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A EDUCAÇÃO INFANTIL E A GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA INFÂNCIA Glaucia Silva Bierwagen Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir as especificidades das práticas pedagógicas desenvolvidas em turmas de berçário. Identificar o perfil do professor de referência de uma turma de berçário. Reconhecer a importância do período de inserção/acolhimento dos bebês na escola. Introdução A educação infantil de 0 a 1 ano mudou muito nas últimas décadas. A criança se tornou a principal protagonista da aprendizagem. Por sua vez, o educador se destaca como promotor do crescimento, do desenvolvi- mento e da autonomia dos alunos. Assim, as instituições escolares e os professores devem planejar brincadeiras e interações que estimulem a aprendizagem da criança. Além disso, devem acolhê-la da melhor forma possível para que ela possa se integrar às rotinas da escola. Neste capítulo, você vai ver como as instituições escolares devem agir a partir da nova concepção de bebê, visto como um ser capaz de aprender e estabelecer interações. Como você pode imaginar, o professor de referência de uma turma de berçário desempenha papel fundamental nesse contexto. Práticas pedagógicas nos berçários Um bebê é aquele que tem de 0 a 18 meses — ou um ano e meio de idade (BRASIL, 2012). Atualmente, o bebê é compreendido como um ser social, histórico e competente, mas nem sempre foi assim. Como você sabe, nos seus primeiros anos de vida, as crianças necessitam dos cuidados e da atenção de adultos para sobreviverem. Contudo, essa dependência inicial não quer dizer que um bebê não seja capaz de expressar-se, interessar-se pelas coisas e pelo outro. Por muito tempo, o bebê foi encarado como ser imaturo, incompleto e incapaz, mas estudos recentes, em diversas áreas do conhecimento, têm mostrado que os bebês são competentes (BRASIL, 2012; FOCHI, 2015). Como o bebê aprende? Acredita-se que a criança é um ser ativo, capaz de construir o seu próprio conhecimento. Mas, como você pode imaginar, o educador tem papel essencial na promoção do crescimento e do desenvolvi- mento, fomentando a autonomia da criança (FOCHI, 2015). Dessa forma, na educação de bebês, as propostas das instituições escolares devem privilegiar as noções listadas a seguir (BRASIL, 2010, 2017; FOCHI; 2015): O desenvolvimento da criança é um processo conjunto e recíproco. Ou seja, as crianças devem ter amplas oportunidades de trocar experiências com outras crianças, professores e educadores da instituição. O educar e o cuidar são dimensões inseparáveis de toda ação educacional. Isso significa que cuidar da criança é atender às suas necessidades físicas, mas não somente isso. Cuidar inclui acolher, garantir a segurança e alimentar a expressividade infantil. Nesse sentido, cuidar é educar, dar condições para as crianças descobrirem o ambiente e elaborarem significados pessoais. A inclusão de crianças com necessidades educativas especiais é essen- cial. Ou seja, nessa etapa é necessário fornecer diversas experiências que favoreçam o aprendizado e o desenvolvimento dessas crianças. A construção de parcerias com famílias é um ponto essencial. A atuação do professor mediador tem destaque. O professor deve or- ganizar e dirigir as situações de aprendizagem da criança, interagindo com ela e indicando caminhos para o seu aprendizado. Você sabe que práticas pedagógicas podem ser realizadas nos berçários? Para responder a essa pergunta, lembre-se de que cuidar e educar são dimen- sões independentes, mas indissociáveis (KRAMER, 2005). Além disso, não se esqueça da importância da interação e do brincar na infância (BRASIL, 2010). Os documentos de orientações curriculares para a educação infantil indicam que os bebês devem ter experiências voltadas ao conhecimento e ao cuidado de si, do outro e do ambiente. Também devem ter experiências de brincar e imaginar, explorar a linguagem corporal, explorar a linguagem verbal, explorar a natureza e a cultura. Além disso, precisam de experiências com a expressividade das linguagens artísticas, além de contato com recursos tecnológicos e linguagens midiáticas (BRASIL, 1998a, 1998b, 1998c, 2010, 2012, 2017). Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil2 Como fazer isso com os bebês nas escolas? Os bebês reconhecem as pessoas que cuidam deles e a sua localização no ambiente. Isso se dá por meio de uma compreensão inicial das sensações (de colo, movimento, etc.), dos sons e dos cheiros que os rodeiam. Na comunicação que iniciam com seus parceiros enquanto interagem, aprendem a entender e responder a entonações de voz, a expressões faciais e corporais e a falas, sorrisos e choros. Também aprendem com as reações dos parceiros. Momentos como esses possibilitam que os bebês lidem com seus afetos e aprendam a importância do outro (BRASIL, 1998a, 1998b, 1998c, 2010, 2017; FOCHI; 2015). Como você pode notar, é muito importante que os bebês tenham experiências de brincar e imaginar. Desde cedo, eles apreciam brincar de esconde-esconde com as mães ou com pessoas com quem estabelecem um vínculo afetivo. Essa atividade interativa permite que os bebês assumam diferentes posições em jogos — por exemplo, a de quem procura alguém e a de quem é procurado. Isso proporciona prazer ao bebê e ao parceiro. Sendo assim, as crianças podem brincar com os professores de esconder e descobrir o rosto; seguir os brinquedos com os olhos; procurar e achar objetos que foram escondidos; imitar gestos e vocalizações (BRASIL, 1998a, 1998b, 1998c, 2010, 2012, 2017; FOCHI; 2015). Para realizar o trabalho com os bebês, é muito importante também que os educadores conheçam brinquedos e brincadeiras específicas, conforme as características de cada bebê (BRASIL, 2012): brinquedos e materiais para bebês que ficam deitados; brinquedos e materiais para bebês que se sentam; brinquedos e materiais para bebês que engatinham; brinquedos e materiais para bebês que andam. Veja estas sugestões de brinquedos e materiais para bebês que ficam dei- tados (BRASIL, 2012): móbiles coloridos e sonoros que se movimentam, criam cintilações e envolvem os bebês, que podem movimentar braços e pernas; morros criados por almofadas, ou seja, o bebê pode ser desafiado a pegar um brinquedo do outro lado de uma almofada, com desníveis criados para explorações motoras; estruturas de exploração em que se penduram objetos coloridos que emitem sons quando movidos e podem encantar a criança quando ela tenta alcançá-los com as mãos e os pés; 3Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil chocalhos que produzem sons ao balançar (podem ser produzidos pelas professoras) e podem ser manuseados pelas crianças; brinquedos musicais, que podem ser rádios, toca-discos, brinquedos em forma de animais que emitem sons. Na Figura 1, a seguir, você pode ver uma estrutura de exploração e um móbile. Figura 1. Estrutura de exploração e móbile. Fonte: Brasil (2012, documento on-line). Outra opção interessante é balançar suavemente o bebê na rede, segurada por duas pessoas, ou numa colcha ou cobertor (Figura 2). Figura 2. Brincadeira na rede. Fonte: Brasil (2012, documento on-line). Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil4 Agora, veja opções de brinquedos e materiais para bebês que se sentam (BRASIL, 2012): mordedores com texturas leves e diferentes formatos e cores, que podem oferecer algum conforto e exploração; experimentações mais complexas, como pegar dois objetos ao mesmo tempo, ou interagir com dois objetos iguais (especialmente a partir do sétimo mês); tapetes sensoriais contendo argolas, objetos que produzem sons, tecidos com diferentes texturas, aberturas para fechar e abrir; brinquedos de encaixar que formam torres, carros e outros objetos e que podem desafiar a lógica; brinquedos e materiais de por e tirar, como pregadores de roupa ebolas de tênis; brinquedos de bater, tampas de panelas e pequenos instrumentos musicais; brincadeiras com água, como na banheira ou bacia; cesto do tesouro ou de objetos. O cesto (em vime, redondo, sem alça ou mesmo uma caixa de papelão) do tesouro ou de objetos é uma coletânea de objetos de uso cotidiano usada com o objetivo de ampliar as experiências sensoriais dos bebês. Ele foi criado por Elinor Goldschimied. Esses cestos oferecem a oportunidade de que o bebê explore, manipule e entre em contato com objetos, em suas diversas formas, texturas, cores. Quando o bebê coloca tudo na boca, está aprendendo as características do objeto (5 a 10 meses); quando enche, esvazia e empilha, tenta descobrir o que fazer com os objetos (10 a 20 meses); e quando começa a entender e a utilizar a linguagem oral, pode usar a imaginação para transformar o cesto em um carro (BRASIL, 2012). 5Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil Nos Quadros 1 e 2, a seguir, você pode ver sugestões de objetos para montar os cestos. Objetos da natureza Objetos feitos com materiais naturais ou outros materiais de uso cotidiano Objetos de madeira Miniabóboras secas Sacolas feitas de bambu, tecidos Apitos de bambu, flauta pequena Limão, maçã, laranja, pepino, cenoura, pimentão de várias cores, beterraba, tomate, abobrinha Rolhas e enfeites de cortiça Aros de cortina, de bambu ou madeira e lápis grosso feito com casca de árvore Conchas grandes de caramujos Bolas de fios de lã, de seda, de tecido Caixinha forrada de veludo Cones de pinho, de diferentes tamanhos, sem os espinhos Enfeites de geladeira feitos de madeira ou couro Castanholas e chocalhos Nozes e castanhas grandes Escovas feitas de cerdas naturais ou escovas de dentes e de cabelo (sempre novas) Cilindros, bobinas, carretel de linha Caroço de abacate Pequenos cestos Colher ou espátula Esponja (bucha) Pincéis de pintura, barba (observar o cabo: deve ser curto, grosso e arredondado) Tambor de madeira pequeno Pedra-pomes Vasinho ou enfeite de palha dourada (capim- dourado de Goiás) Pregadores de roupa Casca de árvore e pedaços de cortiça Lixa de escamas secas de peixe Copos ou pratinhos Quadro 1. Sugestões para o cesto com objetos da natureza e de uso do cotidiano (Continua) Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil6 Objetos de metal Objetos de couro, têxteis, borracha e pele Papel, papelão Apito de escoteiro, campainha de bicicleta Coleira para cãezinhos Rolo de toalhas de papel Chaveiro e molho de chaves Calçadeira de metal Bola de borracha, de golfe, de pele, de tênis, de couro, de tecido Papel impermeável, papel-manteiga Aros de cortina de metal Bonequinha de retalho, fitas coloridas Forminhas de papel colorido para docinhos Bijuterias, correntes com aros grandes Estojo de couro para óculos Pequena caixa de papelão Espremedor de alho, forminhas Tapetinhos de tecido, ráfia, fibra de coco, cipó Pequeno caderno com espiral Quadro 2. Sugestões para o cesto com objetos de metal e papel de uso do cotidiano Objetos da natureza Objetos feitos com materiais naturais ou outros materiais de uso cotidiano Objetos de madeira Casca do coco Pulseiras e colares de materiais naturais Presilhas, pulseiras Pedaço de couro Cocar indígena ou enfeites feitos com penas Bichinhos de madeira Pedaços de madeira de palmeira de meriti Presilha ou pente de osso ou madeira Suporte de ovo Cabaças pequenas Suporte para prato de comida quente de vime, palha, sisal Suporte de copo e prato quente Quadro 1. Sugestões para o cesto com objetos da natureza e de uso do cotidiano (Continuação) (Continua) 7Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil Veja sugestões de brinquedos e materiais para bebês que engatinham: cadeiras, mesas, caixas de papelão com furos; brinquedos estruturados de espuma, que podem criar cenários desa- fiadores e diversas explorações para as crianças; túnel com cadeira, mesa ou caixa para que os bebês possam atravessá-lo engatinhando. Agora veja sugestões de brinquedos e materiais para bebês que andam: brinquedos de empilhar; brinquedos de empurrar; brinquedos de puxar; briquedos de encaixar; bolas; brincandeiras de exploração; brincadeiras de imitação. Com relação à linguagem corporal, os bebês podem ser incentivados a explorar com relativa autonomia os espaços oferecidos para além do berço. Isso pode ocorrer por meio de movimentos elementares e básicos, como erguer a Objetos de metal Objetos de couro, têxteis, borracha e pele Papel, papelão Colheres de vários tamanhos Saquinho de pano contendo flores e ervas secas, canela, cravo Papel-celofane Sinos, funis Bolsa decorada com bordados Livrinho em miniatura Porta-guardanapo de metal Cinto de couro, pele, tecido Marcador de livro Tampas de latas e latinhas sem as bordas afiadas Chapéu de couro Cartão de Natal com dobradura Quadro 2. Sugestões para o cesto com objetos de metal e papel de uso do cotidiano (Continuação) Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil8 cabeça, rolar, sentar, rastejar e engatinhar. É possível estimulá-los a aprender a manusear diversos objetos, empregando