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17/11/2020 Versão para impressão - HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL
https://conteudo.catolica.edu.br/conteudos/unileste_cursos/disciplinas/nucleo_formacao_geral/Psicologia_social_e_da_personalidade/tema_02/… 1/31
HISTÓRIA DA
PSICOLOGIA SOCIAL
17/11/2020 Versão para impressão - HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL
https://conteudo.catolica.edu.br/conteudos/unileste_cursos/disciplinas/nucleo_formacao_geral/Psicologia_social_e_da_personalidade/tema_02/… 2/31
©2018 Copyright ©Católica EAD. Ensino a distância (EAD) com a qualidade da Universidade Católica de Brasília
Apresentação 
Olá, seja bem-vindo!
Para subsidiar os objetivos propostos, será abordado de forma didática, o estudo história da
Psicologia Social, suas correntes e perspectivas futuras de estudo. De forma harmônica a
temática enfatiza a compreensão do presente e do futuro, uma espécie de “viagem dentro
de outra viagem”, a fim de conhecer como a Psicologia Social veio sendo construída ao
longo do tempo.
Os conteúdos foram organizados e subdivididos em quatro tópicos de forma didática,
objetiva e coerente:
História da Psicologia Social no mundo.
História da Psicologia Social brasileira.
Correntes da Psicologia Social.
Perspectivas atuais de estudo.
Objetivos
Conhecer os marcos históricos mais importantes na configuração do campo da
Psicologia Social nacional e internacional.
Observar as principais correntes da Psicologia Social e para onde ela está
direcionando o seu interesse de estudo na atualidade.
Entender a constituição do panorama da Psicologia Social, seus distintos âmbitos de
estudo e vertentes contemporâneas, a partir do desenrolar de sua história.
17/11/2020 Versão para impressão - HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL
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©2018 Copyright ©Católica EAD. Ensino a distância (EAD) com a qualidade da Universidade Católica de Brasília
Desafio 
Leia o trabalho “Notas sobre cidadania e a condição pós-humana: o caso de Sophia”, de
autoria de Rosemary dos Santos, Luciana Veloso e Dilton Ribeiro Couto Junior,
apresentado no V Colóquio Internacional de Educação, Cidadania e Exclusão, ocorrido na
Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ, entre os dias 28 e 30 de junho de 2018. Reflita
sobre o texto e responda ao seguinte questionamento, com aproximadamente 5 linhas.
Que desafios o pós-humanismo propõe à Psicologia Social?
https://editorarealize.com.br/editora/anais/ceduce/2018/TRABALHO_EV111_MD1_SA6_ID630_29032018194731.pdf
17/11/2020 Versão para impressão - HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL
https://conteudo.catolica.edu.br/conteudos/unileste_cursos/disciplinas/nucleo_formacao_geral/Psicologia_social_e_da_personalidade/tema_02/… 4/31
©2018 Copyright ©Católica EAD. Ensino a distância (EAD) com a qualidade da Universidade Católica de Brasília
Conteúdo 
Conhecimento do percurso histórico de um campo
de estudo
O que a história de um campo de estudo tem a nos dizer sobre ele? Conhecer a história de
uma disciplina é mero artifício de erudição? Strey e outros, apresentam a seguinte reflexão:
[...] existem formas e formas de se contar histórias. [...]. Em última instância, a
perspectiva do autor, seu texto e seu contexto, crenças, conceitos e pré-conceitos
delimitam os recortes do contar a história. A forma como se conta a história
também influencia o que e como esta será contada. Se nos prendemos às pessoas
(reais ou imaginárias) a história de determinada ideia, cultura ou sociedade
ganha contornos inimagináveis. [...] a enorme habilidade de transformações de
sujeitos simples em mártires. [...]. Por outro lado, se nos prendemos a fatos,
instituições ou acontecimentos relevantes, a história ganha novos limites, novas
cores e texturas. Assim, de imediato algumas questões se colocam: a perspectiva
determinista-linear de história se encontra em xeque. A relação entre passado
(determinando) o presente (que determina) o futuro, apresentada nesta
linearidade, na maioria das vezes mais obscurece o desenvolvimento de
determinada questão do que lança luzes. [...]. [...] fatos presentes acabam por
ressignificar o passado e, consequentemente, modificar o presente. Os caminhos
do futuro, antes já delimitados, tornam-se incertos e imprecisos. Abala-se a
estrutura linear da temporalidade. Tempo e espaço se modificam [...]. .[...]. O
processo histórico é contínuo, mas não linear. [...]. [...] todas as chamadas
rupturas históricas não acontecem da noite para o dia e, sim, são lentamente
preparadas [...]. [...]. Os conflitos fazem parte de tradições e histórias entre os
povos. Às vezes são abafados por anos a fio por estados ditatoriais, governando à
mão de ferro [...]. Todas as rivalidades, ódios, jogos de interesses econômicos,
sociais, políticos e relações de poder estavam sempre presentes no cotidiano dos
povos [...]. [...] a todo momento novos documentos vêm à tona, ressignificando o
passado e transformando o presente (Strey et al.  2013, p. 19-20).
