Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2019 Economia BrasilEira contEmporânEa Prof.a Josélia E. Teixeira Prof.a Pollyanna Rodrigues Gondin 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof.a Josélia E. Teixeira Prof.a Pollyanna Rodrigues Gondin Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: T266e Teixeira, Josélia Elvira Economia brasileira contemporânea. / Josélia Elvira Teixeira; Pollyanna Rodrigues Gondin. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 200 p.; il. ISBN 978-85-515-0317-1 1. Brasil – Condições econômicas. - Brasil. I. Gondin, Pollyanna Rodrigues. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 330.981 III aprEsEntação É valioso para a sua formação entender o percurso ao longo da história da Economia Brasileira. É um desafio sintetizar os principais fatos e desdobramentos históricos e de como estes impactaram nos principais indicadores e implicou no rumo da economia do país. Assim, iniciaremos nosssos estudos com a Unidade 1. Esta unidade está dividida em três tópicos, sendo que o primeiro aborda o período da industrialização pesada, o segundo, o período marcado pelo endividamento e o “Milagre Econômico”, iniciando com a crise política que ocorreu nos anos de 1960. Já o terceiro tópico, abordará a crise do modelo de subsituição de importação, a crise inflacionária da década de 1980 e o fim dos governo militares. Nesta primeira unidade, você irá se debruçar mais afundo sobre a evolução da economia brasileira pós Segunda Guerra Mundial. Mas, para isto, retornaremos um pouco na história para que você perceba que a crise que ocorreu em 1930, fez com que o modelo econômico brasileiro, baseado na agroexportação, sofresse forte declínio, abrindo margens para o processo de industrialização que se iniciou com a Era Vargas. Em um segundo momento, iremos estudar o período iniciado na década de 1960, que foi marcado por muitas mudanças na sociedade brasileira, que passou de uma democracia a uma ditadura militar autoritária e repressiva em 1964. Em termos econômicos, passa-se por uma grave crise econômica nos primeiros anos da década. A partir de 1967, com a instauração do PAEG, a economia brasileira é reestruturada por meio de uma série de reformas, o que resulta em uma recuperação econômica iniciada no primeiro triênio dos anos 1960 até o primeiro triênio de 1970, quando observa-se o chamado “milagre econômico”. Após a euforia pelas altas taxas de crescimento da economia no período entre 1968 e 1973, o ano de 1974 iria marcar o processo de queda do crescimento econômico brasileiro. Além disso, o período entre 1974 e 1984 marca o esgotamento do modelo de industrialização por substituição de importações (PSI), além do final da ditatura militar e transição para a restauração da democracia no Brasil. Assim, a década de 80 é um caldeirão de experiências econômicas que devem ser analisadas e compreendidas. O Brasil passou pelo movimento das “diretas já” e começou a conduzir o país para o modelo republicano presidencialista e que iria resultar nas primeiras eleições diretas em 1989. Entretanto, nesta década o Brasil enfrentou inflação, hiperinflação e estagflação, para isso, a população ficou sequelada com os vários planos econômicos criados para tentar conduzir a economia para a estabilidade, mas sem sucesso. Veremos que a condução para as eleições diretas foi um processo IV político complexo que só se efetivou no final da década, e a estabilização da economia brasileira não é um tema para amadores. Além disso, os choques externos e os aspectos internacionais também são fatores fundamentais para compreender os problemas da economia brasileira como a dívida externa, os investimentos externos no país, bem como a vulnerabilidade que o país apresentava diante das crises internacionais, especialmente dos outros países emergentes da América Latina. O desafio é fazê-los montar esse quebra-cabeça, com tantas peças e observar de diferentes perspectivas. Portanto, a Unidade 2 terá como objetivo apresentar os fatos mais relevantes para discutir sobre a economia brasileira e como os planos econômicos desde 1986 até 2002 afetaram as principais variáveis socioeconômicas. Entretanto, externamente se fortalecia o fenômeno da globalização e se propagavam as ideais do neoliberalismo econômico. Vamos ver como o Brasil, fortemente dependente dos credores internacionais como o FMI, foi influenciado a aderir ao receituário deliberado no Consenso de Washington e induzido a construir uma agenda a ser cumprida independente da linha política que se estabelecesse no executivo. Vamos continuar a desvendar a economia brasileira, já no início do século XXI, na Unidade 3. Nesta unidade você encontrará referências para estudo da política econômica nos dois mandatos do Presidente Lula, da Presidente Dilma e, após o seu impeachment no segundo mandato, do Presidente Temer. Vamos apresentar os principais indicadores e analisar como a economia chegou “praticamente” ao pleno emprego e chegou numa recessão econômica. Você observará que a economia depende fortemente da política e vice-versa. O Brasil passou por uma forte crise política, além dos escândalos de corrupção envolvendo agentes do setor público e empresários e gestores privados vai culminar no declínio das atividades econômicas e descrédito da capacidade do Estado da gestão de políticas públicas e de intervenção nas atividades privadas. Este é mais um capítulo do país, e aqui buscamos apresentar algumas peças para que você reflita e problematize como o economista pode perceber essas peças e como interpretar para ajudar em sua função seja na iniciativa pública ou privada. Cabe ressaltar que os temas abordados são muito complexos, e os mais recentes acontecimentos do século XXI ainda têm suas consequências nos dias vindouros, portanto, as informações não são perfeitamente transparentes ou disponíveis. Logo, nos serve alguns desses fatos mais como ilustração e de como afetaram algumas variáveis macroeconômicas e despertar a análise de quais seriam as políticas econômicas praticadas e quais seriam as alternativas. Dra. Josélia E. Teixeira e Dra. Pollyanna Rodrigues Gondin V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuemo código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VI VII UNIDADE 1 – ECONOMIA BRASILEIRA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO .........................1 TÓPICO 1 – SITUAÇÃO INTERNACIONAL E A INDÚSTRIA PESADA NO BRASIL ...........3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 O RETORNO DE GETÚLIO E A INDUSTRIALIZAÇÃO ............................................................4 3 O PROJETO DESENVOLVIMENTISTA............................................................................................8 4 PLANO DE METAS E O CAPITAL ESTRANGEIRO .................................................................... 11 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 16 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 – REFORMAS, ENDIVIDAMENTO EXTERNO E O MILAGRE ECONÔMICO .........19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19 2 CRISE POLÍTICA NOS ANOS 60 ..................................................................................................... 19 3 A DITADURA MILITAR E O PAEG (1964-1967) ............................................................................ 25 4 O MILAGRE ECONÔMICO (1968 -1973) ....................................................................................... 30 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 39 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 40 TÓPICO 3 – A CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO E A CRISE INFLACIONÁRIA NO FINAL DOS GOVERNOS MILITARES (1985) ................ 41 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 41 2 A CRISE INTERNACIONAL E O II PND........................................................................................ 41 3 A CRISE DA DÍVIDA EXTERNA ..................................................................................................... 47 4 O GOVERNO FIGUEIREDO E A ECONOMIA BRASILEIRA FRENTE À CRISE INFLACIONÁRIA ................................................................................................................................ 50 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 58 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 60 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 61 UNIDADE 2 – A REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL E AS TENTATIVAS DE ESTABILIZAR A INFLAÇÃO .................................................................................... 63 TÓPICO 1 – OS PRIMEIROS GOVERNOS PÓS-DITADURA E OS PLANOS ECONÔMICOS EM UM MUNDO GLOBALIZADO .............................................. 65 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65 2 A REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL E O GOVERNO SARNEY ........................................ 66 3 NOVA FASE DO GOVERNO SARNEY: SUCESSÕES DE PLANOS ECONÔMICOS E TENTATIVAS DE ESTABILIZAÇÃO FRUSTRADAS .............................................................. 75 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 81 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 83 sumário VIII TÓPICO 2 – A CONSOLIDAÇÃO DO REGIME DEMOCRÁTICO: NOVOS RUMOS PARA A ECONOMIA BRASILEIRA COM O GOVERNO COLLOR E O GOVERNO DE ITAMAR FRANCO ............................................................................ 