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Direito Empresarial I PROFESSORA: ROBERTA RAMOS Instagram: @professora.robertaramos 1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS a) Direito Empresarial – Ricardo Negrão b) Direito Empresarial Esquematizado – Autor: André Luiz Santa Cruz Ramos, editora: Método; c) Sergio Campinho – Teoria da Empresa – Ed. Renovar; d) Fábio Ulhoa Coelho – Teoria da Empresa e) Marlon Tomazette - Teoria geral e direito societário OBS.: A leitura do material1 não exime a responsabilidade do aluno da leitura da doutrina e da jurisprudência. Lembre-se: “O sucesso exige mais”. 2. INTRODUÇÃO À DISCIPLINA 3. FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL a) Fontes primárias: - Constituição da República de 1988; - Código Civil; - Código Comercial de 1850; - Leis extravagantes. b) Fontes secundárias - Analogia; - Costumes; Uniforme Constante Boa-fé Observe a lei Assentado - Princípios Gerais do Direito 1 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: Material elaborado com base em doutrina e aulas do Cpiuris. DIREITO EMPRESARIAL O CC imprimiu consideráveis modificações ao clássico Direito Comercial, promovendo a unificação do direito obrigacional e consagrando, de forma definitiva, a Teoria da Empresa em nossa estrutura legislativa. O direito de empresa vem disciplinado no Livro II da Parte Especial do CC, promovendo a revogação expressa da primeira parte do Código Comercial (art. 2045, CC), que é dividido em três partes. A primeira parte tratava dos comerciantes e das sociedades comerciais, ou seja, pessoa física ou jurídica que aplicava os atos de comércio. Tal parte, como dito, foi expressamente revogada pelo CC (art. 2045). A segunda parte cuida do comércio marítimo. Teoricamente, está em vigor. A terceira e última parte cuidava das “quebras” (falência). Tal parte foi revogada, e, hoje, estudamos as “quebras” pela Nova Lei de Falência (11.101/05). Assim, o Código Comercial não restou totalmente revogado, estando ainda em vigor quanto às suas regras aplicáveis ao comércio marítimo, regulado na segunda parte. Além disso, o Código Comercial permanece ainda em vigor naquilo que não conflitar com as disposições do novo CC, aos empresários e sociedades empresárias (art. 2037). Evolução do Direito Empresarial: A Teoria da Empresa é a nova forma de identificação do empresário. É através dela que identificamos, hoje, o empresário e as sociedades empresárias. Entretanto, antes desta teoria existia a Teoria dos Atos de Comércio e, antes ainda, existiram as Corporações de Ofício. 1ª Fase: Corporações de Ofício: As corporações de ofício eram grupos de comerciantes organizados, com o objetivo de regulamentar a atividade. Para integrar as corporações de ofício era necessário requerer a matrícula, que era bastante cara, fazendo com que nem todos conseguissem se matricular, sendo que só era considerado comerciante quem conseguisse se matricular. Portanto, essa primeira fase baseava-se no subjetivismo. Esta foi a primeira forma de reconhecer o comerciante, através da matrícula na Corporação. As corporações, para atrair as matrículas, começaram a adotar regras próprias. Quem não era matriculado era regido pelas regras civis. As Corporações ganharam tanta força que passaram a ter “tribunais” próprios. Por mais que as pessoas fizessem a mesma atividade, a matrícula diferenciava os comerciantes. Esta imposição era muito criticada, principalmente pelos pobres. Obs.: O Brasil não viveu esta 1ª fase. 2ª Fase: Teoria dos Atos de Comércio: Surgiu para enfraquecer as corporações de ofício, através da Lei Le Chapelier e do Código Civil Francês (Código de Napoleão). O art. 1º dizia: “Considera-se comerciante aquele que praticar atos de comércio”. Ao longo do código, explicava melhor o que era ato de comércio. Com isso, as corporações de ofício perderam seu objetivo, pois não tinham mais a força de considerar você comerciante ou não através de uma simples matrícula. Logo, o empresário era identificado pela atividade (objeto) e não pela sua pessoa (sujeito – ex: matrícula das corporações de ofício). Logo que o Brasil começou a codificar suas normas, aplicou-se o disposto no Código Civil Francês, adotando a Teoria dos Atos de Comércio em nosso Código Comercial. O Codigo Comercial não explicava basicamente o que eram atos de comércio. Coube à doutrina explicar que atos de comércio eram “atos de intermediação”. O comerciante seria o intermediário na cadeia de produção. Já foi chamado pejorativamente de atravessador. Ficava no meio entre produtor e consumidor. Com isso, o prestador de serviço não era considerado comerciante. Ocorre que, com o passar do tempo, as prestações de serviço cresceram e passaram a render muitos lucros. Dessa forma, geravam-se menos lucros para os comerciantes. Como os prestadores de serviço podiam sofrer insolvência civil, ao passo que os comerciantes tinham benefícios para se recuperar financeiramente, percebeu-se, assim, que a Teoria dos Atos de Comércio tornou-se obsoleta. 