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CONSTITUCIONALISMO Constitucionalismo: teoria que envolve o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos de uma comunidade. Técnica específica de limitação do poder com fins garantidos. Segundo Kildare Gonçalves Carvalho o constitucionalismo consiste: - Sistema normativo baseado na constituição; - Está acima dos detentores do poder. André Ramos Tavares: - Movimento que visa limitar o poder arbitrário; - Imposição de que haja Constituição escrita; - Indicar a função e a posição das Constituições nas diversas sociedades; - Evolução histórico constitucional de um determinado Estado. OBS: Na teoria do constitucionalismo, todo Estado deve possuir uma Constituição com regras de limitação ao poder autoritário e de prevalência aos direitos fundamentais. Neoconstitucionalismo – século XXI - Desenvolvimento doutrinário; - Positivação e concretização dos direitos fundamentais. - O Estado tem o dever de não intervir. Direitos de Primeira Geração: direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de expressão, à participação política e religiosa, à inviolabilidade do domicílio, à liberdade de reunião. Obrigações de não fazer, ligados a liberdade do homem de decidir seu próprio destino. Direitos de Segunda Geração: Estado passa a ser responsável para concretizar um ideal de vida digna. Direito à assistência social, saúde, educação, trabalho, lazer, etc. São direitos sociais – valor de igualdade. Direitos de Terceira Geração: ligados ao valor de fraternidade e solidariedade, visam a proteção do gênero humano. Direito ao meio ambiente (Art. 225/CF), direito de propriedade sobre patrimônio comum da humanidade, direito à comunicação. Direitos de Quarta Geração: globalização política. Direitos à democracia, informação e pluralismo (várias formas de pensar sobre uma mesma ideia ). TEORIA DA CONSTITUIÇÃO 1. DIREITO CONSTITUCIONAL 1.1 CONCEITOS Paulo Gustavo Gonet Branco - É o ramo de estudo jurídico dedicado à estrutura do ordenamento normativo, no qual se examinam as regras matrizes do todo o direito positivo (as normas impostas pelo Estado) e do qual advém os princípios do Direito Administrativo, Tributário, Processual, Penal e Privado. José Afonso da Silva – O Direito Constitucional é o ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado, podendo ser considerado a ciência positiva das constituições. José Afonso da Silva: Direito Constitucional como direito público fundamental estabelece: § A estrutura do estado; § A organização de suas instituições; § O modo de aquisição e exercício do poder; § Bem como a limitação desse poder, por meio, especialmente, da previsão dos direitos e garantias fundamentais”. Em outras palavras, o Direito Constitucional busca interpretar as normas fundamentais do Estado, a sua organização e estruturação política, bem como os limites de atuação e os princípios fundamentais que o norteiam; e justamente por isso é tratado dentro do ramo de Direito Público. 1.2 OBJETO DO DIREITO CONSTITUCIONAL: Paulo Bonavides – O objeto do Direito Constitucional = o estabelecimento de poderes supremos, a distribuição da competência, a transmissão e o exercício da autoridade, a formulação dos direitos e das garantias individuais e sociais. § É A CONSTITUIÇÃO; (P.Ferreira): O objeto do Estudo do D.Constitucional é a Constituição; (conceito sintético) ; § (A.Moraes/Canotilho): Como produto legislativo máximo do D.Constitucional encontramos a própria Constituição, elaborada para exercer dupla função: garantia do existente e programa ou linha de direção para o futuro. § (A.Barbosa): “são objetos do D.Constitucional tanto as teorias que se criaram acerca da Constituição, formadas por especialistas no assunto, quanto o texto da própria Constituição”. 