17/11/2020 Versão para impressão - HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL
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Como visto, observar a história seja do que for, inclusive a de uma disciplina, está muito
longe de ser uma tarefa exclusiva de historiadores e literatos, ou uma mera atividade lúdica,
ou uma ação com vistas a tornar-se uma pessoa de ilustração. Recorrer ao conhecimento
do percurso histórico de um campo de estudo, com suas idas e vindas, bifurcações,
inversões de rota, becos sem saída, permite identificar e entender a interação de forças que
agiram e agem sobre e dentro dele, bem como o formato que passou a adquirir a partir
desse entramado e quais outras configurações seriam e são possíveis.
Assim sendo, estudar a história da Psicologia Social, como afirmam Strey et al. (2013),
possibilita
o resgate daqueles elementos “esquecidos” de sua trajetória.
evidenciar que determinadas definições irrefutáveis e predominantes advém de um
positivismo científico que sacrifica o humano.
indicar a relevância e interferência de determinadas instituições e fatos históricos em
seu desenvolvimento.
História da Psicologia Social no mundo
Se conceber metaforicamente a Psicologia Social como uma árvore, seria possível afirmar,
então, que as raízes são a sua história. Alguns marcos históricos fundamentais e suas
repercussões no campo psicossocial serão enfatizados. É válido destacar que conteúdo que
será apresentado não deve ser tomado como algo absoluto, mas como uma bússola.
Ao buscar informações sobre onde, quando e como tem início a história da Psicologia
Social observa-se que diversos autores atribui a sua fundação. Silvia Lane (2009) , por
exemplo, indica que para vários estudiosos ela foi obra de Augusto Comte (1839-1834), que
considerava o psíquico um objeto da Biologia, da Sociologia e da Moral, tratando-se a
Psicologia Social de um subproduto das duas últimas áreas mencionadas.
A Psicologia Social para Comte, segundo Lane (2009), seria a ciência que daria conta de
explicar como o indivíduo pode ser, ao mesmo tempo, causa e consequência da sociedade.
Entretanto, foi somente após a Primeira Guerra e buscando compreender as crises e
convulsões sociais, que a Psicologia Social, assim como outras ciências sociais, se
desenvolveu como estudo científico sistemático (LANE, 2009).
De acordo com Strey et al. (2013), de uma forma bastante criativa, começam a contar a
história da Psicologia Social a modo de relato biográfico. Para os referidos autores seu pai
foi Wilhelm Wundt, sua mãe a Filosofia e a maternidade onde nasceu se chamava
Laboratório de Psicologia Experimental. Em sua certidão de nascimento constavam dados
como: ano = 1879; país = Alemanha; características pessoais = objeto de estudo e método
próprios; rompimento de cordão umbilical = fazer da Psicologia uma ciência independente.
