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Concepções psicanaliticas na clinica infantil

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS
GABRIELY CASADO GREGÓRIO
CONCEPÇÕES PSICANALÍTICAS NA CLÍNICA INFANTIL 
Dourados, MS
2019
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS
GABRIELY CASADO GREGÓRIO
CONCEPÇÕES PSICANALÍTICAS NA CLÍNICA INFANTIL
Artigo apresentado na Disciplina de Trabalho de Graduação III do 8º semestre do Curso de Psicologia, Faculdade de Ciências Humanas.
 Prof. Esp. Carlos Arturo Valiente Filho
Dourados, MS
2019
CONCEPÇÕES PSICANALÍTICAS NA CLÍNICA INFANTIL
GREGÓRIO, Gabriely Casado¹; BELUQUE, Maria Helena Touro²
RESUMO
O presente artigo monográfico é referente as principais concepções psicanalíticas dentro da clínica infantil, ou seja, os efeitos da terapia realizada com crianças, com o objetivo de apresentar como a clínica psicanalítica infantil se desenvolveu. A pesquisa irá apresentar o início do percurso referente ao processo de subjetivação psíquica do sujeito, começando com a construção do sujeito através do Complexo de Édipo, isto é, será realizada uma breve introdução do que se trata e como ele acontece dentro do âmbito familiar e tem um peso sobre a identidade sexual futura. Em um segundo momento, iremos trabalhar sobre a importância do fenômeno transferencial dentro da clínica com crianças, para então podermos discutir sobre as questões do tratamento que envolvem crianças e o processo da técnica do brincar como um meio de se conectar com o inconsciente infantil. Apresentamos as especificidades da clínica psicanalítica com criança e como se desenvolve esse processo. Concluímos está pesquisa com a apresentação de três autores que foram de suma importância para a análise do tratamento realizado com crianças. A pesquisa conta com artigos on-line, impressos e livros. Espera-se que ao final dessa pesquisa, seja compreensível a importância da psicanálise infantil, juntamente com a forma de como essa terapia é realizada, de modo que a técnica do brincar e entre outras, sejam facilitadoras dentro desse processo.
Palavras-chave: Criança; Inconsciente; Brincar.
¹Discente do curso de Psicologia do Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN;
²Titulação. Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN.
AGRADECIMENTOS
	
Primeiramente а Deus, que permitiu que tudo isso acontecesse ao longo da minha vida, е não somente nestes anos como universitária, mas que em todos os momentos é o maior mestre que alguém pode conhecer.
A esta universidade, seu corpo docente, que sempre trabalharam com muita disposição, comprometimento e ética para formar seus alunos. 
A minha orientadora Maria Helena Touro Beluque, pelo suporte no pouco tempo que lhe coube, pelas suas correções е incentivos.
Aos meus pais, pelo amor, incentivo е apoio incondicional.
A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, о meu muito obrigada.
INTRODUÇÃO
Quando nos referimos a história da psicanalise infantil, destacam-se dois principais nomes: Anna Freud e Melanie Klein. Porém, foi o revolucionário Freud quem fundamentou as primeiras teorias a respeito do alicerce infantil, apontando que à confluência pai-analista era ideal para realizar a cura analítica de uma criança. Os princípios da psicanalise de crianças de certa forma poderiam ser apontados como uma construção conjunta entre pais e filhos, visto que de certa forma as crianças inocentemente forneciam materiais (falas, jogos, sonhos) ao seus pais. O que de certa forma Freud fez, essa investigação dos matérias que seus filhos transmitiam. Camarotti (2010). 
A psicanálise infantil se iniciou em um período em que ainda se debatia sobre a formação do analista, quando ainda se tentava regularizar essas formação dentro da sociedade. Nos anos pós guerra, iniciou-se uma apreensão a respeito da psicanálise e o temor charlatanismo auxiliou na polêmica sobre a conveniência dos não médicos a realizar tal exercício. Camarotti (2010). 