1.3 HISTÓRICO DO DIREITO CONSTITUCIONAL: § 1691: FRANÇA: Escola de Paris: Grande movimento (Constituição Escrita – derrubada do Rei): Revolução Francesa; Direito Constitucional matéria lecionada na faculdade; § 1797: ITÁLIA: Escola de Bolonha: Escolas – Direito Constitucional (disciplina); § 1940: BRASIL: Dec. Lei 3.269: Deve ser ensinado nas cadeiras (separando o Direito Constitucional da Teoria do Estado); prazo mínimo de 3 anos, formar professores de Direito Constitucional; 1.4 FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL FONTES DO DIREITO – são os modos de criação e revelação das normas jurídicas, podendo ocorrer de duas formas: escritas e não escritas. CONCEPÇÃO DE Paulo Gustavo Gonet Branco a) As emendas constitucionais advindas do poder constituinte de reforma são fontes formais de Direito Constitucional. b) Os tratados e convenções internacionais aprovados em dois turnos por cada uma das casas do Congresso Nacional, com 3/5 dos votos dos seus respectivos membros, passam a ser normas constitucionais, portanto, são fontes de Direito Constitucional. (art. 5º, par. 3º, da CF). c) A jurisprudência, especialmente do STF, é fonte complementar, na medida que a atividade jurisdicional da Corte manifesta os sentidos das normas e os princípios inseridos na Lei Fundamental. d) O costume (prática reiterada de uma conduta que não está disposta em norma escrita) também é fonte complementar do Direito Constitucional. OBS: os costumes como fonte do Dir. C. são o secundum legem (segundo uma lei já existente) e praeter legem (que supre uma lacuna da lei). O contra legem não é fonte, pois que já é contrário a texto de lei. CONCEPÇÃO DE Paulo Bonavides Fontes Escritas a) as leis constitucionais; b) leis complementares e regulamentares – figura especial de leis ordinárias que servem de apoio à Constituição e fazem com inúmeros preceitos constitucionais seja aplicados; c) as prescrições administrativas contidas em regulamentos e decretos de importância do Direito Constitucional; d) os regimentos das Casas do Poder Legislativo ou do órgão máximo do Poder Judiciário; e) os tratados internacionais, o Direito Canônico, a legislação estrangeira, as resoluções das comunidades internacionais, sempre que o Estado os aprovar ou reconhecer; f) a jurisprudência (EUA as decisões da Suprema Corte integram quase metade da Constituição); g) a doutrina – a palavra dos tratadistas, a lição os grandes mestres. Fontes não escritas a) costumes - praticas reiteradas de certos atos por uma coletividade que os adota como regra; b) os usos constitucionais – tem relevância em países desprovidos de Constituição escrita ou com textos sumários. Nos Estados Unidos, por exemplo, é evidente a presença de tal fenômeno, no qual as convenções partidárias e algumas práticas de funcionamento do Poder executivo se assentam tão-somente em usos constitucionais. 1.5 DIVISÕES DO DIREITO CONSTITUCIONAL 1.5.1) Direito Constitucional Positivo (particular ou especial) – Tem por objeto o estudo dos princípios e normas de uma constituição concreta, de um Estado determinado. Trata-se da interpretação, crítica e sistematização das normas vigentes em certo Estado. Assim, fala-se em Direito Constitucional Particular quando se examinam as peculiaridades da organização jurídica de cada Estado, e em Direito Constitucional Positivo quando se ressalva a vigência e eficácia das normas que compõem o seu ordenamento jurídico. - Estudo de uma Constituição específica vigente em um Estado determinado. Orientação puramente dogmática: ocupa-se do DIREITO POSITIVO, procedendo à análise, interpretação, sistematização e críticas a regra e princípios integrantes ou derivados de uma constituição (nacional ou estrangeira). 1.5.2) Direito Constitucional Comparado – analisa diversas Constituições para obter da comparação dessas normas positivas dados sobre semelhanças ou diferenças que são úteis ao estudo jurídico, captando o que há de essencial na unidade e na diversidade entre elas. O Direito Constitucional Comparadoassenta- se em sistemas jurídicos positivos, embora não necessariamente vigentes. 1.5.2.a) Finalidades: 1) Mostrar ao Estado a origem de um instituto nele introduzido. 2) Dissipar dúvidas quanto a origem de determinado instituto explicando que, apesar de ser semelhante a um que se encontra em outro país, não pode ser colhido neste. 1.5.2.b) OBJETIVO: estudo comparativo de uma pluralidade de constituições, destacando os contrastes e as semelhanças entre elas. Podendo adotar o critério: 1.5.2.b1) TEMPORAL OU COMPARAÇÃO VERTICAL: § Confrontam-se no tempo as Constituições de um mesmo Estado, observando-se as semelhanças e diferenças em épocas distintas da evolução constitucional daquele Estado. § Trata-se, assim, do estudo das normas jurídicas positivadas nos textos das Constituições de um mesmo Estado em diferentes momentos histórico-temporais. § Ex: Brasil: CF do Império X CF/88; 1.5.2.b2) ESPACIAL OU COMPARAÇÃO HORIZONTAL: (mais utilizado) § Comparam-se, no espaço, constituições vigentes de diferentes Estados, preferencialmente, de áreas geográficas contínuas. § Ex: CF Brasil X CFs dos demais países da America Latina; 1.5.2.b3) DA MESMA FORMA DE ESTADO: § Confrontam-se Constituições que adoram a mesma forma de Estado, as mesmas regras de organização. § Ex: Comparação das CF de alguns países que adotam a forma Federativa. 