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RESUMO DA OBRA: 
ELEMENTOS DE TEORIA 
GERAL DO ESTADO –DALMO 
DALLARI por Dejalma 
Cremonese
 
TEORIA GERAL DO ESTADO TEORIA GERAL DO ESTADO 
– – Noção, Objeto e MétodoNoção, Objeto e Método
Estudiosos afirmam que é necessário preparar o profiss ional do 
Dire ito para ser mais do que um manipulador de um processo técnico, 
formalista e l imitado a f ins imediatos . Para isso três pontos são ressaltados:
 É necessário conhecer as instituições , sua organização e papel que nela se 
representa;
 Saber de que forma e através de que métodos os problemas soc iais deverão 
ser conhecidos e as soluções e laboradas, e não usar soluções implantadas em 
outras sociedades cujos problemas sociais divergem;
 Esse estudo não se enquadra no âmbito das matérias estritamente 
jurídicas, pois trata de muitos aspectos que i rão influir na própria 
e laboração do dire ito. 
Isso tudo está s ituado entre os objetos da TGE.
 
Quanto ao objeto da TGE pode-se dizer, de maneira ampla, que é o 
estudo do Estado sob todos os aspectos inc luindo a origem, a organização, o 
funcionamento e as f inal idades, compreendendo-se no seu âmbito tudo o que 
se considere existindo no Estado e influindo sobre e le .
A TGE é uma discipl ina de s íntese , que s istematiza conhecimentos 
jur ídicos , f i losóficos , sociológicos, pol íticos, histór icos, antropológicos , 
econômicos, psicológicos, valendo-se de tais conhecimentos para buscar o 
aperfeiçoamento do Estado, concebendo-o, ao mesmo tempo, como um fato 
social e uma ordem, que procura atingir seus fins com eficácia e justiça.
Como o Estado pode ser abordado de diferentes perspectivas, faz-se 
um agrupamento das múltiplas or ientações em três diretr izes:
 A busca da razão da existência do Estado e de suas f inal idades como um 
agente regulador da sociedade, mas sempre num plano real ;
 O Estado enfocado pelo prisma do fato social concreto, numa abordagem 
real ista;
 O Estado estudado somente segundo seu aspecto normativo, ou se ja , como 
cr iador de le is e regras jur ídicas;
 
Mas estas or ientações extremadas conduziram à conclusões 
uni laterais e imperfe itas, fazendo surgir o cultural ismo real ista (ass im 
chamado por Miguel Reale ) que sintetiza as três direções fundamentais , 
permitindo que o Estado se ja estudado na sua total idade .
Alexandre Groppali indica o objeto da Doutrina do Estado através 
de uma tr ípl ice perspectiva, que compreende três doutrinas que se integram 
compondo a Doutrina do Estado:
 Doutrina sociológica , que estuda a gênese do Estado e sua evolução;
 Doutrina jurídica , que se ocupa da organização e personificação do 
Estado;
 Doutrina justif icativa , que cuida dos fundamentos e dos fins do Estado;Pela própria multipl ic idade dos aspectos que a Teoria Geral do 
Estado deve considerar , ver ifica-se a impossibi l idade de adoção de um 
método único . Conforme o ângulo que este ja sendo enfocado, haverá um 
método mais adequado, uti l izando-se a indução para a obtenção de 
general izações a partir de fatos considerados isoladamente , a dedução, 
sobretudo para a expl icação de fatos particulares ou para a f ixação de 
perspectivas, e o método analógico para estudos comparativos. 
 
 
ORIGEM ORIGEM 
DA SOCIEDADEDA SOCIEDADE
Idéia da Sociedade Natural : afirma a existência de fatores naturais 
determinando que o homem procure a permanente assoc iação com outros 
homens, como forma normal de vida. A sociedade é o produto da conjugação 
de um simples impulso associativo natural e da cooperação da vontade 
humana. Filósofos : Aristóte les, Santo Tomás de Aquino, Cícero, Oreste 
Ranel lett i .
Idéia do Contrato Social : sustenta que a sociedade é o produto de 
um acordo de vontades, ou se ja, de um contrato hipotético ce lebrado entre os 
homens. Filósofos : Thomas Hobbes, John Locke, Montesquieu e Rousseau.
Atualmente, predomina a idéia de que a sociedade é resultante de 
uma necessidade natural do homem, sem exc luir a partic ipação da 
consciência e da vontade humana.
 
 A SOCIEDADE E SEUS ELEMENTOS A SOCIEDADE E SEUS ELEMENTOS 
CARACTERÍSTICOSCARACTERÍSTICOS
É comum que um grupo de pessoas, mais ou menos numeroso, se 
reúna em determinado lugar em função de algum objetivo comum. Tal 
reunião, mesmo que se ja muito grande o número de indivíduos e ainda que 
tenha s ido motivada por um interesse soc ial re levante, não é sufic iente para 
que se possa dizer que foi constituída uma sociedade. É necessário alguns 
e lementos encontrados em todas as sociedades:
 Uma final idade ou valor social;
 Manifestações de conjunto ordenadas;
 O poder social ;
 
FINALIDADE SOCIALFINALIDADE SOCIAL
Deterministas : explicam a final idade social como sendo 
condicionada a le is naturais , suje itas ao princípio da causal idade , não 
havendo a possibi l idade de se escolher um objet ivo e de or ientar para e le a 
vida social .
Final istas : sustentam ser possível a finalidade soc ial , por meio de 
um ato de vontade, ou se ja , l ivremente escolhida pe lo homem. O homem tem 
consc iência de que deve viver em sociedade e procura fixar , como objet ivo da 
vida social , uma f inalidade condizente com suas necess idades fundamentais 
e com aquilo que lhe parece ser mais val ioso.
A final idade social é considerada um bem comum por ser algo , um 
valor, um bem que todos considerem val ioso . “O bem comum consiste no 
conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o 
desenvolvimento integral da personal idade humana.”(Papa João XXIII, 
Encíc l ica, II, 58) .
 
ORDEM SOCIAL ORDEM SOCIAL 
E ORDEM JURÍDICAE ORDEM JURÍDICA
Em face dos objetivos a que e las estão l igadas, e tendo em conta a 
forma de que se revestem, bem como as c ircunstâncias que se ver if icam, as 
manifestações de conjunto (2ª nota caracter íst ica da sociedade ) devem 
atender a três requisitos:
REITERAÇÃO
É indispensável que os membros da sociedade se manifestem em 
conjunto re iteradamente, pois só através da ação conjunta continuamente 
re iterada o todo social terá condições para a consecução de seus objet ivos.
O que verdadeiramente importa é que, permanentemente a sociedade, 
por seus componentes, real ize manifestações de conjunto visando a 
consecução de sua finalidade. Como é evidente, para que haja o sentido de 
conjunto e para que se assegure um rumo certo, os atos praticados 
isoladamente devem ser conjugados e integrados num todo harmônico, 
surgindo aqui a existência de ordem.
 
Norma moral : são normas reconhecidas por todos como dese jáveis 
para a boa convivência, e , sendo contrariada por alguém, este não pode ser 
compel ido a proceder de outra forma, mesmo que incorra no desagrado de 
todos.
Norma jurídica : pressupõe uma relação de dire itos e deveres, 
l igando dois ou mais indivíduos, atribuindo ao predicado ou a terceiro a 
faculdade de exigir o seu cumprimento ou a punição do ofensor.
ORDEM
Ordem natural : está submetida ao princípio da causal idade. Sempre 
que há uma condição, ocorrerá a mesma conseqüência, não podendo haver 
qualquer interferência que altere a corre lação.
Ordem soc ial ou humana : estão nesta, compreendidas todas as le is 
que se referem ao agir do homem; se aplica ao princípio da imputação onde a 
condição deve gerar determinada conseqüência, mas pode não gerar. É 
classificada em:
 
ADEQUAÇÃO 
Cada indivíduo, cada grupo humano, e a própria sociedade no seu 
todo, devem sempre ter em conta as exigências e as possibi l idades da 
real idade social , para que as ações não se desenvolvam em sentido diferente 
daquele que conduz efet ivamente ao bem comum, ou para que a consecuçãodeste não se ja pre judicada pela uti l ização defic iente ou errônea dos recursos 
sociais disponíveis .
Convencional ismos sociais : inc lui preceitos de decoro, etiqueta, 
moda, cortesia, etc . Na opinião de García Máynez os convencional ismos 
sociais não podem ser confundidos com as normas jurídicas, porque e les não 
tem atr ibutividade, que é um caráter distintivo destas. Mas, ao mesmo 
tempo, não se confundem com as normas morais, uma vez que estas exigem 
inter ior idade , implicando ret idão de intenção, um propósito bom, enquanto 
que os convencional ismos só impõe exter ior idade , não se importando com os 
bons ou maus propósitos do suje ito.
 
O PODER SOCIALO PODER SOCIAL
Caracter ísticas do poder:
 Soc ial idade – o poder é um fenômeno social , jamais podendo ser expl icado 
pela simples consideração de fatores individuais.
 Bilateral idade – o poder é sempre a corre lação de duas ou mais vontades, 
havendo uma que predomina.
É possível considerar-se o poder sob dois aspectos: ou como re lação , 
quando se procede ao isolamento artific ial de um fenômeno, para efeito de 
anál ise , verificando-se qual a posição dos que nele intervêm; ou como 
processo , quando se estuda a dinâmica do poder .
 