Quando falamos na parte central da psicanalise infantil, retomamos ao conflitante debate entre Anna Freud e Melanie Klein a respeito do que é a “verdadeira psicanalise”. Uma das mais polemicas discordâncias que gerava entre as duas autoras era referente a descrença de Anna Freud em relação às possibilidades de estabelecer a transferência com criança, aspecto que era defendido por Melanie Klein e que manteve-se como mais admitido entre os analistas. (ABERASTURY, 1982).
Klein (1959) acrescenta em seu trabalho com crianças o conhecimento sobre as fantasias, propondo que as mesmas são conteúdos particulares das necessidades ou sentimentos, as fantasias inconscientes são movidas por impulsos e quando se tornam mais elaboradas continuam acompanhando o desenvolvimento de todas as atividades.
Aberastury (1982) enfatiza que os desenhos realizados pelas crianças são uma forma de expressão do ponto de vista psicanalítico, pois apresenta um significado inconsciente e contém uma simbologia acerca dos desenho, esses recursos que aparentemente na época não faziam o menor sentido, só conseguiram ser realizados por pessoas que realmente se dedicaram nessa investigação. 
REVISÃO DE LITERATURA 
1 A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO NA CLÍNICA PSICANALÍTICA
1.2 COMPLEXO DE ÉDIPO 
O Complexo de Édipo, teoria na qual Freud utilizou em sua carreira desde “Três ensaios sobre uma teoria sexual” tinha como objetivo identificar o pluralismo dos elementos da sexualidade e sua origem na infância. Ele consistia em indicar uma rede de relações que eram decorrentes na infância de todo o sujeito e que é responsável pela formação de uma subjetividade desejante. 
Já no início da psicanálise, Freud postulava a universalidade dos desejos edipianos, declamando que cada criança fosse responsável para realizar um caminho no intuito de superar o Édipo e assim ter acesso a sexualidade adulta, já que para Freud existia outras zonas erógenas além dos órgãos genitais. Costa(2007).
Para iniciarmos este percurso pelas especificidades do Complexo de Édipo e sua definição contamos com a colaboração de Laplanche e Pontalis (1992), que o caracteriza como um:
Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança sente em relação aos pais. Sob a sua forma dita positiva, o complexo apresenta-se como na história de Édipo-Rei: desejo da morte do rival que é a personagem do mesmo sexo e desejo sexual pela personagem do sexo oposto. Sob a sua forma negativa, apresenta-se de modo inverso: amor pelo progenitor do mesmo sexo e ódio ciumento ao progenitor do sexo oposto. Na realidade, essas duas formas encontram-se em graus diversos na chamada forma completa do complexo de Édipo. Segundo Freud, o apogeu do complexo de Édipo é vivido entre os três e os cinco anos, durante a fase fálica; o seu declínio marca a entrada no período de latência. É revivido na puberdade e é superado com maior ou menor êxito num tipo especial de escolha de objeto. O complexo de Édipo desempenha papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano. Para os psicanalistas, ele é o principal eixo de referência da psicopatologia (p. 77).
Conforme Lacan(1997) o desejo edipiano aparece com mais ênfase para o menino e, portanto, para com a mãe. De outro modo que, a repressão indica, em seu mecanismo, características que parecem ser mais justificáveis em sua forma típica se for exercida do pai para o filho. Aí nos deparamos com o cerne do complexo de castração. Essa repressão é encontrada através de dois movimentos afetivos do sujeito: uma agressividade contra o seu progenitor no qual seu desejo sexual o põe em aspecto rival; em segundo, regresso de uma semelhante agressão. 
2 A CLÍNICA PSICANALÍTICA COM CRIANÇAS
2.1 OS PRIMÓRDIOS DA PSICANÁLISE COM CRIANÇAS 
Considerando que o principal objetivo dessa pesquisa é um referencial a clínica infantil e ao lugar do brincar nela, não podemos desconsiderar a afirmação de Manoni (1987, p. 9): “A psicanálise de criança é a psicanálise”.