85 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 85 2 A ELEIÇÃO DE FERNANDO COLLOR DE MELLO .................................................................... 86 3 O GOVERNO COLLOR E AS MEDIDAS LIBERALIZANTES ................................................... 89 4 NOVOS RUMOS PARA A ECONOMIA BRASILEIRA COM O PRESIDENTE ITAMAR FRANCO ............................................................................................................................... 97 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................102 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................103 TÓPICO 3 – REFORMAS, PRIVATIZAÇÕES E OS DESEQUILÍBRIOS MACROECONÔMICOS DO PERÍODO FHC .........................................................105 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................105 2 PLANO REAL, SUAS CIRCUNSTÂNCIAS E O PRIMEIRO MANDATO DO GOVERNO FHC .................................................................................................................................106 3 POLÍTICA ECONÔMICA DO SEGUNDO GOVERNO DE FHC ............................................117 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................124 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................125 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................126 UNIDADE 3 – A ECONOMIA BRASILEIRA NO INÍCIO DO SÉCULO XXI ..........................127 TÓPICO 1 – O GOVERNO LULA: MANUTENÇÃO DA POLÍTICA FINANCEIRA E MUDANÇAS NA ECONOMIA ...............................................................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129 2 TRANSIÇÃO DE FHC PARA LULA (2002 A 2003) ......................................................................130 3 A POLÍTICA ECONÔMICA NO PRIMEIRO GOVERNO LULA ............................................133 4 PROGRAMAS SOCIAIS E O IMPACTO NA MACROECONOMIA NO GOVERNO LULA ...... 147 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................153 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................154 TÓPICO 2 – REELEIÇÃO DO GOVERNO LULA E A CRISE FINANCEIRAINTERNACIONAL ........................................................................................................155 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................155 2 REELEIÇÃO DE LULA E O QUE MUDOU? .................................................................................156 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................171 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................172 TÓPICO 3 – CRISE POLÍTICA E A ECONOMIA NOS GOVERNOS DE DILMA E TEMER ....... 173 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................173 2 ELEIÇÃO DA DILMA........................................................................................................................173 3 A CRISE POLÍTICA E ECONÔMICA NO SEGUNDO MANDATO DE DILMA ................178 4 TEMER NO PODER ...........................................................................................................................183 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................185 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................188 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................189 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................191 1 UNIDADE 1 ECONOMIA BRASILEIRA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender o processo de industrialização da economia brasileira; • compreender o nacionalismo desenvolvimentista empregado à época; • analisar as principais causas do fim do modelo de substituição de importação; • identifcar os fatores que desencadearam a crise inflacionária no final dos governos militares. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – SITUAÇÃO INTERNACIONAL E A INDÚSTRIA PESADA NO BRASIL TÓPICO 2 – REFORMAS, ENDIVIDAMENTO EXTERNO E O MILAGRE ECONÔMICO TÓPICO 3 – CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO E A CRISE INFLACIONÁRIA E FIM DOS GOVERNOS MILITARES (1985) 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 SITUAÇÃO INTERNACIONAL E A INDÚSTRIA PESADA NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO Ao longo do Tópico 1 você irá se debruçar mais afundo sobre a evolução da economia brasileira após Segunda Guerra Mundial. Você irá perceber que a trajetória de crescimento da economia brasileira, à época, foi marcada e influenciada pelas bruscas reestruturações da economia mundial, como a crise de 1930 e a Segunda Guerra Mundial. Assim, você irá perceber que a crise que ocorreu em 1930 fez com que o modelo econômico brasileiro, baseado na agroexportação, sofresse forte declínio, abrindo margens para o processo de industrialização que se iniciou com a Era Vargas. Para conseguir abarcar seu propósito e para melhor aproveitamento, o Tópico 1 foi dividido em três subtópicos. O primeiro refere-se ao retorno de Getúlio Vargas e à industrialização pesada. O segundo diz respeito ao projeto desenvolvimentista. Ainda, o terceiro refere-se ao Plano de Metas e ao capital estrangeiro, que caracterizaram o governo de Juscelino Kubitschek. Assim, iniciaremos o primeiro subtópico apresentando o primeiro governo Vargas, que se iniciou em 1930 e findou em 1945, período este em que governou sem interrupções ou trocas no poder. Durante os estudos, você irá perceber que a crise de 1930 marcou a fragilização do modelo agrário e exportador e, ao mesmo tempo, a necessidade de uma industrialização como forma de superar os constrangimentos externos e desenvolver o país. O governo de Vargas foi marcado pela forte intervenção estatal e pela emergência do Processo de Substituição de Importações (PSI), marcando o início da industrialização brasileira. No segundo subtópico, apresentaremos o projeto nacional desenvolvimentista de Vargas, que marcou a implementação do PSI e modificou de modo profundo as características da economia brasileira. A população migrou do campo para a cidade para trabalhar nas fábricas, fornecendo um aparato de mão de obra necessário para o processo de industrialização e urbanização, este que estava ocorrendo na época. No terceiro e último subtópico, atenção será dada ao Plano de Metas, que foi instituído no governo de Juscelino Kubitschek, que governou o país de 1956 a 1960. O Plano de Metas foi implementado com o slogan “50 anos de progresso em 5 anos de realizações” e pode ser considerado o período de auge da industrialização brasileira. O principal objetivo desse plano era estabelecer as bases de uma economia industrial madura no país, de modo a aprofundar o setor produtor de bens de consumo duráveis. UNIDADE 1 | ECONOMIA BRASILEIRA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO 4 Após a breve apresentação, esperamos que vocês aproveitem ao máximo o conteúdo preparado! Bons estudos! 2 O RETORNO DE GETÚLIO E A INDUSTRIALIZAÇÃO Iniciaremos nossos estudos da Unidade 1 abordando o retorno de Getúlio Vargas ao poder e os impactos de tal feito no processo de industrialização. Contudo, antes disso, é importante falar um pouco sobre as características do governo Vargas e recapitular alguns pontos importantes do seu primeiro governo, quando foi presidente do Brasil por 15 anos ininterruptos, entre 1930 e 1945. De acordo com Sandroni (2010, p. 876), Vargas pode ser considerado o “mais influente estadista brasileiro do século XX, chefe máximo do movimento trabalhista no país e figura dominante na política do Brasil por 24 anos”. Seu governo foi marcado pelo populismo e por uma política econômica nacionalista. A respeito do primeiro governo Vargas, é importante ressaltar que a crise de 1930 foi um momento que marcou a fragilização do modelo agrário e exportador e, ao mesmo tempo, a necessidade de uma industrialização como forma de superar os constrangimentos externos e desenvolver o país. Getúlio Vargas foi considerado o líder da Revolução de 1930 que teve como consequência fim da República Velha. Seu governo, nesta época, foi marcado pela forte intervenção estatal e pela emergência do Processo de Substituição de Importações (PSI), marcando o início da industrialização brasileira. O PSI envolvia protecionismo, a depreciação da moeda local e o controle das importações, com vistas ao desenvolvimento da indústria nascente brasileira. Pode-se considerar então que esse processo de industrialização ficou conhecido por ser fechado em função de dois elementos: por ser uma industrialização voltada para contemplar o mercado interno e por depender de medidas protecionistas para a indústria nascente (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011). Apesar do esforço realizado na época, considera-se que o processo de industrialização não foi completo, uma vez que a indústria de bens de capital não se desenvolveu, sendo o foco da industrialização brasileira o desenvolvimento das indústrias de bens de consumo duráveis e não duráveis. IMPORTANT E Você sabe qual a diferença entre indústria de bens de capital, indústria de bens de consumo duráveis, indústria de bens intermediários e indústria de bens