3ª Fase: Teoria da Empresa: Na década de 70, a Itália adotou a Teoria da Empresa, ao unificar o Código Civil e o Código Comercial em um mesmo código. Após a Itália adotar a Teoria da Empresa, o Brasil adotou tal teoria também. Desde o projeto do Código Civil fala-se na Teoria da empresa. A Lei de Locações, de 1991, é um grande exemplo de outras leis criadas, antes do Código Civil de 2002, que fazia menção à Teoria da Empresa. Outro exemplo é a Lei do registro público de empresas (lei 8.934/94). Portanto, por esta lei percebemos que 8 anos antes do Código Civil de 2002 já havia a Teoria da Empresa prevista em algumas legislações. Quando o Código Civil foi realmente aprovado, a Teoria da Empresa tornou-se mais do que realidade. Assim, o art. 2.045 do Código civil revogou a primeira parte do código comercial. Dessa forma, o código comercial só tem a 2ª parte em vigor. Por isso não podemos falar que o Direito Empresarial substituiu o Direito Comercial. O que ocorre é que um convive com o outro, apesar de o segundo ser cada vez mais reduzido. Para a Teoria da empresa, o elemento principal é o exercício da empresa. Empresa, Empresário e Estabelecimento: O CC não definiu a Empresa, mas definiu o empresário. Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Empresário é o sujeito que exerce empresa. Ele pode ser: - Empresário individual – Pessoa física; - Sociedade empresária – Pessoa Jurídica. Empresa é a atividade exercida pelo empresário. Logo, empresa é o objeto de direito. Pelo art. 966, CC, empresa é a atividade econômica e organizada, exercida pelo empresário, seja para produção e circulação de bens, seja para prestação de serviços. Pouco importa a diferença da destinação da atividade. Percebe-se aqui que a Teoria da empresa é mais abrangente que a Teoria dos atos de comércio. Atividade econômica é atividade com fins lucrativos. Não tem que ter lucro, mas sim visar lucros. Além de ser econômica, a atividade tem que ser organizada para ser empresa. Organização diz respeito à diversidade da reunião dos fatores de produção (matéria- prima, capital, trabalho, tecnologia). Diversidade = profissionais diferentes, de áreas diferentes, mas todos eles reunidos para uma atividade-fim. Diversidade na atividade-fim. Obs.: três dentistas, duas secretárias e uma faxineira. Apesar dos dentistas trabalharem para atividade-fim, os outros profissionais trabalham para atividade-meio.Não é empresa, portanto. Obs.: Um dentista, um médico, um fonoaudiólogo e um enfermeiro. Aí sim temos uma empresa. Diversidade na atividade-fim. Estabelecimento: é o conjunto de bens, a universalidade de fato que um empresário reúne para exercer sua atividade, que é econômica e organizada (art. 1142). O nome empresarial está dentro do estabelecimento, mas com ele não se confunde. O estabelecimento é um bem móvel, formado por bens corpóreos e incorpóreos. EMPRESÁRIO INDIVIDUAL: Empresário Individual é a pessoa física que exerce a empresa pessoal e individualmente. Ele não tem sócios, mas para exercer a atividade empresária conta com diversos empregados. O empresário é quase um pródigo. Exerce a empresa em nome próprio. Seu patrimônio que vai responder. Ou seja, exerce empresa em nome próprio e responde através de seu patrimônio próprio. Explora atividade empresária diretamente, assumindo obrigações perante terceiros. Sua responsabilidade é ilimitada e direta. Todos os seus bens poderão ser conscritos para o pagamento de credores. OBS.: empresário individual é pessoa física. E como pessoa física, não pode ele responder por suas dívidas com todos os seus bens. Deve restar o mínimo necessário para a sobrevivência digna – Dignidade da pessoa humana. OBS: o empresário individual tem CNPJ por uma única finalidade: para que ele tenha o mesmo tratamento tributário que a pessoa jurídica. Não é justo que a pessoa jurídica tenha uma alíquota pequena e a pessoa física, que explora a mesma atividade que a pessoa jurídica, tenha uma alíquota muito superior. Então, o fato dele ter CNPJ não o torna pessoa jurídica. Inscrição do Empresário Individual: obrigatória e declaratória. O empresário individual, para ser considerado regular, deverá inscrever-se no Registro Público de Empresas Mercantis (RPEM = Junta Comercial), antes de iniciar sua atividade econômica. O requerimento deverá conter (art. 968): I – o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; II – a firma, com a respectiva assinatura autógrafa; III – o capital; IV – o objeto e a sede da empresa. A inscrição de Empresário Individual, ao contrário do registro de Sociedade Empresária, não proporciona personalidade jurídica a ele, pois o empresário individual é pessoa física. Além disso, o empresário individual não precisa necessariamente da inscrição para exercer a atividade empresária. Com a inscrição, o empresário é regular. Porém, empresário é aquele que exerce atividade econômica e organizada. A inscrição, portanto, é obrigatória (para sua regularidade), mas sem ela o sujeito pode exercer empresa e ser empresário. Assim, ela tem natureza declaratória, e não constitutiva. Diferenças do empresário individual regular para o empresário individual irregular: Empresário regular # Empresário irregular: - pode pleitear autofalência; - Não pode pleitear autofalência. - Pode pleitear recuperação. - Não pode pleitear recuperação. - Pode requerer falência de 3º. - Não pode requerer falência de 3º. - Pode participar de licitação. - Não pode participar de licitação. Entretanto, ambos podem FALIR. Porém, há uma diferença entre a falência do empresário regular e a falência do empresário irregular, já que esta é fraudulenta, criminosa, ou seja, decretada a falência, o falido, necessariamente, comete