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Economia Brasileira Crise de 1929 e a política econômica no governo de Vargas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof Ms Nelson Calsavara Garcia Junior Revisão Textual: Profa Ms Rosemary Toffoli 5 • Efeitos da crise para o Brasil • Correntes de pensamento • Aspectos iniciais do governo do presidente Vargas: política e economia Para o bom andamento dos trabalhos, será fundamental o seu envolvimento e interesse. Assim, seguem as seguintes recomendações: leitura de: ABREU, M. P. A Ordem do Progresso: Cem Anos de Política Econômica Republicana, 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 2004, Capítulo III (Crise, Crescimento e Modernização Autoritária: 1930-1945, páginas 73 a 104); bem como do conteúdo proposto e do material complementar. audição do arquivo em PowerPoint. A leitura integral da bibliografia é fundamental e deve ser feita antes da utilização de quaisquer recursos que foram colocados à sua disposição. Com isso, haverá por parte do aluno um entendimento inicial e ele deverá utilizar os demais os recursos para complementar e ou facilitar a compreensão da bibliografia em questão. · Devido à grande quantidade de acontecimentos (início da substituição de importações, surgimento de correntes de pensamento para explicar o início da industrialização e a II Guerra Mundial, além do “conturbado” primeiro mandato do Governo Vargas) que fazem parte do período (1930-1945), em estudo nesta unidade, parte desses acontecimentos serão abordados com mais profundidade na próxima unidade. Isso se aplicará aos temas II Guerra Mundial e a queda do Presidente Vargas. Crise de 1929 e a política econômica no governo de Vargas • Processo de industrialização por meio da substituição de importações • A política econômica adotada pelo governo de Getúlio Vargas • Autoritarismo e Estado Novo 6 Unidade: Crise de 1929 e a política econômica no governo de Vargas Contextualização No fim da década de 20, uma crise econômica teve início nos EUA e se alastrou pelo mundo, chegando até o Brasil. Aqui, a crise atingiu com muita intensidade o comércio do café, nosso principal produto para exportação. Isso ocorreu basicamente por dois motivos: forte queda em seu preço e superprodução no período. No plano político, o destaque foi a vitória de Júlio Prestes para o cargo de Presidente da República, porém, foi impedido de assumir o poder, e o então Presidente Washington Luís foi destituído do final de seu mandato, devido à Revolução de 30. Com isso, quem assumiu o poder foi o candidato da oposição Getúlio Vagas, como chefe do governo provisório até 1934, quando foi eleito indiretamente pela assembléia constituinte para um novo mandato. Com o esgotamento do modelo agroexportador, foi iniciada justamente nesse contexto a industrialização por substituição de importações (ISI). Tal iniciativa desencadeou o surgimento de diversas correntes de pensamento, quando foi analisado o papel da crise como fato gerador da industrialização. A partir daí, o foco é a política econômica do Governo Vargas até que ocorreu oficialmente em 1937, o golpe chamado de Estado Novo (ditadura de Vargas), para, segundo o presidente, impedir que o comunismo tomasse o país. Até 1945, todo o poder foi centralizado no poder executivo e o Estado teve um papel ainda mais intervencionista, sob o aspecto econômico e político. 7 1- Efeitos da crise para o Brasil A crise, iniciada em 1929, nos EUA, espalhou-se pelo mundo e chegou até o Brasil. Como o país ainda era um forte dependente da receita oriunda de exportação de produtos primários, o setor cafeeiro foi duramente atingido. Em termos práticos, isso ocorreu motivado por uma forte crise de demanda pelo café, resultando em queda do preço do produto. Entretanto, a queda do preço não foi a única preocupação do governo, pois o setor experimentou, nesse momento, uma superprodução que, praticamente, obrigou o governo a comprá-lo e estocá-lo, prática que ficou conhecida como “estoque regulador”. A manutenção desses estoques foi efetuada com empréstimos internacionais que cessaram em 1930 e foram mantidos