1.5.3) Direito Constitucional Geral – utiliza normas positivas, peculiares ao Direito Constitucional daquele Estado, estabelecendo conceitos, princípios e apontando tendências gerais. Ou seja, é a própria teoria geral do Direito Constitucional (ex.: conceito de Direito Constitucional, seu objeto e conteúdo, teoria da constituição, hermenêutica, interpretação e aplicação das normas constitucionais, teoria do poder constituinte etc.). OBJETIVO: delinear, sistematizar e dar unidade aos princípios, conceitos e instituições que se acham presentes em vários ordenamentos constitucionais. Função: elaboração de uma teoria geral de caráter científico (ciência teórica, não meramente dogmática ou descritiva). Cabendo, assim, definir as bases da denominada teoria geral do direito constitucional, tais como: § Conceitos de Direito Constitucional; § Fontes do Direito Constitucional; § Conceito de Constituição; § Classificação das Constituições; § Conceito de Poder Constituinte; § Métodos de interpretação da Constituição; § (…); 1.5.4) Direito Constitucional Internacional – O direito internacional constitucional, sob o ponto de vista doutrinário, constitui área interdisciplinar e recente. Duas perspectivas podem ser identificadas no estudo do direito constitucional internacional. 1) Tem por objeto o processo de internacionalização das constituições nacionais; 2) Estuda-se o fenômeno da constitucionalização do direito internacional, o qual indica as seguintes tendências: a) o aprofundamento da sistematicidade da ordem jurídica internacional; b) o reconhecimento de regras gerais e fundamentais e, em alguns casos, hierarquicamente superiores no direito internacional; c) e a progressiva expansão dos temas abarcados pelas normas de direito internacional constitucional, aspecto que corresponde às mudanças na sociedade internacional e à ampliação dos interesses comuns da humanidade. Esta, por sua vez, como explicado por Bryde, passa a ser entendida como destinatária final das normas jurídicas internacionais, em substituição aos Estados, que passam a figurar como destinatários imediatos, subordinados a preceitos que protegem o ser humano, sua dignidade e seus interesses permanentes. Leia mais: http://jus.com.br/artigos/23790/aspectos-do-direito- internacional-constitucional-manifestacoes-constitucionais-da- ordem-juridica-internacional/2#ixzz3iF8yCc16 2. A CONSTITUIÇÃO 2.1 Origem e conceito de Constituição Desde a Antiguidade já se constatava que, entre as leis, pelo menos uma delas se destacava em face de seu propósito de organizar o próprio poder, fixando os seus órgãos, estabelecendo as suas atribuições e seus limites, enfim, definindo a sua Constituição. A noção de Constituição, pois, já existia entre os gregos e romanos, no domínio do pensamento filosófico e político. A palavra Constituição deriva do verbo latino constituere (estabelecer definitivamente), contudo, é usada no sentido de Lei Fundamental do Estado, com efeito, a Constituição é a organização jurídica fundamental do Estado, um conjunto de regras sistematizadas em um texto único, por conseguinte, formal. A Constituição do Estado é a sua Lei Fundamental; a Lei das leis; a Lei que define o modo concreto de ser e de existir do Estado; a Lei que ordena e disciplina os seus elementos essenciais (poder-governo, povo, território e finalidade). A estrutura do ordenamento jurídico é escalonada. Essa ideia remonta a Kelsen, segundo o qual todas as normas situadas abaixo da Constituição devem ser com ela compatíveis. CONCEITO OBJETIVO - a Constituição como um conjunto de normas jurídicas supremas que estabelecem os fundamentos de organização do Estado e da Sociedade, dispondo e regulando a forma de Estado, a forma e sistema de governo, o seu regime político, seus objetivos fundamentais, o modo de aquisição e exercício do poder, a composição, as competências e o funcionamento de seus órgãos, os limites de sua atuação e a responsabilidade de seus dirigentes, e fixando uma declaração de direitos e garantias fundamentais e as principais regras de convivência social. a. CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO MATERIAL – é o conjunto de normas que instituem e fixam as competências dos principais órgãos do Estado – como serão dirigidos e por quem, disciplinando as interações e controles recíprocos entre estes órgãos. b. CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO FORMAL – é o documento escrito e solene que positiva as normas jurídicas superiores da comunidade do Estado, elaboradas por um processo constituinte específico. O conceito de Constituição, todavia, não pode ficar desvinculado do exame do sentido ou concepção que ela pode apresentar. Assim, sintetizando as diversas teorias da constituição, cumpre verificar em que sentido se deve conceber e compreender a Constituição estatal: no sentido sociológico, político ou jurídico? Ou numa conexão (união) de todos esses sentidos (sentido cultural)? Vejamos as concepções a seguir. 2.2 Concepções sobre a Constituição A Constituição pode ser sentida e compreendida a partir de perspectivas ou concepções diversas, segundo o ângulo de visão de seu observador. Efetivamente, o sociólogo vai conceber a Constituição como um fato social ou produto da realidade social, dotada de força própria extraída dos elementos da mesma realidade da qual proveio. O adepto da concepção política certamente verá na Constituição a síntese de uma decisão política fundamental de um povo acerca do modo e da forma concreta de existência de sua comunidade. O jurista, por sua vez, verá a Constituição como uma lei pura, que se distingue das demais em razão de sua superioridade jurídica. Vamos ver então algumas considerações sobre as concepções da Constituição: 2.2.1 A concepção sociológica Numa concepção sociológica, a Constituição haure a sua origem na própria realidade social. A Constituição, nesse sentido, não é produto da Razão, mas sim resultado das forças sociais; não é algo criado ou inventado pelo homem, mas sim realidade política e social do presente; não é pura forma de “dever ser”, mas de “ser”. Ferdinand Lassalle, na sua significativa obra A Essência da Constituição, revelou os fundamentos sociológicos das Constituições: os fatores reais do poder que regem uma determinada sociedade. Constituem esses fatores reais do poder: a monarquia, a aristocracia, a grande burguesia, os banqueiros e, com especial conotação, a pequena burguesia e a classe operária, todos, sem exceção, compondo parte da Constituição, queele denomina de Constituição real e efetiva. Ele distinguia entre a Constituição real (realidade social) e a Constituição jurídica (Constituição escrita pelo Homem), afirmando que a verdadeira Constituição é a soma dos fatores extraídos da realidade social, enquanto a Constituição escrita não passa de uma mera folha de papel. 2.2.2 A concepção política Carl Schmitt, em sua clássica obra Teoria da Constituição, sustentou que a Constituição significa, essencialmente, decisão política fundamental, decisão concreta de conjunto sobre o modo e a forma de existência da unidade política. Por isso mesmo, para o autor, a Constituição corresponde apenas a um conjunto de normas (escritas ou não-escritas) referentes aos aspectos fundamentais do Estado, que ele denomina de decisões políticas fundamentais. Tudo o mais, por não se relacionar com aqueles aspectos, está fora do conceito político de Constituição. 2.2.3 A concepção jurídica Numa concepção estritamente jurídica, a Constituição é concebida como uma norma jurídica, uma norma jurídica fundamental de organização do Estado e de seus elementos essenciais, dissociada de qualquer fundamento sociológico, político ou filosófico. Foi em Hans Kelsen que encontramos a figura do defensor intransigente do conceito puramente jurídico de Constituição. Para ele, a Constituição pode ser concebida em dois sentidos: no lógico- jurídico, como a norma hipotética fundamental (Grundnorm), pressuposta, que serve de fundamento lógico transcendental de validade da própria Constituição jurídico-positiva; e no jurídico- positivo, como a norma positiva suprema, fundamento de validade para todas as outras normas positivas, ocupando, assim, o vértice do ordenamento jurídico do Estado. Nesse sentido, pois, “a Constituição representa o escalão de Direito positivo mais elevado”. De acordo com a Teoria Pura do Direito, Kelsen destaca vários significados de constituição: Ø Material – é o conjunto de normas que regulam a criação dos preceitos jurídicos gerais e prescrevem o processo que deve ser seguido em sua elaboração. Ø Formal – consiste no conjunto de normas jurídicas que só podem ser modificadas mediante a observância de prescrições especiais, que têm por objetivo dificultar a modificação destas normas. Ø Sentido amplo – compreende as normas que estabelecem as relações dos súditos com o poder estatal. 