o príncipe 
não possua. Nesse aspecto, encontramos nessa 
passagem da obra um contraponto em relação 
aos aspectos que permitem a leitura de um 
Maquiavel republicano. Mas o pensador floren-
tino sabe o quanto introduzir essa discussão no 
pensamento sobre a política no seu tempo po-
deria causar reações adversas e condenatórias. 
Por isso, Maquiavel adverte que as suas lições 
partem de observações de quem pretende tra-
balhar com “a verdade extraída dos fatos, e não 
da imaginação” (MAQUIAVEL, 1985, p.89).
Portanto, a política no plano da aparên-
cia não revela o lado do dever ser na política, 
mas uma orientação para a ação política com 
vistas à conquista e à manutenção do poder. 
Conscientemente, essa ação visa a sustentar o 
príncipe no poder de uma reação desejada. O 
que deseja Maquiavel, ao ser enfático em rela-
ção às características que o príncipe precisaria 
demonstrar que tem, é mostrar que nenhum 
príncipe teria todas as virtudes desejadas 
pelo povo, daí a importância de parecer ter. 
As orientações sobre as virtudes que deve pa-
recer ter encontram-se no Príncipe a partir do 
capítulo XV.
As citações descritas a seguir são funda-
mentais para as leituras que levaram à cons-
trução do maquiavelismo, termo pejorativo 
que populariza Maquiavel, ao levarem a afir-
mação de que, para a manutenção do poder, 
os fins justificam os meios. Essas citações 
apontam, ainda, na direção de que essa leitura 
popular não tenha nenhum fundamento. Mas 
há que se advertir que a interpretação de um 
Maquiavel republicano igualmente se realiza 
a partir de citações contidas nos seus textos. 
Essas controvérsias intensificam o debate em 
torno do autor.
Para Maquiavel, quem governa deve:
•	 Aprender a poder não ser bom e usar ou 
não da bondade, segundo a necessida-
Figura 8: A religiosidade 
como um dos 
elementos que o 
político deve parecer 
ser.
Fonte: Frases de Nicolau 
Maquiavel Disponível em 
http://kdfrases.com/fra-
se/132273 Acesso em 13 
de maio de 2013.
►
21
Ciências Sociais - Política I
de”. (MAQUIAVEL, 1985, p. 90);
•	 É fundamental agir com prudência e fugir 
à infâmia dos vícios;
•	 É preferível incorrer na má fama dos ví-
cios, se necessário, para manter o poder. 
Às vezes, o que parece virtude leva à ruí-
na, e a aparência do vício gera segurança 
e bem-estar;
•	 Quem governa não deve agir com libera-
lidade. Liberalidade virtuosa não se torna 
conhecida, para ser conhecido como libe-
ral, torna-se suntuoso, e a manutenção da 
ostentação exige, além de recursos pró-
prios, os recursos do povo. A liberalidade 
conduz ao desprezo e ao ódio do povo 
pelo seu governante;
•	 Não ser duro no fisco, para não ter o ódio 
do povo;
•	 Ser parcimonioso, quem assim age será 
considerado liberal. A parcimônia é um 
defeito que faz governar;
•	 Não usar mal a piedade. Não temer a 
fama de cruel, se isso leva à união e à leal-
dade. Equilíbrio, prudência, humanidade. 
É mais seguro ser temido do que ama-
do. Devido às características da natureza 
humana, os homens ofendem mais a al-
guém que se faça amar, do que a quem 
teme. De quem tem temor receiam o cas-
tigo que podem vir a sofrer;
•	 Fugir do ódio, ser temido, e não odiado. 
O ódio pode advir tanto da boa como da 
má conduta. Não tomar os bens nem as 
mulheres dos súditos ou cidadãos. A fama 
de cruel é útil para quem está à frente do 
exército e interfere na disciplina militar. 