de consumo não duráveis? TÓPICO 1 | SITUAÇÃO INTERNACIONAL E A 5 A indústria de bens de capital refere-se à produção de máquinas e equipamentos, ouseja, serve como base para outras indústrias. A indústria de bens intermediários diz respeito às indústrias de ferro, aço, cimento, petróleo, indústrias que são base para outras indústrias, assim como a indústria de bens de capital. A indústria de bens de consumo duráveis diz respeito à indústria responsável pela produção de produtos que podem ser utilizados mais de uma vez por um longo período. Exemplo: eletrodomésticos, automóveis, máquina de lavar roupas etc. Já a indústria de bens de consumo não duráveis refere-se à produção de bens que são consumidos imediatamente, como alimentos, calçados, bebidas etc. Pois bem, após 15 anos no poder, Getúlio Vargas foi então substituído por Eurico Gaspar Dutra, que governou o país até 1950, e adotou uma política marcada pelo liberalismo econômico, rompendo com a política de industrialização iniciada no governo Vargas (PIRES, 2010). É importante ressaltar que esse rompimento foi feito: [...] por meio de uma política de abertura da economia nacional, do relaxamento dos controles de importação e sobre o capital estrangeiro, do desmonte do arcabouço institucional que permitia ampla ação estatal na economia e da introdução de uma política de estabilização calcada na abertura comercial, no corte do gasto público, no aperto monetário e creditício e no arrocho salarial (PIRES, 2010, p. 101). Além do rompimento com o Processo de Substituição de Importação iniciado por Vargas, o governo Dutra não foi popular. Caracterizou-se pelo arrocho dos salários, com congelamento do salário mínimo, além da realização de medidas para repreender as classes trabalhadoras mais combativas (IANNI, 1986). Após esse período de liberalização da economia que marcou o Governo Dutra, Vargas retoma novamente o poder. Ao longo dos governos de Getúlio Vargas o PSI foi implementado, o que modificou as características da economia brasileira de modo profundo, uma vez que a população migrou do campo para trabalhar nas fábricas, promovendo um processo de industrialização e urbanização. Assim, quando Vargas retornou à presidência, ele aplicou novamente o PSI, gerando envolvimento central do governo na economia. Para dar continuidade ao PSI, Vargas tinha como objetivo promover o desenvolvimento da indústria pesada no país. Para tanto, fundou a Petrobrás e a Eletrobrás, além de restringir a participação do capital externo na economia brasileira (LACERDA et al., 2000). Para implementar o PSI, o Estado de Vargas possuía algumas funções básicas como a adequação das instituições à indústria nascente; a promoção de uma infraestrutura básica, como a construção de portos, ferrovias e estradas; o oferecimento de insumos básicos e a captação e distribuição da poupança. Além disso, é importante mencionar que, segundo Lacerda et al. (2000), o financiamento do governo dava-se mediante a captação de tributos, poupanças compulsórias e ganhos no mercado de câmbio. UNIDADE 1 | ECONOMIA BRASILEIRA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO 6 A industrialização brasileira no período Vargas pode ser considerada uma industrialização fechada, pois foi voltada para contemplar o mercado interno e com medidas protecionistas, como as citadas anteriormente. Mas você deve se perguntar como ocorreu o PSI? Houve uma sequência lógica para o PSI? Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011), houve sim uma sequência importante: • Primeiramente, houve um processo de estrangulamento externo, com queda do valor das exportações e manutenção de parte da demanda interna por importações, gerando escassez de divisas. • Para combater o estrangulamento externo, o governo Vargas tomou medidas para proteger a indústria nacional preexistente, o que aumentou a competitividade e a rentabilidade da produção nacional. • Passou-se a produzir internamente o que antes era importado, aumentando a renda nacional e a demanda agregada. • Novo estrangulamento externo em função do próprio crescimento da demanda, que provoca aumento das importações. Desse último ponto da sequência, volta-se ao primeiro. É importante mencionar que, segundo autores como Fonseca (2003), o motor dinâmico do PSI foi o estrangulamento externo, sendo assim, o modelo de substituição de importações pode ser entendido como uma resposta ao estrangulamento externo, também conhecido como teoria dos choques adversos. Desse modo, as crises da agroexportação incidiam sobre a balança comercial, fazendo submergir as contradições de uma economia voltada para fora, mas que ao mesmo tempo não conseguia gerar divisas para manter pauta de importações e pagar o serviço da dívida externa (FONSECA, 2003). Tal estrangulamento externo era recorrente e relativo. Recorrente pois a tendência era repetir-se sistematicamente ao longo do processo de substituição de importações, e relativo porque não poderia haver um desequilíbrio externo absoluto que significasse um limite completo às importações, as quais deveriam-se manter minimamente para fazer face às necessidades relativas aos investimentos e à ampliação da capacidade produtiva do país. Os estrangulamentos, assim, funcionavam como estímulos e limites ao investimento industrial. Tal investimento, nesse momento, passa a ser a variável-chave para determinar o ritmo do crescimento econômico nacional, substituindo as exportações que eram o ponto-chave do ritmo de crescimento do país em sua fase agroexportadora (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011, p. 354). Assim, é possível considerar que o estrangulamento externo funcionava como o principal fator que desencadeava o PSI. Além disso, o PSI ocorreu por etapas, ou seja, buscou-se construir um setor após o outro, sendo que a primeira etapa objetivava o desenvolvimento essencial da indústria de bens de consumo não duráveis, até chegar na etapa de desenvolvimento da indústria de bens de capital. As indústrias de bens de consumo duráveis e de bens de consumo não duráveis foram as priorizadas, no caso brasileiro. TÓPICO 1 | SITUAÇÃO INTERNACIONAL E A 7 Em um primeiro momento, de 1930 a 1955, período conhecido como “industrialização restringida”, predominou a substituição de importações de bens de consumo não duráveis, mas, ao mesmo tempo, o processo de industrialização atingiu setores, como minerais não metálicos, metalúrgica, papel/papelão e química. Já de 1953 a 1973 a produção voltou-se para os bens de consumo duráveis, que impulsionaram a indústria de bens de consumo não duráveis, os intermediários e os de capital (FONSECA, 2003). O exposto pode ser visualizado na tabela que se segue. TABELA 1 – ESTRUTURA DE PRODUÇÃO DOMÉSTICA E IMPORTAÇÃO DE PRODUTOS MANUFATURADOS – 1949-1964 FONTE: Bergman e Malan (1971, apud GREMAUD, VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011, p. 357) Bilhões de cruzeiros a preços de 1955 Bens de consumo Bens de produção Total de produtos Ano Não duráveis Duráveis Intermediários Capital Manufaturados A) IMPORTAÇÕES 1949 5,4 8,9 18,2 15,8 48,3 1955 4,5 2,1 22,6 13,7 42,9 1959 2,8 2,9 21,2 29,2 56,1 1964 3,9 1,5 18,6 8,7 32,7 B) PRODUÇÃO DOMÉSTICA 1949 140,0 4,9 52,1 9,0 206,0 1955 200,9 19,0 104,0 18,0 341,9 1959 258,0 43,1 159,6 59,5 520,2 1964 319,5 93,8 261,1 79,7 754,2 IMPORTAÇÕES SOBRE OFERTA TOTAL [A/(A+B)] 1949 3,7 64,5 25,9 63,7 19,0 1955 2,2 10,0 17,9 43,2 11,1 1959 1,1 6,3 11,7 32,9 9,7 1964 1,2 1,6 6,6 9,8 4,2 Entretanto, é importante ressaltar que esse processo não foi simples e que existiram dificuldades na implementação do PSI. Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011) existiram quatro dificuldades principais: • Tendência ao desequilíbrio externo: aparecia por três razões principais – política cambial (caracterizada pelo confisco cambial, desestimulando as exportações de produtos agrícolas); indústria sem competitividade (contemplava apenas o mercado interno e, assim, não conseguia atuar no mercado internacional); e elevada demanda por importações (devido ao investimento industrial e ao aumento da renda). UNIDADE1 | ECONOMIA BRASILEIRA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO 8 • Aumento da participação do Estado com quatro funções principais: adequação do arcabouço institucional ao processo de industrialização, geração de infraestrutura básica, fornecimento de insumos básicos e captação e distribuição de poupança. • Aumento da concentração de renda: havia excedente de mão de obra em decorrência do êxodo rural e, consequentemente, baixos salários. • Escassez de fontes de financiamento: para resolver o problema de escassez, o Estado teve que se valer das poupanças compulsórias, dos recursos provenientes da Previdência Social, dos ganhos no mercado de câmbio, do financiamento inflacionário e do endividamento externo. 