Freud seria o primeiro a trabalhar com a psicanálise de crianças, partindo de um ponto
de vista em que achava-se que a mesma era passível de ser moldada, seja pela educação ou pela psicologia. O primeiro caso que Freud atendeu foi do pequeno Hans, ele tinha como intenção certificar seus descobrimentos a respeito da sexualidade infantil. Mesmo achando que era importuno a análise com crianças, Hans fez com que ele estivesse equivocado a respeito dessa ideia. Freud certificou que a realidade psíquica da criança se assimila com à do adulto nos três quesitos: fantasia, angústias e desejos. (Costa, 2007).
Max Graf, pai do pequeno Hans, descreveu o clima das reuniões:
"Havia no consultório uma atmosfera de fundação de uma religião. Na cabeceira da mesa, Freud presidia a reunião, sempre examinando seu charuto de Virgínia que ele fumava com olhar sério. Após exposição feita por ele ou por um dos membros, eram servidos doces e café. Eram também fartamente consumidos cigarros e charutos. Após algum tempo de conversa sobre assuntos mundanos, as possíveis discussões se abrandavam" HILFERDING, PINHEIRO & VI-ANNA, 1991, p.62)
Hermine von Hug-Hellmuth foi a primeira analista depois de Freud a trabalhar com a análise de crianças, apresentando uma ideia oposta defendida pelo mestre, ela propunha que a criança jamais confessaria seus desejos e pensamentos íntimos e profundo aos seus pais e que a fragilidade psicanalítica de um filho incertamente seria suportada pelo narcisismo parental. Hug-Hellmuth em seus trabalhos com as crianças buscava um meio de conciliar os objetivos psicanalíticos com aquilo que se fazia presente no meio da criança, ou seja, a família, escola, sociedade, com a intenção de desvendar os segredos que a criança omitis intencionalmente dos educadores. (Camarotti,2010). 
Uma das grandes contribuições de Jacques Lacan com a psicanálise infantil foi o desenvolvimento de uma nova compreensão a respeito da constituição do sujeito, realizando uma operação na mudança de como acontecia o Complexo de Édipo, colocando-se então os pais como encarregados de isolar a falta que concerne a estrutura da linguagem. Lacan não trabalhou diretamente com crianças mas sua participação nas formações de teorias a respeito da psicanálise infantil foi de grande significância. (COSTA,2007).
2.2 TRANSFERÊNCIA 
Quando se dá início ao tratamento, comumente, é necessário que haja um vínculo agradável na situação analítica. Pois assim, o paciente é capaz de demonstrar seu entusiasmo com a pessoa do analista, na qual supervaloriza as suas qualidades, é amável e conduz de forma promissora ás interpretações, dedicando-se a compreendê-las. Estamos nos referindo a uma transferência positiva. Ou seja, um fenômeno que favorece o processo analítico, fazendo com que o efeito seja no sentido de baixar as resistências do paciente e nutrir um sentimento de respeito, admiração e empatia pelo analista. (DOS SANTOS,1994)
A prática da transferência consiste, num primeiro momento, em que o analista permita ao paciente atuar exclusivamente na transferência: 
Tornamos a compulsão inócua, e na verdade útil, concedendo-lhe o direito de afirmar-se num campo definido. Admitimo-la à transferência como a um playground no qual lhe é permitido expandir-se em liberdade quase completa e no qual se espera que nos apresente tudo no tocante à pulsões patogênicas, que se acha oculto na mente do paciente. Contanto que o paciente apresente complacência bastante para respeitar as condições necessárias da análise, alcançamos normalmente sucesso em fornecer a todos os sintomas da moléstia um novo significado transferencial e em substituir sua neurose comum por uma neurose de transferência, da qual pode ser curado pelo trabalho terapêutico. (Freud, 1914/1980, p. 201)
Freud em primeira instância não reconheceu a transferência como constituinte dentro da relação terapêutica, mas o classificou como um “deslocamento do investimento no nível das representações psíquicas (ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 767), podendo se averiguar em Estudos sobre a histeria (1893) e em A interpretação dos sonhos (1900).