17/11/2020 Versão para impressão - HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL
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Quando inaugurou o instituto de pesquisa, o projeto de Wundt era desenvolver uma
psicologia experimental da mente que investigasse a experiência imediata à consciência
com base em um método experimental-introspectivo. Pretendia elaborar uma metafísica
científica (ou filosofia científica) e foi bastante criticado pelos adeptos do pensamento
positivista (então predominante), que entendiam que metafísica e ciência correspondiam a
estágios distintos do desenvolvimento evolutivo do conhecimento (sendo a metafísica um
pensamento filosófico sem métodos rigorosos e sistemáticos de comprovação da realidade,
ela corresponderia a um estágio anterior ao científico e inferior a ele, no tocante à
demonstração da verdade) e, portanto, não poderiam jamais ser unificados.
Apesar das críticas, Wundt seguiu adiante em seu projeto e o desenrolar de suas pesquisas
fizeram com que sua inquietude intelectual passasse a girar em torno da necessidade de
construção de uma psicologia social, necessariamente separada da psicologia experimental
que ele vinha desenvolvendo. Assim, durante os primeiros anos do século XX (1900-1920)
ele esteve dedicado à produção de uma obra de dez volumes, cujo título traduzido ao
português seria “Psicologia do Povo” ou “Psicologia das Massas”. Tratava de fenômenos
coletivos que não podiam ser explicados nem reduzidos à consciência individual e também
não pesquisados por meio do método experimental-introspectivo que ele havia criado,
dadas às limitações do mesmo a pequenos experimentos de laboratório. Os temas tratados
na obra Volkerpsychologie eram a linguagem, o pensamento, a cultura, os mitos, a religião,
os costumes, e demais fenômenos correlatos (STREY et al., 2013).
Sobre o estudo dos fenômenos mentais individuais e coletivos e suas particularidades, cabe
acrescentar alguns dados históricos relevantes sobre o que estava ocorrendo no seio das
Ciências Humanas e Sociais em termos de pesquisa nessa direção. Em 1895, Gustav Le Bon
(França) contrapôs a racionalidade do indivíduo e a irracionalidade das multidões. Em 1898,
Émile Durkheim (França), considerado um dos fundadores da Sociologia como disciplina,
diferenciou as representações coletivas das individuais, separando, com efeito, a Sociologia
e a Psicologia. Já nos anos 20, Sigmund Freud (Áustria) reconduziu seu interesse do estudo
clínico à crítica psicanalítica da cultura e dos fenômenos de massa. Todos estes teóricos
europeus, assim como Wundt, eram antirreducionistas, ou seja, estavam convencidos de
que os fenômenos coletivos não podiam ser explicados a partir dos fenômenos individuais
(FARR , 1991, apud CAMPOS; GUARESCHI , 2014).
Embora considere que as raízes da Psicologia Social sejam europeias, Robert M. Farr (1991,
apud CAMPOS; GUARESCHI, 2014) afirma que, na Era Moderna, ela deve ser considerada
como uma manifestação tipicamente estadunidense. Contemporâneo dos teóricos
mencionados, o norte-americano Floyd Allport publicou em 1924 um manual de Psicologia
Social que se tornou um clássico em seu país e estabeleceu a Psicologia Social na América
como uma ciência behaviorista e experimental.
Allport, diferentemente dos teóricos europeus, era um reducionista. Criticou veementemente
a concepção de uma mente grupal e defendeu com ferocidade a ideia de que a multidão não
pode ser consciente porque não dispõem de um sistema nervoso central. Este argumento
17/11/2020 Versão para impressão - HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL
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ganhou adeptos e acabou contribuindo para que a Psicologia deixasse de ser uma ciência
da mente para tornar-se uma ciência do comportamento. Dentro desse panorama, a
Psicologia Social ficaria dedicada ao estudo dos efeitos da facilitação social, avaliando a
influência da presença dos outros, como coautores ou como audiência, na performance
individual (FARR, 1991, apud CAMPOS; GUARESCHI, 2014).
A obra de Floyd Allport, segundo Farr (1991, apud CAMPOS; GUARESCHI, 2014), foi a origem
do que veio a se tornar a tradição dominante na América da Era Moderna: a individualização
da Psicologia Social ou uma “Psicologia Social Psicológica”. Os princípios básicos da
Psicologia Social Psicológica de natureza behaviorista, segundo Strey et al. (2013), são:
explicar os fenômenos sociais através de tratá-los como fenômenos naturais para que seja
possível a aplicação dos métodos experimentais (lógica positivista); seus modelos
explicativos remetem sempre em última instância às explicações centradas exclusivamente
no indivíduo; abandono ou negação de perspectivas e referenciais histórico-críticos.
