Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A r istóteles (i) Os Pensadoiés Os Penxadorás Arisiólrlo.s "Aristóteles foi, durante séculos, o oráculo da filosofia, e sua obra foi olhada como a soma dos conhecimen tos humanos; emancipandose de sua autoridade é que a filosofia abriu no vos caminhos- Todavia, se hav>a aca* bado por ae esderasar numa escolásti- ca, o pensamento aristorélíco foi, em sua fonte, animado por imensa curiosi dade científica e vigoroso espírito crftí-_ _ itCO. JOSEPH MQREAU: Aristtite el $on Éco- k. "Corno, por quais meios argumen- tativos, obtém-se uma intensidade sufi ciente de adcsáo dos espíritos? O estu do filosófico desíe problema foi inieira- mence negligenciado pelos modernos. É verdade que houve, no século passa do, alguns padres de grande reputação e admirável perspicácia, tais como o arcebispo Whately e o cardeal New* man, que se ocuparam do assunto, em consequência de questões suscitadas pela prédica Num domínio inteira- rnente diferente, o assunto também atraiu a atenção, em particular nos Es tados Unidos, dos especialistas em pu blicidade e propaganda. Mas é aos pensadores da Antiguidade greco-ro» mana, ao Aristóteles dos Tópjcos e da Retórica, e ao Quintiliano da institui ção Oratória que õ preciso volver, se se quer encontrar precursores para nos- so modo de encarar o problema da ar gumentação/' CHAtM PÊRELMAN: Rhétorique et Phi- bsoplue O s P e n sad o iés Cl? BruMÍ CiiuiJogaçao-na-PiJhitĉ i,̂ 13 Câmara Brasileira do Livro. SP ■ > ã á Anstócçles. 3ÍI4-322 A.C. 1'óplcoh , Dos argumentou miÍÍMicos • Aristóteles ; tfckçào de tçx- tos de Jo&C Américo Motía Fes&anha : tradução de I-cond Vallandro t- Cierd Knmheim iiu vmàü ingli2s.ii de W. A. Pick ard. — 2. cil. — Sfinj Paulo ! Abril Cultural, 1983* I Os pcxt&odurcs > toclui vida e obra de Armóldes. Bihlíografía. 1 Amtôtelç*. 384 322 A,Ç 2. PlloAüftj antiga l Pensantes, José Américo Mou, 1932- 11 riiuk) Tópicos. Ilt. Título : Dos arpu- mcnuxv solísticos, IV, Série. 83-Ú530 CDD 1K5• m m índices para catálogo sísicmácko: 1. Anstósclcs . Obrui 1&3 2. Filosofia itriSlGIéUca 185 3r FllOsofos antigos: Bsopjafia c obra 180.92 ARISTÓTELES TOPICOS * DOS ARGUMENTOS SOFÍSTICOS Scrlrçãn de tcxitm de Jo*c Américo MuUa PcsMmba Tmduçáo dc LemwJ Vailandríi l* G *rd Knrnheim da ttrfião inglesu dc W A Pickard — Ca.mbritlgc 1983 E D ÍT O R ; V IC T O R C H IT A Título original: Tosrwí iTápicasl Xótfiifnxol ÍX< yxot (Bôs Arfiumemai Saffaüfíttf t ' Copyriftu dcuiiediçã». Abril S À . Cultural. S ju Paulo, 3978. - ? • edição, 1983. Traduções puMiêadas »ub licença d;i Edtiura üMxi 5 A.. Fbfíú Alegre ARISTÓTELES » VIDA E OBRA José Américo Mattn !V«anli* * M A tenas., 3b? ou 3bü a.C. Ao grande centro intelectual e artístico da Grécia no século IV a.C . chega um jovem de cerca de de zoito anos, proveniente da Macedônia. Como muitos outros, vem atraído pda intensa vida cullurai da cidade que lhe acenava com oponunidades para prosseguir seus estudos. Não era belo c para os padrões vigentes no mundo grego, príncipalmente na Atenas daquele tempu, apresentava características que poderíam diíicultar-lhe a car reira e a projeção social Em parlicular urna certa dificuldade cm pro nunciar corretamente as palavras deveria criar-lhe cmbumçus c mes mo complexos numa sociedade que, além de valorizar a beleza física e enaltecer os atletas, admirava a eloquência e deixava-se conduzir f>or oradores. Naquela época duas grandes instituições educacionais disputa vam em Atenas a preierõnría dos jovens que, através dc estudos supe rrores, pretendiam se preparar para exercer com êxito suas prerrogati vas de cidadãos e ascender na vida publica. De um lado, Isôcrates. seguindo a trilha dos sofistas, propunha-se a desenvolver na educan do a are/ê política — ou veja, a "virtude' ou capacitação para lidar com os assuntos relativos A pôtis — transmitindo-lhe a arte rio "emitir Opiniões prováveis sobre coisas úteis". E, de fato, numa democracia como a ateniense, cujos destinos dependiam em grande parte da atua ção de oradores, a ane tle persuasão por meio da palavra manipulada com o brilho e n eficácia dos recursos rt-tóricos ora fator impréscindí vel para o desempenho de um papel relevante na odade-Estado. Ao conirárlo de Isôcrates, Platão ensinava que a base para a açao políti ca — como aliás para qualquer ação — deveria ser a investigação científica, de índole matemática. Na Academia, que fundara em 387 a .C , mostrava n seus discípulos que a atividade humana, desde que pretendesse ser Correta e responsável, não podería ser norteada por valores instáveis, formulados segundo o relativrsmo e a diversidade das opiniões; requeria uma ciência (epistemei dos fundamentos da realidade na qual aquela ação está inserida. Por trás do inseguro uni verso das palavras — suienas à arte encantatóría e à prestidjfjitaçáo dos retóricos — o educando deveria ser levado, por via do socrático exame du significada das palavras, à contemplação, tio ápice da as- cençáo dialética, das essências estáveis e perenes núcleos de Signifi cação dos vocábulos porque razão de ser das próprias coisas, pa drôés para a conduta humana porque modelos de todos os existentes do mundo físico. Para além do plano da paIavra-cunvenção (nornos) VIII ARISTÓTELES dos sofistas e de Isócrates, Platão apontava um ideal de linguagem Construída em função das idéias, essa; justas medidas de significação e de realidade, Diante das dois caminhos — O de Isócrates e o de Platão — o jo vem chegado da Macedônia não hesita: ingressa na Academia., embo ra a advertência da inscrição de que ali não devesse entrar "quem não soubesse geometria . Mas em 367 a.C. Platão não se encontrava em Atenas. Havia morrido Dionísto i, tirano de Siracusa, e Platão pa ra lá se dirigira, pela segunda vez, a chamado cie seu amigo Dion. O novo tirano. Dionísio II, talvez pudesse ser convencido a adotar uma linha política mais justo e condizente com os interesses gerais do mundo helênlco. O iovom que viera da Macedônia ingressa, assim, numa Acade mia na qual a figura principal era, no momento, Eudoxo de Cnido, matemático e astrônomo que defendia uma ética baseada na noção de prazer. 5omente cerca de um ano depois é que Platão retorna, fati gado por mais uma frustrada experiência política na Sicílía. E talvez tenha sido o próprio Eudoxg quem lhe apresentou o novo aluno da Academia, o jovem da Macedônia de olhos pequenos porém revela dores de excepcional vivacidade: Aristóteles de Eslagito, O preceplor de Alexandre De puta raiz jõnlca, a família de Aristóteles estava tradirional- mente ligada á medicina e à casa reinante da Macodftnia. &eu pai, Ni- còmaco, era médico e amigo do rei Amintas II, pai tJe Filipe. Estagira, a cidade onde Aristóteles nasceu, em 384 a.C ., ficava na Calcídica e, apesar de estar situada distante de Atenas e em território sob a depen dência da Macedônia, era na verdade uma cidade grega, onde o gre go era a língua que se falava, A vida de Aristóteles e pode-se dizer que até certo ponto sus obra estará marcada por essa dupla vincu laçào: á cultura helênrca e à aventura política da Macedônia, Ao ingressar na Academia platônica — que viría a frequentar du rante cerca de vinte anos — Aristóteles )ú trazia, como herança de seus antepassados, acentuado interesse pelas pesquisas biológicas. Ao maternalismo que dominava na Academia, eíe irá contrapor o es pírito de observação o a índole dnssificíitôria, típicas da Investigação naturalista, e que constituirão traços fundamentais de seu pensamen to. Por outro lado, embora de raízes grega;, ele não era cidadão ate niense e eslava estritameme ligado à casa real da Macedônia. Essa condição de meteco — estrangeiro domiciliado numa cidade grega — explica que ele náo viesse a se tomar, como Platão, um pensador político preocupado com os destinos da póhs e com a reforma das ins tituições. Diante das questóe; políticas Aristóteles assumirá a atitude dohomem de estudo, que se isola da cidade em pesquisas especulati vas, tozendo da política um objeto dc erudição e não uma ocasião pa ra agir. Em 347 a.C-, morrendo Platão, Aristóteles deixa Atenas e vai pa ra Assos, na Ásia Menor, onde Hémnias, antigo escravo e ex-integran te da Academia, havia se tomado o governante É possível que a esco lha de Espeusipo. sobrinho de Platão, para substituir o mestre na dire ção da Academia, tenha decepcionado Artístóteles; sua destacada VIDA E OBRA IX atuação naqueles vinte anos parecia apontá-lo como o mais apto a as sumir a Chefia. Três anos depois que Aristóteles havia se transferido para Assos, Hérmias loi assassinado, Deixou crttoo a cidade, levando em sua companhia Pífias, sobrinha do tirano morto, e que se tomou sua primeira esposa. Mais tarde, morrendo Pífias despa sara Herpílis, que lhe dará um filho, Nícômaco. Saindo de Assos, Aristóteles permanece dois anos em Mitilenç. na ilha de Lesbos. F o momento cm que a Macedônia, garantida pelo poderio militar, começa a manifestar suas vaslas ambições políticas Filipe, em 343 a .C ., chama Aristóteles à corte de Rela e conrfia-lhe im portante missão: a do educar seu filho, Alexandre. Durante anos o fi lósofo encarrega-se dessa missão. É ainda preceptor de Alexandre quando, em 338 a .C . os rruicedômos derrotam os gregos em Quero- néia Chega ac* fim a autonomia das cidades-Estados que caracteriza ra a Grécia do período helêmco. A partir de então — dominada peto Macedônia, mais tarde por Roma a Grécia integrará amplos orga nismos políticos que diluirão suas fronteiras <? atenuarão as distinções culturais que tradicionalmeníe separavam os gregos de outros povos, sobretudo os "bárbaros" orientais Em 336 a.C ., Filipe é assassinado c Alexandre sobe ao trono. Lo- gu em seguida prepara urna expedição ao Oriente, iniciando a cons trução de seu grande império. Nada mais justificava a permanência dc Aristóteles na corte de Pela. £ o