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3 2. SEQUÊNCIA DIDÁTICA DE GÊNERO: GÊNERO TEXTUAL: LITERATURA DE CORDEL MÓDULO 1- IDENTIFICAÇÃO DO GÊNERO - Ativação dos conhecimentos prévios do aluno - Percurso histórico do gênero - Definições do gênero - Características do gênero MÓDULO 2- LINGUAGEM - O que será trabalhado - Análise dos aspectos linguísticos MÓDULO 3- PRODUÇÃO - Dinâmica - Identificação do gênero pelo aluno - Proposta de produção PRODUÇÃO FINAL - Produção de Literatura de Cordel - Exposição do gênero produzido Para o estudo do gênero Literatura de Cordel em sala de aula, serão utilizadas 8 horas/aula distribuídas no mês de março de 2017. Todas as atividades dos módulos 1, 2 e 3 foram pensadas para serem concluídas no referido mês, mas as mesmas poderão ser ajustadas conforme houver necessidade. As reescrituras (versões) e a estimulação do aluno estão inseridas em Proposta de produção, momento em que vamos propor ao aluno a produção do gênero. A Produção de Literatura de Cordel será a versão final feita pelo aluno, a qual será divulgada. 4 4. SEQUÊNCIA DIDÁTICA- GÊNERO TEXTUAL: LITERATURA DE CORDEL 4. 1 Módulo 1- Identificação do gênero 4.1.1 Ativação dos conhecimentos prévios do aluno O primeiro momento será analisar qual o nível de conhecimento do aluno sobre o gênero proposto. A importância de se fazer tal análise dá-se exatamente para se trabalhar de forma mais específica com a turma. Para isso, utilizaremos exemplares da literatura de cordel, como nos exemplos abaixo: Figura 2- Lampião, o capitão do cangaço Figura 3- Michael Jackson disse Adeus Figura 4- História do valente sertanejo Zé Garcia 5 Os exemplares serão passados pela sala de aula e logo depois serão feitas algumas perguntas aos alunos para que possamos identificar o grau de informação que eles possuem sobre a literatura de cordel. Após este primeiro contato, os alunos assistirão a dois vídeos, o primeiro é A árvore do dinheiro, uma animação narrada da literatura de cordel, disponibilizada na internet. O segundo vídeo é a abertura da novela Cordel encantado, exibida pela Rede Globo no ano de 2011. A novela tinha como cenário o sertão brasileiro e como temática a literatura de cordel. Este exemplo servirá para mostrar ao aluno uma das possibilidades de adaptação do gênero aqui estudado. <https://www.youtube.com/watch?v=2p7gMAPwcaU> A Árvore do Dinheiro <https://www.youtube.com/watch?v=ZknAYOvvGzA> Cordel Encantado 4.1.2 Percurso histórico do gênero Apesar de sua ampla expansão no Brasil, a literatura de cordel surgiu no país com a vinda dos colonos portugueses. Primeiramente na Bahia, onde os portugueses fizeram sua primeira parada e logo depois foi difundida por quase todo o nordeste brasileiro. Esta literatura tem suas raízes fincadas nos povos Ibéricos. Na Espanha era chamada de “pliegos sueltos” que em Portugal corresponde a folhas soltas ou literatura de cordel. Verifica- se também a presença dessa literatura em países como: Inglaterra, França e Alemanha. Inicialmente a literatura de cordel era repassada principalmente de forma oral. Foi com Leandro Gomes de Barros, que muitos consideram como o pai do cordel no Brasil, que surgiram as primeiras impressões desta literatura. A priori chamada de folheto, ela só passou a receber o nome “cordel” após a publicação do dicionário Caldas Aulete, publicado em Portugal no ano de 1881, o qual denominava “cordel” como: Cordão, guita, barbante, literatura de cordel e como conjunto de publicações de pouco ou nenhum valor. Uma das funções dos folhetos era a de jornal local, já que nessa época não havia amplo acesso aos meios de comunicação. Um de seus empregos era para fins informativos e, ainda hoje, mesmo com os grandes meios de comunicação, esta característica ainda está muito presente nos folhetos. Era utilizado, ainda, como instrumento alfabetizador. 6 4.1.3 Definições do gênero A literatura de cordel é um gênero que mistura as linguagens verbal e não- verbal. A linguagem verbal é o uso da escrita ou da fala como meio de comunicação. No caso da literatura de cordel, esta linguagem aparece por meio dos versos escritos e oralizados. Por linguagem não-verbal podemos entender como as ilustrações reproduzidas nas capas dos folhetos, as imagens. O cordel é um gênero textual no qual predomina a narrativa. A narrativa é o ato de contar/apresentar acontecimentos tanto fictícios, como: lendas, mitos e aventuras e quanto reais: biografia, notícia e relatos de experiência vivida. O cordel utiliza tanto a narrativa ficcional como a real. Outra característica da literatura de cordel são suas ilustrações reproduzidas a partir da xilogravura, que é uma técnica chinesa de gravura em madeira, trazida ao Brasil pelos portugueses no período da colonização. Estas gravuras em madeira possibilitaram aos cordelistas o domínio do processo de produção dos folhetos. Elas são feitas sempre com simplicidade nas formas, presença de paisagens e personagens do Nordeste. Figura 5- Produção de Xilogravura Figura 6- Produção de ilustração Curiosidades: Os poetas que produziam este gênero eram chamados “poetas de banca”, pois vendiam seus folhetos em bancas nas feiras locais. Atenção, professor! É importante que o aluno saiba a origem do termo utilizado para definir o gênero que está sendo estudando, no caso, o cordel. Essa informação o ajudará a compreender o porquê de tal classificação e a entender um pouco mais obre o gênero. 