ANARQUISMOANARQUISMO 
O anarquismo tem adeptos já na Grécia antiga, no séc . V e VI a.C. , 
com os f i lósofos chamados c ínicos – para os quais deve-se viver de acordo 
com a natureza, sem a preocupação de obter bens, respe itar convenções ou 
submeter-se às le is ou às instituições sociais – , os estóicos – exaltavam as 
virtudes morais e preconizavam, também, a vida espontânea de conformidade 
com a natureza – e o epicurismo – que exaltava o prazer individual e 
conseqüente recusa às imposições soc iais .
Outra manifestação anarquista é encontrada no cr istianismo, 
apontando-se nos próprios Evangelhos inúmeras passagens que foram 
interpretadas como claras condenações do poder de uns homens sobre outros .
Outra manifestação anarquista, de pouca expressão prática, é o 
chamado anarquismo de cátedra , que se l imita a negar, teor icamente, a 
necessidade e a legit imidade do poder , admitindo-se apenas como um fato, 
mera expressão de superior idade material .
 
Surgem, então, novas formas de atuação do poder e novos cr itér ios 
para a afer ição de sua legit imidade. Já nas sociedades primitivas, em 
conseqüência da tendência do homem para aceitar a presença de um 
sobrenatural sempre que alguma coisa escapa a sua compreensão ou ao seu 
controle , fora admitido um poder desprovido de força material , 
reconhecendo-se como fonte do poder uma entidade ideal . Entre os antigos 
povos or ientais, assim como na antiguidade greco-romana, o detentor do 
poder se apresenta como instrumento da vontade de uma divindade, e o 
mesmo ocorrendo no mundo ocidental após o advento do cr istianismo, o que 
se ver ifica ainda no séc . XVIII, com a afirmação do dire ito divino dos re is . 
É a partir do f im da Idade Média, entretanto, que se encontra a idéia de 
povo como unidade e fonte de dire itos e de poder. Com os contratualistas 
essa idéia adquire grande força e vai se completando, chegando-se , então, a 
afirmação da existência de uma vontade geral e de dire itos sociais , s ituados 
na base de toda a organização social .
Contra o anarquismo, muitos autores reconhecem o poder como 
necessário à vida social . Muitos argumentam que sempre houve uma forma de 
poder, se jam homens que tinham o poder por serem mais fortes , mais aptos 
f isicamente (mais tarde com a exaltação dos guerreiros por serem mais 
fortes) , ou por indivíduos de maior capacidade econômica.
A mais importante expressão do anarquismo foi o movimento que, 
com esta denominação, surgiu mesclado com o movimento social ista no iníc io 
do séc . XIX. Wil l iam Godwin, Max Stirner (Johan Kasper Schmidt) , Pierre 
Joseph Proudhon, Mikail Bakunin, Piotr Kropotkin são os teóricos que mais 
influenciaram nesse movimento.
 
Verif icando-se as configurações atuais do poder e seus métodos de 
atuação, chega-se a seguinte síntese :
 O poder reconhecido como necessário , quer também o reconhecimento de 
sua legitimidade, o que se obtém mediante o consentimento dos que a e le se 
submetem;
 Embora o poder não chegue a ser puramente jurídico, e le age 
concomitamente com o dire ito, buscando uma coincidência entre os objetivos 
de ambos;
 Há um processo de objetivação, que dá procedência à vontade objetiva 
dos governados ou da le i , desaparecendo a característica do poder social ;
 Atendendo a uma aspiração à racional ização, desenvolveu-se uma técnica 
do poder , que o torna despersonal izado (poder do grupo, poder do sistema) , 
ao mesmo tempo em que busca meios sutis de atuação, co locando a coação 
como forma extrema;
 
Considerando as respectivas final idades, podemos dist inguir duas 
espécies de sociedades:
 As de fins particulares – quando tem finalidade definida, 
voluntariamente escolhida por seus membros. Suas atividades visam, direta e 
imediatamente, àquele objetivo que inspirou sua cr iação, por um ato 
consc iente e voluntário;
 As de f ins gerais – cujo objet ivo, indefinido e genérico, é cr iar as 
condições necessárias para que os indivíduos e as demais sociedades que 
nelas se integram consigam atingir seus fins particulares . A partic ipação 
nestas sociedades quase sempre independe de um ato de vontade;
As sociedades de fins gerais são comumente denominadas sociedades 
pol íticas , cujas , são todas aquelas que, visando a criar condições para a 
consecução dos fins particulares de seus membros, ocupam-se da totalidade 
das ações humanas, coordenando-as em função de um fim comum.
AS SOCIEDADES POLÍTICASAS SOCIEDADES POLÍTICAS
 
 
ORIGEM E FORMAÇÃO ORIGEM E FORMAÇÃO 
DO ESTADODO ESTADO
A denominação Estado , s ignificando s ituação permanente de 
convivência e l igada a sociedade polít ica, aparece pela primeira vez em “O 
Príncipe” de Maquiavel (1.513) , mas indicando uma soc iedade pol ítica, só 
aparece no séc . XVI.
Sob o ponto de vista da época do aparec imento do Estado, as 
inúmeras teorias existentes se resumem em três posições:
 O Estado sempre existiu. Autores : Eduard Meyer e Wilhe lm Koppers .
 A sociedade humana exist iu sem o Estado durante um certo per íodo. 
Depois , por motivos diversos , este foi constituído para atender às 
necessidades ou às conveniências dos grupos sociais . Não houve 
concomitância na formação do Estado em diferentes lugares, uma vez que 
este fo i aparecendo de acordo com as condições concretas de cada lugar. Esta 
posição é defendida pe la maioria dos autores .
 Só é admitido como Estado, a sociedade pol ítica dotada de certas 
caracter ísticas muito bem definidas. Autores : Karl Schmidt, Balladore 
Pal l ieri e Atal iba Nogueira.
 
Causas determinantes para o aparecimento do Estado:
 Origem famil iar ou patriarcal : cada famíl ia primitiva se ampliou e deu 
or igem a um Estado;
 Origem em atos de força, de violência ou de conquista de um grupo social 
superior sobre um grupo social mais fraco;
 Origem em causas econômicas ou patrimoniais : o Estado ter ia sido 
formado para se aproveitarem os benefíc ios da divisão do trabalho, 
integrando-se diferentes atividades profissionais, caracterizando-se , ass im, o 
motivo econômico. As teorias de maior repercussão foram e continuam sendo 
as de Marx e Engels ;
 Origem no desenvolvimento interno da sociedade : é o próprio 
desenvolvimento espontâneo da sociedade que dá or igem ao Estado;
Primeiras teorias que procuram expl icar a formação or iginária do 
Estado:
 Teorias queafirmam a formação natural ou espontânea do Estado, não 
puramente por um ato de vontade;
 Teorias que afirmam a formação contratual dos Estados, crêem que fo i a 
vontade de alguns ou de todos os homens que levou à cr iação do Estado;
 
A criação de Estados por formação derivada pode ocorrer de duas 
maneiras:
 Quando uma parte do terr itór io se desmembra e passa a constituir um 
novo Estado, se ja por meios pacíficos ou violentos;
 Ou quando há uma união de Estados, constituindo-se apenas um;
 Pode ocorrer ainda, por motivos excepcionais , a criação se Estados por 
formas atípicas , não usuais e absolutamente imprevisíve is ;
 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
DO ESTADODO ESTADO
Estado antigo : os autores se referem às formas de Estado mais recuadas no 
tempo. Antigas c ivi l izações do Oriente ou Mediterrâneo. É caracter izado 
pela re l igiosidade e natureza unitária.
Estado grego : regiões habitadas pelos povos helênicos. É caracter izado pe la 
existência da pol is , poder absoluto e unitário , cujo ideal visava a auto-
sufic iência.
Estado romano : expressão que designa as várias formas de governo que 
existiram em Roma. É caracter izado pela base famil iar de organização, 
sociedade pol ít ica organizada e domínio sobre grande expansão terr itor ial .
Estado medieval : o Estado era fragmentado, enquanto na Igre ja exist ia 
unidade . Precisamente as idéias de unidade da Igre ja e sua aspiração à 
universal idade foram transplantadas para o plano pol ítico, buscando-se a 
unidade no Império . Características: base re l igiosa cr istã (cr istianismo); 
existência de feudos (feudalismo) ; invasões de bárbaros .
 
Estado moderno : a necess idade de ordem e de uma autoridade central são as 
causas predominantes para as transformações do Estado Medieval em 
Estado Moderno. Portanto, sua caracter íst ica principal é a unidade . Várias 
correntes consideram alguns e lementos essenciais do Estado, entre e les a 
soberania, a terr itor ial idade, fazendo parale los e pressupostos sobre povo, 
terr itór io , governo, autoridade.
 
SOBERANIASOBERANIA
Primeiramente , o conceito de soberania se refer ia à superior idade 
dos mais poderosos (re is ) sobre os mais fracos. Em 1.576, Jean Bodin 
esclarece então que a soberania é o poder absoluto e perpétuo de uma 
República, palavra que se usa tanto em relação aos particulares quanto em 
re lação aos que manipulam todos os negócios de estado de uma República 
(Estado) . Em 1.762, Rousseau coloca que a soberania é inal ienável por ser o 
exercíc io da vontade geral , não podendo esta se al ienar e nem mesmo ser 
representada por quem quer que se ja; e é indivisível por que a vontade só é 
geral se houver a partic ipação do todo. No começo do séc . XIX ganha corpo a 
noção de soberania como expressão de poder polít ico. E já no século passado, 
aperfeiçoada a doutrina jurídica do Estado, a soberania passa a ser indicada 
como uma de suas notas caracter ísticas . 
 