através de expansão monetária oriunda do Banco do Brasil e do imposto sobre exportação. Apesar da utilização do termo “obrigar” ser muito forte, ele se aplica em um cenário em que o governo precisou amortecer (ou proteger) a economia do efeito multiplicador da queda nas vendas e no preço do café, afetando negativamente uma parcela importante da atividade econômica. Mesmo com a intervenção pesada do governo na economia, a renda nominal caiu entre 20% a 25% e, para remediar esses problemas, o governo decidiu, então, queimar o café. Durante os anos de 1931 a 1944, foram destruídas 26,96% das sacas de café produzidas. Somente no ano de 1937, foram destruídos 70% da produção total, conforme apresentado na Figura I. Como não poderia deixar de ser, esse cenário de retração da atividade econômica foi refletido no Balanço de Pagamentos. Houve uma saída vigorosa de capitais externos (reverso da década de 20) ocasionando déficit no Balanço de Pagamentos. No período de 1929-1932, o câmbio desvalorizou-se em mais de 50%. “O choque externo sobre a economia brasileira afetou o balanço de pagamentos principalmente através de brutal queda dos preços de exportação, não compensada por aumento do quantum exportado, e da interrupção do influxo de capitais estrangeiros”. ABREU (2004) Você se recorda das informações que esse relatório contempla? Agora é uma boa hora para relembrar aspectos básicos da economia. Se você tem curiosidade para ver esse relatório, basta acessar o site do Banco Central (www.bcb.gov.br) efetuar a procura e fazer o download, o arquivo está em formato de planilha Excel. 8 Unidade: Crise de 1929 e a política econômica no governo de Vargas Figura I: Café destruído pelo governo federal e produção nacional (1931-1944) - toneladas Fonte: GREMAUD, Amaury Patrick & SANDOVAL, Marco Antonio & TONETO Jr, Rudinei. Economia Brasileira Contemporânea. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. Página 350. Para completar a análise dos efeitos da crise de 1929 na economia brasileira, ainda resta a exposição de dois itens, a saber: a) utilização de capacidade ociosa formada durante a década de 20, fato que contribuiu para a possibilidade de abertura para importação de bens de capital de segunda mão da Inglaterra (produtos que eram mais baratos). Em outras palavras, foi formada uma demanda reprimida que pode ser atendida pela compra de máquinas e equipamentos ingleses de segunda mão; b) entre os anos de 1929 a 1932 a taxa de câmbio foi desvalorizada (você se lembra do que é valorização e desvalorização cambial? E os efeitos dessas práticas? Em caso de dúvidas, procure qualquer manual de economia disponível na biblioteca da Universidade) em mais de 50%. Com toda a dificuldade para exportar, já que a crise tornou-se mundial, essa desvalorização teve como objetivo incentivar as exportações. Por outro lado, as importações ficaram 50% mais caras no mesmo período. 9 Por fim, em análise posterior o renomado economista Celso Furtado alegou que o choque mundial de 1929 fez o Brasil mudar de base de produção, passando de primário exportador para a criação de uma base industrial produtiva. Sob essa ótica, o choque desfavorável foi positivo. A análise dos efeitos da crise para a economia brasileira foi estudo de outros economistas e será apresentada com maior ênfase a seguir. 2- Correntes de pensamento Será apresentada a análise das teorias econômicas elaboradas pelos economistas Celso Furtado, Carlos Manuel Peláez/Warren Dean, João Manuel Cardoso de Melo e Flávio Rabelo Versiani que procuraram explicar as consequências da crise de 1929 para a economia brasileira, e também o resumo dessas correntes de pensamento. 2.1) Análise dos efeitos da crise Sob a ótica de Celso Furtado, com a instalação da crise na economia nacional, o governo atuou destacando a importância da manutenção da demanda agregada. A necessidade de sustentaçãoda demanda agregada foi viabilizada pagando aos agricultores um preço mínimo para a realização de suas plantações. De fato essa análise pode ser interpretada como uma aplicação da Teoria Keynesiana, já que manteve o emprego e o efeito multiplicador da economia. Porém vale lembrar que o governo adotou políticas keynesianas antes mesmo da publicação do livro de Keynes. Já os economistas Peláez e Dean criticam a teoria defendida por Furtado, pois segundo elem, caso não ocorresse à crise de 1929, a indústria teria se desenvolvido mais rapidamente devido à criação de ferrovias e do setor bancário (para o financiamento). 