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Ciências Sociais - politica-brasileira

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Montes Claros/MG - Maio/2015
Gilmar Ribeiro dos Santos
Idalécia Soares Correia
Paulo Magalhães Araújo
Rógeres de Jesus Maia Gusmão
2ª edição atualizada por
Idalécia Soares Correia
Política Brasileira
2ª EDIÇÃO
2015
Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
Ficha Catalográfica:
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
REITOR
João dos Reis Canela
VICE-REITORA
Antônio Alvimar Souza 
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Jânio Marques Dias
EDITORA UNIMONTES
Conselho Consultivo
Adelica Aparecida Xavier
Alfredo Maurício Batista de Paula
Antônio Dimas Cardoso
Carlos Renato Theóphilo,
Casimiro Marques Balsa
Elton Dias Xavier
José Geraldo de Freitas Drumond
Laurindo Mékie Pereira
Otávio Soares Dulci
Marcos Esdras Leite
Marcos Flávio Silveira Vasconcelos Dângelo
Regina de Cássia Ferreira Ribeiro
CONSELHO EDITORIAL
Ângela Cristina Borges
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Betânia Maria Araújo Passos
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo
César Henrique de Queiroz Porto
Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Luciana Mendes Oliveira
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Maria Aparecida Pereira Queiroz
Maria Nadurce da Silva
Mariléia de Souza
Priscila Caires Santana Afonso
Zilmar Santos Cardoso
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Roselma Athayde Moraes
Waneuza Soares Eulálio
REVISÃO TÉCNICA
Gisléia de Cássia Oliveira
Káthia Silva Gomes
Viviane Margareth Chaves Pereira Reis
DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS
Andréia Santos Dias
Camilla Maria Silva Rodrigues
Sanzio Mendonça Henriques
Wendell Brito Mineiro
CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Camila Pereira Guimarães
Joeli Teixeira Antunes
Magda Lima de Oliveira
Zilmar Santos Cardoso
diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Unimontes
Maria das Mercês Borem Correa Machado
diretora do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Mariléia de Souza
diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do departamento de Comunicação e letras/Unimontes
Maria Generosa Ferreira Souto
Chefe do departamento de educação/Unimontes
Maria Cristina Freire Barbosa
Chefe do departamento de educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Chefe do departamento de Filosofi a/Unimontes
Alex Fabiano Correia Jardim
Chefe do departamento de Geociências/Unimontes
Anete Marília Pereira
Chefe do departamento de História/Unimontes
Claudia de Jesus Maia
Chefe do departamento de estágios e Práticas escolares
Cléa Márcia Pereira Câmara
Chefe do departamento de Métodos e técnicas educacionais
Káthia Silva Gomes
Chefe do departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
Carlos Caixeta de Queiroz
Ministro da educação
Renato Janine Ribeiro
Presidente Geral da CAPeS
Jorge Almeida Guimarães
diretor de educação a distância da CAPeS
Jean Marc Georges Mutzig
Governador do estado de Minas Gerais
Fernando Damata Pimentel 
Secretário de estado de Ciência, tecnologia e ensino Superior
Vicente Gamarano
Reitor da Universidade estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
Vice-Reitor da Universidade estadual de Montes Claros - 
Unimontes
Antônio Alvimar Souza 
Pró-Reitor de ensino/Unimontes
João Felício Rodrigues Neto
diretor do Centro de educação a distância/Unimontes
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autores
Gilmar Ribeiro dos Santos
Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de 
Montes Claros – Unimontes. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em 
Desenvolvimento Social (mestrado) na Unimontes. Mestre em Ciência Política pela 
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Doutor em Educação pela Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo.
Idalécia Soares Correia
Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes 
Claros – Unimontes. Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas na 
Unimontes. Mestre e Doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de 
Minas Gerais – UFMG. 
Paulo Magalhães Araújo
Professor de Ciência Política na Universidade Federal do Espírito Santo – UFES. 
Doutor e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais – 
UFMG. Membro do Centro de Estudos Legislativos (CEL) nessa mesma Universidade. 
Pesquisador na área de estudos sobre democracia e instituições políticas.
Rógeres de Jesus Maia Gusmão
Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes 
Claros – Unimontes. Especialista em Políticas Públicas pela Universidade Estadual de 
Montes Claros – Unimontes. 
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
A Formação do Estado e a Modernização Capitalista no Brasil: Breves Considerações 
Sobre as Configurações do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 Da Colonização à República Velha: a Gênese do Intervencionismo Estatal na 
Economia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
1.3 O nacional-estatismo e nacional-desenvolvimentismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
1.4 O Estado Autoritário-Militar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
1.5 Reforma do Estado: sob a Égide do Neoliberalismo e Globalização. . . . . . . . . . . . . . . .19
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23
Modernização Política, Populismo e Corporativismo no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2 Populismo: uma Abordagem Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24
2.3 Antes do Populismo: as Oligarquias na Política Brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.4 Mais um Passo Rumo ao Populismo no Brasil: a Ascensão de Vargas e o 
Autoritarismo Corporativo do Estado Novo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
2.5 A Democracia de 1946 e o Auge do Populismo da Era Vargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
Sistema Partidário e EleitoralBrasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.2 Institucionalização dos Partidos Políticos no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.3 O Arranjo Institucional em Vigor na Política Partidária Brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.4 O Atual Sistema Partidário: Evolução e Perspectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42
3.5 Breves Considerações Sobre as Eleições de 2010 e 2014. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
Movimentos Sociais no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
4.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
4.2 Primeiros Movimentos Sociais no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52
4.3 Urbanização, Conflitos Políticos e Movimentos Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
4.4 Modernização Capitalista e os Movimentos Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
4.5 O Movimento Sindical no ABC Paulista e o Proletariado Brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.6 O MST e uma Nova Metodologia na Luta pela Terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57
4.7 O Fórum Social Mundial e um Novo Patamar de Luta dos Movimentos Sociais. . . . .57
4.8 Os Movimentos Sociais Hoje no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Unidade 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61
Instituições Políticas Brasileiras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61
5.2 Federalismo, Democracia e Sistema de Governo no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62
5.3 A Constituição de 1988 e o Sistema Político Brasileiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65
5.4 Estados, Municípios e Instituições Participativas no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
5.5 A Constituição Federal de 1988 e as Novas Formas de Participação Política 
Institucionalizada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79
Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .81
Referências Básicas e Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87
9
Ciências Sociais - Política Brasileira
Apresentação 
Caros (as) acadêmicos(as):
A disciplina Política Brasileira proporcionará a vocês o prazer de aplicar conhecimentos e ex-
periências que foram acumulados nos estudos das quatro disciplinas anteriores da área e, claro, 
sempre com interface com outras disciplinas do curso. Toda essa vivência poderá ser utilizada na 
análise reflexiva sobre a sociedade brasileira. A disciplina proporciona momentos de sínteses mui-
to interessantes. Vocês reconhecerão, na leitura do Caderno Didático, nas discussões dos fóruns, 
nos encontros presenciais e seminários, termos e conceitos que foram discutidos nas primeiras 
disciplinas. Poderemos retomar a reflexão sobre revolução que estava em Rousseau e Marx, os 
processos de mudança política discutidos desde Maquiavel, o federalismo, ações coletivas e parti-
dos políticos já debatidos. Bem, é hora de exercitar e provocar discussões. Mas vale dizer que nem 
sempre essas discussões estão colocadas nesses termos, o alerta é que vocês têm elementos para 
estabelecerem conexões com estudos anteriores. É uma boa provocação, concordam? 
Mas vamos ao que tem no Caderno, objetivamente! Na primeira unidade, o eixo condutor 
da discussão é o processo de formação do Estado brasileiro. Escolhemos temas que nos permiti-
ram perpassar várias fases desse processo, pontuando as questões polêmicas que envolvem essa 
temática, como: o patrimonialismo, o intervencionismo, a centralização política e administrativa, 
o federalismo, as fases do modelo de desenvolvimento, as faces autoritárias do Estado e o neoli-
beralismo no Brasil. Vocês prestaram atenção no grifo da palavra “pontuando”. Não é à toa, a in-
tenção é lembrar que os temas estão colocados em linhas gerais e carecem de aprofundamento. 
Essa observação é válida para todo o Caderno.
Na segunda unidade, tratamos do populismo, recuperando o contexto social, político e eco-
nômico em que se insere. Através de uma abordagem histórico-sociológica, desnuda-se a face 
de um Estado burocratizado e autoritário, moldado de forma corporativa para atender às deman-
das sociais em detrimento da competição eleitoral-partidária e da centralidade do poder legisla-
tivo como arena política.
A terceira unidade trata do sistema partidário e eleitoral com ênfase na dinâmica partidária. 