momento de voltar a Atenas. Lá, próximo au templo rJedlcado a Apoio Liceano, abre uma escola, o Li ceu, que passou a rivalizar com a Academia, então dirigida por Xcnó- crates, Do hábito - aliás comum em escolas da época — que itrtham os estudantes de realizar seus debates enquanto passeavam, teria sur gido o termo peripãlitíços (que significa "os que passeiam") para de signar os discípulos de Aristóteles, Ao contrário da Academia, voltada lundamentalmente para inves tigações matemáticas, o Liceu transformou-se num centro de estudos dedicados principal mente às ciências naturais. De terras distantes, conquistadas em suas expedições, Alexandre enviava ao ex-precepior exemplares da fauna e da flora que iam enriquecer as coleções do Li ceu Mas o biologismo era mais que uma perspectiva de escola: lor- nou-se marra central da própria visão científica e filosófica de Aristó teles, que transpôs para toda a Matureza categorias explicativas per tencentes origlnariamente ao domínio da vida, Em pariteutor, a noção de espécies lixas — sugerida peto observação do mundo vegetal e ani mal — exercerá decisiva influência sobre a física e a metafísica aristo- télicas, na medida em que se reflete na doutrina do movimento, ela- Lxirada por Aristóteles. Apesar da estima que Alexandre parece ter devotado sempre a seu antigo mestre, uma barreira os distanciava; Aristóteles não concor dava com a fusão da civilização grega com a oriental. Segundo de, gregos e orientais eram naturezas distintas, com distinras potencialida des, e não deveríam coexistir sob o mesmo regime político. Aristóte les estava profundamente convencido de que o regime* político dos gregos era inseparável dc seu temperamento, sendo impossível trans feri-lo para outros povos, Estabelece nítida distinção entre a* popula ções "bárbaras e a /xif/s grega, somente esta sendo uma comunida de perfeita, pois a única a permitir ao homem uma vida verdadeira- mente boa segundo os princípros morais e a justiça. X ARJ5TÚ PELES Depois cfa morte de Alexandre, cm 3ÜS3 a .C , Aristóteles passou a ser hostilizado pela facção antinvarpdõnica, que o considerava poli ricamente suspeito. Acusado de impiedade, deixou Atenas e refugiou- se em Cálcis, r>a Eubéia. Aí morreu no ann de 322 a.C O que restou da grande obra A partir de declarações do próprio Aristóteles, sabe-se que ele realizou dois tipos de composições: as endereçadas ao grande publi co, redigidas em forma mais dialética do que demonstrativa, e os es critos ditos filosóficos ou científicos, que eram lições destinadas aos alunos do Liceu. Estas ultimas foram as únicas que se conservaram, embora constituam pequena parcela do total que c atribuído, desde a Antiguidade, a Aristóteles. As obras exotóricas, destinadas à publicação, eram frequente mente diálogos, imitados dos de Platão. Delas restaram apenas frag mentos, conservados por diversos autores ou referidos em obras de es critores antigos. De dois desses diálogos, ambos escritos enquanto Platão ainda vivia, ficaram vestígios mais ponderáveis: do Eudemo — que, a semelhança do Fédon de Platão, tratava da Imortalidade da al ma — e de Profético, um elogio da vida contemplativa e um convite á filosofia. Prntótipcj de uma espécie de obra que se tornou muiro apreciada pelos antigos, esse diálogo füi mais tarde imitado por Cíce ro <106-43 a.C.I no seu HnrtenstUS — a obra que despertará a voca ção filosófica de Santo Agostinho (354-4301. Depois que deixou a Academia e durante o período em que esteve em Assos. Aristóteles ps- creveu o diálogo Sobre a Filosofia, no qual combate a teoria platôni ca das idéia*, particularmente a teoria dos números ideais, que carac terizara a ultima fase do platonbmo. Como o Timeu de Platão, o So bre a Filosofia apresenta uma concepção casmológica de cunho fina lista e teológico; mas. ao contrário do que propunha Platão, o univer so é ai explicado não à semelhança de uma obra de arte — resultado da ação de um divino artesão, o demiurgo — , e sim como um orga nismo que sc desenvolve graças a um dinamismo interior, um prirtCÍ- piú imanente que Aristóteles denomina “natureza’4 fphysis) As obras de Aristóteles chamada* acroamáticas, ou seta, eompus- las para um auditório dc discípulos, apresentam-se sob a forma de pe quenos tratados, muitos dos quais reunidos sob um rftulo comum (co mo é o caso ria Física). A arrumação desses tratados cie modo a consti tuir as séries que integram o conjunto das obras de Aristóteles — o Corpus àrisiutelicum — , remonta á Andròmco de Rodes, que dirigiu a escola peripatética no século I a.C. O conteúdo do Corpos aristateíicum apresenta uma distribuição sistemática: Primeiro, os iratartos de lógica cujo conjunto reccbcu a denomi nação de Organcm já que para Aristóteles a lógica nao seria parte integrante da dê noa e da filosofia, mas apenas um instrumento iorg.i- nom que eia* utilizam em sua construção. O Organon inclui: as Cate gorias. que estudam os elementos dt> discurso os termos da lingua gem; Sobre a Interpretação, que trata do juízo e da proposição; os Analíticos iPrimoiros o Segundas), que se ocupam do raciocínio for mal (silogismo/ e a demonstração científica; os Tôptcos, que expõem VIDA t t JBRA XI um mélndo de argumentação geral, aplicável em todos 05 setores tan to rwb discussões práticas quanto no campo científico; Dos Argumen- tos Sofisticas, que complementam os Iépicos e investigam os tipos principais de argumentos capciosos. Após o Organon, o Corpos aristotelicum apresenta obras dedica das ao estudo da Natureza Uma primeira série de tratados refere-se acj mundo físico, compreendendo: a Fteicu, que examina conceitos gerais relativos ao mundo tísico (natureza, movimento, infinito, va zio, lugar, tempo etc.); o Sobre o Céu (De Coelo) e o Sobre a Cora ção o u Corrupção (De Generaltonç et Curruptionel, estudos sobre o mundo sideral e u sublunar; finai mente rjs Meteorológicos, relativos aos fenômenos atmosféricos. O Tratado da Alma (Dc Anita,i) abre a série de nbrjsreferentes ao mundo vivo sendo seguido de pequenos tratados sobre diferentes funções (a sensação, a memória, a respiração etc,) e geralmente co nhecidos sob a denominação latina posterior de Parvâ natural ia Mas da série relativa aos seres vivos a obra principal é a História dos Ani mais, contendo o registro de múltiplas c minuciosas observações, A sequência rie obras dedicadas á filosofia teórica ou especulati va é encerrada por catorze livros sobre a filosofia primeira, ou seja, sobre os primeiros princípios e as primeiras causas de toda a realida de. Situadas após os tratados relativos ao mundo físico, esses tratados receberam a designação geral de Metafísica. Mas, já na própria Anti guidade tal denominação recebeu uma interpretação neoplatônita: aqueles livros abordariam questões referentes 3 um plano do realida de situado além do mundo físico. Depois da filosofia teórica seguem-se, no Corpus arlsioieficum, as obras de filosofia pratica: a ética e a Política. Das várias versões existentes da éírca aristotéllca, a principal <• a ética .1 Nicômaco, as sim chamada porque o filho de Aristóteles foi quem primeiro a edi tou. Por sua vez, a Éliia a Eudemo (: hoje geral mente considerada co mo uma redação mais antiga da ética rie Aristóteles, editada por seu discípulo Eudemo de Rodes. );i ,» Grande Moral (Magna Mor.il 1,1 f seria um resumo da mesma Éticu, lento em época posterior. A obra denominada Política ê r>a verdade um conjunto dc oito li vros que não apresentam eneadeaimcnto rigoroso. À Política segue-se u Retórica, qur se vincula, devido ao rema. á arte da argumentação ou dialética exposta nos Tôpkos (Organon), Por fim, o Córpus aristo- telicum apresenta a Poética, da qual restou apenas fragmento. Além desses trabalhos considerados autênticos, o Corpus abran ge ainda alguns escritos que a critica revelou serem apócrifos, como o Sobre o Mundo (Dc Mundo), os Problemas, o Econômico e o Sobre Mc/isso, Xcnofanes e Górgias. A verdade e a história O Corpus aristotelicúfo apresenta 0 pensamento de Aristóteles com uma feição sistemática, como vasto conjunto enciclopédico no qual os mais diversos problemas são elucidados de forma aparente mente definitiva. As soluções propostas por outros pensadores são pre- viamenie analisadas e criticadas — e dessas criticas Aristóteles pane frequentemente para a formulação de suas próprias concepções. O ca XII ARtSTÓI LLL'.' ráter sistemátiro que revestiu, desde a Antiguidade, o pensamento aristotéliíro, certa mentç contribuiu para que, sobretudo na Idade Mé dia, Aristóteles passasse a ser encarado como a grande auroridade em matérias filosóficas e científicas: era o filósofo, que ter ia construído uma doutrina de âmbito universal e de validade permanente, iniernpo- ral. Seus textos, por isso mesmo, mereceríam não propriamente com- plemenrações Ou correções, mas antes análises e comentários. Toda via aquele aspecto sistemático e a aparente fixidez foram reaprecia- dos por modernos historiadores da filosofia que — sobretudo a partir de Werner |aeger (1888-1961) — passaram a ressaltar a evolução in terna revelada pelas idéias de Aristóteles, mesmo em obras de finali dade fundamenta Imente didática (as acrcamâticas, que constituem, aliás, a quase totalidade das obras que foram preservadas). Por outro lado, o apelo constante á evolução dos problemas, an tes de para des propor sua solução, confere a Aristóteles o título de primeiro historiador da filosofia. Na verdade, dele provém o primeiro esforço de explicação sistemática do desenvolvimento das idéias filo sóficas. Não apenas informações esparsas — como já haviam apareci do em escritos de outros filósofos, particularmente em Platão — , mas uma tentativa de encadeamento das diversas doutrinas anteriores, com base numa explicação dos próprios motivos que teriam levado os homens, desde fases pré-filosóficas, a elaborar Sucessivas e cada