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20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/17 SEGURANÇA NO TRABALHO AULA 4 Prof.ª Karla Knihs 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/17 CONVERSA INICIAL Olá, seja bem-vindo! Vamos estudar com detalhes, nesta aula, os direitos fundamentais nas relações de trabalho. Direitos fundamentais são aqueles direitos do ser humano que são reconhecidos e estão inscritos na Constituição. Assim, veremos especificamente quais direitos fundamentais trabalhistas estão inscritos em nossa Constituição Federal. Estudaremos, também, as relações do direito do trabalho com o meio ambiente e a sustentabilidade, especialmente porque o meio ambiente de trabalho equilibrado e a proteção à saúde do trabalhador estão intimamente ligados. No âmbito da proteção constitucional da igualdade, estudaremos a proteção do trabalho da mulher e a proteção aos trabalhadores portadores de deficiência. Por fim, vamos ver o que diz a CLT quanto à saúde e segurança no trabalho. Bons estudos! TEMA 1 – DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES DE TRABALHO Direitos fundamentais são aqueles inerentes à proteção do princípio da dignidade da pessoa humana, e que estão alinhados aos direitos humanos. Além disso, direitos fundamentais são aqueles que garantem os interesses do cidadão em face do Estado, ante a disparidade de poder existente entre eles. No que se refere à seara trabalhista, a Constituição Federal, já em seu art. 1º, traz como fundamentos o trabalho e a livre iniciativa. Somente pela realização do direito fundamental ao trabalho decente, previsto nos arts. 1º e 6º da CF/88 e em vários outros dispositivos constitucionais, bem como nas Convenções da OIT, é possível a realização do previsto no art. 1º, III, e caput do art. 170 da CF/88, que assim dispõe: “art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/17 fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios. [...]”. O art. 6º afirma que “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. O art. 7º da CF/88 listou uma série significativa de direitos fundamentais trabalhistas, um rol de garantias e direitos individuais que se constitui em um conjunto mínimo de condições do contrato de trabalho. Vamos estudar cada um dos incisos do art. 7º, por categorias, a fim de traçar um panorama dos direitos ali previstos. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: 1. Proteção contra despedida arbitrária “I – relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos” (Brasil, 1988); 2. Disposições sobre FGTS, seguro desemprego e aviso prévio: “II – seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário” (Brasil, 1988); “III – fundo de garantia do tempo de serviço” (Brasil, 1988); “XXI – aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei” (Brasil, 1988); 3. Proteção ao salário/remuneração: “IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim” (Brasil, 1988); “V – piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho” (Brasil, 1988); 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/17 “VI – irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo” (Brasil, 1988); “VII – garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável” (Brasil, 1988); “VIII – décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria” (Brasil, 1988); “IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno” (Brasil, 1988); “X – proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa” (Brasil, 1988); “XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei” (Brasil, 1988); “XII – salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei” (Brasil, 1988); “XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil” (Brasil, 1988); “XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência” (Brasil, 1988); 4. Jornada de trabalho “XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho” (Brasil, 1988); “XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva” (Brasil, 1988); “XV – repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos” (Brasil, 1988); “XVI – remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal” (Brasil, 1988); 5.Férias “XVII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal” (Brasil, 1988); 6. Proteção à maternidade/paternidade/infância 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/17 “XVIII – licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias” (Brasil, 1988); “XIX – licença-paternidade, nos termos fixados em lei” (Brasil, 1988); “XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas” (Brasil, 1988); 7. Proteção a mulher “XX – proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei” (Brasil, 1988); “XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil” (Brasil, 1988); 8. Saúde e segurança do trabalho “XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança” (Brasil, 1988); “XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei” (Brasil, 1988); “XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa” (Brasil, 1988); “XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos” (Brasil, 1988); 9. Aposentadoria “XXIV – aposentadoria” (Brasil, 1988); 10. Direito coletivo do trabalho “XXVI – reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho” (Brasil, 1988); 11. Automação “XXVII – proteção em face da automação, na forma da lei” (Brasil, 1988). 