Deve o governante se afastar das circuns-
tâncias que possam torná-lo odioso e 
desprezível;
•	 Mostrar-se amante das virtudes. Incenti-
var os cidadãos às atividades do comér-
cio, da agricultura, etc.;
•	 Internamente, não ser odiado pela maio-
ria; estimar os grandes, não ser odiado 
pelo povo;
•	 Não fazer aliança com um governante 
mais poderoso do que ele;
•	 Usar a natureza homem e animal. Quem 
governa tem razões legítimas para justifi-
car a quebra da palavra, quando for pre-
judicial. Agir como raposa: simulador e 
dissimulador. Parecer possuir qualidades, 
é interessante que seja bom, mas que sai-
ba deixar de ser quando as circunstâncias 
exigirem. Aparência na política. “Todos 
vêem o que tu aparentas, poucos sentem 
aquilo que tu és; e esses poucos não atre-
vem a contrariar a opinião dos muitos [...]” 
(MAQUIAVEL, 1985, p.103).
•	 Assumir uma posição, não hesitar: definir-
-te e fazer guerra digna. Estima advém 
principalmente dos grandes empreendi-
mentos e dos raros exemplos. A hesita-
ção: leva à ruína.
Referências
BIGNOTTO, Newton. Maquiavel republicano. São Paulo: Loyola, 1991, p.75-118.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Círculo do livro, 1985.
PEDROSO, Elizabeth. A ciência política. In: PETERSON, Áurea et al. Ciência política: textos intro-
dutórios. Porto Alegre: Mundo jovem, 1988.
SADEK, Maria Tereza. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de virtù. In: WE-
FFORT, Francisco (Org.). Os clássicos da política 1. 11.ed. São Paulo: Ática, 1999.
SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. Tradução e revisão de Re-
nato Janine Ribeiro. São Paulo: Companhia das letras, 1996.
WEFFORT, Francisco (Org.). Os clássicos da política 1. 11.ed. São Paulo: Ática, 1999.
23
Ciências Sociais - Política I
UnIdAde 2
Hobbes: o grande Leviatã e a 
Teoria do Absolutismo
Idalécia Soares Correia
2.1 Introdução
Estamos começando a segunda unidade, é mais uma oportunidade de conhecermos mais 
um dos autores que integra o grupo de clássicos da Ciência Política. Esse autor é polêmico e de 
raciocínio sofisticado. Um clássico frequentemente retomado, inclusive entre os intérpretes da 
sociedade brasileira.
Ribeiro (1999) afirma que uma das chaves para compreensão do pensamento de Hobbes é a 
construção que este autor faz do “estado de natureza”. Nesse estado os homens viveriam sem po-
der ou qualquer organização, mas, para terem segurança, celebram o contrato social. Portanto, fi-
quem atentos a esses conceitos no pensamento deste autor. Em torno desses conceitos, Hobbes 
elaborou uma teoria sobre relações fundamentais para compreensão da política. Nosso autor era 
um contratualista, um dos expoentes dessa escola e corrente teórica. Portanto, vale a pena dizer 
o que significa contratualismo.
Como aponta Ribeiro (1999), o contratualismo é objeto de crítica dos homens dos séculos 
posteriores, e o cerne da crítica aponta a impossibilidade de homens selvagens, vivendo em 
estado de natureza, sem contato social e domínio da linguagem, lidarem com normas jurídicas 
abstratas a ponto de realizarem um pacto. Para participarem deste debate, fiquem atentos e veri-
fiquem as características dos homens hobbesianos que celebraram o pacto social.
Vamos discutir como ficou estruturada esta unidade. Conforme o nosso plano de ensino, 
trabalharemos os tópicos:
•	 O Estado de natureza, natureza humana e contrato social;
•	 A teoria do contrato social em Hobbes;
•	 A defesa do absolutismo;
•	 Liberdade e igualdade no estado de natureza e na Sociedade pós-instituição do Estado.
Espero que os tópicos previstos para a discussão da segunda unidade de trabalho da disci-
plina Política I tenham despertado curiosidadesem vocês. Para iniciar a discussão da obra princi-
pal de Thomas Hobbes, mobilizaremos esses aspectos citados acima.
Vamos fazer uma rodada de discussão introdutória, do tipo “tempestade mental”:
•	 Vocês já ouviram falar ou tiveram tempo de pesquisar sobre esse autor e a sua obra?
•	 Como soaram nos seus ouvidos os termos estado de natureza?
•	 E contrato social?