Observa-se em Farr (1991, apud CAMPOS; GUARESCHI, 2014) que o behaviorismo,
consistente com o individualismo metodológico, leva à individualização das ciências
sociais. Nesse diapasão, verbi gratia, as instituições são analisadas não em termos de um
todo grupal, mas do comportamento particular dos indivíduos que as integram (perspectiva
reducionista). Apesar de ter sido essa a corrente mais potente dentro da Psicologia Social
individualista norte-americana da primeira metade do século XX, ela não foi a única força
em funcionamento durante a construção da Psicologia Social Psicológica estadunidense
difundida no mundo.
Cognitivistas como Gordon Allport (irmão de Floyd Allport) e gestaltistas europeus que
migraram para os Estados Unidos no período entre guerras como Kurt Lewin fizeram
despontar em território americano a vertente cognitivista da Psicologia Social Psicológica,
segundo Strey et al. (2013), marcadamente fenomenológica (FARR 1991, apud CAMPOS;
GUARESCHI, 2014).
Conforme já mencionado, os processos de apagamento podem ocorrer na edificação de
relatos históricos, um exemplo disso, na história da Psicologia Social, na esteia de Strey et
al. (2013), diz respeito ao interacionismo simbólico de George Herbert Mead, retirado pelos
positivistas dos manuais clássicos.
George Mead era um behaviorista social, que produziu um pensamento bastante diferente
do clássico de Watson e do behaviorismo radical de Skinner. Mead estudava a linguagem
e o pensamento humano dentro um contexto evolucionista, considerava a linguagem um
fenômeno intrinsecamente social e pensava o “self como o intermediador entre a mente e a
sociedade. A mente, na concepção de Mead, era a síntese de fenômenos ocorridos no plano
coletivo e no plano individual (STREY et al., 2013),
17/11/2020 Versão para impressão - HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL
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George Mead [...], considerado por seus discípulos como o criador do
interacionismo simbólico, foi aluno de Wundt durante um semestre em Leipzig.
Tentou solucionar a dicotomia proposta por Wundt entre os processos individuais
e sociais e apresentou uma teorização acerca da constituição do “self”, segundo
Mead, resultante “da” e “na” articulação de um “mim” desenvolvido a partir da
internalização da sociedade, das instituições e normas, com um “eu” espontâneo
que na interação com o mundo repõe ou atualiza as informações internas e a
estrutura do seu ser. A linguagem para Mead era uma forma de gesto necessário
para a articulação do “self” com o outro, imprescindível para a incorporação
das atitudes (LIMA, 2010, p. 73).
Robert Farr (2010, apud FAZZI; LIMA, 2016), Strey et al. (2013) e Lindesmith, Strauss e
Denzin  (2006) sustentam que a “Psicologia Social Sociológica”, além de coincidente em
grande medida (ainda que não plenamente) com o interacionismo simbólico de Mead, tem
nele a sua gênese. Ademais, segundo Robert Farr (2010, apud FAZZI; LIMA, 2016), a
Sociologia praticada nos Estados Unidos durante os primeiros trinta anos do século XX
(Escola de Chicago) – que nasce influenciada por Tarde, Simmel e Weber  (FAZZI e LIMA,
2016) – era precisamente uma forma disso que hoje denomina-se de “Psicologia Social
Sociológica”.
Alvaroe Garrido  (2007), por certo, consideram o sociólogo francês Gabriel Tarde o
fundador da Psicologia Social Sociológica. Já Lindesmith, Strauss e Denzin (2006) definem
que foi a partir do interacionismo simbólico de Mead que a Psicologia Social cindiu-se
basicamente em duas grandes linhas teóricas em torno das quais foram se aglutinando
diversas outras correntes psicossociais ao longo do tempo: uma interpretativa, que enfatiza
as dimensões interativa, histórica, emocional e interpretativa da experiência humana, e outra
cognitiva, mais voltada à predição e ao controle da conduta humana.