2.2) Resumo das ideias A proposta agora é apresentar ainda que seja de modo sucinto, uma compilação das principais ideias defendidas pelas diferentes correntes de pensamento: a) teoria dos Choques Adversos: elaborada por Celso Furtado defendendo ideias keynesianas e antiliberais; b) teoria da Complementaridade: entre a expansão cafeeira e o crescimento industrial defendida por Dean e Peláez; c) referencial teórico marxista: apresentada por João Manuel Cardoso de Melo, onde a indústria surgiria por meio da exploração do café, porém com limites muito claros. Continha elementos que englobavam as duas teorias anteriores a esta; 10 Unidade: Crise de 1929 e a política econômica no governo de Vargas d) a importância da indústria têxtil do Rio de Janeiro: defendida por Flávio Rabelo Versiani, onde o crescimento industrial ocorreu devido o desenvolvimento da indústria têxtil do Rio de Janeiro, teoria que por motivos óbvios, não possuía nenhuma sustentação. 3- Aspectos iniciais do governo do presidente Vargas: política e economia Como você já deve saber, separar acontecimentos econômicos, políticos e até sociais é muito difícil, pois a economia acaba permeando ou mesmo sendo utilizada por outras ciências. É importante destacar essa interação, uma vez que além dos efeitos da crise de 1929 afetarem a economia brasileira, o contexto político também foi muito conturbado, aumentando ainda mais a incerteza em relação aos rumos que o país tomaria. Um exemplo disso foi á revolta ocorrida em 1930, que em suma, foi um movimento polítco- militar que derrubou o então presidente Washington Luís e impediu a posse do novo presidente da república (eleito) Júlio Prestes. Esse movimento foi liderado por Getúlio Vargas (derrotado na eleição para presidente) representando a ala que pretendia acabar com o domínio da oligarquia cafeeira paulista. O movimento obteve êxito e a oligarquia cafeeira paulista foi derrotada e Getúlio Dornelles Vargas ocupou a Presidência da República durante o período de 03/11/1930 a 29/10/1945. Assim que Getúlio Vargas assumiu o cargo, o cenário econômico ganhou destaque devido á adoção de um modelo de industrialização, conhecido como a Industrialização por substituição de importação, voltada para atender a demanda do mercado interno e não para a exportação. Com isso, a meta desejada pelo governo seria alcançar o desenvolvimento e a autonomia com base na industrialização, sem influências externas e a tendência à especialização de exportar produtos primários. Contudo, esse modelo apresentou problemas, dado a queda das exportações e a continuidade de pelo menos parte da demanda interna, iniciou-se uma tendência de escassez das divisas, ilustrada no Balanço de Pagamentos. Para minimizar os efeitos colaterais desencadeados após a adoção da industrialização por substituição de importações, o governo em um segundo momento implantou medidas protecionistas para amenizar a crise, protegendo a indústria nacional. Por exemplo, os setores que antes importavam passaram a produzir aumentando a renda nacional. 11 4- Processo de industrialização por meio da substituição de importações Esse modelo de desenvolvimento foi uma resposta ao modelo de desenvolvimento liberal, vivenciado pela economia mundial desde a publicação da obra a Riqueza das Nações (publicado em 1776, pelo economista Adam Smith) e, sobretudo pela Teoria das Vantagens Comparativas (você lembra-se dessa teoria? É um bom momento para consultar um manual de economia e rever esse conceito), elaborada pelo economista inglês David Ricardo. A resposta consiste na Teoria Centro-Periferia criada pelo economista argentino Raúl Prebisch, fundador da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) que apontava a necessidade da industrialização dos países exportadores de produtos primários, rompendo com a dependência externa de países desenvolvidos. Para tanto, a ISI (industrialização pela substituição das importações) seria uma saída. Na Figura II, estão apresentados alguns dos resultados desse processo durante os anos de 1949 a 1964. 