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\ \ Os Pensadores r __________ _ * Os Pengadorés A filo so fia teria ccn i v e z es raz&o se reservasse para si os territórios aon d e a c iência não vai não quer ir, n ão p od e ir no m om ento Mas nada autoriza a acredrfar q u e seus p roces sos estão guardados in açterm jm F e la r>âo está em co n d iç õ es d e provar que seus problem as são por natureza diferentes dos que a R azão c ien tifica se propõe a abordar. A c iên cia não vi sa senão â aparência? Mas, segundo a fõrmufa bem con h ecid a , de todos os carrv nhos que con d u zem ao Ser, o pa recer ta lvez seja ainda o mais seguro Q uanto a marcar os lim ites atuais d o saber c ien tífico , n í o ê tarera do próprio p en sam en to cientifico? N e nhum f iló so fo faria. Sem dúvida, das ignorãncias e das im poténcias da ciên cia um a lista tão longa e tão se vera quanto a q u e um sábio seria ca paz de preparar' ÍEÀN PlACET: Sabedoria e ilu sõ es da filosofia. Na presença de um fen ô m en o físico , a com p reen são só c o m e ç a transform ando o s dados para d isso Ciar õS fatores e fazê-los variar sepa radam ente o que con siste errt não ca tegorizar. mas em agir para produzir e para reproduzir M esm o em g e o m e tria pura. o saber não consiste em descrever figuras m as em trans- rorrrá-las até poder reproduzi-las em grupos fundam entais de transform a ç õ e s Num a pabvra , no c o m e ç o era a ação', co m o diz G oeth e e d ep ois ve io a operação!" JEAN PI AG ET Problemas de Psicolo- gtà G enética Os Pensadorés C lP-B rasil. CataJogaçáo-na-Publicaç3o Câmara Brasileira do Livro, SP P642é 2.ed. Piaget, Jean, 1S96-19SQ. A cpistcinoiogia genética / Sabedoria c ilusões da filoso fia ; Problemas de psicologia genética ; Jean Píagei ; traduções de Nathanacl C . Caixeiro. Zllda Abujamra Daeir, Célia E. A. Di P icro. — 2. ed. — S3o Paulo : Abril Cultural, 1933. Os pensadores Inclui vida c obra <lc Piugct. Bibliografia. t . C ogniçâo (Psicologia infantil) 2. F ilosofia 3. Inteligência 4 . Pensam ento 5. PiagcU Jean, 1896-1980 6 . Psicologia genética I. Título: A epístetnologia genética. II. Título: Sabedoria e ilusões da filosofia . 111. Título: Problem as dé psicologia genéticá, IV, Série, $3-0262 C D D -135.413 -J00 -150.92 -155 índices para catá logo sistem ático: 1. Cõgniçáçj : D esenvolvim ento : Psicologia infantil 155.413 2. Crianças Desenvolvim ento cognitivo : Psicologia infantil Í55.4IJ 3. Desenvolvim ento in telectual: Crianças : Psicologia infantil 155.413 4. F ilosofia 100 5. Inteligência : D esenvolvim ento : Psicologia infanta 155.413 6. Psicologia genética 355 7. Psicólogos : Biografia e obra 150.92 JEAN PIAGET A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA SABEDORIA E ILUSÕES DA FILOSOFIA PROBLEMAS DE PSICOLOGIA GENÉTICA Traduçòes de Naibanael C. Caixeira, Zildu Abujuaira Florir, íclui K. A. I>i Piero 1983 E D IT O R : V1C T O R C IV IT A Títulos originai.':: L 'B&ttftmoiogie Généiitjue Sa nesse et Ilhtsions de Ia Phüasaphiê Prohlèmes de Psyeholo-gie Çénétique © Copyright desta edic3o. Abnt S.A.. Culiurftl e Industrial, Sfto Paulo. — 2.' edjçto, IMS. Textos publicados sob licença dc Prcsscs Univcrsitoíres 4e Frartce, Paris, e Editora Vúícs Lida.. Parópolis (A EpisttmoiOftÍQ Geniricay, Presses Universtuírej de Fran«, Paris, e Difel Difusão Editorial S.A ., S3o Paulo (Sabedoria e Ilusões da Filosofia)', Denoíl. Paris, e Editora Forens* Univercíràris l.tda.. Rio de Janeiro (Problemas dc Pxicoiopú Genérica) Traduç&cs publicadas sob licença da Editora Vozes Ltda., PetrojiOlL {d Episttmctofia Ge/réliiv), Djfel DlfltiSO Editorial S.A ., Sào Paulo (Sabedoria e Ilusões de Filosofia)] Editora Pürcnsc Universitária Ltda., Rio dc Janeiro (Problemas de Psicologia Genética) Direitos exclusivos sobre IJPtagei — Vida c Obra", Abril S.A. Cultural e industrial. Sâo Paulo. PI AG ET VIDA E OBRA Consultoria: Rosa Maria StefnnJni Macedo E m 195b. foi fundado em Genebra um centro de altos estudos, sob os auspícios da Fundação Rockefelier Nele, reúnem-se pesquisadores de todo o mundo que tratam dos mais diversos assun tos, desde fatos aparentemente simples como as primeiras palavras pronunciadas pelos bebõs, até os complicados problemas teóricos de cibernética. Trata-se de uma instituição dedicada a assuntos mlerdiS- riplinares, estudando inclusive a teoria da informação, a formação dos raciocínios recorrência is, a teoria das ligações analíticas c sintéti c&s, a episcemotogia do tempo e do espaço, a aprendizagem das es truturai líígicas e à teoria das probabilidades Táo ampla variedade de assuntos, no entanto, nao dá como resultado uma simples so matória dç investigâÇões; pelo contrário existe um denominador co mum que unifica todas as contribuições em torno de umo disciplina só a [pistumologiâ Genética. criada por Jean Piageí Piaqet definiu a si mesmo como um "antigo-futuro-filAsofo que se transformou em psicólogo e investigador da gênese do conheci mento'1 Essa definição <? as razões da transformação são apresenta das per no livro Sabedor^ e Jiusóes da Filosoííj, pubhcado cm T%5. Nesse livro, Plagcd desenvolve & tese de que à filosofia é urna sabedoria" indispensável aos seres racionais, mas que não atinge um "saber" propriamente dito, provido cias garantias e dos métodos de controle, característicos do que se denomina "conhecimento" As razões dessa ausência de controle poderíam ser encontradas no divórcio entre ás dêndas e a filosofia, cujas ligaçóes caracteriza- ram os grandes sistemas do passado Nao é desprovido de senso, dt/ Piaget, "pensar que fo< a orientação biológica de Aristóteles e a orientação motemática de Flatâo que justificaram diferenças essen ciais em seus sistemas". Assim, o pensamento cartesiano n5o pode ser compreendido síim a. matemática, c o err ti cismo karoticiuno, sem ü física new tonta na. Na filosofia dos séculos XIX e XX, entretanto, essas ligações foram rompidas pela maior parte dos filósofos e surgiram conflitos que ietardárânn o desenvolvimento das disciplinas que pre tendem ser científicas. Fiaftet chegou à conclusão do que. sob o con junto extremamente complexo de fatores que intervém nesses oonfli- tos, reencontra-se sempre o mesmo problema, "em que condições pode-se ter 0 direito de falar de conheomento e como salvaguardá-lo contra os perigo* interiores e exteriores que n5o cessam dc ameaçá-lo?" E acrescenta: " quer se trate de tentações interiores viu PTAGET o-li dc coaçòes sociais de ioda espécie, esses perigos perfilam-se em torro de uma m esm a fronteira, surpreendentemente móvel ao longo das idades e das gerações, mas 030 menos essencial ao futuro do sa ber aquela que separa a verificação da especulação" Por essas ratões. Piagetdiz que st? "desconverteu", Iransforman- do-se de um antigo tu*uro filósofo" em psicólogo e. sobretudo, em investigador das estruturas e da gênese do conhecimento Em Lógica e Conhecimento Científico (1966), o próprio Piaget, de maneira am pla. define a epistemologia genética como o "estudo da passagem dos estados inferiores do conhecimento nos estados mais complexos ou rigorosos". Em ouLras palavras, Piaget propõe o retorno às fortes e à gfifiese propriamente dita do conhecimento, do qual a epis tecno logia tradicional conhecia apenas os estados superiores, istoé, certas resultantes finais de um complexo processo deformação Tal projeto situa-se em dois planos distintos, que se interpenctrnm e se explicam mutuamente: de um lado, a história do pensamento científico, de ou tro. o estudo experimental do desenvolvimento da inteligência, desde o nascimento até a adolescência Piaget demonstrou que se pode tra çar um paralelo entre esses dois planos 0 conceito de causalidade, por exemplo, tena sofrido um processo de transformação desde a teoria aristolêlica até a física probabilística dosétuloXX, e as etapas desse. transformação seriam hindamenta.lmente as mesmas que as encontrarias ro desenvolvimento do pemamcmto infantil A epistemóiogia genética criada por Piaget não é. assim, uma disciplina filosófica, como a opistemdogia tradicional Em primeiro lugar, porque afasta de toda especulação, estudando a gênese das estruturas *■ d Os conceitos científicos, tal como de lato se consti tuíram em cada uma das ciências; em segundo lugar, porque procura desvendar através du experimentação os processos fundamentais de formação do conhecimento na criança, A epistemologiá genética também não é uma ciência entre ou Iras, mas uma matéria inierdisci- plinar qge se ocupa com todas as ciências, fssa unificação realizada por Piaget e, sobretudo, esse processo de gênese dos conhecimentos que vai da simples constatação de latos concretos até as mais altas abstrações — até certo ponto iden- tiíioou-se com Sua pròpn.i vida Dos moluscos à lógica formal N ist ido em Nourhãteí, Suíça, a 9 de agosto de 18%, Piaget. des de multo cedo, se interessou pelas ciências Seu primeiro trabalho cientifico surgiu quando tinha dez anos de idade: era uma nota sobre um pardal totalmente albino que observara num parque público Pouco depois, ofereceu-se como voluntário para trabalhar como as sistentu dp diretor do M u seu d e Ciências N atu rais d e N e u c h á te l Du ranteos quatro anos seguintes, publicou aproximadamente vinte arti gos sobre moluscos e temas zoológicos afins Seu interesse, entretan to, náo se limitava aos moluscos, estendendo se ao campo da reli gião, da biologia, da sociologia e da filosofia; adolescente ainda, co V10A E OBRA IX meçou a ler Bergson (1659-1941) Na universidade de Neuchãtel, Piaget licenciou-se em 1915, doutorando-se três anos depois com uma tese sobre os moluscos de Valois. Os estudos de biologia f izerarn-no suspeitar de que os proces sos de conhecimento poderíam depender dos mecanismos de equilíbrio orgânico; por outro lado, Píaget convenceu se de que tanto as ações externas quanto 05 processos de pensamento admitem uma organização lógica Flaborou, então, um