Outro apagamento histórico promovido pelos positivistas, e também mais um exemplo da
influência das guerras na configuração histórica da Psicologia Social, diz respeito à Teoria
Crítica da Escola de Frankfurt, de influência marxista e inaugurada na década de 1920.Para
compreender um pouco melhor esta questão, o seguinte trecho, comenta um pouco sobre a
produção intelectual de alguns dos autores da Teoria Crítica:
17/11/2020 Versão para impressão - HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL
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[...] Horkheimer inaugura uma linha teórica que deveria se preocupar com a
crítica da ciência e da técnica como elementos de manutenção da ideologia e da
alienação. Os termos Escola de Frankfurt e Teoria Crítica, poderiam sugerir tal
unidade temática e consenso epistemológico e político que, vale destacar,
raramente existiu entre os representantes dessa escola. Poderíamos dizer que o
que ligaria esses autores seria sua produção teórica orientada à reflexão crítica,
dialética e dialógica [...]. [...] Adorno e Horkheimer [...] demonstraram a
descrença na razão crítica. A razão, que era o legado do Iluminismo, [...] era
vista na concretização por esses autores como seu oposto, como barbárie. A
técnica e o conhecimento que deveriam libertar os indivíduos são invertidos em
algemas que impediam os mesmos da emancipação. A onipotência da esfera
capitalista estaria transformando todas as relações entre pessoas em um fim em
si mesmas, ou seja, em meras relações econômicas. Para dar conta dessa nova
questão desenvolvem a dialética negativa, que tinha como objetivo desvelar os
elementos de dominação nas relações, nos instrumentos, nas técnicas etc. Com o
conceito de indústria cultural passam a demonstrar como a cultura tem sido
administrada pelos meios de comunicação e com isso cooptada pelos ideais de
produção. [...] Marcuse [...] contribuirá com a crítica desenvolvida
principalmente por Adorno [...] ao pensamento positivista [...]. Para Marcuse, o
lugar que a tecnologia ocupa atualmente não é mais o de mero instrumento, mas
o de determinação das necessidades, aspirações e desejos humanos [...]. [...]
Aquilo que Marcuse denuncia teoricamente em seu trabalho é denunciado
empiricamente por Benjamin em sua análise da produção artística. [...] A obra
de arte na sociedade capitalista é vista por Benjamin, assim como a vida
humana, desencantada de sua originalidade, em outras palavras, na sociedade
da mera reprodutividade, estas teriam perdido sua “aura”, invólucro da
singularidade. Essa perda seria resultado de dois fatores básicos: a tecnificação
crescente do mundo e a reprodutividade da arte, das coisas e das relações, que
leva tudo a massificação e consumo (LIMA, 2010, p. 74-75).
Conforme Strey et al. (2013), vários dos integrantes da Escola de Frankfurt migraram de
maneira forçada para os Estados Unidos no período entre guerras, especialmente, depois do
fechamento de seu instituto de pesquisa por determinação de Hitler. Isso fomentou a
disseminação da Teoria Crítica para além da Europa continental e sua influência, em alguma
medida, sobre as pesquisas e análises psicossociais que estavam sendo desenvolvidas
naquele momento. Comentam ainda Strey et al. (2013) que foi imediatamente após refugiar-
se em solo norte-americano que Theodor Adorno elaborou seu estudo sobre a
personalidade autoritária, estudo este que foi um marco na Psicologia Social europeia, que à
diferença da tradição norte-americana possui um viés mais marcadamente sociológico.