Recorremos à história buscando o processo de institucionalização dos partidos na sociedade bra-
sileira para problematizar e melhor compreender o estágio atual de desenvolvimento dessas ins-
tituições. Incorporamos a análise de renomados cientistas políticos sobre o atual arranjo institu-
cional em vigor na política partidária e eleitoral, e as dificuldades e interferências que impõem na 
dinâmica partidária. Tratamos da eleição presidencial de 2010, o caráter bipartidário que tem sido 
apontado por cientistas políticos e a novidade de termos eleito a primeira mulher presidente na 
história do país. A eleição presidencial é considerada o centro de gravitação do sistema político, e 
apresentamos algumas leituras sobre as disputas nos Estados e nas eleições proporcionais.
Na quarta unidade, o propósito é acompanhar, na trajetória da sociedade brasileira, os mo-
vimentos sociais que contribuíram para mudar a realidade do país. Descrevemos movimentos 
que se localizaram desde o Brasil Colônia até a atualidade. 
Na quinta e última unidade, tratamos da estrutura político institucional vigente no Brasil, 
que processa a representação e a participação dos cidadãos nas questões governamentais. Ob-
jetivamos demonstrar a complexidade do sistema brasileiro que combina federalismo com pre-
sidencialismo, combinando divisão de poderes com bicameralismo forte e multipartidarismo. A 
discussão passa por compreender em que medida esses elementos levam à fragmentação do 
poder e suas implicações sob o processo de aprovação e implementação de políticas públicas 
pelo governo. A Constituição Federal de 1988 apresenta prerrogativas políticas ao presidente da 
República que forma coalizão e interfere nas atividades do Congresso nacional. Esta unidade se 
encerra com a discussão dos mecanismos constitucionais e leis conexas que visam à promoção 
da participação política da sociedadecivil.
Esperamos que o estudo seja enriquecedor e agradável e que a disciplina contribua para a 
boa qualificação de vocês, como professores de sociologia e cidadãos brasileiros.
Muitos dos temas tratados aqui viraram roteiros de filmes e documentários muito interes-
santes. Sugerimos que vocês associem filmes, músicas e demais ferramentas disponíveis no pro-
cesso de aprendizagem do conteúdo da disciplina. Visitem o site <http://filmespoliticos.blogs-
pot.com/>, pois há muito material disponível sobre as nossas discussões. Aproveitem!
Bom estudo!
Os autores.
11
Ciências Sociais - Política Brasileira
UnIdAde 1
A Formação do Estado e a 
Modernização Capitalista no 
Brasil: Breves Considerações 
Sobre as Configurações do Estado 
Idalécia Soares Correia
1.1 Introdução
A leitura da formação do Estado brasileiro, tomada sob o aspecto da modernização capita-
lista, usualmente é recortada temporalmente a partir da década de 1930, quando a política cria 
contornos nacionais, e o Estado elabora um projeto de modernização. Contudo, considerando a 
estrutura de disciplinas deste curso, o recorte aqui proposto alarga esse período visando à recu-
peração de temas clássicos que recorrentemente participam das discussões sobre esse assunto. 
Certamente vocês o reconhecerão, trata-se, das discussões sobre o patrimonialismo e do libera-
lismo no Brasil. Essas discussões serão cobertas com autores renomados do pensamento social 
brasileiro – Raimundo Faoro, e Florestan Fernandes – em suas obras mais clássicas.
Esta unidade está dividida em quatro subunidades, que objetivam, ainda que sucintamente, 
percorrer os momentos de mudanças mais significativas do Estado brasileiro. Vamos lá?
◄ Figura 1: Posição dos 
Estados da federação 
na Bandeira do Brasil 
de acordo com a 
astronomia
Fonte: Disponível em 
<http:// www. pequenoas-
tronomo.blogspot.com>. 
Acesso em 30 mar. 2015.
12
UAB/Unimontes - 5º Período
1.2 Da Colonização à 
República Velha: a Gênese do 
Intervencionismo Estatal na 
Economia
Faoro, em “Os donos do poder: a formação do patronato brasileiro” (1979), traça a trajetória 
histórica da formação sociedade brasileira, tomando como ponto de partida o patrimonialismo 
do Estado português, ou a denominada herança ibérica, na interpretação do Brasil. Nota-se clara-
mente nessa obra tratar-se de um autor profundamente vinculado à tradição analítica weberiana 
que, apegado a essa matriz teórica, classifica o capitalismo desenvolvido no Brasil como politica-
mente orientado. Faoro operacionaliza o conceito de patrimonialismo, distinguindo entre uma 
ordem moderna e tradicional para a análise da trajetória da sociedade brasileira. O escopo das 
considerações que aqui traçamos nos permite pontuar alguns aspectos das questões levanta-
das por Faoro. Optamos por iniciar a discussão da ordem patrimonial-estamental que esse autor 
apontava na formação histórica da sociedade brasileira e a partir daí estabelecer o diálogo com 
outros autores. Patrimonialismo vincula-se à forma de dominação tradicional e a indistinção en-
tre a coisa pública e privada. Nesse caso, as autoridades tendem a tratar a coisa pública como se 
fossem privadas. 
Na obra “Os donos do poder”, o conceito central de Faoro é o de estamento burocrático. Vo-
cês se lembram do conceito de estamento em Weber? Leiam a dica à esquerda para relembrar. 
Nossa autora está utilizando o conceito weberiano de estamento na dimensão institucional, ex-
plica o termo estamento burocrático e se percebe ao longo da leitura esse “segmento”. Desde o 
período da colônia brasileira ocupa uma posição de comando, de direção e controle da econo-
mia, mantendo o domínio sob as classes sociais a partir das relações de poder político. 
Segundo Faoro (1979), no período colonial, o estamento burocrático constituía-se de co-
merciantes e agentes de capital cooptados pelo governo português. A colônia era colocada no 
eixo da produção capitalista, uma vez que atendia a interesses capitalistas, conformando no Bra-
sil a experiência portuguesa de um capitalismo politicamente orientado, ou seja, o Estado como 
eixo orientador do processo, ao invés da livre iniciativa do mercado, tradição que impregna a for-
mação do Estado nacional e perdura ao longo do tempo, resistindo às mudanças. 
Na visão de Faoro (1979), a independência do Brasil advém de uma transação com a Coroa 
portuguesa e não causa impacto na estrutura da sociedade. Diferentemente das experiências eu-
ropeias, em que a ideologia liberal está na base das transformações sociais no Brasil, o liberalis-
mo é cindido em seus princípios basilares. Não se edifica um estado de direito e nem uma men-
talidade moderna. Analisem a afirmação de Faoro. Aqui temos duas questões importantes para 
discutirmos: a independência e o liberalismo na experiência brasileira. O que vocês já estudaram 
sobre esses temas? Vamos começar pela independência. O conteúdo da afirmação de Faoro, 
quando tende a apontar e até valorizar mais os aspectos negativos da nossa independência, é 
bastante disseminado na sociedade brasileira, concordam? É importante debater sobre isso. Ve-
jamos o argumento do mestre das ciências sociais brasileiras, o pro-
fessor Florestan Fernandes, descrito no livro “A revolução burguesa 
no Brasil” sobre esse momento político.
Fernandes (1975) chama a atenção para o fato de que não se 
deve negligenciar o fato de a independência inverter a condição 
do Brasil de uma situação heteronômica para uma sociedade autô-
noma, vendo aí razão suficiente para a valorização do advento da 
independência. As consequências são salutares: rompe-se com a 
dominação colonial, gera autonomia política interna. Mesmo reco-
nhecendo que o “movimento” pela independência foi marcado pela 
transação política com a casa de Bragança e pela falta de mobiliza-
ção popular, ainda assim, afirma a importância da extinção do esta-
tuto colonial. Afirma: “A independência é a primeira grande revolu-
dICA
Conheça um pouco 
mais do que Weber 
(1979, p. 218, 225) fala 
sobre estamentos ou 
grupos de status. São 
comunidades, que, dife-
rentemente das classes 
sociais, orientam a sua 
ação com vistas à honra 
e não a interesses pura-
mente econômicos, sa-
lientando que a ordem 
puramente estamental 
tem como consequên-
cia o impedimento do 
livre desenvolvimento 
do mercado.
Figura 2: Bandeira 
Imperial do Brasil (1822-
1889)
Fonte: Disponível em 
<http://www.monarquia.
org.br>. Acesso em 30 
mar. 2015.

13
Ciências Sociais - Política Brasileira
ção social que se operou no Brasil” (FERNANDES, 1975, p. 31). Não se trata de uma ruptura com 
a ordem anterior, sentido mais comum atribuído ao termo revolução. Nosso autor chega a falar 
de uma “revolução dentro da ordem”, ou seja, uma mudança que tem um significado importante, 
mas que não muda a estrutura da sociedade. Vocês estão considerando essa discussão contradi-
tória, devido ao conceito de revolução de Rousseau e Marx que vocês já discutiram no curso, que 
tratam revolução como ruptura com a ordem anterior e inauguração de uma nova ordem? Mas 
vamos acompanhar o raciocínio do autor. 