um crime. Deverão ser arquivados e averbados na Junta Comercial os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança ou legado de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade, sem prejuízo do registro efetivado perante o Registro Civil competente. Igualmente, a sentença que decretar ou homologar a separação judicial do empresário e o ato de reconciliação deverão ser arquivados (art. 979 e 980). Caso o empresário individual queira admitir sócios objetivando que a exploração da empresa passe a ser realizada por sociedade empresária, fica-lhe facultado requerer, perante o RPEM, a transformação de seu registro de empresário individual em sociedade empresária que assim venha a constituir (art. 968, §3º). Tal fato é relevante, por exemplo, para contagem de prazo de 2 anos de exercício regular da empresa, exigida como condição subjetiva ao requerimento de recuperação judicial (art. 48, Lei 11.101/05). OBS: e transformação de empresário individual em EIRELI? Art. 1033, p.ú Firma Individual: O exercício da empresa pelo empresário individual se fará sob uma firma, constituída a partir do seu nome completo ou abreviado, podendo ser aditada designação mais precisa de sua pessoa ou do gênero de atividade. Ex: João Pereira eletricidade; JP eletricidade. Empresário Rural e Pequeno Empresário: Art. 970: “A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes”. O empresário rural terá tratamento favorecido, como, por exemplo, não ficando sujeito à falência e à recuperação judicial ou extrajudicial (art. 1, Lei 11.101/05), estando, também, dispensado de manter escrituração especial (art. 1179 e 1180). O empresário rural não é considerado, portanto, juridicamente empresário. No entanto, permite-se ao empresário rural requerer a inscrição no RPEM da sua respectiva sede, iniciativa esta que, após a inscrição, o equipara, para todos os efeitos, ao empresário sujeito ao registo na junta comercial (art. 971). Art. 971. “O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro”. Ao permitir o registro do empresário rural no RPEM, o CC o equipara ao empresário individual sujeito a registro na Junta Comercial, afastando-o do regime de direito civil. O vocábulo equiparar utilizado no texto legal é proposital. Ou seja, o registro não o constitui empresário, mas tão somente a ele o equipara para fins de tratamento legal. Assim, é possível afirmar que: - a inscrição para o empresário individual é obrigatória e declaratória; - a inscrição para o empresário rural é facultativa e declaratória (não é constitutiva, pois ele não se torna empresário com o registro, ficando tão somente equiparado). O Pequeno Empresário (Empresa de Pequeno Porte ou Microempresa) também terá tratamento diferenciado quanto à inscrição e os efeitos daí decorrente (art. 970). O art. 970, CC não pode servir de fundamento legal para embasar a vontade do legislador em beneficiar o microempresário, haja vista que quem tem esse papel é a Constituição Federal, nos seus art. 170, IX e 179. Logo, se esse art. 970 do CC não existisse, não teria importância, vez que a CF que é quem funciona como fundamento de um tratamento benéfico ao microempresário. Obs.: O que difere o micro para o pequeno empresário é o faturamento bruto anual (art. 3, LC 123/06). Benefícios do pequeno empresário: - modalidade de especial de recuperação; - forma de escrituração de seus livros facilitada; - possibilidade de litigar em juizados especiais; - benefícios tributários: simplificação do recolhimento dos tributos. Empresário Individual Casado: Responsabilidade patrimonial do empresário individual casado: A responsabilidade do empresário individual casado depende do seu regime de bens: 1ª situação: Separação total = credor não podese valer dos bens do cônjuge. 2ª situação: Comunhão universal = credor pode se valer do patrimônio do casal, pois se presume que o outro cônjuge auferiu vantagem do exercício da empresa. Essa presunção é relativa e admite prova em contrário. 3ª situação: Comunhão parcial e participação final nos aquestos = não há a presunção que existia antes. Aliás, aqui se presume que o outro cônjuge não auferiu vantagem da atividade empresária. Presunção também é relativa. Alienação de bem imóvel por empresário individual casado: VER Art. 978. “O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real”. O art. 978, CC excepciona a regra do art. 1647, I e permite que o empresário casado, independentemente do regime de bens, aliene ou grave imóveis que integram o patrimônio da empresa, sem necessidade da vênia conjugal. Apesar disso, a meação do cônjuge não empresário deve ser preservada. A outorga conjugal somente é exigida quando o bem imóvel pertencente ao empresário individual casado não estiver diretamente ligado à atividade empresária. Impedidos de exercer a atividade empresária: Diz o art. 972 que “podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos”. Não existe uma lista de impedimentos. Esses impedimentos decorrem de uma determinada atividade. Conveniências de cunho administrativo ou de ordem pública justificam a incompatibilidade de certas pessoas com o exercício da atividade própria de empresário. Assim, são impedidos de exercer empresa, por exemplo: - Militar; - Falido; - Funcionário Público; - Agentes políticos; - Chefes do executivo. Etc. Os impedimentos são para exercer empresa e não para ser