Caracter ísticas da soberania:
 Una : porque não admite num mesmo Estado a convivência de duas 
soberanias.
 Indivisível : porque , além das razões que impõem sua unidade, e la se 
apl ica a universalidade dos fatos ocorr idos no Estado, sendo inadmissível , 
por isso mesmo, a existência de várias partes separadas da mesma soberania.
 Inal ienável : pois aquele que o detém desaparece quando f icar sem ela, 
se ja o povo, a nação ou o Estado.
 Imprescrit ível : porque jamais ser ia verdadeiramente superior se t ivesse 
prazo certo de duração
 É um poder or iginário : porque nasce no próprio momento em que nasce o 
Estado e como um atributo inseparável deste;
Procedendo uma síntese de todas as teorias formuladas, o que se 
ver ifica é que a noção de soberania está sempre l igada a uma concepção de 
poder. 
Miguel Reale formula o conceito de soberania como o poder de 
organizar-se jur idicamente e de fazer valer dentro de seu terr itório a 
universal idade de suas decisões nos l imites dos f ins ét icos de convivência .
 
 Exclusivo : porque só o Estado o possui ;
 Incondicionado : uma vez que só se encontra nos l imites postos pelo 
próprio Estado;
 Coativo : uma vez que, no seu desempenho, o Estado não só ordena, mas 
dispõem de meios para fazer cumprir suas ordens coativamente; De vontade comandante : são re lações entre vontades desiguais , entre 
superior e subordinadas;
 De vontade independente : poder incondicionado;
Justif icação e Titularidade do poder soberano – as teorias se 
dividem em:
 Teorias teocráticas : o ponto de partida é o princípio cr istão: todo o 
poder vem de Deus. O t itular da soberania é a pessoa do monarca;
 Teorias democráticas : sustentam que a soberania se or igina do próprio 
povo. Primeiramente, o titular da soberania é o próprio povo, depois é a 
nação, por último é o Estado;
Dentro dos l imites terr itoriais do Estado, o poder soberano é 
superior a todos os demais, tanto dos indivíduos quanto dos grupos soc iais 
existentes no âmbito do Estado. E com relação aos demais Estados a 
afirmação de soberania tem significação de independência, admitindo que 
haja outros poderes iguais, nenhum, porém, que lhe se ja superior .
 
TERRITÓRIOTERRITÓRIO
O termo terr itór io aparece durante a Idade Média, com a 
multipl icação dos confl itos entre ordens e autoridades, onde a afirmação da 
“soberania sobre determinado terr itór io ” implica no reconhecimento de que o 
poder será exercido apenas dentro daqueles l imites de espaço.
Para muitos autores, o terr itór io é um elemento constitutivo 
essencial do Estado, para outros , é uma condição necessária exter ior ao 
Estado. Burdeau conclui que, o terr itór io , conquanto necessário , é apenas o 
quadro natural , dentro do qual os governantes exercem suas funções . Kelsen 
diz que a del imitação terr itor ial é que torna possível a vigência s imultânea 
de muitas ordens estatais.
 
Teorias re lativas ao re lacionamento do Estado com seu terr itór io: 
 Há uma relação de domínio , devendo-se reconhecer que o Estado atua 
como proprietário do terr itór io . O Estado pode usar o terr itór io e até dispor 
dele , com poder absoluto e exclusivo. Evidentemente, em face da natureza do 
Estado e de sua f inal idade, essa re lação apresenta certas possibi l idades e 
está suje ita a determinados princípios que não se apl icam a propriedade 
privada, razão pe la qual se deve reconhecer que se trata de uma figura 
jurídica especial . Existe , no caso, um dire ito real de natureza pública .Um pouco discordante é a posição de Burdeau, que, argumentando 
com a impossibi l idade de ser reconhecido um dire ito de propriedade, que ser ia 
incompatíve l com as propriedades particulares , chega a conclusão de que se 
trata de um dire ito real constitucional .
 Outros autores , entre e les Je l l inek, negam a existência de uma relação de 
domínio , sustentando que, do ponto de vista do Direito Público , o domínio 
exercido pelo Estado é expressão do poder de império . O imperium, que dá a 
qualif icação das re lações do Estado com seu terr itór io , é um poder exercido 
sobre pessoas, e é através destas que o Estado tem poder sobre o terr itór io .
 A terce ira posição, afirma que o territór io é o espaço dentro do qual o 
Estado exerce seu poder de império sobre tudo, pessoas e co isas, que se 
encontrem no territór io .
 
Paulo Bonavides procede ao agrupamento das teorias formuladas e 
indica a existência de quatro concepções fundamentais:
 Terr itório-patrimônio : não faz diferenciação entre imperiume dominium, 
concebendo o poder do Estado sobre o terr itór io exatamente como o dire ito 
de qualquer proprietário sobre um imóvel;
 Terr itór io-objeto : concebe o terr itór io como objeto de um dire ito real de 
caráter públ ico – re lação de domínio;
 Territór io-espaço : o territór io é a extensão espacial da soberania do 
Estado;
 Terr itór io-competência : considera o terr itór io o âmbito de val idade da 
ordem jurídica do Estado;Alguns aspectos fundamentais que têm sido objeto de considerações 
teóricas:
 Não existe Estado sem terr itór io . A perda temporária do terr itór io , 
entretanto, não desnatura o Estado, que continua a existir enquanto não se 
tornar definit iva a impossibi l idade de se re integrar o terr itór io com os 
demais e lementos;
 O terr itór io estabelece a del imitação da ação soberana do Estado. Dentro 
dos l imites terr itor iais a ordem jurídica do Estado é a mais ef icaz, por ser a 
única dotada de soberania;
 Além de ser e lemento constitutivo necessário , o terr itór io , sendo o âmbito 
de ação soberana do Estado, é o objeto de dire itos deste , considerado no seu 
conjunto;
 
Classificação dos terr itór ios e das fronteiras:
A partir de 1.945, com a aprovação da Carta das Nações Unidas, 
estão ofic ialmente extintos os territór ios coloniais , que, ou foram totalmente 
integrados ao Estado, ou então passaram a constituir novos Estados.
No tocante às fronteiras, dava-se importância à diferenciação entre 
as naturais estabelecidas por acidentes geográficos, e as artif ic iais , f ixadas 
por meio de tratados, acrescentando-se ainda as chamadas fronteiras 
esboçadas, quando não estabelecidas com precisão. Modernamente, não há, 
praticamente, l inha de fronteira que não este ja prec isamente estabelec ida.
Por último, é importante que se faça um estudo dos l imites do 
terr itór io , sobretudo tendo-se em conta a ampla uti l ização do mar, de seu 
solo e subsolo , bem como do espaço aéreo .A extensão do terr itório sobre o mar : de in íc io , eram apenas 
motivos de segurança que determinavam a extensão do mar terr itorial , sobre 
o qual o Estado exercia soberania. Por isso, o pr imeiro cr itér io f ixado foi o 
do alcance das armas – o alcance de um tiro de canhão. No séc . XX, os 
motivos econômicos passaram a ser os mais importantes, fazendo surgir a 
f ixação do mar terr itorial em 200 milhas.A soberania sobre o espaço aéreo : no séc . XX surgiu o problema da 
f ixação de um l imite , acima do territór io de um Estado, para este exercer 
sua soberania. Assegurou-se a passagem inocente das aeronaves sobre o 
terr itór io de qualquer Estado, tendo este notíc ia prévia e exercer controle . 
Em 1.966 fo i aprovado um Tratado do Espaço Exterior, que nega a 
qualquer Estado a possibi l idade de se apossar, no todo ou em parte , do 
espaço ultraterrestre , inclusive da Lua, ou de qualquer outro saté l ite ou 
planeta.
 
POVOPOVO
É unânime a aceitação da necessidade do e lemento pessoal para a 
constituição e a existência do Estado, uma vez que sem ele não é possível 
haver Estado e é para e le que o Estado se forma – população ; mas esta 
expressão não tem sentido jurídico e não pode ser usada como sinônima de 
povo.
Outra expressão largamente usada com sentido de povo é nação, que 
adquir iu grande prest íg io durante a Revolução Francesa, sendo uti l izada 
para externar tudo quanto se refer isse ao povo.Modernamente, já é possível f ixar um conce ito preciso de nação, 
ver ificando-se que e la não se apóia na existência de vínculos jurídicos e não 
se confunde, portanto, com Estado. Nação, expressão usada inic ialmente 
para indicar or igem comum, ou comunidade de nascimento, não perdeu de 
todo tal s ignificado, indicando uma comunhão formada por laços históricos e 
culturais e assentada sobre um sistema de re lações de ordem objet iva. O uso 
da expressão nação com sentido de povo, também não é correto.
 
 Aspecto subjetivo do povo: o Estado é suje ito do poder públ ico, e o povo, 
como seu e lemento componente, partic ipa desta condição.
 Aspecto objetivo do povo: o mesmo povo é objeto da atividade do Estado.
Quanto ao aspecto subjetivo, lembra Jel l inek que a simples 
c ircunstância de se reunir uma plural idade de homens e submete- los a uma 
autoridade comum não chegaria a constituir um Estado. Mas, se esta 
pluralidade de pessoas for associada a outros e lementos num momento 
jurídico, perfaz uma unidade, surgindo o Estado. E cada indivíduo 
integrante do povo partic ipa também da natureza de suje ito, derivando-se 
daí duas s ituações: a) os indivíduos, enquanto objetos do poder do Estado, 
estão numa relação de subordinação e são, portanto, suje itos de deveres ; b ) 
enquanto membros do Estado, os indivíduos se acham, quanto a e le e os 
demais indivíduos, numa re lação de coordenação, sendo neste caso , suje itos 
de deveres .
Segundo Je l l inek, a raiz dessa teoria que leva ao reconhecimento da 
existência de dire itos públ icos subjetivos, encontra-se em Rousseau, quando 
este diz que os assoc iados, que compõem a sociedade e o Estado, recebem 
coletivamente o nome de povo cabendo-lhes a designação particular c idadãos 
quando partic ipam da autoridade soberana e suje itos quando submetidos às 
le is do Estado. 
 