3 O PROJETO DESENVOLVIMENTISTA Em 3 de outubro de 1950, Getúlio Vargas vence as eleições defendendo um projeto desenvolvimentista. Na época, Vargas encontrou um país diferente para governar, pois, como dito anteriormente, existiram, com o PSI, uma urbanização e uma industrialização intensa, sendo que a indústria passou a ser uma espécie de “mola propulsora” da economia brasileira. Com a industrialização e urbanização, novas classes sociais emergiram, como a burguesia industrial, a classe média e a classe trabalhadora. Assim, a base de sustentação política do projeto nacional desenvolvimentista era formada por proprietários de terra, o empresariado industrial, os trabalhadores urbanos, os sindicatos e os políticos tradicionais (FONSECA, 2003). IMPORTANT E É válido ressaltar que os segmentos agrários foram importantes, apesar de ser uma era concentrada no processo de industrialização. Mas você sabe por que e qual o papel desempenhado pelo setor? Primeiro, existiam questões econômicas. O setor primário viabilizava o PSI ao produzir matérias-primas e bens de consumo dos trabalhadores urbanos, além de gerar divisas com a exportação. Segundo, podemos citar as motivações políticas. A esse respeito, Fonseca (2003, p. 42) afirma que Vargas sempre mostrou interesse em pactuar com os antigos oligarcas e com os segmentos voltados à agroexportação. Assim, “um compromisso implícito foi firmado entre o governo e estes segmentos, que receberam em troca a não realização da reforma agrária e a não extensão da legislação trabalhista ao campo, sem contar outros benefícios, como crédito”. Quando tratamos sobre o segundo governo Vargas, é importante que você tenha em mente que houve a articulação de um projeto de desenvolvimento capitalista, com ênfase no desenvolvimento e modernização da indústria e da agricultura. Além disso, houve forte intervenção estatal na economia (FONSECA, 1987). Assim, Vargas retomou o programa econômico Estado Novo para enfrentar problemas no balanço de pagamentos e o surto inflacionário e implementar um programa de desenvolvimento com base em investimentos em transporte e energia, pontos de estrangulamento da economia brasileira (PIRES, 2010). TÓPICO 1 | SITUAÇÃO INTERNACIONAL E A 9 Ademais, é relevante ressaltar que o desenvolvimento da indústria pesada era outro ponto central do programa de Vargas. A política industrializante de Vargas tomaria corpo nos três grandes programas de desenvolvimento de sua gestão: o Plano Nacional de Reaparelhamento Econômico (PNRE), o Plano Nacional de Eletrificação e o projeto de criação da Petrobras. Lançado em 1951, o PNRE previa investimentos na indústria de base, na modernização da agricultura e, principalmente, nos setores de energia e transporte. [...] O Plano Nacional de Eletrificação era ambicioso, previa a duplicação da capacidade instalada em dez anos, a implantação da indústria de equipamento elétrico pesado e a criação da Eletrobrás, que ficaria responsável pela coordenação dos financiamentos, dos investimentos e das empresas regionais de eletricidade. O projeto Petrobras visava ao desenvolvimento de um setor considerado vital para a economia e ao controle nacional de recursos naturais, importantes para a independência econômica do país (PIRES, 2010, p. 117-118). No seu projeto desenvolvimentista, Vargas adotou uma postura nacionalista. Mas apesar disso, a partir de 1953, é importante ressaltar que o nacional desenvolvimentismo de Vargas aceitava o capital estrangeiro, desde que este tivesse como finalidade acelerar o processo de industrialização e modernização agrícola. É possível afirmar então que, apesar do nacionalismo, a viabilidade do desenvolvimentismo de Vargas dependia, em grande medida, da capacidade de articulação para angariar financiamento externo. Assim, Vargas estabeleceu um plano de cooperação com os Estados Unidos. Nesse plano, técnicos dos dois países fizeram um diagnóstico da economia brasileira e, como resultado, foram gerados 41 projetos setoriais de desenvolvimento (FONSECA, 2003). Foi neste contexto que o BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), atual BNDES, foi criado (FONSECA, 2003). Em 1951, o governo brasileiro anunciou ter obtido 500 milhões de dólares em empréstimos do Banco Mundial e dos Estados Unidos. Em cima dessa promessa, montou toda uma estratégia de desenvolvimento. Os percalços começaram a ficar evidentes quando se tornou claro que o Banco Mundial só financiaria projetos específicos e a seu critério. A expectativa era de que o governo brasileiro controlasse os eventuais recursos emprestados, indicando que Vargas esperava limitar as influências externas sobre as decisões de política econômica. Do montante prometido, o Brasil recebeu apenas 63 milhões de dólares (PIRES, 2010, p. 120). Apesar da necessidade de capital externo para financiar o PSI, é importante, segundo Pires (2010), levar em consideração o contexto internacional. A Segunda Guerra Mundial, a Grande Depressão e a prioridade dada pelos Estados Unidos para a Europa e Japão no pós-guerra diminuíram a entrada de capital norte americano no Brasil, o que, de uma certa forma, obrigou o país a realizar um desenvolvimento mais autônomo. Entretanto, o financiamento interno também apresentava problemas. A esse respeito, é importante mencionar que o financiamento interno nesse período se baseava em três pontos principais de acordo com Pires (2010, p. 122): UNIDADE 1 | ECONOMIA BRASILEIRA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO 10 1) sistema de câmbio, que implicava a transferência de parte do excedente do setor agrário e exportador para a indústria; 2) nacionalização de setores estratégicos assumidos pelo Estado, o que implicava exacerbar o gasto público e, portanto, os déficits orçamentários, que eram cobertos, sobretudo, por meio de emissão monetária, visto que o mercado de títulos era pequeno. A inflação, decorrente desse procedimento, corroía os salários; 3) a contenção dos salários e a transferência de ganhos de produtividade do setor estatal. Essa forma de financiar o desenvolvimentismo foi um entrave e se configurou em um problema para o projeto de desenvolvimentismo brasileiro. A política de confisco cambial diminuía o desenvolvimento da agricultura de exportação, o que impactava diretamente na capacidade de importação. Uma alternativa foi a emissão de moeda, que gerou aumento da inflação. Esta, por sua vez, corroeu os salários, estimulando a atuação sindicalista independente. Como consequência, é importante mencionar que a influência de Vargas na classe operária começou a diminuir, e houve um aumento da concentração de renda (PIRES, 2010). Houve então a eclosão da “Greve dos 300 mil”. Mas o que seria essa greve? Você já ouviu falar? De acordo com Ruy (2013), a “Greve dos 300 mil” ocorreu em março de 1953. O estopim foi o alto custo de vida, que subiu em torno de 100% entre 1943 e 1951, ao mesmo tempo em que o salário cresceu apenas 14%. Ruy (2013) afirma que dentre os ganhos dos trabalhadores com a “Greve dos 300 mil” é possível citar: o aumento salarial de 32%, o aumento da força dos sindicatos formando, inclusive, lideranças sindicais, e anomeação de um novo ministro do trabalho, João Goulart, que propôs um aumento de 100% no salário mínimo, para vigorar a partir de maio de 1954. Devido ao descontentamento do empresariado, Vargas recuou e demitiu João Goulart, mas, ao mesmo tempo, manteve o reajuste salarial, o que provocou um descontentamento das classes dominantes e dos militares. Esse episódio foi importante para a crise final do desenvolvimentismo de Vargas. Além disso, a inflação e o desequilíbrio das contas públicas enfraqueceram ainda mais o governo. Todo esse cenário econômico e político contribuiu para o golpe, que derrubou o governo Vargas, sendo que o agravamento da crise levou, o até então presidente, ao suicídio. O padrão de desenvolvimento, calcado nos setores de bens de capital e intermediários e na expansão da infraestrutura, foi apenas parcialmente implementado, devido à ausência de um esquema consistente de financiamento da acumulação e em virtude da falta de um decidido apoio das classes dominantes para uma ação mais abrangente do Estado na economia (PIRES, 2010, p. 125). TÓPICO 1 | SITUAÇÃO INTERNACIONAL E A 11 TABELA 2 – INDICADORES SELECIONADOS DA ECONOMIA BRASILEIRA (1945-1960) Ano PIB Cresc. (%) Produto industrial (%) Produto agrícola (%) Produto serviços (%) Formação capital fixo (% PIB) Dívida externa (em milhões de dólares) Inflação IPC/RJ Salário mínimo real (São Paulo 1944 = 100) 1945 3,2 5,5 -2,2 2,9 - 698,1 16,7 80,3 1946 11,6 18,5 8,4 10,2 - 645,0 16,5 70,9 1947 2,4 3,3 0,7 7,2 14,9 625,0 21,9 53,8 1948 9,7 12,3 6,9 6,9 12,7 597,0 3,4 49,6 1949 7,7 11,0 4,5 7,3 13,0 601,0 4,3 50,4 1950 6,8 12,7 1,5 7,9 12,8 559,0 9,4 47,9 1951 4,9 5,3 0,7 6,0 15,4 571,0 12,1 53,0 1952 7,3 5,6 9,1 5,9 14,8 632,0 17,3 124,8 1953 4,7 9,3 0,2 1,9 15,1 1.159,0 14,3 101,7 1954 7,8 9,3 7,9 9,8 15,8 1.317,0 22,6 138,3 1955 8,8 11,1 7,7 9,2 13,5 1,445,0 23,0 139,3 1956 2,9 5,5 -2,4 0,0 14,5 1.580,0 21,0 147,0 1957 7,7 5,4 9,3 10,5 15,0 1.517,0 16,1 153,8 1958 10,8 16,8 2,0 10,6 17,0 2.044,0 14,8 133,3 1959 9,8 12,9 5,3 10,7 18,0 2.234,0 39,2 101,7 1960 9,4 10,6 4,9 9,1 15,7 2.372,0 29,5 130,8 FONTE: Adaptado de Abreu (1992) e Oliveira (2003) Com o suicídio de Vargas, em 1954, assume o governo Café Filho, dando início a um período de grande instabilidade política nos próximos 16 meses. Café Filho, por motivos de saúde, foi substituído por Carlos Luz, que, por sua vez, foi substituído por Nereu Ramos, então presidente do Senado (PIRES, 2010). O primeiro ministro da Fazenda de Café Filho foi Eugênio Gudin, que iniciou a abertura do país para o exterior, sendo a abertura aprofundada no governo de Juscelino Kubitschek. 