ensaio sobre o equilíbrio do todo e suas partes, sem entretanto conhecer a teoria da Gesía/f, que se ocupava do mesmo problema e já havia alcançado celebridade na Alemanha De Neuchãtel, Piaget foi para Zurique, onde passou alguns me ses estudando psicologia nos laboratórios de C. E. Lippc e Wrecchnor o na clínica psiquiátrica de Bíeulcr (1857 1939) Esses estudo* firma ram-lhe a convicção de que a psicologia experimental podería ser útil bastante para sua vocação de epístçmdlogo Pírtgiu-se então a Paris, onde estudou filosofia com Andrc La lande (1007-1936) e trabalhou com a padromzaçao do teste de raciocínio de Burt no laboratório criado por Alfred Binet(18?S-19l1). Lalande intercssou-se por seus es tudos, cujos resultados foram publicados numa Série de quatro arti gos. entre 1921 e 1922. Nessa época, Piagct convonceu-se de que o camtnho para conciliar a filosofia e a psicologia deveria ser buscado na experimentação. Um de seus trabalhos desse período fot publica do nos Arquivos de Psicn/ogig de Genebra, o Claparèrie (1873-1940). seu editor, impressionado pela originalidade do escrito, propôs-lhe o ingresso r»0 Instituto lean-lãcques Rousseau de Genebra, em 1921 Ai Piagít encontrou lompo e hbordncEe suficientes para desenvolver seus estudos sobre a criança, iniciando uma série de trabalhos que lhe deram fama mundial Lm 1925. Pingei foi nomeado titular de Tilosofia em Neuchâtel, onde lecionou até 1929, dando também atilas de psicologia e socio logia. sem deixar a investigação experimental sobre lógica c ontolo gia infantis, no laboratório de Genebra Além disso, continuou seus trabalhos com moluscos publicando importantes artigos sob ro n assunto. Lm 1929, voltou a ocupar um cargo de uedicaçao exclusiva na Universidade de Genebra, primeiro comó Diretor Assistente e depois como codiretor dó Instituto Jean-jat ques Rousseau De 1929 a 1939, além de desempenhar funções administrativas, Piaget foi professor de história do pensamento científico intensificando seus estudos so bre história das matemáticas, da física e da biologia é redigindo seus primeiros trabalhos sobre epistemologiâ genética Também foi no meado, em 1929. diretor do Departamento Internacional dc Edu cação, cargo que lhe deu oportunidade de tentar introduzir suas des cobertas sobre o desenvolvimento das crianças nas práticas educati vas, Com esse fim, nas décadas posLeriores, éiaget e seus colaix» ado res escreveram inúmeros livros Em 193b a Universidade dr- Harvard concedeu lhe o título de Doutor Honor is Causa Durante o período dá guerra, desenvolveu suas idéias sobre .ís estruturas lógicas relativas ã física elementar De 1939 a 1952, foi professor de sociologia da Faculdade dc Ciências X riAGETT E con ôm icas d a U n iv ersid a d e d e G en eb ra Em 1940 , to rn o u -se d iretor do l a b o r a tó r io d e P s ico lo g ia f <pprím ental d e ssa Univers.ida.de, c o m o su cessor d e C ln p arèd e, e c o n tin u o u ta m b é m c o m o ed itor d os A rqui vos d e P sico lo g ia junto c o m A ndré R ev e Lamherr.ier. Foi ta m b é m eterto presidente^ da S o c ie d a d e S u íça d e P s ico lo g ia e c o d ir e to r d a R e vista S u íça d e P sico logia A p ó s a guerra, a U n iv ers id a d e d e Paris d e signou-o para s u c e d e r a M erS eau -P on ty{1906-1 % 1). Em 1950 . a lém d e d iversos livros so b re p s ic o lo g ia e p s ic o lo g ia da cr ia n ça , so z in h o o u co m co la b o ra d o res , Ptaget já h avia p u b lic a d o a JnJrrxiirção ã fjtm fé- mo/oRid G en érica e m três v o lu m e s e o Tratado d e Lógica Seu p ro jeto He elab orar u m a c p is te in o ío g ia b a se a d a nas c iê n c ia s p o s itiv a s c o n cretizo u -se e m 1 9 íi>ci q u a n d o fo i in au gu rad o o C entro In tern acion al He E p islem ulogãa G e n é tic a , sob o s a u s p íc io s da F u n d a ç ã o R ock e- fellet. Piaget morreu em 16 de setembro de 19S0. A noção de ''egocentrismo" As obras A Linguagem e o Pensamento da Criança (1921). O luizo e o Raciocínio da Criança (1924), A Representação do Mundo na Criança (1924), A Causalidade Ftsica na Criança (1927), O juízo Morai na Criança (1912]. já mostram a preocupação de Piagêt com a teoria do conhecimento, embora representem muito mais a constatação das características do pensamento iniantil Desses estudos surgiu a noção de 'egocentrismo"', que desempenha papel essencial na epis- temologia genética de Piaget, porque implica n noção de centração e de$centração, isto é, a capacidade da criança de considerar a realida de externa e os objetos como diferentes, de si mesma e dc um ponto He vista diverso do seu. O egocentrismo nd linguagem infantil impli ca a ausência da necessidade, por parte da criança, de explicar aqui Io que di? por ter certeza de estar sendo compreendida. Do mesma forma, o egocentrismoé responsável por um pensamento pré-tógíco, précausal, mágtco. animista v artificialista O raciocínio infantil não é nem dedutivo nom indutivo, mas tiansduttvo, indo do particular ao particular o juízo nãO é lógico por ser centrado no sujeito, em suas experiências passadas e nas relações subjetivas que t*3t* estabelece em função das mesmas, Os desejos, as motivações e todas as carac terísticas conscientes, morais e afetivas são atribuídas às coisas (ani mismo) A criança pensa, por exemplo, que o cão late porque está com saudades da mae Por outro lado, para as crianças até os sete ou cinco anos de idade, os processos psicológicos internos têm realidn de física: ela acha que os pensamentos estão na boca ou os sonhos estão no quarto. Dessa contusão entre o real e o irreal surge a expli cação artificiulista, segundo a qual, se as c o isa s existem é porque ai guém as fez Notando as semelhanças entre os processos que condicionam a evolução lógica ç a idéia de realidade plasmada pela criança, Piagct conclui quv u construção do mundo objetivo e a elaboração do ra ciocínio tôgjco consiííem na redução gradual do egocentrismo, cm VIDA E OBRA XI favor de uma socialização progressiva do pensamento; somente com essa descentração das noções, a criança pode chegar ao estagio da lógica operacional Do ponto de vista d o juízo moral observa-se q u e, a p rincíp io , a mora! é loljlmente helerõnuma, passando a autonóma na medida em que a criança começa a sair do seu egocentrismo p compreender a necessidade da justiça equânimc c da responsabilidade individual c coletiva, independentes da autoridade ou da sanção imposta A estrutura do universo: inteligência e adaptação Em uma segunda etapa de seu caminho no sentido de constituir uma epistemologia genética, Piaget abordou os problemas relativos à formação da in te lig ê n c ia infantil, O s resu lta d o s de su as in v estig a ções encontram-se em varias obras, nas quais mostra como se desen volve o pensamento lógico da criança, base de sua epistemologia genética. O Nascimento da Inteligência (1936), A Construção do Real na C riança (1937), A Cénese da Noção de Número, em colaboração rom Szeminska e Inhelder (14)41), O Desenvolvimento das Quantida des rtsicãs na Criança (1941), Classes, Relações e Números (1942) e Formação do Símbolo na Criança [19451. Para Piaget, inteligência v adaptação e sua função é estruturar o universo, da mesma fqrma que o organismo estrutura o meio ambien te. não havendo diferenças essenciais entre os seres vivos, mas so mente tipos específicos de problemas que implicam cm níveis diver sos de organização. As estruturas da inteligência mudam através da adaptação a situações novas e têm dois componentes: a assimilação e a acomodação Piaget entende o termo assimilação com a acepção ampla de uma integração de elementos novos em estruturas ou es quemas jã existentes A noção de assimilação, por um lado, implica a noção de sigmticaçao e por outro expressa o tato fundamental de que todo conhecimento está ligado <» uma ação e de que conhecer um objeto ou um acontecimento é assimítá-lo a esquemas de ação hm outros termos, conhecer, para Piaget, consiste em operar sobre o real e transformá-lo, a fim de çomproendé-lo, cm função do sistema de transformação a que estão ligadas todas as ações. Piaget denomí na esquema de ação aquilo que numa ação é transponível, genera liza vel ou diíerenciãvel dç uma situação para a seguinte, ou seja, o que há de comum nas diversas repehçóes ou aplicações da mesma ação. Se alguns er-quemar. são simples (talvez inatos e de natureza re fk-xa), a maioria deles não corresponde a uma montagem hereditária acabada, pelo contrário, são construídos pouco a pouco pelo in divíduo, dando lugar a dilt-renciaçòes através de acomodações a si tuações novas. A acomodação define-se como toda modificação dos esquemas de assimilação, por intluência de situações exteriores. Toda vez que um esquema não for suficiente para responder a uma situação e re soiver um problema, surge a necessidade do esquema modificar-se em função da situação. Exemplo, puru o bebê aprender a chupar um xu PlAOtT canttclinho diferente da mamadeira, deve haver urna acomodação do esquema de chupar Assimilação e acomodação são, portanto, m e c a n ism o s comple mentares, não havendo assimilação sem acomodação, e vice-versa A adaptaçao do sujeito ocorre através da equilíbraçáo entre esses dois mecanismos, não se tratando, porém, de um equilíbrio estático, mas sim essencial mente ativo e dinâmico. Em termos mais precisos, trata-se de sucessões de equilibração cada vez mais ampJas, que pos sibilitam as modificações d o s esquemas existentes, a fim de atender à ruptura de equilíbrio, representada pelas situações novas, para as quais não exista um esquema próprio O nascimento da inteligência Em toda a análise do proCosso de formação das estruturas inte lectuais, ou seja, da inteligência, desempenha papel fundamental a noção piagetiana de estág/o. O estágio foi definido por Piaget como form a de organização da atividade mental, sob seu duplo aspecto, por um lado, motor ou intelectual, por outro, afetivo Do