vez mais aprofundadas concepções. Mostrando a chave desse proces so, Aristóteles, por isso mesmo, apresenta-se como seu ponto termi nal: em sua obra, as u-ntativas do passado teriam atingido plena o sa tisfatória formulação, Em nome dessa verdade alcançada — a soa ver dade. a verdade de seu sistema filosófico — Aristóteles pretende en tão julgar as filosofias de seus predecessores, mostrando-lhes as falhas c os cquívOcos. O surgimento da história dá íiloboíiü está. desse rno- do. estreitamento vinculado ao ansfotelismo. já que à luz de suas dou trinas é que, pela primeira vez, foram relacionados e interpretados os primeiros filósofos. Devido ao interesse do Liceu por assuntos histórico*;, mais tarde alguns seguidores de Aristóteles — continuando o trabalho iniciado pelo próprio mestre — coletarão textos e alusões ás doutrinas dos filó sofos mais antigos. Esse levantamento das opiniões dos primeiros pen sadores, chamado "doxograíift ', feito segundo prantos de vista urisio télicos, tornou-se uma das fontes principais para a recuperação das doutrinas dos pré-socráticos. Mas os historiadores modernos precisam realizar meticuloso esforço crítico para restabelecer o sentido Original daquelas doutrinas, extraindo-o de sob interpretações aristotelizantes. Muitos desses historiadores insistem nas "deformações" sofridas pelas idéias dos outros filósofos quando reportadas c analisadas por Aristóte les e pelos doxógraíos aristotéliços Tal "deturpação" tem, porém um motivo fundamental: como em todas as histórias da filosofia que serão desde então produzidas, existe por trás da história da filosofia contida nas obras de Aristóteles uma fílosona que a predetermina. No C3*o de Aristóteles, essa filosofia é naturalmente o próprio aristotelis- nio, que construíra uma explicação particular do movimento, da transformação e, consequentemente, das mudanças históricas. Assim, sc- o aristotelismo formula uma verdade válida universal e intempnra!- mente — como Aristóteles parece acreditar— , é natural que essa ver dade supostamente absoluta seja utilizada para julgar a própria hisró- VIDA E Ü£tKA XIII na dentro da qual teria sido gerada, justa mente porque ela se Conce bo como progressivamente preparada alravés do tempo (pelas "anteci pações'' dos pensadores precedentes}, e que,, ao ecfodir, rom preten são de plenitude e de validade mtemporal, volta se paru o passado e procura desvendar-lhe o sentido: a meta atingida pretende conter a ra zão de ser de todo o itinerário seguido pelas investigações humanas. Essa 3 causa fundamental de o arrstotelismo -'dfÍ5toteliz,ifr a história da cultura e. particularmente, a história da filosofia. Mas há outros motivos que levam Aristóteles a partir sempre do passado e fazer a história dos problemas que investiga. E sáu motivos historicamente compreensíveis: Aristóteles procura alicerçar sua pró pria filosofia no consenso geral, no consensum gentium el temporum, ou seja, num suposlo acordo subjacente às opiniões das diversas pes soas nas diferentes épocas. Ele não pretende que suas idéias represen tem renovações absolutas, nem manifestem absoluta originalidade. Apresenta-as, ao contrário, como a formulação acabada de conceitos que a humanidade vinha progressiva e espontaneamente elaborando, desde fases anteriores às especulações teóricas. Aristóteles não quer que sua vls&o-de-mundo pareça paradoxal aos olhos do I)ornem co mum ou em ctmironto com a tradição — ao contrário do que preten dia, na época, uma filosofia como a dos Cínicos. Estes desenvolviam, a partir do socratismo, uma ética baseada nu ideal de retorno à naiu rçza autêntica do homem e, por isso mesmo, avessa às convenções, sociais. Aristóteles, porém, não faz filosofia para chocar a mentalida de corrente; seu propósito pares ia ser. antes, o de abolir o •'escânda lo filosófico", que ali mesmo, na Atenas onde abrira o liceu, jó rcsul tara em perseguição paro A na va goras e em morte para Sócrates Pas sada a rase do dramática penetração das Idéias filosóficas em Atenas — antes desenvolvidasCm terras da lõniu ou da Magna Créoa, por tanto nos extremos orientais e ocidentais do mundo hcicnico —► pare cia necessário mostrai que aquelas idéias nao sc* opunham funda men ta Imente ao senso comum, nem demoliam as tradições que serviam dc justificativa íl organização política ç social vigente. Essa parece ter sido uma das tareias centrais a que se propôs Aristóteles e daí o cuidado em legitimar -aja própria posição filosófica apelando pa.ni re motos anterendenlcs que, preparando-a, garantem-lhe o caráter de posição espontânea, natural, sensata tporv baseada no senso comum h A grande quantidade de citações de outros pensadores e a frequente utilização da tradição poética para corroborar suas leses filosóficas pa recem ser também indícios daquele cuidado. Do mesmo modo po~ der-se-ia explicar a importância que ele atribui aos provérbios: resu mos de nntiqüíssíma sabedoria e frutos da longa experiência da huma nidade, a des Aristóteles não pretende se Lontrápor. e sim preservá- los, desenvolvê-los e conduzi-los h plenitude, dando-lhes forma defi nida e fundamentos racionais. Toda a obra de Aristóteles está, pui is so mesmo, animada por forte senso de unidade do mundo da < ulturn e pelu historicismo drtado. em última instância, por suas concepções metafísicas. Da dialética à lógica Platão ensinava na Academia t» nos seus Diálogos que a u jiii XfV ARISTÓTELES preensão dos fenômenos que ocorrem no mundo físico depende de uma hipótese a existência de um plano superior da realidade, atirigí- do apenas pelo intelecto, e constituído de íorrms ou idéias, arquéti pos eternos dos quais a realidade concreta seria a cópia imperfeita e perecível, Através da dialética - feita dc sucessivas oposíções e su perposições de teses — seria possível ascender do mundo físico (apreendido pelos sentidos e objeto apenas de opiniões múltiplas e mutóvçisi ã contemplação dos modelos ideais (objetas da verdadeira ciência), A dialética cra, todavia, uma construção marcada pda índole hi potética da matemática que inspirou o platonismo Tanto que, mais tarde, seguidores de Platão da fase chamada Nova Academia serão al guns rios principais representantes do ceticismo amigo. Novas e ad versas circunstâncias históricas — resultantes da perda da liberdade po lítica da Grécia — impedirão o otimismo que fizera Platão fundamen tar u conhecimento científico no Bem. Mo ápice da pirâmide de idéias, essa superessênda era o garantia ultima da certeza do conheci mento, transmutando em verdade o que fora inieialmmte uma tessitu ra de afirmações apenas prováveis, Mas desde que seja abolida a sus tentação do Conhecimento no Bem nào-hi patético, o platórtismo ira se revelar na formulação dós integrantes d.i Nova Academia, terreno propicio à frutificação de teses relativisJas è céticas. Aristóteles justamente )á terin percebido que a diaíélica platônica sd se comprometia com a certeza em última instância o que confe ria ao plaionismy suo inquietação permanente e sua flexibilidade, dei xando-o, porém, sob a constante ameaça do rolativismo. O projeto aristotélico torna-se, então, o de forjar um instrumento mau» seguro para a constituição do ciência: o Orgâfion. Nele a dtdléiicd é reduzi da à condição de exercício mental que, não lidando com as própria*, coisas mas com av opiniões dos homens sobre as coisas, não pode dting.it a verdade, permanecendo no âmbito da probabilidade, Essa concepção da dialética como uma " ginástica do espirito", útil como fase preparatória para o conhecimento, mas incapaz de chegar ã cer teza sobre as coisas, justifica a concepção aristotélica da história e, em particular, da história da filosofia: a história — inserida no domí nio ria dialética — é útil e Indispensável na medida em que conduz á sua própria superação, quando o provável se transforma em certeza Ou quando as opiniões dos antecessores preparam z? dão lugar à ver dade que somente seria alcançada pelo pensamento urístotélico. Para se atingir a certeza científica e construir um conjunto de co nhecimentos seguros, torna-se necessário, segundo Aristóteles, pos suir normas de pensamento que permitam demonstrações corretas t\ portanto, irngtorqufveis O estabelecimento dessas normas confere a Aristóteles o papel de criador ria lógica formal, entendida como a par te da lógica que prescreve regras de raciocínio independentes do con- teúçlo dos pensamentos que esses raciocínios conjugam. Mas a lógica arisiotêlica nasce num meio de retóricos e de suns aqjumenladpms. Paz-se necessário, portanto, partir de uma análise da linguagem Cor rente, para identificar seus diferentes usos e, ao mesmo tempo,, enu merar os diversos sentidos atribuídos ás palavras empregada; nas dis cussões. Eis por que as Cütvgprid* abrem o Organon com pesquisas sobre dh palavras, procurando inclusive evitar os equívocos que resul tam da designação de coisas diferentes através do mesmo nome Iho- VIDA E OBRA XV nnônimol ou da mesma coisa por meio de diversas palavras (sinôni mos), A teoria das proposições apresentada no Sobre a fntcqMVtação ba seia-se numa tçsç dc amplo alcance, pois realiza uma extraordinária simplificação no universo da linguagem: ioda proposição seria o enunciado de um juízo através do qual um predicado 6 atribuído a de terminado sujeito. A"r proposições podem então ser classificadas em universais ou particulares,, se o atributo é afirmado (ou negado) do su jeito como um todo (por exemplo: "Todos os homens são mortais |, ou se é afirmado (ou negado; de apenas parte do sujeito ("Alguns ho mens são gregos”). Aristóteles estabelece ainda a distinção entre cinco tipos possí veis de atributos: u gênero, a espeoe. a diferença e o acidente n gê nero refere-se h classe mais ampla a que o suioito pode pertencer ("O homem 6 um anima/"); a diferença é que permite situar o sujeito rela tivamente às subdasses