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/17 Assim, tais direitos, por serem previstos constitucionalmente, são normas de ordem pública com características invioláveis e imperativas. TEMA 2 – RELAÇÕES DO DIREITO DO TRABALHO COM MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE – PROTEÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR O art. 225 da Constituição Federal afirma quetodos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Mas o que é meio ambiente? Segundo a Lei n. 6.938/81 art. 3º, I, (Lei de Política Nacional do Meio Ambiente), “meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Nessa esteira, o conceito de meio ambiente ecologicamente equilibrado está ligado intimamente ao conceito de sustentabilidade, ou seja, a busca pelo equilíbrio entre o cumprimento das necessidades humanas e preservação dos recursos naturais. A Agenda 21, aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, é um dos principais instrumentos que sustentam a necessidade de que o crescimento econômico e o desenvolvimento deve levar em consideração a sustentabilidade, ou seja, a preservação dos recursos para as futuras gerações, o que só é possível com a união de todos a fim de reinventar a sociedade industrial. No Direito do Trabalho, a sustentabilidade tem, portanto, papel fundamental, sendo protagonista nessa matéria a proteção ao meio ambiente de trabalho, já que o trabalhador passa boa parte de sua vida em tal ambiente, devendo se garantir a proteção da saúde e segurança do trabalhador no ambiente onde desempenha suas atividades laborais. Pode-se afirmar que o meio ambiente do trabalho adequado e seguro é direito fundamental do trabalhador, e seu desrespeito repercute em toda a sociedade. Por essa razão, a Constituição Federal veio a proteger especificamente o trabalhador, conforme se depreende dos art. 7º e 200 da Carta Magna: 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/17 Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XXIII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança. Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: (...) VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) traz nos arts. 154 a 201, disposições sobre as normas de Segurança e Medicina do Trabalho, a fim de garantir aos trabalhadores não apenas segurança e saúde, mas também um ambiente ecologicamente equilibrado. Ainda, cabe Ministério do Trabalho e Emprego a criação de regras específicas de proteção para cada profissão e atividades, o que é feito por meio de resoluções e portarias. Assim, no Direito do Trabalho temos as Normas Regulamentadoras (NRs), que tratam dessa proteção. Podemos citar como uma das principais a NR 15, que trata das atividades insalubres. No campo do Direito Internacional a OIT (Organização Internacional do Trabalho) possui algumas Convenções que tratam especificamente da matéria e foram retificadas pelo Brasil, tais como: Convenção 115, sobre proteção contra radiações ionizantes; Convenção 120, sobre higiene no comércio e nos escritórios; Convenção 148, sobre proteção dos trabalhadores contra os riscos profissionais devidos à contaminação do ar, ao ruído e às vibrações no local de trabalho; Convenção 155, sobre segurança e saúde dos trabalhadores e o meio ambiente do trabalho, entre outras. Assim, tais Convenções possuem como objetivo “prevenir os acidentes e os danos à saúde que forem consequência do trabalho tenham relação com a atividade de trabalho, ou se apresentarem durante o trabalho, reduzindo ao mínimo, na medida que for razoável e possível, as causas dos riscos inerentes ao meio-ambiente de trabalho” (OIT, 1983). Percebe-se, por todo o exposto, que o Direito do Trabalho, apesar de ser um ramo autônomo, está ligado a outros ramos do Direito, tais como o Direito Constitucional (por exemplo, art. 7º e art. 200, mas também a dignidade da pessoa humana, art. 1º e igualdade, art. 5º), o Direito Internacional (por exemplo, Convenções da OIT), o Direito Previdenciário (por exemplo, se o trabalhador fica doente, deverá ter proteção previdenciária), o Direito Administrativo (o Estado também possui trabalhadores), e até mesmo o Direito Penal (exemplo art. 197 do Código Penal, que dispõe do atentado contra a liberdade de trabalho). Assim, reafirma-se a unidade do Direito, sendo necessário o estudo não só