Buscar

Resumo do capitulo "Pela mão de Alice. O social e o político na transição pós-moderna de Boaventura de Souza"

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Subjetividade, Cidadania e Emancipação
Uma reflexão do capítulo do livro “Pela mão de Alice. O social e o político na transição pós-moderna”. SANTOS, Boaventura de Souza. São Paulo: Cortez, 1997.
A subjetividade, a cidadania e a emancipação inserem-se na relação Constitucional como elementos absolutamente importantes nas ações institucionais e governamentais para as quais trarão efeitos práticos, visando, acima de tudo, contribuir para a consolidação do bem estar social, tornando-se importantes estruturas para a mudança de comportamento individual e coletivo.
Nesse sentido, partindo-se da visão do constitucionalismo pós-moderno, de acordo com Dalmo de Abreu Dallari, o fundamento da constituição é buscar os meios e os mecanismos para efetivar e construir uma realidade social pautada nas necessidades e na acepção da realidade social. Canotilho, jurista português, concomitante com essa visão humanística, afirma que “a Constituição define mais ou menos detalhadamente, os fins do Estado, os princípios materiais norteadores de sua realização e as tarefas dos órgãos estatais’’. Arrisca-se, aqui, a apontar não só as tarefas dos órgãos estatais, mas também das pessoas constitucionais inseridas na regulação. 
Acerca disso, a regulação deve ser instituída democraticamente, constituindo a regulação elemento absolutamente importante para a aferição e estabelecimento da democracia. Os elementos que constituem a regulação existem para estabelecer parâmetros de condutas de atuação do Estado e da sociedade. Entretanto, não raros os casos de excesso de regulação, denunciados pelos sociólogos. Nesse sentido, de acordo com Foucault, o excesso do controle social, por meio da regulação, produzido unilateralmente pelo Estado, através do poder disciplinar, traduz, de fato, a domesticação dos indivíduos, reduzindo o potencial político de participação das pessoas constitucionais. Há também críticas na “Lei de Ferro” do Max Weber, tratando-se de uma das maiores ferramentas de poder da modernidade, a racionalidade burocrática, em obras como a “Sociedade Administrada” de Adorno e até na “Colonização do mundo da vida” de Habermas. 
Boaventura, por sua vez, acredita que o projeto da modernidade deve estar pautado no equilíbrio entre regulação e emancipação e, ainda, que cidadania e subjetividade são conceitos autônomos, contrariando Foucault. Nesse sentido, traça-se um paralelismo entre regulação e emancipação, partindo dos princípios que norteiam a regulação assim definidos: Principio do estado (Hobbes), Principio do mercado (Locke) e Principio da comunidade (Rosseau). Já a emancipação é norteada pela racionalidade cognitivo-experimental da ciência e das técnicas modernas, pela racionalidade moral-prática do direito moderno e pela racionalidade estético-expressiva das artes e da literatura modernas.
O excesso de regulação resultou em desequilíbrios, tanto no seio do pilar da regulação, como no da emancipação. Por um lado, no pilar da emancipação a racionalidade cognitivo-instrumental da ciência e da técnica desenvolveu-se em detrimento das demais racionalidades e acabou por colonizá-las, um processo que se manifesta desde a redução da ciência jurídica dogmática da riquíssima tradição filosófica, sociológica e política sobre o direito até à democracia de massas e ao poder abstrato da tecnocracia. A hipertrofia da racionalidade cognitivo-instrumental acarretou a própria transformação da ciência moderna através da progressiva hegemonia das epistemologias positivas com fortíssimas afinidades a conversão da ciência em força produtiva no capitalismo.
Subjetividade e cidadania na teoria política liberal
Acerca da Subjetividade e Cidadania na teoria política liberal, o desequilíbrio no pilar da regulação consistiu globalmente no desenvolvimento hipertrofiado do princípio do mercado em detrimento do princípio do Estado e de ambos em detrimento do princípio da comunidade. Em que, inicialmente, no capitalismo liberal, há uma fase inicial de hipertrofia total do mercado, posterior a crise de 1929, há um equilíbrio maior entre o princípio do mercado e o principio do estado sob pressão do principio da comunidade, constituindo o estado-providência; e, por último, uma fase de re-hegemonização do princípio do mercado e de colonização, por parte deste, do princípio do estado e do principio da comunidade, de que a reaganomics e o thatcherismo são chocantes manifestações.