movimentos básicos como pegar, largar, lançar de modos diferentes, empilhar e encaixar. Os bebês também podem ser auxiliados a familiarizar-se com a própria imagem corporal, perce- bendo diferentes segmentos do corpo por meio do toque e do uso do espelho. Ainda é possível sentar-se na mesa e segurar o bebê no colo para que ele possa apalpar a superfície ou pegar algum objeto que esteja no tampo (BRASIL, 1998a, 1998b, 1998c, 2010, 2012, 2017; FOCHI; 2015). Na exploração da linguagem verbal, na escola, os bebês podem observar professores comunicarem-se; podem se expressar por meio de gestos e balbucios. Os bebês podem ser auxiliados a acompanhar a cantoria de parlendas, cantigas ou brincadeiras cantadas, expressando-se corporalmente, emitindo sonorizações, vocalizando com o apoio do professor, etc. Para explorar a natureza e a cultura, os professores podem possibilitar que os bebês brinquem com água e areia, terra ou outros materiais, explorando texturas e algumas propriedades, como temperatura e consistência. Ainda é possível realizar atividades que estimulem as crianças a notar variações de sons (alto, baixo) e de localizações (esquerda, direita) (BRASIL, 1998a, 1998b, 1998c, 2010, 2012, 2017; FOCHI; 2015). Para experiências com a expressividade das linguagens artísticas, como a expressividade musical, os bebês podem ser apoiados a entender os sons do ambiente e a reagir a sons e músicas. Também podem identificar músicas preferidas, acompanhando-as por meio do movimento corporal. Pode-se ainda cantar o nome dos bebês. No campo visual, os bebês podem ter acesso a desenhos, pinturas, fotografias e artesanatos, demonstrando suas preferências por meio do olhar, do sorriso, de gestos, interjeições, etc. Além disso, os bebês podem experimentar articular visualmente as diferentes relações de claro e escuro na natureza e em meios artificiais, como pintura, fotografia, cinema, etc. (BRASIL, 1998a, 1998b, 1998c, 2010, 2012, 2017; FOCHI, 2015). A atuação do professor de uma turma de berçário Desde o seu nascimento, a criança interage com outros, que a auxiliam a dar signifi cado ao mundo e a si mesma. Nas instituições de educação infantil, um parceiro muito importante é o professor, que é um mediador especial, um recurso de que as crianças dispõem para aprender. No berçário, o professor é uma uma fi gura de referência para a criança, que acompanha seus movimentos em busca de apoio e segurança e reage ao seu afastamento. Conforme o bebê 9Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil vai se familiarizando com o ambiente da escola, começa a lidar melhor com a ausência das pessoas com quem mantém relação de apego e passa a atuar com mais segurança ao entender que alguém se afasta e pode voltar depois (FOCHI, 2015; GONZALEZ-MENA;EYER, 2014). Goldschmied e Jackson (2006) explicam que, ao se refletir sobre a atuação do educador de referência em uma creche, é importante pensar do ponto de vista da criança. Para as autoras, as crianças pequenas não dispõem de linguagem para expressar seus pensamentos e experiências. Assim, necessitam de um educador que desenvolva uma relação com elas. Na instituição de educação infantil, o educador de referência é compartilhado pelas crianças. No desenvolvimento do trabalho educativo com bebês, o educador deve (GONZALEZ-MENA; EYER, 2014): envolvê-los nas coisas que dizem respeito a eles, ou seja, entender que a criança é participativa e interativa nas ações propostas; investir em tempo de qualidade, ou seja, dedicar genuíno tempo e envolvi- mento na tarefa desenvolvida, como dar banho no bebê e trocar as fraldas; aprender as formas únicas de comunicação das crianças e ensinar as suas, ou seja, usar o corpo, as expressões faciais e a voz para comunicar reações; investir tempo e energia para construir uma personalidade completa (social, afetiva e cognitiva); respeitar os bebês como seres valiosos; ser honesto com relação aos próprios sentimentos; ser modelo do comportamento que deseja ensinar; encarar os problemas como oportunidades de aprendizado, até o ponto em que os bebês possam resolvê-los sozinhos (Por exemplo: um bebê está engatinhando e tenta se sentar. Quando não consegue, começa a chorar. Em vez de salvá-lo, o professor pode guiá-lo para que saia daquela situa- ção, oferecendo a ele segurança