2.2.4 A concepção cultural (conexão das concepções anteriores) Tal concepção parte da afirmação do Direito como objeto cultural. Isto porque, assim como a cultura, o Direito é produto da atividade humana. Tudo que existe, ou sucede, por intervenção do homem, e em que se incorpora ou procura incorporar-se um valor, é cultura. Assim, um conceito adequado de Constituição deve partir da sua compreensão como um sistema aberto de normas em correlação com os fatos sociopolíticos, ou seja, como uma conexão das várias concepções desenvolvidas no item anterior, de tal modo que importe em reconhecer uma interação necessária entre a Constituição e a realidade a ela subjacente, indispensável à sua força normativa. Konrad Hesse, na sua famosa obra A Força Normativa da Constituição, afirma que a Constituição, para irradiar a sua força ativa, motivadora e ordenadora da vida do Estado e da sociedade, ou seja, para produzir e manter a sua força normativa, deve interagir com a realidade político-social, num condicionamento recíproco. 2.3. Classificação das Constituições As Constituições nem sempre se apresentam de maneira idêntica, seja no domínio do mesmo Estado, seja entre Estados distintos. Assim, surge a necessidade de classificar as Constituições, visando identificar os seus vários tipos ou espécies. 2.3.1 Quanto ao conteúdo: Material e Formal a) Constituição material - A Constituição material é o conjunto de normas, escritas ou não escritas (costumeiras), que regulam a estrutura do Estado, a organização do poder e os direitos e garantias fundamentais, inseridas ou não no texto escrito. O fundamental é a matéria ou conteúdo objeto da norma, sendo irrelevante a localização desta. b) Constituição formal - A Constituição formal é o conjunto de normas escritas reunidas num documento solenemente elaborado pelo poder constituinte, tenham ou não valor constitucional material, ou seja, digam ou não respeito às matérias tipicamente constitucionais (estrutura do Estado, a organização do poder e os direitos e garantias fundamentais). O que se afigura relevante aqui é a formalidade que caracteriza essas normas. 2.3.2 Quanto à forma: Escrita e Não-Escrita a) Constituição escrita - Constituição escrita, ou instrumental, é aquela cujas normas – todas escritas – são codificadas e sistematizadas em texto único e solene, elaborado racionalmente por um órgão constituinte. b) Constituição não-escrita ou costumeira - Constituição não- escrita, ou costumeira, é aquela cujas normas não estão plasmadas em texto único, mas que se revelam através dos costumes, da jurisprudência e até mesmo em textos constitucionais escritos, porém esparsos, como é exemplo a Constituição da Inglaterra. 2.3.3 Quanto à origem: Democrática e Outorgada a) Constituição democrática (ou promulgada ou popular ou votada) - Constituição democrática é aquela elaborada por representantes legítimos do povo, que compõem, por eleição, um órgão constituinte. Na sua origem se verifica a efetiva participação popular, sendo fruto da soberana manifestação de vontade de um povo, que elege com liberdade os seus representantes para a tarefa fundamental de elaborar uma Constituição. b) Constituição outorgada - Já a Constituição outorgada é aquela cuja elaboração se processa sem qualquer participação do povo. É fruto do autoritarismo, do abuso, da usurpação do poder constituinte do povo. São impostas pelo governante e normalmente são designadas pela doutrina de Cartas. ►► Como o assunto foi tratado pela FGV? (Sefaz/MS/Agente/2006) Quanto à origem, as Constituições são: a) rígidas e flexíveis. b) escritas e analíticas. c) escritas e democráticas. d) democráticas e outorgadas. e) democráticas e promulgadas. Obs: A resposta correta é a letra “D”. Existem, ainda, outras duas espécies, segundo este critério de classificação. c) Constituição cesarista - Segundo José Afonso da Silva, as chamadas constituições cesaristas, que são aquelas que, não obstante impostas, dependem da ratificação popular por meio de referendo. A participação popular, nesse caso, não é democrática, pois visa tão-somente ratificar a vontade do detentor do poder (Ex.: plebiscitos napoleônicos; e plebiscito de Pinochet, no Chile). d) Constituição pactuada - A Constituição pactuada é aquela que oficializa um compromisso político instável de duas forças políticas opostas: a realeza absoluta debilitada, de um lado, e a nobreza e a burguesia, em ascensão, de outro. Surge, assim, como termo dessa relação de equilíbrio a monarquia limitada. Exa.: a Constituição francesa de 1791. 