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trabalho de família

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.
Resenha Crítica de Caso 
Luísa Pimenta Madeira Santos
Trabalho da disciplina Desafios da Família na Contemporaneidade
 Tutor: Prof. Mariana de Freitas Rasga
Belo Horizonte - MG 
2021
ENCONTRANDO PAIS NEGROS: UMA IGREJA, UMA CRIANÇA
Referência: WARROCK, Anna M. FINDING BLACK PARENTS: ONE CHURCH, ONE CHILD. Harvard Kennedy School of Government, Janeiro de 1988. - Número do caso C15-88-856.0
O caso estudado para confecção desta resenha aborda o tema da dificuldade de se conseguir uma família adotiva para crianças negras, mais especificamente nas décadas de 1970 e 1980, em Illinois, nos Estados Unidos da América. 
Visando melhorar a vida daquelas crianças negras que precisavam desesperadamente de um lar, o então coordenador do Departamento de Crianças e Serviços Familiares de Illinois (DCFS), em 1978, Gregory L. Coler, criou um programa conhecido como “One Church, One Child” (“Uma Igreja, Uma Criança”), que com a ajuda da igreja, tentava fazer com que famílias negras, adotassem aquelas crianças negligenciadas, e estagnadas sob a guarda do Estado.
No fim da década de 1970, o Condado de Cook, em Illinois, tinha em seu sistema de acolhimento adotivo um total de 1002 crianças adotáveis. Dentre essas crianças, 702 eram negras, ou seja, 70% das crianças disponíveis para adoção eram negras, sendo que a população geral do Condado de Cook era composta por apenas 26% de negros. 
Não bastasse o número de crianças negras ser devastadoramente maior que o de crianças brancas, essas sofriam uma dificuldade muito maior em encontrar lares permanentes, muitas vezes ficando até atingirem a maioridade sob a guarda do Estado. 
Mesmo tentando ampliar as chances de achar lares para essas crianças, e procurando em outros estados, inclusive em casas interraciais, o DCFS sofria não só com a dificuldade de achar famílias dispostas a adotar, mas principalmente com a pressão social para que as crianças negras fossem necessariamente alocadas em lares de famílias negras, para que a cultura negra fosse preservada.
Dessa forma, Coler se viu em uma situação extremamente complicada, uma vez que, além do estigma que as crianças negras carregavam de terem “necessidades especiais”, tais como crianças com deficiências e crianças, inclusive brancas, com mais de 6 anos, as questões burocráticas e estruturais do DCFS tornavam o sistema de adoção tão lento e ineficaz. 
Parte deste problema estrutural ocorria pelo fato de grande parte dos assistentes sociais de Illinois serem brancos. Por conta disso, os parâmetros usados pelos mesmos para avaliar pais em potencial eram baseados nos valores da classe média branca dos Estados Unidos. Logo eles procuravam por pais com formação universitária, casa própria e rendas equivalentes aquelas de classe média. Sendo assim, muitas famílias negras que estavam dispostas a adotar e procuravam o DCFS, eram recusadas por não preencherem o perfil procurado pelos assistentes sociais. 
Além disso, quando eram feitas campanhas de adoção, o departamento não estudava o perfil demográfico e por tanto não iam até os locais onde efetivamente existiriam famílias negras dispostas a adotar. Os assistentes sociais simplesmente realizavam os eventos de adoção em locais onde seria mais confortável para eles, e não onde as famílias realmente estavam.
Outro grande problema estrutural e burocrático do departamento, era o fato de o estado de Illinois não ter uma coordenação única para adoção estadual, o que fazia com que cada região tivesse procedimentos diferentes para adoção, gerando uma extrema falta de organização dentro do órgão. Junto a isso também tínhamos a grande carga de trabalho que os agentes carregavam, pois, na maioria das regiões, o profissional que realizava o acolhimento também era o responsável pelas adoções, o que tornava o trabalho extremamente pesado. 
Coler então, após perceber todos esses problemas começou a criar soluções, primeiramente perfilou todos os casos, criou também dois cargos de alto nível, um para a divisão de operações e outro para a de políticas e planos, tornando assim o DCFS mais eficiente. 	
Providencialmente o governo federal criou novas leis que garantiam um apoio financeiro extremamente importante para o sistema de adoção do país, o que ajudou Coler em suas mudanças.