O argumento central de Fernandes (1975) está na autonomização do Estado brasileiro frente 
à coroa portuguesa, aí centra o seu olhar, no fator político/administrativo. Florestan valoriza o ad-
vento da independência. Mas estamos diante de um grande analista, pois, na sequência, afirma 
que em última instância o interesse que faz com que a independência se confirme é econômico, 
porque transforma o Brasil num mercado consumidor que negocia independente de Portugal e 
fortalece os laços com as economias capitalistas. Interesses econômicos estão na base das moti-
vações da independência. E aí pessoal? São dois argumentos bem fundamentados, não é mes-
mo? Considero um exagero o uso do termo revolução, e mais ainda qualificar,como o faz Fernan-
des, de revolução dentro da ordem, mas temos que admitir que é impossível tomar a fundação 
de um Estado como algo que não cause impactos significativos à sociedade em foco. Penso que 
é mais pertinente pensar em continuidades e descontinuidades, e veremos que essa perspectiva, 
guardando certas especificidades, leva ao reencontro de Fernandes e Faoro. Pois, mesmo insistin-
do na importância da independência, Fernandes (1975) se reencontra com Faoro (1979) quando 
assume que a perspectiva revolucionária da independência é solapada frente aos elementos que 
se conservam na estrutura social brasileira. Fernandes (1975) admite que os fatores histórico-so-
ciais influenciam a ordem social pós-independência e, mesmo ressalvando o saldo positivo no 
âmbito jurídico-político, afirma:
A grande lavoura e a mineração, nas condições em que podiam ser exploradas 
produtivamente, impunham a perpetuação das estruturas do mundo colonial - 
da escravidão, à extrema concentração da renda e ao monopólio do poder por 
reduzidas elites, com a marginalização permanente da enorme massa de ho-
mens livres que não conseguia classificar-se na sociedade civil e a erosão visível 
da soberania nacional nas relações econômicas, diplomáticas ou políticas com as 
grandes potências (FERNANDES, 1975, p.33).
Como na análise de Fernandes (1975) e Faoro (1979), o evento da independência não mu-
dou a mentalidade da elite da época. Os produtores somente se incorporaram ao circuito capi-
talista livres do engessamento que advinha da condição de colonizados, mas o interesse que 
disputam é o lucro e não a autonomia do país. Quando Faoro fala de mentalidade moderna, prin-
cípios liberais implicam uma burguesia autônoma no mercado, sem mediação do Estado. Vere-
mos mais adiante, na discussão sobre o liberalismo, que Fernandes tem outras preocupações.
Quanto ao tema do liberalismo, anunciado com certo ressentimento por Faoro (1979), de-
vido à forma como foi absorvido no Brasil, encontraremos em Fernandes (1975) uma posição se-
melhante quanto à diferença sobre a absorção no Brasil, ainda que com ênfases diferentes. Faoro 
ressente-se da forte presença do Estado na economia e da falta de autonomia das classes sociais, 
e Fernandes acrescenta a dominação societal. Para Fernandes, a constituição do Estado nacional 
coincide com a consolidação do capitalismo no Brasil. O liberalismo é absorvido anteriormen-
te à crise colonial e depois da independência define a posição do país no circuito internacional. 
Segundo Fernandes (1975), a preocupação das elites centra-se na concentração do poder inter-
namente nas mãos das elites, sem incorporação das classes populares. Na sociedade civil, que se 
inaugura estratificada com uma ordem estamental construída, racial, social e economicamente, 
o senhor de engenho transfigurava-se no senhor/cidadão. Internamente, os ideais liberais se res-
tringem à socialização e fonte de solidariedade e associação política entre senhores. Do ponto de 
vista externo, se coloca numa condição de dependência consentida em relação à economia in-
ternacional. Com isso, redefine a relação de dependência do Brasil numa perspectiva econômica. 
Para Faoro (1979) e também para Fernandes (1975), a fundação da República brasileira ilus-
tra a afirmação de que as mudanças acontecem em meio à manutenção de privilégios que ter-
minam por fazer prevalecer a estrutura conservadora da sociedade, mais do que os elementos 
inovadores. A institucionalização do federalismo, ação demandada e comandada pelos grandes 
Estados, gera, momentaneamente, a desestruturação do quadro patrimonial estatal – quadro 
administrativo dirigente, mas não tarda a demonstrar que, na verdade, conformaram-se mais 
como acomodações do que mudanças estruturais, tendo em vista o aperfeiçoamento da estru-
tura estatal.
14
UAB/Unimontes - 5º Período
Reis (1998, p. 190-191) apresenta uma importante contribuição para essa discussão. Essa au-
tora aponta que a descentralização na perspectiva das oligarquias rurais significava adequar o 
poder público aos interesses econômicos dominantes (Constituição liberal de 1891), em que ca-
bia ao Estado:
•	 garantir a execução dos contratos privados;
•	 substituir a máquina administrativa do império e reduzir o poder despótico do Estado (cer-
cear o seu poder de comando); dominação oligárquica;
•	 expandir a capacidade infraestrutural do Estado para maximizar seus interesses econômicos;
•	 tornar os Estados-membros mais eficientes na provisão de “bens infraestruturais”. Máquinas 
estaduais a serviço da promoção da imigração estrangeira.
Nota-se que ao Estado cabia proteger, subsidiar e dar condições para implementação dos 
interesses econômicos. Na análise dessa autora, o federalismo é comprometido pelas ações das 
mesmas oligarquias que o instalam, quando estas buscam a intervenção do Estado na econo-
mia. Reis (1998) busca a gênese desse processo na República velha e argumenta que a criação do 
poder público e o fortalecimento de interesses privados não são processos excludentes. O argu-
mento central de Reis (1998) contraria parte da literatura corrente quando afirma que a forma-
ção do Estado durante a república velha apresenta avanços significativos. Com esse argumento, 
a autora descarta o pressuposto de que a república tenha sido somente dos coronéis ou de que 
somente o Estado tenha sido o eixo de organização da vida social. Para Reis, a interação de inte-
resses gerou resultados imprevisíveis pelas oligarquias.
Teoricamente Reis (1998, p. 188) recupera Mann (1986) para explicar a especificidade e o 
que leva à autonomização do Estado. É necessário a corporificação na sociedade, ou seja, a exis-
tência de conjunto de instituições e de quadros administrativos; de centralidade – que o Estado 
seja o centro das relações políticas, irradiando para cobrir um território; territorialidade, a exis-
tência de território demarcado e o monopólio do poder autoritário no território. Vimos que essas 
categorias estão postas desde a conceituação weberiana de Estado moderno. Encontramos em 
Reis que o aumento da capacidade infraestrutural do Estado impacta o grau de centralidade e 
territorialização e que as interações ocorridas no Brasil da República velha criam, inclusive, as ba-
ses para a ditadura varguista que se inicia na década de 1930. Vejamos como essa autora funda-
menta o seu argumento. 
Reis apresenta-nos dados incontestes sobre o aumento da capacidade do Estado de pene-
trar na vida social, durante a república velha: cresce imposto sobre o consumo, taxação indireta 
e tributação sobre renda, que era de 1,5% da receita, entre 1910/20, e passa para 2,8%, em 1920; 
aumento da capacidade infraestrutural com construção de ferrovias (demandas das elites impli-
cavam o aumento dos recursos de penetração na vida social por parte do Estado), o Exército e a 
Marinha absorvem mais de 20% do total dos recursos disponíveis. O Exército nacional cresceu 
220% de 1890/1930. Segundo a autora, observa-se dinâmica diferente ou até contrária nos Esta-
dos membros. Daí a afirmação de que na república velha construíram-se as bases para a ditadura 
varguista (REIS, 1998, p. 192-193).
Figura 3: Bandeira 
provisória da República 
dos Estados Unidos 
do Brasil de 15 a 19 de 
novembro de 1889
Fonte: Disponível em 
<www.historiadigital.
org>. Acesso em 30 mar. 
2015.
►
15
Ciências Sociais - Política Brasileira
1.3 O Nacional-Estatismo e 
Nacional-Desenvolvimentismo
O denominado nacional-estatismo e nacional-desenvolvimentismo fundem-se na discussão 
processual sobre uma determinada fase de modernização do Estado brasileiro que também é ca-
racterístico, guardando algumas especificidades com os demais países da América latina. O ter-
mo nacional-estatismo é mais apropriado ao período que 
vai de 1937 a 1945, primeiro governo Vargas. O nacional-
desenvolvimentismo inicia-se nadécada de 1950. 