Tal desequilíbrio entre o pilar da regulação em detrimento do principio do mercado e da comunidade (pessoas constitucionais e cidadãos) ocorre em prol do capitalismo organizado que, no sistema econômico, é fortemente caracterizado pela propriedade privada nos meios de produção. O sistema econômico de mercado visa atender as próprias necessidades do mercado. 
Além disso, a sociedade liberal é caracterizada por uma tensão entre a subjetividade individual dos agentes na sociedade civil e a subjetividade monumental do Estado. O princípio da cidadania deve regular essa tensão, limitando os poderes do Estado e, por outro lado, universalizando a igualando as particularidades dos sujeitos de modo a facilitar o controle social, consequentemente, sua regulação. 
Acerca disso, o que se busca efetivamente é compatibilizar a subjetividade coletiva do Estado e a subjetividade das pessoas constitucionais autônomas e livres por meio do conceito-ficção do contrato social. Assim, o Estado garante a segurança a vida e a propriedade. As pessoas constitucionais, diante do poder do Estado, submetem-se as regras instituídas pelo consentimento indireto, através da obrigação auto-assumida pelo contrato social. A subjetividade está atrelada a ideias de autonomia, liberdade e de auto-responsabilização, de comprometimento, ou seja, a materialidade da vontade coletiva ou as peculiaridades conferidas à personalidade. 
O princípio da subjetividade é muito mais amplo que o princípio da cidadania, tendo em vista que muitas pessoas constitucionais não são reconhecidamente cidadãs e não podem participar politicamente da atividade do Estado, prosseguindo nos interesses da sociedade civil, sejam individuais ou coletivos. Já no âmbito do princípio da cidadania, trata-se especificamente do reconhecimento da cidadania civil política, podendo ser visualizada no exercício do voto. Outras formas de participação são excluídas ou desencorajadas. O cidadão acaba por ter uma redução na participação política no âmbito da representação, refletindo na distância, indiferença e opacidade dos cidadãos. 
Ademais, outra importante diferença é que a base convencional do contrato social acaba por conduzir a naturalização da política, entre Estado e indivíduo. Esta naturalização leva a passividade do cidadão diante das regras que estão sendo inseridas, ou seja, a igualdade formal das pessoas constitucionais, atrelando a estas uma categoria universal. O problema vislumbrando é de que as pessoas constitucionais fazem parte de seguimentos diversos com necessidades diversas. 
Não se pode homogeneizar uma sociedade que possui como característica fundamental a heterogenização. Não se trata aqui de não reconhecer as bases de sustentação e dos princípios fundamentais universais, mas sim de adequar a Carta Constitucional social e democrática às realidades sociais que estão em constante transição.
Esta tensão entre uma subjetividade individual e individualista e uma cidadania direta ou indiretamente reguladora e estatizante percorre toda a modernidade. Assim sendo, vislumbra-se que a vontade geral, ou seja, dos vários seguimentos sociais, tem que ser construída com a participação efetiva das pessoas constitucionais, autônomas e solidárias. O contrato social não pode ser visto como uma obrigação política vertical, mas sim horizontal, buscando uma igualdade formal e substantiva daqueles que estão inseridos no Estado, seja pessoa constitucional, cidadão ou o próprio Estado. Boaventura conjectura que a superação da tensão ocorrida no âmbito da subjetividade e cidadania deverá ocorrer no âmbito da emancipação e não da regulação. Os movimentos sociaisemancipatórios são aqueles que emergem da fragmentação da sociedade podendo ser vislumbrados em movimentos sociais, constituindo, assim, seres sociais conscientes que no âmbito da autonomia e da liberdade adquirem conquistas sociais, contrapondo-se ao sujeito Estado. Assim, fala-se tanto em subjetividade coletiva quanto individual.
Em nível de emancipação social há colisão entre o princípio do mercado e o princípio da comunidade e, consequentemente, do Estado. A pressão exercida provoca, necessariamente, mudança de paradigma social no campo horizontal e solidário, com a participação concreta do sujeito. Outra importante diferença entre subjetividade e cidadania é de que a cidadania provoca a estatização do indivíduo, levada pelo crescente consumismo imposto pelo Estado, o que torna inviável o exercício da subjetividade. Assim sendo, o Estado mitiga e sacrifica a subjetividade através de representações fictícias de felicidade, levando ao consumismo exacerbado, propiciando condições políticas e econômicas que vão paulatinamente adormecendo a vontade subjetiva do sujeito e do coletivo.