Como afirmamos anteriormente, esses termos são fundamentais no pensamento de Ho-
bbes. Em breve, “dominaremos” o sentido que eles assumem nesse autor. Vamos embarcar em 
mais uma leitura para garantirmos aprendizagem e participação nas atividades do curso? 
2.2 Hobbes: contexto em que 
viveu e principais obras
Agora, o nosso cenário é a Inglaterra, e o nosso autor, Thomas Hobbes, que nasceu na cida-
de de Malmesbury in Wiltshire em 1588, e viveu até o ano de 1679. É considerado o primeiro fi-
GLOSSÁRIO
Contratualismo: 
Compreende todas 
aquelas teorias políticas 
que veem a origem da 
sociedade e o funda-
mento do poder políti-
co (chamado, quando 
em quando, potestas, 
imperium, governo, 
soberania, Estado) num 
contrato, isto é, num 
acordo tácito ou ex-
presso entre a maioria 
dos indivíduos, acordo 
que assinalaria o fim do 
estado natural e o início 
do estado social e polí-
tico. Num sentido mais 
restrito, por tal termo 
se entende uma escola 
que floresceu na Euro-
pa entre os começos do 
século XVII e os fins do 
século XVIII. 
24
UAB/Unimontes - 1º Período
lósofo inglês da modernidade. Durante toda a sua vida, foi tutor da nobreza. 
Com o “Long Parliament” de 1640, por medo, Hobbes voluntariamente exi-
lou-se na França por 11 anos. A Inglaterra estava em convulsão, mergulhada 
numa guerra civil, cenário pouco propício a “um amante da tranqüilidade e 
da paz”, como Chevallier (1998, p.67) chama a atenção.
Desde 1640 tem início uma guerra civil na Inglaterra, e esse é o cenário 
que atravessa toda a vida de Hobbes. Um contexto marcado por profundas 
convulsões sociais motivadas por questões religiosas (disputas entre católi-
cos, anglicanos, presbiterianos e puritanos) e econômicas. Nas questões de 
ordem econômica, encontramos dois grupos rivais. De um lado, estavam os 
que defendiam a manutenção dos privilégios e monopólios mercantilistas 
concedidos pelo Estado e, do outro lado, estavam os críticos dessa prática 
que defendiam a liberdade de comércio e produção. Esses conflitos agrava-
vam as questões políticas e desembocam, em 1642, em um confronto entre 
a coroa/stuarts e o parlamento, de maioria puritana. O desfecho desse con-
flito é a execução de Carlos I, que leva Cromwell ao poder em 1649. Sob sua 
liderança, a Inglaterra é transformada em uma república e, posteriormente, com o apoio da bur-
guesia e do exército, passa a ser um governo ditatorial. Com Oliver Cromwell, a Inglaterra deixou 
de ser uma monarquia e passou a ser uma república. No seu governo Cromwell dissolve o parla-
mento e transforma a Inglaterra em uma potência naval.
BOX 1
Características do contexto da Inglaterra durante o período de vida de Hobbes e Lo-
cke (pensador clássico da 3ª unidade)
O século XVII é decisivo na história da Inglaterra. É a época em que a Idade Média chega 
ao fim. Os problemas desse país não lhe eram privativos. Toda a Europa enfrentava uma crise 
em meados do século XVII e ela se expressava por meio de uma série de conflitos, revoltas e 
guerras civis. O século XVI presenciara o surgimento da América e das novas rotas de comér-
cio em direção ao Extremo Oriente; um súbito crescimento populacional em toda a Europa e 
uma inflação monetária que também se estendia por todo o continente europeu. Tais fenô-
menos são relacionados (tanto como efeito quanto como causa) ao surgimento das relações 
capitalistas no interior da sociedade feudal. Os governos tentaram, por diferentes maneiras, li-
mitar, controlar ou aproveitar-se de tais modificações, com resultados variáveis. [...] Apenas na 
Inglaterra ocorreu uma ruptura decisiva no século XVII, a qual assegurou que, daí por diante, 
os governos haveriam de conferir grande peso a considerações de natureza comercial. As de-
cisões tomadas durante esse século possibilitaram à Inglaterra tornar-se a primeira grande po-
tência imperialista industrializada e garantiram que ela fosse governada por uma assembléia 
representativa. Em relação ao século XVII as décadas decisivas são as de 1640 a 1680. Nelas a 
figura preponderante é Oliver Cromwell.