Os partidários da “revolução de 1930” esperavam a 
criação da ordem burguesa moderna, mas as dificuldades 
pós 1930 deram lugar a um “Estado de compromisso” carac-
terizado pela tentativa do governo de agradar a muitos in-
teresses diferentes – e até antagônicos –, contentando gru-
pos rurais, industriais emergentes, militares, profissionais 
de classe média e operários. Nesse contexto, os objetivos 
a serem contemplados apresentavam direções diferentes: 
proteger indústria, incorporar e domesticar os trabalhado-
res, proteger burguesia cafeeira e modernizar o aparelho de 
Estado na busca do universalismo de procedimentos (NU-
NES, 1997). 
Segundo Nunes (1997), o cenário político interno e 
externo não se mostrava muito favorável ao presidente Ge-
túlio Vargas. Internamente, a coalizão de apoio ao governo 
encontrava-se fragmentada e a economia externa estava em depressão, o que ameaçava a eco-
nomia cafeeira (café era o principal produto nacional), e havia a necessidade premente de rene-
gociar a dívida externa sob pressões dos bancos que impunham condições para renovar emprés-
timos ao Brasil. Mas Vargas surpreende, pois as respostas apresentadas aos problemas verificados 
vêm através de medidas que mudam a face do Brasil:
•	 Intervenção estatal na economia – criação de agências e programas, proteção ao café com 
centralização das decisões no governo federal;
•	 centralização política e administrativa – criação do Departamento de Administração do Ser-
viço Público – DASP, em (1938), com o objetivo de racionalização e modernização do apare-
lho de Estado (órgão consultivo e de formulação de políticas – rebento da ditadura); 
•	 redefinição dos padrões de relacionamento entre oligarquias locais e estaduais. Centraliza-
ção dos instrumentos para o exercício do clientelismo; nomeação de interventores para os 
◄ Figura 4: Bandeira da 
República Federativa do 
Brasil (19/11/1889)
Fonte: Disponível em 
<http://www.quatrocan-
tos.com/clipart/bandeiras/
bandeiras_dos_estados_
brasileiros/brasil01.jpg>. 
Acesso em 30 mar. 2015.
◄ Figura 5: Vargas e JK 
representantes do 
nacional-estatismo e 
desenvolvimentismo
Fonte: Disponível em 
<http://www.projetome-
moria.art.br/JK/verbetes/
getulio.html>. Acesso em 
30 mar. 2015.
16
UAB/Unimontes - 5º Período
Estados. Em 1939, Vargas cria a Lei dos Estados e Municípios, não lhes reservando nenhuma 
autonomia, ao contrário, exigia aprovação do governo federal para qualquer assunto impor-
tante;
•	 incorporação dos trabalhadores em moldes corporativos. Criação do Ministério do Trabalho, 
justiça do trabalho, Instituto de previdência Social e mais tarde Consolidação das Leis do 
Trabalho (CLT);
•	 criação do Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP. (NUNES, 1997, p. 73-86).
Observa-se, aqui, através dos tópicos elencados por Nunes (1997), que o Estado agora cria 
e/ou amplia uma estrutura de gestão. Se retornarmos a Reis (1998), podemos afirmar que as con-
dições de centralidade, de territorialidade foram afetadas favoravelmente nesse período.
O DASP é um órgão diretamente vinculado ao governo, que formula de forma centralizada 
e coordena e/ou supervisiona a execução das políticas do governo. Ao passo que o DIP cuida da 
criação das imagens, símbolos e representações do presidente junto à sociedade. Fatos como a 
eleição de 1950 e o suicídio de Vargas, em 1954, atestam a eficiência das estratégias varguistas 
em torno da sua imagem, especialmente a de um presidente protetor dos pobres, dos trabalha-
dores (FERREIRA, 1994). 
Segundo Nunes (1997), Vargas justifica as medidas centralizadoras remetendo-se às práticas 
que dominavam o país e precisavam mudar, como: a ficção eleitoral, a patronagem, a falta de 
zelo com os negócios públicos (que vinham sendo tratados como se fossem privados). Era pre-
mente a necessidade de o Brasil compartilhar da atmosfera que predominava no mundo naquele 
momento, pois o Laissez-faire estava em desacordo com atmosfera mundial de planejamento e 
controle. Vargas obviamente direciona uma crítica ao liberalismo e tenta estabelecer uma relação 
das suas propostas com o keynesianismo. Vocês já se encontraram com o Keynes no curso? Se 
não, pesquisem para compreender os termos em que essa discussão é colocada. O economista 
Celso Furtado, um dos maiores intelectuais brasileiros, atesta que a política varguista é de natu-
reza keynesiana (NUNES, 1997, p. 84).
Em linhas gerais, o estatismo passa por essas medidas de intervenção e centralização e, 
além da configuração como Estado-nacional com efetiva nacionalização da política, que advém 
das medidas centralizadoras de Vargas, a “noção de Estado nacional” se torna mais difundida na 
sociedade brasileira (NUNES, 1997, p.85).
São inegáveis as mudanças operadas pela política varguista no período de 1930/45. Nitida-
mente o Brasil entra num processo de modernização que, consensualmente, é analisado como 
modernização conservadora, autoritária, mas, quando finda o Estado Novo, as manifestações 
contrárias ao governo não atingem o presidente. Vargas retorna reeleito no segundo governo do 
período democrático, de 1946/64, quando, em 1950, obtém 48,7% dos votos. 
Segundo Leolpodi (1994), Vargas retorna ao poder propondo continuar o esforço de criação 
de uma infraestrutura para o desenvolvimento econômico. O projeto de industrialização previa o 
reforço do papel do Estado e das empresas públicas nos empreendimentos estratégicos da eco-
nomia. Mas, na visão do presidente, no exterior, práticas comerciais e industriais estavam refor-
çando o setor privado já consolidado, e de fora deveriam vir empréstimos públicos e privados, 
tecnologia e investimentos. Vargas já não se mostrava tão fechado à penetração do capital es-
trangeiro no Brasil. Apostava na captura de recursos da sociedade e na criação de novas áreas na 
burocracia para geri-los de forma ágil e isolada das pressões políticas. Vargas, no período de 1930 
a 1945, criou a gramática política, padrões institucionalizados, ou “laços que estruturam as rela-
ções entre e a sociedade e as instituições formais”, que este autor denomina de insulamento bu-
rocrático (NUNES, 1997, p.32). Qual seria a intenção de insular, isolar, a burocracia ou parte dela? 
Reflitam sobre isso. O presidente nacionalizou os recursos disponíveis para o clientelismo, umas 
das gramáticas políticas persistentes na trajetória política brasileira. Lembrem-se dos argumen-
tos de Faoro e Fernandes. Mas todo presidente precisa de apoio político e a burocracia, historica-
mente, serviu ao patrimonialismo, foi instrumento de patronagem, então Vargas vai isolar parte 
da burocracia para que os técnicos não sofram influências vindas da sociedade, especialmente 
dos partidos políticos, cabendo a essa tecnoburocracia coordenar o processo de racionalização 
e modernização do Estado. Fica clara aí a conexão do segundo com o primeiro governo, no que 
tange à proposta de desenvolvimento, inclusive, no que se refere ao insulamento burocrático. E, 
segundo vários analistas, a crise política do segundo governo, em boa medida, está referenciada 
ao primeiro governo do Vargas (ABREU; LATTMAN-WELTMAN, 1994). 
A Criação da Petrobrás, em janeiro de 1954, depois de dois anos de tramitação do proje-
to, é um exemplo do investimento na criação de agências pró-desenvolvimento/industrialização 
(LEOLPODI, 1994). Segundo Leolpodi é razoável afirmar uma aliança entre Vargas, os quadros 
burocráticos que planejaram a política industrial e os industriais. O processo de aceleração da 
17
Ciências Sociais - Política Brasileira
industrialização no período inclui a luta dos industriais pelo protecionismo. Somente em 1954, 
no auge da crise política, observa uma posição dual da Federação da Indústria do Estado de São 
Paulo – FIESP. De um lado, são feitas críticas ao Ministério do Trabalho devido ao aumento de 
salário e medidasligadas à previdência social; de outro, mostra os avanços na implantação da in-
dústria automobilística, de material elétrico, da química. De qualquer forma, Vargas buscava um 
bloco de apoio na crise, uma vez que a crise política atingia a economia, num cenário de crise 
inflacionária e crise do café. O desfecho dessa crise é dramático, Vargas suicida-se e aumenta a 
instabilidade política.
Juscelino Kubitschek assume a presidência do Brasil, na segunda metade dos anos cinquen-
ta, de 1956/61. O que vocês conhecem sobre a trajetória política de JK? Pesquisem sobre esse 
polêmico político mineiro.
Para termos uma ideia da delicadeza da conjuntura política da época, é importante situar o 
governo de JK entre o suicídio de Vargas e a renúncia de Jânio Quadros. Numa democracia que 
deve ser entendida como sendo de elites, de tradição oligárquica, militarista e mesmo golpista. 