em que se divide o gênero C O homem é ani mal racionar'); jã a esptSçto constitui a síntese do gênero c da diferen ça ("O homem é animal rucioflut") O próprio e o acidente são atribu tos que nao fazem parte da essência do sujeito, pois não dizem o que ele é: todavia, n próprio guarda em relação aquela essência uma de pendência necessária ("A soma dos ângulos internos de um triângulo equivale a 1 HO1"'’), enquanto o acidente pode ou não pertencer ao su jeito, ligando-se a ele de modo contingente <? podendo scr afirmado de outros tipos dc sujeitos ('Este homem é magro” ). Por que Sócrates é mortal Aristóteles concorda com Platão ao considerar que só podo ha ver ciência do universal. Mas o conhecimento do universal e necessá rio implica a consciência das rnzòcs que tornam necessária uma deter minada afirmativa Essa necessidade torna-se evidente apenas quando se apresenta a explicação daquela asserção, isto ê. quando se mostra sua causa. O encadeamerito rigoroso do proposições, de modo a ex primir um raciocínio que prelunda concluir por uma afirmativa neces sária, é o que Aristóteles investiga nos Analíticos, Platão, através do método da divfcSo, procurava chegar a defini ções. como exemplifica no diálogo Sofista, poder-se-ia obter .1 delmi- ção de uma espécie por sucessivas divisões do gênero em que ela esti ver contida Mas Aristóteles considera insuficiente esse procedimento platônico, pois as dicoromias sucessivas colocam opções sem determi nar necessariamente qual dos dors rumos deve ser tomado. Com sua doutrina do silogismo, Aristóteles pretende resolver os impasses cria dos peia simples dicütomta, apresentando um encadeamento que se gue uma direção mroercívcl, rumo à conclusão. Com efeito, o silogis mo seria um raciocínio no qual, determinadas corsas sendo afirma das, segue-se inevitavelmente outra afirmativa. Assim, partindo-se das premissas "Todos ns homens são mortais" o "Sócrates é homem" — conclui-se fatalmente que "Sócrates é morial". A conclusão resul ta da simples culucdção das premissas, nãu deixando margem a qual quer opção, mas rmpondo-secom absoluta necessidade. Todo o mecanismo silogístico repousa no papel desempenhado pdu charnado termo mprltn ChomenrT, que fornece a razão do que ARIilOTF! fs é afirmado ha conclusão: porque -é homem, Sócrates é mortal. Esse mecanismo funciona com rigor, indcpcndcniomente do conteúdo das proposições em confronto. Isso significa, porém, que se pode aplicar o silogismo a proposições falsas, sem prejuízo para a perfeição formal do raciocínio ("Todos os homens são imortais; Sócrares é homem; lo go, Sócrates é imortal"). Mas a ciência náo pretende, segundo Aristó teles. ser dotada apenas de coerência interna: ela precisa ser construí da pelo perfeito encadeamento lógico de verdades. Assim, o silogis mo que equivale à demonstração científica deverá ser um raciocínio lormalmente rigoroso mas que parta de premissas verdadeiras. Des de que a demonstração baseia-sc em pressupostos que da mesmo não sustenta, o conhecimento demonstrativo passa a pressupor um co nhecimento não-demonstrativo, capaz de atingir, de modo não discur sivo mas imediato, verdades que constituem os princípios da ciência. Para Aristóteles, os conhecimentos anteriores à demonstração se riam ou verdade* indemonstrávek os axiomas, que se impõem a qualquer sujeita pensante e que se aplicam a qualquer objeto dc co nheeimento (como o princípio de contradição, que afirma que toda proposição ou ê verdadeira OU é falsa), ou então seriam definições no minais que explicitam o significado dc determinado termo ("triângu lo". por exemplo) e que são utilizadas como reses, ja oue são simples mente postas como pontos dc partiría para uma demonstração. Os axiomas seriam comuns a todas as ciências, enquanto as definições nominais diriam respeito a setores particulares da investigação científica Aristóteles considera que não basta â ciência ser internamente coerente: ela deve também ser ciência sobre a realidade. Desse mo do, náo é suficiente que ela parta de axiomas e teses, desenvolvendo- se dedutiva mente com rigor lógico. A definição nominal diz apenas o que uma coisa ó, mas não afirma que ela é, ou seja, que real mente exime. Afirmar a existência seria, assim, mais do que apresentar uma tese, explorar o significado de uma palavra: seria assumir uma hipóte se. Através de hipóteses, cada ciência afirma a existência de certos objetos o que náo pode ser feito por demonstrações, antes perma necendo na dependência de uma reflexão sobre o que existe enquan to apenas existo, sobre o "ser enquanto ser". A lógica, para náo ficar restrita ao domínio das palavras e para atingir a realidade das coisas - constituindo um instrumento para a ciência da real idade remo- te, portanto, a especulações metafísicas. As definições buscadas pelo conhecimento científico não devem ser simples esclarecimentos so bre o significado das palavras, mas sim enunciar a constituição essç-n Ciai dos seres. Definir "homem'' como "animal racional" significa, para Aristóteles, mostrar um liame necessário que, no caso da espé cie "homem", liga determinado gênero {"animal"), o mais próximo daquela espécie, á diferença esitei. ifica ("racional" I, Justamenie por que deve apresentar um elo essencial e necessário entre gênero e dife rença é que não pode haver, por exemplo, definição essencial de "ho mem branco", jâ que “branco" é acidente, ou sela, um atributo não- essenci.il do "homem'' Pola mesma razão não pode haver definição essencial dos indivíduos; define-se "homem", mas não sc define "Só crates". Como qualquer indivíduo, "Sócrates" pode ser descrito minu ciosamente em seus caracteres peculiares — por isso mesmo não uni versais — , mas não pode ser jamais definido. O individual — Aristóte les concorda com Platão — não é objeto de ciência. VIDA E 08RA XVII Lógica e argumentação retórica A tentativa de ultrapassar o caráter hipotético da dialética platôni- ca náo constitui toda a dimensão do empreendimento lógico de Aris tóteles. De fato. com Aristóteles tem início o esforço sistemático de exame da estrutura do pensamento enquanto capaz de forjar provas racionais. Mas a teoria da prova racional contida na si logística dos Analíticos — e que serviu de ponto de partida da longa tradição da ló- gica formal, que evoluiu até a atualidade — não representa o único aspecto importante da investigação aristotélica no domínio da lingua gem e da prova, Justamente porque nascida num ambiente cultural onde a eloquência desempenhava decisivo papel político, o universo lógico de Aristóteles ê liem mni1- amplo. Como autor dos Tópicos, de Dos Argumentos Sofá ticos e da Retórica, Aristóteles também é ponto de partida da corrente que investiga outro tipo de comprovação rario- nah a comprovação dn tipo argumentarivo Ou persuasivo. Essa corren te, retomada e desenvolvida no século XX sobretudo pela Nova Retó rica de ChaVm Peretman. volta-se para a linguagem corrente, infor mal. buscando descobrir os requisitos da persuasão. Procura estabele cer as condições de mais torça persuasiva de determinado argumen to. O que se pretende náo é obter uma conclusão necessária, rrretor- quível e universal (à semelhança do que pretende o silogismo perfei to), por mçio de urn raciocínio coagente e impessoal, mas obter ou fortalecer a adesão de alguém a uma tese que lhe ê proposta. Por is so, permanece-se no âmbito do discurso náo-íormaluado — c talvez nâo-fomializável — , do interxubjetivo porque do díaJógico, do cir cunstancial e portanto do histórico, do temporal "O ser se diz cm vários sentidos" A construção de definições científicas através do relacionamento entre gênero próximo c diferença específica pressupõe um meticulosa levantamento dos seres, om sua hierarquia c subdivisões. No caso dos seres vivos, Aristóteles e os integrantes do Liceu realizaram esse trabalho prévm de classificação sistemática, baseado em acuradas ob servações, Puderam verificar, então, que as diferentes espécies se apresentam como variações de um mesmo tema, o gênero, Todos os tipos de passaros, por exemplo, revelariam uma estrutura básica co mum, que cada qual manifestaria diversameme, Platão, movido pela índole matemática de seu sistema, conside rava os objetos particulares e concretos como cópias imperfeitas e transitórias de modelos incorpóreos eternos, as idéia*, tusuj, univer sais subsistiríam independentemente de seus reflexos passageiros e apenas aproximados. Aristóteles reieita a transcendência dos arquéti pos platônicos, considerando-os uma desnecessária duplicação da realidade sensível, Para ele, a única realidade ó esta constituída por seres singulares, concretos mutáveis A partir dessa realidade — isto é, a partir do conhecimento empírico — é que a ciência deve tentar estabelecer definições essenciais e atingir o universal, que é seu obje to próprio. Toda a teoria aristotélica cio conhecimento constitui, as sim, uma explicação de como o sujeito pode partir dr dados sensíveis que lhe mostram sempre o individual e o concreto, para chegar final XV! II AKf5T0TILLS mente a formulações cientificas, que são verdadeíramente científicas na medida em que são necessárias e universais, A repetição das observações dos casos particulares permitiría uma operação do intelecto, a indução, que justamente conduziría — num encaminhamento contrário ao da dedução — do particular ao universal. Q universal seria, portanto., o resultado de uma atividade intelectual: surge no intelecto sob a forma de u;;i conceito (o concei to "pássaro", por exemplo, que pode existir na mente humana como resultado final, por via indutiva, da observação de vários seres concre tos da mesma espécie: os pássaros de diversos tipos). Ao contráriu de Platão, Aristóteles não considera o universal como algo subsistente o, portanto, substanciai. Mas se p universal existe apenas no espirito hu mano. sob a