7 Um dos aspectos mais fundamentais na literatura de cordel é o uso de rima. A rima é o recurso de repetição de sons semelhantes, ora no final de versos diferentes, ora no interior do mesmo verso, criando uma semelhança de sons entre as palavras presentes em dois ou mais versos. Isso possibilita a leitura cantada, abrindo espaço para as emboladas: música nordestina em que o cantador toca pandeiro, e para o repente: música improvisada pelo cantador, utilizando ou não a viola como acompanhamento. Juntamente com o recurso da rima, a literatura de cordel também utiliza o recurso da métrica, que é a razão do ritmo contido no cordel. A sextilha, estrofe de seis versos, é a mais popular dentro do cordel. Exemplo de distribuição das rimas na sextilha: Leandro Gomes de Barros, escreveu: Meu/ ver/so in/da é/ do/ tem/po Que as/ coi/sas e/ram/ de/ gra/ça: Pa/no/ me/dido /por/ va/ra, Terra medida por braça, E um cabelo da barba Era uma letra na praça. 4.1.4 Características do gênero As principais características deste gênero são: Atenção, professor! O recurso da métrica e a distribuição das rimas devem ser explicadas aos alunos. Caso o assunto já tenha sido estudado, será apenas relembrado para dar prosseguimento as atividades. Atenção, professor! Após a apresentação do cordel serão feitas perguntas aos alunos sobre as principais características do gênero. Isso é necessário para que o aluno passe para as próximas atividades. Caso não haja entendimento acerca das características, as explicações devem ser feitas novamente. 8 As ilustrações utilizadas com a técnica da xilogravura. Com o processo de modernização, encontramos alguns folhetos com desenhos feitos em computador, mas sempre com a essência nordestina presente; Valorização cultural e protagonismo do sertanejo; Linguagem simples e de fácil entendimento; Baixo custo; Uso de rimas que provocam a sonoridade e permitem uma leitura cantada. 4.2 Módulo 2- Linguagem 4.2.1 O que será trabalhado Serão desenvolvidas atividades voltadas para as formas de linguagens presentes no cordel. Trabalharemospor partes: inicialmente com a oralidade; depois com a escrita e em seguida com as linguagens musical e visual. Entendemos que estudar todos esses aspectos dentro de um gênero textual é, muitas vezes, algo novo para o aluno, por isso optamos por apresentar-lhes as partes que constituem o todo antes de partir para a produção. Na linguagem oral, nossa atenção será voltada para a leitura dos cordéis. Cada aluno ficará responsável por uma estrofe do cordel. Sendo as estrofes interligadas, ou seja, os acontecimentos são rimados e seguem uma ordem para se chegar ao desfecho, o aluno ficará atento para não perder os detalhes e para não ser surpreendido quando chegar a sua vez de ler. O intuito dessa atividade é auxiliar o Atenção, professor! Ao se estudar as formas de linguagens aqui citadas, o aluno estará desenvolvendo habilidades que farão toda a diferença nas séries seguintes, visto que fazer uma interpretação de textos, imagens, etc. é um dos maiores desafios dos alunos hoje em dia, e não só na disciplina de língua portuguesa, mas nas demais disciplinas 9 aluno, principalmente àquele que é muito inibido, na prática da comunicação e desenvoltura. Em relação à escrita, a proposta é que o aluno atente para os elementos linguísticos que foram utilizados. A atividade de escrita, em si, será no momento da produção. A proposta aqui é a de que se atente para o modo como a literatura de cordel é escrita: as escolhas lexicais (das palavras) que são feitas para dar ritmo, forma e se chegar ao resultado pretendido. Nesse momento, leitura será realizada individualmente. A literatura de cordel pode abordar variados temas, dentre eles estão: a crítica social e o caráter informativo de variadas situações: de temas do cotidiano a acontecimentos históricos. Dessa forma, entendemos que a musicalidade é uma das formas mais fáceis de se trabalhar com assuntos considerados difíceis, pois tais assuntos estarão na letra da música, que terá um ritmo bem descontraído, facilitando assim o entendimento. A linguagem visual será trabalhada por meio da xilogravura, que é a arte de gravar em madeira, traço fundamental do cordel. Os desenhos são feitos na madeira e reproduzidos nas capas dos cordéis, eles ilustram o tema que será abordado. A ideia é que um grupo de alunos crie uma história utilizando somente imagens e o outro grupo saiba identificar o tema principal da história e tente narrar os acontecimentos conforme as imagens que foram selecionadas. Para o auxílio e realização das atividades aqui dispostas, utilizaremos os seguintes materiais: folhetos de literatura de cordel de variados temas; vídeos de repentistas; imagens de cordéis e uma reportagem feita pelo programa Globo Rural, da Rede Globo, que será de grande importância para o entendimento dos alunos, visto que aborda todos os aspectos que serão trabalhados em sala de aula. Dessa maneira, o aluno reconhecerá facilmente o gênero Literatura de cordel. 