17/11/2020 Versão para impressão - HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL
https://conteudo.catolica.edu.br/conteudos/unileste_cursos/disciplinas/nucleo_formacao_geral/Psicologia_social_e_da_personalidade/tema_0… 10/31
Nas palavras de Strey et al. (2013), “O positivismo influenciou e influencia a forma de contar
a história da psicologia em geral e da psicologia social em particular de maneira
significativa, estabelecendo com a própria psicologia reducionismos em sua construção de
conhecimento […]” (p. 27). Em linhas gerais, pode-se dizer que as discussões que ocorreram
em torno da questão do positivismo científico, e que atingiram tanto as Ciências Sociais
quanto a Psicologia Social, terminaram por gerar um cenário de cisão entre pesquisa
“política” e “neutra”, ou crítica e acrítica. Também a Guerra Fria (início dos anos 50), segundo
Farr (1991, apud CAMPOS; GUARESCHI, 2014), deixou marcas na história das Ciências
Humanas e Sociais, uma vez que, em função da propensão dos controladores dos fundos
destinados à investigação de confundir pesquisa social com socialismo, elas passaram a
referir-se a si mesmas como ciências comportamentais, acelerando de maneira formidável
o processo de individualização do social. Isso incidiu particularmente sobre a Psicologia
Social, impedindo-a de ressocializar as suas análises. Após a Guerra Fria (final dos anos 60)
começa a ocorrer o saneamento das ciências comportamentais e a emergência da pesquisa
social interdisciplinar, fazendo da Psicologia Social um empreendimento cada vez mais
multidisciplinar.
Não obstante, conforme Silvia Lane (2009), foi também a partir do final da década de 1960
que começaram a surgir na Europa e nos Estados Unidos críticas e questionamentos à
proposta de acumular dados de pesquisas psicossociais para a posteriori chegar à
formulação de teorias globalizadoras, ou seja, com caráter de “leis universais” que deveriam
reger o comportamento social dos indivíduos. Tal proposta mostrou-se inviável porque a
construção de teorias ditas “puras” com base nos estudos empíricos acumulados até o
momento, com emprego de questionários, testes e outros procedimentos técnicos, não
fazia mais que reproduzir as mesmas condições sociais de vida, mantendo inalteradas as
relações sociais de poder. A isso se refere o termo “crise da Psicologia Social”, que foi tema
de inúmeros debates e artigos. As críticas mais incisivas partiram da Europa
(principalmente França e Inglaterra) e denunciavam o caráter ideológico do modo norte-
americano de fazer Psicologia Social que vinha preponderando no mundo sem acrescentar
nada de específico sobre o contexto social de cada país.
É nessa mesma linha que é preciso considerar que se circunscreve a perspectiva do
mexicano Pablo Fernández Christlieb (2005) sobre a história da Psicologia Social. Ele
aponta que o que hoje se conhece como Psicologia Social foi em algum momento no
passado conhecido como Psicologia Coletiva. Segundo ele, essa alteração não se deu
meramente no nível da nomenclatura: o cientificismo negou a narração como modo de
conhecimento válido e isso retirou o pensar psicossocial da Literatura (que para ele não é
linguagem, mas forma feita com palavras), transmutando o conhecimento estético em
conhecimento discursivo. Assim, o mundo da Psicologia Coletiva, que era o das imagens,
dos ambientes e do pensamento afetivo, foi convertido, enquanto Psicologia Social, em um
mundo de linguagem, relações interpessoais e pensamento racional. Com o passar do
tempo, entretanto, a profusão da técnica acabou esvaziando esses mesmos conteúdos de
sentido (CHRISTLIEB , 2005).
17/11/2020 Versão para impressão - HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL
https://conteudo.catolica.edu.br/conteudos/unileste_cursos/disciplinas/nucleo_formacao_geral/Psicologia_social_e_da_personalidade/tema_02… 11/31
O positivismo,como o seu próprio nome indica, é aquela concepção de ciência
que considera que o conhecimento deve se limitar a dados positivos, a fatos e
suas relações empiricamente verificáveis, deixando de lado tudo aquilo que possa
ser caracterizado como metafísica. É por isso que o positivismo realça e enfatiza
o como dos fenômenos, tendendo a ignorar o que, o porquê e o para que. Isso,
obviamente, supõe uma parcialização da existência humana que oculta os seus
significados mais importantes. Não é de estranhar, portanto, que o positivismo se
sinta tão à vontade no laboratório, onde pode “controlar” todas as variáveis, e
acabe reduzindo suas análises a verdadeiras trivialidades, que pouco ou nada
dizem sobre os problemas do dia a dia (MARTÍN-BARÓ , 2006, p. 9; tradução
nossa).