4 PLANO DE METAS E O CAPITAL ESTRANGEIRO Após estudar sobre a era Vargas, enfatizando o PSI e o desenvolvimentismo, daremos um passo à frente e nos concentraremos no período seguinte. Você já deve ter ouvido falar sobre Plano de Metas. Qual período da história brasileira compreende esse plano? E sobre qual governo o mesmo foi implementado? Sobre essas e outras questões que iremos tratar a partir desse momento! UNIDADE 1 | ECONOMIA BRASILEIRA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO 12 Plano de Metas é o plano de desenvolvimento econômico e social, com duração prevista para cinco anos, que foi adotado durante o governo de Juscelino Kubitschek, também conhecido como JK. Esse Plano ficou popularmente conhecido pelo slogan “50 anos de progresso em 5 anos de realizações”. É importante mencionar também que o Plano de Metas pode ser considerado um caso bem- sucedido de implementação de planejamento estatal, pois o Estado atuou de modo importante para a execução, caracterizando o auge do período desenvolvimentista. JK governou o Brasil de 1956 a 1960. Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011), é possível considerar que o período do Plano de Metas foi o auge da industrialização brasileira que se iniciou com Getúlio Vargas. Você sabe qual era o objetivo principal do Plano? “O principal objetivo era estabelecer as bases de uma economia industrial madura no país, especialmente aprofundando o setor produtor de bens de consumo duráveis” (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011, p. 365). Contudo, por que o intuito do Plano de Metas era aprofundar o setor produtor de bens de consumo duráveis? A esse respeito, é importante mencionar que esse plano foi formulado com base nos estudos do grupo BNDE-Cepal, que identificou uma demanda reprimida por bens de consumo duráveis. Além disso, esse setor poderia ser uma importante fonte de crescimento, devido à demanda por bens intermediários, geração de emprego e estímulo ao desenvolvimento de novos setores na economia (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011). É possível considerar então que o Plano de Metas apresentava viés keynesiano. A demanda por esses bens vinha da própria concentração de renda anterior que elevara os padrões de consumo de determinadas categorias sociais. Para a viabilização do projeto, dever-se-ia readequar a infraestrutura, além de eliminar os pontos de estrangulamento existentes, os quais já haviam sido identificados nos estudos da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU). Ainda, era necessário criar incentivos para a vinda do capital estrangeiro nos setores que se pretendia implementar (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011, p. 365). IMPORTANT E De acordo com Keynes (1996, p. 345), o Estado deveria prestar serviços que expandissem o bem-estar geral da população, assegurando o que ele chamou de “uma socialização dos investimentos”. Isso porque existem áreas em que não há interesse da iniciativa privada. Assim, as políticas fiscal, monetária e cambial precisariam ser expansionistas para acelerar o crescimento da demanda reprimida, garantindo assim a distribuição de renda e o pleno emprego dos fatores. TÓPICO 1 | SITUAÇÃO INTERNACIONAL E A 13 De acordo com Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011, p. 365-366), o Plano de Metas foi dividido em três pontos principais: i. investimentos estatais em infraestrutura, com destaque para os setores de transporte e energia elétrica. No que diz respeito aos transportes, cabe destacar a mudança de prioridades, que, até o governo Vargas, centrava-se no setor ferroviário, e passou para o rodoviário, que estava em consonância com o objetivo de introduzir o setor automobilístico no país; ii. estímulo ao aumento da produção de bens intermediários, como o aço, o carvão, o cimento, o zinco etc., que foram objeto de planos específicos; iii. incentivos à introdução dos setores de consumo duráveis e de capital. Foram criados grupos executivos e colegiados, também conhecidos como comissões setoriais, para formular as políticas para atingir as metas setoriais. Esses grupos eram formados por representantes da Sumoc, do BNDE, da Cacex e por empresários ligados ao Conselho de Desenvolvimento (PIRES, 2010). Consideramos que os principais instrumentos de ação governamental para atingir as metas foram o tratamento especial ao capital externo, através de incentivos, e o estímulo à acumulação privada e ao crédito privado. Além disso, investimentos das empresas estatais e crédito com juros baixos (Banco do Brasil e BNDE), política de reserva de mercado e concessão de avais para obtenção de empréstimos externos foram realizados. Ao todo foram estabelecidas 31 metas que abrangiam o setor de energia, de transporte, de alimentação, de educação, as indústrias de base, e uma meta síntese. Devemos ressaltar que os investimentos totais previstos eram de 355 bilhões de cruzeiros da época, sendo: 43,4% para o setor de energia, 29% para o setor de transportes, 20,4% para a indústria de base, 3,2% para o setor alimentício e 3,4% para a educação, sendo os gastos com a área social muito pequenos se comparados com as outras áreas (PIRES, 2010). Essas metas desejavam atacar os pontos de estrangulamento e impedir o surgimento de novos na oferta de infraestruturae de bens intermediários. Além disso, essas metas foram estabelecidas, também, com o propósito de gerar novos investimentos em setores considerados como pontos de germinação, segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011). Os autores citam como ponto de germinação a construção da nova capital federal da época, Brasília. É preciso salientar também que as metas que foram estabelecidas pelo plano, incluíam, além do setor público, o setor privado, desejando o desenvolvimento de setores tidos como prioritários. É possível afirmar que o cumprimento das metas foi satisfatório. Como exemplo, o setor têxtil cresceu 34%, o setor alimentício 54% e o setor de materiais de transporte 711% (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011). A tabela que se segue mostra os principais resultados do Plano de Metas. UNIDADE 1 | ECONOMIA BRASILEIRA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO 14 TABELA 3 – PLANO DE METAS – EXPANSÃO PREVISTA E RESULTADOS (1957-1961) Setor Previsão Realizado % Energia elétrica (1.000KW) 2.000 1.650 82 Carvão (1.000 t) 1.000 230 23 Produção de petróleo (1.000 barris/ dia) 96 75 76 Refino de petróleo (1.000 barris/dia) 200 52 26 Ferrovias (1.000 km) 3 1 32 Rodovias – construção (1.000 km) 13 17 138 Aço (1.000 t) 5 - - Cimento (1.000 t) 1.100 650 60 Carros e caminhões (1.000 unid.) 170 133 78 Nacionalização de carros (%) 90 75 - Nacionalização de caminhões (%) 95 74 - FONTE: Giambiagi et al. (2005, p. 36) Já na tabela a seguir é possível verificar a taxa de crescimento dos setores. A respeito da taxa de crescimento da indústria, é possível afirmar que houve intensa diferenciação industrial em um espaço curto de tempo. Pires (2010) afirmam que se instalaram no país indústrias automobilísticas, de construção naval, de material elétrico pesado e outras de máquinas e equipamentos. Em consonância com esse aumento, houve expansão também de indústrias como a siderurgia, a de metais não ferrosos, a química, a de petróleo e a de papel e celulose. A respeito do setor agropecuário, Pires (2010, p. 137) afirma que “sua participação no PIB caiu de 23,5% para 17,5%”. Já em relação ao setor de serviços, é importante considerar que apresentou um crescimento abaixo da média, de acordo com os autores. TABELA 4 – TAXA DE CRESCIMENTO DOS SETORES (1955-1961) FONTE: IBGE (apud GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011, p. 367) Ano Indústria Agricultura Serviços 1955 11,1 7,7 9,2 1956 5,5 -2,4 0 1957 5,4 9,3 10,5 1958 16,8 2 10,6 1959 12,9 5,3 10,7 1960 10,6 4,9 9,1 1961 11,1 7,6 8,1 TÓPICO 1 | SITUAÇÃO INTERNACIONAL E A 15 Apesar de satisfatório, no que diz respeito ao cumprimento das metas do plano, existiram problemas, principalmente relacionados com a questão do financiamento. Os investimentos públicos, na ausência de uma reforma fiscal condizente com as metas e os gastos estipulados, precisaram ser financiados principalmente por meio de emissão monetária [...]. Percebe-se que, apesar das rápidas transformações provocadas, ampliando e diversificando a matriz industrial brasileira, o Plano de Metas aprofundou todas as contradições criadas ao longo do processo de industrialização por substituição de importações, tornando claros os limites do modelo dentro do arcabouço institucional vigente. Por outro lado, essa fase do crescimento industrial brasileiro já representa, de certa forma, a superação do próprio modelo de substituição de importações (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011, p. 368-369). Em relação à aceleração da inflação, é possível afirmar que, entre 1955 e 1958, esta se manteve no patamar de 15%, e chegou a 52% em 1962 (PIRES, 2010). Ademais, segundo os autores, no início da década de 1960 a população urbana representava 45% do total, população esta que migrou do campo para a cidade para trabalhar nas indústrias. Apesar disso, 48% da População Economicamente Ativa (PEA), em 1960, exercia trabalho informal. Enquanto os salários mínimos sofreram perdas, a concentração de renda só aumentava: “os 50% mais pobres recebiam o equivalente a 17,4% da renda, e os 10% mais ricos, 39,6%” (PIRES, 2010, p. 137-138). Assim, houve, nesse período, um crescimento acelerado da economia brasileira. Contudo, ao mesmo tempo, esse crescimento não foi dividido com toda a população, aguçando as tensões sociais. 