4.2.2 Análise dos aspectos linguísticos Atenção! Para desenvolver essas atividades com os alunos é preciso levar em consideração seus conhecimentos acerca dos aspectos linguísticos que serão abordados. Caso seja necessário, faça uma revisão sobre o assunto para que o aluno consiga compreender a proposta e, dessa forma, consiga realizar as atividades que o guiarão para o resultado final. 10 A literatura de cordel está dividida em três tipos: folhetos, romance e estórias. Ela se encaixa no tipo textual narrativo e utiliza as linguagens verbal e não-verbal, seja para informar sobre um acontecimento ou para contar uma história ficcional. Mostraremos aos alunos os três tipos e selecionaremos apenas trechos para que eles analisem algumas características referentes aos tempos verbais, às escolhas lexicais e às rimas. Mas como exemplos, utilizaremos dois folhetos. O primeiro exemplo, é o folheto A morte de Chico Mendes deixou triste a natureza, de Manoel Santamaria. Figura 7- A morte de Chico Mendes deixou triste a natureza (Ver anexo) O poeta não descansa seu pensamento um instante. Muitos o julgam presente sem o saberem distante. A matéria: residente... o espírito: renitente, preocupado e vagante! A poesia desempenha um papel primordial, neste país atolado no terrível lamaçal do crime e corrupção, e paternal proteção 11 às duras forças do mal. A poesia de cordel também presta seu tributo ao nosso mártir da mata, sindicalista astuto, ecólogo destemido, que fez o mundo sentido e a natureza de luto. Xapuri foi o seu berço e a morada final. O reinado de terror Em Marabá foi fatal e esse herói seringueiro, mas o grito do guerreiro teve eco mundial! Francisco Mendes pediu trégua na destruição criminosa da Amazônia, nosso sagrado pulmão que o mundo todo venera guardiã da atmosfera, exposta à devastação. Atividade 1 1) Qual é o tempo verbal utilizado no cordel acima e o que ele indica? 2) Relacionando a imagem ao texto, quem é o personagem principal e qual é o tema abordado no cordel? 3) Aponte os pares de palavras que foram escolhidos pelo narrador para dar ritmo à história. O segundo, é um trecho de A vida de Pedro Cem, de Leandro Gomes de Barros. Figura 8- A vida de Pedro Cem 12 Ver anexo Vou narrar agora um fato Que há cinco séculos se deu De um grande capitalista Do continente europeu Fortuna como aquela Ainda não apareceu Pedro Cem era o mais rico Que nasceu em Portugal Sua fama enchia o mundo Seu nome andava em geral Não casou-se com rainha Por não ter sangue real Em prédios, dinheiro e bens Era o mais rico que havia Nunca deveu a ninguém Todo mundo lhe devia Balanço em sua fortuna Querendo dar não podia Em cada rua ele tinha Cem casas para alugar Tinha cem botes no porto E cem navios no mar Cem lanchas e cem barcaças Tudo isso a navegar Tinha cem fábricas de vinho E cem alfaiatarias Cem depósitos de fazenda Cem moinhos, cem padarias E tinha dentro do mar Cem currais de pescaria 13 Atividade 2 4) Qual é a Pessoa gramatical utilizada para narrar a história? 5) Você teve dificuldade para entender a linguagem utilizada? Há alguma palavra que você desconheça? 6) Escreva o grupo de rimas presente na 1º e na 4º estrofe e destaque o que há de comum nessas palavras que contribuem para a formação das rimas. 7) Mude a estrutura da 1ª e da 2ª estrofe, que estão em verso, para a estrutura em prosa. Os cordéis que serão utilizados para fazer as análises serão lidos na íntegra em sala de aula. 4.3 Módulo 3- Produção 4.3.1 Dinâmica Atenção, professor! As atividades feitas aqui podem ser utilizadas somente como exemplos para os alunos. No primeiro momento, o professor responderá as questões junto com os alunos. No segundo momento, os alunos responderão questões no mesmo nível, mas individualmente. Atenção, professor! A dinâmica é uma forma de didatizar o gênero e aproximá-lo do aluno por meio de atividades descontraídas. As imagens de cordéis são facilmente encontradas na internet e podem ser impressas em papel A4, para melhor aproveitamento. Algumas gravuras são disponibilizadas no site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel: <http://www.ablc.com.br/> 14 A proposta da dinâmica é aplicar o assunto abordado de maneira mais criativa e divertida. Ela ocorrerá da seguinte forma: ● será dado um tema para que os alunos criem uma letra para ser reproduzida no estilo do repente; ● leitura em voz alta intercalando os grupos de alunos para que haja mais interação e percepção da sonoridade dos versos; ● os alunos criarão uma história por meio de imagens de cordéis que serão selecionadas pelo professor; ● O professor auxiliará os alunos na produção de paródias apartir dos cordéis levados para a sala de aula. 4.3.2 Identificação do gênero pelo aluno 15 Serão aplicadas algumas questões para o aluno responder. 4.3.3 Proposta de produção Serão produzidos alguns cordéis em sala de aula a partir de temas que serão sorteados entre a turma: uma notícia de jornal, um acontecimento histórico, meio ambiente e festas juninas. A produção ocorrerá em sala e deverá ser entregue ao final da aula para o professor, que fará as correções e avaliações. Os cordéis produzidos e corrigidos serão entregues na próxima aula. 1) Quanto a forma de escrita, como é escrito o cordel? 