Busca-se, desta forma, o equilíbrio entre a regulação através da emancipação, que é verdadeira tradutora das necessidades e realidades sociais. Sendo assim, Boaventura propõe o desenvolvimento de cada um dos pilares da regulação e da emancipação, com o dinamismo interrelacional. Desta forma, o princípio do Estado (âmbito da regulação) deveria relacionar-se com a racionalização moral (âmbito da emancipação), fazendo cumprir o mínimo ético e a distribuição do direito. O princípio do mercado relacionar-se-ia com a racionalização cognitiva, abarcando ideias de consciência individual/coletiva, sendo o centro de desenvolvimento da ciência técnica. Já o princípio da comunidade estaria relacionado com a racionalização estética, concentradas nas ideias de identidade e comunhão das relações sociais.
A nova teoria da emancipação, apresentada pelo Professor Boaventura, revaloriza o princípio da comunidade, da sociedade-providência (cidadãos e pessoas constitucionais), não dispensando as obrigações impostas ao Estado pela Carta Constitucional, mas abrindo campo a uma participação responsável daqueles inseridos no território, sabendo que a soberania do Estado não é absoluta, mas sim relativa e popular.
Subjetividade e cidadania no marxismo
Na alternativa marxista, formulada ainda no período do capitalismo liberal, merece uma referência especial por sua eficácia. Nesse sentido, é conhecida a crítica de Marx à democracia liberal e às idéias de subjetividade e de cidadania que a constituem. Pois a organização social da produção é que determina a organização política e cultural, portanto, são ilusões necessárias para a reprodução das relações capitalistas: a separação entre a igualdade política e a desigualdade econômica, bem como a subjetividade individual na qual o ser é dotado de consciência, autonomia e liberdade. Para Marx, a igualdade da cidadania política é meramente formal e a democracia participativa subjaz o principio da comunidade rousseauiana.
De acordo com Karl Marx, a classe operaria faz parte da subjetividade coletiva, capaz de autoconsciência, que inclui em si as subjetividades individuais dos produtores diretos. Porém, a eficácia subjetiva da classe operária é, ao nível da emancipação, semelhante à da cidadania liberal, ao nível da regulação. Ou seja, a subjetividade coletiva da classe, assim como no liberalismo, tem uma tendência homogeneizante, reduzindo as diferenças e especificidades que fundam a personalidade, a autonomia e a liberdade dos sujeitos individuais.
O conceito de classe visava contrapor à homogeneização reguladora do capitalismo a homogeneização emancipadora da subjetividade coletiva. Sabe-se, atualmente, que em vez de homogeneizar globalmente os trabalhadores, o marxismo se alimentou das diferenças existentes. Por fim, mesmo que se tivesse cumprido todas as previsões de Marx faltariam instâncias de mediação entre a subjetividade individual e coletiva.
Nesse sentido, a subjetividade coletiva da classe tendeu a destruir as subjetividades individuais e, consigo a titularidade política individual da cidadania. Em vez de buscar uma mediação, destruiu-se ambas. Vê-se, portanto, que o liberalismo capitalista buscou livrar a subjetividade e a cidadania do seu potencial emancipatório, através do excesso de regulação, simbolizado na democracia de massas, enquanto que o marxismo, ao contrário, buscou construir a emancipação a custa da subjetividade e da cidadania, emergindo um despotismo.
Por fim, Boaventura afirma acertabilidade na crítica marxista da democracia liberal, mesmo que sua alternativa não o seja. Marx, também, oferece a melhor contestação acerca dos processos de naturalização e de reificação do social (fenômeno de supervalorização da produção em detrimento das relações humanas) de que se alimentam os excessos de regulação nas sociedades capitalistas. Em terceiro lugar, Marx estabelece que não há subjetividade sem antagonismo e que a classe social é o articulador nuclear do antagonismo, ainda que, paradoxalmente, não possa ser o articulador nuclear da superação desse antagonismo. Finalmente, o erro de Marx foi pensar que o capitalismo possibilitaria uma transição para o socialismo, quando, como se veio a verificar, o capitalismo não transita para nada senão para mais capitalismo.
DALLARI, Dalmo de Abreu. A Constituição na vida dos povos: da Idade Média ao Século XXI. São Paulo: Saraiva, 2010.
CANOTILHO, José J. Gomes. Constituição dirigente e a vinculaçõ do legislador. Coimbra: Coimbra Ed., 1982.
SANTOS, Boaventura Souza. Pela mão de Alice:o social e o politico na pósmodernidade. 13 ed. São Paulo: Cortez, 2010.

Continue navegando

Outros materiais