Fonte: HILL, Christopher. O Eleito de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p.13-14.
Com a morte de Cromwell, em 1658, seu filho Richard ascende ao po-
der, mas não demonstra habilidade política suficiente para evitar o con-
fronto entre o parlamento e o exército. A restauração da monarquia é vista 
como a alternativa à instalação de uma guerra civil. Os Stuarts reassumem o 
poder com Carlos II, de quem Hobbes, no exílio, foi professor de matemáti-
ca. Em 1660, as questões religiosas levam a Inglaterra a um confronto entre 
o parlamento e a coroa.
Hobbes havia retornado à Inglaterra em 1651 e publicado o Leviatã. 
Esse livro é uma síntese do pensamento hobbesiano, é a expressão do eixo 
que simultaneamente domina o pensamento de Hobbes, o racionalismo 
e o materialismo (CHEVALLIER, 1998). Com base no racionalismo, Hobbes 
sustenta o absolutismo sem o recurso ao direito divino dos reis. Esse feito 
marca profundamente a falta de aceitação dos escritos no Leviatã entre os 
absolutistas e a igreja. Na análise da repercussão da obra de Hobbes, Che-
vallier (1998) afirma que o livro foi “feito para indignar os paladinos da liber-
dade política, os católicos e protestantes dissidentes, não suscita ódios me-
▲
Figura 9: Thomas 
Hobbes (1588-1679)
Fonte: Jornal Livre. Dispo-
nível em www.jornallivre.
com.br/31886 - acesso em 
23 de maio de 2013.
Figura 10: Retrato de 
Oliver Cromwell
Fonte: Biografia de 
Cromwell disponível em 
http://www.algosobre.
com.br/biografias/oliver-
-cromwell.html 
Acesso em 20 de maio de 
2013
▼
25
Ciências Sociais - Política I
nores entre os paladinos do absolutismo real, partidários dos Stuarts, e entre os 
bispos anglicanos” (CHEVALLIER, 1998, p.82).
Para tratarmos do pensamento de Hobbes, trabalharemos com parte do 
seu principal livro: o Leviatã. Esse livro causa estranhamento desde o título de-
vido à referência a um monstro bíblico, uma espécie de grande hipopótamo 
citado no livro de Jó. O “frontispício que orna o livro” é estranho e, ao mesmo 
tempo, um indicativo do caminho que o pensamento de Hobbes trilhará (CHE-
VALLIER, 1998, p.66).
Nessa capa vê-se:
Com meio corpo emergindo por detrás das colinas, domi-
nando uma paisagem de campos, bosques e castelos que 
precedem uma imponente cidade – um gigante coroado. É 
moreno, de bastos cabelos e bigode, com um olhar fixo, pe-
netrante, com um sorriso imperceptivelmente sarcástico (as-
semelhar-se-ia, segundo se disse, a Cromwell). A parte visível 
de seu corpo, busto e braços, é feita de milhares de peque-
ninos indivíduos aglomerados. Com a mão direita empunha, 
erguendo-a acima do campo e da cidade, uma espada; com 
a esquerda um báculo episcopal. Abaixo, enquadrando o tí-
tulo da obra, defrontam-se duas séries de emblemas em con-
traste, uns de ordem temporal ou militar, os outros de ordem 
espiritual ou eclesiástica: um forte, uma catedral; uma coroa, 
uma mitra; um canhão, os raios da excomunhão; uma batalha 
com cavalos empinados; um concílio com as vestes talares [...] (Chevallier, 1998, 
p. 66).
A figura exposta na capa do livro, como afirmou Chevallier, é bastante representativa dos ar-
gumentos defendidos por Hobbes nessa obra. Para facilitar o acompanhamento desta discussão, 
faça um estudo sobre a religião na Europa dos séculos XVII ao XIX. Esse conhecimento lhe será 
muito útil para a compreensão das tensões entre o pensamento político eo pensamento religio-
so que comparece ora explícito, ora implícito nos autores estudados nesta disciplina. A religião 
tem uma grande interferência política durante a idade média e comparece com vigor nos funda-
mentos do Estado absolutista. Hobbes vai apontar numa direção contrária a essa intervenção da 
religião na política, reforçando o poder do Estado. 