nascimento até a adolescência, Piaget distingue três estágios do desenvolvimento. O primeiro é o estágio sensório-meror (do na sei mento até dois anos). O segunda divide-se om dois sub-estágtos: o de preparação para as operações lógico-çoncrctas (2 «i 7 anos) ê o de operações lógiconconcretas (de 7 anos até a adolescência) A partir da adolescência e até a idade adulta, configura-se o estágio da lógrea formal, quando o pensamento lógico alcança seu nível de maior equilíbração, ou seja, de operatividade, adquirindo a forma de uma lógica proposir ipnal. que seria o auge do desenvolvimento, No início do desenvolvimento da inteligência sensòrio-motora (até ’1 mês de idade), os comportamentos globais da criança estão de terminados hereditarí amente e apresentam-se sob a forma de esque mas reflexos. De 1 a 4 meses (2° sub-estágio). começam a aparecer as primeiras adaptações adquiridas e a assimilação distingue-se ct.i aco modação, através das reações circulares primárias, ou seja de repete çõíts sucessivas nas quais os resultados sao assinidados aos esque mas, modificando-os para permitir melhor adaptação às situações ex ternas. No terceiro sub-estágio (4 a 8 meses) aparecem as repetições dê gêStOS que casuafmente chegaram a produzir uma ação interes sante sobre as coisas, No quarto su th estágio (8 a 12 meses), ha apli cação de meios já conhecidos para resolver situações novas. N o quinto sub-êslágio (12 a 18 meses), a criança faz experiências com os objetos do meio externo e descobre novos meios para resolver certas situações. No sexto sub-estágio (18 meses aos 2 anosl aparece a pos sibilidado da invenção de novos meios por combinação montai ou por combinação do açoes Esse estagio já prevê uma mudança quali tativa na organização da inteligência, que passa de sensível c motora a mental, isto ô, rep resen ta tiva c interiorizada. Paraíçlarncntê à Construção da inteligência, ou do pensamento lógico. Piaget analisa a construção do universo, pela criança no VIDA E OBRA x m estagio sensòrio-motor, em função das categorias cio objeto ou su b stân cia , e s p a ç o , c a u sa lid a d e c tem p o . Quanto ao objeto, as investigações de Piaget mostram que, du rante as primeiras fases do desenvolvimento, a criança não percebe o universo em seu redor como se iosae constituído por objetos substan ciais, permanentes e de dimensões constantes, pelo contrario, eia se comporta como se estivesse frente a um mundo sem objetos e no qual o próprio espaço constituísse um meio sólido. Trata-se de um mundo de quadros perceptívos, cuja única realidade é a própria criança e suas ações O sujeito funciona como um sistema organiza dor do universo, evoluindo de acordo com o aumento da complexi dade das atividades de assimilação. Partindo dá não-distinçSó entre ela m eara p e>s objetos, a criança pavsa a distinguir progrossivamen te qs objetos que estão em sua presença e, depois, começa a relacirx nar entre si os vários objetos que aparecem em espaços já diferencia dos, ora, presentes, ora ausentes. No final do estágio sensório-motor. pela Separação entre ação e percepção, a criança toma se capaz da noção de objeto permanente ç idêntico ã $i mesmo, ainda que ele não estejd mais presente t* sendo manipulado por ela, Do ponto df vista do espaço, a coordenação sucessiva Hns açom, leva a criança, progressiva mente, n conceber aqueles espaços indivi duais e separados dü inecio do seu desenvolvimento como um único espaço, no qual ria se desloca como os objetos, considerando a -i mesma como um objeto. embora diferente dos demais Quanto à causalidade, Piaget mostra como essa noção funda- meftfal para a ciência liga-se, no estágio sensórío-motor, ás relações temporaõ Durante os dois primeiros sub-estágios, tudo sucede como so o tempo se reduzisse exclusivamíínte às impressões de espera, de desejo, de êxito ou de fracasso, existindo um princípio de sucessão, li gado cKj desenvovlvimento das diferentes fases de um mesmo ato, Sãn as séries temporais pd ricas os atos da Criança sucedem sc< uns aos outros, mas nadá lhe permite* reconstruir sua própria história, Du rante os Sub-êstãgios seguintes, estabeleceram-se modificações nessa c o n c e p ç ã o , surgindo as séries tem porais su b jc tivà i. a c r ia n ça n ã o per cebe ainda a ordem dos fenômenos a nào ser quando ela mesma é a causa desses fenômenos, de modo que ainda contínua sendo incapaz de conceber a história de seu universo, independentemente do própria açâo. e não havendo, portanto, um tempo objetivo para ela Só a partir do quarto sub estágio é que começa a progredir um a visão mais objetiva do mundo, aparecendo jã no quinto sub-estáyio uma ordenação do tempo, não aplicável somente às ações, mas, em princípio, a todo o campo pereeptivn, (séribA temporais oójeíívas), No último iub-ustagio aparecem as séries represenrarivãs. quando d criança é capuz de recordar fatos nâo ligados à percepção direta mas acontecidos no passado. Isso náo significa que esses fatos sejam corretamente seriados, nem que a avaliação da duração se|a exata, mas sim que essas operações tornam-se possíveis porque desse mo mento em diante a duração subjetiva vai cada vez mais situar-se em relação com a duração das coisas, possibilitando. por sua vo?, aorde nação dos movimentos no tempo e sua medida em reJação com pon tos de referência exteriores. XIV PIAGET O advento das funções simbólicas No segundo estágio do desenvolvimento das estruturas da inte ligência podem ser distírguidos dois sub-estágios O primeiro (dois aos Sete anos) caracteriza-se pela função simbólica e pelo aparecí mento da intuição das operações, o segundo (sete dos onze anos) é marcado pelas operações Iógico-concretas. As atividades de repre sentação (o jogo, o desenho e sobretudo a linguagem) têm três con sequências essenciais para o desenvolvimento mental- inicio da so cialização da açflo; intenorízação da palavra, isto é„ aparição do pensamento propriamente dito, que já tem como suporte ri lingua gem interior e um sistema de signos; e, sobretudo. ínteríorizaçáe» da açâo como tal, que passa do piano pereeptivo e motor para se re constituir no plano das imagens e das experiências mentais Os pri meiros esquemas verbais constituem uma continuação dos esque mas sensório-motores, transpostos para um plano supenor, implican do portanto uma modificãçào qualitativa na estrutura, A isso Piaget chama "dêca/age veríica/ ', conceito particularmente importante em sua obra. Para o criador da epistentologia genética, cada fase dü de senvolvimento deve ser consideraria como formaria por estruturas di ferentes em quantidade c qualidade Essa diferenciação ontre um momento e outro do desenvolvimento só é possível porque as equilr- braçúes sucessivas, que permitem a passagem de um estágio a outro e marcam a mobilidade das estruturas, são acompanhadas de deter minadas funções constantes, que garatem a continuidade entre um estágio e outro, Piaget designa essas funções (entre as quais incluem se a compreensão c* a explicação) pela expressão "invariariles", afir mando, com tido, que seu nível pode variar r*m íurçao do grau de or ganizaçâo das estruturas f por essa razão que, com o advento das funções simbólicas, começa toda uma mobilidade das estruturas Sénsúriomotoras Numa etapa cio desenvolvimento. o egocentrismo ãinda presente manifesta se, nâo rnjis em nível de confusão Stijeitp- objeto do ponto de vista físico, como antenormente, mas no nível da linguagem e do pensamento, através do animismo, do artificialismo c? do realismo nominal, Embora já haja uma modificação de esquemas para uma nova estrutura, ao n/vef de intenonzaçSo da ação, os as pectos perceptivos e subjetivos continuam sendo predominantes em relação à concepçáo do mundo, da causalidade física e dos concei tos espaçoíemporais Por isso esse sub-estágio simbólico é chamado pré operatório, não havendo noçao de conservação física nem rever- sibilidade nas operações A criança começa s im p le sm e n te a distin guir o significante do significado, isto é, os objetos que apresentam determinadas palavras, e a usar essas palavras em lugar do objiçto. No entanto, nota se perfeitamente a generalização de significados in devidos, quando, por exemplo, a criança diz "au-au" para todos u> animais ou "titío" para todas ds pessoas do sexo masculino, tssa irrc- versibilidade pré-lógica mantém-se Até por volta dos sete anos, pois, embora a partir dos: quatro anos e meio ou cinco anos comece a ba ver uma dcscentraçao maior do pensamento e a criança já comece a apresentar certas noções de classificação e de seriaçAo dos objetos, VIDA E Ütí&A XV essas noções são intuídas, isto t, não sao real mente compreendidas porque nâo há uma operação verdadeiramenie lógica. As operações lógrco-formais As operações lógicas surgem somente quando o pensamento da criança torna-se reversível, ou seja. quando ela é capaz de admitir a possibilidade de se efetuar a operação contrária, ou voltar ao início da operação Admitindo, por exemplo, que A é igual a B, a cr ian ça deve admitir que 8 é igual a A Essa ida e volta do pensamento não acontece no período pnHógico porque não existe sequência lógica nas ações da criança. Quando o pensamento infantrl torna-se reversível por volu dos 7 ou 8 anos, iniciü-so o sub-estãgto das operações tôgico-concrqlás, Segue-SC a ele a partir dos onzn ou doze anos, o estágio das opera ções 3ògkoformai.s A operatividade marca a possibilidade da crian ça agir, consistente e logicamente, em funçáo das implicações de suas idéias A organização das ações montais em pensamento ope- ralóno pode ser descrita em termos de grupos matemáticos e agrupa mentos lógicos e. mais tarde (no estágio formal], em termos de agru pamentos de relações, ou seja. relações de segunda ordem ou rela ções ck: relações Os agrupamentos lógicos base^m-se na noção ma- temática de classe No tub-estágio das operações concretas, as rola Ções entre as classes somente podem ser