4.1) Características básicas a) processo presente principalmente nos países latino americanos; b) foram adotadas medidas que protegessem a indústria nacional, conhecido como protecionismo; c) processo rápido de crescimento quando comparado com países que não o adotaram, pois, copiaram o modelo já existente; d) o papel do Estado foi centralizador; e) não gerou tecnologia própria nos países latinos, que estiveram sempre atrasados tecnologicamente, entre 05 a 10 anos; f) o balanço de pagamentos retratou vários problemas, entre eles, citam-se os pagamentos de royalties; g) CEPAL: Comissão Econômica para a América Latina, que formulou os conceitos do Programa de Substituição de Importações e que foram utilizados como referência acadêmica para o Governo; h) estrangulamento interno: devido o aumento da demanda agregada e a falta de oferta para supri-la. 12 Unidade: Crise de 1929 e a política econômica no governo de Vargas Figura II: Estrutura de produção doméstica e importação de produtos manufaturados: 1949-1964 Fonte: GREMAUD, Amaury Patrick & SANDOVAL, Marco Antonio & TONETO Jr, Rudinei. Economia Brasileira Contemporânea. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. Página 357. 4.2) Características pontuais a) Padrão de Financiamento do Setor Público: - houveram dificuldades encontradas de mecanismos para adequar os gastos; - a participação do Estado apresentou um crescimento constante nos setores de infraestrutura, siderurgia e mineração. O Estado tornou-se o provedor de recursos ao setor privado com taxas subsidiadas; - foi adotada a expansão da carga tributária sem a velocidade adequada; - setor financeiro era pouco desenvolvido e com dificuldade de colocação de títulos de dívidas; - foi adotada em alguns casos a prática de monetização de dívidas, levando-se em conta os preços públicos (que geraram as crises nas empresas Estatais, pois eram pesos enormes nos orçamentos governamentais) e os gastos estatais (pois o Estado não conseguiu desenvolver mecanismos para cobrir seus gastos, comprometendo o crescimento futuro). 13 b) Padrão de Financiamento do Setor Público e Privado: - ausência de padrão definido (público e privado); - foi adotada a sub-correção de preços públicos para as tarifas dos setores de: energia, transportes, e assim sucessivamente; - entre 1964 a 1967 houve recuperação de parte dos subsídios devido aumento dos preços públicos, porém em meados de 1970 o Governo segurou o aumento das tarifas públicas devido à inflação. Para cobertura de gastos públicos foram utilizadas verbas da Previdência Social através de empréstimos compulsórios com juros negativos, pagos pelo BNDE; - os endividamentos internos e externos aumentaram substancialmente a partir de 1960; - ausência de mercado financeiro e de capitais de longo prazo, tendo como único emprestador o BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico). As reformas financeiras de 1964/65 tentaram viabilizar o mercado de capitais, porém não lograram sucesso; - na interpretação de Paulo Roberto Davidoff existiram três razões para explicar o crescimento do país após a II Guerra Mundial: Reinvestimento do lucro obtido, Empréstimos públicos através do BNDE e Empréstimos externos. c) a participação do Estado na Economia acelerou o crescimento atéque o mesmo não conseguiu manter o volume necessário; d) concentração de renda: - os dados concretos a partir de 1960: No senso de 1970 foi percebido que as pessoas estavam saindo do campo e migrando para a indústria; - a política tributária e social foi altamente regressiva com impostos indiretos maiores do que os impostos diretos. Com isso, a política social beneficiou mais a classe média. e) tendência ao desequilíbrio externo com problemas conjunturais (relacionados com a supervalorização cambial) e estruturais (devido á competitividade do setor