16 Neste tópico, você aprendeu que: • Getúlio Vargas foi presidente do Brasil por dois períodos. Primeiramente de 1930 a 1945, e depois, de 1951 a 1954, ano em que se suicidou. • Getúlio Vargas implementou o Processo de Substituição de Importações (PSI), processo este que deu início à industrialização brasileira e teve como marco a forte intervenção estatal, o protecionismo, a depreciação da moeda local e o controle das importações, com vistas ao desenvolvimento da indústria nascente brasileira. • Após grande instabilidade política, Juscelino Kubitschek governou o Brasil de 1956 a 1960, período no qual implementou o Plano de Metas com o slogan “50 anos de progresso em 5 anos de realizações”, sendo que esse plano pode ser considerado um caso bem-sucedido de implementação de planejamento estatal. • O período do Plano de Metas foi o auge da industrialização brasileira que se iniciou com Getúlio Vargas. O principal objetivo desse plano era estabelecer as bases de uma economia industrial madura no país, especialmente aprofundando o setor produtor de bens de consumo duráveis. RESUMO DO TÓPICO 1 17 1 O que é o Processo de Substituição de Importação (PSI)? Sobre qual governo o PSI foi implementado? 2 Quais foram os períodos em que Getúlio Vargas governou o Brasil? 3 Como era feito o financiamento do governo Vargas para o Processo de Substituição de Importações? 4 Qual era o principal objetivo do Plano de Metas, implementado no Governo de JK? 5 O Plano de Metas era composto por quantas metas? E qual a finalidade dessas? AUTOATIVIDADE 18 19 TÓPICO 2 REFORMAS, ENDIVIDAMENTO EXTERNO E O MILAGRE ECONÔMICO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO No presente tópico iremos apresentar, em um primeiro momento, as principais causas da crise da década de 1960, traçando as ações tomadas pelos presidentes João Goulart e Jânio Quadros, as quais não conseguiram reverter o cenário de crise, devido ao elevado endividamento externo provocado pelo Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. Podemos afirmar que a década de 1960 foi marcada por muitas mudanças na sociedade brasileira, que passou de uma democracia a uma ditadura militar autoritária e repressiva em 1964. Em termos econômicos, passa-se por uma grave crise econômica nos primeiros anos da década. A partir de 1967, com a instauração do PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo), a economia brasileira é reestruturada por meio de uma série de reformas, resultando em uma recuperação econômica iniciada no primeiro triênio dos anos 1960 até o primeiro triênio de 1970, quando observa-se o chamado “milagre econômico”. 2 CRISE POLÍTICA NOS ANOS 60 Como observado no tópico anterior, o Plano de Metas de JK produziu efeitos de crescimento econômico, com realizações importantes no Brasil. Contudo, gerou uma crise que acarretou em uma recessão em 1963, quando ocorreu a renúncia de Jânio Quadros, a qual resultou na instauração do regime militar em 1964. Em comparação com o governo de Juscelino Kubistchek, os primeiros anos da década de 1960 foram marcados por uma recessão econômica. Pode-se considerar esse período, sobretudo a partir de 1963, como a primeira grave crise econômica que sofreu o Brasil em sua etapa industrial. Nesses anos, observou-se uma redução substancial dos investimentos e da taxa de crescimento da renda brasileira. Verificou-se nesse período uma aceleração da inflação, que atingiu a marca de 90% em 1964, o que contribuiu para o golpe militar neste ano. Em suma, esses dados negativos, observados na economia brasileira nesses anos, foram herança das medidas tomadas durante o Plano de Metas, gerando desequilíbrio na economia(GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011). UNIDADE 1 | ECONOMIA BRASILEIRA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO 20 Após oito meses da tomada do poder, Jânio Quadros renunciou em um contexto pouco explicado, com a dificuldade enfrentada pelo vice, João Goulart, para assumir o poder. A presidência de João Goulart foi conturbada, com troca de ministros em várias ocasiões até a eclosão do golpe militar (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011, p. 374). IMPORTANT E FONTE: <https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/459849- CONGRESSO-NACIONAL-DEVOLVE-SIMBOLICAMENTE-MANDATO-DO-PRESIDENTE- JOAO-GOULART.html>. Acesso em: 14 out. 2018. No regime parlamentarista, ao qual foi submetido o ex-presidente João Goulart, o presidente tem suas funções limitadas, pois, nesse momento, os militares utilizavam o veto para reduzir o poder do presidente na época, que foi considerado comunista. FIGURA - JOÃO GOULART Durante o governo Jânio Quadros existiam muitos problemas, pois era preciso sanear os passivos externos e internos pela administração de JK. Para ilustrarmos os problemas da economia brasileira no começo da década de 1960 podemos destacar que somente em atrasados comerciais, em coberturas de Promessas de Venda de Câmbio (PVC) e em serviços da dívida foram pagos, em 1961, aproximadamente U$S 1,5 bilhão. Observava-se também um aumento contínuo do nível de preços na economia (REGO; LACERDA; MARQUES, 2013). Portanto, Jânio Quadros assumiu com duas metas definidas: eliminar a inflação e pagar a dívida externa contraída no governo anterior. Nesse sentido, para resolver o problema do estrangulamento do setor externo, o governo Jânio atuou em duas frentes: i) a reforma no sistema de câmbio, com base na Instrução TÓPICO 2 | REFORMAS, ENDIVIDAMENTO EXTERNO E O MILAGRE ECONÔMICO 21 n° 204 da SUMOC (Superintendência da Moeda e do Crédito), que promovia uma unificação cambial; e ii) as tentativas de renegociação da dívida externa. Essas medidas foram tomadas para combater os déficits no Balanço de Pagamentos e o déficit fiscal do governo (REGO; LACERDA; MARQUES, 2013). Para atingir seus objetivos, Jânio Quadros inaugura um pacote econômico ortodoxo, ou seja, conservador, que incluía algumas ações, sendo elas: i) a desvalorização cambial (100%), para incentivar as exportações e atrair dólares; ii) a redução do gasto público, para controlar as contas do governo; e iii) uma política monetária restritiva, para controlar o índice de preços na economia. IMPORTANT E Quando falamos em políticas ortodoxas, nos referimos às medidas tomadas pelo governo com conservadorismo, isto é, práticas mais tradicionais para atingir os objetivos do governo de combater a inflação e promover o desenvolvimento econômico. Dentro dessas medidas ortodoxas contracionistas, com vistas à garantia do combate à inflação, por exemplo, incluem-se a redução dos gastos públicos, a redução do crédito ao consumidor, o aumento dos juros e a expansão da carga tributária. Essas medidas promovem uma redução da liquidez na economia, ou seja, da oferta de moeda. Já as medidas ortodoxas expansionistas serviriam para aumentar a quantidade de moeda na economia, como a expansão do crédito ou o aumento dos gastos públicos. Por outro lado, a heterodoxia envolve práticas políticas menos usuais, como o congelamento de preços, realizado na economia no final da década de 1980 para combater a inflação. Com relação aos resultados do governo de Jânio podemos adiantar que, a partir das medidas de combate ao câmbio múltiplo e dos programas de ajuste fiscal, expandiram a confiança dos credores internacionais e a visão externa. O governo cumpriu as metas de corte de gastos no começo do ano, porém os gastos públicos se expandiram em agosto. Devido aos resultados negativos de suas decisões, Jânio Quadros não conseguiu levar adiante sua estratégia econômica e promoveu uma mudança na orientação da política econômica (REGO; LACERDA; MARQUES, 2013). Assim, ocorreram mudanças nos rumos da política econômica de Jânio Quadros, que passou de conservadora e reducionista à expansionista. Nesse momento, não existiam instituições necessárias para executar a política macroeconômica corretamente, como o Banco Central, que foi criado nos anos seguintes, e existiam poucos instrumentos de política macroeconômica para o governo atingir seus objetivos (REGO; LACERDA; MARQUES, 2013). UNIDADE 1 | ECONOMIA BRASILEIRA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO 22 IMPORTANT E As políticas macroeconômicas são aquelas adotadas pelo governo para atingir seus objetivos econômicos, sendo que os principais são gerar crescimento econômico e controlar o aumento de preços na economia (inflação). As políticas macroeconômicas são: i) a fiscal, relacionada aos gastos públicos e às fontes de financiamento do governo (impostos); ii) a monetária, referente à oferta de moeda e crédito na economia e iii) a cambial, relativa à administração da taxa de câmbio e da quantidade de moeda estrangeira (divisas) na economia. A política macroeconômica pode ser expansionista, quando busca-se aumentar a liquidez para promover emprego e crescimento, ou contracionista, quando deseja-se reduzir a liquidez na economia (quantidade de moeda), com