e o direcionando com palavras e gestos.); construir segurança oferecendo confiança, ou seja, agir como um adulto do qual as crianças possam depender; preocupar-se com a qualidade do desenvolvimento em cada estágio, ou seja, ter em mente que os aprendizados mais importantes ocorrem quando o bebê está pronto e não quando os adultos decidem que está na hora. Para auxiliar você em sua prática educativa, utilize os Referenciais Nacio- nais Curriculares da Educação Infantil, as Diretrizes Nacionais Curriculares e a Base Nacional Comum Curricular. Além disso, você também pode dispor de orientações como as contidas no projeto pedagógico da instituição escolar Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil10 em que atua. O projeto pedagógico (que traz a concepção de criança, meto- dologias e planejamento) é o plano orientador das ações da escola, elaborado pela equipe de educadores com a participação dos pais e, ao seu modo, das crianças. Tal projeto deve nortear a programação didática do professor, já que inclui roteiro de atividades a serem desenvolvidas com a turma de alunos. É bastante importante que o educador observe sistematicamente e de modo contínuo o comportamento de cada bebê ao longo de vários momentos. Isso é fundamental para que ele verifique como a criança se apropria dos modos de agir, sentir e pensar culturalmente constituídos. Desse modo, a observação não é somente um instrumento descritivo, mas um importante recurso para o professor investigar e planejar o aprendizado da criança. O registro dessas observações é essencial para orientar caminhos para as aprendizagens das crianças e ainda partilhar com os pais o que elas aprenderam. No Quadro 3, a seguir, você pode ver um exemplo de rotina de creche. Ao analisá-lo, perceba a importância da figura do professor no acolhimento dos bebês na escola. Horário Estrutura da rotina Exemplos de experiências 7h às 7h30 Recepção das crianças e desjejum Sentar com as crianças para compartilhar o desjejum, conversando e descrevendo as ações e alimentos servidos. 7h30 às 9h Continuação da recepção Atividades em pequenos grupos e por vezes individuais Servir o desjejum para as crianças que chegaram mais tarde. Possibilidade de interação com pais: reconhecendo e explorando a sala; falando com os bebês/crianças pequenas sobre o dia que está por vir. Utilizar materiais como: réplicas coloridas de animais, bolas de tecido e plástico coloridas, bonecas e carrinhos coloridos. 9h às 10h Lanche Compartilhar a refeição com as crianças, dialogando com elas, explorando as cores dos alimentos, das roupas e sapatos. Quadro 3. Exemplo de rotina de creche com crianças de até 2 anos (Continua) 11Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil Horário Estrutura da rotina Exemplos de experiências 10h às 10h45 Atividade calma Soninho para quem deseja Utilizar bonecos de pano, fantoches e teatrinho para representar uma história, com música calma. Olhar os móbiles, descrevendo-os em suas cores e ressaltando seus movimentos. 10h45 às 11h15 Momento ativo (dentro ou fora da sala) Grande grupo Mexer com o corpo: rolando, batendo palmas, engatinhando com obstáculos, pulando ao som de músicas, dançando ao som de música cantada pelos educadores (por exemplo, imitando animais de cores marrom, branca, etc.) ou de músicas escolhidas pelas crianças. 11h15 às 11h40 Preparação para o almoço e devida higienização Promover conversas coletivas e individuais, fomentando interações entre pares. 11h40 às 12h15 Almoço Promover conversas coletivas e individuais, fomentando interações entre pares. Comparar alimentos, cores e sabores. 12h15 às 14h Higiene Sono Momento calmo Para quem não dorme nesse horário, realizar atividades com livros e revistas (cores do mundo). Quem são as pessoas? O que elas vestem? O que mais estamos vendo? Educadora pode cantar baixinho, utilizando gestos e mímicas, além de livros. 14h às 14h15 Acordando Momento relaxado Realizar explorações na sala: descobrindo os materiais da tarde, explorando o que está exposto em sala (fotografias, figuras, desenhos, espelhos, etc.). Fazer atividades com lápis e giz coloridos e tinta, se possível. Quadro 3. Exemplo de rotina de creche com crianças de até 2 anos (Continuação) (Continua) Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil12 Acolhimento dos bebês na escola Como você já viu, as crianças, desde bebês, constroem relações afetivas com os adultos. Essas relações são chamadas de relações de apego. É a partir delas que as crianças discernem algumas pessoas ao seu redor e reagem de modo Horário Estrutura da rotina Exemplos de experiências 14h15 às 14h45 Momento ativo Pequenos grupos Individual Empurrar carrinhos; juntar, empilhar e encaixar blocos e caixas. 