forma de conceito, ele não é criação subjetiva: estaria fundamentado na estrutura mesma dos objetos que o sujeito conhece a partir da sensação. Os conceitosreproduziríam não as formas ou idéias transcendentes ao mundo fisteo, mas sim a estrutura inerente aos próprios objetos: a estrutura básica comum aos diferentes pássa ros existentes c que estaria expresso, universaltzadamente, no concei to pássaro''. Mas isso significa que os conceitos utilizados pelas di versas ciências estariam dependentes, em última instância, de uma in vestigação que fosse além dos respectivos t ampos dessas ciências e penetrasse na estrutura íntima dos seres enquanto simplesmente são As ciências voltadas para o mundo físico seriam, assim, justificadas pela especulação metafísica Esta t* que afinal poderia — como estu do do ser enquanto ser revelar aquela estrutura inerente a qualquer ser e a partir da qual o intelecto, usando os dados fornecidos pela sen sação, construiría conceitos. A metafísica seria, assim, a garantia de que os conceitos não são moras convenções do espírito humano e de que a lógica — o instrumento que permite a utilização cientifica des ses conceitos estaria fundamentada na realidade, sobre a qual da pode. então, legmmamcntc operar. A metafísica aristolélica reformula a noção de ser. Es-só noção era interpretada por Parmênidcs e pelos seguidores da escola dvátlta de modo unfvoco: no seu poema Sobre o ser. Parmènides de Elóia (sécu lo VI a.C.) afirmava que "o que é — é o que é", concluindo que o ser era necessariamente úrtitu, pois a multiplicidade significaria a ad missão <ia existência do náo-scr, o que seria absurdo. Os atomistas {Leuçipo e Demócrito) quebraram essa unkldado do sèr clcático quando afirmaram que lanto era ser o corpõréo tos átomos) quanto o incorpóren (o vazio), Mas a solução atomista permanecia no plano da física e não atingira toda a dimensão da questão levantada pelo e!ca- tísmo. Platão retoma o problema e, na fase írnal de sua obra iparticu- larmentc no dialogo Sofista), considera n ser e o náo-spr rnmo dois dos gêneros supremos dentro da hierarquia das idéias, E o importante é que Platão renova a noção de náo-ser. entendendo-o não como um nada ou cnmn n vã?io: o não-ser seria o outro, A alterfoade que sem pre complementa o mesmo, a identidade. Cada existente surge assim como um jogo, em variadas proporções, do mesmo (o que e!c é) com o outrn lo que não é ele. os demais existentes). Aristóteles não considera satisfatória a solução platônica, Para fundamentar u mentia do mundo lísicu — mundo múltiplo e mutável — seria prenso romper mais rundo com o eleatismo. (substitui, então, a concepção unívoca de ser, que o concebe de modo único e dbsolu- VIDA E OBRA XIX to — impedindo n çompreensãtj racional do movimento o dia multipli cidade — pela concepção analógica: o ser seria análogo, ísío é. dota do de díierentes sentidos Esses diversas acepções do ser poderíam secundo Aristóteles, ser classificadas, da maneira mais ampla, segun do várias categorias. Assim, qualquer termo que designa algo que é, designa qu uma substância (um ser) ou um acidente lum modo de ser); porém os modos de ser são várias e os acidentes podem signifi car uma quantidade, ou uma qualidade, ou uma relação (duplo, me nor, pai c filho), ou o onde, ou o quando, ou ainda uma posição (sen lado), ou um estado (vestidu, equipado), ou uma ação tescrever), ou então uma paixão (estar doente!. A potência, o ato, o mrjvimentn Desde o seu começo, no século VI a.C, a especulação filosófica grega ocupou-se do problema do movimento Enquanto Heráclitn de Éteso afirmava a mudança permanente de todas as coisas. Parmém- des apontava a contradição que existiría emre a noção cie ser e a no ção de movimento, Essa coniradiçáo Aristóteles pretende evitar atra vés da interpretação analógica da noção de ser, que lhe permite lazer uma distinção fundamentai: ser não é apenas o que |à existe, em ato; ser é também u que pode ser, a virtual idade, a potência Assim, sem contrariar qualquer princípio lógico, poder-sc-la compreender que uma substância apresentasse, num dado momento, certas característi cas. e noutra ocasião manifestasse características diferentes: se uma folha verde torna-se amarela é porque verde e amarelo sáo acidentes da substância folha (que ê sempre folha, independente de sua coloru- çáa). A qualidade "amarelo” é uma virtualirlade da folha, que num certo momento se atualiza. E essa passagem da potência ao ato é que constitui segundo <t teoria de Aristóteles, o movimento, Mas Aristóteles não aceito a doutrina do transtormismo universal que, em pensadores pré-socrú ricos como Ànaximandro de Milcto ou Empédocles de Agrigenlo, apresentava, todo o universo coma anima do por uma transformação contínua, por um único fluxo que interliga va as várias espécies num mesmo processo evolutivo. Para Aristóteles o movimento existe circunscrito ás substância que. cada qual, atuuli za Suas respectivas tí limitadas potências; u movimento duiá enquan to dura a vinuahdadc do scc de cada ser dc cada natureza, cessando quando o ser expande suas potencialidades e se atualiza plenamonte. Em nome da noção de espécies fixas, Aristóteles se apresenta como adversário do evolucionismo. Dentro da metafísica aristotóíica,, a doutrina de ato-poténcia acha-se esireítamonte vinculada a determinada concepção de causali dade. Para Aristóteles, causa (• tudo o que contribui para a realidade de um ser; é tanto a causa material (aquilo de que uma coisa é feita: o mármore dc que é feita a estátua), quanto a causa formal que defi ne o objeto, dislinguitído-o dos demais; estátua de homem, não de ca valo), como também a causa final ta idéia da estãsua, existente como projeto na mente do escultor, c que o fevou a talhar o bloco de már more põtü dele fazer uma estátua de homem), como ainda a causa efi ciente (o agente, no caso o escultor, aquele que faz o objeto, atuali zando potencialidades de determinada matéria) A causa formal está XX ARI5TOTLLES intimamente ligada è final, pois seria sempre em vista de um fim que os seres (naturais ou artefeitos) são criados e se transformam: a finali dade ê que determinaria o que os seres são ou vêm a ser, No proces so du conhecimento, a causa formal é separada, pelo intelecto, das características acidentais do objeto e passa a existir no sujeito, plena- mente atualizada e, portanto, universalizada, Ames existia no objeto concreto, particulaíizdddtnente. como uma estrutura que o identifica va (fazendo-o. por exemplo, uma ave e não um peixe), ao mesmo tempo que o assemelhava, apesar das peculiaridades individuais, aos demais seres da mesma espécie (tornando-o uma das aves existentes); depois de abstraída dos aspectos materiais e individuaüzantes (cor branca, bico fino, pescoço longo etc.), a forma passa a existir na men te do sujeito, como um conceito universal (não mais ave de determi nada tamíiia. mas simplesmente “ave"). Quer na natureza, quer na arte, Iodo movimento (tanto desloca mento quanto mudança qualitativa) constitui, para Aristóteles, a atua lização da potência de um ser que somente ocorre devido á atuação de um ser j.1 cm alo; o mármore transforma-se na esláíuts que d e po de ser graças á interferência do escultor, que fã possuía a idéia da es tátua Também na geração natural, a forma preexisie ao ser que é ge rado: a ser atualizado (o homem adulto, por exemplo) torna-se capaz de gerar um ser semelhante a e!e. Assim, as formas, entendidas rumo tipos de organização biológica, seriam imutáveis e inertadas, embora sempre inerentes aos indivíduos, Como a intenção do escultor é que comanda a transformação do mármore em estátua, analogamente 6 sempre a causa final que rege os movimentos do universo. Cada ser atualizaria suas virtualidades de vido à ação de outro ser que, possuindo-as em afo. funciona como motor daquela transformação. Contrário à visão cvolucionista, fre- qiientexnos pré-socráticos, Aristóteles não admite que o mais possa vir do menos, que o superior provenha do inferior, quê a potência por si só conduza ao alo. Concebe, então, todo ouniverso como regi do pela finalidade e torna os vários movimentos (atualizações das vir tual idades de diferentes naturezas) interdependentes, sem iundi-los, todavia, na continuidade de um único fluxo universal. Havería uma ação encadeada e híerarquizada dos vários motores, o mais atualiza do movimentando o menos atualizado. A imobilidade do primeiro motor O conjunto du universo físico estaria dividido em duas regiões distintas: a Sublimar, constituiría pelos quatro olomontos bordado* da cosmologra de Empédocles — a água, o ar, a terra e o fogo — e carac terizada por movimentos rettlmeos e descontínuos; e a supratunar, constituída por uma "quinta essência", o éter. e caracterizada por movimentos circulares e contínuos. Cada um dos elementos do mun do sublunar tena seu "lugar natural ' e, forçado a abandoná-lo sob a ação de um agente, executa um "movimento violento", que cessa ao cessar a interferência daquele motor; retirado da lugar que, por sua natureza, lhe está reservado, o corpo tende a voltar a seu lugar natu ral (jogada para o alto — movimento violento — a pedra tende "natu- ralmenie" a cair, cessado o efeito da força que a impulsionou). VIDA E OBRA XXI Como já afirmavam os piragóncos, o mundo supralunar estaria constituído por uma sucessão de esferas, cada qual movimentando-se em função da esfera ímediatamenie superior, que atua como motor Essa sucessão de motorrs-móveis terminaria — já que o universo se ria finito — num primeiro motor, este imóvel (para SOr o primeiro), o que Aristóteles chama de Deus. Ato puro, pois do contrário SC move ría. o Deus aristotéiico paira acima do universo, movendo-o como causa final: "como o amado atrai o amante". Não cria o universo* que é eterno, nem sequer o conhece: conhecer algo fora de si impli caria atualização