Em seu livro Além do Princípio do prazer, Freud constata que por meio da observação repentina da transferência ela sempre se refere a fragmentos da vida sexual infantil, o que fez com que houvesse uma conexão entre transferência e complexo de Édipo, concluindo-se então que a neurose original era substituída, na análise, por uma “neurose de transferência”, a qual o paciente era conduzido a realizar um reconhecimento da neurose infantil. Com tal ligação a transferência torna-se algo insubstituível dentro do tratamento psicanalítico, visto que é uma via de acesso ao inconsciente. (ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 768).
3 PRINCIPAIS TEÓRICOS DA CLÍNICA INFANTIL
3.1 MELANIE KLEIN E SUA EXPERIÊNCIA COM CRIANÇAS 
Klein (1953) apresenta que quando começou o seu trabalho com as crianças a intenção era apena de estabelecer o princípio da interpretação, pois os psicanalistas ainda não haviam explorado o inconsciente da criança, pois a mesma exploração era considerada como algo perigoso, até que Melanie atendeu uma criança de 5 anos com o nome de “Fritz”, as sessões eram realizadas na casa dele e utilizava os próprios brinquedos, foi a partir da investigação com essa criança que se deu início a técnica do brincar, pois ele demonstrava as suas fantasias e Melanie realizava as interpretações acerca delas. Essa abordagem apresenta um princípio muito utilizado pelos psicanalistas- a associação livre. 
Logo em seguida ela começou a descrever como era essencial o uso de brinquedos dentro do consultório, pois suas analises estavam ficando cada vez mais eficientes, utilizava-se os brinquedos de porte pequeno, pois, assim era mais fácil da criança realizar expressões mais amplas e variáveis. Eram brinquedos simples e não mecanizados. Um dos pontos importantes que conseguimos ter com a técnica do brincar é a transferência que ocorre dentro desse processo entre o analista e a criança o que envolve emoções e conflitos. 
Considerava a transferência como algo espontâneo da criança e que de certa forma deveria ser interpretada, tanto as transferências negativas como as positivas, visto que a transferência é o principal instrumento para acessar a mente da criança e descobri o que acontece, levando assim a uma reconstrução de sua história inicial. As fantasias transferências estabeleciam uma forma de reconstituir as suas primeiras experiências e situações atuais como um meio de cura. Aberastury (1982) 
Melanie (1923) relata que a experiência analítica com crianças pequenas e também com crianças mais velhas, fez com que ela pudesse ter uma visão minuciosa acerca de certas inibições, o que levou a investigar quais eram essas inibições que só eram encontradas na análise. Tais inibições revelaram-se sendo de caráter típico: falta de jeito em jogos e em esportes, além de não haver interesse nessas atividades, juntamente com uma capacidade de interesse diminuída e a presença de preguiça. 
Segundo Klein (1923) quando se falava nessas inibições elas não eram percebidas e nem tidas como verdadeiras, já que elas faziam parte da própria personalidade humana, e não puderam ser rotuladas como neuróticas. Quando se descobriu que elas poderiam ser solucionadas pela análise, juntamente um fator importante estava na origem dessas inibições que resultava de um forte prazer primário que tinha sido reprimido devido ao caráter sexual. 
3.2 DONALD WINNICOTT E O ESPAÇO TRANSICIONAL 
As contribuições de Winnicott para a psicanálise infantil tem grande peso quando se fala no estudo da interação entre mãe/bebê, ou seja, essa relação de vivência agora da mãe com seu bebê irá ser objeto de observação direta na qual, terá um observador com a função de interpretar de uma forma definida. 