2.3.4 Quanto à estabilidade ou consistência ou mutabilidade: Imutável, Fixa, Rígida, Flexível e Semi-rígida ou Semiflexível a) Constituição imutável - A Constituição imutável é aquela que não prevê nenhum processo de alteração de suas normas, sob o fundamento de que a vontade do poder constituinte exaure-se com a manifestação da atividade originária. b) Constituição fixa - Diz-se daquela que só pode ser alterada pelo próprio poder constituinte originário, circunstância que implica, não em alteração, mas em elaboração, propriamente, de uma nova ordem constitucional. c) Constituição rígida - Constituição rígida é aquela que não pode ser alterada com a mesma simplicidade com que se modifica uma lei. Caracteriza-se por estabelecer e exigir procedimentos especiais, solenes e formais, necessários para a reforma de suas normas, distintos e mais difíceis, do que aqueles previstos para a elaboração ou alteraçãodas leis. OBS: Da rigidez constitucional decorre, como corolário lógico, a supremacia da Constituição, que é atributo de que se revestem as Constituições rígidas e em face do qual passam elas a exercer uma força subordinante de todo o ordenamento jurídico, condicionando a validade de todas as suas normas. ►► Como o assunto foi tratado pela FGV? (TCM/RJ/Procurador/2008) É consequência da rigidez constitucional: a) o princípio do Estado Democrático de Direito. b) o princípio da Supremacia da Constituição. c) a inalterabilidade do texto constitucional. d) o controle concentrado da constituição. e) a presença, em seu texto, de normas fundamentais. Obs: A resposta correta é a letra “B”. d) Constituição flexível - Já a Constituição flexível é aquela que, em sentido oposto, pode ser alterada pelo mesmo procedimento observado para as normas legais. A Constituição não exige, para sua alteração, qualquer processo mais solene. e) Constituição semi-rígida ou semiflexível - Cuida-se de uma Constituição parcialmente rígida e parcialmente flexível, ou seja, uma parte é rígida (exigindo-se, pois, para sua alteração procedimentos especiais) e outra é flexível (podendo ser alterado por processos mais fáceis, à semelhança das leis). É exemplo deste tipo de Constituição, a Constituição imperial de 1824. 2.3.5 Quanto à extensão: Sintética e Analítica a) Constituição sintética (ou concisa) - São Constituições breves que regulam sucintamente os aspectos básicos da organização estatal. Limitam-se a prever os princípios gerais de organização e funcionamento do Estado, cuidando exatamente da matéria essencialmente constitucional. Exemplo admirável de Constituição concisa é a Constituição dos EUA, de 17 de setembro de 1787, que dispõe de apenas sete artigos. b) Constituição Analítica (ou prolixa) - São Constituições extensas que disciplinam longa e minuciosamente todas as particularidades ocorrentes e consideradas relevantes no momento para o Estado e para a Sociedade, definindo largamente os fins atribuídos ao Estado. OBS: A Constituição Federal de 1988 é modelo exemplar de Constituição analítica. Compõe-se de 250 artigos só na parte permanente. 2.3.6 Quanto à finalidade: Garantia e Dirigente a) Constituição garantia (ou liberal ou defensiva ou negativa) - A Constituição garantia foi o paradigma de Constituição adotado após as revoluções do século XVIII para servir de instrumento de garantia das liberdades públicas individuais, visando limitar o poder. Assim, a finalidade maior desta Constituição é garantir as liberdades públicas contra a arbitrariedade estatal, limitando-se praticamente a isso. b) Constituição dirigente (ou social) - A Constituição dirigente é uma consequência do constitucionalismo social do século XX, que provocou a evolução do modelo de Estado, de Estado liberal (passivo) para Estado social (intervencionista). Observa Canotilho que a Constituição dirigente se volta à garantia do existente, aliada à instituição de um programa ou linha de direção para o futuro, sendo estas as suas duas finalidades. 