empresário individual, pois exerce empresa tanto o empresário individual (exerce empresa em nome próprio) quanto o administrador (exerce empresa em nome de outrem). Assim, uma pessoa impedida (ou seja, impedida de exercer empresa) não pode nem ser empresário e nem ser administrador de uma empresa. Isto é, o impedido não pode nem exercer empresa em nome próprio e nem em nome de outrem. Se o impedimento fosse apenas para ser empresário individual, o impedido poderia ser administrador de empresa e, com isso, exercer empresa em nome alheio. Impedido não pode nem ser empresário individual e nem administrador. Nada impede que ele seja sócio, pois sócio não exerce empresa, sócio não é empresário. Quem exerce empresa em uma sociedade empresária é a própria empresa através do seu administrador. Se mesmo impedido exercer empresa, os atos praticados por ele serão válidos para a proteção de 3º de boa fé, mas o impedido responderá pelo ato praticado (art. 973). No caso do militar e falido, por exemplo, eles respondem criminalmente pelos atos praticados. No caso de funcionário público, agentes políticos e chefes do executivo, eles responderão administrativamente. Além disso, qualquer prejuízo econômico decorrente da prática do ato ensejará responsabilidade civil. Obs.: Proibições específicas # impedimentos para exercer empresa: Ex: médico: pode exercer empresa, entretanto, há a proibição específica de que esse médico não pode ter uma farmácia. Essa proibição não é considerada impedimento. O mesmo ocorre, por exemplo, na proibição do oftalmologista em ter uma óptica. Capacidade do empresário individual: A) Capacidade para dar início à empresa: Como já dito, o art. 972 estabelece que “podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos”. Logo, consideram-se capazes aqueles que estão em pleno gozo da capacidade civil. - Menor emancipado: PODE EXERCER EMPRESA. Estando emancipado o menor, fica-lhe permitido exercer a atividade de empresário, já que passa a estar em pleno gozo da capacidade civil (art. 972). A prova da emancipação deve ser averbada no RPEM (art. 976). Questão controvertida é sobre a possibilidade de se decretar a falência de menor emancipado e de lhe imputar responsabilidade penal. A lei 11.101 não aborda, de modo expresso, esse assunto. Para Sergio Campinho, o fato do menor não responder por crime falimentar não é argumento suficiente para impedir a decretação de sua falência. A inimputabilidade penal não pode servir de amparo a tal conclusão, já que as órbitas jurídicas são distintas e os bens jurídicos tutelados diversos. Campinho entende, porém, que o menor emancipado não faz jus à recuperação, já que para esta deve ser observado o requisito de exercício regular há mais de 2 anos, incompatível com a emancipação (crítica a essa ressalva: nem todas as modalidades de emancipação ocorrer a partir dos 16 anos – ex: casamento por motivo de gravidez). - Interdito: NÃO PODE EXERCER EMPRESA. Os interditos, por serem declarados incapazes de administrar suas pessoas e bens, estão sujeitos à curatela. Encontram-se, pois, obstados de exercer a atividade de empresário. B) Capacidade para dar continuidade à empresa: Poderá o incapaz (menor não emancipado e interdito), por meio de representante ou devidamente assistido e com autorização judicial, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança (art. 974). O fundamento do art. 974 é o princípio da preservação da empresa, que se justifica, pois toda empresa tem uma função social. A continuidade da empresa dependerá de que o menor e o incapaz estejam assistidos ou representados e que haja autorização judicial, após o exame das circunstâncias e riscos da empresa, bem como conveniência em continuá-la. Tal autorização pode ser revogada pelo juiz. É possível, ainda, que sejam ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros (art. 974, §1º). Os bens que o menor ou do interdito já possuía ao tempo da interdição ou sucessão não ficam sujeitos ao resultado da empresa (art. 974, §2º). A intenção deste dispositivo é proteger o menor ou o interditado. Caso o representante ou o assistente do incapaz seja impedido de exercer empresa (ex: militar), ele nomeará, com aprovação do juiz, um ou mais gerentes (art. 975). A aprovação do juiz não exime o representante ou assistente do menor ou do interdito da responsabilidade pelos atos dos gerentes nomeados (art. 975, §2º). Porém, atente-se aos requisitos, para que um impedido seja sócio de uma sociedade empresária o tipo societário deve consagrar a responsabilidade limitada e não pode ter poderes de administração. CC, art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. O incapaz não pode ser empresário, observando-se, do mesmo modo, que se trata de empresário individual, quando se trata de sócio de sociedade empresária, a situação é diferente, porque sócio não é empresário. Há, ainda, ressalva referente ao exercício de empresa pelo incapaz, quando a incapacidade for superveniente ou quando ele herdar o exercício de uma atividade empresarial. Importante: Verbo continuar. O incapaz só pode ser autorizado a continuar o exercício de empresa que já era exercido por alguém (sempre por meio de representante ou assistente), jamais poderá ser autorizado a iniciar o exercício de uma atividade empresarial. Enunciado 203 do CJF, aprovado na III Jornada de Direito Civil: “o