14h45 às 15h30 Preparação para o lanche com a devida higienização Lanche Momento da conversa Preparar o lanche; conversar sobre os procedimentos, as cores dos pratos, talheres, mesa e cadeiras. Conversar sobre gostos, sobre, por exemplo, o que os animais comem, comparando seus alimentos com os dos seres humanos (é possível aproveitar livrinhos ou ilustrar a conversa com o que as crianças viram e vivenciaram). 15h30 às 16h15 Higiene Preparação para ir à área externa Momento ativo Falar sobre os procedimentos de higiene, cor da toalha, do sabão, da escova de dentes, etc.; dialogar sobre a área externa. 16h Início da saída das crianças Educadora deve preparar, juntamente com as crianças, seus pertences para a saída, sempre dialogando, chamando a atenção para as cores dos objetos. 16h às 16h30 Atividade criativa Realizar pintura com dedo e/ou pincel, com opção de lápis e giz de cera. Faz de conta com bonecos, roupinhas, panelinhas, talheres, comida de faz de conta, etc. 16h30 às 17h Preparação para a saída Contar histórias; utilizar fantoches, joguinhos de encaixe; cantar músicas e fazer gestos; brincar de faz de conta (escolher apenas três das opções). Quadro 3. Exemplo de rotina de creche com crianças de até 2 anos (Continuação) 13Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil diferente às conhecidas e às desconhecidas. A fi gura adulta tem a função de dar segurança e auxiliar a criança na exploração do meio. Em sua ausência, a criança pode se sentir insegura, chorar ou se isolar.Tais acontecimentos podem prejudicar o envolvimento da criança na exploração do ambiente que a cerca. Daí a importância de se planejar momentos de ingresso do bebê na creche de modo que o professor represente uma fi gura de apego para ela (GOLDSCHMIED; JACKSON, 2006). Você também viu que no berçário o professor é um figura de referência para a criança, que acompanha seus movimentos em busca de apoio e segurança e reage ao seu afastamento. Aos poucos, o bebê vai se familiarizando com o ambiente da escola e começa a lidar melhor com a ausência das pessoas com quem mantém relação de apego. Assim, ele adquire mais segurança e entende que alguém que se afasta pode voltar depois (GONZALEZ-MENA; EYER, 2014). Portanto, é importante pensar em formas produtivas de lidar com a questão do apego, que ajudem na formação de vínculos entre o professor e a criança na creche. Para tanto, entrevistas com mães, pais ou responsáveis pelos bebês que estão entrando na creche são fontes essenciais de dados iniciais. Por meio delas, é possível conhecer os hábitos de cada criança e a sua história familiar. Além disso, as entrevistas são momentos em que se pode tranquilizar as famílias com relação à permanência do filho em um novo ambiente. As instituições escolares podem ter outras iniciativas durante o período inicial do bebê. Por exemplo (BRASIL, 2010; SÃO PAULO, 2007): permitir que a criança traga alguns objetos familiares de casa — seu travesseiro, algum brinquedo, paninho, etc.; consentir que algum familiar permaneça na escola junto à criança durante os primeiros dias, diminuindo o tempo de permanência gradativamente; introduzir a criança em atividades interessantes, incentivá-la a manusear objetos, senti-los, observar os colegas e interagir com eles; organizar o ambiente (com objetos e locais mais livres para a locomoção) para facilitar que o bebê brinque com outras crianças sem perder de vista o professor; relatar diariamente para a família alguma situação da qual a criança participou com mais interesse, com o objetivo de tranquilizar familiares; Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil14 providenciar para que, ao ocorrer o ingresso de mais de uma criança simultaneamente na escola, outros professores possam ajudar o professor de referência, deixando-o mais livre para interagir com as novas crianças, fazer-se conhecido e conhecer suas reações