2.3.7 Quanto ao modo de elaboração: Dogmática e Histórica a) Constituição dogmática (ou sistemática) - A Constituição dogmática, também denominada de sistemática, consiste num documento escrito e sistematizado, elaborado por um órgão constituinte em determinado momento da história político-constitucional de um País, a partir de dogmas ou ideias fundamentais da ciência política e do direito dominantes na ocasião. b) Constituição histórica - A Constituição histórica, sempre não escrita, é aquela cuja elaboração é lenta e ocorre sob o influxo dos costumes e das transformações sociais. Exemplo maior de Constituição histórica é a Constituição Inglesa. 2.3.8 Quanto à ideologia: Ortodoxa e Eclética a) Constituição ortodoxa - Constituição ortodoxa é aquela que resulta da consagração de uma só ideologia. São exemplos dela as Constituições da União Soviética de 1923, 1936 e 1977. b) Constituição eclética (ou pluralista) - Já a Constituição eclética, ou pluralista, é aquela que logra contemplar, plural e democraticamente, várias ideologias aparentemente contrapostas, conciliando as ideias que permearam as discussões na Assembleia Constituinte. 3.9 Classificação da Constituição brasileira de 1988 A Constituição brasileira de 1988: 1) formal, quanto ao conteúdo; 2) escrita, quanto à forma; 3) democrática, quanto à origem; 4) rígida, quanto à consistência ou estabilidade; 5) analítica, quanto à extensão; 6) dirigente ou social, quanto à finalidade; 7) dogmática, quanto ao modo de elaboração; e 8) eclética, quanto à ideologia. ►► Como o assunto foi tratado pela FGV? (TJ/PA/Juiz/2007) A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 deve ser classificada como: a) material, quanto ao conteúdo; escrita, quanto à forma; histórica, quanto ao modo de elaboração; promulgada, quanto à origem; flexível, quanto à estabilidade. b) formal, quanto ao conteúdo; escrita, quanto à forma; dogmática, quanto ao modo de elaboração; promulgada, quanto à origem; semiflexível, quanto à estabilidade. c) formal, quanto ao conteúdo; escrita, quanto à forma; histórica, quanto ao modo de elaboração; outorgada, quanto à origem; rígida, quanto à estabilidade. d) material, quanto ao conteúdo; escrita, quanto à forma; dogmática, quanto ao modo de elaboração; outorgada, quanto à origem; semiflexível, quanto à estabilidade, haja vista as inúmeras emendas constitucionais existentes. e) formal, quanto ao conteúdo; escrita, quanto à forma; dogmática, quanto ao modo de elaboração; promulgada, quanto à origem; rígida, quanto à estabilidade. Obs: A resposta correta é a letra “E”. 2.4. Estrutura das Constituições As Constituições, de um modo geral, apresentam a seguinte estrutura: 2.4.a) O Preâmbulo - O preâmbulo da Constituição é a parte precedente do texto constitucional que sintetiza a carga ideológica que permeou todo o documento constitucional, prenunciando os valores que a Constituição adota e objetivos aos quais ela está vinculada. OBS: O Supremo Tribunal Federal firmou sua posição no sentido da inexistência de força obrigatória do preâmbulo da Constituição, limitando a reconhecê-lo como um importante vetor para soluções interpretativas (ADI 2.076- AC, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU de 23.8.2002). PREÂMBULO DA CF DE 1988 Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 2.4.b) A Parte Dogmática - A parte dogmática da Constituição é o seu texto articulado, que acolhe e reúne os direitos civis, políticos, sociais e econômicos, que, modernamente, por ela são veiculados. 2.4.c) As Disposições Transitórias - Cuida-se da parte transitória da Constituição, que têm por finalidade, basicamente, realizar a integração entre a nova ordem constitucional e a que foi substituída ou disciplinar provisoriamente sobre determinadas situações enquanto não regulamentas em definitivo por leis. 2.5. Elementos das Constituições As Constituições, não obstante se apresentem como um todo unitário e orgânico, contêm normas que incidem sobre as mais variadas matérias e que têm finalidades diversas. Em razão disso, a doutrina vem distinguindo, dentro de cada Constituição, os seus elementos formativos, que compreendem: 2.5.1) elementos orgânicos – contidos nas normas que regulam a estrutura do Estado e do poder, como as normas que disciplinama divisão dos poderes e o sistema de governo. Ex.: Títulos III (organização do Estado), IV (organização do poder), V (das forças armadas e da segurança pública) e VI (da tributação) da CF/88. 