do Direito do Trabalho, isoladamente, mas da ciência do Direito 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/17 TEMA 3 – PROTEÇÃO AO TRABALHO DA MULHER Historicamente, o trabalho da mulher era visto como inferior, conforme nos informa Silva (2019): [...] da Revolução Industrial (1760), onde o trabalho feminino era explorado em jornadas exorbitantes, com salários inferiores aos dos homens, inclusive exercendo as mesmas funções, onde vale ressaltar também as péssimas condições de trabalho em que eram expostas sem quaisquer direitos e garantias. O trabalho feminino era definido como trabalho de “meias-forças”, ou seja menor, inferior e abaixo do trabalho masculino, o que resultava numa discriminação e uma opressão da massa trabalhadora feminina, que recebia menos e trabalhava nas mesmas funções que os homens e na qual não possuía nenhuma força reivindicatória em prol dos seus direitos como cidadãs. No Brasil, podemos dividir a história do direito do trabalho em três fases: 1. Do descobrimento à abolição da escravatura; 2. Da proclamação da República à campanha política da Aliança Liberal; 3. Da Revolução de Trinta aos nossos dias. Já no fim do século XIX havia esforços para tentar conquistar direitos trabalhistas, como a Fundação da Liga Operária no Rio de Janeiro e até mesmo uma lei que proibia o trabalho para menores de 12 anos. Contudo, pode-se dizer que o Direito do Trabalho no Brasil só inicia com a Revolução de 1930, sendo que apenas a partir de Getúlio Vargas a política trabalhista começa a surgir. Segundo Martins (2017, p. 33), “o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio foi criado em 1930, passando a expedir decretos, a partir dessa época, sobre profissões, trabalho das mulheres (1931), salário mínimo (1936), Justiça do Trabalho (1939) etc.”. As Constituições de 1824 e 1891 não continham qualquer disposição quando à proteção ao trabalho. A primeira Constituição a tratar de Direito do Trabalho foi a de 1934. Nela se garantiu, entre outros direitos, a liberdade sindical, a isonomia salaria, o salário mínimo, jornada de trabalho, proteção do trabalho das mulheres e dos menores, repouso semanal, férias anuais remuneradas. Foi também a primeira Constituição a tratar dos direitos das mulheres expressamente no que tange trabalho, a não discriminação de sexo, etnia, cor. Após, em 1937, temos a Constituição decorrente do golpe de Getúlio Vargas, que, inspirada na Carta del Lavoro e na Constituição Polonesa, tratou de diversos temos do Direito do Trabalho. Por 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/17 exemplo, se institui sindicato único, imposto sindical, competência normativa dos tribunais do trabalho, entre outras disposições. A Constituição de 1946 previu a participação dos trabalhadores nos lucros, repouso semanal remunerado, estabilidade, direito de greve, bem como manteve outros direitos que já constavam da norma constitucional anterior. Mas não apenas em âmbito constitucional se viu florescer o Direito do Trabalho. Diversas legislações esparsas foram sendo editadas a partir da década de 1930, a saber: Decreto n. 19.671- A/1931, que dispunha sobre a organização do Departamento Nacional de Trabalho; Decreto n. 19.770/1931, que regulava a sindicalização. Decreto n. 21.186/1932, que regulava o horário de trabalho dos empregados no comércio; Decreton. 21.364/1932, que regulava o horário de trabalho dos empregados na indústria, entre outros. O ingresso do Brasil na OIT foi importante, tendo em vista que o Brasil se obrigou a observar normas trabalhistas. Por fim, em 1º de maio de 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi aprovada (Decreto-Lei n. 5.452/1943), entrando em vigor em 10 de novembro de 1943. A CLT, apesar das diversas alterações e reformas, está em vigor até hoje, sendo o grande marco para o desenvolvimento do Direito do Trabalho no Brasil. Ainda, posteriormente, tivemos a Lei n. 605/1949, sobre o repouso semanal remunerado; a Lei n. 3.207/57, sobre as atividades de empregados vendedores, viajantes e pracistas; Lei n. 4.090/1962, que instituiu o 13º salário. A Constituição de 1967 manteve os direitos trabalhistas previstos nas legislações anteriores. Após a Constituição de 1967, outras normas trabalhistas merecem destaque, a saber: Lei n. 5.889/73, sobre o trabalhador rural; Lei n. 6.019/74, sobre o trabalho temporário; Decreto-lei n. 1.535/77, sobre férias; Lei Complementar n. 150/2015, sobre o trabalhador doméstico, entre outras. A Constituição Federal de 1988 trouxe um forte conteúdo social, tratando, por exemplo, dos direitos trabalhistas nos arts. 7º a 11. Como vimos, a Constituição Federal de 1988 trouxe disposições específicas sobre a proteção ao trabalho da mulher, especificamente no art. 7º, que assim preceitua: “XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei” e “XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil”. 