compreendidas quando apresentarem evidência concreta, isto ê, estejam presentes no campo perceptivo Mas no período das operações formai* a criança podt realizar as relações possíveis, de modo a prever ds situações. ne cessárias para provar uma hipótese Pssn é, precisa monte, a carac terísticá do método experimental ivl ciência. A lógica das proposições, possíveis combinações de classe, bem como õ grupo de transformações INKC foperaçáo Inversa, Negativa, Reciproca v Contrária) sao a parte final tia epistemologia genética de Piageí. A partir da experimentação com as operações lógicas, com a noção de rnversibilidado, çom os grupos matemáticos e os agrupa mentos d« classe, o c o m as transformações lógicas IINRC, fóagel m cursiona no campo da formalização lógico-mateoiática A partir da fu n d a ç ã o d o Centro Internacional de Epistemologíá Genética, um Genebra, cientistas e lógicos de todo o mundo têm-se ocupado da pormenorização e aperfeiçoamento do processo genéti co descrito por Piaget, e de suas relações com os principais contei tos da ciência contemporânea C om isso, torn ou-se realidade seu de se io etó criação dos "métodos de con tro le" , indispensáveis para legiti mar d verdade, bem como dar nova dimensão ao problema das rela ções entre a ciência propriamente dita e a filosofia Piaget procurou, assim, evitar que a filosofia, através da pura especulação, mantenha ti sities de dona absoluta da verdade, |á que deve haver uma corre laçào epistêmica entre toorias e fato?. P1AGETKV\ Cronologia I&26 - l m Neuchàteí, Sü/î t, a 9 de agosto, íissce lean PíagêL 1915 — Lícencia-se peta Universidade dc Neuchãie! 1925 — ioma-ie professar btuhr de ftíosofra rra mesma ueivcrsírfjçr 1929 _ ê nom eado diretor do Departam ento Internacional rfe Educação 1932 - Publica Le Jugement Mural Chez l'bnfant 1936 — Publica La Naissarrce de 1'lritcdligence ch ez PEnfant \ ’o m esm o ano, recebe o rfruío de Doutor Monorss Causa pola Universidade dc Harvard. 1937 — Pr age f publica La Construction du Réet che2 1'LnfanL 1939-1952 — J ec torra sociologia na Paeufdade de Ciências Econômicas da Universidade d ê Genebra. 1941 — Publica, ona to/aborapâo cóm S^emtnska, La Gênese du Nombre chez I Eníam. 1946 — Publica l ,i formatioti du Symbok- chez PEnfánt 1947 — Publica La Psychotogie de Plnielligentfc 194» Publica La Ftepresenlabun de Ctspacc: theZ I En(<int 1949 — C [dftadóseit Trailé d e I ogjque Essai de L ogistiqueO peratoirp 1956 — tcfríam-se os irev tom os da l ntroductiOn j PÉpistem-ologiís Gànétique 1952-1963 Lee to na pskolopã da criança m Sorborme 1955 — Publica De Ia Logique de 1‘Êníant ii Ia Lcgiqut? de LAdoleífieni 1957-1973 - Ptrfeiicí os 'iO vo/umes dos I ludes cPÉprstcmologio Génétiqeu 1959 Publica La Ceriòse des Structures bogiques Élémenaaifes 1%4 — Pub/icat^O dos Six Eludes de Psvr hoJogie 198b — Morre Piaget Bibliografia CnnwiiH, C.: Rí.iper Prosse? U n ivcm tiures de Tromcr-, Paris., T9?i 13amio, A. M. Cl Pensamiento de lean Piagm, Emecé htlatorc-s Buenos Ai res, 1969, Crizi. Hatwii, Wom t outros: PsyçhoJopir et ípistemotogie ÇOnptmue. Ounod, PhHs,. 1966. Fum, H C, Pi+tm for Teachers, Prentite^Hall, hnglew&od Cltffs, 1970 D«o? R i Rauhí, m . tire kajçjct, DossarL Bruxelas, 1972 Flavi-u. | H. The Devefopmental PsyclípJogy qí fenn Pingei, V.in Nnv trjnd, Princ^ton, 1%J Giwsaow,, H, t Drrm, 5 : Piugerb rbeorp of IniQÍteçtua! Dêvelüpmem Prentico-H.ill, Cmglewood CIOU, lLi(,9 Kissiw. W i K um maus, C. Cogmtive Owelopmenr m Cbildren, UoiversJly oi Cliiç*i£Q Press. ChicogG. 1970 Air.il , M.. Vourig Ctofdren :! 1'biokin :̂ Sturfres qí $ome Aspecií Oí Purgei \ Tbeory, Teachers Co!lej?e Press, Nova York l%b I iiíiNi), Ü.. Çhildrenãnd Adolescente: Interpretatives Dsúví ún lean Pipge1' O xford Univeraity Press, N ova York, 1970 Balowin, a l The Tbeorv oi fean Prager m Tbepffcs dt Lhtld Devetop- meni, do mesmo autor |ohn Wilev & Sons, Nova York, 196» A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA* Tradução dc Naíhjiriarl C. Caixeiro * Traduúdútlvorífinat francês L^pixiémologitgénêitcpdc, Paris, Prtsscs Umvçrsiiaircsdç francc. 1970. Introdução Aproveitei, com prazer, a oportunidade de escrever este pequeno livro sobi-e EpUtemcJogEa GenéLica. de mudo a poder Insistir na noção bem pouco admitida correratemente, mas que parece confirmada pnr nossos trabalhos coletivo?: neste domínio: o conhecimento não podería ser concebido como algo predeterminado nas estruturas internas do indivíduo, pois que estas resultam de unia construção efetiva C contínua, nem nos caracteres preexistentes do objeto, pois que estes só sãu conhecidos graças à mediação necessária dessas estruturas: e estas estruturas os enriquecem e enquadram {peio menos situando-os no conjunto dos possíveis). Em outras palavras, todo conhecimento comporta um aspecto de elaboração nova, e o grande problema da epistcmologia c o de conciliar esta criação de nOvi dadeí. com o duplo fato de que, no terreno formal, elas se acompanham de neecssi. dade tàó logo elaboradas c de que, no plano do real. cias permitem fc sàü mesmo as únicas a permitir) a conquista da objetividade. Este problema da construção de estruturas não pré-formadas è, de fato, já antigo, embora a maioria dos cpisicnvologistas permaneçam amarrados a hipóte ses, sejam aprioristas (até mesmo com certos recuos ao inatismo), sejam empiris tas, que subordinam o conhecimento a formas situadas de antemão no indivíduo ou no objeto, Toda* as correntes dialéticas insistem na idéia de novidades c pi'<?cu ram o segredo delas em “ulirapassagens" que transcenderíam íncessamcmente o jogo das tcsxís c da^ antíteses. No domínio da história do pensamento cientifico, o problema dás mudanças de perspectiva e mesmo das “revoluções’' nós “puradig mas" (Kuhn) sc impõe necessariamente, e L, BruniichviCg extraiu dele uma episte- mologia do vir a scr radical da razão. Adstrito às fronteiras mais especificamcntc psicológicas, J M, Baldwím forneceu, sob o nome de “ lógica genética”, pareceres penetrantes sobre a elaboração das estruturas cognitivas. Pndmmn ser citadas íónda diversas outras tentativas. Mas, se a epistcmologia genética voltou de novo à questão, é com o duplo intuito dc constituir um método capaz de oferecer 05 controles c, sobretudo, de retornar as fontes, portanto ã gênese mesma dos conhecimentos, de que a episie mologiu tradicional apenas conhece üs estados superiores, isto ê, cer tas rcsuiinn ces. O que se propòe a epistcmologis genética é pois pòr a descoberto as raízes das diversas variedades de conhecimento, desde as suas formas mais elementares, e se guir sua evolução até os níveis seguintes, até, inclusive, o pensamento cientifico. 4 PI AG ET (Ví£.s, $e ejsü gênero de análise COmpOrta uma parte essencial de experimentação psicológica, de modo algum significa. por essa razão, um esforço de pura psicolc ,̂ia. Os próprios psicólogos nao se enganaram a esse respeito, e numa citação que a . I viericati Psycftoíõgieal Associalion teve a gentileza dc enviar ao autor destas linhas depara-sc com esta passagem significativa: “Ele enfocou questões até então exclusivamente filosóficas de um nrtodo decididamente empírico, e consti tuiu a epistemologia como uma ciência separada da filosofia mas ligada a todas as ciências humanas", sem esquecer, naturalmente, a biologia. Em outros termos, a grande sociedade americana admitiu de bom grado que nossos trabalhos reves tiam-se de uma dimensão psicológica, mas a lítulo de bvprúduct, como o escla rece ainda a citação, e reconhecendo que a intenção, no coso. era essencial mente cpistemológíca. Quanto ã necessidade dc recuar à gênese, como o indica o próprio termo “epistemoiogia gctiética7\ convém dissipar desde logo um possível equívoco, que seria dc certa gravidade se importasse em opor a gênese às outras fases da elabo ração contínua dos conhecimentos. A grande lição contida no estudo da gênese ou das gêneses ò. pelo contrária, mostrar que não existem jamais conhecimentos absolutos, Isto significa dizer, em outras palavras, seja que tudo 6 gênese, inclu sive a elaboração de uma teoria nova no estado atual das ciências, seja que a gê ne.se recua indefinidamente, porque as fases psicogenctieas mais dementares são. das mesmas, precedidas de fases de algum modo organogenéticas, etc. Afirmar a necessidade de recuar à gênese não significa dc modo algum conceder um privi tégio á tal ou qual fase considerada primeira, ahsolutamenie falando: c. pelo contrário, lembrar a existência dc uma construção indefinida e, sobretudo, insistir no fato de que. para compreender suas razões c seu mecanismo, é preciso conlie cer todas as suas fases, ou, pelo menos, o máximo possível. Se fomos levados a insistir muito na questão dos começos do conhecimento, nos domínios da psicolo gia da criança c da biologia, tal não se deve a que atribuamos a cies uma significa ção quase exclusiva: deve se simplesmente a que se traia de perspectivas em geral quase totairnente negligenciadas pelos cpmemolügiítâs. I oda* as demais fontes científicas de informação permanecem pois necessá rias. e o segundo aspecto da epistcmologia genética sobre ü qual gostaríamos de insistir é sua natureza decididamente intcrdisciplínar. O problema específico da epistemologiü, expresso sob sua forma geral. é. com efeito, o Jo aumeruo dos conhecimentos, isto é, da passagem de um conhecimento inferior uu mais pobre a um saber mais rico (em compreensão e em extensão). Ora, como toda ciência está em permanente transformação c não considera jamais seu estado como definitivo (com exceção dc certas ilusões históricas, como as do orisiotclismo dos adversá rios dc Galílcu ou dá física newtontana para seus COntinuadores). este problema genético, na sentido amplo, e n g lo b a também o do p r o g resso dc todo eonheci mento cientifico e apresenta duas dimensões: uma, respeitante às questões de fato (estado dos conhecimentos cm um nível determinado e passagem de um nível