externo brasileiro estar defasada). Tendo em vista o período do início até o ano de 1933, as dificuldades encontradas pelo 14 Unidade: Crise de 1929 e a política econômica no governo de Vargas 5- A política econômica adotada pelo governo de Getúlio Vargas governo foram muitas. Entre elas destacam-se a desvalorização real do câmbio (conhecida como crise cambial de 1930), pois em setembro de 1931 a moeda local já fora desvalorizada em 55%, a moratória no pagamento das parcelas dívida externa (1930 e 1931) e a situação das reservas internacionais. No ano de 1929 o país possuía 31 milhões de libras, mas em 1930, esse montante foi reduzido para 14 milhões de libras e em 1931 o país já não possuía mais reservas. A partir de meados de 1934 notou-se que os bancos brasileiros possuíam maior resistência a crise e esse padrão foi percebido na economia como um todo (Figura III). Em comparação com a crise americana, pode-se afirmar que o Brasil conseguiu atravessar o momento com maior facilidade. Algumas das variáveis que contribuíram positivamente para esse resultado foram: a) a manutenção do nível da renda, devido à política de defesa do café; o papel do Banco do Brasil que foi de autoridade monetária. Como exemplo, pode-se dizer que os depósitos obrigatórios de reservas dos bancos comerciais eram efetuados nesse banco; b) a participação das importações na oferta total da indústria, já que em 1928 representava 45% da Balança Comercial, e em 1931 caiu para 25% e 1939 chegou a 20% da Balança Comercial; c) o rápido crescimento econômico, devido à prática de políticas expansionistas, sobretudo no período entre 1934 a 1937; d) as importações de equipamentos no período de 1933-1939 totalizaram uma média inferior ao período de 1925/1929, contribuindo positivamente para a composição do saldo da balança comercial; e) a assinatura em 1935 do acordo comercial entre o Brasil e os EUA que conseguiu a redução de tarifas aos produtos importados dos EUA, fato que desencadeou a resistência dos industriais. Foi o primeiro grande lobby do setor industrial, particularmente o setor têxtil, devido à intensificação da concorrência. Figura III: Evolução do produto real na década de 30: Brasil e Estados Unidos Fonte: GREMAUD, Amaury Patrick & SANDOVAL, Marco Antonio & TONETO Jr, Rudinei. Economia Brasileira Contemporânea. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. Página 349. 15 6- Autoritarismo e Estado Novo Novamente o cenário político ganhou destaque, pois o presidente da república (Getúlio Vargas) aplicou um golpe de estado, permanecendo no poder de 1937 até o ano de 1945 com base em um regime ditatorial, que censurou os meios de comunicação, perseguiu opositores políticos e represou manifestações políticas e sociais, entre outras práticas. A justificativa apresentada para tanto foi à ameaça eminente de comunistas que poderiam tomar o poder. No plano econômico, ainda havia vários problemas que permeavam a economia nacional. Entre eles, destaca-se a falta de planejamento para atender as demandas existentes no mercado nacional. Ao final de 1937 a situação se agravou com novos problemas, como a escassez de divisas e a suspensão de pagamentos da dívida externa. Como o intuito de aliviar a situação das reservas, o governo promoveu a adoção de um sistema de controle cambial para reduzir o total das importações e o monopólio cambial do governo contava com uma taxa única desvalorizada. É importante também destacar um passo muito importante dado pelo governo no intervalo de 1937-1945 para promover a industrialização do país, com a criação de um conjunto de empresas de base, todas estatais. Foram criadas a Companhia Nacional de Álcalis, a Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Vale do Rio Doce e Fábrica Nacional de Motores (FNM). Já em 1939 o governo promoveu a liberação de 70% das exportações para o câmbio livre, a regularização dos pagamentos da dívida externa e as importações de bens de consumo duráveis eram responsáveis por mais de 90% da oferta interna. Além disso, teve início a II Guerra Mundial com a perda dos mercados europeus. No ano seguinte, mais especificamente