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/17 Antes disso, a própria CLT foi concebida com a ideia de proteção ao trabalho da mulher, sendo que o legislador dedicou capítulo específico sobre o tema. Assim dispõe o texto legal: Art. 373-A. Ressalvadas as disposições legais destinadas a corrigir as distorções que afetam o acesso da mulher ao mercado de trabalho e certas especificidades estabelecidas nos acordos trabalhistas, é vedado; I - publicar ou fazer publicar anúncio de emprego no qual haja referência ao sexo, à idade, à cor ou situação familiar, salvo quando a natureza da atividade a ser exercida, pública e notoriamente, assim o exigir; II - recusar emprego, promoção ou motivar a dispensa do trabalho em razão de sexo, idade, cor, situação familiar ou estado de gravidez, salvo quando a natureza da atividade seja notória e publicamente incompatível; III - considerar o sexo, a idade, a cor ou situação familiar como variável determinante para fins de remuneração, formação profissional e oportunidades de ascensão profissional; IV - exigir atestado ou exame, de qualquer natureza, para comprovação de esterilidade ou gravidez, na admissão ou permanência no emprego; V - impedir o acesso ou adotar critérios subjetivos para deferimento de inscrição ou aprovação em concursos, em empresas privadas, em razão de sexo, idade, cor, situação familiar ou estado de gravidez; VI - proceder o empregador ou preposto a revistas íntimas nas empregadas ou funcionárias; Parágrafo único. O disposto neste artigo não obsta a adoção de medidas temporárias que visem ao estabelecimento das políticas de igualdade entre homens e mulheres, em particular as que se destinam a corrigir as distorções que afetam a formação profissional, o acesso ao emprego e as condições gerais de trabalho da mulher. Entre outros dispositivos importantes de proteção ao trabalho da mulher previsto na CLT podemos ressaltar o art. 390 que afirma que ao empregador é vedado empregar a mulher em serviço que demande o emprego de força muscular superior a 20 (vinte) quilos para o trabalho contínuo, ou 25 (vinte e cinco) quilos para o trabalho ocasional; e o art. 391-A, que afirma que a confirmação do estado de gravidez advindo no curso do contrato de trabalho, ainda que durante o prazo do aviso prévio trabalhado ou indenizado, garante à empregada gestante a estabilidade provisória prevista na alínea b do inciso II do art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Há na legislação pátria uma grande preocupação com a proteção contra a discriminação da mulher gestante, a fim de que seja garantido não apenas o trabalho, mas, em última análise, também uma gestação saudável para a proteção da própria vida. 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/17 TEMA 4 – PROTEÇÃO AOS TRABALHADORES PORTADORES DE DEFICIÊNCIA Podemos conceituar deficiência, para fins de proteção legal, como uma limitação física, mental, sensorial ou múltipla, que incapacite a pessoa para o exercício de atividades normais da vida e que, em razão dessa incapacitação, a pessoa tenha dificuldades de inserção social. Esse conceito está inserido na Convenção 159/83 da OIT e na Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, também conhecida como Convenção da Guatemala. A proteção ao trabalho do portador de deficiência é uma inovação trazida pela Constituição Federal de 1988, que em seu art. 7º, XXXI, estabelece a “proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência”. Além desse dispositivo constitucional, podemos citar outros não menos importantes: Art. 37 - VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de admissão; Art. 203 - A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente da contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: IV - a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção, ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei; Art. 227, § 1º - O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida a participação de entidades não-governamentais e obedecendo os seguintes preceitos: II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. Em 2015, tivemos a instituição da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015, destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Essa Lei tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/17 por meio do Decreto Legislativo n. 186, de 9 de julho de 2008. Essa lei considera como pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Tal lei é um marco contra a discriminação, dispondo que toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação. Assim, considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, quetenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas (Lei n. 13/146/2015). É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico. Percebe-se