2) O que diferencia a literatura de cordel do jornal que circula diariamente pela sua cidade? 3) como é a linguagem utilizada nos folhetos de cordel? 4) identifique e marque as alternativas que são as características principais da Literatura de Cordel ( ) As fotografias são estampadas nas capas ( ) O sertão brasileiro como cenário das histórias ( ) O custo é muito alto ( ) As narrativas são de caráter popular ( ) A forma como é escrita permite que seja cantada ( ) Narra tanto histórias fictícias como histórias reais ( ) As falas das personagens são ilustradas por meio de balões 5) Que tipo de linguagem o cordel utiliza? a) Verbal b) Não verbal c) Verbal e não-verbal Marque uma das alternativas e explique como essa (as) linguagem (a) aparece (m) no cordel. 16 Na próxima aula, momento de entrega das primeiras produções, o aluno fará as possíveis modificações propostas a partir das observações feitas pelo professor e devolverá essa segunda versão ao professor no final da aula. 5. PRODUÇÃO FINAL Para a produção final, serão distribuídos alguns cordéis para se utilizar como modelo. O trabalho será em grupo, para que possa haver troca de ideias, mas as produções serão individuais. Também serão distribuídos folhetos em branco, em formato de cordel, para serem produzidos os cordéis. Para essa atividade os alunos deverão ter: lápis, lápis de cor, borracha, régua e caneta preta. Esse material é necessário para se fazer as ilustrações. Os alunos serão orientados assim: 1) Planeje uma história 2) Crie os personagens e o cenário da história 3) Sintetize o tema principal em forma de ilustração. 4) O último passo será escrever a história em versos rimados (lembre-se das características principais do cordel) e elaborar a capa do folheto com a ilustração feita. 5.1 Exposição do gênero produzido Os trabalhos produzidos serão expostos em uma feira cultural que é promovida pela escola anualmente. A exposição feita pelos alunos acerca do gênero e das produções feitas em sala de aula acontecerá da seguinte forma: 1 – Exposição de folhetos; 2– Murais com reportagens sobre cordelistas e literatura de cordel em geral; Atenção, professor! Essa atividade de reescritura é essencial para se analisar o nível de compreensão e desenvolvimento do aluno acerca do gênero estudado. São atividades que servirão como base para a produção final. 17 3 – Apresentação de músicas populares influenciadas pela literatura de cordel; 4 – Sessões de cinema com filmes inspirados em folhetos ou que, de algum modo, toquem na questão de literatura de cordel; 5 – Exposição de xilogravuras. REFERÊNCIAS Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Disponível em: < http://www.ablc.com.br/> Acesso em: 11 fev. 2017 BARROS, Leandro Gomes de. A vida de Pedro Cem. Disponível em: http://www.ablc.com.br/a-vida-de-pedro-cem/> Acesso em: 14 fev. 2017 BRANDÃO, Helena Negamini. Texto, gênero do discurso e ensino. In: Gênero do discurso na escola: mito, conto, cordel, discurso político, divulgação científica. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2003, p. 17-43 EVARISTO, Marcela Cristina. Cultura popular/ realizações orais. In: A oralidade como objeto de ensino-aprendizagem: algumas considerações. Campinas, SP: [s.n.], 2006, p.83-86. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=vtls000379278> Acesso em: 09 fev. 2017 Figura 1- esquema da sequência didática. Fonte: MARCUSCHI, Luiz Antônio. Os gêneros textuais em sala de aula: as “sequências didáticas. “ In: Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola editorial, 2008, p. 214 Figura 2- Lampião, o capitão do cangaço. Fonte: <http://lounge.obviousmag.org/memorias_do_subsolo/2013/01/literatura-de-cordel-a- memoria-do-sertao-em-folhetos-de-papel.html> Acesso em: 14 fev. 2017 Figura 3- Michael Jackson disse Adeus. Fonte: <https://barretocordel.files.wordpress.com/2012/09/cordel-michael-jackson-disse- adeus.jpg> Acesso em: 14 fev. 2017 Figura 4- História do valente sertanejo Zé Garcia. Fonte: <http://acordacordel.blogspot.com.br/2011/05/cordeis-gratis.html> Acesso em: 13 fev. 2017 http://lounge.obviousmag.org/memorias_do_subsolo/2013/01/literatura-de-cordel-a-memoria-do-sertao-em-folhetos-de-papel.html http://lounge.obviousmag.org/memorias_do_subsolo/2013/01/literatura-de-cordel-a-memoria-do-sertao-em-folhetos-de-papel.html https://barretocordel.files.wordpress.com/2012/09/cordel-michael-jackson-disse-adeus.jpg https://barretocordel.files.wordpress.com/2012/09/cordel-michael-jackson-disse-adeus.jpg http://acordacordel.blogspot.com.br/2011/05/cordeis-gratis.html 18 Figura5- Produção de Xilogravura. Fonte: < https://monalisarte.wordpress.com/2013/04/14/o-que-e-xilogravura/> Acesso em: 13 fev. Figura 6- Produção de ilustração. Fonte: < http://www.foiaprovado.com/aprenda- como-fazer-xilogravura/> Acesso em: 14 fev. 2017 Figura 7- A morte de Chico Mendes deixou triste a natureza. Disponível em: <http://www.ablc.com.br/a-morte-de-chico-mendes-deixou-triste-a-natureza/> Acesso em: 12 fev. 2017 Figura 8- A vida de Pedro Cem. Fonte: <http://www.ablc.com.br/a-vida-de-pedro- cem/> Acesso em: 13 fev. 2017 LOPES-ROSSI, Maria Aparecida Garcia. Sequência didática para a leitura de cordel em sala de aula. In: Revista do GELNE, Natal/RN, N. Especial, Vol. 14, p. 153-172, 2012. Disponível em: <https://periodicos.ufrn.br/gelne/article/download/9388/6742> Acesso em: 09 fev. 2017 MANOEL, Santamaria. A morte de Chico Mendes deixou triste a natureza. Disponível em: <http://www.ablc.com.br/a-morte-de-chico-mendes-deixou-triste-a- natureza/> Acesso em: 12 fev. 2017 MARCUSHI, Luiz Antônio. DIONISIO, Angela Paiva. Um ponto de partida: falamos mais do que escrevemos. In: Fala e escrita. