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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA Departamento Ciências Sociais Bacharelado em Ciências Econômicas ANTONIO DAVI POMPONET MOREIRA GABRIEL ROCHA DA SILVA JOÃO VICTOR OLIVEIRA NEVES UMA ANÁLISE SOBRE DESIGUALDADE ECONÔMICA E SOCIAL Feira de Santana, BA 2020 ANTONIO DAVI POMPONET MOREIRA GABRIEL ROCHA DA SILVA JOÃO VICTOR OLIVEIRA NEVES UMA ANÁLISE SOBRE DESIGUALDADE ECONÔMICA E SOCIAL Trabalho apresentado à disciplina Economia Política I, ministrada pelo professor Frederico Torres da Silva ,da Graduação Bacharelado em Ciências Econômicas, da Universidade Estadual de Feira de Santana, para fins de avaliação parcial. Feira de Santana, BA 2020 Introdução Desde os primórdios da Economia Política, a desigualdade sempre esteve no centro das discussões entre os Economistas e intelectuais da época, sendo um tema de grande relevância para a compreensão das estruturas e dinâmicas sociais vigentes. Em grande parte, isto se deve ao fato de a Economia Política ter surgido em um momento histórico marcado pela revolução industrial (século XVIII/XIX) caracterizada por uma grande explosão das assimetrias de renda e qualidade de vida. Dentre os principais autores que buscaram entender as origens da desigualdade social e econômica, Marx se destaca ao tentar compreender os principais fatores que ocasionavam a desigualdade em seu tempo. Para o autor, a origem da desigualdade estava no modo capitalista de produção e suas relações de trabalho abusivas e de exploração da mais-valia por parte da classe burguesa sobre o proletariado, como é possível observar na citação abaixo onde o autor resume o seu ponto de vista com relação entre a interação de ambas as classes: O sistema capitalista pressupõe a dissociação entre os trabalhadores e a propriedade dos meios pelos quais realizam o trabalho (...) O processo que cria o sistema capitalista consiste apenas no processo que retira ao trabalhador a propriedade de seus meios de trabalho, um processo que transforma em capital os meios de subsistência e os de produção e converte em assalariados os produtores diretos. A chamada acumulação primitiva é apenas o processo que dissocia o trabalhador dos meios de produção (MARX, 2001, p. 828). Nas últimas décadas, com a ascensão das políticas econômicas e sociais neoliberais, principalmente após a década de 70, observou-se um grande crescimento das desigualdades ao redor do mundo, tendo grandes consequências sobre o bem-estar dos indivíduos, causando índices de criminalidade elevados, miséria e o empobrecimento relativo da classe trabalhadora, assim como previu Marx ainda no século XIX. Além destes fatores, o crescimento da desigualdade a partir das últimas décadas está associado a ideia de que é normal o crescimento da disparidade de renda ao longo do processo de desenvolvimento econômico, como observa Piketty (1997). O presente artigo busca discutir, através de referenciais teóricos, a desigualdade social e econômica presente no Brasil e no mundo ao longo da história e atualmente, bem como compreender as suas implicações sobre outras variáveis e suas determinantes. É objetivado, também, entender a relação da desigualdade socioeconômica com o caos financeiro do mundo capitalista contemporâneo, bem como com a degradação ambiental observada nos países em desenvolvimento. A metodologia utilizada se baseia em uma revisão bibliográfica das obras de Marx, Piketty e demais autores. A desigualdade em Marx Nos últimos anos, discute-se muito acerca das desigualdades que rodeiam o nosso padrão sistêmico capitalista, essa conjuntura social que está presente de forma rigorosa no Brasil foi e constrói-se na história como um problema sociológico que se refletiu durante todos os processos de dominação no mundo (como o imperialismo). Por isso, faz-se necessária a abordagem da mesma. Ao tratar da desigualdade em Marx, é imprescindível citar dois aspectos: a segregação socioespacial e as disparidades econômicas que reduzem o bem-estar social e levantam a necessidade da “luta de classes”. Em primeiro lugar, deve-se discutir a segregação socioespacial que Karl Marx tanto traz em seus textos, de acordo com Marx a segregação