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CARÁTER A vida, no seu aspecto natural, é a base biológica da personalidade. Mas existe ainda, na personalidade humana, uma feição espiritual ou psíquica. O instrumento do espírito para a integração da pessoa no ambiente em que vive é a vontade; as sucessivas manifestações da vontade vão definindo a conduta pessoal, através da qual se revela o caráter. A base biológica serve de apoio ao caráter, que é uma construção do espírito. Entraram na composição do caráter a capacidade de decidir e o vínculo com os valores da personalidade; assim entendido, o caráter orienta o comportamento de cada um na linha das suas verdadeiras convicções. O caráter é a marca da personalidade e se manifesta através do comportamento. O comportamento da pessoa é a linha de sua conduta no meio social, traçada de acordo com os valores da personalidade. O caráter tem um sentido psicológico e outro sentido ético ou moral. Pelo se aspecto psicológico, o caráter faz parte do conjunto de dados que compõem a personalidade; cabe-lhe a função de, como inspirador da conduta, projetar a pessoa na vida social. O sentido moral do caráter está no seu papel de orientar a ação de acordo com as convicções; portanto, depende do caráter a realização dos valores da personalidade. O caráter assegura confiança. A confiança garante a harmonia da convivência. Fatores do caráter: entram inicialmente na formação do caráter fatores inatos, que compõem o temperamento individual, ou natural da pessoa; o temperamento resulta de dados hereditários, de disposições ligadas à constituição orgânica e do jogo das tendências instintivas. Aos inatos se somam os fatores adquiridos, que são tendências conscientes, formadas sob a influência dos ambientes físicos e social: são os hábitos e sentimentos. Sobre estes atua a inteligência, introduzindo dados da experiência e da educação. A ação conjunta desses fatores e da inteligência faz nascer o esforço do indivíduo sobre si mesmo, para completar a formação do caráter. O processo de formação do caráter percorre uma linha de amadurecimento psicológico e integração moral. No caráter bem formado, encontram-se firmeza de convicções e fortaleza de vontade. As convicções exprimem os valores e os integram na personalidade; devem ser firmes a fim de poderem realmente orientar a vontade. E esta, para que se torne instrumento eficaz, tem de ser forte. A vontade frouxa ou tíbia é um princípio de desagregação do caráter. Razão e consciência moral: o homem normal guia-se pela razão. Forma sensatamente suas convicções e vive segundo a orientação delas. Não vacila, como o ignorante e o fraco; não se obstina, como o teimoso e o fanático. A sua consciência moral é fruto do seu esforço sobre si mesmo e tende a confundir-se com a própria razão. É bom aproximar cada vez mais a razão da consciência moral, dando firmeza às convicções. A integridade do caráter se alcança com a aplicação de convicções firmes a uma vontade forte, que é o poder consciente do espírito de encaminhar-se para uma ação de sua escolha. A vontade é o lado dinâmico da personalidade e se apresenta como síntese de inteligência e liberdade. A aliança da liberdade com a inteligência garante conduta racional e proporciona integridade de caráter. Educação da vontade: a vontade doente exige tratamentos especiais. Mas a vontade sadia e normal pode ser educada, para que atinja a sua plena fortaleza. Os meios de educação da vontade são principalmente os seguintes: a) Criação de hábitos de higiene corpórea; b) Utilização do automatismo para formação de bons hábitos; c) Adoção do espírito de disciplina; d) Cultivo da inteligência; e) Estímulo dos bons sentimentos. Processo educativo de formação do caráter: tanto a firmeza de convicções como a fortaleza da vontade, que são vagas mestras da construção do caráter, podem ser alcançadas através de um processo educativo. A família deve chamar a si os encargos iniciais e básicos para o cumprimento desse elevado objetivo. Eis o que lhe deve caber: 1. A criação; 2. A formação do ambiente de lar; 3. Orientação da criança e do adolescente para integração vital e social. A assistência e a ambientação pela família conduzem, normalmente, à orientação, através da aquisição de experiência e da formação de hábitos e sentimentos. A participação inicial e extensa da família no processo educativo é decisiva e criadora, e dela resultam as bases e diretrizes para a formação do caráter. Os encargos da escola visam complementar e confirmar a educação proporcionada pela família. Educar é formar a personalidade; e a educação, para ser efetiva, tem de ser integral. Cabe, então, à escola sistematizar e enriquecer o processo educativo. É fundamental e decisivo, para os destinos do homem e da sociedade, que a escola possa implantar o saber como instrumento de fortalecimento da vontade e constituição do caráter: o homem deve aprender para querer e poder o que é reto. A formação do caráter é um problema de educação.