2.5.2) elementos limitativos – correspondem às normas que formam o rol de direitos e garantias fundamentais: direitos individuais e suas garantias, direitos de nacionalidade, direitos políticos e democráticos. OBS: denominados limitadores porque limitam do poder estatal. Ex.: art. 5º da CF/88. 2.5.3) elementos sócio-ideológicos – consubstanciados nas normas sócio ideológicas, se revelam no comprometimento das Constituições modernas entre o Estado individual e o Estado social. Ex.: os direitos sociais (art. 6º e 7º da CF) e os Títulos VII (ordem econômica e financeira) e VIII (ordem social) da CF/88. 2.5.4) elementos de estabilização constitucional – contêm- se nas normas que visam garantir a solução dos conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas. Ex.: art. 34/36 (intervenção nos Estados-membros e nos municípios), art. 60 (processo legislativo das emendas constitucionais), art. 102, I (controle direto de constitucionalidade), art. 136/137 (estado de defesa e de sítio), Título V (da defesa do estado e das instituições democráticas) todos da CF/88. 2.5.5) elementos formais de aplicabilidade – encontram-se nas normas que prescrevem regras de aplicação das Constituições. Ex.: o preâmbulo, as disposições transitórias e o § 1º do art. 5º (segundo o qual as normas têm aplicação imediata) da CF/88. ►► Como o assunto foi tratado pela FGV? (Sefaz/RJ/Fiscal/2008) São elementos orgânicos da Constituição: a) a estruturação do Estado e os direitos fundamentais. b) a divisão dos poderes e o sistema de governo. c) a tributação e o orçamento e os direitos sociais. d) as forças armadas e a nacionalidade. e) a segurança pública e a intervenção. Obs: A resposta correta é a letra “B”. http://www.editorajuspodivm.com.br/i/f/CONST-%20OAB%20- %20SITE.pdf O Brasil já teve 7 constituições, incluindo a atual de 1988. CF 1824 - Autocrática: Liberal – Governo Monárquico: vitalício e hereditário Estado Unitário: províncias sem autonomia; 4 poderes: Legislativo, Executivo, Judiciário e Moderador (Soberano); O controle de constitucionalidade era feito pelo próprio Legislativo; União da Igreja com o Estado, sob o catolicismo. “a Constituição da Mandioca”. CF 1891 - Democrática: Liberal - Governo Republicano - Presidencialista Federalista: autonomia de Estados e Municípios. Introduziu o controle de constitucionalidade pela via difusa, inspirado no sistema jurisprudencial americano. Separou o Estado da Igreja. CF 1934 - Democrática: Liberal-Social - Governo Republicano – Presidencialista Federalista: autonomia moderada. Manteve o controle de constitucionalidade difuso e introduziu a representação interventiva. CF 1937 - Ditatorial: Liberal-Social - Governo Republicano – Presidencialista (Ditador) Federalista: autonomia restrita. Legislação trabalhista. Constituição semântica, de fachada. Também conhecida como “a Polaca” CF 1946 - Democrática: Social-Liberal - Governo Republicano – Presidencialista Federalista: ampla autonomia - Estado Intervencionista (Emenda Parlamentarista/1961; Plebiscito/1963 - Presidencialismo; Golpe Militar/1964 – Início da Ditadura. Controle de constitucionalidade difuso e concentrado, este introduzido pela EC nº 16/65 CF 1967 - Ditatorial: Social-Liberal - Governo Republicano – Presidencialista (Ditador) Federalista: autonomia restrita - Ato Institucional nº 5 / 1969 – uma verdadeira carta constitucional: 217 artigos aprofundando a Ditadura: autorizou o banimento; prisão perpétua e pena de morte; supressão do mandado de segurança e do hábeas corpus; suspensão da vitaliciedade e inamovibilidade dos magistrados; cassação nos 3 poderes. Manteve o controle de constitucionalidade pela via difusa e concentrada. CF 1988 - Democrática: Social-Liberal-Social - Governo Republicano – Presidencialista Federalista: ampla autonomia - Direitos e garantias individuais: mandado de segurança coletivo, mandado de injunção, hábeas data, proteção dos direitos difusos e coletivos; Aprovada com 315 artigos, 946 incisos, dependendo ainda de 200 leis integradoras. Fase atual: Neoliberalismo e desconstitucionalização dos direitos sociais. Considerada “Constituição Cidadã”. Bibliografia BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 19. Ed. São Paulo: Saraiva, 2015. MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 33. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.
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