Ainda assim é o governo de maior estabilidade da época. A base de sustentação do governo era 
formada por uma aliança conservadora que reunia interesses da burguesia comercial, da oligar-
quia rural e da classe média tradicional (BENEVIDES, 1991).
No governo de JK temos a consagração do vocábulo desenvolvimentismo. Mas não há des-
continuidades de Vargas para JK. Nesse período, observam-se vantagens do desenvolvimentis-
mo, que são verificadas especialmente no pragmatismo de Juscelino. No que tange à moderni-
zação, ao contrário do getulismo, o desenvolvimentismo evita ênfase na intervenção estatal e 
foca-se no capital estrangeiro. Para os trabalhadores o desenvolvimentismo era concreto, tradu-
zindo-se em empregos e serviços básicos (BENEVIDES, 1991). Corroborando essa análise de Be-
nevides (1991), Moura (1991) explicita a estratégia juscelinista de desenvolvimento, o que ele de-
nomina de Modelo juscelinista do desenvolvimento associado. JK expressava que a sua ideia de 
desenvolvimento 
visava ao aumento contínuo da capacidade de investimento no país, mediante a 
conjugação de esforços do capital privado (nacional e estrangeiro) com a assis-
tência do setor público – este abrindo caminho, suplementando esforços e pro-
duzindo incentivos, mas de modo algum substituindo a ação do capital privado 
(MOURA, 1991, p. 30). 
Esse tema da agenda política de JK e a forma como ele é abordado pelo presidente, na pers-
pectiva dos interesses dos latino-americanos entra em choque com a política norte-americana. 
Esse fator causa constrangimentos na relação entre os dois países quando o Brasil demonstra re-
sistência em seguir as medidas de estabilização monetária ditadas pelo Fundo Monetário – FMI 
–, levando à ruptura do país com o organismo internacional, que exigia um choque mais radical.
Na tentativa de contornar a situação, JK cria a Operação Pan Americana, em (1958), com 
três linhas de ações: captar recursos em larga escala; colocar o Brasil em posição de liderança na 
América latina; assegurar boas relações com os Estados Unidos da América – EUA. Os dois países 
tinham visões diferentes sobre o problema da região. Para os EUA, os problemas políticos, a agi-
tação social na região são resultados da interferência de ideias comunistas. Para JK, os problemas 
sociais tinham como causa o subdesenvolvimento, daí a necessidade de atos de solidariedade 
concreta dos EUA para com os países latino-americanos. A resposta norte-americana vem com a 
criação da Organização dos Estados Americanos – OEA – como foro natural de discussão de pro-
postas para a América Latina. Como JK equaciona soberania à prosperidade e liga prosperidade 
ao afluxo de capitais estrangeiros, procura então compatibilizar o desenvolvimentismo com ali-
nhamento tradicional do Brasil aos EUA (MOURA, 1991).
Segundo Benevides (1991), os resultados do desenvolvimentismo no governo de Juscelino 
Kubitschek é a implantação da industrialização modernizadora, da manutenção da paz e tranqui-
lidade no campo; da criação de empregos e a mobilização do voto urbano, com controle sobre as 
reivindicações sindicais. Mas é necessário apontar as consequências das virtualidades do mode-
lo desenvolvimentista baseado na entrada do capital estrangeiro, que foram sentidas em longo 
prazo como: a descapitalização do meio rural e o inchaço urbano; o desemprego e o subempre-
go, a inflação e o crescimento da dívida externa. Essas condições fazem com que a agenda políti-
ca, nos primeiros anos da década de 1960, seja pressionada por demandas sociais que levam ao 
choque entre grupos e partidos políticos e culminam no golpe militar de 1964, que põe fim ao 
governo de João Goulart. Mas, conforme salienta Figueiredo (1994), a explicação para a ruptura 
institucional não pode ser apenas econômica. Essa autora chama a atenção para o processo de 
como o golpe vinha politicamente sendo arquitetado ao longo do tempo, e se transformou num 
dICA
Sobre a crise da década 
de 1960, que culmina 
no golpe militar, indico 
para leitura o livro: 
FIGUEIREDO, Argeli-
na C. Democracia ou 
reformas? Alternativas 
democráticas à crise 
política: 1961-1964. São 
Paulo: Paz e Terra, 1994. 
18
UAB/Unimontes - 5º Período
golpe de baixo custo para as forças conservadoras. As instituições políticas, do início dos anos 
sessenta, vão ruir sob a pressão de forças polarizadas e radicalizadas a favor e contra a mudança 
social, que do ponto de vista governamental era apresentada no plano das reformas de base.
1.4 O Estado Autoritário-Militar
Segundo Rocha (1999), o tema desenvolvimento econômico continua sendo a tônica do dis-
curso político das Forças Armadas apresentado através da Escola Superior de Guerra, fundada no 
governo Dutra, em 1948; Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais – IPES e Instituto Brasileiro de 
Ação Democrática – IBAD. Sustentava-se a ideia de um Estado técnico e não político, perpassado 
pela ideologia da Segurança Nacional, centrado na formação de uma intelectualidade orgânica 
no sentido Gramsciano. 
Os discursos oficiais atestavam o esgotamento do desenvolvimento nacional autônomo, 
reafirmando o princípio da forte presença do Estado na atividade econômica e a regulação da 
economia, que durante o período militar sofreu variações segundo os governos, sendo maior 
nos mandatos de Castelo Branco e Geisel. Aliás, essas variações expressam as distintas clivagens 
observadas nas forças armadas naquele período, a saber: os castelistas (mais intelectualizados), a 
linha-dura (mais conservadores) e os nacionalistas autoritários. Acentua-se a busca por emprésti-
mos externos, e o estímulo ao ingresso do capital estrangeiro para financiar e promover o desen-
volvimento econômico é demonstrado através do privilegiamento das grandes empresas multi-
nacionais (ROCHA, 1999). 
Expressando alto grau de conservadorismo, o Programa de Ação Econômica do Governo – 
PAEG – apresentava como objetivos centrais, medidas que visavam reduzir o déficit do setor pú-
blico, contrair crédito privado e comprimir salários. Ocorre o aumento da arrecadação e controle 
sob os gastos dos Estados. Os resultados dessas ações são considerados positivos, uma vez que 
levam à redução do déficit público e o Produto Interno Bruto cresce. Mas medidas que altera-
riam o status quo, como a criação do Estatuto da Terra, não saem do papel. Ao passo que, por 
outro lado, ações que favorecem aos capitalistas são facilmente implementadas, como exemplo 
podemos citar a perda da estabilidade no emprego após dez anos de serviço, medida que vem 
juntamente com a criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS –, em 1966 (RO-
CHA, 1999). Na verdade, o FGTS funcionava como um depósito compulsório do trabalhador, e o 
governo utilizava esses valores para financiar os seus projetos. Podemos observar que os custos 
da modernização continuam extremamente elevados para os trabalhadores brasileiros. 
O chamado “milagre econômico” brasileiro, nos anos de 1969/1973, ocorre num quadro fa-
vorável, quando há expansãodo mercado exterior e a economia mundial está com disponibili-
dade de recursos para efetuar empréstimos e investimentos financeiros (ROCHA, 1999). Anos ini-
ciais da década de 1970, o que isso diz a vocês, qual a conjuntura política da sociedade brasileira 
nesse momento? Revisitando a nossa história, vamos perceber que a propaganda do milagre 
econômico brasileiro ajuda a encobrir os porões da ditadura que vivia nesses anos um dos seus 
períodos mais agudos e cruéis. Se refletirmos um pouco, é fácil compreender que esse quadro 
também é bastante favorável para 
a legitimação do regime militar. Era 
uma forma de mostrar à socieda-
de a eficácia do governo, o quanto 
a propagada democracia restrita 
anunciada pelos militares como 
solução para os problemas do país 
era factual. Segundo Arturi (2001), 
algumas características do regime 
militar brasileiro mostram-se am-
bíguas, pois permitem que se crie 
uma percepção de normalização 
do processo político, como exem-
plos, o autor cita a vigência de um 
calendário eleitoral, o funciona-
mento do Congresso, a existência 
de partidos políticos. No entanto, 
GloSSáRIo
Status quo: é uma ex-
pressão em latim muito 
usada nas ciências 
sociais, e pode ser tra-
duzida como “situação 
atual”. As políticas de 
um governo visam 
modificar a sociedade, 
portanto, visam modi-
ficar o status quo. As 
modificações impostas 
por um governo sempre 
geram conflitos em 
algum grau, porque 
sempre há aqueles que 
se beneficiam com a 
“situação atual”, ou seja, 
há sempre aqueles que 
gostam do status quo 
e reagem aos governos 
ou às políticas que o 
modificam.
Figura 6: Alusão ao 
autoritarismo e à 
repressão
Fonte: Disponível em 
<www.inclusive.org.br>. 
Acesso em 30 mar. 2015. 