2.3 O Estado de natureza, 
natureza humana e o contrato 
social 
Um aspecto fundamental para a com-
preensão da obra de Thomas Hobbes é a 
explicação que esse autor elabora para a 
existência de dois estágios na trajetória da 
humanidade. Num primeiro momento o ho-
mem vive em estado de natureza, e poste-
riormente ele funda a sociedade política. 
Na fundamentação teórica desses estágios, 
Hobbes opera com um homem natural e um 
homem político, que vive com regras muito 
diferenciadas entre si.
O homem natural de Hobbes é uma ne-
gação da clássica definição de Aristóteles 
quanto à existência de um homem natural-
mente político, ou seja, que tem uma socia-
bilidade natural. Em Hobbes, para que o ho-
mem passe a viver em sociedade, ele antes 
celebra dois pactos simultâneos: um de socia-
bilidade e outro de sujeição.
Vamos entender melhor o que é o esta-
do de natureza. A descrição que Hobbes faz 
do estado de natureza é que se trata de uma 
ordem pré-moral. Nesse estado, o exercício da 
razão é independente da ética. É importante 
compreender que esse estágio é uma constru-
ção hipotética racional. Esse homem não tem 
noção de bem e mal, ou o que é justo ou injus-
to, pois a moral é uma convenção social.
Vivendo em estado de natureza, o ho-
mem leva uma vida solitária, sórdida, embru-
tecida e curta. É uma vida de risco constante. 
Hobbes afirma que um dos principais, ou tal-
▲
Figura 11: Capa do livro 
O Leviatã ou Matéria, 
forma e poder de um 
Estado eclesiástico e 
civil.
Fonte: University of De-
laware Library disponível 
em http// www.lib.udel.
edu/.../history/hobbes 
Acesso em 15 de maio de 
2013.
26
UAB/Unimontes - 1º Período
vez o principal problema, seja a falta de um 
poder comum capaz de manter a todos em 
respeito. Nesse cenário o que está posto é a 
“guerra de todos contra todos”, sendo esta a 
frase mais conhecida desse autor. Poderíamos 
perguntar: em que consiste essa guerra? Em 
Hobbes, a guerra entre os homens vivendo 
em estado de natureza consiste na disposição 
para a guerra, e não numa luta real. Na guerra, 
força e fraudes são virtudes.
Não há desenvolvimento da indústria, co-
mércio, cultivo agrícola, artes, ou seja, não há 
nenhum conforto. Não há propriedade, pois a 
capacidade de conseguir alguma coisa e con-
servá-la é individual. Nesse estágio não há se-
quer uma sociedade. Sem leis, sem autoridade 
soberana e na miséria, o homem em estado de 
natureza vive com liberdade total.
Então, por que os homens abririam mão 
dessa liberdade para viver em sociedade? Para 
responder a essa questão, Hobbes complexifi-
ca mais o seu raciocínio e entra no debate so-
bre a razão e a paixão. Essa discussão no seu 
tempo estava bastante centrada nos males da 
paixão para a humanidade. Nesse ponto, Ho-
bbes apresenta uma outra leitura da que até 
então era corrente na sua época. Defende a 
paixão das condenações em relação a tirar o 
homem do caminho certo. Na construção dos 
seus argumentos, Hobbes elimina a dicotomia 
entre razão e paixão.
Nosso autor afirma: as paixões guiam o 
homem na direção certa. O que é bom é o que 
dá prazer. O mal é a dor. Continua seu argu-
mento apontando a inexistência de uma mo-
ral universal. Conflito do estado de natureza, 
mesmo sendo o estágio das paixões, o que se 
coloca não é o conflito das paixões. O proble-
ma está no julgamento que cada um faz acer-
ca do que é necessário para preservar a vida. O 
risco da ameaça é pensado de forma diferente 
por cada homem. Portanto, o conflito está na 
razão e não na paixão.