Com fulcro em Silvia Lane (1991, apud CAMPOS; GUARESCHI, 2014), pode-se afirmar que a
estrutura teórica da Psicologia Social confeccionada no hemisfério norte do globo, uma vez
assentada e reproduzida na América Latina, passou por um processo de reconfiguração e
adquiriu uma identidade própria nessa região. Isso ocorreu a partir do questionamento de
vários intelectuais latino-americanos quanto à capacidade do sentido do conhecimento
psicossocial importado de dar respostas às questões próprias da realidade social desse
subcontinente, marcado pela colonização, expropriação, dominação, e suas consequências
em termos de exclusão, barbárie, miséria, desigualdades e demais correlatos.
Nesse sentido, Silvia Lane (1991, apud CAMPOS; GUARESCHI, 2014) indica dois exemplos
que, segundo ela, impulsionaram a procura de uma ação transformadora por parte dos
psicólogos sociais: 1) educadores como o brasileiro Paulo Freire desenvolveram
procedimentos instrumentais de educação popular voltados para o desenvolvimento da
consciência social com vistas à constituição de comunidades autônomas, organizadas para
reivindicar providências governamentais que satisfaçam suas necessidades básicas de
sobrevivência; 2) sociólogos como o colombiano Orlando Fals Borda buscaram soluções
para um trabalho científico de conhecimento e intervenção (pesquisa-ação) orientados aos
grupos sociais excluídos com a finalidade de desenvolver consciências individuais e grupais
de maneira horizontalizada e fomentar sua inserção nos processos sociais.
Fortemente influenciado por Fals Borda e Freire, o espanhol radicado em El Salvador, Ignacio
Martín-Baró, foi o precursor da corrente psicossocial latino-americana denominada
Psicologia da Libertação, uma forma de saber-fazer psicológico: a) alicerçado na raiz dos
fenômenos psicossociais, de tal maneira que as dores e as rebeliões de uma sociedade não
mais sejam vistas como meras “patologias”; b) comprometido com uma nova práxis,
conceito marxista que propõe o desmantelamento das relações sociais que rebaixam,
humilham e abandonam seres humanos; c) que trabalha lado a lado com mulheres e
homens empobrecidos, oprimidos e explorados; d) cuja perspectiva implica,
17/11/2020 Versão para impressão - HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL
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necessariamente, um compromisso crítico e situado; e) que tem como horizonte ético-
político que o mundo não deve ser somente conhecido, mas transformado (DOBLES-
OROPEZA , 2015).
Enfim, a busca de novos caminhos para um entendimento profundo e concreto da realidade
social latino-americana, suas mazelas e suas potências, e a necessidade do giro à ação
social e política capaz de fazer frente às injustiças e assujeitamentos fizeram com que
diversos intelectuais e profissionais das ciências sociais em vários países da América
Latina passassem a trabalhar junto às classes obreiras e campesinas, e também suas
famílias, em prol da constituição de uma comunidade de trocas entre pessoas
aparentemente diferentes, em que o saber profissional não dominasse o saber popular e
fosse superado o individualismo fortemente arraigado. Isso tornou possível a eclosão de
uma tendência na América Latina assentada na ideia de que o verdadeiro conhecimento do
ser humano depende de considerá-lo como uma totalidade constituída a partir de relações
sociais vivenciadas e experienciadas em um contexto sócio histórico peculiar (LANE, 1991,
apud CAMPOS; GUARESCHI, 2014).
História da Psicologia Social brasileira
No Brasil, a Psicologia Social chegou no final da década de 1930, sob a denominação de
Medicina Social, pelas mãos de Nina Rodrigues, quem, tal como Arthur Ramos na década de
1950, defendeu ser tarefa desse campo do conhecimento contribuir com o progresso social
por meio do entendimento da origem da barbárie, com base na explicação do
comportamento anormal, antissocial e antipatriótico, e da promoção da adaptação dos
indivíduos à ordem social estabelecida.