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, p.13-15 Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC/SEF, 1998, p. 53-54 MARCUSCHI, Luiz Antônio. Os gêneros textuais em sala de aula: as “sequências didáticas. “ In: Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola editorial, 2008, p.211-218. MONTANHA, Ednalda Maria. Modelo didático de gênero e sequência didática: gênero textual história em quadrinhos. In: Os professores PDE e os desafios da escola pública paranaense- volume II. Londrina, 2012, 35p. Disponível em: < http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pd e/2012/2012_uel_port_pdp_ednalda_maria_montanha.pdf> Acesso em: 08 fev. 2017 PINHEIRO, Hélder. Cordel na sala de aula/Hélder Pinheiro, Ana Cristina Marinho Lúcio. São Paulo: Duas Cidades, 2001, 110 p. 19 ANEXOS A MORTE DE CHICO MENDES DEIXOU TRISTE A NATUREZA Manoel Santamaria O poeta não descansa seu pensamento um instante. Muitos o julgam presente, sem o saberem distante. A matéria: residente… o espírito: renitente, preocupado e vagante! A poesia desempenha um papel primordial, neste país atolado no terrível lamaçal do crime e corrupção, e paternal proteção às durasforças do mal. A Poesia de Cordel também presta seu tributo ao nosso mártir da mata, sindicalista astuto, ecólogo destemido, que fez o mundo sentido e a natureza de luto. Xapuri foi o seu berço e a morada final. O reinado de terror em Marabá foi fatal a esse herói seringueiro, 20 mas o grito do guerreiro teve eco mundial! Francisco Mendes pediu trégua na destruição criminosa da Amazônia, nosso sagrado pulmão, que o mundo todo venera guardiã da atmosfera, exposta à devastação. Valente e humano escudo protetor das nossas terras. Combateu contra os tratores, machados e moto-serras. Sua batalha exemplar há de se multiplicar noutras batalhas e guerras! A natureza chorosa, no nosso peito esse nó. Ecoam dentro da mata gemidos de fazer dó. Choram cascatas e rios prantos sentidos e frios… o uirapuru canta só. Na solidão da floresta, aves, plantas e animais, órfãos, fracos, indefesos, exalam seus tristes ais, pedem o fim da matança e a destruição que avança, mutilando os matagais! Do Oiapoque ao Chuí tevês, revistas, jornais, estampam a nossa dor em manchetes garrafais. Fauna e flora sem defesa… foi-se o “Nossa Natureza” o “Ghandi dos Seringais”! Se até no estrangeiro a grande perda é sentida; se até a ONU se importa, vou cutucar a ferida dos fominhas fazendeiros, e os carrascos pistoleiros que pensam mandar na vida. Depois que o “New York Times” mostrou, em primeira mão, o brutal assassinato, foi tal a repercussão, que até a nossa justiça, 21 cheia de inércia e preguiça resolveu mostrar ação. É só cascata e farol do Governo brasileiro, que deseja mais ajuda das potências do estrangeiro, para investir no nojento pseudodesenvolvimento, e escândalo financeiro. Se Chico Mendes não fosse mundialmente famoso, a justiça ignoraria esse podre e pantanoso faroeste brasileiro, onde o rico fazendeiro desfila impune e garboso. No Brasil, a realidade do faroeste é voraz. Já na ficção esse filme fajuto perdeu cartaz. Caducou, perdeu a graça, e há muito tempo, só passa nos corujões matinais. Final do século vinte, e o país mergulhado no caldeirão da mamata, cultivando o que é errado: falcatruas, pistolagem, política da malandragem, regime podre e safado! Esse atraso milenar podia ser corrigido, mas a Constituição ainda afaga bandido. Impunidade que assusta, justiça cega e injusta, e de moral corroída! Mas um país que faz tanto alarde em torno de quem matou quem numa novela e anda tratando tão bem os assassinos reais, bem que merece demais os governantes que tem! Mas o mundo anda de olhos e ouvidos bem aguçados para tantas agressões, tantos pobres massacrados. Atos imundos, insanos, 22 contra os Direitos Humanos e Prêmios para os culpados! Os direitos dos indígenas sendo desobedecidos. Mais de vinte mil da tribo dos Macuxis, perseguidos. A polícia trava guerras só para entregar suas terras aos fazendeiros bandidos! Os ricos pecuaristas assassinaram a natureza. Espécies insubstituíveis, rara e milenar beleza das florestais paisagens cedem lugar as pastagens, À ganância e à riqueza! O gado disputa a água e a alimentação com os animais silvestres, naturais da região, a nossa fauna nativa. O IBDF se esquiva, não faz fiscalização. A malversação das verbas dos incentivos fiscais. Investimentos furados, estradas descomunais, falsa colonização e cruel destruição das reservas naturais! Também os