Winnicott propôs uma expressão relacionada a mãe, a chamando de “mãe suficientemente boa”, que diz respeito: 
 Que a mãe suficientemente boa é aquela que começa com uma adaptação quase completa às necessidades de seu bebê para, com o passar do tempo, adaptar-se menos completamente, de modo gradativo, segundo a crescente capacidade
do bebê em lidar com seu fracasso. (ZORNIG, 2000, p. 97).
Deste modo, ao se identificar-se com o bebê, essa mãe suficientemente boa irá permitir que ele tenha uma sensação de segurança, diante disso facilitará o desenvolvimento de um estado físico e psíquica inerente a gênese humana. Esta série de cuidados é denominada como bolding conforme Zornig (2000) “está continuidade de cuidados, que corresponde à noção de holding ou sustentação psíquica, consiste em permitir que o ego infantil encontre pontos de referência estáveis e simples, mas fundamentais para que ele possa se integrar no tempo e no espaço.”
Em uma fase posterior, a partir dos seis meses do bebê até os dois anos, começa-se a se desenvolver uma fase designada por uma dependência relativa, e aos poucos a criança vai descobrindo que ela e sua mãe são separadas, a partir dessa percepção de que ela depende da sua mãe para realizar suas fantasias e necessidades, a criança desenvolve uma angústia por não ser onipotente e criadora de objetos. Winnicott pontua que a “mãe suficientemente boa” é aquela que ajusta de forma adequada ás necessidades do bebê, que de certa forma trabalha com o intermediário para que o bebê esteja entre a realidade externa e interna, e que faça o lidar com a angústia da separação.
Essa área intermediária é chamada de “espaço transicional”, no qual a criança desenvolve atividades que são intitulada de fenômenos transicionais. Contudo, essas atividades só são possíveis se houver a mãe suficientemente boa, pois assim a área intermediária permitirá que o espaço transicional seja constituído. 
3.3 FRANÇOISE DOLTO
Segundo Costa(2007) Françoise Dolto nasceu em Paris no ano de 1908, obteve sua formação acadêmica em medicina e se especializou em pediatria, desde pequena desejava ser "médica da educação". Foi amiga e colaboradora de Lacan, na França tornou-se uma psicanalista revolucionária ao se dedicar à psicanálise infantil. Sua abordagem psicanalítica incluiu a escuta do inconsciente e os traumas geracionais familiares. Em sua obra, amplia a noção da imagem inconsciente do corpo, lugar onde, de forma inconsciente, ocorre a emissão e recepção das emoções. Essa imagem inconsciente do corpo só é possível ser concebida perante aos cinco sentidos, relacionados ao Outro que está presente e dá pilares de sustentação a esta relação, normalmente esse Outro é a mãe, a quem o bebê está ligado pelo olfato e pela voz, sentidos que são despertados no mesmo relacionados ao imenso desejo de viver e a sua capacidade de organizar o seu mundo: 
É na relação com a fala da mãe que o sujeito sedimenta seu desejo de sobrevivência e é pelo outro que ele se reconhece e dá sentido ao que é experimentado e percebido. A fala materna traduz a realidade para a criança nomeando suas sensações e organizando seu mundo. (COSTA, 2007).
A fala do Outro proporcionará a organização do cruzamento do esquema corporal consciente com a imagem do corpo que é inconsciente. O recalcamento da imagem inconsciente do corpo se dá com o aparecimento da imagem escópica da visão e reconhecimento da criança de sua imagem no espelho, advindo a organização corporal visível. Veremos dessa maneira que:
As palavras e os afetos, associados à vivência corporal e relacional, deixam impressões somato-psiquicas a partir das quais se constituem os primeiros referenciais, as primeiras imagens inconscientes do corpo. É o local de representação das experiências relacionais, é o lugar da comunicação precoce. (COSTA, 2007).