Para Jel l inek, entretanto, a designação de c idadãos cabe a todos os 
que partic ipam da constituição do Estado, havendo, entretanto, uma 
categoria especial de c idadãos, que são os que têm cidadania ativa , isto é , 
que exercem certas atr ibuições que o Estado reconhece como suas.
O povo é o e lemento que dá condições ao Estado para formar e 
externar uma vontade. É o conjunto dos indivíduos que, através de um 
momento jurídico, se unem para constituir o Estado, estabelecendo com este 
um vínculo jurídico de caráter permanente, partic ipando da formação da 
vontade do Estado e do exerc íc io do poder soberano. Todos os que se 
integram no Estado adquirem a condição de c idadãos, podendo-se ass im, 
conce ituar o povo como o conjunto dos c idadãos do estado .
A aquisição da c idadania depende sempre das condições fixadas pelo 
próprio Estado, podendo ocorrer com o nascimento, bem como pelo 
atendimento de certos pressupostos que o Estado estabelece . A condição de 
c idadão implica dire itos e deveres que acompanham o indivíduo mesmo 
quando se ache fora do terr itór io do Estado.
 
FINALIDADE E FUNÇÕES FINALIDADE E FUNÇÕES 
DO ESTADODO ESTADO
Groppali diz que é absurdo recusar-se que a defesa, a ordem, o bem-
estar e o progresso, que representam o f im supremo de qualquer Estado em 
qualquer tempo, se jam elevados a e lementos formadores do Estado, uma vez 
que tais f inal idades constituem o conteúdo de toda a atividade estatal , 
determinando mesmo a estrutura fundamental do Estado.
Classificação de caráter geral :
 Fins objetivos do Estado: prende-se a indagação sobre o papel 
representado pelo Estado no desenvolvimento da humanidade. Relativamente 
a este problema, há duas ordens de respostas. Para uns, existem fins 
universais objetivos , ou se ja , f ins comuns a todos os Estados de todos os 
tempos. Em oposição colocam-se os autores que sustentam a existência de 
f ins particulares objet ivos em que cada Estado tem seus fins particulares , 
que resultam das c ircunstâncias em que e les surgiram e se desenvolveram e 
que são condicionantes de sua história.
 
 Fins subjetivos : o que importa é o encontro da re lação entre os Estados e 
dos fins individuais . Sendo a vida do Estado uma sér ie ininterrupta de ações 
humanas, e sendo estas , por sua vez, sempredeterminadas por um fim, é 
lógico que os fins do Estado deverão ser a síntese dos fins individuais . Isso 
é que expl ica a existência das instituições do Estado e a diferença de 
concepções a respeito das mesmas instituições, de época para época. As 
instituições do Estado não são poderes cegos da natureza , mas nascem e se 
transformam por influência da vontade humana e em vista de fins a atingir . 
O ponto de vista sobre o re lacionamento do Estado com os 
indivíduos e estre itamente vinculada à amplitude das funções do Estado 
propõe:
 Fins expansivos : preconizam o cresc imento desmesurado do Estado, a tal 
ponto que se acaba anulando o indivíduo. Essas teorias que estão na base 
dos Estados total itários, são de duas espécies: 
a ) Util itár ias : quando indicam como bem supremo o máximo 
desenvolvimento material , mesmo que isso se obtenha com o sacr ifíc io da 
l iberdade e de outros valores fundamentais da pessoa humana “Estado do 
bem-estar”. 
 FIM DO ESTADO = BEM COMUM (SENTIDO DE BEM-ESTAR 
MATERIAL).
 
 Fins l imitados : teor ias que reduzem ao mínimo as atividades do Estado, 
dão a e le a posição de mero vig i lante da ordem social , não admitindo que e le 
tome inic iativas, sobretudo em matéria econômica. Alguns adeptos dizem que 
o Estado só deveria agir para proteger a segurança dos indivíduos ( Estado-
Políc ia ) ; outros dão ao Estado a função de proteger a l iberdade individual 
(Estado-Liberal ) .
Uma terce ira corrente, é o chamado Estado de Direito , que exige que 
o Estado se ja um apl icador r igoroso do dire ito e nada mais do que isto .
b) Éticas : re je itam o uti l itar ismo e preconizam a absoluta supremacia de 
f ins éticos , sendo este o fundamento da idéia do Estado ético . Estas teorias 
levam ao totalitarismo, porque dão ao Estado as condições de fonte da 
moral , onipotente e onipresente, não tolerando qualquer comportamento que 
não se ja r igorosamente de acordo com a moral ofic ial .
 
Em síntese: o Estado, como sociedade pol ítica, tem um fim geral , 
constituindo-se em meio para que os indivíduos e as demais sociedades 
possam atingir seus fins particulares. Concluindo: o fim do Estado é o bem 
comum de um certo povo, s ituado em determinado terr itór io .
Outra c lassificação das f inalidades do Estado dist ingue entre:
 Fins exclusivos : que só devem caber ao Estado e que compreendem a 
segurança externa e interna.
 Fins concorrentes : não exigem que o Estado trate de les com 
exc lusividade.
 Fins re lativos : trata-se de uma nova posição que leva em conta a 
necessidade de uma atitude nova dos indivíduos no seu re lac ionamento 
recíproco, bem como nas re lações entre os Estados e os indivíduos.
 
O PODER DO ESTADOO PODER DO ESTADO
Para a maioria dos autores o poder é um elemento essencial ou uma 
nota característica do Estado. Sendo o Estado uma sociedade, não pode 
existir sem um poder , tendo este na sociedade estatal certas pecul iaridades 
que o qual if icam, das quais a mais importante é a soberania.
Jel l inek dá como nota característ ica e diferenciadora a dominação , 
peculiar ao poder estatal , diferenciando-o em duas espécies:
 Poder dominante : apresenta duas caracter íst icas básicas: é or iginário , 
porque o Estado moderno se afirma a si mesmo como o princípio orig inário 
dos submetidos, e i rres istíve l , por ser um poder dominante. Dominar 
s ignifica mandar de um modo incondicionado e poder exercer coação para que 
se cumpram as ordens dadas, e a impossibi l idade em que se acha o submetido 
de se subtrair ao poder dominante .
Para Je l l inek o conceito de poder do Estado já se acha contido no 
conce ito de ordem jurídica.
 
Fixando-se no poder , diz Kelsen que o poder do Estado, designado 
como poder de império , submete os homens l igando sua conduta a um dever 
jur ídico. Assim, portanto, para assegurar a consecução de fins jur ídicos é 
que o poder é exercido.
O verdadeiro sentido de poder ou dominação estatal não é o de que 
uns homens estão submetidos a outros , mas s im o de que todos os homens 
estão submetidos às normas. E quando se fala no poder do Estado como 
poder coativo isto quer dizer que as normas estatais , determinando certos 
comportamentos, prescrevem a coação para o caso de desobediência, i sto 
porque são normas jurídicas . Mas esta ordem estatal é objetiva, porque tem 
val idade objetiva, independendo dos homens que constituem o Estado.
Enquanto que uma corrente doutrinária pretende caracter izar o 
poder do Estado como poder pol ít ico , incondicionado e preocupado em 
assegurar sua ef icác ia, sem qualquer l imitação, uma diretr iz oposta 
qualif ica-o como poder jurídico , nasc ido do dire ito e exercido exclusivamente 
para a consecução de f ins jurídicos.
 Poder não-dominante : é o que se encontra em todas as sociedades que 
não o Estado, tanto naquelas em se ingressa voluntariamente quanto nas que 
se é integrante involuntário . Assim, mesmo as outras sociedades pol ít icas só 
tem um poder não- dominante, uma vez que não dispõem de imperium. Sua 
principal característica é que não dispõe de força para obrigar com seus 
próprios meios a consecução de suas ordens.
 
O minucioso exame das caracter íst icas do poder do Estado, de sua 
or igem, de seu modo de funcionamento e de suas fontes leva a conclusão de 
que, assim como não se pode admiti- lo como estr itamente polít ico, não há 
também como sustentar que se ja exclusivamente um poder jur ídico.
A observação de qualquer soc iedade humana revela sempre , mesmo 
nas formas mais rudimentares, a presença de uma ordem jurídica e de um 
poder. Organizar-se , portanto, é constituir-se com um poder, diz Reale , 
assinalando que , assim como não há organização sem presença do dire ito, 
não há poder que não se ja jurídico , ou se ja , não há poder insuscetível de 
qualif icação jurídica.
De acordo com o ponto de vista de Kelsen, há uma distinção 
realmente importante que pode ser fe ita entre a ordem estatal e as demais: 
enquanto que estas são ordens cujo âmbito de val idade se acha ou pode 
achar-se l imitado no espaço e no tempo por uma ordem superior , porque esta 
determina as condições e até o conteúdo de sua val idade, a ordem estatal é 
uma ordem suprema, que não sofre aquelas l imitações . Neste sentido e la 
é i rresist ível e onipotente, porque pode aceitar todos os conteúdos 
imagináveis, uma vez que são i l imitadas suas possibi l idades na determinação 
de seu próprio conteúdo.
 