que o Estatuto da Pessoa com Deficiência trouxe um amplo leque de proteção aos portadores de deficiência, existindo, inclusive, um capítulo destinado especificamente ao Direito do Trabalho, in verbis: CAPÍTULO VI - DO DIREITO AO TRABALHO Seção I - Disposições Gerais Art. 34. A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. § 1º As pessoas jurídicas de direito público, privado ou de qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos. § 2º A pessoa com deficiência tem direito, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, a condições justas e favoráveis de trabalho, incluindo igual remuneração por trabalho de igual valor. § 3º É vedada restrição ao trabalho da pessoa com deficiência e qualquer discriminação em razão 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/17 de sua condição, inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, contratação, admissão, exames admissional e periódico, permanência no emprego, ascensão profissional e reabilitação profissional, bem como exigência de aptidão plena. § 4º A pessoa com deficiência tem direito à participação e ao acesso a cursos, treinamentos, educação continuada, planos de carreira, promoções, bonificações e incentivos profissionais oferecidos pelo empregador, em igualdade de oportunidades com os demais empregados. § 5º É garantida aos trabalhadores com deficiência acessibilidade em cursos de formação e de capacitação. Art. 35. É finalidade primordial das políticas públicas de trabalho e emprego promover e garantir condições de acesso e de permanência da pessoa com deficiência no campo de trabalho. Parágrafo único. Os programas de estímulo ao empreendedorismo e ao trabalho autônomo, incluídos o cooperativismo e o associativismo, devem prever a participação da pessoa com deficiência e a disponibilização de linhas de crédito, quando necessárias. Inclusive, para promover essas garantias, o Poder Público deve implementar serviços e programas completos de habilitação profissional e de reabilitação profissional para que a pessoa com deficiência possa ingressar, continuar ou retornar ao campo do trabalho, respeitados sua livre escolha, sua vocação e seu interesse. Constitui modo de inclusão da pessoa com deficiência no trabalho a colocação competitiva, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, na qual devem ser atendidas as regras de acessibilidade, o fornecimento de recursos de tecnologia assistiva e a adaptação razoável no ambiente de trabalho. Há na legislação previdenciária, Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, um percentual mínimo a ser preenchido por pessoas portadoras de Deficiência. O art. 93 afirma que a empresa com 100 ou mais funcionários está obrigada a preencher o percentual da cota de dois a cinco por cento dos seus cargos com beneficiários reabilitados, ou pessoas com deficiência (PCD), na seguinte proporção: Até 200 funcionários: 2% De 201 a 500 funcionários: 3% De 501 a 1.000 funcionários: 4% De 1.001 em diante funcionários: 5% A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante. 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/17 Por todo o exposto, percebe-se que a proteção ao trabalhador portador de deficiência decorre do princípio da isonomia, havendo, portanto, a “discriminação positiva” desses trabalhadores, a fim de garantir a igualdade de tratamento e a não discriminação. TEMA 5 – SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO: TRATAMENTO JURÍDICO DA CLT A Constituição Federal, como vimos, trouxe disposições específicas para a proteção da saúde e da segurança do trabalhador: preocupou-se com a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; garantiu adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; e previu um seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. Além disso, trouxe a proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos. Segurança do trabalho pode ser entendida como os conjuntos de medidas que são adotadas visando minimizar os acidentes de trabalho, doenças ocupacionais, bem como proteger a integridade e a capacidade de trabalho do trabalhador. No Brasil, a segurança e saúde ocupacionais são regulamentadas na forma dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT). No Brasil, a Legislação de Segurança do Trabalho compõe-se de normas regulamentadoras, leis complementares, como portarias e decretos e também as convenções Internacionais da Organização Internacional do Trabalho, ratificadas pelo Brasil. A principal legislação trabalhista do país, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) dedica um capítulo inteiro ao da segurança no trabalho (arts. 154 e seguintes). As disposições sobre a matéria são mais genéricas, ficando a cargo da legislação especial a regulamentação específica sobre a matéria. Nos termos