Françoise Dolto trabalhava de modo a preservar demasiadamente o ambiente familiar onde a criança estava inserida, tendo em vista, que as entrevistas iniciais eram elaboradoras com os pais, para assim, poder identificar de onde vem a demanda e quem realmente está sofrendo, sendo capaz de elaborar um estudo da dinâmica familiar e o lugar da criança no narcisismo dos pais. Para a autora, o psicanalista trabalha para que a verdade dos desejos inconscientes do paciente seja verbalizada, ou seja, “ele deve procurar o que não pôde se exprimir nas manifestações transferenciais – o que a criança revive com a emoção do passado, e que ela considera como testemunhos da imagem inconsciente do corpo - para depois explicitá-lo para a criança.” (Costa, 2007).
Diferencialmente de Melanie Klein, Dolto usava técnicas que se utilizavam principalmente a fala da criança, o desenho e a modelagem. Fazendo com que a fala dela fosse representada. Dolto usava os desenhos para que as crianças descem vida a ele, e não para serem interpretados realmente, ela não reagia e nem orientava as crianças a respeito do que deveria ser o desenho. Fazendo assim, com que a própria criança falasse da análise a partir de suas perguntas relacionadas ao que ela desenhou. (Costa,2007)
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o tema nos artigos científicos disponíveis on-line e impressos e por meio de livros, reunindo assim uma pesquisa sobre as concepções psicanalíticas na clínica infantil evidenciando o modo que se trabalha com crianças.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme as contribuições de Terezinha Costa, podemos compreender o fenômeno que é desenvolvido na clínica infantil através do estudo dos principais autores que trabalhavam com esse público, são eles: Melanie Klein, Winnicott e Françoise Dolto. Esses principais autores contribuíram com a psicanálise infantil de maneiras distintas. Diante destas informações, apresentamos um quadro comparativo elaborado por Costa (2007): 
	Melanie Klein 
	Winnicott
	Françoise Dolto
	A criança tem uma fantasia inconsciente da doença
	A criança sabe” inconscientemente” o motivo do seu conflito
	O sintoma da criança é sintoma da estrutura familiar
	Faz uma anamnese com os pais e inicia a análise com a criança
	Entrevista “única” sem preocupação com a demanda de análise, para descobrir o conflito que ocasionou a busca de um analista 
	Entrevistas preliminares com os pais 
	Interpreta a transferência positiva e negativa desde o início
	Busca estabelecer uma comunicação com a criança, um encontro “espontâneo”
	Toda interpretação é uma pergunta; nunca se afirma nada
	Édipo precoce- com um ano e meio de idade
	Abandono do complexo de Édipo clássico. Faz uma redefinição do materno e do feminino
	O complexo de Édipo dá-se com cinco anos
	O complexo de Édipo deve ser trabalhado
	Não recomenda a análise para todas as crianças que apresentam sintomas pois isto pode desresponsabilizar os pais
	O complexo de Édipo tem que se produzir com os pais e não com o analista. O analista pode ajudar a criança a atravessar o complexo de Édipo. Trabalha-se com os pais
	O processo psicanalítico se baseia nas forças psíquicas inconscientes 
	A transferência é uma réplica do laço materno. Mantinha relações de amizade com seus analisando 
	O processo psicanalítico baseia-se no inconsciente
	Técnica utilizada: brinquedo
	Técnica utilizada: desenho, perguntas e sugestões de modo a despertar o interesse da criança, levando-a a falar de situações e coisas que não falaria com outra pessoa
	Técnica utilizada: desenho, fala, modelagem 
O que é notável dentro deste quadro é que ambos os trabalhos elaborado pelos autores de certa maneira funcionavam dentro da clínica infantil.
