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História da Saúde Pública no Brasil Do Brasil Colônia à Reforma Sanitária e Criação do SUS Profª Esp. Manuele Cajaiba 1 Saúde Pública no Brasil Colonial (1500-1822) Entre os séculos XVI e XVII, Portugal não se preocupou com a melhoria da saúde pública na colônia. Havia raros médicos diplomados. A assistência a população era prestada por curandeiros “práticos”, barbeiros, rezadeiras, boticários e jusuítas. “Um país colonizado basicamente por degredados e aventureiros desde o descobrimento até a instalação do império, não dispunha de nenhum modelo de atenção à saúde da população, e nem mesmo o interesse, por parte do governo colonizador (Portugal) em cria-lo”. Polignano, 2001 Saúde Pública no Brasil Colonial (1500-1822) Praticamente inexistiu preocupação com a saúde pública da colônia até 1808; Houve grande escassez de médicos graduados; No final do séc. XVI, a cidade do Rio de Janeiro tinha cerca de 1.000 moradores e nenhum médico; A partir do séc. XVII, havia algumas ações de saúde pública incipientes relacionadas às Ordenações Filipinas; No final do séc. XVIII, em todo o Brasil existiam 12 médicos formados; Em 1800, o rei de Portugal determinou que quatro estudantes brasileiros fossem para Coimbra a fim de cursar medicina anualmente. Saúde Pública no Brasil Colonial O Brasil colonial não tinha estrutura urbana definida; Cidades e vilas cresciam através da exploração extrativa; Sociedade escravagista; Limpeza urbana e outras questões sanitárias eram praticamente inexistentes; 1604: mínimas iniciativas de saneamento e incipiente controle de doenças ocorreram com a adoção das Ordenações Filipinas; As Ordenações Filipinas (1604) regiam as câmaras municipais de Portugal e das colônias e fixou como atribuição das câmaras zelar pela limpeza das cidades. Saúde Pública no Brasil Colonial Muitas doenças e epidemias acometeram os colonos e o restante da população indígena e negra: varíola, malária, sarampo; A grande maioria dos doentes recebiam tratamento em casa com curandeiros; Famílias mais favorecidas economicamente também eram atendidas por curandeiros, que tinham grande credibilidade em todas as classes sociais da população colonial. 1808: chegada da família real ao Brasil. Começou uma organização de uma estrutura sanitária mínima na cidade do Rio de Janeiro. A saúde pública brasileira nasceu neste início do séc. XIX: a particularidade histórica que distingue esse período dos dois primeiros séculos da colonização é a presença da Corte Portuguesa no Brasil. Saúde Pública no Brasil Colonial Regulação da prática da medicina na colônia Fisicatura-Mor: órgão regulador das questões de saúde – cartorial, com alvarás e regimentos; Regimento da Fisicatura: o físico-mor prescrevia medicamentos e o cirurgião-mor realizava intervenções cirúrgicas; Outras atribuições do físico-mor: controle das atividades exercidas por diferentes curadores (físicos, cirurgiões, barbeiros, sangradores, boticários, escravos forros e parteiras), funções legalizadas na época, assim como era responsável pelo comércio de medicamentos. 1808: chegada da família real ao Brasil. Começou uma organização de uma estrutura sanitária mínima na cidade do Rio de Janeiro. A saúde pública brasileira nasceu neste início do séc. XIX: a particularidade histórica que distingue esse período dos dois primeiros séculos da colonização é a presença da Corte Portuguesa no Brasil. Regulação da prática da medicina na colônia Implantação das Escolas de Medicina: primeiras escolas médicas no Brasil – Escola de Cirurgia da Bahia (1808) e Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro (1811). 1808: Institucionalização do Ensino Médico Escola de Cirurgia da Bahia Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro Saúde Pública: Provedoria da Saúde Mudanças ocorridas pela transferência da Corte para o Brasil a partir de 1808: Provedoria da Saúde, considerada como o órgão antecedente ao Ministério da Saúde. 