Todos os homens têm direito à preserva-
ção da própria vida. O homem é totalmente 
livre para isso. Aqui, precisamos entender em 
Hobbes a diferença entre direito e lei. Direito 
significa liberdade de fazer ou omitir alguma 
coisa, diferentemente da lei, que determina ou 
obriga. Segundo Hobbes, temos que observar 
que os homens são iguais na sua humanidade, 
têm igual capacidade, e é comum a todos o 
desejo de conservação da vida. A convivência 
é possível, mas não é natural. Para explicar as 
dificuldades que se apresentam para a convi-
vência entre os homens, Hobbes recorre a ca-
racterísticas da natureza humana.
Vocês devem estar imaginando que ca-
racterísticas têm os humanos que colocariam 
problemas para a vivência coletiva, não é mes-
mo? Bem, Hobbes descreve três causas da dis-
córdia na natureza humana:
•	 competição;
•	 desconfiança; e
•	 vaidade.
A competição ou rivalidade leva o ho-
mem ao ataque na tentativa de obter lucro 
frente ao outro. A desconfiança faz com que 
o homem opere com a lógica da antecipação, 
tornando-se o senhor ou, pelo menos, lhe ga-
rantindo maior segurança. E os homens por 
vaidade buscam a glória. Desejo de conquista 
de uns supera a necessidade de segurança, e 
exige mais dos outros do que a defesa, leva à 
necessidade de invasão.
Devido a características da sua natureza, 
os homens fecham portas e armam-se. Hob-
bes salienta que se o seu leitor quer ter exem-
plo do que ele está falando, é só observar os 
povos da América, em uma referência aos po-
vos indígenas. Ou, ainda, propõe a máxima 
“conhece-te a ti mesmo” como um convite 
aos homens para que reconheçam em si o que 
têm afirmado sobre a natureza humana.
A natureza fez os homens iguais quanto 
às capacidades do corpo e do espírito. A dife-
rença é insuficiente para reclamar benefícios. 
O argumento de Hobbes é que a força corpo-
ral pode ser vencida pela maquinação de um 
homem ou, ainda, pelos mais fracos, aliando-
-se contra o mais forte. As faculdades do es-
pírito apontam para uma igualdade maior, o 
problema é que no julgamento individual a sa-
bedoria própria é vista de perto, ao passo que 
a dos outros é analisada à distância. Quando o 
homem cria a ideia de desigualdade, na verda-
de prova a igualdade.
O homem natural compartilha a mesma 
liberdade e igualdade. Tanto a do corpo como 
a do espírito. Para todos os homens, o princi-
pal fim perseguido é a sua própria conserva-
ção e, às vezes, seu deleite. Também os riscos 
são os mesmos para todos: invasão do direito 
natural, a destruição da liberdade e da vida.
Das características da natureza huma-
na vem a necessidade de um poder capaz de 
manter a todos em respeito. O homem tem 
paixão pela vida, e a paixão faz tender à paz 
devido ao medo da morte e ao desejo de uma 
vida confortável, através do trabalho. Esses de-
sejos explicam por que os homens chegam ao 
pacto e ao contrato social.
A autoridade centrada na figura do esta-
do soberano destitui o indivíduo do direito de 
julgamento. Julgar no estado de natureza tra-
duzia-se num risco permanente de guerra, uma 
vez que os homens têm a igual capacidade de 
agir motivados pelas mesmas paixões, ainda 
que por objetivos diversos. Bem, Hobbes então 
passa a falar uma linguagem contratualista.
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Ciências Sociais - Política I
O que você sabe sobre contrato social? 
Reflita sobre o que o termo lhe sugere. Vamos 
também buscar o significado de contrato so-
cial na Ciência Política. A linguagem contratu-
alista não nasce com Hobbes. É uma referência 
ao surgimento das cidades ou um acordo para 
se viver em paz. É a legitimação da autoridade. 
Essa linguagem é combatida no século XIX, 
mas retorna no século XX com outros funda-
mentos. Nas referências apresentadas no final 
da unidade, indicamos um livro, organizado 
por Krischke (1993), que trata do contrato so-
cial hoje.
Contrato, enquanto categoria na Ciência 
Política, é uma

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