em 29 de novembro de 1940, foi assinado o Acordo Interamericano do café, autorizando o aumento do preço do café de 7,5 para 13,7 cents/libra- peso. O café foi o produto chave para as exportações até o final de 1960. Com o início da II Guerra Mundial, o próximo período em destaque foi o ano de 1942, motivado pela melhora da situação econômica do país: houve aceleração do crescimento industrial, acúmulo de reservas cambiais; aumento da entrada de capitais americanos e a execução de Política Fiscal, Monetária e Creditícia expansionista, resultando no aumento do M1 (você recorda o que significa essa sigla? Talvez seja um bom momento para consultar um manual de economia disponível na biblioteca da Universidade) da economia em 270% entre 1939/1945. A percepção de melhora da atividade econômica no ano de 1942 foi permeada pela aceleração da inflação. Alguns dos motivos para tanto foram à reforma monetária de 1942 com o aumento da liquidez, extinção da moeda “Mil Réis”, adoção de políticas expansionistas com déficit fiscal de aproximadamente 3% do PIB, restrição do acesso às importações e a competição entre consumo doméstico e exportações. Próximo ao término da guerra notou-se menor generosidade do governo americano, demonstrada com a recusa em reajustar o preço do café, além da hostilidade a industrialização por substituição de importações e não houve cumprimento das promessas de suprimento de matérias-primas, bens intermediários e de capital. 16 Unidade: Crise de 1929 e a política econômica no governo de Vargas “Com a aproximação do final da guerra verificou-se uma reorientação da política norte-americana relativa ao apoio a governos latino-americanos que não haviam sido eleitos por voto popular”. ABREU (2004) Com o término do mandato do presidente Getúlio Vargas, pode-se afirmar que o período conhecido como “Estado Novo” cumpriu duas funções: a) filtro político pelo controle autoritário do poder, para viabilizar a formação de uma economia urbano-industrial; b) minimizar as tendências contraditórias das elites dirigentes, em relação às alianças internacionais devido à guerra mundial. 17 Material Complementar ABREU, M. P. A Ordem do Progresso: Cem Anos de Política Econômica Republicana, 1889- 1989. Rio de Janeiro: Campus, 2004, capítulo III (Crise, Crescimento e Modernização Autoritária: 1930-1945, páginas 73 a 104). FISHLOW, Albert. Origens e consequências da substituição de importações no Brasil. In: VERSIANI, Flávio Rabelo & BARROS, José Roberto Mendonça de (orgs.). Formação Econômica do Brasil: a experiência de industrialização. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 7-40. FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 286-323. SAES, Flávio Azevedo Marques de. A controvérsia sobre a industrialização na Primeira República. Estudos Avançados, v. 3, no. 7, set./dez. 1989, p. 20-39. Disponível no site: http://www.scielo.br/pdf/ea/v3n7/v3n7a03.pdf SILBER, Simão. Análise da política econômica e do comportamento da economia brasileira durante o período de 1929/1939. In: VERSIANI, Flávio Rabelo & BARROS, José Roberto Mendonça de (orgs.). Formação Econômica do Brasil: a experiência de industrialização. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 173-207. SOLA, Lourdes. O golpe de 37 e o Estado Novo. In:MOTA, Carlos Guilherme (org.) Brasil em perspectiva. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988, p.256-282. TAVARES, Maria da Conceição. Da substituição de importações ao capitalismo financeiro. 7ª. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. 18 Unidade: Crise de 1929 e a política econômica no governo de Vargas Referências ABREU, M. P. A Ordem do Progresso: Cem Anos de Política Econômica Republicana, 1889- 1989. Rio de Janeiro: Campus, 2004, Capítulo II (Apogeu e Crise na Primeira República: 1900- 1930). Páginas 73 a 104. GREMAUD, Amaury Patrick & SANDOVAL, Marco Antonio & TONETO Jr, Rudinei. Economia Brasileira Contemporânea. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. Páginas 349, 350 e 357. 19 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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