exercício de empresa por empresário incapaz, representado ou assistido, somente é possível nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor na sucessão por morte”. Em primeiro lugar, destaque-seque o art. 974 do Código Civil se refere ao exercício individual de empresa. Trata-se, pois, de casos em que o incapaz será autorizado a explorar atividade empresarial individualmente, ou seja, na qualidade de empresário individual (pessoa física). A possibilidade de o incapaz ser sócio de uma sociedade empresária configura situação totalmente distinta, já que o sócio de uma sociedade não é empresário. É direito do incapaz continuar a atividade? Não. Deve haver autorização judicial, consoante § 1º, do artigo 974, CC: Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros. Na forma do §2º, o juiz irá verificar quais os bens que o incapaz já possuía ao tempo da interdição, e que eram estranhos ao acervo da empresa e destacará esses bens no alvará que conceder a autorização, porque a partir de então, as obrigações assumidas pelo incapaz (que atuará por meio de representante), não poderão ser executadas nos bens destacados. Quando o incapaz vai ser sócio de uma sociedade empresária, não é necessária a obediência ao artigo 974 e parágrafos 1ºe 2º, ou seja, o incapaz pode ser sócio e ponto, não há tais ressalvas. A regra que se aplica ao sócio incapaz é a do § 3º, acrescentado anos após a edição do Código, porque os cartórios de registro estavam confundindo as regras : “O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os seguintes pressupostos: I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade; II – o capital social deve ser totalmente integralizado; III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser representado por seus representantes legais”. Desconsideração da Personalidade Jurídica A teoria da desconsideração da personalidade jurídica (disregard doctrine) já é conhecida há bastante tempo, mas só foi positivada em nosso ordenamento jurídico em 1990, com a edição do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990), cujo art. 28 tem a seguinte redação o juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. O § 5º desse dispositivo o complementa, prevendo que também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Há muita crítica em relação a esse dispositivo, no sentido de que o § 5º invalida o caput, em razão, principalmente, da expressão “de alguma forma”. Posteriormente, outros diplomas legislativos específicos também trataram do tema (Lei Antitruste e Lei de Crimes Ambientais), praticamente repetindo a redação do caput e do § 5º do art. 28 do CDC. Faltava, porém, uma regra geral sobre o assunto. Essa regra geral acabou sendo prevista no art. 50 do Código Civil, que tem o seguinte teor: em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Pela interpretação do dispositivo, verifica-se não ser possível ao juiz determinar a desconsideração da personalidade jurídica de ofício. 1. Teoria menor da desconsideração da PJ Costuma-se usar a expressão teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica para os casos em que se admite a desconsideração quando há o mero prejuízo do credor, ou seja, a simples insolvência da pessoa jurídica. É o que ocorre, por exemplo, nas relações de consumo, por aplicação da regra específica do art. 28, § 5º do CDC. Nesse sentido, o STJ já decidiu que “é possível a desconsideração da personalidade jurídica com base no artigo 28, § 5º, do CDC, na hipótese em que comprovada a insolvência da empresa, pois tal providência dispensa a presença dos requisitos contidos no caput do artigo 28, isto é, abuso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica, sendo aplicável a teoria menor da desconsideração, subordinada apenas à prova de que a mera existência da pessoa jurídica pode causar, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores ”(AgRg no Ag 1.342.443/PR). Enfim, “tratando-se de relação consumerista, é possível a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade empresária ante sua insolvência para o pagamento de suas obrigações, independentemente da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial ” (AgRg no AREsp 511.744/SP; no mesmo sentido: AgRg no REsp 1.106.072/MS e REsp 737.000/MG). 2. Teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica Costuma-se usar a expressão teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica para os casos em que só se admite a desconsideração quando há abuso no uso da pessoa jurídica, o qual pode ser caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial. Tem-se, aqui, aplicação da regra geral do art. 50 do Código Civil, que tem incidência, predominantemente, no âmbito das relações civis e empresariais, em que as regras de responsabilidade subsidiária e limitada dos sócios devem ser res peitadas, sendo desconsideradas apenas em situações excepcionais. Essa teoria também é aplicada na Justiça do Trabalho. Assim, quando “se trata de relações jurídicas de natureza civil-empresarial, o legislador pátrio, no art. 50 do CC de 2002, adotou a teoria maior da desconsideração, que exige a demonstração da ocorrência de elemento objetivo relativo a qualquer um dos requisitos previstos na norma, caracterizadores de abuso da personalidade jurídica, como excesso de mandato, demonstração do desvio de finalidade (ato intencional dos sócios