CONCEITO DE ESTADOCONCEITO DE ESTADO
A análise da grande variedade de conceitos de Estado revela duas 
or ientações fundamentais: ou se dá mais ênfase a um elemento concreto 
l igado à noção de força , ou se realça a natureza jurídica, tomando-se como 
ponto de partida a noção de ordem. 
Entre os conceitos que se l igam mais à noção de força e que 
poderiam ser c lassif icados como polít icos não está ausente a preocupação 
com o enquadramento jurídico , mas o Estado é visto, antes de mais nada, 
como força que se põem a si própria e que, por suas próprias virtudes, busca 
a disc iplina jurídica.
Já os conceitos que se l igam à noção de ordem, denominados 
jurídicas , dão primazia ao e lemento jurídico, acentuando que todos os 
demais têm existência independente fora do Estado, só se compreendendo 
como componentes do Estado após sua integração numa ordem jurídica, o que 
também se dá com a força, que se integra no Estado como poder .
Em face das razões expostas podemos conceituar o Estado como a 
ordem jurídica soberana que tem por f im o bem comum de um povo s ituado 
em determinado terr itór io .PERSONALIDADE PERSONALIDADE 
JURÍDICA DO ESTADOJURÍDICA DO ESTADO
A concepção de Estado como pessoa jurídica representa um 
extraordinário avanço no sentido da disc ipl ina jurídica do interesse colet ivo. 
Esta noção promove a concil iação do pol ítico com o jurídico .
A origem da concepção do Estado como pessoa jurídica pode ser 
atribuída aos contratual istas , bem como de uma vontade própria, bem 
diversa das vontades de seus membros iso ladamente considerados. Só no séc . 
XIX, é que se i r ia completar o desenvolvimento da idé ia, admitindo-se 
aqueles temas, até então considerados essencialmente e exclusivamente 
pol íticos , fossem aceitos também como objeto da dogmática jurídica.
 
Essas teorias , chamadas ficc ionistas , aceitam a idéia do Estado-
pessoa jurídica, mas como produto de uma convenção, de um artifíc io , que só 
se just if ica por motivos de conveniência.
Uma outra ordem de teorias afirma a existência real do Estado-
pessoa jurídica, opondo-se à idé ia de que e la se ja mera f icção ( real istas ) .
Gerber admite que a personal idade jurídica do Estado se ja um meio 
de construção jurídica, negando, todavia, que se trate de mera ficção 
jurídica, totalmente desl igada da real idade. Numa tomada de posição bem 
caracter ística de sua or ientação doutrinária, identificada como organicismo 
ético , conclui que o Estado é um organismo moral, pensado, 
personal ist icamente, existente por si e não como simples criação conceitual .
Embora dotados de personal idade jurídica própria, que não se 
confunde com a de seus componentes , as pessoas jur ídicas são suje itos 
artific iais , cr iados pela le i . E entre as pessoas jurídicas se acha o Estado, 
cuja personal idade é também produto da mesma ficção. Essa conclusão ser ia 
a de Hans Kelsen. Em sua teoria o Estado é também dotado de personal idade 
jurídica, mas é igualmente um suje ito artif ic ial , entendendo Kelsen que o 
Estado é a personificação da ordem jurídica. Diz Kelsen que , ass im como o 
dire ito pode atr ibuir ou não personal idade jurídica aos homens, o mesmo pode 
fazer em relação às comunidades que encontra diante de si .
Com Gierke tomaria impulso a teoria do órgão, permitindo conceber-
se o Estado como pessoa, capaz de ter uma vontade própria e de externa-la, 
sem precisar recorrer aos exageros do organicismo biológico .
 
Na obra de Jel l inek, que torna-se um dos principais fundamentos do 
dire ito públ ico, explica e le , que suje ito, em sentido jurídico, não é uma 
essência, uma substância, e s im uma capacidade criada mediante a vontade 
da ordem jurídica. Entretanto, nada exige que a qual idade de suje ito de 
dire itos se ja atr ibuída apenas ao indivíduo. E a e levação de uma unidade 
coletiva àquela condição não tem o sentido de cr iação de uma substância 
f ictíc ia que não exist isse antes que se proclame como uma essência a que se 
uma a ordem jurídica. Conclui Je l l inek: “se o Estado é uma unidade co letiva, 
uma associação, e esta unidade não é uma ficção, mas uma forma necessária 
de s íntese de nossa consciência que, como todos os fatos desta, forma a base 
de nossas instituições, então tais unidades co letivas não são menos capazes 
de adquirir subjetividade jurídica que os indivíduos humanos”.
Laband acentua que o Estado é um suje ito de dire ito, uma pessoa 
jurídica, com capacidade para partic ipar de re lações jur ídicas. O Estado é 
visto como uma unidade organizadora, uma pessoa que tem vontade própria. 
E mesmo quando a vontade do Estado é formada pela partic ipação dos que o 
compõe, ou se ja , do povo, não se confunde com as vontades dos que 
partic ipam da formação da vontade estatal . Assim também os dire itos e 
deveres do Estado são dist intos dos dire itos e deveres de seus c idadãos.
Analisando essas teorias , Groppali chama de abstração o processo 
pelo qual se afirma o Estado como pessoa jurídica, procurando demonstrar 
que a idé ia de abstração permite levar em conta os e lementos reais , 
concretos, que existem no Estado, sem o absurdo de compara-lo a uma pessoa 
f ísica. Ao mesmo tempo evita o erro do f icc ionismo, que baseia a vida 
jurídica do Estado, implicando interesses fundamentais dos indivíduos e da 
coletividade, num mero art ifíc io .
 
Opondo-se às teorias que consideram o Estado como pessoa jurídica, 
Max Seydel nega terminantemente a personal idade jurídica do Estado, 
dizendo que este não é unidade , nem organismo, nem todo vivo, nem suje ito 
de dire itos, mas, tão-só, homens, ou, quando muito, terra e gente dominada 
por uma vontade superior . Não existe vontade do Estado, mas vontade sobre 
o Estado, sendo este apenas objeto de dire ito daquela vontade superior . 
Donati faz uma pequena concessão, dizendo que a personal idade real do 
Estado é , na verdade, a personalidade dos governantes , que são os 
portadores da soberania e a substância da subjetividade estatal . Duguit 
refuta o próprio Donati , entendendo o Estado apenas como uma relação de 
subordinação, ou, então, como uma cooperação de serviços públ icos 
organizados e dir igidos pelos governantes. Essa re lação de fato jamais se 
poderia transformar em pessoa, sendo, por isso, no seu entender, inaceitável 
a teoria da personal idade jurídica do Estado.
Com efeito , só pessoas, se jam elas f ís icas ou jurídicas , podem ser 
t itulares de dire itos e deveres jurídicos , e assim, para que o Estado tenha 
dire itos e obrigações, deve ser reconhecido como pessoa jurídica. Se, de um 
lado, é inevitável que o Estado se torne t itular de dire itos que e le próprio 
cr ia por meio de seus órgãos, há, de outro, a possibi l idade de que os c idadãos 
possam fazer valer contra e le suas pretensões jurídicas , o que só é concebível 
numa relação entre pessoas jur ídicas.
 
ESTADO, DIREITO E POLÍTICAESTADO, DIREITO E POLÍTICA
Todo Estado implica um entrelaçamento de situações , de re lações , de 
comportamentos, de justificativas, de objet ivos, que compreende aspectos 
jurídicos , mas que contém, ao mesmo tempo, um indissociável conteúdo 
pol ít ico . Não é possível estabelecer-se a nít ida separação entre o jur ídico e o 
pol ít ico. Miguel Rale demonstra que o Estado apresenta uma face social , 
re lativa à sua formação e ao seu desenvolvimento em razão de fatores sócio-
econômicos; uma face jur ídica , que é a que se re laciona com o Estado 
enquanto ordem jurídica; e uma face pol ítica , onde aparece o problema das 
f inal idades do governo em razão dos diversos s istemas de cultura.
 
Enquanto sociedade pol ítica voltada para f ins pol ít icos, o Estado 
partic ipa da natureza pol ítica , que convive com a jurídica, influenciando-a e 
sendo por e la influenciada, devendo, portanto, exercer um poder pol ítico .
Como se tem procurado evidenciar , inc lusive com o objetivo de 
assegurar o respeito aos valores fundamentais da pessoa humana, o Estado 
deve procurar o máximo de juridic idade. Assim é que se acentua o caráter de 
ordem jurídica , na qual estão sintetizados os e lementos componentes do 
Estado. Além disso, ganham evidência as idéias da personal idade jurídica do 
Estado. Mas, não obstante a aspiração ao máximo possível de juridic idade, 
há o reconhecimento de que não se pode pretender reduzir o Estado a uma 
ordem normativa, existindo no dire ito e exc lusivamente para fins jur ídicos.
O poder político – diz Neumann – é o poder social que se focal iza 
no Estado, tratando da obtenção do controle dos homens para o f im de 
influenciar o comportamento do Estado. O uso do poder pol ítico tem 
presente o interesse da coletividade ou dos indivíduos que a compõem. 
Emborase ja freqüente a uti l ização do poder pol ítico para satisfazer , antes 
de tudo, a vontade e os interesses dos que o exercitam em nome do Estado, 
isto constitui uma anomalia, não devendo levar à conclusão de que o poder 
pol ít ico é essencialmente mau.
 
Cassirer dá uma noção neutra de polít ica, considerando-a a arte de 
unificar e organizar as ações humanas e dir igi - las para um fim comum . Max 
Weber dá uma noção posit iva , l igando os conceitos de Estado e de pol ítica. 
De fato, depois de conceituar o Estado como uma comunidade humana que, 
dentro dos l imites de determinado territór io , re ivindica o monopól io do uso 
leg itimo da vio lência f ís ica, externa a seguinte idéia de polít ica: o conjunto 
de esforços fe itos com vistas a partic ipar do poder ou a influenciar a divisão 
do poder , se ja entre Estados, se ja no inter ior de um único Estado .
O caráter pol ítico do Estado, portanto, lhe dá a função de coordenar 
os grupos e os indivíduos em vista de fins a serem atingidos, impondo a 
escolha dos meios mais adequados. Para a consecução desse objet ivo devem 
ser levados em conta, sobretudo, três dual ismos fundamentais:
 
 Necessidade e possibi l idade : é preciso identif icar as necessidades 
preponderantes do povo. Não basta, entretanto, somente a identificação 
dessas necessidades, pois se e las indicam a orientação a tomar devem, 
porém, ser atendidas de conformidade com os meios disponíveis em cada 
Estado. De acordo com as possibi l idades é que se deverá estabelecer o 
organização, bem como as etapas a serem atingidas até a consecução dos 
objetivos mais altos .
 Indivíduos e coletividade : outro ponto importante é a conci l iação entre 
as necess idades dos indivíduos e as da coletividade. É preciso ter em conta 
que o individuo não existe isolado e que a colet ividade é a soma dos 
indivíduos. Assim, não se há de anular o indivíduo dando precedência 
s istemática à coletividade , mas também será inadequada a preponderância 
automática do individual , pois e la poderá levar à satisfação de um 
individuo ou de apenas alguns, em detr imento das necessidades de muitos ou 
de quase todos, externadas sob a forma de interesse colet ivo.
 Liberdade e autoridade : é necessário determinar l imitações à l iberdade 
individual a fim de aumentar a eficácia dos meios disponíveis . É 
indispensável o estabelecimento e a preservação de uma ordem que implica a 
possibil idade de coagir . Esse é um dos mais difíce is problemas das decisões 
pol íticas: o encontro do equi l íbrio entre a l iberdade e a autoridade.
 