do art. 157, cabe às empresas cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; instruir os empregados, por meio de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; adotar as medidas que 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/17 lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente; facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente. O art. 158 afirma que cabe aos empregados: observar as normas de segurança e medicina do trabalho; colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos da CLT, sendo que constitui ato faltoso do empregado a recusa injustificada à observância das instruções expedidas pelo empregador ou ao uso dos equipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa. A CLT se pautou por instituir Medidas Preventivas de Medicina do Trabalho, dispondo que será obrigatório o exame médico do empregado, por conta do empregador, por ocasião da admissão, e o exame médico obrigatório compreenderá investigação clínica e, nas localidades em que houver, abreugrafia. O exame médico será renovado, de seis em seis meses, nas atividades e operações insalubres e, anualmente, nos demais casos. O mesmo exame médico será obrigatório por ocasião da cessação do contrato de trabalho,nas atividades, a serem discriminadas pelo Ministério do Trabalho, desde que o último exame tenha sido realizado há mais de 90 (noventa) dias. Todo estabelecimento deve estar equipado com material necessário à prestação de primeiros socorros médicos. Será obrigatória a notificação das doenças profissionais e das produzidas em virtude de condições especiais de trabalho, comprovadas ou objeto de suspeita, de conformidade com as instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho. NA PRÁTICA Vamos imaginar uma situação que ocorre mais do que se imagina. Pedro, segurança, estava fazendo a ronda de madrugada, quando tropeçou em um desnível, sofrendo uma queda. Na queda, o autor sofreu uma pequena fratura no pulso. Pedro deu pouca importância ao acidente, pois achou que tinha sido apenas um machucado que poderia ser tratado em casa, com anti-inflamatórios. Não reporta o fato ao empregador. No outro dia, contudo, como o inchaço e a dor aumentaram muito, Pedro resolve comparecer ao pronto socorro, e, após fazer um raio-x, descobre que está com o pulso fraturado e que terá de 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/17 permanecer 2 meses afastado de suas atividades laborativas, imobilizado. Retorna à empresa com o atestado médico em mãos, pedindo que o empregador abra a competente CAT. O empregador se recusa, afirmando que não há prova de que se trate de acidente de trabalho. Contudo, faz o encaminhamento do atestado ao INSS, para que o trabalhador passe por perícia médica. Na perícia, é constatada a incapacidade laborativa. Nesse caso, Pedro possui estabilidade provisória decorrente de acidente do trabalho? FINALIZANDO Chegamos ao fim de mais uma aula, em que pudemos estudar os Direitos Fundamentais nas relações de trabalho, compreendendo detalhadamente as disposições constitucionais sobre a matéria. Estudamos a importância do meio ambiente de trabalho equilibrado, e a questão da sustentabilidade enquanto fator necessário ao desenvolvimento. A proteção ao trabalho da mulher e do portador de deficiência foi estudada com detalhes, como forma de promover a discriminação positiva e a igualdade. Por fim, estudamos como a CLT trata a questão da saúde e da segurança do trabalho, com destaque aos principais artigos da norma trabalhista. Até a próxima aula! REFERÊNCIAS DELGADO, M. G. Curso de Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: RT, 2015. GUIMARÃES, R. P. de F. Manual de direito individual do trabalho. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. MANUS, P. P. T. Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2003. MARQUES, F.; ABUD, C. J. Direito do trabalho. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 20/03/2021 UNINTER - SEGURANÇA NO TRABALHO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/17 MARTINS FILHO, I. G. da S. Manual de Direito e Processo do Trabalho. 19. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010. MARTINS, S. P. Manual de Direito do Trabalho. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. PEREITA, L. Direito do trabalho. 3. ed., revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. SILVA, D. M. da. Terceirização na Administração Pública Como Instrumento Estratégico de Gestão. Curitiba: Juruá, 2014. SILVA, J. L. B. da. A proteção do trabalho da mulher e os impactos da reforma trabalhista. Âmbito Jurídico. 3 set. 2019. Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-do-trabalho/a- protecao-do-trabalho-da-mulher-e-os-impactos-da-reforma-trabalhista/>. Acesso em: 28 set. 2020.
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