de uma potência e, portanto, imperfeição e incom- pletitude Incorpõreo, pura forma — a matéria é a sede das potências esse primeiro motor imóvel existiría como pensamento autocon- templativo: como "um pensamento que se pensa a si mesmo" As relações metafísicas maténa-íorma, potêncía-ato comandam a explicação aristolélica do homem. Assim, o objetivo primordial da in vestigação ética seria o dc descobrir a causa verdadeira da existência humana. Num universo regido pela finalidade, àquela causa é vista, por Aristóteles, como a procura do bem ou da felicidade, que a alma alcançaria apenas quando exercesse atividades que permitissem sua plena realização. A noção biológica de espécies fixas, que serve de sugpstão a dou- Irirta metafísica das diferentes naturezas que se movem circunscritas às suas potencialidades, reflete-se na concepção aristolélica da alma e, em decorrência, nas idéias políticas. Nesse sentido, espírito conser vador, Aristóteles justifica e defende, por exempla, a escravidão. Do mesmo modo que o universo ífsico estaria constituído por uma hierar quia Inalterável, segundo a qual cada ser ocupa, definilivamente, um lugar que lhe seria destinado poU Natureza te do qual d c só sc afasta provisoriamente através de movimentos violentos), assim também o escravo terin seu lugar natural na condição de “ferramenta animada" Aristóteles chega mesmo a afirmar que o escravo 6 escravo porque tem alma de escravo, ú essencial mente escravo, sendo destituído por completo de alma noética, a parto da alma capaz do fazer ciência e fi losofia e que desvenda o sentido e u finalidade última das coisas. Cionulogia 367 a .C — Platão funda a Academia em Atenas. 384 a.C. — Nasce ArislótdéS em H&ggira, na CaJt/dM, região dependente da MacíHÍônia 367/66 a.C. - Aristútehs chega a Arenas c* ingressa na Academia platônica. 359 a.C — Filipe »niç»a seu governo rw MacediVrna e, logo ern seguida, in vade a Grécia 356 a.C- — fcrrt Pela, capiial da Macedónla, nasce Alexandre, filho de Fili pe. 347 a .C . .VtfirSe rtp Pt.it.in , A ristó te les de ixa Arenas 347/44 a.C. — A ristó te le s perm anece cm A ssa s, na co rte d c tirano Jdérm ias, ex-íniegiãntedà Awttemw, 344 aX. — Hérmias é assassinado. Arisuaeles deixa asso». 344/43 a.C. — Permanência em Mitiiefíe. XXII ARISTÓTELES 343 aX- — A chamado de fihpc, Arístóièlúà vai para PeJj v tom. 1*50 pnxcp- tor do sovem Ak^ndre. 33» a.C. — Os maçeç&niOS derrotam cs gregos em Queronéra. 336 aX. — Filipe é assassinado £■ Alexandre ascende an trono da Maccdó- nia. 335 a.C. — Aristóteles retomara Atenas, onde funda o Liceu. 334 a.C. — Alexandre desembarca na Ásia Menor. 333 a.C — Alexandre vence em Isso. na filiíia , e entra na Fènrcia. 332 a.C. — Alexanrfrp cerca e conquista Tiro. depois o Egito. 326‘2S a*C* Incurso dr Alexandre alv as margens do Indo. 323 a,C, — Alexandre moine na Babilônia, 322 a.C, — AnMtçtt# morre em Càlcis. na Eubém Hha ao mar E#e,u. Bíbfiografi^ Traduções das obras de AmiotHes: em rnglès, tradução sob a dlreçáo cie I. A Smilh e W D Ro$S fThe Wôrk at Anstotle), Oxford 1908-1431; em francís, diverws íilif.ii traduzidas por), Trtcot. Librairw- J. VrJn, Paris. Bfivs Jían Ariüúte et Ic Lycéc, Presscs Unsvgrsitaires cíç Franco, Paris, 1961. G«Mrr. Pax.íi: Aristotc ou fu flaúorj sam, Dêmesuni Écfíritms Seghers, Pãnâ, 1962. Mo*?AU.k&fcW* \risiah' et KW Frofe Pwwt Unrvettitoifes de Franca, I%2 Fn̂ iovCS, f r £ja,s m 1 . G. Pfálan ef Ari$tatn>, Herroarm íditeurf, Paris. 1937 Row* Lio* AristotCt Presses Universltrirc* de France, Paris, 1944 PhiLiwt M D tniti&iion c5 tu Phiiosophi? d Amtoie, La Colombe, Éditions du Vieux Colombler, Parte* 1956. WfRNrn Chamhs A riM * e /'idealismo Plâionicifln, Akan, Paris, 1910. Ròís, W D.i Aristotíe, Oxford, 1923 (tiad franc. r ií.il 194b; irod. Càp. Edito rial Sudamerkana, Buenos. Aires* 1957). Íavloh A. E.s Afistotlc, Dover Publicdtion», Nova York, 1955. Pissanhx J. A.: AristaiBlismo r Hmmriaduin (Botèilm de História da Faculda de Nacional rJo Filosofia; ano V, n," 7); Rio de Janeiro. T%3 PkiIíiamn. Chaim- Traítt' de i'Argumentation, Prcrs-ik-s Univcr>Haires <k* Frcmcc, Paris, TOPICOS I raduçio tk Leonel Vallundro «.• ütard Bornhçim LIVRO I 1 rs Nosso lratado se propõe encontrar um método dc investigação graças ao qual possamos raciocinar, partindo dc .-o opiniões geralmenic aceitas, sobre qualquer problema que nos seja pro posto. c sejamos também capazes, quando replicamos a um argumento, dc evitar dizer alguma coisa que nos cause embaraços. Em primeiro lugar, pois, devemos e x p lic a r o que c o rycio cinto e quais são as suas variedades, a fim dc entender o raciocínio dialéiico: pois tuJ é o objeto dc nossa pesquisa no tratado que lentos dianLc de nós. O ra . o raciocínio c um argumento em que. estabelecidas certas coisas, ou tras coisas diferentes se deduzem ne cessariamente d;ts primeiras. <a) O raciocínio é uma “ demonstração’* quando as premissas dii> quais parte são verdadeiras e primeiras, cm quando o conhecimento que delas temos pro vêm originariamente de premissas pri rneiras e verdadeiras: c. por outro ludi» w <b), o raciocínio é "dialético” quando parte dc ppimões gcralmente aceitas, m.i ■ São "verdadeiras” e “primeiras” aque las coisas- nas quais acreditamos em virtude de nenhuma mura coisa que não seja elas próprias; pois. no loeam c nos primeiro- princípios da ciência, è descabido buscar mais além o porquê c «» as raz õ e s dos mesmos; cada um do s primeiros princípios deve impor a çon vieçào da sua verdade em i mesmo e por si mesmo. São, por outro lado, opi niões “ geralmente aceitas” aquelas que todo mundo admite, ou a maioria das pessoas, ou os filósofos — em outras palavras: todos, ou a maioria, ou os mais notáveis c eminentes. O raciocínio (c) é “contencioso" ou “cristico” quando parte de opiniões que p arecem ser geralmcnLc aceitas, mas não o são realmenie. ou. então, se apenas parcçc raciocinar a partir dc opiniões que são ou parecem ser geral mente aceitas. Pois nem toda opinião que parece ser geraimente aceita o é na realidade. Com efeito, cm nenhuma das opiniões que chamamos geral menteaceitas, a ilusão é elaramentc visível, conto acontece um i os primei pios dos argumentos contenciosos, nos quais a natureza da falácia c dc uma evidência imediata, e em geral atê mesmo pary, as pessoas de pouco entendimento. Assim. pois. dos argu mentos cristieos que mencionamos, os primeiros merecem rcalmerue ser cha mado# “ raciocínios". rtms aos segun dos devemos reservar o nome de “raciocínios cristicos’’ ou “ coriLcncío sos'*, c não Minplcsmcnie “ çacioci- nios". visto que parecem raciocinar, mass na realidade não o fazem. Mais. ainda (i/): atem de iodos os raciocínios que mencionuinos existem 4>s paralogismos ou falsos raciocínios, que partem de premissas pccuhures ás ciências especiais, como acontece, por exemplo, na geometria c em suas cicn cias irmãs. Com efeito, esta forma de raciocínio parece diferir das que indi camos acima; o homem que traça uma figura falsa raciocina a partir de coisas que nem são primeiras e verdadeiras. ?! iüi .. i ARISTÓTELESf> m nem taxnpouca geralmente aceitas. Com efeito, o modo de proceder desse homem não se ajusta à definição; ele não pressupõe opiniões que sejam admitidas por iodos, ou pda maioria, ou pelos filósofos — isto é. por Iodos, pela maiuriu ou pelos mais eminentes — . mas conduz o seu raciocínio com base em pressupostos que. embora apropriados a ciência em causa, nâo m suo verdadeiros; c seu paralottísmo sc fundamenta ou numa falsa descrição dos semicírculos, ou no traçado erro neo de certas linhas. Depois tio que prcccde. devemos dizer para quantos c quais fins ç útil este tratado. Esses fiir. são três: o ades tramcrttu du intelecto. as disputas casuais c as ciências filosóficas. Que d c c últl corno forma de exercício ou adestramento, é evidente à primeira vista. A posse dc um plano dc investi vt gaçào nos capacitará para argumentar mais facilmente sobre o terna proposto. Para as conversações e disputas ca suuis. é útil porque, depois de Ituver mos considerado as opiniões defendi das pela rnaioriu dus pessoas, nós as enfrentaremos não nos apoiando em convicções alheias, mas nas delas pró pnas, e abalando as bases de qualquer argumento que nos pareça mal forma lado. Pura o estudo das ciências filosó- íi ficas é útil porque a capacidade de sus Estaremos em plena posse da manei ra como devemos proceder quando nos encontrarmos numa posição seme lhante à que ocupamos face à retórica, ã medicina e outras ciências ou artes desse tipo: refiro-me ã capacidade de fazer o que nos pi opomos mediante o O que precede deve entendcr-sc como uma visão sinóptica das espécies de raciocínio. De um modo geral, tamo no que se refere às que já discutimos COfUO às que discutiremos mais tarde, podemos dizer que as distinções já fcí :n Las eu ire elas serão suficientes, pois não é nosso propósito dar a definição exata dc cada uma delas. Desejamos apenas descreve Ias em linhas gerais, e cremos que, do ponto de vista do nosso método de investigação, basta que poç sainos reconhecer de algum modo cada uma delas. citar dificuldades significativas sobre ambas as laces de um assunto nos per mitirá detectar mais facilmente a ver dade e o erro nos diversos pontos e questões que surgirem. Tem ainda uci 1 idade cm relação às bases últimas dos princípios usados nas diversas cicn uas. pois e completamenic impossível discuti los a partir dos princípios peeu liares à eicticia particular que temos diante de nos, visto que os princípios são anteriores a tudo mais: é à luz das .... . opiniões geralmente aceitas sobre as questões particulares que des devem ser discutidos, e essa tarefa compete propriamente, ou mois apropriada mente, á dialética, pois esta è um prt> cesso de critica onde se encontra o caminho que conduz aos princípios de todas as investigações. uso dos materiais