tecnocratas e as multinacionais que visam os lucros fáceis, sem retornos sociais. Porcos imediatistas que têm cifrões nas vistas e miolos irracionais! A UDR, União “Democrática” Ruralista, em defesa aos latifúndios e o grande pecuarista comanda os assassinatos dos lavravadores pacatos, padres e sindicalistas. A UDR utilizou sua nefasta influência durante a Constituinte; cometeu tal violência brecando a Reforma Agrária, 23 à qual sempre foi contrária, a qual levou à falência. “Ainda posso respirar, a água jorra abundante; eu vivo aqui e agora, e o futuro é tão distante!” Assim pensa o egoísta, de visão curta e simplista bucéfalo, ignorante! Que inteligência curta, que egoísmo brutal, caráter devastador, criminoso, irracional! Pensarmos em nós somente, e espalharmos a semente do irremediável mal! Ocorre que as consequências estão aqui e agora: o índio pede socorro, a Mata Atlântica chora, a Amazônia agoniza, e uma mal cheirosa brisa nos sufoca e apavora! Desequilíbrios climáticos, confusão nas Estações. São resposta e consequência das grandes devastações nas florestas tropicais. Seca no Sul é demais… no Nordeste, inundações! O holocausto biológico se torna mais evidente, a cada dia que passa; e assim, cada ser vivente pensante há que se tocar e começar a plantar o futuro no presente! A morte de Chico Mendes não há de ter sido em vão. O nobre sangue do herói há de regar esse chão. E seu clamor por justiça há de aplacar a cobiça que impera nesta nação! E surgirão outros Chicos, atrás de serra vem serra. A luta, a honra de um homem não se extingue, não se enterra. A natureza reclama 24 e a todos nós conclama a prosseguir nesta guerra! Dezembro de 1988 GABARITO COM AS POSSÍVEIS RESPOSTAS QUE PODEM SER DADAS PELOS ALUNOS ATIVIDADE 1 Na primeira atividade o tempo verbal empregado é o presente e ele indica uma ação que ocorre no mesmo momento da fala. O personagem principal é Francisco Mendes, que chega à Amazônia para ajudar os índios contra a devastação da floresta. O cordel é uma crítica à violência na região amazônica e à justiça brasileira. A história é contada por meio de rimas, característica principal do cordel, os pares de palavras escolhidos pelo narrador foram: Instante Distante Presente Residente Residente Renitente Distante Vagante Primordial Lamaçal Corrupção Proteção Tributo Astuto Destemido Sentido Fatal Mundial Seringueiro Guerreiro Destruição Pulmão Venera Atmosfera Pulmão Devastação As escolhas lexicais foram feitas pelo narrador justamente para dar ritmo e musicalidade à história contada no cordel, mas as escolhas não foram feitas de qualquer forma, pois as palavras interligam-se entre si dando sentido ao que está sendo contado. 25 A VIDA DE PEDRO CEM Leandro Gomes de Barros Vou narrar agora um fato Que há cinco séculos se deu De um grande capitalista Do continente europeu Fortuna como aquela Ainda não apareceu Pedro Cem era o mais rico Que nasceu em Portugal Sua fama enchia o mundo Seu nome andava em geral Não casou-se com rainha Por não ter sangue real Em prédios, dinheiro e bens Era o mais rico que havia Nunca deveu a ninguém Todo mundo lhe devia Balanço em sua fortuna Querendo dar não podia Em cada rua ele tinha Cem casas para alugar Tinha cem botes no porto E cem navios no mar Cem lanchas e cem barcaças Tudo isso a navegar Tinha cem fábricas de vinho E cem alfaiatarias Cem depósitos de fazenda Cem moinhos, cem padarias 26 E tinha dentro do mar Cem currais de pescaria Em cada país do mundo Possuía cem sobrados Em cada banco ele tinha Cem contos depositados Ocupavam mensalmente Dezesseis mil empregados Diz a história onde li O todo desse passado Que Pedro Cem nunca deu Uma esmola a um desgraçado Não olhava para um pobre Nem falava com criado Uma noite ele sonhou Que um rapaz lhe avisava Que aquele orgulho dele Era quem o castigava Aquela grande fortuna Assim como veio, voltava Ele acordou agitado Pelo sonho que tinha tido, Que rapaz seria aquele Que lhe tinha aparecido? Depois pensou: – Ora, sonho É ilusão do sentido! Um dia no meio da praça Ele uma moça encontrou Essa vinha quase nuaNos seus pés se ajoelhou Dizendo: – Senhor, olhai O estado em que estou… Ele torceu para um lado E disse: – Minha senhora, Olhe a sua posição E veja o que fez agora. Reconheça o seu lugar, Levante-se e vá embora! – Oh! Senhor! Por este sol, Que de tão alto flutua, Lembrai-vos que tenho fome Estou aqui quase nua Sou obrigada a passar Nesse estado em plena rua! Ele repleto de orgulho Nem deu ouvido, saiu E a pobre ergueu-se chorando Chegou adiante, caiu 27 Vinha passando uma dama Que com seu mato a cobriu Era a marquesa de Évora Uma alma lapidada. Tirando seu rico manto Cobriu essa desgraçada Ela conheceu que a pobre, Foi pela fome prostrada. Levante-se, minha filha! E pegou-lhe pela mão, Dizendo à criada dela: – Vá ali comprar um pão Que a essa pobre infeliz, Faltou-lhe alimentação. Entregando-lhe uma bolsa Com 42 mil réis, Apenas tirou dali Um diploma e uns papéis, Não consentindo que a moça Se ajoelhasse a seus pés. E com aquela quantia Ela comprou um tear Tinha mais duas irmãs Foram as três trabalhar Dali em diante mais nunca Faltou-lhe com que passar. Vamos agora tratar Pedro