em fraudar terceiros com o uso abusivo da personalidade jurídica) ou a demonstração de confusão patrimonial (caracterizada pela inexistência, no campo dos fatos, de separação patrimonial entre o patrimônio da pessoa jurídica e dos sócios ou, ainda, dos haveres de diversas pessoas jurídicas)” (AgInt no AREsp 589.840/RS). Em suma: “conforme entendimento reiterado pelas Turmas que compõem a Segunda Seção do STJ, acerca dos pressupostos para da desconsideração de pessoa jurídi ca, a partir da interpretação do art. 50 do CC/02, deve ser adotada a teoria maior da desconsideração. Assim, exige -se a demonstração de desvio de finalidade, demonstração de confusão patrimonial, ou a configuração do abuso de personalidade jurídica. (...) A mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações (...) não constitui motivo suficiente para a desconsideração da personalidade jurídica” (REsp 1635630/MG). 3. Efeitos da desconsideração da personalidade jurídica Outro ponto importante a ser destacado no estudo da disregard doctrine é o relativo aos seus efeitos. A desconsideração da personalidade jurídica, ao contrário do que se possa imaginar, não acarreta o fim da pessoa jurídica, ou seja, esta não será dissolvida nem liquidada.Assim, a desconsideração da personalidade jurídica tem os seus efeitos adstritos ao caso concreto em que foi requerida, continuando a sociedade – ainda que “desconsiderada” naquele caso – a existir normalmente e a ter os efeitos da sua personalização respeitados em todas as demais relações jurídicas em que figurar. Nesse sentido, já decidiu o STJ que “a desconsideração não importa em dissolução da pessoa jurídica, mas se constitui apenas em um ato de efeito provisório, decretado para determinado caso concreto e objetivo, dispondo, ainda, os sócios incluídos no polo passivo da demanda, de meios processuais para impugná-la” (REsp 1.169.175/DF). Da mesma forma, a aplicação da teoria da desconsideração não significa a possibilidade de execução de todos os sócios e/ou administradores da sociedade, indistintamente. Somente serão atingidos aqueles sócios que se beneficiaram do uso abusivo da pessoa ju rídica. Nesse sentido, também já decidiu o STJ que, “nos termos do art. 50 do CC, o decreto de desconsideração da personalidade jurídica de uma sociedade somente pode atingir o patrimônio dos sócios e administradores que dela se utilizaram indevidamente, por meio de desvio de finalidade ou confusão patrimonial” (REsp 1.412.997/SP; no mesmo sentido: AgRg no AREsp 621.926/RJ). 4. A desconsideração inversa da personalidade jurídica A teoria da desconsideração surgiu e foi aplicada, historicamente, com a finalidade de permitir a execução de bens particulares dos sócios e/ou administradores por dívidas da sociedade. Mas também se pode fazer o caminho inverso: desconsiderar a pessoa jurídica para executar bens sociais por dívidas pessoais de um de seus sócios. A desconsideração inversa consiste, pois, em aplicar os fundamentos da disregard doctrine para permitir que a pessoa jurídica responda por obrigações pessoais de um ou mais sócios, conforme já decidiu o STJ: “considerando-se que a finalidade da disregard doctrine é combater a utilização indevida do ente societário por seus sócios, o que pode ocorrer também nos casos em que o sócio controlador esvazia o seu patrimônio pessoal e o integraliza na pessoa jurídica, conclui-se, de uma interpretação teleológica do art. 50 do CC/2002, ser possível a desconsideração inversa da personalidade jurídica, de modo a atingir bens da sociedade em razão de dívidas contraídas pelo sócio controlador, conquanto preenchidos os requisitos previstos na norma ” (STJ, REsp 948.117/MS). É comum a aplicação da desconsideração inversa em questões relativas ao direito de família, quando se constata que um dos cônjuges, por exemplo, cria uma pessoa jurídica para ocultação de patrimônio, a fim de afastá-los da partilha ou frustrar a cobrança de pensão alimentícia. Sobre o assunto, o STJ já decidiu o seguinte: “é possível a desconsideração inversa da personalidade jurídica sempre que o cônjuge ou companheiro empresário valer-se de pessoa jurídica por ele controlada, ou de interposta pessoa física, a fim de subtrair do outro cônjuge ou companheiro direitos oriundos da sociedade afetiva” (REsp 1.236.916/RS). Ainda sobre o assunto, confira-se o enunciado 283 das Jornadas de Direito Civil do CJF: “é cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada ‘inversa’ para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros ”. 5. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica O art. 50 do Código Civil trata dos requisitos materiais para a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, mas nada dispõe, obviamente, sobre seu procedimento, afirmando apenas que ela deve ser requerida pela parte ou pelo Ministério Público (o que afasta, em princípio, sua aplicação de ofício pelo juiz). O procedimento a ser seguido está previsto nos arts. 133 a 137 do novo CPC, que disciplinam o incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo. § 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei. § 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica. Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial. § 1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas. § 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica. § 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do § 2º. § 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para desconsideração da personalidade jurídica. Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória. Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno. Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente. Não é um procedimento especial, trata-se de um mero incidente processual, o que já era entendimento do STJ, antes do Código de Processo Civil de 2015 De acordo com o art. 133, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo. O § 1º dispõe que o pedido observará os pressupostos previstos em lei, e o § 2º determina expressamente que o procedimento também se aplica à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica. Perceba-se, que o novo CPC não criou hipótese de desconsideração, mas apenas disciplinou o seu procedimento. Em caso de litígios empresariais, os “pressupostos previstos em lei” a que se refere o art. 133, § 1º, são aqueles do art. 50 do CC: abuso de personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial. Em litígios consumeristas, “os pressupostos previstos em lei” serão os do art. 28 do CDC, e assim por diante. Antes do novo CPC, o STJ entendia que a desconsideração podia ser decretada nos próprios autos, sem necessidade de citação, de modo que o sócio atingido pela medida só podia defender-se após já realizada a constrição de seus bens pessoais (nesse sentido: REsp 1.096.604/DF e AgRg no REsp 1.459.784/MS). A partir da vigência do novo CPC, porém, parece-nos que essa jurisprudência terá de ser revista, uma vez que será preciso instaurar um incidente processual específico, com a imprescindível citação do sócio ou da pessoa jurídica. Confira-se, a propósito, o que diz o art. 135: instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. SOCIEDADES DESPERSONIFICADAS São duas as sociedades não personificadas previstas no Código Civil, a sociedade em comum (arts. 986 a 990) e a sociedade em conta de participação (arts. 991 a 996). A expressão “sociedade não personificada” é contraditória. Sendo a sociedade uma espécie de pessoa jurídica de direito privado (art. 44, inciso I, do Código Civil), é equivocado falar numa sociedade que não possui personalidade jurídica. Talvez fosse melhor o legislador usar a expressão “ente não personificado”, por exemplo. Registre-se também que essas sociedades não personificadas, embora estejam disciplinadasna parte do Código Civil referente às sociedades empresárias, podem eventualmente desenvolver atividades civis (não empresariais), caso em que serão qualificadas como sociedades simples (art. 982, do Código Civil). A propósito, confira-se o enunciado 208 das Jornadas de Direito Civil do CJF: “as normas do Código Civil para as sociedades em comum e em conta de participação são aplicáveis independentemente de a atividade dos sócios, ou do sócio ostensivo, ser ou não própria de empresário sujeito a registro (distinção feita pelo art. 982 do Código Civil entre sociedade simples e empresária)”. Sociedade em comum – art. 986 ao 990, CC 1. Conceito e características: Sociedade em comum, portanto, é aquela que ainda não inscreveu seus atos constitutivos no órgão competente, que pode ser a Junta Comercial (caso o objeto social seja o exercício de uma atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços) ou o Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas (caso o objeto social seja o exercício de uma atividade econômica não empresarial, como o exercício de profissão intelectual, de natureza literária, artística ou científica). Como é o registro que confere personalidade jurídica às sociedades (art. 985 do Código Civil), a sociedade em comum não possui personalidade jurídica, obviamente. Trata- se, na verdade, de uma sociedade em processo de constituição: como uma sociedade não é constituída de imediato, existe um lapso temporal entre o momento em que os sócios se decidem pela constituição e o momento em que ela é efetivamente constituída (registro no órgão competente). Apenas as sociedades contratuais em constituição podem ser qualificadas como sociedades em comum, já que o art. 986 do Código Civil faz expressa ressalva às “sociedades por ações em organização”, as quais possuem tratamento específico na Lei 6.404/1976. Então, se na verdade o que está sendo constituído é uma sociedade anônima, não será qualificada como sociedade em comum enquanto não houve registro de seus atos constitutivos, porque tem tratamento específico na Lei das Sociedades Anônimas, o Código Civil apenas se aplica à sociedade contratual em constituição. Assim, uma sociedade em comum pode ser uma sociedade limitada em organização, por exemplo. É importante distinguir a sociedade em comum da sociedade de fato e da sociedade irregular, embora alguns autores não o façam. Sociedade de fato é a sociedade que não possui sequer contrato escrito e já está exercendo suas atividades, sem nenhum indício de que seus sócios estejam tomando as providências necessárias à sua regularização. Sociedade irregular, por sua vez, é a sociedade com contrato escrito e registrado, que já iniciou suas atividades normais, mas que apresenta irregularidade superveniente ao registro (por exemplo: não averbou alterações do contrato social). Nada impede, todavia, que eventualmente se apliquem as normas da sociedade em comum (arts. 986 a 990 do Código Civil) às sociedades de fato e às sociedades irregulares, por analogia. Nesse sentido, confira-se o enunciado 383 das Jornadas de Direito Civil do CJF: “a falta de registro do contrato social (irregularidade originária – art. 998) ou de alteração contratual versando sobre matéria referida no art. 997 (irregularidade superveniente – art. 999, parágrafo único) conduzem à aplicação das regras da sociedade em comum (art. 986)”. 