ESTADO E NAÇÃOESTADO E NAÇÃO
O conceito de nação surgiu como um artifíc io para envolver o povo 
em confl itos de interesses alheios, jamais teve signif icação jurídica, não 
indicando a existência de um vínculo jurídico entre seus componentes . 
Entretanto, como realidade soc io lógica, a Nação é de inegável importância, 
influindo sobre a organização e o funcionamento do Estado.Muitos ace itam a diferenciação de Estado e Nação, reconhecendo 
no primeiro uma sociedade, enquanto esta é uma comunidade . Essa teoria 
foi estabelecida por Ferdinand Tönnies. Todo grupo social que tenha 
existência permanente será ou uma soc iedade ou uma comunidade. As 
sociedades se formam por atos de vontade . É perfe itamente possível que um 
grupo de pessoas absolutamente diferentes quanto às características 
culturais resolva unir-se para conseguir um objet ivo que a todas interessa. 
Criam, então, uma soc iedade, l igando-se rec iprocamente por vínculos 
jur ídicos , podendo conseguir a f inalidade almejada sem que desapareçam as 
diferenças culturais existentes no iníc io .
 
A comunidade se coloca num outro plano, independe da vontade, 
existindo como fato antes mesmo que seus membros tomem consciência de que 
e la existe . A circunstância de pertencerem à mesma comunidade faz com que 
os seus membros tenham sentimentos comuns, experimentem estados 
psicológicos também comuns e , como conseqüência últ ima, desenvolvam 
costumes comuns.
 A existência da sociedade pressupõe a ocorrência de manifestações de 
conjunto juridicamente ordenadas, l igando-se , portanto, os seus membros por 
vínculos jur ídicos . Na comunidade inexiste qualquer re lação jurídica e os 
comportamento comuns de seus membros são determinados apenas pelos 
sentimentos comuns.
 Em toda sociedade existe , necessariamente, um poder social . Na 
comunidade, não havendo regras jur ídicas nem final idade a atingir , não há 
também um poder .
Diferenças fundamentais entre sociedade e comunidade :
 Toda sociedade, natural ou voluntária, agrupa homens em torno de um 
objetivo, de um fim a atingir , pressupondo a partic ipação da vontade e da 
intel igência humanas. A comunidade que é um fato independente, não se 
forma em função de qualquer objetivo , e a única aspiração de seus membros é 
a preservação da própria comunidade.
 
Del Vecchio chama de Estados imperfeitos os plurinacionais , embora 
reconheça que no mundo atual são raros os Estados efetivamente nacionais .
O fato é que não existe , a não ser em casos excepcionais, 
coincidência entre Estado e Nação, havendo nações cujos membros estão 
distr ibuídos entre vários Estados, como há, entre os componentes do povo de 
cada Estado, indivíduos pertencentes a diferentes grupos nacionais.
A coincidência entre Estado e Nação vai-se tornando cada vez mais 
rara à medida em que aumentam as faci l idades de comunicação e a 
mobil idade dos indivíduos, de um para outro Estado. A pretensão de 
caracter izar o Estado moderno como Estado Nacional baseou-se na re lativa 
estabi l idade obtida pela Europa no séc . XIX. Daí a afirmação do princípio 
das nacional idades , segundo o qual cada Nação deveria constituir um 
Estado, mas a regra é o plurinacionalismo, ou se ja , em cada povo há 
indivíduos pertencentes a várias Nações.
 
Evidentemente, nada impede que os membros de uma comunidade 
resolvam compor uma sociedade para atingir certo objetivo , e que os 
componentes de uma sociedade, por força de uma convivência prolongada, 
forçados a agir de maneira semelhante em função de interesses comuns, 
acabem por reduzir ou até e l iminar suas diferenças de sentimentos, cr iando-
se então uma comunidade.
 
Por isso se apregoa a existência de caracter ísticas nacionais , quando 
se apontam certas notas comuns a toda a sociedade pol ít ica, pois isso 
favorece a formação de uma consciência de comunidade. A submissão a um 
governo comum, o uso da mesma l íngua, a aceitação de muitos valores 
culturais comuns, bem como a comunidade de interesses, tudo isso é 
insufic iente para fazer do Estado uma Nação. 
Quando o indivíduo deixa de ser vinculado a uma ordem jurídica 
estatal para l igar-se a outra, ocorre , na real idade, uma troca de c idadania , 
não de nacional idade.
Em conclusão, o Estado é uma sociedade e a Nação uma 
comunidade, havendo, portanto, uma diferença essencial entre ambos. Para 
obter maior integração de seu povo, e assim reduzir as causas de confl itos , 
os Estados procuram cr iar uma imagem nacional , s imból ica e de efe itos 
emocionais, afim de que os componentes da soc iedade pol ít ica se sintam mais 
sol idários. 
 
MUDANÇAS DO ESTADO POR MUDANÇAS DO ESTADO POR 
REFORMA E REVOLUÇÃOREFORMA E REVOLUÇÃO
Há dois erros básicos de concepção que têm levado o Estado a 
extremos opostos: ou mantendo uma organização inadequada ou adotando 
processos muito ef icazes para objet ivos l imitados, mas confl itantes com o 
objetivo de consecução do bem comum de todo o povo. No primeiro caso tem-
se uma concepção formalista e estática de ordem, queleva à uti l ização do 
Estado como um embaraço às mudanças soc iais , tornando-o expressão de 
valores anacrônicos, já superados pe la real idade social . Essa noção do 
Estado como ordem estática, responsável pela manutenção de estruturas 
absolutamente ineficazes , tem levado à concepção formalista do próprio 
dire ito, sendo responsável pe la contradição das ditaduras constituc ionais . A 
preservação de uma ordem inadequada serve de fundamento para impedir 
que se atinja o ideal de atual ização, que é o Estado adequado . 
 
Como reação a esse exagerado e negativo formalismo, ocorreu a 
identif icação do Estado com as s ituações privi legiadas, únicas benefic iár ias 
da estagnação, chegando-se mesmo a propor o abandono do conceito de 
Estado e das noções consideradas legalistas . Isso é dito com muita c lareza 
por Almond, que assim se expressa: “em lugar do conce ito de Estado, 
l imitado pelo seu significado legal e funcional , preferimos s istema 
pol ítico ; ao invés de poderes , conceito com conotações legais , começamos a 
optar por funções; em substituição a postos ( legal ) , aceitamos papéis ; 
esco lhemos estruturas ao invés de instituições , também com caráter formal; 
em lugar de opinião pública e tre ino de c idadania , de signif icação formal e 
racional , preferimos cultura pol ít ica e soc ial ização pol ítica .”Essa crít ica falha por não localizar o verdadeiro âmago do 
problema e por preconizar so luções que , e l iminando o legalismo como 
barreira, e l iminam também o legal , que é fator de preservação ef icaz dos 
próprios instrumentos de transformação.
O primeiro passo para se conseguir a organização conveniente do 
Estado será a concepção do dire ito como totalidade dinâmica. Miguel Reale 
propõe o uso l imitado da expressão fonte do dire ito , por considera- la presa 
ainda aos pressupostos de uma experiência jurídica subordinada ao dire ito 
como cr iação ou declaração do Estado. Em seu lugar preconiza o uso de 
modelo jurídico advertindo porém que o modelo jurídico para que o se ja 
realmente, deve ser fundado na experiência. Fica ressaltada a idéia de que 
o dire ito , e conseqüentemente qualquer ordem jurídica, deve ter fundamento 
na experiência, ref let indo a real idade social , o que não e l imina a existência 
de normas eficazes , ao mesmo tempo em que deixa aberto o caminho a uma 
permanente transformação.
 
O segundo ponto fundamental é a aceitação dos conflitos de 
opiniões e de interesses como fatos normais, componentes da real idade e 
partic ipantes do processo dialético de que resulta a ordem capaz de 
promover e assegurar o bem comum. A observação cuidadosa dos fatos reve la 
que todos os confl itos fundamentais entre pessoas são produto de 
necessidades naturais . Segundo Del Vecchio, em cada Estado convivem 
muitas vontade soc iais , pois cada indivíduo e cada grupo soc ial tem suas 
idéias a respeito da melhor forma de convivência. E o Estado que decorre da 
real idade e que reflete a síntese das aspirações da maioria do povo 
corresponde à vontade social preponderante .
Um terceiro ponto fundamental a ser considerado é a multipl ic idade 
e valores que convive em qualquer meio social . Se for dada preponderância 
absoluta e permanente a algum objet ivo particular , este pode ser plenamente 
atingido, mas o Estado estará distanciado de sua própria razão de ser . 
Assim, por exemplo, quando a ordem, as segurança, o desenvolvimento 
econômico, o equi l íbr io f inanceiro e outros objetivos fundamentais não 
levam em conta a l iberdade individual, a igualdade, de oportunidades e a 
justa distr ibuição das r iquezas produzidas pe la coletividade. O Estado não 
está cumprindo sua f inal idade.
Quanto à profundidade e à aceleração das transformações do 
Estado, bem como aos meios de sua consecução, ressaltamos a diferença 
entre as transformações efetivadas gradativamente, por evolução , que ocorre 
através do desenvolvimento natural e progress ivo das idé ias e dos costumes 
e da constante adaptação do Estrado às novas condições de vida social . 
Para que se assegure esse processo de transformação é indispensável que as 
instituições do Estado se jam devidamente apare lhadas, prontas para sentir 
o aparecimento de novas possibi l idades e aspirações, para conhecer o 
verdadeiro signif icado e , f inalmente, para integra-las na ordem jurídica.
 