No entanto, apenas essas medidas não estavam sendo suficientes para resolver o problema do grande acúmulo de crianças negras precisando de um lar. Foi conversando e discutindo sobre a crise negra de adoção que Coler, juntamente com Johnson e Casey que surgiu a sugestão de envolver a igreja negra nas adoções das crianças negras.
Como se sabe, as igrejas negras têm um papel fundamental na comunidade negra, uma vez que, elas são as principais organizações de propriedade total e dirigidas por negros.
A igreja era o local onde a população negra se reunia quando precisavam resolver qualquer tipo de problema, uma vez que tinham uma grande confiança na comunidade que era formada ali. Era o local onde os negros se sentiam acolhidos, e onde conseguiam expor e propagar seus valores e cultura. Por conta disso a igreja se tornou algo não só religioso, mas algo social, de forma a ajudar toda a comunidade. 
Coler e Johson se reuniram com George Clements, um pastor da Igreja Católica dos Santos Anjos e tinha a reputação de quem resolve as coisas, além de ser muito bem relacionado e ter colegas não só católicos, mas também batistas e metodistas. Explicaram a ele suas ideias e pediram as dele, embora cauteloso ele reconheceu que essa solução era realmente uma boa ideia e contatou o líder batista Reverendo Charles Koen, que também teve dúvidas quanto a esse projeto mas, quando Coler e Johson se comprometeram a colocar os recursos estaduais para que a parceria funcionasse, os ministros perceberam que eles estavam realmente comprometidos com aquele programa. 
Acreditando nessa ideia Clements entrou em contato com outros ministros de Chicago com a intenção de formar uma rede de pastores negros, e Coler, para demonstrar que estava realmente investido naquele programa, nomeou Johnson como seu representante pessoal perante os ministros.
Johnson, logo de início foi em busca do apoio da Convenção Geral Batista de Estado de Illinois, o orgão de governo do grupo religioso negro mais poderoso do estado e com o apoio deles vários outros ministros batistas aceitariam levar o projeto para suas igrejas. 
Johson e os ministros decidiram que cada igreja pediria que uma família negra adotasse uma criança. Os ministros passariam a mensagem religiosa e social sobre a adoção, e apresentariam através de vídeos as crianças disponíveis, inclusive levando as próprias crianças até a igreja. Após essa apresentação os profissionais do DCFS responderiam qualquer pergunta que a congregação tivesse. 
Certa noite, Clements, enquanto conversava com sua congregação, pediu mais uma vez para que eles adotassem aquelas crianças que precisavam de uma família, no entanto, conforme os ministros previram em suas reuniões, a congregação estava resistente. Quando nenhum membro da congregação se prontificou, Clements anunciou diante de sua congregação, que adotaria Joey uma criança de 13.Nunca antes um padre havia adotado uma criança nos EUA.
A atitude de Clements ajudou a divulgar a crise da adoção de negros, e fez com que a reestruturação legislativa nas lei de adoção do estado, proposta por Coler ganhasse apoio. Com isso Coler levou seu caso até o governador Thompson, e o convenceu que melhorar o sistema de adoção economizaria milhões ao estado, uma vez que os gastos que o estado tem enquanto elas estão em postos de acolhimento acabaria, pois esse custo seria transferido para as famílias.
O governador Thompson então aumentou em 25% o financiamento do programa de adoção, o que fez com que os serviços existentes fossem melhorados e novos fossem criados. As mudanças legislativas propostas por Coler também foram aprovadas. 
Com todas essasmudanças a última barreira para que o projeto obtivesse sucesso era conseguir mudar a burocracia e principalmente superar o ceticismo da sua própria equipe, que achava que ao mudar os hábitos e procedimentos com que eles já estavam acostumados era uma ameaça aos seus empregos. 
O projeto “One Church, One Child” é um exemplo claro de que muitas vezes a burocracia e a má execução de serviços executados pela administração pública podem causar grandes problemas para a sociedade. As crianças que estavam sob a guarda do Estado e precisavam encontrar uma família tinham o seu processo de adoção prejudicados, e consequentemente a sua vida prejudicada, pelo simples fato de ser tão difícil mudar aqueles hábitos e atitudes dos servidores públicos, e também a ideia que a sociedade, nesse caso a comunidade negra, tinha do Estado, uma vez que várias vezes e por vários anos tinham que enfrentar diversos problemas e preconceitos causados por eles.

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