ao seguinte), c outra, acerca das questões de validade (avaliação dos conhecimentos em Lermos de aprimoramento ou de regressão, estrutura formai dos conhiximen- A EP1STEMOLOGLA GENÉTICA 5 tos), Ê. portanto, evidente que. seja qual for a pesquisa em epistemologia genética, seja que se trate da evolução de tal setor do conhecimento na criança ( número, velocidade, causai idade física, ctc.) oli de tal transformação num dos ramos correspondemos do pensamento eienuíico, tal pesquisa pressupõe a colalxsfaçãu de especialistas em epistemoíogía da ciência considerada, psicólogos, historia dores da5 ciências, lógicos, matemáticos, cultores da cibernética, linguística, etc. Este tem sido sempre o método de nosso Centro Internacional de Epistemologia Genética cm Genebra, cuja atividade integra] tem consistido sempre de um traba lho de equipe. A obra que se .segue é. portanto, sob muitos aspectos, coletiva! O objetivo deste opúsculo não é, todavia, contar a história desse Centro, nem mesmo resumir os Estudos de Epislernotogia Genética que surgiram graças a cic.1 Nesses. Estudos sc encontram os trabalhos realizados, bem como o sumário das discussões que tiveram lugar por ocasião de cada Simpósio anual e que trataram das pesquisas em curso. O que nos propomos aqui é simplesmente pôr em desta que as tendências gerais da epistcmologia genética c expor os principais fatos que as justificam. O plano de trabalho é portanto muito simples: análise dos dados psicogenéticos. em seguida de seus antecedentes biológicos c, finalmeiuc, retomo aos problemas Cpistemológicos Clássicos. Convêm no entanto comentar este plano, pois o.s dois primeiros capítulos poderíam parecer inúteis. No que di/ respeito em particular d psicagêne&e dos conhecimentos teap. I), muitas vezes a descrevemos à maneira dos psicólogos. Mn$ os epistemologistas leem a p e n a s uns p o u c o s trabalhos psicológicos, o que é concebível, desde que não se destinam explicitam eme a corresponder às suas preocupações. Procuramos pois centrar nossa exposição unicamente nos fatos que sc revestem de uma signifi cação epistemcilógicâ, t insistindo nesta última: trata-se» cm consequência, de uma tentativa nova. em parte, tanto mais que eta toma em consideração um gran de número de pesquisas ainda nào publicadas sobre a causalidade. Quanto às rai zes biológicas do conhecimento (cap, II), não modificamos muito nosso ponto de visia desde a publicação dc Biologia a Conhecimento (Gullinwd. 1967). mas. como pudemos substituir essas 430 paginas por menos de uma vintena, estamos certos de $ci perdoados por este novo apelo às fontes orgânicas, que era indispen sável para justificar a interpretação proposta pela epistemologia genética das rela ções entre o sujeito e os objetos. Em poucas palavras sc encontrará nestas páginas a exposição de uma episte- moíogia que é naturalista sem scr positivista* que pÕC em evidencia a atividade do sujeito sem ser idealista, que se apoia também no objeto aem deixar dc considerá lo como um limite (existente, portanto, independentemente dc nós. mas jamais completamente atingido) e que. sobretudo, vé no conhecimento uma elaboração contínua: é este último aspecto da epistemologia genética que suscita mais probk mas e são estes que se pretende equacionar bem assim como discutir exauídivamente. 1 Esta obra «ráçttadâsobo titulo jteral Eludes wm oaixcneroíto volume «uu auwiJirt. {N ân a.) C a p ít u l o i A Formação dos Conhecimentos (PSícogênese) A vantagem que um estudo da evolução dos conhecimentos desde suas raízes apresenta (embora, no momento, sem referências aos antecedentes biológicos) ê oferecer uma resposta à questão mal solucionada do sentido das tentativas cogrn ti vas iniciais, A sc restringir ãs posições, clássicas do problema, não se pode, com eleito, senão indagar se toda informação cognitiva anima dos objetos c vem de fora informar o sujeito* como 0 supunha o empirismo tradicional, ou. se, pelo contrário, o sujeito está desde o início munido de estruturas endógena$ que ele imporia aos objetos, conforme as diversas variedades de apriorismo ou de inaiis- tno. Não obstante. mesmo a muhiplicar os matizes entre as posições extremas (ç a história das idéias mostrou o número dessa-s combinações possíveis), o postu lado comum dns epistemologias conhecidas é supor que existem em iodos os m veis um sujeito conhecedor de seus poderes em graus diversos (mesmo que eles .se reduzam à miara percepção dos objetos), objetos existentes como tais aos olhos do sujeito (mesmo que cies reduzam a * “fenômenos"), e. sobretudo, instrumentos de modificação ou de conquista (percepções ou conceitos), determinantes do trajeto que conduz do sujeito aos objetos ou o inverso. Ora as primeiras lições da análise psicogenética parecem contradizer essas pressuposições, Dc uma parte, o conhecimento não procede, em suas origens» nem de um sujeito consciente de si mesmo nem dc objetos já constituídos (do ponto dc vista do sujeito) que a ek se impariam. O conhecimento resultaria dc interações que se produzem a meio caminho entre oh dois. dependendo, portanto, dos dois ao mesmo tempo, mas em decorrência de uma indiferenciação com pieis c não de intercâmbio entre formas distintas. De outro lado, o, por conseguinte, se não há. no início, nem sujeito, no sentido epistemológico do termo, nem objetos concebí dos como tais, nem. sobretudo, instrumentos invariamea rir troca, o problema ini dal do conhecimento serâ pois o do elaborar tais mediadores. A partir da zona dc contato entre o corpo próprio e as coisas eles se empenharão então sempre mais adiante nas duas direções complementares do exterior c do interior, c ê desta dupla construção progressiva que depende a elaboração solidária do sujeito e dos objetos. Com efeito, o instrumento de troca inicial não é a percepção, como os racío nalistas demasiado facilmente admitiram do ernpirismo, mns. antes, a própria ação em sua plasticidade muito maior. Sem dúvida, as percepções desempenham A EPrSTEMOLOGIA GENÉTICA um papel essencial, mas das dependem cm parte da açao em seu conjunto, c cer tos mecanismos pcrceptivos que se poderíam acreditar inatos ou muito primitivos (como o "efeito túnel" de Mjchotte) só se constituem a certo nível da construção dos objetos. De modo gerai» toda percepção cliega a conferir significações rclati vai à ação aos dementas percebidas (J. Bruner Tala. nesse sentido, de "identifica ções'\ cf. Eludes, vül. VI. cap. 1] c C poii da ação que convém partir. Distingui- remos a este respeito dois períodos sucessivos: o das açõ-es sensOrio-motoras anteriores a qualquer linguagem uu a toda concepLualizaçãc representativa, c o das ações coiriplctadas por estas novas propriedades, a propósito dos quais se co toca então o problema da tomada de consciência dos resultados, intenções e mecanismos dos aLos. isto ê. de sua tradução em termos de pensamento concepmalizado, /. Os níveis sensórit) mvtores No que diz respeito às ações sensório-motrizes, J. M. BalcMn mostrou, há muito, que o Cactcmc não manifestn qualquer índice de uma consciência dc wli eu. nem de uma fronteira estável entre dados do mundo interior e do universo c.vtcrno. "adualisnrro" este que dura até o momento cm que a construção des.se eu sc torna possível em correspondência e em oposição com o dos outros. De nossa parte, fizemos notar que o universo primilivu não comportaria objetos permanentes até uma época coincidente com o itnere&sa pala pessoa dos outros». wvndo os primeiros objetos dotados dc permanência constituídos precisamentc dessas personagens (resultados verificados com minúcia por Tb. GOúiíi-Déicarse. em um estudo sobre a permanência dos objetos materiais c sobre seu sincronísmo com «s '‘relações objetais", neste sentido freudiano cio interesse por outrem). Em uma estrutura dc realidade que não comporte nem sujeitos nem objetos, evidentemente o único liaine possível entre o que sc tornará mais tarde tim sujeito c objetos é constituído por ações, rnas ações dc um tipo peculiar, cuja significação cptstemoiógfoa parccc esclarecedora. Com efeito, tanto no terreno do espaço como no dos diversos feixes perceptivos cm construção* o laciemc tudo relaciona a seu corpo como sc dc fosse o centro do mundo, más um centro que a d mesmo ignora. Em omíe-íls palavras, a ação primitiva exibe simultaneamente uma indiferenciação completa entre o sub jctivo c o objetivo c uma ecnirãçãõ fundamental, embora radical mente incons cíentc. em razão de achar-se ligada a está mdiíerenciação. Qual podería ser, no entanto, o laço entre esses dois aspectos? Sc existe uma indiferenciaçao entre o sujeito e o objeto ao potuo que o primeiro não se conhece nem mesmo como fonte de suas ações, por que seriam elas centradas no corpo próprio ao passo que a atenção estaria fixada tio exterior? O termo "egocentrismo radical" de que nos valemos para designar esta certtraçào pode. ao invés (mal grado nossas precauções}, parecer evocar um eu consciente (e é ainda mais o caso do "narcisismo" freudiano no passo que se Lríitu du- um RaróisismCi sem Narciso), De lato. a indiferenciaçao e a eeruração das ações primitivas importam ambas em um lercêiro aspecio que lhes é geral: elas ainda nào estão coordenadas entre sí, e PIAGET constituem, cada uma. um pequeno iodo isolável que liga diretamcníc o corpo próprio ao objeto (sugar, olhar, segurar, etc.). Dai decorre uma falta de diferencia ção. pois o sujeito não se afirmará em seguida a não ser coordenando livremente suas ações, e o objeto não se constituirá a não ser se sujeitando ou resistindo às coordenações dos movimentos ou posições em um sistema coerente. Por outro lado, como cada ação forma ainda um todo isotável, sua única referência comum e constante só pode ser t» corpo próprio, donde uma centraçâo automática sobre ele. embora não desejada nem consciente. Para verificar esta conexão entre a falta de coordenação das ações, a indilc- renciaçâo do sujeito e dos objetos