disponíveis, Pois o retórico rtao lançara mào de qualquer método para persuadir, nem o médico para curar; entretanto, se não omite nenhum dos me.k»> disponíveis, dire mos que o seu domínio da ciência e m adequa do. T Ó P IC O S I 7 Em primeira lugar. pois. devemos ver d e q u e p a rte s ctinsLa a m issa inves ligação. Se empreendéssemos io) a respeito dc quantas coisas c que espê cie de coisas se argumenta, e de que materiais partem as argumentações- e (/;) dc que maneira poderemos estar bem supridos desses materiais, tería- mos alcançado sufjCicnlcmeme a nossa meta. Pois bem: os materiais de que par tem os argumentos sào iguais em mi- u mero e idênticos aos temas sobre os quais versam os raciocínios. Com efei to, OS argumentos partem de “ proposi çóes". enquanto os temas sobre os quais versam os raciocínios são “ pro blemas". Ora. ioda proposição e todo problema indicam ou um gênero, ou uma peculiaridade, ou um acidente já que também a diferença, aplicando se como se aplica a uma classe (ou gê nero). deve ser equiparada aqui a<» cê ncro. Entretanto, como daquilo que c peculiar íi uma coisa qualquer uma parte significa ;t sua essência c outra m parte não, varrtos dividir o “peculiar" uns duas partes mencionadas e chamar “definição" x que indica a essência, c quanto ao restante adotaremos a icrmi nologia geralmenie usada ts respeito dessas coisas, referindo-nos a cie como uma “propriedade" 0 que acabamos dc dizer torna pois claro que. de acor do com nossa presente divisão, os ele mentos são quatro ao todo. a saber: definição, propriedade, gênero c aci dente. Nâo se suponha que com isto quei ramos dizer que cada um desses ele mentos enunciado isoladamente ccns Li Uia por si mesmo uma propusiçâo uu um problema, mas apenas que é deles que sc formam tanto os problemas como as proposições. A diferença entre'um problema c uma proposição é uma dtferença na construção da frase. Porque, se nc>s expressarmos assim: “ 'um animal que caminha com dois pés* ê ã definição do homem, não é?’\ ou: “ anim ar é o gênero do homem, não é ? ’\ o resultado é uma proposição; mas se dissermos; "é 'animal que caminha com dois pés’ a definição do homem ou não c T \ ou: “è ‘animal’ o seu gênero ou não’]’', o resultado é um problema. I* tio mesmo modo cm todos os outros casos. Natural mente. poir.. os prublcma-s e proposições são iguais em número, pois dc cada proposição pode remos fazer urn problema sc mudar mos a estruturada frase. Devemos dizer agora u que sejam “definição", “■propriedade", “ gênero" e "acidente". Uma definição é uma frase que significa a essência de uma coisa. Aprcscma sc ou sob u forma de urna ui?, frase cm lugar de um termo, ou de uma frase em lugar dc ouira frase; pois às vez.es lamhém ê possível detinir o significado de uma frase- Aqueles cuja explicação consiste apenas num termo. por mais que façam, não conseguem dar a definição da coisa em apreço, porque uma definição é sempre um certo tipo de frase. Podc-sc, contudo, apliour o qualiíieafivu "dcrimLÓriu” a uma observação como “o "decoroso" é *bè!o'", bem assim como a pergunta; “são a mesma coisa ou coisas distintas o conhecimento e a sensação?", pois os debates a respeito de definições se * A R IS T Ó T E L E S ocupam as mais das vezes com ques tòes de identidade e diferença. Em suma. podemos chamar “definitório" tudo aquilo que pertença ao mesmo ramo dc pesquisa que as definições: c tn que todos os exemplos mencionados acima possuem esse caráter 0 evidente á primeira vista. Porque, se estamos em condições dc afirmar que duas coi sas são idênticas ou diferentes, esta mos munidos, pela mesma forma dc argumento, de linhas dc ataque no que se refere ás suas definições: com efeito, quando houvermos mostrado que elas não sâo idênticas, teremos demolido a definição. Note-se, porém, que o con trário desta última afirmação nao c vá <• lido. porquanto mostrar que as coisas sim idênticas não basta para estabe lecci uma definição. Demonstrar. |Xir ouiro lado. que não são idênticas é suficiente para lançá la por terra. Um a "propriedade"' é um predicadoque não indica a essência dc uma coisa, c todavia pertence exclusiva mcnic a ela c dela sc predica dc manci rn conversível. Assim. é uma propric- m dridc do homem o ser capa/, de aprender gramática: porque- se A é um homem, é capaz dc aprender grumã- ticti, c. sc é capaz dc aprender firamn tica, é um homem. Com efeito, nin guém chama de “ propriedade" uma coisa que pode pertencer a algo dife rente, por exemplo, o “ sono" no caso do homem, ainda que. em dado mo mento, $6 sc possa predicar dclc. Quer dizer, se a alguma coisa desse tipo se chamas.se atualmente “ propriedade", ela não receberia tal nome em sentido absoluto, mas como uma propriedade “ temporária" ou “ relativa", pois "estar ao lado direito" é uma propriedade temporária, enquanto "bípede" é, em suma. atribuído como propriedade cm certas relações: constitui. por exemplo, uma propriedade do homem em rela ção a um cavalo ou a um cão. É evi dente que nada que possa pertencer a alguma outra coisa que não seja A ê uni predicado conversível de A . pois do fato de alguma coisa estar adorme cida não se segue necessariamente que in seja um homem. Um “ gênero’* è aquilo que sç predi ca. na categoria de essência, dc várias coisas que aprcsenLam diferenças espe cíficas, Devemos Lratar como predica dos na categoria de essencía todas aquelas coisas que seria apropriado mencionar em resposta à pergunta: “ que ê o objeto que tens diante de ti? ’*. como por exemplo, no caso do homem, sc nos fizessem t.íil pergunta, seria •> apropriado dizer "é um animal” . A pergunta: “ uma coisa pertence ao mesmo gênero que outra ou a um gene ro diferente?'’ Lambem c uma pergunta “genérica", pois uma questão desse tipo também sc inclui no mesmo ramo de investigação que o gênero: com efei to. ao afirmar que “ anim ar’ c o gênero do homem assim como do boi. teremos afirmado que eles pertencem ao mesmo gênero; e sc mostrarmos, ao contrário, que é o gênero de um, porem iw« não do outro, teremos afirmado que essas coisas não pertencem ao mesmo gênero. Um “ acidente” é Q ) alguma coisa que. nào sendo nada do que precede lsui é. nem uma definição, nem uma - propriedade, nem um gênero — , per- icnce. no entanto, à coisa: (2) algo que pode pertencer ou não pertencer :t al gumn coisa, sem que por isso a coisa deixe dc sei ela mesrna. conto, por exemplo, a “posição sentada" pode pertencer ou deixar de pertencer a uma coisa idêntica a si mesma. E do mesmo modo a "brancura” , pois nada impede que uma mesma coisa seja branca em dado momento c em outro momento não o seja. Das definições de acidente, m a segunda ê a melhor, pois todo aquele TÓPICOS I que adotar a primeira deverá saber dc antemão, a fim de compreendê-la. o que sejam 'definição” , "gênero” e “ propriedade", ao passo que a segunda c por si mesma suficienLc para nos íns iruir sobre o significado essencial do n termo em questão. à classe dc "aci dente” devem ser também referidas todas as comparações de coisas entre si. quando expressas nunta linguagem que, de um modo qualquer, diga rc-s peito ao que "sucede" ser verdadeiro delas. como. por exemplo, a pergunta: “é preferível o honroso ou o vantajo so?”. ou “ é mais agradável a vida vir cuosa ou a vida dos prazeres?” , c qual quer ouLro problema que seja formulado em termos semelhantes. Pois em todos esses casos a questão é: "a qual dos dois sucede que o predl .v cado cm apreço se aplique mais estrei tameme?” É evidente, desde logo, que nada impede que um acidcnic venha a ser uma propriedade temporária ou relativa. Assim , a posição sentada é um acidente, mas será uma proprie d ade temporária sempre que um homem seja a única pessoa sentada: e. embora ele não seja o único que esteja sentado, é ainda assim uma proprie dade rdativamenic aos que não estão. Nada impede, por conseguinte, que um acidente se torne uma propriedade tanto relativa como temporária: porém jam ais será uma propriedade no senti do absoluto. Não deve escapar ã nossa atenção que todas as observações críticas que sc fizerem sobre uma "propriedade” “ gênero'* ou “ acidente" serão também aplicáveis ás “definições". Pois. quan do houvermos mostrado que o atributo cm apreço nào pertence unicamente ao <’/ termo definido, e do mesmo modo se se tratar dc uma propriedade, uu que o gênero indicado na definição não é o verdadeiro gênero, ou ainda que algu ma das coisas mencionadas na frase nào lhe pertencem, como também observaríamos no caso de um acidente, teremos demolido a definição; de modo que. para usar a expressão empregada unteriormente1. todos os • pontos que enumeramos poderíam, em certo sentido, ser chamados "definho rios” . Mas nem por isso devemos espe rar encontrar um método único de ' l f l2 rV (N . i lL-W A . b l investigação que se aplique a todos eles: pois nào é coisa fácil de encon trar. e, mesmo que o encontrássemos, seria algo extremameme obscuro e dc pouca utilidade para o tratado que temos diante dc nós. Devemos, pelo contrário, traçar um plano especial de investigação pura cada uma das chis scs que distinguimus. e então, firmados nas regras apropriadas a cudu caso, será provavelmente mais fácil dar «h . conta da tarefa que nos propusemos. E assim, como dissemos atrás-1, devemos esboçar uma divisão do nosso assunto e relegar outras questões ao ramo par ticular que mais naturalrnemc corres ponda a cada uma dcliis, iraiando as como questões "defini[«rias” ou “ gená ricas". As questões a que mc refiro já foram praticamerue classificadas em seus diferentes ramos. ; !