►
19
Ciências Sociais - Política Brasileira
Arturi (2001) chama a nossa atenção que há que se observar que os militares tinham o controle 
do processo sob regras, que eles impunham unilateralmente. Ou seja, o fato de termos mecanis-
mos próprios da democracia não garante que o processo seja democrático.
Os projetos de desenvolvimento são mantidos pelos militares, mesmo com o fim do “mila-
gre econômico”, sempre baseado em empréstimos externos. A partir de 1974, num quadro de 
recessão econômica, situação se mantém no primeiro governo civil de José Sarney 1985/90. Nos 
dois últimos governos, de Ernesto Geisel (1974/79) e João Batista Figueiredo (1979/85) inicia-se o 
processo de liberalização do regime autoritário. Uma das preocupações centrais dos militares era 
a garantia de que não haveria revanchismo contra os agentes do Estado (ARTURI, 2001). Não é 
preciso muita acuidade analítica para observar que os militares foram altamente bem sucedidos 
nas suas estratégias para atingir esse objetivo. A anistia ampla cumpriu com a finalidade de ab-
solver a culpa dos militares pelos crimes políticos.
Os problemas resultantes das ações políticas e econômicas dos governos militares são dras-
ticamente sentidos por todos os cidadãos brasileiros. A dependência do sistema financeiro inter-
nacional, a extrema concentração de renda com o privilegiamento da acumulação de capitais, 
os arrochos salariais a que os trabalhadores foram submetidos imprimem a marca de um capi-
talismo selvagem, um sistema que não considerou nem a natureza, nem as populações (ROCHA, 
1999). Anos a fio de repressão política, de desarticulação das formas de organização da socieda-
de civil, de impunidade, são também de resistência, que culmina nos primeiros anos da década 
de 1980 com um acúmulo de forças sociais organizadas em torno do objetivo de democratização 
da sociedade brasileira.
1.5 Reforma do Estado: sob 
a Égide do Neoliberalismo e 
Globalização
Reforma do Estado é o tema que por excelência passa a dominar a agenda política a partir 
da década de 1980. Dois acontecimentos influenciam de forma crucial esse debate: a eleição de 
Margareth Tatcher como primeira ministra, na Grã Bretanha, e Ronald Reagan, nos EUA; poste-
riormente, na década de 1990, o fim dos regimes comunistas no leste europeu. Tatcher e Reagan 
propunham a privatização de empresas estatais, o enfrentamento do poder dos sindicatos, re-
formas trabalhistas e a liberalização dos mercados, especialmente o financeiro (NEUTZLING, JR., 
2008). Esse conjunto de medidas passa a ser denominado de neoliberalismo. O enfrentamento 
frontal é entre os fundamentos do Welfare-State – Estado de bem-estar social e as propostas de 
retorno do liberalismo econômico –, onde o Estado tem as suas funções reduzidas. Vamos traba-
lhar um pouco de teoria sobre modelos de reforma que explicita a base dessas formas de Estado. 
Azevedo; Andrade (1997) sintetizam os modelos de reforma do Estado em termos de duas 
variáveis: 
a) a concepção predominantemente social e política sobre a definição de bens públicos;
b) a forma de oferta desses bens, se por meio da produção direta por parte do setor público 
ou se este se encarrega apenas da sua provisão ou financiamento, ficando o setor privado encar-
regado de suprir as demandas desses bens.
No que se refere aos bens públicos temos duas acepções:
1- Restrita: considera-se bem público apenas a defesa externa e a ordem jurídica e institu-
cional, abrangendo garantias individuais, os direitos civis e políticos, o arcabouço normativo das 
atividades econômicas, entre outros.
2- Ampliada: os bens públicos englobam, além dos anteriores, os bens e serviços que a so-
ciedade define como direitos do cidadão, por exemplo, educação, saúde, infraestrutura, sanea-
mento, etc.
A observação importante para análise empírica é que “da combinação dessas variáveis – 
tipo de oferta e amplitude da definição dos bens públicos – é possível pensar três “tipos ideais” 
de Estado [...]” Mínimo, neoliberal e Estado de bem-estar (AZEVEDO; ANDRADE, 1997, p. 61).
Vejamos como os autores definiram essas três formas de configurações do Estado:
20
UAB/Unimontes - 5º Período
1- o chamado ‘Estado mínimo’ ou o velho Estado do laissez-faire, voltado exclusivamente 
para a proteção contra os inimigos externos e a manutenção da ordem interna;
2- o Estado neoliberal que, além da defesa externa e da ordem interna, inclui alguns bens 
e serviços de consumo coletivo na sua agenda, não se encarregando, entretanto, da produção 
direta destes últimos;
3- o ‘Estado de Bem-Estar’, caracterizado pela definição ampliada de bem público e pela pro-
dução direta da maioria desses bens (AZEVEDO; ANDRADE, 1997, p. 61-62).
Vale lembrar que podemos encontrar outros conceitos em outros autores que podem se 
aproximar ou se distanciar desses que estamos discutindo aqui, especialmente entre Estado mí-
nimo e Estado neoliberal. É possível, inclusive, a afirmação de que são sinônimos. Vamos retornar 
para a nossa discussão sobre o Brasil?
Segundo Diniz (1997), no início da década de 1980, o alto grau de visibilidade da crise eco-
nômica que assola o Brasil e toda a América latina (inflação, endividamento externo, recessão e 
desemprego) obscureceu os componentes políticos e institucionais da crise do Estado. Quando a 
crise era mencionada, a referência era ao esgotamento das condições de financiamento do anti-
go padrão de industrialização, ao desequilíbrio fiscal, desordem das contas públicas, instabilida-
de monetária, choques externos, etc. Mas, na visão da autora, necessariamente temos que con-
siderar fatores internos como o desgaste da matriz político-institucional que atingiu as formas 
prevalentes de articulação entre Estado/Sociedade. O descompasso Estado-Sociedade está no 
centro dos impasses do momento, e a nova república, na tentativa de conter a inflação, privile-
giou estratégias coercitivas com reformas liberalizantes confinadas no interior da burocracia com 
alijamento do Legislativo, mantendo o mesmo estilo tecnocrático de gestão, com nítido reforço 
da centralizaçãoregulatória do Estado. A autora se ressente da desvalorização dos mecanismos 
de representação da sociedade, atenta aos riscos de manter na sociedade que quer constituir 
como democrática a mesma ficção já vivenciada em tantos outros momentos. 
Outra preocupação, na verdade um desdobramento da primeira, é o esvaziamento da agen-
da pública de reformas sociais, como privi-
legiamento dos programas de estabiliza-
ção econômica e a atenção ao acirramento 
dos conflitos em torno da distribuição de 
recursos escassos. Nos governos de Sarney 
e Collor, oito programas de estabilização 
foram tentados (DINIZ, 1997).
Fernando Collor de Mello (1990/92), 
primeiro presidente eleito diretamente no 
Brasil depois de 29 anos, “adotou a agen-
da neoliberal no país, por meio da políti-
ca de privatização de empresas públicas 
e abertura da economia às importações” 
(ANASTASIA, et al 2007, p.129). Na avaliação 
desses autores, os objetivos relativos às pri-
vatizações não se viabilizam e a marca do 
governo se prende mais à abertura para o mercado externo. Mas, falando de neoliberalismo, qual 
a sua concepção sobre neoliberalismo, governo neoliberal? Esse é um tema bastante atual. Com-
pensa pesquisar e participar de uma forma qualificada das discussões, não mesmo?
Para Azevedo; Andrade (1997), Collor não tinha um projeto compreensível de reforma do 
Estado e as consequências disso são drásticas, devido aos equívocos cometidos em nome de 
uma “reforma administrativa no setor público”, pois as instituições públicas sofrem desfalques de 
recursos técnicos valiosos. Um clima de terror fez acelerar as aposentadorias no setor federal, o 
que leva ao desmantelamento da máquina pública federal, que, ademais, realizou corte relativo 
a gastos com pessoal (AZEVEDO; ANDRADE, 1997). Soma-se a isso a manutenção da tradição au-
toritária e a disposição para seguir as regras ditadas pelo FMI para a estabilização econômica. O 
confisco das cadernetas de poupanças, congelamento de salários, a abertura da economia são 
medidas que notabilizaram esse governo. 
O governo Collor foi interrompido em 1992, através de um processo de impeachment. As-
sume o governo o vice-presidente Itamar Franco e, em meio a uma grave crise política, um novo 
plano econômico (o plano real) é elaborado sob condução do ministro Fernando Henrique Car-
doso – FHC. Capitalizando a popularidade que esse plano lhe confere, FHC é eleito em 1994 e 
reeleito presidente da república em 1998, dando continuidade às políticas neoliberais (ANASTA-
SIA; et al 2007).
Figura 7: O 
desemprego foi uma 
das conseqüências das 
políticas neoliberais
Fonte: Disponível em 
<www.diarioliberdade.
org>. Acesso em 30 mar. 