1809: o cargo de Provedor-Mor da Saúde da Corte e Estado do Brasil foi ocupado por um médico português, que já era físico-mor do Reino e Domínios, onde ficou responsável pela conservação da saúde pública no Brasil. Atribuições do Provedor-Mor: prevenção e combate de epidemias, salubridade da cidade do Rio de Janeiro, fiscalização dos portos e do abastecimento de alimentos, vigilância da cidade e quarentenas. Mudanças ocorridas no Período do Império 1828: Mudanças na legislação do exercício das atividades terapêuticas. As câmaras municipais passaram a controlar e inspecionar a saúde pública, com extinção dos cargos de provedor-mor da saúde, de físico-mor e de cirurgião-mor; A população ainda não associava a competência da atividade a um diploma oficial ou licença das autoridades; 1870: Passou a haver uma demarcação da prática oficial de cura frente aos terapeutas populares. Os médicos eram os agentes oficiais de cura; Apesar dos esforços dos médicos em tentar estabelecer o monopólio das atividades de cura, os terapeutas populares não autorizados continuaram a exercer suas atividades e a população continuava a recorrer a eles. O Brasil chega ao fim do séc. XIX com graves problemas de saúde pública: precárias condições sanitárias dos centros urbanos e diversos surtos epidêmicos; Processo de urbanização e crescimento populacional; Ausência de infraestrutura básica nas cidades; A economia agroexportadora dependia principalmente do comércio externo e muitas companhias de navegação se recusavam a passar pelos portos brasileiros devido às más condições sanitárias nacionais. Período do Império no Final do Séc. XIX Rio de Janeiro: “Túmulo de estrangeiros” Rio de Janeiro na passagem do séc. XIX para o séc. XX: ainda uma cidade de ruas sujas, saneamento precário e focos de doenças (febre amarela, varíola, tuberculose e peste); Necessidade de controle dos portos brasileiros: os navios estrangeiros anunciaram que não atracariam no porto carioca por causa do risco de doenças; Grande número de imigrantes recém chegados da Europa morriam de doenças infecciosas no Rio: recebeu a denominação de “túmulo de estrangeiros”. A preocupação com a saúde pública emergiu como efetiva prioridade de governo no Brasil para enfrentar o risco à economia; Realização de campanhas sanitárias para combater as epidemias de febre amarela, peste bubônica e varíola; Implementação de programas de vacinação em massa da população, desinfecção dos espaços públicos e domiciliares; O sanitarismo campanhista Irrupção da Peste Bubônica em Santos (1899): fator determinante na criação de dois grandes centros de estudo: Manguinhos e Butantã; Manguinhos: sob a direção de Oswaldo Cruz, foi organizado a princípio, para a produção de vacinas e soro para a peste bubônica; Instituto Butantã: dirigido por Vital Brasil, além da produção de soroterapia para a peste, tornou-se o maior centro de problemas de ofidismo do país. Oswaldo Cruz e a Escola de Manguinhos O médico sanitarista deixou seu nome impresso na história como pioneiro em campanhas sanitárias de combate a epidemias no Brasil; Vacinação compulsória: com apoio do presidente Rodrigues Alves, Oswaldo Cruz montou uma estratégia sanitarista impondo a realização da vacinação compulsória de toda população; 1907: Instituto de Patologia Experimental de Manguinhos (atual Instituto Oswaldo Cruz) estabelece normas e estratégias para o controle dos mosquitos, vetores da febre amarela. Oswaldo Cruz A febre amarela foi erradicada do Rio de Janeiro: em 1907, no IV Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim, Oswaldo Cruz recebeu a medalha de ouro pelo trabalho de saneamento do Rio de Janeiro, que perdeu o título de “túmulo dos estrangeiros”; Lançou importantes expedições científicas, que possibilitaram maior conhecimento sobre a realidade sanitária do interior do país; Erradicou a febre amarela no Pará e realizou a campanha de saneamento na Amazônia. Oswaldo Cruz A