2. Prova da existência da sociedade “Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo”. A sociedade em comum não é uma sociedade devidamente registrada, então não tem personalidade jurídica, não tem atos constitutivos registrados para que um terceiro possa consultar, nesse caso permite-se ao terceiro que prove a existência desta sociedade de qualquer modo. Mas em se tratando dos próprios sócios que integram a sociedade, a necessidade de se provar a existência da sociedade, isso não é permitido, a prova deverá ser feita por escrito. 3. Patrimônio da sociedade em comum “Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum”. Enunciado 210 das Jornadas de Direito Civil do CJF: “o patrimônio especial a que se refere o art. 988 é aquele afetado ao exercício da atividade, garantidor de terceiro, e de titularidade dos sócios em comum, em face da ausência de personalidade jurídica ”. Assim, diz o Código Civil, que se os bens estão vinculados de certa forma à atividade, consideram-se como patrimônio especial da sociedade em comum, sendo esses bens que deverão garantir eventuais credores. Cria-se, portanto, uma especialização patrimonial. 4. Responsabilidade dos sócios Uma vez que o “patrimônio social” da sociedade em comum é formado pelos bens dos sócios que estão afetados ao objeto social, é contra esses bens que os credores sociais devem se voltar em caso de eventual execução, aplicando-se aos sócios o benefício de ordem previsto no art. 1.024 do Código Civil, isto é, os credores devem primeiro executar esses “bens sociais” antes de executar bens pessoais dos sócios. O único sócio que não poderá gozar do benefício de ordem é aquele contratou pela sociedade, conforme previsão expressa do art. 990 do Código Civil: todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociai s, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade. “Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais”. Recomenda-se a leitura atenda dos artigos 987 e 990, do Código Civil, pois são os que mais caem em prova. Sociedade em conta de participação Essa sociedade está definida no art. 991 do Código Civil, que assim dispõe: na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes. Trata-se, na verdade, não de uma sociedade propriamente dita, mas de um contrato especial de investimento que o sócio ostensivo (geralmente um empresário individual ou sociedade empresária) faz com os sócios participantes, também chamados de sócios ocultos (podem ser empresários ou não), a fim de desenvolver determinado negócio específico. Cuidado: Quem exerce a atividade é o sócio ostensivo, não o fazendo como representante ou administrador da sociedade, mas em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade. É por isso que se diz que a sociedade em conta de participação é mais um contrato de investimento que uma sociedade, pois provavelmente o sócio ostensivo é uma sociedade empresária, que angariou alguns investidores para fazer determinado negócio, acertando a divisão dos lucros e prejuízos ao final. Os terceiros que contratam com o sócio ostensivo sequer sabem da existência da sociedade em conta de participação ou os sócios investidores, porque negociam diretamente com o sócio ostensivo. É o sócio ostensivo (uma sociedade limitada, por exemplo) que vai colocar em prática o negócio em questão, praticando todos os atos necessários para tanto (contratar com terceiros, por exemplo). Perceba-se que os terceiros não contratarão com a sociedade em conta de participação, mas com o próprio sócio ostensivo, e é por isso que a responsabilidade decorrente desse negócio é apenas do sócio ostensivo, e não da sociedade, muito menos dos participantes (estes, aliás, sequer devem aparecer nas relações do ostensivo com terceiros). A propósito, diz o art. 991, parágrafo único do Código Civil: obriga-se perante terceiro tão-somenteo sócio ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social. De acordo com o art. 992 do Código Civil, a constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito”. Esse dispositivo apenas deixa claro que a conta de participação é uma “sociedade extremamente informal, que sequer precisa ter um contrato escrito, e sua existência pode ser provada por qualquer meio. O art. 993 do Código Civil prevê que o contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade. Caso exista contrato escrito – o qual, vale lembrar, não é obrigatório – ele não precisa ser registrado em nenhum local para que produza efeitos entre as partes. E, ainda que exista contrato e ainda que ele seja eventualmente registrado em algum local (Cartório de Títulos e Documentos, por exemplo), isso não confere personalidade jurídica à sociedade em conta de participação. Ela será sempre, pois, uma sociedade não personificada. OBS.: Estudar os tópicos da falência do sócio ostensivo e do sócio participante.
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