e a ccntração sobre o corpo próprio, basta lem br ar o que sc passa entre esse estado Inicial e o nível dos 18 aos 24 meses, inicio da função semiótica e da inteligência representativa. Neste intervaio de um a dois anos reali/a-se. dc fato, mas ainda apenas no plano dos atos materiais, uma e$pé cie de revolução copémiciana que consiste em descentralizar as açoes em relação ao corpo próprio, cm considerar este como objeto entre os demais num espa çõ que a iodos contém e em associar as ações dos objetos sob o efeito das coorde nações de um sujeito que começa a se conhecer como fonte ou mesmo senhor de seus movimentos. Com efeito (c i esta terceira novidade que acarreta as duas outrasj. presefiCia-sc. em primeiro lugar, nos níveis sucessivos do período sensó- rio-motor, uma coordenação gradual das ações, bm lugar de continuar cada uma a Formar um pequeno todo encerrado cm si mesmo, das chegam, mais ou menos rapidamente, pelo jogo Fundamental das assimilações recíprocas, a se coordenar entre si até constituir esta conexão entre meios e fins que caracteriza os atos da inteligência propriamente dita, Ê nesta ocasião que se constitui o sujeito na medi da em que fonte de ações e pois de conhecimentos, por isso que a coordenação de duas dessas ações supõe uma iniciativa que ultrapasss a interdependência ime diuca a que se restringiam as condutas primitivas entre uma coisa exterior c o corpo próprio, Mas coordenar ações quer dizer deslocar objetos, e. na medida cm que esses deslocamentos são submetidos a coordenações, o Agrupo de desloca* mentos" que sc elabora progressivameme a partir desse fato permite, em segundo lugar, atrihuir aos objetos posições sucessivas, também estas determinadas. O ob jeto adquire, por conseguinte, certa permanência espaço-temporal donde a espacializaçáo e objetivação das próprias relações causais. Tal diferenciação do sujeito e dos objetos que acarreta a substanciação progressiva destes, explica cm definitivo esta inversão total das perspectivas, inversão esta que leva o sujeito a considerar seu próprio corpo como um objeto no seio dos demais, cm um universo es paço-temporal e causai do qual ele vem a tomar se parte integrante nu medida cm que aprende a atuar efieazmcmc sobre cEc. fcm resumo, a coordenação das ações do sujeito, inseparável das coordena ções espaço temporais c causais que ele atribui ao real, c ao mesmo tempo fonte das diferenciações entre este sujeito e os objetos, e desta descentralização no plano dos atos materiais que vai tornar possível com o concurso da função semíó Lica a ocorrência da representação ou do pensamento Mas essa coordenação mesma acarreta um problema epistemológico, embora ainda limitada a esse plano a A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA 9 dc ação. c a assimilação reciproca invocada para esse fim ê utn primeiro exemplo dessas novidades, a um tempú não predeterminadas e vindo a ser. entretanto, “necessárias ’, e que caracterizam o desenvolvimento dos conhecimentos. Importa pois insistir nisto um pouco mais a partir do início. A noção fundamental peculiar à psicologia de inspiração empíristq é a da associação que, assinalada jã por Hume, permanece muito em voga nos meios considerados comportarnentistas ou reflexo lógicos. Contudo, esse conceito dc associação refere-se tão-somente a um liíirrre exterior entre os elementos associa dos, ao passo que a noçuo dc assimilação {Etitdes, vol, V.cap, 111) implica a de integração dos dados a uma estrutura anterior ou mesmo a constituição dc nova estrutura sob a forma elementar de um esquema, No que se refere a ações primitr vas, não coordenadas entre si, dois casos são possíveis; ao primeiro a estrutura preexiste por ser hereditária {por exemplo, os reflexos dc sucção) e a assimilação c o n s is te apenas tm incorporar-lhe novos objetos não previstos na programação orgânica. No segundo caso, a situação é imprevista: por exemplo, o Í ac tente pro cura apreender um objeto pendurado, mas. no decorrer de uma tentativa frustra da. limita-se a locá-lo e se segue então um balançar que lhe interessa com o espetá culo inédito. Então ele tentará consegui-lo novamente, donde o que sc p od ería chamar uma assimilação reprodutora ífaster nuvamenle o mesmo gesto) e a forma ção de um início de esquema. Em presença de outro objeto pendurado c3e o assi milará a esse mesmo esquema,donde uma assimilação recognitiva, c á medida que repita a ação nesta nova siiuaçâo, uniu assimilação generalizadora, e esses irès aspectos: repetição, reconhecimento c generalização poderem repetir sc dc ime diato. lim a vez admitida isto. a coordenação das ações por assimilação reciproca que SC tratava de apreender representa ao mesmo tempo uma novidade em relação ao que precede e um desenvolvimento do mesmo mecanismo, Pode-se reconhecer aí duas fases, a primeira das quais é, sobretudo, um desenvolvimento: ela consiste ém assimilar um mesmo objeto a dois esquemas, ao mesmo tempo, o que repre senta um começo dc assimilação recíproca. Por exemplo, se o objeto balançado ou sacudido produz um som, pode tomar-sc alternada ou simultaneamente uma coisa a contemplar ou algo a escutar, donde uma assimitaçào recíproca que con duz entre outras coisas a agitar seja que brinquedo for para sç dar coma dc ruídos que possa emitir. Num caso como este o propósito e os meios permanecem relaií- vamente indiferenciados. mas numa segunda fase em que ressalta a novidade, a criança atribuirá um objetivo ao seu gesto artics de poder atingi-lo c utilizará diferentes esquemas de assimilação a titulo de meios para o conseguir: Abalar por meio de sacudidelas, etc., clc.; o teto do berço paia fazer balançar os brinquedos sonoros que ali se penduram e que continuam inacessíveis à mão, etc. _ Por modestos que sejam esses começas, pode se ver neles um processa em curso que sç desenvolverá cada vez mais depois; u elaboração dc combinações novas por meio de uma conjunção de abstrações obtidas a partir dos próprios objetos ou, e isto ç fundamental, dos esquemas de ação que se exercem sobre eles. Ê desse modo que o fato de reconhecer em mn objeto pendurado uma coisa a balançar comporta antes de mais nada uma abstração a parar dos objetos. Por 10 PIAGCT outro lado. coordenai meios c fins respeitando a ordem de sucessão dos movimen Los a realizar constitui uma novidade em relaçào aos atos globais no seio dos quais meios e fins permanecera indifereneiados, mas esta novidade é adquirida de modo natural a partir de tais atos por um processo que consiste em extrair deles as relações de ordem, ajustamento, erc_, necessárias a esta coordenação. Nesse caso a abstração jã não è mais do mesmo tipo e se orienta na direção daquilo que chamaremos abstração refletidora. Ve se desse modo que a partir do nível sensóno-motor a diferenciação nas cente do sujeito e do objeto se assinala ao mêsmo tempo peia formação de coorde nações ç pela distinção entre duas espécies entre elas; de uma parte, as que reli gam entre si as ações do sujeito e. de outra as que dizem respeito às ações dos objetos uns sobre os outros. As primeiras consistem em reunir ou dissociar certas ações do sujeito ou seus esquemas, as ajustar ou ordenar, pô las em correspon dêncía umas com as outras, etc,, cm outras palavras, cias constituem as primeiras fôrmas dessas coordenações gerais que estão na base das estruturas lógieo-matc- málicas cujo desenvolvimento ullcnor será tão ennsiderãveí. As segundas vêm a conferir aos objetos uma organização espaço temporal, einemática ou dinâmica análoga à das ações, e seu conjunto fica no ponto de partida dessas estruturas causais cujas manifestações sen sorto-motoras sào já evidentes e cuja evolução subseqiiente è tão importante como a dos primeiros tipos. Quanto às ações parti c ui ares do sujeito sobre os objetos, cm oposição às coordenações gerais de que acabamos de tratar, elas participam da causalidade na medida em que ítodi ficam material mente esses objetos ou .1 disposição deles (as condutas instrumentais, por exemplo) c do esquematismô prc-lógico na medida cm que efas dependem das coordenações gerais de caráter formal (ordem, etc.). Desde antes da formação da linguagem, da qual certas escolas, como o positivismo lógico, exageraram a Lmportãncia quanto á estruturação dos conhecimentos, vese pois que estes se constituem no plano da própria ação com suas btpolaridades lógico-matcmática c física, logo que. graças às coordenações nascentes entre as ações, o sujeito e os Objetos começam a so diferenciar ao afinar seus instrumentos de intercâmbio. Mas estes permanecem ainda de natureza material, porque constituídos de ações, e uma longa evolução será necessária até sua subjetivação cm operações. II. O primeiro nível do pensamento pré opcratâriò Desde as ações elementares iniciais, não coordenadas entre si c não sufi cientes para assegurar uma diferenciação estável entre sujeito c objetos, às morde nações com diferenciações, realizou se um grande progresso que basta para garantir a existência dos primeiros instrumentos de interação cognitiva. Mas estes estão situados ainda num único e mesmo plano; o da ação efetiva ç atual, isto é, não refletida num sistema conceptuaLizado. Os esquemas de inteligência sensó- rio-motòra não sàu, com efeito, ainda conceitos, peto fato de que nào podem ser manipulados por um pensamento e que só entram em jogo no momento de sua utilização prática c material, sem qualquer conhecimento de sua existência A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA enquanto esquemas, à falta de aparelhos semíóÜCOS para OS designar e permitir sua tomada de consciência. Com a linguagem, o jogo simbólico, a imagem men tal. clc., a situação muda. por outro lado, de modo notável; às ações simples que garantem as interdejietiííüiiciHS diretas entre o sujeito e os objoLos se superpõe cm certos casos um novo tipo de ações, que é interiorizado e mais precisam ente cortccptualizado: por