Pode ocorrer , entretanto, que o Estado ou por inadequação de sua 
organização ou por despreparo ou maus propós itos de seus dir igentes adote uma 
r igidez inst itucional que impeça a integração dos novos fatores de inf luência, ou 
até mesmo que formal ize uma ordem confl itante com a real idade. Nestas 
c i rcunstâncias , somente através de revolução é que pode remover os obstáculos à 
l ivre transformação do Estado, restaurando-se os mecanismos de adaptação 
constante às novas exigências da real idade soc ia l . Não se há de confundir com 
revolução a mera substituição do grupo dominante e a introdução de modif icações 
superf ic iais , que afetem apenas a burocracia do Estado. A revolução tem aspectos 
negativos por cr iar a poss ibi l idade de ação arbitrár ia . Segundo Cattaneo, do ponto 
de vista jur ídico a revolução é o abatimento de uma ordenação jur ídica e a 
instauração de outra nova, através de meio i legal , i sto é , por procedimento não 
previsto na ordenação anter ior .
A revolução pode ser just if icada como uma exigência do próprio direito. 
Entretanto, para que se ja reconhecida sua legit imidade, deve corresponder a certos 
requis itos , apontados com muita prec isão por Goffredo Tel les Jr . , que são: a 
leg it imidade , a uti l idade e a proporc ional idade . Legít ima se decorrer de uma real 
necess idade, ou se ja , se de fato houver um desacordo profundo entre a ordem 
jur ídica vigente a aquela que dever ia corresponder à real idade social . O segundo 
requis ito, que é o da ut i l idade, exige que a revolução se processe de maneira ef icaz e 
apropr iada, capaz de at ingir os objet ivos almejados, pois do contrár io haverá a mera 
destruição de uma ordem sem a colocação de outra mais adequada. Por últ imo, a 
proporc ional idade exigida parte do pressuposto de que todas as revoluções têm 
certos aspectos negat ivos inevitáveis , há um momento de incerteza jur ídica, durante 
o qual f icam abertas as portas à arbitrariedade, à vio lência e ao uso indiscr iminado 
dos meio de coação, sempre havendo quem se ut i l ize desse momento para resolver 
seus problemas part iculares em nome da revolução.
 
 
ESTADO MODERNO ESTADO MODERNO 
E DEMOCRACIAE DEMOCRACIA
A base do conceito de Estado Democrático é , sem dúvida, a noção de 
governo do povo , revelada pela própria et imologia do termo democracia . 
Houve influência das idéias gregas, no sentido da afirmação do governo 
democrático equivalendo ao governo de todo o povo, neste se incluindo, 
porém, uma parcela muito mais ampla dos habitantes do Estado, embora 
ainda se mantivesse algumas restr ições . 
O Estado Democrático moderno nasceu das lutas contra o 
absolutismo, sobretudo através da afirmação dos dire itos naturais da pessoa 
humana. Daí a grande influência dos jusnatural istas , como Locke e 
Rousseau, que diz que “um povo que governar sempre bem não necess itará de 
ser governado”, acrescentando que jamais exist iu verdadeira democrac ia, nem 
existirá nunca. E sua conclusão é fulminante: “se existisse um povo de 
deuses, e le se governaria democraticamente”. Apesar disso tudo, foi 
considerável a influência de Rousseau para o desenvolvimento da idéia de 
Estado Democrático podendo-se mesmodizer que estão em sua obra, 
c laramente expressos, os pr incípio que i r iam ser consagrados como inerentes 
a qualquer Estado que se pretenda democrático.
 
É através de três grandes movimentos polít icos-sociais que se 
transpõem do plano teórico para o prático os princípio que i r iam conduzir 
ao Estado Democrático: o primeiro desses movimentos foi o que muitos 
denominam de Revolução Inglesa, fortemente influenciada por Locke e que 
teve sua expressão mais s ignif icativa no Bil l of Rights , de 1.689; o segundo 
foi a Revolução Americana, cujos princípios foram expressos na Declaração 
de Independência das treze colônias americanas, em 1.776; e o terceiro foi a 
Revolução Francesa, que teve sobre os demais a virtude de dar 
universal idade aos seus princípios, os quais foram expressos na Declaração 
dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1.789, sendo evidente nesta a 
influência direta de Rousseau.
Quanto a Revolução Inglesa, havia a intenção de estabelecer 
l imites ao poder absoluto do monarca e a influência do protestantismo, 
ambos contribuindo para a afirmação dos dire itos naturais dos indivíduos 
nascidos l ivres e iguais, justificando-se portanto, o governo da maioria que 
deveria exercer o poder legis lativo assegurando a l iberdade dos c idadãos. 
Procurando caracterizar uma democracia, escreve Locke: “ Tendo a 
maioria, quando de iníc io os homens se reúnem em sociedade, todo o poder 
da comunidade naturalmente em si , pode entrega-lo para fazer le is 
destinadas à comunidade de tempos em tempos, as quais se executam por 
meio de funcionários que e la própria nomeia: nesse caso, a forma de governo 
é uma perfe ita democracia.”
 
Em sua opinião, entretanto, quando os poderes executivo e 
leg islativo est iverem em mãos diversas, como entendia devesse ocorrer nas 
monarquias moderadas, o bem da soc iedade exige que várias questões fiquem 
entregues à discr ição de quem dispõe do poder executivo. Resta, assim, uma 
esfera de poder discr ionário, que e le chama de prerrogativa , conceituando-a 
como o poder de fazer o bem público sem se subordinar a regras .
Essas idéias, expostas no f inal do séc . XVII, i r iam ganhar uma 
amplitude maior nas colônias da América durante o século seguinte, 
sobretudo porque atendiam plenamente aos anseios de l iberdade dos colonos. 
É importante assinalar também que essas afirmações de Locke 
representavam a sistematização teórica dos fatos polít icos que estavam 
transformando a Inglaterra de seu tempo, tais como a publ icação da 
Declaração Inglesa de Direitos , de 1.688, que proclamava os dire itos e as 
l iberdades dos súditos, e a aprovação do documento que se tornou conhecido 
como Bil l of Rights , através do qual se faz a ratificação daquela 
Declaração, além de se afirmar a supremacia do Parlamento.
A luta contra o absolutismo inglês também se desenrolou, em parte , 
nas co lônias da América do Norte . Realmente , a par dessa posição 
antiabsolutista e da influência protestante, os norte-americanos estavam 
conquistando sua independência e de nada lhes adiantaria l ivrarem-se de um 
governo absoluto inglês para se submeterem a outro, igualmente absoluto, 
ainda que norte-americano.
 
Uma síntese perfeita de todas as influências encontra-se nas frases 
in ic iais da Declaração da Independência, de 1.776, onde assim se proclama: 
“Consideramos verdades evidentes por s i mesmas que todos os homens são 
cr iados iguais, que são dotados pelo Criador de certos dire itos inal ienáveis , 
entre os quais a Vida, a Liberdade e a procura da Fel ic idade; que para 
proteger tais dire itos são instituídos os governos entre os Homens, 
emanando seus justos poderes dos consentimentos dos governados. Que 
sempre que uma forma de governo se torna destrutiva, é o Dire ito do Povo 
altera- la ou abol i - la e instituir um novo governo, fundamentado em 
princípios e organizando seus poderes da forma que lhe parecer mais capaz 
de proporcionar segurança e fe l ic idade”.
O terceiro movimento consagrador das aspirações democráticas do 
séc . XVIII foi a Revolução Francesa. Além de se oporem aos governos 
absolutos, os l íderes franceses enfrentavam o problema de uma grande 
instabi l idade interna, devendo pensar na unidade dos franceses. Foi isto 
que favoreceu o aparecimento da idéia da nação , como centro unif icador de 
vontades e de interesses. Na França a Igre ja e o Estado eram inimigos, o 
que influiu para que a Declaração dos Dire itos do Homem e do Cidadão, de 
1.789, diversamente do que ocorrera na Inglaterra e nos Estados Unidos da 
América, tomasse um cunho mais universal , sem as l imitações impostas pelas 
lutas re l igiosas locais.
 