diante do novo ambiente. O professor pode auxiliar a criança nesse período acolhendo-a e dando-lhe colo quando for necessário. Ele deve buscar compreender suas reações de choro, inapetência, sono excessivo ou falta de sono. Caso a criança adoeça, os sintomas podem ser sinais de que ela percebeu a introdução de algo novo e estranho em sua vida. O professor deve ficar atento a esses sinais, não apenas no período de ingresso da criança na escola, mas também durante todo o processo educativo na creche. É importante que o professor examine e observe todos os comportamentos infantis, pois eles interferem na interação que as crianças têm umas com as outras e, consequentemente, em seu aprendizado. A seguir, você pode ver algumas dicas para organizar os brinquedos e as brincadeiras na educação infantil (BRASIL, 2012): Fechar todas as tomadas; verificar se não há buracos com aberturas cortantes nos brinquedos e nos objetos do ambiente para garantir a segurança dos bebês, que são muito curiosos. Retirar brinquedos quebrados ou que ofereçam algum risco. Verificar o uso que a criança faz do brinquedo, oferecendo outras alternativas caso seja necessário. Oferecer brinquedos e materiais de acordo com a proposta pedagógica para o agrupamento infantil. Oferecer à criança a possibilidade de usar o brinquedo com outras crianças e também de brincar sozinha. Armazenar os brinquedos e materiais adequadamente. Apresentar diferentes usos do brinquedo, de modo a ampliar o repertório da criança. Valorizar as escolhas das crianças, agregando novos desafios. Garantir materiais e brinquedos em quantidade suficiente para que todas as crianças tenham oportunidades iguais na brincadeira. Modificar continuamente a forma de estruturar o espaço da brincadeira, de modo a oferecer novas oportunidades. 15Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/ bncc-20dez-site.pdf>. Acesso em: 10 out. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Brinquedos e brincadei- ras de creche: manual de orientação pedagógica. Brasília: MEC/SEB, 2012. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao_brinquedo_e_brincadei- ras_completa.pdf>. Acesso em: 17 out. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010. Disponível em: <http://ndi. ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-Curriculares-para-a-E-I.pdf>. Acesso em: 27 set. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação do Ensino Fundamental. Referencial curricular para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998b. v. 2. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação do Ensino Fundamental. Referencial curricular para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998c. v. 3. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação do Ensino Fundamental. Referencial curricular para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998a. v. 1. FOCHI, P. Afinal, o que os bebês fazem no berçário? Comunicação, autonomia e saber-fazer de bebês em um contexto de vida coletiva. Porto Alegre: Penso, 2015. GOLDSCHMIED, E.; JACKSON, S. Educação de 0 a 3 anos: o atendimento em creche. Porto Alegre: Artmed, 2006. GONZALEZ-MENA, J.; EYER, D. W. O cuidado com bebês e crianças pequenas na creche: um currículo de educação e cuidados baseado em relações qualificadas. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. KRAMER, S. Profissionais da educação infantil: gestão e formação. São Paulo: Ática, 2005. RIO DE JANEIRO. Prefeitura. Secretaria Municipal de Educação. Orientações curriculares para educação infantil. Rio de Janeiro: Gerência de Educação Infantil, 2010. Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4246634/4104953/orientacoesCurricula- resEdInfantil.pdf>. Acesso em: 17 out. 2018. SÃO PAULO. Prefeitura. Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Orientações curriculares: expectativas de aprendizagens e orientações didá- ticas para educação infantil. São Paulo: SME/DOT, 2007. Disponível em: <http://www. culturatura.com.br/docsed/12%20orientcurr%20psp-ei.pdf>. Acesso em: 17 out. 2018. Os bebês de 0 a 1 ano na educação infantil16 Leituras recomendadas BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 25 set. 2018. BRASIL. Lei nº 11.274, de 06 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. 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