exemplo, com mais ospacidade de sc desloca; de A para B, o sujeita adquire o poder de representar a si mesmo esse movimento AB t. de evocar pelo pensamento outros deslocamentos. Todavia, percebem se â primeira vista as dificuldades de tal ínteriorízação das ações. Em primeiro lugar, a tômàda dc consciência da açào ê sempre parcial: o sujeito representará a si mesmo mais ou menos facilmente o trajeto AB assim como, muito por alto, os movimentos executados, mas o pormenor lhe escapa c mesmo na idade adulta terá muita dificuldade de traduzi; em noções e de compreender com alguma precisão as flcxõcs c extensões dos membros no decor rer desta marcha. A tomada dc consciência procede pois- por aco lha í cequemati zação representativa, o que implica já uma conceptualização. fcm segundo Sugar, a coordenação dos movimentos AB, BC, CD. ele., pode atingir, nó nível senso no-motor. a estrutura de um grupo de deslocamentos na medida em que a passa gena de cada trajeto pardal ao seguinte c orientado pelo reconhecimento de índi ces perccplivós cuja sucessão assegura as ligações; ao passo- que, a querer se representar eonceptualméntc um tal si&lema, tratar se-á de traduzir o sucessivo numa representação de conjunto dc elementos quase simultâneos. Tanto as esque malizações da (amada dc consciência como esta condensação dc ações sucessivas em uma totalidade representativa abrangem num único ato m sucessões temporais que conduzem então a suscitar o problema das ecordencições cm termos novos, tais que os esquemas tmanenws às ações sejam transformados em conceitos mó veis suscetíveis de ultrapassar a estes em os representando, De fato, seria muito mais simples admitir que a interiorizaçào das ações cm representações ou pensamento consiste apenas cm refazer o Seu curso ou irna- gúnivlati por meio de símbolos ou de signos (imagens mentais ou linguagem) sem as modificar ou as enriquecer com isso. Em realidade esta interiorização é uma conceptualtznção com rudo o que esta comporta dc translbnnação dos esquemas em noções propriamente ditas, por mais rudimentares que elas sejam (não faiare mos a este respeito senão em ^pré coi»ccilosv). Ora, uma vez que o esquema n lo se constitui abjeto de pensamento, mas reduz se à estrutura interna das açoes, ao passo que o conceito é manipulado pela representação e pçlã linguagem, se gue-se que a imeriorizaçào das ações pressupõe sua reconstrução num plano su perior e, cm consequência, a elaboração de uma série de novidades irredutíveis aos in\irumemos do plano inferior, Busca para que se convença disso constatar que aquilo que e adquirido no nível da uilcligcnvia ou da ação >t?n sório - m o to ra não proporciona; dc modo algum à primeira vista uma representação adequada rtO p lano do pensam ento: por exem p lo , crianças de 4 ii 5 ílrtos cxUmlniidu.^ por A. Szeminska sabiam perfeilamente seguir sozinhas o caminho que as conduzia dc suas casas à escola e o inverso, mas sem ser capazes de representar esse ca mi n PIAGET nho por meio de um material que figurasse os principais pontos de referência citados (edifícios, etc.). Dc modo geral nossos trabalhos sobre as imagens mentais com B. Inhelder (/I Imagem M ental na Criança) mostraram o quanto elas perma neciam sujeitas ao nível dos conceitos correspondentes em lugar de figurar livre mente o que pode ser percebido de maneira imediata em matéria de transforma ções ou mesmo dc simples movimentos. A rn/ào essencial dessa defasagem entre as açòes senso rio motoras e a açào interiorizada ou conceptualizada é que as primeiras constituem mesmo no nível em que há coordenação entre vários esquemas, uma sequência de mediadores sucessivos entre o sujeito é os objetos mas dc que cada um permanece purameme atuai: d a se acompanha já, é verdade, de uma diferenciação entre esse sujeito e esses objetos, mas nem aquele nem estes sào pensados na medida cm que revesti dos dc outros caracteres que os do momento presente. No nível da ação concep tualizada, pelo contrário, o sujeito da ação (trate-se do eu ou de um Objeto qual quer) é pensado com seus caracteres duráveis (predicados ou relações), os objetos du ação ígualmcrtce. e a própria ação è conceptualizada na medida em que trans formação particular entre muitos outros represetuáveia entre ou termos dados ou entre termos análogos, t ia está. portanto, graças ao pensamento, situada num contexto espaço temporal bem mais amplo, o que lhe confere uma situação nova como instrumento de troca entre o sujeito e os objetos: de fato, à medida que pro gridem as representações, as distâncias aumentam entre elas e seu objeto. nt> tempo como no espaço, isto c, a série das ações materiais sucessivas, más cada qual momentânea, é completada por conjuntos representativos suscetiveis de evo cor num todo quase simultâneo ações ou acontecimentos passados ou futuros assim como presen tes e especial mente distanciados assim como próximos. Disso resulta, dc uma parte, que desde os comcços deste período do conhecí mento representativo pré operatório assinalam-se progressos consideráveis no duplo sentido das coordenações internas do sujeito, logo, das futuras estruturas, operatórías ou lógico matemáticas, e coordenações externas entre objetos, logo. causalidade no sentido amplo com suas estruturações espaciais e einemátícas. Em primeiro lugar, com efeito, o sujeito toma-se rapidamente capaz de inferências elementares, dc classificações cm configurações espaciais, de correspondências, etc. Km segundo lugar, a partir do aparecimento precoce dos “por que?'" assiste-sc a um início dc explicações causais, Há pois ai um conjunto de novidades essen ciais em relação ao período sensário-motor e não se poderíam tornar responsáveis por cias apenas as transmissões verbais, poiqutr os surdos-mudos, embora cm retarde em relação aos normais à falta de incitações coletivas suficientes, delas não apresentam menos estruturações cognitivas análogas às dos normais: trata se pois de função semiótica em geral, proveniente do progresso da imitação (conduta ' sensório motora mais próxima da representação, mas em atos), c não à linguagem apenas se deve atribuir este giro fundamenta! na elaboração dos instrumentos de conhecimento. Em outros termos, a passagem das condutas sensório-rnoioras às ações conccptualizadas não se deve apenas à vida social, mas também ao pro gresso da inteligência pré verbal em seu conjunto e k imeriorização da imitação A liPISTf-MOLGGIÀ GENÉTICA em representações. Sem esses fatores prévios em parte endôgenos. nem a aquisi ção da linguagem nem as transmissões e interações sociais seriam possíveis, pois que constituem delas am adas condições necessárias. Mas. por Outra parto, importa insistir também na questão dos limites dessas inovações nascentes porque seus aspectos negativos sào de algum modo tão instrutivos do ponto de vista da epíslemologia quanto os positivos, ao nos mostra rem as dificuldades bem mais duráveis do que parece em dissociar os objetos do sujeito ou era elaborar operações, lógico-maremáticas independentes dn causali dade c suscetíveis de fecundar as explicações causais em consequência desta diferenciação mesma. Por que, com deito, o período de 2-3 u 7-8 anos permanece pré-operatório c por que. antes de um sub perto do de d-6 anos em que o sujeito chega a uma semilógica (no senLido próprio que analisaremos em breve), é preciso até falar de um primeiro subperiodo tm que as primeiras "funções constituintes" não estão ainda elaboradas? £ que a passagem da ação ao pensamento ou do esquema sensóiio motor ao conceito não se rçali%& sob a forma dc uma revolução brusca, míts. pelo contrário, de uma diferenciação lenta e laboriosa, que se rçla cioiiii às transformações da assimilação. A assimilação própria dos conceitos cm seu estado de acabamento recai essendaimeme sobre os objetas compreendidos por eles e sobre seus caracteres. Sem falar ainda da reversihilidade riem da trajisiiivida.de operatórias. ela virá por exemplo a reunir todos os A numa mesma ciasse porque eles Sãrt assimiláveis por seu caráter a a: ou a afirmar que todos os A são também B porque além do cará ter a possuem todos o caráter b; pelo contrário, nem todos os B são A. mas ape nas alguns, porque nem todos apresentam o caráter a, etc. Assim, esta assimilação dos objetos entre si que constitui o fundamento dc uma classificação acarreta uma primeira propriedade fundamental do conceito: a norma do "todos7’ e do "ai guns‘\ Por outro lado, na medida cm que um caráter x é suscetível de mais e dc menos (ou mesmo sc dc exprime apenas uma ca propriedade 5 determina a co pertença a uma mesma classe), a assimilação inerente á comparação dos objetos lhe atribuirá uma natureza relativa c o peculiar desta assimilação conecpiual c igualmcntc constituir tais relações ao ultrapassar os falsos absolutos inerentes as atribuições puramente predicatívas. Em contrapartida, 3 assimilação peculiar dos esquemas sensório-motores comporta duas diferenças essenciais com o que prece de, A primeira é que. à falta dc pensamento ou representação. <? sujeito nada conhece da “ extensão" dc tais esquemas, não podendo evocar as situações não percebidas atualmente nem julgar situações presides 11 não ser em “compreen são". isto é, por analogia direta com as propriedades c£as situações anteriores. Em segundo lugar, esta analogia também não vem evocar estas* mm; apenas reconhe cer perceptivamentc certos caracteres que desencadeiam então as mesmas ações que essas situações anteriores. E111 outros lermos, a assim ilação por esquemas envolve certos propriedades dos objetos, mas exclusivamente no momento em que eles são percebidos c de modo Indissociado em relação às ações do sujeito aos quais correspondem (salvo cm cenas situações causais em que as ações previstas são as dos próprios objetos por uma espécie de atribuição de ações análogas às do ia 14 P1AGET sujeito), A granou distinção epistemológica entre as duas formas