vistas a combater a inflação. Na primeira fase de seu governo o presidente Jânio Quadros buscou aumentar a credibilidade externa e, na segunda etapa, visava alcançar crescimento econômico. Além disso, ele expandiu os gastos públicos porque sofreu pressão por parte do empresariado industrial. Essas medidas não surtiram o efeito esperado, havendo queda de crescimento, o que levou Jânio Quadros à renúncia (REGO; LACERDA; MARQUES, 2013). João Goulart assumiu em setembro de 1961 e, entre esse mês e janeiro de 1963, três gabinetes parlamentares foram formados, mas nenhum conseguiu implementar políticas consistentes. Em 1961 a inflação estava em 33,2% ao ano e, no ano seguinte (1962), ela chegou a 45,5% ao ano. O presidente João Goulart indicou o economista Celso Furtado para ser seu Ministro da Fazenda, mas este não conseguiu ter bons resultados em suas ações. O economista adotou políticas anti-inflacionárias, ortodoxas, com redução de gastos e da liquidez. A população reagiu negativamente à queda dos salários e ao aumento dos preços. A tentativa de estabilização fracassou e provocou crescimento negativo do PIB per capita: a economia cresceu 6,6% em 1962, mas apenas 0,6% em 1963, com inflação de 83,25% (REGO; LACERDA; MARQUES, 2013). O chamado Plano Trienal, de Celso Furtado, consistia em uma política de desenvolvimento planejada para o triênio 1963/65 e tinha os seguintes objetivos: 1) Garantir uma taxa de crescimento em 7%; 2) reduzir a inflação; 3) criar condições para a distribuição de renda, 4) aprofundar a ação do governo no campo educacional, da pesquisa científica e tecnológica e da saúde pública; 5) diminuir desigualdades regionais; 6) desenvolver mudanças institucionais; 7) solucionar a questão da dívida externa; e 8) orientar os investimentos públicos. Os investimentos planejados para a economia para o triênio 1963-65 foram de 3,5 trilhões de cruzeiros, com elevação da renda per capita de US$ 323,00 em 1962 para US$ 363,00 em 1965. Nesse sentido, esperava-se que a indústria produzisse mais de 70% dos bens de capital de que a economia necessitava para manter um crescimento sustentado de 7%. TÓPICO 2 | REFORMAS, ENDIVIDAMENTO EXTERNO E O MILAGRE ECONÔMICO 23 Ocorreram muitas lutas sindicais, promovendo a manutenção dos salários e diminuindo os lucros das empresas, que não cresceram. Assim, o Plano Trienal não obteve êxito nos seus propósitos, o que não significa que ele não tenha sido bem elaborado. Contudo, o que impediu seu sucesso foi a falta de sustentação política, o que promoveu também a redução do Investimento Externo Direto (IED – entrada de empresas estrangeiras) no Brasil ea desaceleração do PIB (REGO; LACERDA; MARQUES, 2013). Como consequência do fracasso de seu plano, em julho de 1963, Furtado deixou o governo. Ademais, o fim do governo João Goulart levou ao golpe militar. Verificando-se que um período de intenso crescimento do PIB entre 1956 e 1962 foi interrompido. Nesse sentido, a desaceleração da economia persistiu até 1967. A inflação atingiu a casa de 90% em 1964, mostrando os problemas econômicos no momento prévio do golpe militar. Podemos apontar que a crise da década de 1960 demonstrou a contradição entre dois modelos: i) o modelo nacional-desenvolvimentista, baseado no controle nacional sobre a economia, na expansão do mercado interno e na atuação maior do Estado e na concessão de mais direitos à população; e ii) o modelo mais aberto ao capital, sustentado no consumo de elite, no desenvolvimento do setor de bens duráveis, na concentração de renda e na monopolização, promovendo agravamento das dificuldades externas. A crise indicava o esgotamento das Políticas de Substituição de Importações (PSI) (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011, p. 374). De acordo com Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011, p. 372): Muitas são as explicações para essa crise [...]. Podemos dividir tais explicações em quatro grandes grupos, dependendo de qual peso a explicação atribui a fatores políticos ou econômicos, conjunturais ou estruturais. Obviamente que, naquele momento, dependendo da explicação que era dada para a crise, soluções diferentes também eram propostas. QUADRO 1 – A CRISE DOS ANOS 60 E SUAS EXPLICAÇÕES FONTE: Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011, p. 372) Crises Conjunturais Estruturais Políticas Instabilidade política Crise do populismo Econômicas Política econômica recessiva de combate à inflação 1- Estagnacionismo – crise do PSI 2- Crise cíclica endógena de uma economia industrial 3- Inadequação institucional UNIDADE 1 | ECONOMIA BRASILEIRA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO 24 IMPORTANT E O populismo esteve presente na política brasileira em alguns momentos, como durante o governo Getúlio Vargas. Segundo Bobbio, Matteucci e Pasquino, em seu Dicionário de Política (1998, p. 980), “populistas são as fórmulas políticas cuja fonte de inspiração central é o povo, o qual é considerado um agregado social homogêneo”. O governo de Getúlio Vargas era considerado populista por basear-se no clamor popular, ao conceder direitos trabalhistas e buscar apoio popular para as suas políticas nacionalistas de desenvolvimento econômico. Segundo Santos (2015, p. 47): “A ideologia desenvolvimentista populista institucionalizava o poder político das forças populares, incorporando a emergência das massas no jogo político nacional”. No primeiro quadrante do quadro anterior, observam-se as explicações que levam em conta elementos políticos para desvendar as causas da crise da década de 1960. Nesse cenário, verificava-se uma “profunda instabilidade política, com a eleição de Jânio Quadros, que contava como vice um candidato de uma coligação rival (João Goulart, considerado comunista), revelando os desafios enfrentados naquele momento político” (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011, p. 372). Outro aspecto político que promoveu a recessão dos anos 1960 foi a crise do populismo, devido à falta da capacidade dos governantes de “incorporar as novas massas urbanas como base de apoio político sem, no entanto, que as concessões utilizadas para tal incorporação fossem exageradas do ponto de vista patronal” (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011, p. 373). Assim, se o governo concedia muitos direitos trabalhistas para cativar o povo, os empresários ficavam insatisfeitos e questionavam o governo. Em termos econômicos conjunturais, podemos apontar que os resquícios deixados pelo governo de JK foram decisivos para a adoção de uma política econômica restritiva com vistas a combater a inflação. Outras visões de cunho econômico, mas estruturais, são visões estagnacionistas, que estavam associadas ao esgotamento do processo de substituição de importações, pois, para que o crescimento continuasse, era necessário desenvolver o setor de bens de capital, o que não ocorreu no Brasil (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011). Outra corrente defendia que a crise de 1960 era “uma crise cíclica endógena típica da economia industrial ou capitalista” (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011, p. 372), que estava relacionada a uma “desaceleração dos investimentos em bens de capital” (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011, p. 372) Ou seja, era vista como uma crise normal vivenciada por todas as economias capitalistas em algum momento. TÓPICO 2 | REFORMAS, ENDIVIDAMENTO EXTERNO E O MILAGRE ECONÔMICO 25 Outro elemento que foi interpretado como uma explicação para a crise era a necessidade de reformas institucionais para novos investimentos, pois faltavam mecanismos de desenvolvimento adequados no setor público e no privado. Esses problemas foram resolvidos no PAEG, que será estudado a seguir. 3 A DITADURA MILITAR E O PAEG (1964-1967) Como visto no item anterior, a crise dos anos 1960 resultou, entre vários motivos, “de uma polarização entre distintos interesses representados na sociedade brasileira” (PIRES, 2010, p. 161). Uma elite militar que representava o interesse dos latifundiários organizou-se para dar o golpe militar, rompendo com a ordem legal, em 1º de abril de 1964, com apoio dos EUA. Além do setor militar, pode-se afirmar que alguns grupos de civis tinham interesse na instauração da ditadura, como pequenos e grandes empresários nacionais e representantes de empresas estrangeiras. A classe burguesa industrial no Brasil apoiou o golpe para conter a concessão de direitos trabalhistas no país. Durante todo o governo militar (1964-1985), a diferença entre os interesses dos grupos foi responsável por uma falta de coerência na política econômica do período. A primeira ação dos grupos militares foi o Programa de Ação Econômica Geral, que buscava “não assegurar o desenvolvimento econômico da nação como os planos econômicos adotados anteriormente, mas promover um ajuste estrutural, tão necessário à economia brasileira no período” (PIRES, 2010, p. 161). O PAEG foi elaborado pelo Ministério do Planejamento e da Coordenação Econômica, na figura de Roberto Campos, no governo Castelo Branco. Um dos objetivos principais do Programa era reduzir a inflação, que passou de 90% em 1964 para 30% em 1967. O PAEG representou um conjunto de transformações institucionais impostas ao país, reforma bancária e