Cem como ficou E o nervoso que sentia Uma noite em que sonhou Que um homem lhe apareceu Disse: – Olhe bem quem sou! – Que tens feito do dinheiro, Que me tomaste emprestado? Meu senhor manda saber Em que o tens empregado E por qual razão não cumpre As ordens que ele tem dado… Ele perguntou no sono: Mas que dinheiro tomei? Até aos próprios monarcas Dinheiro muito emprestei; O vulto zombando dele Disse: Que tu és eu sei. – Que capital tinha tu Quando chegaste ao mundo? Chegaste nu e descalço Como o bicho mais imundo 28 Hoje queres ser tão nobre Sendo um simples vagabundo. E metendo a mão no bolso Tirou dele uma mochila Dizendo: é essa a fortuna Que tu hás de possuí-la Farás dela profissão Pedindo de vila em vila. Pedro Cem zombando disse: – Vai agoureira, te some Tua presença me perturba, Tua frase me consome, De qual mundo tu vieste? Diz-me por favor teu nome?! – Meu nome, disse-lhe o vulto, És indigno de saber, Meu grande superior Proibiu-me de dizer Apenas faço o serviço Que ele mandou fazer. Despertando Pedro Cem Daquilo contrariado; Ter dois sonhos quase iguais Ficou impressionado, Resolveu contrafazer E ficar reconcentrado. Pensou em tirar por ano Daquela grande riqueza Sessenta contos de réis E dar de esmola a pobreza Depois, refletindo, disse: Não se dá maior fraqueza. Porque ainda que Deus Querendo me castigar Não afundará num dia Meus cem navios no mar As cem fazendas de gado Custarão a se acabar As cem fábricas de tecidos Que tenho funcionando, E os parreirais de uvas Que estão todos safrejando, Cem botes que tenho no porto Todo dia trabalhando. Cem armazéns de fazenda, As cem alfaiatarias, As cem fundições de ferro, Cem currais de pescarias, 29 As cem casas alugadas, Cem moinhos, cem padarias. E as centenas de contos Nos bancos depositados, E tudo isso em poder De homens acreditados, Ainda Deus querendo isso Seus planos serão errados. Pedro Cem naquela hora Estava impressionado Quando aproximou-se dele O seu primeiro criado E disse: – Aí tem um homem Diz vos trazer um recado. – Mande que entre a pessoa! (Ele ao criado ordenou) era um marinheiro velho, chegando ali o saudou. – Que nova traz, meu amigo? Pedro Cem lhe perguntou. Disse o velho marinheiro: – Venho vos participar, Que dez navios dos vossos Ontem afundaram no mar Morreram as tripulações Só eu pude me salvar. – Que navios foram esses? Perguntou-lhe Pedro Cem. Respondeu-lhe o marinheiro: – Foi “Tejo” e “Jerusalém”, O “Douro” e o “Penafiel” E os outros eu não sei bem. Aquele ainda estava ali Outro portador bateu O empregado das vacas Contou o que sucedeu Incendiaram o mercado E todo gado morreu Pedro Cem nada dizia Ficando silencioso. Apenas disse: – Na terra Não há homem venturoso, Quem se julgar mais feliz, É pior que cão leproso. Chegou outro portador O empregado da vinha, Disse: – O depósito estourou Vazou o vinho que tinha 30 Pedro Cem disse: Meu Deus, Que sorte triste esta minha! Saiu aquele entrou outro, Um cônsul norueguês Disse: – Nos mares do norte Andava um pirata inglês, Noventa navios vossos Tomou ele de uma vez! Meu Deus! Meu Deus! O que fiz? Exclamava Pedro Cem, Não há homem nesse mundo Que possa dizer: – Vou bem, Quando menos ele espera A negra desgraça vem! Dos cem navios que tinha Alguns foram afundados E outros pelos piratas Nos mares foram tomados! Acrescentou a pessoa: Vinham todos carregados. Ali mesmo vinha o mestre Do navio “Flor do Mundo” Esse fitou Pedro Cem Com um silêncio profundo Depois disse: Sr. Marquês, Dez barcaças foram ao fundo. Quatro vinham carregadas Com bacalhau e azeite, Duas vinham da Suécia Com queijo, manteiga e leite, De todas mercadorias Não tem uma que aproveite. Quatro dos dez que afundaram Traziam pérolas e metal Só da Ilha da Madeira Vinha um milhão de coral Topázio, rubi, brilhante, Ouro, esmeralda e cristal. Pedro Cem baixou a vista Nada pôde refletir Exclamou: Que faço eu? Devo deixar de existir, Mas matando-me não vejo Isso onde pode ir! Chegou o moço do campo Tremendo muito assustado E disse: Senhor Marquês, Venho aqui horrorizado, 31 Deu morrinha nas ovelhas E mal triste em todo gado Naquele momento entrou Um rapaz auxiliar Esse puxando um papel Disse: – Venho reclamar Tudo quanto se perdeu Na barca “Ares do Mar” Pedro Cem perguntou: Quanto? Tirou o moço uns papéis Que se lia, entre brilhantes Pulseiras, colares, anéis Um milhão e quatrocentos E vinte e contos de réis. Entrou outro auxiliar Disse: Eu quero o pagamento, Por tudo que se perdeu No navio “Chave do Vento” Que vinha da América do Norte Com grande carregamento. Chegou um tabelião – Dá licença, senhor Marquês? Venho lhe participar Que o grande banco francês Dois alemães e três suíços Quebraram todos de vez. – Lá se foi minha fortuna! (exclamava Pedro Cem) Ontem fui milionário Hoje não tenho um vintém Só mesmo na campa fria Eu hoje estaria bem! Dando balanço nos bens Quis até desesperar Tudo quanto possuía Não dava para pagar Nem pela décima parte Os prejuízos do mar. Exclamava: Oh! Pedro Cem, Que será de ti agora?! O pouco que me restava A justiça fez penhora! Pedro Cem de agora em diante Vai errar de mundo a fora! Cumprir esta sorte dura Que a desventura me deu Talvez muitas vezes vendo