de assimilação per esquemas sensórioinotores e por conceitos é pois que a primeira diferencia ainda mal os caracteres do objeto dos caracteres das ações do sujeito relativas a esses objetos,, ao passo que a segunda recai sobre í>s objetos só, porém ausentes do mesmo modo que presentes, e de uma só vez liberta o sujeito de suas ligações com a situação atual dando-lhe então o poder de classificar, seriar, pôr em correspon dência, etc., com muito mais mobilidade e liberdade. Ora, o ensino que o primeiro subestágio do pensamento pré-uperatório (de 2 á 4 anos) nos oferece é que, de uma parte, os únicos mediadores entre o sujeito c os objetos são apenas prê-conceitos é pré-reiaçòes (sem norma para o “todos” e o “alguns" para os primeiros nem a relatividade das noções para os segundos) e que. de outra parte c reciprocam ente, â única causalidade atribuída aos objetos se conserva p&ícomórfica, pela iudírercnciação completa com as ações do sujeito. N'o que diz respeito ao primeiro ponto pode-se, por exemplo, apresentar aos sujeitos algumas fichas vermelhas e redondas e algumas fichas azuis, das quais umas são redondas e outras quadradas; nesse caso a criança responderá facil mente que todas as redondas sào vermelhas, mas recusará admitir que todas as quadradas são azuis ‘ pois há também a* azuis que são redondas”- De maneira geral ela identifica facilmente duas classes dc mesma extensão, mas nau com preende uirtdy a relação dc subdasse da classe, por falta de uma norma para o "todos” c “alguns” . Ainda mais. em numerosas situações da vida corrente ela Lerá dificuldade em dustinguir diante de um objeto ou pessoa x se se trata de um mesmo termo individual ,v que permanece id.cnLico a si mesmo ou dum representante qual quer de x ou x 'da mesma classe X; o objeto permanece assim a meio caminho do indivíduo c da classe por uma espécie de participação ou dc exemplar idade. Por exemplo, uma meninazinhâ, Jaquelina. ao ver uma fotografia $ua quando era menor, dirá que "é Jaqueltna quando ela era Luciana ( « sua irmã caçula)”, ou então uma sombra ou uma corrente dc ar produzidas sobre a mesa de experiência podem ser também “ a sombra de debaixo das árvores” ou “o vcnlu” de fora como efeito individual decorrente da mesma classe. Assim também, em nossos estudos sobre a identidade (vol. XXIV dos Études), isto procede, no presente nível, por assimilações semigcnèricas às ações possíveis mais que em se fundando sobre os caracteres dos objetos: as pérolas d ispersa dum colar desfeito são “o mesmo colar” porque se pode refazê-lo. etc. Quanto às prc*rdações, podem ser observadas em profusão nesse nível. Por exemplo, o sujeito 4 tem um irmão B. mas contesta que este irniào B Lenha um irmão, pois são apenas “dois na família”. Um objeto A está à esquerda de B, mas não pode estar à direita de outra coisa, porque, se está à esquerda, trata-se dc um atributo absoluto incompatível com qualquer posição à direita. Sc numa scriação tem-se A < B < C , o termo B não pode &er senão "meio” porque uma qualificação "menor que” exclui a de “ maior que”, etc. Em uma palavra, esses pré-conceitos e pré-relações permanecem a meio caminho do esquema de ação c do conceito, à falta de dominar com bastante dis tância a situação imediata e presente, como deveria ser 0 caso da representação A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA 15 cm oposição à ação* Este apego durável à ação, tom u que d a comporia de cone xões cm parte indíferenciadas entre o sujeito e os objetos* uclut-sc entào na causa lidade deste nível* que permanece fundamentatmente psicomôrfico: os objetos são espécies de seres vivos, dotados dc certos poderes parecidos com Os da própria ação, tais como empurrar, puxar, atrair, etc., tanto a distância corno por contato, seja qual for a direção das forças ou com uma direção exclusiva que é a do agente independem temente dos pomos de impacto sobre os objetos passivos, III. O segundo nível pré operaíório fcíste segundo subesiagio (5 á 6 anos) é assinalado por um início de deseenlra çao que permite o descobrimento dv cerias ligações Objetivas graças a isto que chamaremos "'funções constituintes". Dc um modo geral c muito surpreendente encontrar entre esta segunda Fase da inteligência representativa prè-operatória e a primeira as mesmas relações que entre u segunda c a primeira das Fases da inteli gência sensórío-motora descritas na seçào l: a passagem de um egocentrismo bas tante radicai a uma descontraçâo relativa por objeuvaçâü c cspaciaiízaçào, A dife rença é que. no nível sensoriõ-motor. a ecntrnçSo inicial se liga ao corpo próprio (sem que o sujeito tenha consciência disso), ao passo que com a conceptualização do nível de 2 :i 4 anos há (sem também que o sujeito suspeite do fato) simples assi milação dos objetos e de seus poderes com caracteres subjetivos da ação própria: no plano superior que c o dos preconceitos c pre-relaçOcs, rcprodüz &e aasim uma contração inicial a análoga, j-hiís que se trata de reconstruir neste novo plano o que jã fora adquirido no nível sensório-motor. Após o que se encontra uma descentra çno do mesmo modo análoga, mus entre conceitos ou ações çonecptuali/adus e nâo mais apenas ernre movimentos, e devida também eia ãs coordenações progressivuã que, no caso particular, assumirão a forma de funções {Études, vol. XXIII). Por exemplo, uma criança de 5 a 6 anos sabe em geral que se $e empurra com um lápis uma plaquem retangular em seu meio ela avança "em linha reta"; mas se ú puxada de Indo “ela roda". Ou então em presença de um fio disposto em ângulo reto (r), ela saberá prever que puxando uma de suas extern idades mn dos seus segmentos aumenta e o outro diminui de comprimento* etc. Hm outras pala vras, cm tais casos as pré-relações tornam-se verdadeiras relações, e isto sob o efeito dc suas coordenações porque uma da.s variáveis se modifica sob n depen dência funcional da outra, Esta estrutura de Função, rui medida em que dependência entre as variações dç dois termos que são propriedades relacionais dc objetos, é dc grande fecuudi dade e não c sem motivos que os neokantianos procuravam nela uma das caracte rísticas tia razão, No caso particular deste nível, falaremos de funções consli tilintes e não ainda constituídas, porqm; estas últimas, que se formarão no estágio das operações concretas, compnrrnm uma quantificação efetiva. :u> passo que as primeiras permanecem qualitativas ou ordinais, Mas estas não deixam também de apresentar as características fundamentais da função que são o ser uma aplicação 16 P1AGET unívoca "à direíxfí” (isto é. na direção desta aplicação). Apenas, por importante; que seja esta estrutula nova (em sua novidade rtàu contida de antemão nos pre conceitos c pré relações do nível precedente por isso que devida às próprias coordenações), nàu comporta menos limitações essenciais, que fazem deía um termo de passagem entre as ações e as operações e não absolulamentc ainda um instrumento de conquista imediata destas últimas. Com efeito, a função constituinte não é reversível como tal. mas é orientada e como carente de reversibiiidade não comporta portanto ainda conservações necessárias. No exemplo do fio disposto em engulo reto. o sujeito sabe bom que puxando um des segmentos, digamos A. o outro (B) diminui, mus á falta dc quantificação de rtão suporá a igualdade ü> À = A B: o segmento puxado é em geral considerado como se alongando mais do que o outro se encolhendo; e sobre tudo o sujeito não admitirá a conservação do comprimento total A + B. Verifi ca-se portanto apenas uma .semilógica, à falta de operações inversas, e não ainda unia estrutura operalõria. Ora. este aspecto orientado e não intrinsecameiue rever sível da função constituinte apresenta uma significação epistemoJógtea interes sante que è mostrar suas ligações ainda duráveis com os esquemas dc açao: com efeito, a açãn por si só (isto C\ não promovida ainda à categoria de operação) ç sempre orientada no sentido dc um objetivo, donde o papel lutalmenie recundante da noção dc ordem neste nível4, por exemplo, um trajeto c ”mais longo” se chega “'mais longe" (independentemente dos pontos de partida), etc. Em suma, a função constituinte, na medida em que orientada, representa a estrutura sem ilógica mais apui u traduzir as dependências reveladas pçla ação e seus esquemas, mas sem que elas atinjam ainda a reversibilidadc c a conservação que caracterizarão as operações, Por outro lado. na medida em que ela exprime as dependências interiores ú ação enquanto mediadora entre o sujeito e os objetos. □ função participa, também como ação, de uma dúplice natureza, dirigida ao mesmo tempo no sentido da lógi ca (uma vez que suscita coordenações gerais entre os atos) e no sentido da eausali dade (visto que exprime dependências materiais). Resta nos pois lembrar os gran des traços da pré-lógica e da causalidade próprias a este nível dc 5 a 6 anos imediatamente anterior ao das operações concretas. No que concerne à lógica, o primeiro progresso devido às coordenações entre as ações ctmcepLualíiradas é a diferenciação constante do indivíduo e da classe, o que se assinala cm particular quanto á natureza das classificações. No nível prece dente, essas consistem ainda çm "coleções figurais” , isto c. os conjuntos dc cie Piemos individuais são construídos com apoio não somente em Mcmelhunças e diferenças, mas em convergências de diversas naturezas (uma mesa e o que se põe sobre da, etc.) e sobretudo com a necessidade de atribuir ao conjunto uma confi guração espacial (ordenadas, quadradas, etc.) como se a coleção só existisse qualificando sc a st mesma por meio de propriedades individuais à falta dc disso ciar a extensão da compreensão. Esta última indífercncriação vai tão longe que. por exemplo, cinco elementos tomados a uma coleção de rfez no mais das vezes deverão dar menos dc cinco elementos iguais tirados de uma
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