Segundo Klein(1981) a psicologia e a pedagogia sempre preservaram a crença de que uma criança era um ser feliz, não possuidora de conflitos e supostos sofrimentos que os adultos enfrentavam dos encargos e da dureza da realidade, a ideia é que devemos afirmar totalmente o oposto disto. O que podemos aprender através das vertentes psicanalistas é que a criança e o adulto possuem sofrimentos da vida ulterior, que em sua maior parte, significa repetições dos sofrimentos infantis, que a criança em todos os primeiros anos de vida passa por algum grau imenso de sofrimento. 
Melanie Klein, uma das principais autoras quando nos referimos a terapia com crianças, realizou estudos e elaborou uma técnica chamada “técnica do brincar” e que teve
um grande peso dentro desta área, tanto é que atualmente ainda se utiliza, Klein se interessou pelo processo psicanalítico através de uma leitura de um texto de Freud “Sobre os Sonhos” e foi por meio disto que ela iniciou com seus interesses para analisar crianças. 
Conforme Costa(2007) Melanie Klein concebe a constituição psíquica de modo a que o sujeito tenha consequências significativas na pratica clínica. À medida que o campo de ação psicanalítica é o das fantasias inconscientes. O que se distingue de qualquer abordagem pedagógica. No sentido a permitir que a criança consiga atingir a plena capacidade de expressão por suas potencialidades, não fazendo de modo a conduzir ela quanto as identificações do analista. 
Donald Woods Winnicott, um dos maiores contribuintes da compreensão da constituição subjetiva. Trabalhou supervisionando casos com Melanie Klein, o que resultou em uma complexa relação de amizade e respeito entre os dois autores, porém, Winnicott discordava de algumas teorias proposta por Melanie e devido a isso elaborou seus principais conceitos teóricos baseando-se na sua experiência clínica. 
Costa(2007) postula que, Winnicott enfatizou os fenômenos de estruturação interna da subjetividade, reforçando a dependência do sujeito com relação ao ambiente. Ele vai destacar em inúmeras vezes a influência do meio ambiente no desenvolvimento psíquico infantil. Simbolizando o ambiente como um sinônimo de cuidados maternos, isto é, a mãe, ou algum substituto dela, que irá beneficiar ou prejudicar o desenrolar desse processo. É por meio dos cuidados que a mãe tem para com o bebê que surge essa ideia de que a mãe é capaz de se adaptar as necessidades do bebê e faz com que ele passe a conhecer o mundo. Devido a isso, se tem a expressão “mãe suficientemente boa”, que foi elaborada por ele para designar essa função. 
Os atendimentos de Winnicott na clínica com crianças eram realizados de uma forma na qual ele não se preocupava com a demanda exercida na análise, formação de um diagnóstico, e nem ao menos com a interpretação. Ele tinha o intuito de construir uma comunicação com a criança, de modo a realizar um encontro “espontâneo”. Não recomendava a análise para todas as crianças que apresentavam sintomas, e as que eram atendidas por ele, se utilizava preferencialmente a técnica do desenhar, fazendo-lhe perguntas e sugestões, de maneira a estimular a o interesse da criança em falar coisas que, habitualmente, com outras pessoas elas não falariam.
Segundo Costa(2007) Françoise Dolto acreditava que a grande diferença entre atender adultos e atender crianças residia no fato de que as crianças ainda não tinham atingido o Édipo, e grande parte do processo estaria relacionado a compreender como está a relação entre pai-filho e mãe-filho. 
Para Dolto, a criança deveria aceitar o seu sofrimento e pedir ajuda. Além disto, as entrevistas com os pais serviam de modo a que eles relatassem as suas histórias para poder assim analisar o que era fundamental para a compreensão daquele discurso familiar e para descobrir o lugar que a criança estaria ocupando. Postulava que o trabalho do psicanalista era o de verbalizar para o paciente as verdades de seus desejos inconscientes, com a intenção de fazer a criança reviver as emoções do seu passado, colocando em palavras as suas angústias, o que ela sente e o que ela faz. 