«l a 22. ÍN .aeW A P.) 10 \ | [ IS T O 1 H l-S Em primeiro lugar, devemos definir os diversos sentidos da palavra “ identi dade". A identidade se podería consi derar de maneira geral, e falando sumariam ente. como incluída cm três divjsões. Em geral, aplicamos o termo ou em sentido numérico, ou especifico, ou genérico — numericamente, nos casos cm que há mais de um nome. ><t mas uma coisa só, como “manto" e “capa": específicamente. quando há mais de uma coisa, mas estas não apre sentam diferenças no tocante à sua espécie, como um homem c outro homem, ou um cavalo e outro cavalo, pois coisas assim pertencem à mesma classe, c delas sc diz que são “ especifi eamente idênticas". E . do mesmo modo. chamam-sc genericamente idên ticas aquelas coisas que pertencem ao mesmo gênero, como um cavalo c um homem. Podería parecer que o sentido em que a água proveniente da mesma o fome sc chama “ a mesma água” difere de certo modo c se afasta dos sentidos que mencionamos acim a: mas. em rea Iidade, um caso como esse deveria ser incluído na mesma classe com aquelas coisas que, de um modo ou de outra, são chamadas “ idênticas;*' em virtude dc uma unidade de espécie. Todas essas coisas, com efeito, sc asseme lham entre si como .se fossem membros .’o da mesma família. E a razão pela qual se diz que toda água é especificarrtcmc idêntica a qualquer outra água é uma certa semelhança que existe entre as duas, c a única diferença no caso da água proveniente da mesma fonte é que aqui a semelhança é mais pronun ciada: por isso mesmo não a rfistin grumos das coisas que. de um modo ou de outro, são chamadas idênticas deví do à unidade de espécie. Supõe-se geral mente que o termo “ o mesmo" se emprega sobretudo, num sentido aceito por tüdo mundo, quando aplicado ao que é numericamente uno. Mas. mesmu assim, pode ser empre- .*> gado em mais de um sentido: vamos encontrar seu uso mais literal c pn meiro sempre que a identidade diz res peito a um nome ou definição duplos, como quando sc diz que um mamo é o mesmo que uma capa. ou que um ani mal que anda com dois pés é a mesma coisa que um homem; um segundo sen tido é aquele que sc refere a uma propriedade. COmO quando se diz que aquilo que c capaz de adquirir conhecí mento c o mesmo que um homem, e aquilo que naturalmcntç sc move para cima é o mesmo que o fogo; c ertcon tramos ainda um terceirosentido do termo quando diz respeito a um aci dente, como quando sc diz. que aquele V/ que está sentado ou que é músico c o mesmo que Sócrates. Todos estes usos. com efeito, significam identidade nu mcrica. A verdade do que acabo de dizer pode ver se mais claramemc quando uma forma dc apelação é substituída por outra. Muitas vezes, com efeito, quando damos ordem de chamar uma das pessoas que estão sentadas, desig nando-a pelo seu nome. mudamos de descrição sempre que aquele a quem >,r damos a ordem não nos entende; pare ce nos que ele nus compreenderá me lhor se indicarmos a pessoa por algum aspecto acidental, c assim mandamn-lo chamar “o homem que está sentado’’, ou “ aquele que está conversando aíi” na suposição evidente de que esta mos designando o mesmo indivíduo pelo seu nume c pelo seu acidente. 8 TÓPICOS — i 11 m i, Ê preciso, pois. distinguir, como já se disse3, três scnúdos da pahivra “ identidade". Ora, uma das maneiras de confirmar que os elementos mencio nados acima sào aqueles a partir do-, quais, por meio dos quais e paru os quais procedem os arrumemos ê por indução: porque, sc alguém exami nasse as proposições e os problemas j um por um. veria que cada um deles parte ou da definição dc alguma coisa, uu dc uma propriedade sua. ou do seu gênero, ou de um seu acidente. Outra maneira dc confirmá-lo é pelo raciocí n io. Com efeito, lodo predicado dc uns sujeito deve necessariamente ser ou não ser conversível com ele: c, se é tu conversível, será a sua definição ou UU a 7 . ík d c W , A.P.) uma propriedade-sua. porque, se signi fica a essência, c a definição; do contrário, é uma propriedade, pois foi assim que definimos a propriedade, a saber; o que se predica dc maneira conversível, porém não significa a essência. Se. por outro lado. não sc predica da coisa de maneira convem vel. ou é, ou não è um dos termos eon Lidos na definição do sujeito: c se è um desses termos, será o gênero ou a efife rença. porquanto a definição consiste o no gênero e nas diferenças; e se. por outro lado. náo é um desses termos, eviden tem ente será um acidente, pois já dissem os4 que o acidente è aquilo que pertence como atributo a um suje i to sem ser nem a sua definição, nem o seu gênero.nem urna propriedade. * [02 |?4 ,(N .Jc W. A, V . ) si A seguir, pois. devemos distinguir entr* as classes de predicados em que sc encontram as quatro ordens de prcdicaçâo em apreço. São elas cm nu m ero de dez: Evsência, Quantidade, Qualidade. Relação. Lugar. Tempo, P o siçã o , Estado, Ação. Paixão. Por quanto o acidente, o gênero, a proprie d ade c a definição do qnc quer que seja sempre caberão numa destas catego rias: pois «ocííis as proposições que por meio delas se efetuarem ou significarão a essencia de alguma cotsa. ou sua qualidade ou quumidadc. ou algum dos üutrus tipos de predicado. Parece pois evidente que o homem què Cx pressa a essência de alguma coisa expressa as vezes uma substância, ou tras vcz.es uma qualidade, outras ainda algum dos outros tipos de predicado. Pois quando se coloca um homem a suu frente c cie diz que o que ali c s u in colocado c "um homem” ou "um aui mal", afir ma a sua essência e .significa uma substância; mas quando uma cor branca é posta diante dos seus nlluts c ele diz que o que ali está é "branco” ou “ uma cor", afirma a sua essência e sig niftça uma qualidade. H também do mesmo modo. se se coloca diante dele uma grandeza de um etivudo e cie diz que o que tem diante de si é “ uma gtárrdey.a de um ixlvudo". estará des crevendo a sua essência c significando uma quantidade. E poi igual em todos .«■ os oulros casos: pois cada uma dessas espécies dc predicados, tanto quando ú 12 ARISTÓTELES afirmada cte si mesma como quando o seu gênero ê afirmado dela. significa uma essência; sc. por outro lado. uma espécie dc predicado é afirmada de outra espécie, não significa uma essên cia. mas uma quantidade, uma quaii dade ou qualquer das ouLras espécies de predicado. T a is «; tantos são. pois. hh» os sujeitos em tomo dos quais giram os argumento!;, e os materiais de que se formam. Com o devemos adquiri-los e por que meios chegaremos a esíax bem providob deíes é o que nos caberá dizer agora. 1 0 Em primeiro lugar, pois, devemos definir o que seja uma “proposição dialética" e um “ problema dialético” . Pois num toda proposição, nem tam pou CO lodo problema podem ser apre- > sentados como dialéticos; com efeito, mnguém que estivesse no seu juízo per feito farta uma proposição dc algo que ninguém admite, nem tampouco faria um problema do que é evidente para todo mundo ou para a maioria das pes soas: pois este último nao admite dúvi da, enquanto à primeira ninguém dana assentimento. Ora. uma proposição dialética con siste cm perguntar alguma coisa que é admitida por todos os homens, pela maioria deles ou pelos filósofos, isto é. ou por todos, ou pela maioria, ou pelos io mais eminentes, contanto que nao seja contrária à opinião geral: pois um homem assentirá provavelmente ao ponto dc vista dos filósofos sc csic não contrariar as opiniões da maioria das pessoas. A s proposições dialéticas também incluem opiniões que são semelhantes às geralmcntc aceitas; e também proposições que contradizem os contrários das opiniões que sc con sideram gerai mente aceitas, assim como todas as opiniões que estão em harmonia com as artes acreditadas, o Assim , supondo se seja opinião geral que o conhecimento dos contrários é o mesmo, é provável que também pudes sc passar por uma opinião geral que a percepção dos contrários c a mesma: e do mesmo modo. supondo-se seja opi nião gerai que há uma só ciência da gramática, podería p assar por uma opinião geral que há urna só ciência de tocar flauta; e. por outro lado, se for opinião geral que há mais de uma Ciên cia da gramática, podería passar por uma opinião geral que há igualmente & mais de uma ciência dc tocar flauta; porque todas essas coisas parecem assemelhar se c rèm entre si um certo ar de parentesco. Do mesmo modo, também as opi ntões que contradizem os contrários das opiniões gerais passarão por opi uiões gerais; porque, se é opinião geral que sc deve fazer hem aos seus amigos, será também opinião geral que nào sc deve fâzfir nada que os prejudique. Aqui, que sc deva causar dano aos seus amigos é contrário à opinião geral, e que nào se deve causar-lhes dano ê n contraditória desse contrário. E da mesma forma, se sc deve fazer jí bem aos amigos, não sc deve fazer bem aos inimigos; esta é também a contra ditaria da opinião contrária à opinião gerai: a contrária seria que se devesse fazer bem aos inimigos. E. unnloga mente nos demais casos. Comparando entre si estas razões, parecerá também uma opinião geral que o predicado contrário pertence ao sujeito contrário; por exemplo, se se deve Fazer bem aos amigos, deve sc também fazer mal aos inimigos, talvez >v r ô p r c o s i 13 pareça também que fazer bem ao.s ami gos seju. o contrário de fazer mal aos inimigos; mas se isso é ou nào assim em realidade sc decidirá durante nossa discussão acerca dos contrários5, É também evidente que todas as proposições que se harmonizam com ’ i ;vn o ri 7 ís.dc w.A.p.1 as artes são proposições dialéticas; pois os homens estão predispostos a dar seu assentimento aos pontos de vista daqueles que estudaram essas j j coisas: por exemplo, numa questão de medicina concordarão com o médico, numa questão de geometria, com o geometra: e da mesma forma nos ou tros casos. uub Um problema de dialética é um tema de investigação que contribui para a escolha ou a rejeição de alguma coisa, ou ainda para a verdade e o conhecimento, c isso quer por si mesmo, quer cOmc* ajuda para a solu ção do algum outro problema do mesmo tipo. Deve. afém disso, ser algo a cujo respeito os homens não tenham opi ttião num sentido ou noutro, ou t? vulgo lenha uma opinião contrária à dos filósofos,
Compartilhar