Aquilo que já foi meu 32 Em lugar que não se saiba Quem neste mundo fui eu. Ali no terraço mesmo Forrando o chão se deitou Às onze e meia da noite, No sono conciliou, No sono sonhando viu O rapaz que lhe falou. Aquele perguntou: Pedro, Como se foi na empresa? Já estais conhecendo agora Quanto é grande a natureza? Conheceste que teu orgulho Foi quem te fez a surpresa? Metendo a mão na algibeira Dali um quadro tirou Onde havia dois retratos Que a Pedro Cem mostrou – Conheces estes retratos? O rapaz lhe perguntou. Via-se naquele quadro Uma dama bem vestida Pedro Cem disse no sonho: Esta é minha conhecida, A outra uma pobre moça, Como fome, no chão caída? Perguntou-lhe o rapaz: Quem é essa conhecida? – É a marquesa de Évora, E esta, que está caída? – Essa é uma miserável, Dessa classe desvalida. O rapaz puxou outro quadro Verde da cor da esperança Onde se via um monarca Suspendendo uma balança Estava pesando nela Caridade e confiança. Mostrou-lhe mais 4 quadros Que Pedro Cem conheceu, Tinha a marquesa de Évora Quando a bolsa a pobre deu, Que estirou a mão dizendo: – Toma o dinheiro que é teu. No quadro via-se um anjo Assim nos diza história, Com uma flor onde lia-se: “Jardim da Eterna Glória” 33 presenteada por Deus esta palma da vitória. Quem planta flores, tem flores Quem planta espinho tem espinho Deus mostra ao espírito fraco O que nega ao mesquinho A virtude é um negócio Boa ação um pergaminho Depois que ele acordou Triste e impressionado Interrogava a si próprio: – Porque sou tão desgraçado? Achou de lado a mochila, A que ele havia sonhado. – Será esta a tal mochila Que o fantasma me mostrou? É esse o homem que em sonho Em desespero exclamou, Na noite que a cruel sina, Em sonho me visitou? De tudo restava apenas A casa de moradia Essa mesma embargaram Antes de findar-se o dia, Então disse Pedro Cem: – Cumpriu-se a tal profecia! Lançando mão da mochila Saiu no mundo a vagar Implorando a caridade, Sem alguém nada lhe dar Por umas 5 ou 6 vezes Tentou se suicidar. Ele dizia nas portas: Uma esmola a Pedro Cem Que já foi capitalista Ontem teve, hoje não tem A quem já neguei esmola Hoje a mim nega também. Foi ele cair com fome, Na casa daquela moça Quando foi a porta dele Com fome, fria e sem força Que ele não quis olhá-la E a marquesa deu-lhe a bolsa. A criada o viu cair, Exclamou: – Minha senhora, Anda ver um miserável, Que caiu de fome agora! 34 – Onde? Perguntou a moça, Ana lhe disse: ali fora! A moça disse à criada Que trouxesse leite e pão Aproximou-se dele Disse: O que tens, meu irmão? Bateste em todas as portas, Não encontraste um cristão? Senhora! Se vós soubesse Quem é este desgraçado, Não abriria a porta Nem dava esse bocado, Respondeu ela: O conheço, Porém esqueço o passado. Recordo-me que a marquesa Fez minha felicidade, Viu-me caída, com fome, Teve de mim piedade, Deu-me com que comprar pão E esta propriedade. Pedro Cem se levantou, Disse: Obrigado, e saiu Andando duzentos passos Tombou em terra e caiu E umas frases tocantes Em alta voz proferiu: Vai unir-se a terra fria O que não soube viver, Soube ganhar a fortuna Mas não a soube perder, Se tenho estudado a vida Tinha aprendido a viver. Foi como a corrente d’água, Que pela serra desceu Chegou o verão secou Ela desapareceu Ficando só os escombros Por onde a água correu! Eu tive tanta fortuna, Não socorri a ninguém, E todos que me pediram Eu nunca dei um vintém, Hoje eu preciso pedir, Não há quem me dê também! Não desespero, pois sei Que grande crime expio Nasci em berço dourado Dormi em colchão macio 35 Hoje morro como os brutos, Neste chão sujo e frio… Foram as últimas palavras Que ele ali pronunciou Margarida, aquela moça Que a marquesa embrulhou Botou-lhe a vela na mão Ali mesmo ele expirou. A Justiça examinando Os bolsos de Pedro Cem Encontrou uma mochila E dentro dela um vintém E um letreiro que dizia: “Ontem teve, hoje não tem.” Janeiro de 2000 ATIVIDADE 2 Na segunda atividade a pessoa gramatical utilizada para narrar a história foi a primeira pessoa do singular. A escolha feita pelo narrador indica que ele contará a história a partir do seu ponto de vista e que ele tem plena propriedade para conta-la, pois, o “Eu” nos remete a ideia de que o narrador viveu, viu ou participou da história, e não apenas ouviu falar. A linguagem utilizada é de fácil entendimento e há somente duas palavras desconhecidas: barcaças e alfaiatarias. As rimas presentes na 1ª e na 4ª estrofe são: 1ª Estrofe 4ª Estrofe Deu Alugar Europeu Mar Apareceu Navegar Na 1ª estrofe, as palavras têm em comum as terminações em “eu”. Na 4ª estrofe, as palavras têm em comum as terminações em “ar”. As escolhas feitas contribuem para o ritmo do cordel. Nas duas estrofes, as rimas estão presentes nos 2º, 3º e 4º versos. A estrutura dos versos, após a mudança para a estrutura em prosa, ficou da seguinte forma: Vou narrar agora um fato que há cinco anos se deu, de um grande capitalista do continente europeu. Fortuna como aquela, ainda não apareceu. Pedro cem era o mais rico, que nasceu em Portugal. Sua fama enchia o mundo, seu nome andava em geral. Não casou-se com rainha por não ter sangue real. 36
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