 Considerando os três autores que foram mencionados, podemos perceber que cada um teve o seu papel na contribuição da psicanálise infantil, deixando assim, seus conhecimentos para que fossem utilizados de maneira a fim de que a terapia com crianças seja vista como uma forma positiva e facilitadora em vários sentidos. E que principalmente mostre os resultados para as famílias que vão em busca de resolver os conflitos que estão presentes na vida da criança. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O presente artigo, expandiu a compreensão da prática clínica realizada com crianças, que utiliza-se da técnica do brincar, do desenhar e até mesmo do falar. Fundamentando-se que o principal método de utilização dentro dessa prática é o lúdico. E como forma de fundamentar essa afirmação, foi preciso triar toda a trajetória da psicanálise infantil, de como ocorre a constituição do sujeito através do processo psicanalítico.
O complexo de Édipo é posto de modo a compreender todo o processo que a criança passa a enfrentar na sua infância, com a relação existente entre mãe-filho e pai-filho, explicando-nos que a sexualidade está presente no inconsciente e é possuidora de diversas subjetividades dependentes. 
A transferência é uma ocorrência que dará sustentabilidade a terapia, possibilitando que o sujeito consiga falar e se expressar livremente sendo sustentado pela escuta minuciosa do analista.
E na terapia com crianças, é possível identificar que as técnicas apresentadas neste trabalho, em especial a do brincar, faz com que a criança consiga representar o seu mundo psíquico, projetando-se então o simbolismo, as fantasias, suas vivências e seus desejos através da forma que dá sustentação a sua brincadeira.
É através do brincar que podemos analisar os efeitos de significação, na qual o inconsciente realiza o processo de manifestação, produzindo-se então, um sentido naquilo que a criança está fazendo. Por meio desta pesquisa, foi possível reconhecer a rica fundamentação teórica/prática ampliada por diversos psicanalistas que se dedicaram a se aprofundar no mundo da imaginação e das fantasias infantis, que por inúmeras vezes se mostra em um processo de conflito e angústias.
As técnicas aqui apresentadas pelos três principais teóricos relacionados a psicanálise infantil, nos mostra que há diversos meios de alcançarmos um resultado significativo com as crianças na terapia e que a subjetividade está presente em todos esses processos e sujeitos. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABERASTURY, Arminda. Psicanálise da criança, Porto Alegre, 1982.
CAMAROTTI, Maria do Carmo. O nascimento da psicanálise de criança: uma história para contar. O nascimento da psicanálise de criança , Belo Horizonte, ano 2010, v. 32, n. 60, 30 jun. 2010. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-73952010000300007. Acesso em: 2 set. 2019.
DOS SANTOS, Manoel Antônio. A transferência na clínica psicanalística: a abordagem freudiana. A transferência na clínica psicanalística: a abordagem freudiana, São Paulo - Ribeirão Preto, v. 2, n. 2, 1994. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X1994000200003. Acesso em: 3 set. 2019.
FREUD, S. (1980). A história do movimento psicanalítico (T. O. Brito, P. H. Britto & C. M. Oiticica, Trad.). Em J. Salomão (Org.), Edição standard brasileira de obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIV, pp. 13-82). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1914)
LAPLANCHE, J., & PONTALIS, J. B. (1992). Vocabulário da psicanálise (P. Tamen, trad.). São Paulo: Martins Fontes.
LACAN, J. (1997). “Os complexos familiares na formação do indivíduo”. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
KLEIN, Melanie. Amor culpa e reparação e outros trabalhos, Rio de Janeiro: Imago, 1921-1945.
KLEIN, Melanie. Inveja e Gratidão e outros trabalhos, Rio de Janeiro: Imago,1946-1963.
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
ZORNIG, Silvia Abu-Jamra. A criança e o infantil em psicanálise. São Paulo: Escuta, 2000.

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