socioespacial é caracterizada pelo acesso desigual aos equipamentos e serviços coletivos, tendo suas raízes na divisão social do trabalho. Valendo-se das análises de teóricos como Marx e Engels existe uma disparidade de produção e remuneração que é justificada pela divisão injusta de trabalho nos meios de produção, em que aos proletários, cabe a tarefa de trabalhar incessantemente para garantir a produção nas fábricas, enquanto as riquezas socialmente produzidas não são compartilhadas, ficando restritas aos donos dos meios de produção. Além da discussão da segregação socioespacial existente no modelo em que vivemos, cabe também pontuar a consequência dessas desigualdades na sociedade. A guerra de classes é nada mais nada menos do que a força motriz por trás das grandes revoluções na história que fornece a alavanca para mudanças sociais. Os Ciclos Econômicos, desigualdade e Educação Por diversas vezes, o mundo passou por ciclos econômicos que impactaram diretamente a vida de diversas pessoas ao longo dos anos. Diversos fatores podem ser identificados como ampliadores da desigualdade em um determinado país. Usando o Brasil como exemplo prático, é possível se observar que a educação tem impactado diretamente no desenvolvimento da sociedade como um todo. Segundo o IBGE, os últimos dados do ISM (Indicadores sociais mínimos) mostram que existe uma média de 13,3% das pessoas residentes no país de ambos os sexos e com mais de 15 anos seriam analfabetas. Para alguns, uma sociedade mais escolarizada seria intrinsecamente melhor, uma vez que os retornos sociais pela educação seriam superiores aos retornos privados (Hout, 2012). A educação irá impactar positivamente na economia em diversos setores que são importantes para que se tenha um eficaz funcionamento do mercado. A mesma irá proporcionar um aumento direto na produtividade do país, visto que haveria profissionais mais capacitados para atuação nas empresas, fazendo com que a linha de produção fluísse com maior eficiência, o que irá impactar numa maior versatilidade de bens e serviços disponíveis, forçando uma maior competitividade e redução dos preços fornecidos pelo mercado. Assim, um aumento maciço em educação é uma grande ferramenta contra a desigualdade social, ao fazer com que as classes sociais mais baixas tenham maior produtividade e melhores rendimentos financeiros. O projeto de expansão do investimento na educação, por mais que no longo prazo venha a apresentar fortes vantagens para o país que o fizer, encontra como principal obstáculo o ceticismo de classes sociais e políticas por ser um projeto de alto custo para a máquina estatal e que no longo prazo aquilo que havia sido previamente planejado poderia não se concretizar ou poderia acarretar em novos gastos para o governo, visto que seria necessário um investimento que teria de ser radical que chegaria a um patamar irreal, para que fosse possível obter os resultados esperados previamente planejado e que apenas iria acarretar em uma diminuição de apenas 10% na desigualdade segundo o modelo do índice de gini , como é observado e pontuado por (Medeiros, 2019). Um valor de índice de Gini acima de 50 é considerado alto, o que significa que este país tem um alto nível de desigualdade; países como Brasil, Colômbia, África do Sul, Botsuana e Honduras podem ser encontrados nesta categoria. Um valor de índice de Gini igual ou superior a 30 é considerado médio; países como Vietnã, México, Polônia,Estados Unidos, Argentina, Rússia e Uruguai podem ser encontrados nesta categoria. Um valor de índice de Gini menor que 30 é considerado baixo; países como Áustria, Alemanha, Dinamarca, Eslovênia, Suécia e Ucrânia podem ser encontrados nesta categoria. É possível observar que países europeus estão entre os melhores ranqueados no sistema do índice de gini, o que se pode afirmar que os mesmos tem os menores níveis de desigualdade no ranking mundial. Não só a educação será o fator principal atrelado a desigualdade, outros fatores irão existir e também irão impactar diretamente nos índices de desigualdade que um país enfrenta. O aquecimento global junto a degradação ambiental também impacta nos índices de um país. No Brasil nota-se que comunidades