Declara-se , então, que os homens nascem e permanecem l ivres e 
iguais em dire itos . Nenhuma l imitação pode ser imposta ao indivíduo, a 
não ser por meio da le i , que é a expressão da vontade geral . A base da 
organização do Estado deve ser a preservação da possibi l idade de 
partic ipação popular no governo, a f im de que se jam garantidos os dire itos 
naturais.
Foram esses movimentos e essas idéias, expressões dos ideais 
preponderantes na Europa do séc . XVIII, que determinaram as diretr izes 
na organização do Estado a partir de então. Consol idou-se a idéia de 
Estado Democrático como ideal supremo, chegando-se a um ponto em que 
nenhum sistema e nenhum governante, mesmo quando patentemente 
total itários, admitem que não se jam democráticos .
Uma síntese dos princípios que passaram a nortear os Estados, 
como exigências da democracia, permite-nos indicar três pontos 
fundamentais:
 A supremacia da vontade popular ; 
 A preservação da l iberdade ; 
 A igualdade de dire itos ;
 
DEMOCRACIA DIRETA, SEMIDIRETA DEMOCRACIA DIRETA, SEMIDIRETA 
E REPRESENTATIVAE REPRESENTATIVA
Sendo o Estado Democrático aquele em que o próprio povo governa, 
é evidente que se coloca o problema do estabelec imento dos meios para que o 
povo possa externar sua vontade. É difíc i l , quase absurdo mesmo, pensar-se 
na hipótese de constantes manifestações do povo, para que se saiba 
rapidamente qual a sua vontade. Entretanto, embora com amplitude 
bastante reduzida, não desapareceu de todo a prática de pronunciamento 
direto do povo, existindo alguns institutos que são c lassif icados como 
expressões de democracia direta .
Há vários outros institutos que , embora considerados por alguns 
autores como característicos da democrac ia direta, não dão ao povo a 
possibil idade de ampla discussão antes da del iberação, sendo por isso 
c lassificados pela maioria como representativos da democracia semidireta . 
Essas instituições são: 
 
 A inic iativa : confere a um certo número de e le itores o dire ito de propor 
uma emenda constitucional ou um projeto de le i . Nos EUA faz-se uma 
diferenciação entre duas espécies de inic iativa, que são: inic iativa dire ita , 
pela qual o projeto de constituição ou de le i ordinária contendo a assinatura 
de um número mínimo de e le itores deve, obrigatoriamente , ser submetido à 
del iberação dos e le itores nas próximas e le ições; e in ic iativa indireta , que dá 
ao Legis lativo estadual a possibi l idade de discutir e votar o projeto proposto 
pelos e le itores , antes que e le se ja submetido à aprovação popular. Só se o 
projeto for re je itado pelo Legislativo é que e le será submetido ao e le itorado, 
havendo Estados norte-americanos que exigem um número adicional de 
assinaturas, apoiando o projeto, para que e le se ja dado à decisão popular 
mesmo depois de recusado pela assembléia.
 O referendum : largamente uti l izado atualmente, consiste na consulta à 
opinião pública paraa introdução de uma emenda constitucional ou mesmo 
de uma le i ordinária, quando esta afeta um interesse públ ico re levante. Em 
certos casos as Constituições de alguns Estados modernos exigem que se faça 
o referendum, sendo e le considerado obrigatório , o que se dá quase sempre 
quanto a emendas constitucionais; em outros, e le é apenas previsto como 
possibil idade, f icando a cargo das assembléias decidir sobre sua real ização, 
sendo e le então chamado facultativo ou opcional .
 O plebisc ito : consiste numa consulta prévia à opinião popular . 
Dependendo do resultado do plebisc ito é que se i rão adotar as providências 
leg islativas, se necessário .
 
A impossibi l idade prática de uti l ização dos processos da democrac ia 
direta, bem como as l imitações inerentes aos institutos de democracia 
semidireta, tornaram inevitável o recurso à democrac ia representativa , 
onde, o povo concede um mandato a alguns c idadãos, para, na condição de 
representantes, externarem a vontade popular e tomarem decisões em seu 
nome, como se o próprio povo est ivesse governando.
 O veto popular : pelo veto popular, dá-se aos e le itores , após a aprovação 
de um projeto pelo Legislativo, um prazo, geralmente de sessenta a noventa 
dias, para que requeiram a aprovação popular . A le i não entra em vigor 
antes de decorr ido este prazo e , desde que haja a sol ic itação por um certo 
número de e le itores , e la continuará suspensa até as próximas e le ições, 
quando então o e le itorado decidirá se e la deve ser posta em vigor ou não.
 O recal l : é uma instituição norte-americana, que tem apl icação em duas 
hipóteses diferentes; ou para revogar a e le ição de um legislador ou 
funcionário e let ivo, ou para reformar decisão judicial sobre 
constitucional idade de le i .
 
Para a compreensão das caracter ísticas do mandato pol ítico é 
indispensável aceitar-se sua completa desvinculação da or igem privada. É 
preciso ter-se em conta que o mandato pol ítico é uma das mais importantes 
expressões da conjugação do pol ít ico e do jurídico , o que também influi em 
suas caracter ísticas mais importantes:
 O mandatário , apesar de e le ito por uma parte do povo, expressa a 
vontade de todo o povo, podendo tomar decisões em nome de todos os 
c idadãos da c ircunscr ição.
 O mandatário não está vinculado a determinados e le itores , não se 
podendo dizer qual o mandato confer ido por certos c idadãos.
 O mandatário tem absoluta autonomia e independência, não havendo 
necessidade de ratificação das decisões .
Mandato : diz Carvalho de Mendonça que mandato é o contrato pelo 
qual alguém constitui a outrem seu representante, investindo-o de poderes 
para executar um ou mais de um ato jurídico.
 
 O mandato é de caráter geral , conferindo poderes para a prática de todos 
os atos compreendidos na esfera de competências do cargo para o qual 
alguém é e le ito .
 O mandatário é irresponsável , não sendo obrigado a expl icar os motivos 
pelos quais optou por uma ou por outra or ientação.
 Em regra, o mandato é i rrevogável sendo conferido por prazo 
determinado. A exceção a esse princípio é o recal l .
O Estado Moderno partiu de um misto de representação de 
interesses e representação pol ít ica , f ixando-se nesta. Em face de graves 
defic iências e de dificuldades praticamente insuperáveis , surgiram sér ios 
opositores da representação pol ítica propondo-se outras bases de 
representação. Foi ass im que se propôs no séc . XIX, a base profissional , 
construindo-se a teoria da representação profiss ional ou sindical .
 
REPRESENTAÇÃO POLÍTICA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA 
Segundo Duverger , dá-se o nome de partidos às facções que dividiam 
as Repúblicas antigas, aos c lãs que se agrupavam em torno de um condutor 
na Itál ia da Renascença, aos c lubes onde se reuniam os deputados às 
assemblé ias revolucionárias, aos comitês que preparavam as e le ições 
censitárias das monarquias constitucionais, assim como às vastas 
organizações populares que enfeixam a opinião pública nas democracias 
modernas. Essa identidade nominal – admite e le – justifica-se de um lado, 
pois traduz certo parentesco profundo, uma vez que todas essas instituições 
desempenharam o mesmo papel , que é o de conquistar o poder pol ítico e 
exerce- lo . Entretanto no seu entender , os partidos pol ít icos , no sentido 
moderno, só aparecem a partir de 1.850. Outros autores , entre os quais 
Ostrogorski , Erskine May, Afonso Arinos e Will iam Bennet Munro, vêem o 
nascedouro dos modernos partidos pol íticos na Inglaterra, desde a luta entre 
os dire itos do parlamento e as prerrogativas da coroa, no séc . XVII, 
afirmando Munro que foi a partir de 1.680 que se definiu a noção de 
oposição política , isto é , a doutrina, básica na democracia, de que os 
adversários do governo não são inimigos do Estado e de que os opositores 
não são traidores ou subversivos.
 
Diz Hume que as facções podem ser pessoais , quando baseadas em 
amizade pessoal ou animosidade entre os que compõem os partidos em luta, 
e reais , quando fundadas em alguma diferença real de sentimento ou 
interesses. As facções reais , por sua vez, podem ser de três espécies: de 
interesse , quando duas ordens de homens como os nobres e o povo possuem 
autoridade distinta, em um governo não muito exatamente equi l ibrado e 
formado, naturalmente seguem interesses distintos; os partidos de princ ípio , 
esc larece Hume, especialmente princ ípio abstrato especulativo, somente nos 
tempos modernos se conhecem e são talvez, o fenômeno mais extraordinário 
e dif íc i l de justificar que até agora surgiu no negócios humanos; os partidos 
de afeição são os que se baseiam nas diferentes l igações dos homens para 
com as famílias particulares ou pessoas que dese jam ver a governa- los .
Foram os partidos de princípios os que mais se desenvolveram, 
absorvendo os grupos de interesses. No final do séc . XVIII, Edmund Burke 
já se refer ia ao partido como “um corpo de homens que se unem para colocar 
seus esforços comuns a serviço do interesse nacional , sobre a base de um 
princípio ao qual todos aderem”. A cr ítica de Ostrogorski a esse conceito é 
que e le , além de dar ao partido o caráter de agrupamento particular , 
considera-o resultante de acordo sobre um princ ípio determinado. Os 
partidos acabaram impondo-se como entidades públ icas , objetivando a 
total idade da vida social . Benjamim Constant, escrevendo no iníc io do séc . 
XIX, conceituava o partido como “uma reunião de homens que professam a 
mesma doutrina pol ítica”, o que pareceu a Burdeau excessivamente restr ito, 
pois tal reunião é apenas um meio necessário de objet ivos muito mais 
amplos.
 
Quanto à natureza jurídica dos partidos Santi Romano e Biscarett i 
Di Ruffia atribuíram a e les a natureza de entes auxi l iares do Estado que 
são “entidades sociais tendentes a transformarem-se em instituições”. 
Ferre ira Filho vai mais além, considerando que os partidos são instituições, 
dotadas de personalidade jurídica e s ituadas no âmbito do dire ito públ ico 
interno, sendo esta a conclusão predominante entre os modernos autores.
Tendo-se afirmado no iníc io do séc . XIX como instrumentos eficazes 
da opinião pública, os partidos pol íticos se impuseram como o veículo 
natural da representação polít ica. 
Considerando alguns dos aspectos fundamentais , é possível fazer-se 
uma c lassificação dos s istemas partidários quanto a organização interna :
 Partidos de quadros , quando, mais preocupados com a qual idade de seus 
membros do que com a quantidade deles, não buscam reunir o maior

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