descoberta da doença de Chagas foi uma das mais completas e bem sucedidasda história da biologia, da ecologia e da patologia parasitária humana; Pela primeira vez na história, um mesmo pesquisador descobriu a doença, bem como seu agente etiológico, vetor, reservatórios domésticos e silvestre e animais de laboratório susceptíveis a infecção. O legado de Carlos Chagas 1909: Carlos Chagas descobriu a doença, provocada pelo Tripanosoma cruzi – doença de chagas; 1917: Carlos Chagas assumiu a direção do Instituto Oswaldo Cruz; 1920: Reforma Carlos Chagas – reorganização dos serviços de saúde pública e criação do Departamento Nacional de Saúde Pública; 1923: Primeira reforma sanitária brasileira – um novo código sanitário permitia que o poder central intervisse nos serviços estaduais de saúde pública; Introduziu a propaganda e a educação sanitária nas ações de saúde pública. O legado de Carlos Chagas Implementado no período da industrialização brasileira e crescimento do processo de urbanização; Para atender as necessidades de saúde dos trabalhadores (operários das fábricas) para evitar prejuízos econômicos; Previdenciário: assistência médico-hospitalar para trabalhadores urbanos e industriais na forma de seguro-saúde/previdência. Modelo Médico-Assistencial Privatista Inicialmente, antes do INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), este modelo começou com as Caixas de aposentadorias e pensões (CAPs). Os trabalhadores das indústrias, ferrovias e bancos organizaram as CAPs com benefícios aos seus filiados e dependentes, incluindo assistência médica com contrato contributivo; Década de 1930: o recém criado Ministério do Trabalho organizou as CAPs, que se tornaram Instituto de Aposentadorias e Pensões (IAPs), de caráter nacional e com participação direta do Estado. Modelo Médico-Assistencial Privatista O governo unificou o sistema previdenciário e incorporou a assistência médica, que já era oferecida pelos vários institutos de previdência; Contratos e convênios com os hospitais privados, pagando pelos serviços prestados aos usuários do INPS; A arrecadação previdenciária possibilitou o crescimento do setor e a criação de uma grande estrutura hospitalar privada situada nos grandes centros urbanos; 1978: aumento da população e da arrecadação e ampliação do sistema de CAPs levou a criação do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) Década de 1970: Criação do INAMPS O Ministério da Saúde foi instituído em 1953, com o desdobramento do então Ministério da Educação e Saúde em dois: saúde separado de educação e cultura; O Ministério da Saúde passou a se encarregar especificamente das atividades até então de responsabilidade do Departamento Nacional de Saúde (DNS); Coube a pasta de saúde apenas um terço dos recursos: sem condições suficientes para assistir a maioria da população, a margem de qualquer proteção social. Criação do Ministério da Saúde Saúde Pública: campo de conhecimento interdisciplinar, com disciplinas básicas como epidemiologia, gestão em saúde e ciências sociais em saúde; Saúde Coletiva: um espaço de crítica permanente à Saúde Pública, de tendência crítico-socialista, com redefinição das práticas de saúde, não se limitando ao sanitarismo. Saúde Coletiva - 1970 Final da década de 1970: segmentos da sociedade civil (usuários, profissionais de saúde pública), insatisfeitos com o sistema de saúde, iniciaram um movimento que lutou pela “atenção à saúde” como um direito de todos e dever do Estado com a participação social (Reforma Sanitária Brasileira); 1988 – Criação do SUS: Constituição de 1988; regulamentado pelas Leis Orgânicas da Saúde (Leis 8.080/90 e 8.142/90). 1986: avançaram e organizaram-se as propostas da Reforma Sanitária na VIII Conferência Nacional de Saúde; Delinearam-se os fundamentos do SUS em 03 princípios doutrinários: universalidade, integralidade e equidade. Reforma Sanitária e Criação do SUS
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