2015.
►
21
Ciências Sociais - Política Brasileira
O tema da reforma do Estado readquire centralidade no governo de FHC. Propõe-se a supe-
ração da crise fiscal e uma redefinição do seu papel econômico, reduzindo “as intervenções dire-
tas e adotando formas regulatórias”. As ações exclusivas do Estado são as integrantes do núcleo 
burocrático, como: legislar, tributar, administrar a justiça, garantir a segurança e a ordem interna, 
defender o país contra o inimigo externo, e estabelecer políticas públicas de caráter econômi-
co, social, cultural e do meio ambiente. Ao lado do núcleo burocrático, tem o Estado um setor 
de serviços de variada gama de funções: educação, saúde pública, pesquisa e seguridade social, 
infraestrutura, produção de bens e serviços de utilidade pública (AZEVEDO; ANDRADE, 1997, p. 
66-68).
Para Azevedo (1997), no governo de FHC observa-se um confronto entre o “técnico e o polí-
tico”, que mostra uma prática persistente na política: 
 
Enquanto os especialistas defendiam a diminuição do número de cargos de con-
fiança, a incorporação de órgãos, a redefinição de linhas de vinculação e subordi-
nação para melhorar a coordenação, aproximar ao que é afim e reduzir o span of 
control, na arena política negociavam-se cargos e posições que se, por um lado, 
atendiam às reinvindicações das forças situacionistas e de seus aliados, por outro 
dificultavam as tomadas de decisões e a implementação das políticas (AZEVEDO; 
ANDRADE, 1997, p. 73).
Segundo Anastásia et al (1997, p. 130-131), FHC promove privatização em grande escala e 
“a ampla abertura comercial resulta na falência de muitas empresas nacionais e no crescimento 
do desemprego”. O controle cambial, com a taxa de juros reais elevados, base do seu “modelo de 
política econômica, manteve a inflação estabilizada e recuperou o poder de compras do salário, 
mas fez explodir a dívida pública, de cerca de 30% par 55,5% do PIB”.
No geral, ao longo da década de 1990, o Brasil alterna crescimento econômico baixo com re-
cessão, e politicamente pela ofensiva das forças conservadoras. Numa mesma lógica observada na 
América latina, a análise do padrão de gastos do Estado aponta que, sob vigência da política neo-
liberal, apresenta “gastos sociais cadentes e gastos financeiros crescentes” (BOITO JR., 2002, p. 62).
A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2002 posteriormente em 2006 levou a esquer-
da ao poder, Lula mantém a política econômica que estava em curso. Mesmo sendo um político 
com trajetória de esquerda, Lula mantém a posição do Estado no campo neoliberal. Isso respon-
de uma pergunta que às vezes é colocada sobre essa questão. O ponto central do questionamen-
to é se o fato de Lula ser do PT, por si só, não garantiria que ele rompesse com o neoliberalismo. 
Por vezes essa indagação retoma os anos 50 e pergunta se há possibilidade de retorno ao nacio-
nal desenvolvimentismo? A resposta a essa questão tende a ser negativa. Estamos agora num 
contexto de um mundo globalizado. No governo Lula, de forma gradual, o Estado retoma sua 
posição de protagonista das políticas públicas, especialmente através do programa Fome Zero 
que engendra o Bolsa-família. Um partido de esquerda pode investir mais em políticas sociais, 
teoricamente a defesa de que o Estado invista mais em políticas públicas ainda é uma das va-
riáveis que levam à classificação de um partido, segundo espectro ideológico, como sendo de 
esquerda. Isso pode levar o Estado a ter uma configuração que se aproxime mais de um welfare
-state. Mas não é garantia suficiente, pois a essas variáveis, outras se somariam. 
Conforme aponta Anastásia et al (2007), os impactos do programa Bolsa Família apontam a 
queda na histórica taxa de desigualdade social no país. Outro fator indicado como vantagens do 
governo Lula frente ao governo de Fernando Henrique Cardoso foi a aprovação da reforma da 
previdência.
Com similitudes e diversidades em termos de concepções, estratégias políticas, padrão de 
gastos e aprovação da sociedade, caminhamos no século XXI sob os auspícios do neoliberalismo. 
Observando os conceitos que apresentamos no início desta subunidade, supomos que não fica 
dúvida de que essa é a melhor classificação para a atual configuração do Estado brasileiro.
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UAB/Unimontes - 5º Período
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23
Ciências Sociais - Política Brasileira
UnIdAde 2
Modernização Política, Populismo 
e Corporativismo no Brasil
Paulo Magalhães Araújo
2.1 Introdução
Olá, pessoal. Nesta unidade começaremos nossas discussões visando aprender um pouco 
sobre um fenômeno que representa um importante capítulo da história política brasileira: o po-
pulismo. Aqui analisaremos esse fenômeno, algumas de suas causas e suas conexões com outro 
importante traço da política no Brasil: o corporativismo. Abordaremos também as consequências 
da era populista para a formação do estado e da democracia no Brasil. 
De antemão, podemos dizer que o populismo foi um processo que coincidiu com o início 
da modernização do país, isto é, com a urbanização e industrialização do Brasil, especialmente 
na região Sudeste. Podemos adiantar, também, que a via populista consistiu numa importante 
forma de participação política democrática, representando, assim, um avanço na ascensão das 
classes populares ao processo político nacional. 
Afinal, por que e como as classes populares foram incorporadas à política? O que represen-
tou essa incorporação no processo de institucionalização da democracia brasileira? Na discussão 
dessas questões, trataremos do corporativismo, que, embora não esteja exclusivamente relacio-
nado com o populismo, está estreitamente conectado com as estratégias dos governos populis-
tas no Brasil.
Em suma, essas e outras questões serão tratadas, de modo que, ao final dessa discussão, 
teremos uma visão um pouco mais completa sobre o estado e a democracia no Brasil. Nossos 
argumentos estão organizados da seguinte forma: primeiramente, indicaremos uma breve defi-
nição sobre o populismo e a época de seu surgimento no país. Depois, faremos um breve percur-
◄ Figura 8: Foto-
montagem com 
passeata pró-Vargas 
(ao fundo) e retratos de 
populistas brasileiros
Fonte: Disponível em 
<http://www.brasilescola.
com/upload/e/Demo-
cracia%20e%20Populis-
mo%20-%20BRASILES-
COLA.jpg>. Acesso em 30 
mar. 2015
24
UAB/Unimontes - 5º Período
so histórico, visando indicar fatos importantes relacionados à ascensão de Vargas, o maior líder 
populista brasileiro. Conheceremos e discutiremos também algumas estratégias importantes do 
governo-estado varguista – como o pacto corporativo – e seus impactos na realidade brasileira. 
Por fim, apresentaremos uma breve síntese da discussão. Então, vamos iniciar nossa caminhada?
2.2 Populismo: uma Abordagem 
Inicial
O populismo é um fenômeno bastante comum ao redor do mundo. São tantos os casos e 
tão diferentes entre si, que se torna impossível uma conceituação que englobe adequadamen-
te todos os casos. Worsley (1973) faz uma tentativa de definir o populismo, estudando desde os 
movimentos populistas norte-americanos até o populismo russo, passando pela Ásia, África e, 
claro, pela América Latina. O autor conclui que 
existem inúmeras diferenças entre todas essas ‘localizações sociais’, [de modo 
que] os traços comuns não podem ser senão muito gerais.[...] Tudo o que esses 
movimentos parecem ter em comum é o nome (WORSLEY, 1973, p. 68).
Não obstante, para Worsley, o fato de esses fenômenos, ocorridos em diferentes lugares e 
momentos históricos, serem chamados de populismo deve implicar que possuem “certos atribu-
tos capitais”, possibilitando enquadrá-los, com algum valor analítico, sob uma mesma domina-
ção. Esses “atributos capitais” são indicados por Bobbio (1983), que define
como populistas as fórmulas políticas cuja fonte principal de inspiração e termo 
constante de referência é o povo, considerado como agregado social homogê-
neo e como exclusivo depositário de valores políticos, específicos e permanentes 
(BOBBIO et al, 1983, p. 980 ).
Isso não diz muito, não é? Apenas nos sugere quanta polêmica há por trás de um conceito 
aparentemente simples. Felizmente, como aqui nossa preocupação é direcionada ao Brasil, não 
precisamos nos debruçar sobre a dificuldade de conceituar o populismo em geral. Para especi-
ficar a ideia de populismo brasileiro – basicamente varguista –, trabalharemos com argumentos 
de Worsley, Francisco Weffort e Otávio Ianni, que são referências obrigatórias sobre o tema.