indígenas tem menos acesso aos serviços básicos fornecidos pelo estado e por diversas vezes sofrem com o impacto do desmatamento ilegal da floresta amazônica, desmatamento esse que irá impactar com aumento do aquecimento global. O aquecimento global desempenha um papel no aumento da desigualdade econômica entre os países, impulsionando o crescimento econômico nos países desenvolvidos e dificultando esse crescimento nos países em desenvolvimento do Sul Global . O estudo diz que 25% da diferença entre o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento pode ser atribuído ao aquecimento global. Observação feita por (Uchoa, 2019). Além da sua relação com o aquecimento global e a degradação ambiental, a desigualdade também está intimamente ligada ao caos do sistema financeiro internacional contemporâneo. Nas últimas décadas, observa-se grandes movimentos especulativos do capital financeiro internacional sobre bolsas e mercado de títulos de países subdesenvolvidos. É possível citar, também, a exploração das empresas americanas sobre a mão de obra de países pobres, como na relação EUA/China. Em outras palavras, compreende-se que há uma forte exploração financeira contra países em desenvolvimento, onde grande parte da população encontra-se na miséria enquanto os donos do capital internacional obtêm grandes remessas financeiras e lucros. Considerações finais No contexto histórico, observa-se que a desigualdade sempre esteve inerente ao modo de produção capitalista em decorrência da sua estrutura organizativa, sendo um dos principais temas discutidos pela Economia Política desde os primórdios da referida ciência. Observa-se que a desigualdade do modo de produção capitalista tem origem no mercado de trabalho (Marx, 2008), ao passo em que a classe burguesa explora a mais-valia do proletariado, se apossando de uma fatia de recursos os quais não lhe pertencem. Com base no referido autor, a desigualdade pode ser classificada ou dividida de duas formas: 1) Desigualdade socioespacial: caracterizada pelo acesso desigual aos equipamentos e serviços coletivos, e 2) Desigualdade econômica, descrita acima. Na conjuntura contemporânea internacional e nacional, conclui-se que a desigualdade em todos os seus aspectos está fortemente relacionada com questões educacionais. Onde a população mais pobre recebe pior educação básica e capacitação profissional, as desigualdades (principalmente econômicas) se aprofundam de forma extrema, fazendo com que as pessoas em situação de vulnerabilidade possuam menores salários. Neste aspecto, conclui-se também, que as disparidades socioeconômicas ao redor do mundo estão relacionadas ao processo de degradação ambiental (principalmente com o aquecimento global) e ao caos financeiro, na medida que empresas e investidores internacionais exploram a mão de obra e as instituições de países em desenvolvimento. Negativamente, a desigualdade sempre foi um grande problema social ao longo da história mundial recente desde a ascensão do capitalismo, piorando a qualidade de vida da população e causando o empobrecimento relativo da classe trabalhadora. Tornam-se necessárias medidas afim de mitigar tais efeitos, investindo na educação da população e até mesmo promovendo a coletivização dos meios de produção. Referências: MARCELO MEDEIROS (Brasil) (ed.). Educação, desigualdade e redução da pobreza no Brasil. 2019. Disponível em: repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9100/1/td_2447.pdf. Acesso em: 04 abr. 2020. Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1999 [CD-ROM]. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. PIKETTY, Thomas. A economia da desigualdade. 3. ed. Paris: Éditions La Découverte, 2014. 154 p. ESTADO UNIDOS DA AMÉRICA. Central de Inteligência Americana. (comp.). Livro de Fatos Mundiais. 2020. Disponível em: https://www.cia.gov/library/publications/the-world- factbook/rankorder/2172rank.html. Acesso em: 04 abr. 2020. PABLO UCHOA (Reino Unido). How global warming has made the rich richer. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/worklife/article/20190502-how-global-warming-has- made-the-rich-richer. Acesso em: 04 abr. 2020.
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