tributária. Baseava-se em uma política econômica que garantia investimentos produtivos públicos e privados, que eram essenciais ao crescimento econômico do Brasil. Os princípios centrais do PAEG eram a retomada do desenvolvimento experimentado no Plano de Metas, a estabilidade de preços, a qual era uma prioridade, a atenuação dos desequilíbrios regionais e a correção do Balanço de Pagamentos, garantindo o equilíbrio das nossas contas externas. IMPORTANT E O que é o Balanço de Pagamentos de uma economia? O Balanço de Pagamentos (BP) é o registro contábil das transações econômicas, durante um dado período, entre os seus residentes (que tem o país como centro de interesse) e os residentes do resto do mundo. UNIDADE 1 | ECONOMIA BRASILEIRA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO 26 O BP é dividido em duas grandes contas: a conta corrente, formada pela Balança Comercial (exportações menos exportações), a Conta Serviços e Rendas (entram os pagamentos dos juros da dívida externa), a Conta Transferências Unilaterais (as doações que o país recebe ou envia) e a conta capital, que representa o passivo externo da economia, ou seja, os recursos que ela paga da dívida externa, capital de curto prazo que sai da economia e Investimento Externo Direto. Para que uma economia seja saudável, o BP deve estarem equilíbrio, caso contrário significa que ele está devendo para outra nação ou outro Estado deve a ele (BATISTA JR., 2002). Existem diferentes diagnósticos para a inflação que determinam ações variadas. O PAEG diagnosticou a inflação de modo ortodoxo, indicando que o déficit público é a causa da inflação, ou seja, que o excesso de oferta de moeda aquece a demanda. Isso ocorreu, segundo seus formuladores, pela expansão do crédito às empresas e pelos aumentos salariais superiores ao aumento da produtividade, provocando a recessão e a subida de preços. Assim, a proposta foi a redução dos gastos públicos e a diminuição da inflação em 10%. As ações indicadas para a mudança foram: i) controlar contas públicas, ii) adotar uma política monetária restritiva, iii) controlar a emissão de moeda e crédito; e iv) uma política de contenção salarial, o chamado arrocho salarial. Importante salientar que as ações do PAEG se deram em duas frentes: i) nas políticas conjunturais de combate à inflação; e ii) nas reformas estruturais, que poderiam solucionar os problemas da inflação e eliminar obstáculos ao crescimento. Dentre as medidas de combate à inflação, podem se destacar: • A redução do déficit público, por meio do aumento das tarifas públicas e da reforma tributária. Isso provocou uma redução do déficit público de 4,2 % em 1963 para 1,1 % em 1966. • A restrição do crédito e o aperto monetário por meio do aumento dos juros, com encarecimento do crédito e diminuição do consumo e investimento. • Uma política salarial, com reajustes que reduziram o salário real. Dentro dessa lógica surge a noção de correção monetária, ou seja, indexação da economia, que, posteriormente, na década de 1980, representará um grave problema para a economia brasileira. Nesse sentido, considerava-se que a ausência da correção monetária gerava problemas. Ademais, a inflação promoveu os seguintes desafios: • um desestímulo à poupança para o sistema financeiro; • a lei do inquilinato desestimulava a construção civil, pois os aluguéis não eram corrigidos e estavam desatualizados; • a desordem tributária promovia atraso nos pagamentos de impostos e reduzia a arrecadação do governo. TÓPICO 2 | REFORMAS, ENDIVIDAMENTO EXTERNO E O MILAGRE ECONÔMICO 27 IMPORTANT E O que é a correção monetária? Pode-se mencionar que a correção monetária se tornou um elemento que marca a economia brasileira desde o PAEG. É uma atualização monetária, que representa a adequação da moeda à inflação passada, dentro de um período predefinido. O objetivo é compensar as perdas econômicas dos grupos econômicos, como os vendedores, os trabalhadores, os donos de imóveis e os investidores do mercado financeiro, com os reajustes dos preços na economia, dos salários, dos juros e dos aluguéis. O grande problema é que a correção monetária na década de 1980 passou a ser feita diariamente, o que enriqueceu os investidores do mercado financeiro com o overnight e promoveu uma hiperinflação na economia, prejudicando consumidores e empresários. FONTE: <https://blog.rebel.com.br/o-que-significa-correcao-monetaria-qual-a-diferenca- com-os-juros/>. Acesso em: 27 out. 2018. O PAEG contempla a ideia de tratamento de choque para uma ação mais gradual e que teve bons resultados, como a queda da inflação, porém provocou também redução do crescimento econômico no período, devido ao crédito caro e ao consumo limitado (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011). Em termos de reformas estruturais, o PAEG atuou em três linhas, realizando: i) uma reforma tributária; ii) uma reforma monetária e financeira; e iii) uma reforma da política externa. No âmbito da reforma tributária as ações adotadas foram: • A alteração do formato do sistema tributário, com a criação de uma série de importantes impostos de tipo valor adicionado, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Impostos sobre Circulação de Mercadorias (ICM) e o Imposto sobre Serviços (ISS). • A redistribuição dos tributos entre as esferas do governo. Nesse sentido, a União ou o governo Federal ficou responsável por recolher o IPI, o Imposto de Renda (IR), os Impostos sobre comércio exterior, e o Imposto Territorial Rural (ITR), sendo o maior concentrador de fontes de renda. Por sua vez, os entes estatais federados ficaram a cargo de recolher o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM). Já os municípios ficaram responsáveis pelo Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto sobre Serviços (ISS). Além disso, foi criado o fundo de Participação de Estados e Municípios. Nota-se um processo de centralização das decisões sobre tributação nas mãos da União, com o objetivo de eliminar guerra fiscal entre os estados da Federação. Na ótica da reforma tributária, surgem ainda os fundos parafiscais FGTS e o PIS, que são importantes fontes de poupança compulsória para o setor público. Passa-se a adotar a chamada “Inflação corretiva” nas empresas estatais, isto é, a correção dos preços públicos (energia, transporte, água etc.). As principais UNIDADE 1 | ECONOMIA BRASILEIRA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À CRISE DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÃO 28 consequências da reforma tributária do PAEG que podemos mencionar foram o aumento da arrecadação e a centralização da arrecadação e das decisões na União, com subordinação dos estados ao governo central (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011). Na ótica da Reforma Monetária-Financeira proposta pelo PAEG as seguintes ações foram previstas: • A instituição da correção monetária, que estimula juros reais e a criação da Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional (ORTN) e de outros títulos fixados de longo prazo. Nesse sentido, é a variação da ORTN que determina o índice de correção monetária. O mercado de títulos públicos se torna então instituído no Brasil, com as Letras do Tesouro Nacional (LTN). Lembrando que um Mercado de Títulos sofisticado é importante para a expansão das fontes de financiamento do governo. • A criação das duas principais instituições de execução da política monetária: o Conselho Monetário Nacional (órgão normativo) e o Banco Central (Bacen, órgão executivo). Isso promoveu uma maior independência da política monetária. Ademais, o Banco do Brasil se tornou o agente bancário do governo. O Bacen passou a administrar a dívida pública, ao emitir títulos do tesouro nacional e moeda. O Bacen, que deveria ser um órgão de controle das contas públicas, se transformou em banco de fomento da economia. Pode-se afirmar que essas instituições e suas funções formaram um estranho arcabouço institucional que mistura política fiscal e monetária. • A criação do SFH (Sistema Financeiro de Habitação) e BNH (Banco Nacional de Habitação), tendo como agentes a Caixa Econômica e as Sociedades de Crédito Imobiliário. As fontes de recursos para o SFH são as cadernetas de poupança, as letras imobiliárias e o FGTS. • Foi realizada a reforma do mercado de capitais, com a aprovação da lei n. 4728, baseada no modelo financeiro norte-americano, com uma forte segmentação do mercado. Nesse sentido foram autorizados os seguintes agentes no Mercado: 1) Bancos comerciais, encarregados do crédito de curto prazo; 2) Financeiros, que são agentes de crédito ao consumidor; 3) Bancos de investimento, que concedem crédito de médio e longo prazo e 4) Bancos de desenvolvimento, encarregados de financiar operações especiais de fomento. O PAEG criou também a Bolsa de Valores, subordinada ao Bacen, e se operam a compra e venda de ações de empresas com capital aberto, assim como o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011). A última frente de reformas foi a da Política Externa, cujo intuito era aprimorar o comércio externo brasileiro e atrair capital estrangeiro, mediante: TÓPICO 2 | REFORMAS, ENDIVIDAMENTO EXTERNO E O MILAGRE ECONÔMICO 29 • Estímulo e diversificação das exportações, por meio da utilização de incentivos fiscais e modernização
Compartilhar