Worsley (1973) aponta alguns traços centrais do populismo latino-americano, no qual inclui 
o Brasil: 
a) as classes sociais não têm a importância política que adquiriram no processo de moderni-
zação dos países de capitalismo avançado; 
b) os conflitos políticos não se estruturam com base em interesses de classe, mas com base 
em um sentimento nacionalista, de modo que os principais antagonismos políticos se estabele-
cem entre o povo-nação e os interesses estrangeiros;
c) a unidade da nação se expressa no partido (ou partidos) liderado pelo chefe populista;
d) há uma relação orgânica entre o Estado e o partido liderado pelo líder populista, tal que o 
Estado-partido é o agente de libertação do povo e o motor do desenvolvimento. 
Ademais, no Brasil – e em toda a América Latina –, o populismo caracterizou-se pelo uso da 
força e o suborno para cooptar apoiadores, desmobilizar a oposição e assegurar a hegemonia do 
líder populista e de seus “braços” de poder, tais como os partidos e sindicatos. Complementando, 
podemos citar Weffort (1980) que, analisando o caso brasileiro, define populismo “comoestilo de 
governo, sempre sensível às pressões populares, ou como política das massas, que buscava con-
duzir o povo, manipulando suas aspirações” (WEFFORT, 1980, p. 61).
No entanto, Weffort ressalta que a complexidade do contexto histórico em que se deu o go-
verno populista no Brasil se reflete na complexidade do próprio populismo como fato político a 
ser analisado. Com isso, Weffort quer superar as visões simplistas que veem no populismo uma 
mera estratégia de “hipnose” política das massas. Segundo o autor, populismo não é simples-
mente manipulação, pois, não obstante se mostre uma forma eficiente e concreta de dominação 
das massas, foi também um modo dessas mesmas massas expressarem suas insatisfações no ar-
25
Ciências Sociais - Política Brasileira
cabouço do Estado. No caso do Brasil, essa expressão popular no plano da política era impossível 
na primeira república (1889-1930), quando o Estado era um mero “comitê executivo” das oligar-
quias rurais.
Sem dúvida, a via populista de incorporação política consistiu no meio pioneiro e mais im-
portante de ascensão dos setores populares urbanos no processo de desenvolvimento nacional, 
impondo, definitivamente, uma nova dinâmica de exercício do poder por parte das elites políti-
cas. Em suma, se por um lado o populismo foi um meio de os grupos dominantes manipularem 
as massas; por outro, foi uma forma de democratizar o poder, colocando o domínio das próprias 
elites sob potencial ameaça (WEFFORT, 1980).
Agora que já entendemos o sentido do termo populismo e qual o seu sentido na política 
brasileira, vamos voltar um pouco na história, para entendermos o processo – ou a sucessão 
de escolhas e de fatos históricos – que culminou com a ascensão de Vargas e do populismo no 
Brasil. 
2.3 Antes do Populismo: as 
Oligarquias na Política Brasileira 
Com a proclamação da República, em 1989, a oligarquia brasileira, liberta das travas impe-
riais e recém adepta das relações capitalistas na produção, tiveram importância fundamental na 
formação do estado brasileiro e, por consequência, na modernização econômica do país.
Ao contrário do que se deu na Argentina, por exemplo, não houve no Brasil uma oligarquia 
nacional hegemônica, capaz de abarcar os interesses das oligarquias “menores” e demais seg-
mentos sociais. Havia, sim, oligarquias regionais importantes no comércio internacional e na 
política interna. Porém, como nenhuma dessas oligarquias tinha força suficiente para controlar 
o aparato do Estado e universalizar seus interesses, era necessário um acordo de alternância do 
poder e o estabelecimento de limites precisos à ação do grupo que estivesse, momentaneamen-
te, no governo (CARDOSO; FALLETO, 1979). Vocês devem ter se lembrado da tal “política do café 
com leite”, certo? É isso mesmo: basicamente, trata-se de um pacto entre as oligarquias de Minas 
e São Paulo, pela alternância no domínio do governo federal. 
Os primeiros setores sociais a contestarem esse sistema de alternância de poder entre as oli-
garquias, poder oligárquico, surgiram como efeito do próprio sistema. Os novos protagonistas do 
cenário político ganhavam força à medida que prosperavam os negócios oligárquicos. Como re-
sultados das mudanças econômicas, apareceram e cresceram categorias de profissionais liberais, 
empregados e insipientes setores operários, que se juntaram aos setores burocrático-militares, de-
putados, chefes de políticos locais excluídos do sistema oligárquico (CARDOSO; FALLETO, 1979).
◄ Figura 9: Quadro 
Operários, pintado em 
1933, por Tarsila do 
Amaral, representando 
a classe trabalhadora, 
isto é, “o povo”, objeto 
de mobilização na 
estratégia populista.
Fonte: Disponível em 
<http://artecomoarte.files.
wordpress.com/2010/01/
tarsilia.jpg>. Acesso em 30 
mar. 2015.
26
UAB/Unimontes - 5º Período
O fato é que o processo de modernização da sociedade brasileira teve implicações para to-
dos os setores sociais, ao mesmo tempo em que favoreceu a formação do mercado de trabalho 
livre urbano – diferente do “servilismo” que caracterizava a economia das oligarquias rurais. A ex-
pansão da mão de obra formalmente assalariada foi um fator de peso que, visando atender a 
uma demanda por produtos industrializados, acabou por incentivar a expansão dessa demanda. 
Assim, o mesmo processo que impulsionou a complexificação da divisão social do trabalho criou 
condições para a expansão do mercado interno e, consequentemente, criou as bases sociais e 
econômicas para a superação da própria estrutura oligárquica. De acordo com Bambirra e San-
tos, no Brasil:
A expansão da produção agrícola em alta escala, destinada à exportação, amplia 
o monopólio da terra e leva a restringir progressivamente as áreas da economia 
de subsistência, a proletarizar uma parte significativa do campesinato e, tam-
bém, a expulsar para os núcleos urbanos outros contingentes de camponeses, 
que vão às cidades se oferecerem como trabalhadores em troca de exíguos salá-
rios (BAMBIRRA; SANTOS, 1977, p.137. Em espanhol no original).
Como se diz: “o tiro saiu pela culatra”. O sucesso econômico das oligarquias agroexporta-
doras foi o pontapé inicial na derrocada do próprio regime oligárquico. Vejamos: o sucesso da 
grande lavoura inviabilizou a atividade do pequeno agricultor, criando um grande contingente 
de mão de obra ociosa que acabou partindo para os centros urbanos, em busca de ocupação 
remunerada nas indústrias emergentes. Em outras palavras, a expansão do mercado nacional e a 
proliferação da industrialização caminharam num ritmo próprio, não planejado pelas oligarquias, 
e acabou por abalar o status quo dessas mesmas oligarquias.
A intensificação desse processo de modernização tem consequências políticas importantes, 
porque leva tanto à emergência de novos setores sociais politicamente mobilizados quanto ao 
fortalecimento dos setores já existentes. Isso se faz sentir com grande força nas grandes cidades, 
especialmente na região Sudeste. 
Por volta de 1920, os trabalhadores intensificaram as manifestações – greves, passeatas, 
reivindicações, etc. – que eram combatidas a ferro e fogo pelos governos oligárquicos. A mo-
bilização era intensa e as classes populares urbanas, ao lado dos setores médios emergentes e 
oligarquias dissidentes, eram forças importantes a pressionar a estrutura de poder vigente. Des-
contentes com os governos oligárquicos, com as sucessivas fraudes eleitorais e com a arbitra-
riedade dos governantes, uma ala progressista radical das forças armadas dão início a um movi-
mento que ficou conhecido como tenentismo e desencadeou um ciclo de movimentos armados. 
Esses movimentos urbanos – que ganharam a simpatia dos insatisfeitos com as elites políticas 
Figura 10: Rio de 
Janeiro nos anos 
30, um retrato da 
urbanização do país, 
que estabeleceu as 
condições sociais e 
políticas do populismo
Fonte: Disponível em 
<http://i393.photobucket.
com/albums/pp18/Os-
mar_030/Rio%20Antigo/
Castelo/Castelo-Videna-
vio-1936.jpg>. Acesso em 
30 mar. 2015.
►
27
Ciências Sociais - Política Brasileira
– visavam à realização de um ideário liberal-democrático que incluía: instituição do voto secreto, 
moralização das eleições e algumas reformas sociais (BAMBIRRA; SANTOS, 1977).
Como mencionamos acima, reinava a chamada política do “café com leite”, acordo pelo re-
vezamento no poder entre dois grandes blocos de poder, liderados pelas elites de Minas e São 
Paulo. No início da década de 1920, a sucessão presidencial encontrou uma oligarquia cindida; 
a oligarquia paulista, no poder sob a presidência de Washington Luís, rompe o pacto de reveza-
mento e anuncia Júlio Prestes, outro paulista, como candidato. 
A oligarquia gaúcha protestou e, em parceria com alguns produtores de cana da Paraíba e 
com a elite mineira, compôs a chapa da Aliança Liberal: bloco de oposição institucionalizado du-
rante

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