Arthur Ramos dedicou-se ao estudo de conceitos tais como “inconsciente primitivo” e
“personalidade degenerada”, tendo sido um dos responsáveis pelas campanhas higienistas
que responsabilizavam os indivíduos, especialmente os negros, cabe acrescentar, pelas
doenças, pobreza e desigualdades existentes no país. Ambos discorreram sobre
“coletividades anormais” e “domesticação dos selvagens”. Esse modelo foi importado da
América do Norte, de teorias que vinculavam a Psicologia Social à psicopatologia (LIMA ,
2010).
De acordo com Silvia Lane (2009), a predominância da influência norte-americana na
Psicologia brasileira esteve muito relacionada a seus centros de estudo, para onde se
destinaram pesquisadores e docentes brasileiros com a finalidade de aperfeiçoar seus
conhecimentos. Além disso, desses mesmos centros estadunidenses proveio mais de um
professor universitário convidado, tais como Otto Klineberg (LANE, 2009). Por certo, o
primeiro manual de Psicologia Social publicado no Brasil foi a tradução da obra de
Klineberg, contendo tópicos como “Patologia Social” e “Política Interna e Internacional”; ele,
ademais, foi o responsável pela introdução da Psicologia Social na Universidade de São
Paulo na década de 1950.
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Somente anos depois, em 1962, é que ocorreu a institucionalização da Psicologia Social no
Brasil, com a criação do currículo mínimo para os cursos de Psicologia, Lei 4119/62, e o
estabelecimento da obrigatoriedade do ensino da disciplina por meio do parecer 403/62 do
Conselho Federal de Educação (FERREIRA , 2010).
O modelo norte-americano de Psicologia Social como ciência “neutra” e tecnologia social de
adaptação perdurou no Brasil até a década de 1980, tendo Aroldo Rodrigues como principal
expoente (LIMA, 2010). Em 1973, ele foi eleito presidente da Associação Latino-Americana
de Psicologia Social (ALAPSO), mas devido ao clima inamistoso que dividia a agremiação
por conta das discordâncias sobre a essência e a finalidade da Psicologia Social, que sob a
gestão de Aroldo estava totalmente voltada à psicologia social psicológica nos moldes
norte-americanos, vários membros da ALAPSO no Brasil romperam com esta associação na
década de 1980 e fundaram a ABRAPSO (LIMA, 2009).
O personagem de maior destaque neste rompimento foi Silvia Lane. Ela confrontava
radicalmente a posição de Aroldo Rodrigues, que sustentava que no Brasil os psicólogos
sociais nem faziam ciência nem se interessavam por metodologia nem por teoria
psicossocial, estando concentrados quase que exclusivamente em fazer política. Silvia
Lane, em contraposição, questionava, em nome de muitos a neutralidade da pesquisa e o
status de ciência defendido por Aroldo Rodrigues. Advogava por um modelo de Psicologia
Social que devia rever suas práticas acríticas de acomodação do sujeito a sua realidade
social – práticas essas que são igualmente políticas, ainda que seus praticantes não
queiram vê-lo dessa forma – em prol de um pensar-fazer psicossocial ancoradonos
problemas sociais que afligem os brasileiros – e não apenas uma minúscula parcela deles,
detentora, ademais, de privilégios – e comprometidos com a transformação dessa realidade
não às custas de sacrificar sujeitos, mas de desfazer os grilhões da opressão (LIMA, 2009).
A partir da década de 1970, diversos psicólogos sociais brasileiros começaram a inspirar-se
nos trabalhos de teóricos da Escola de Frankfurt e na corrente de pensamento que ela
produziu sob o título de Teoria Crítica. Silvia Lane foi uma das disseminadoras dessas ideias
na Psicologia Social brasileira, sobretudo por meio da ABRAPSO, com o propósito de
construir um conhecimento e uma prática psicossociais voltados à emancipação social.
Também Antônio da Costa Ciampa, no final da década de 1980, orientado pela Teoria Crítica
e o interacionismo simbólico George Mead, ofereceu à Psicologia Social brasileira uma
importante contribuição à teoria da identidade social. Antes compreendida de forma
estática, a identidade passou a ser entendida como metamorfose graças ao teorema criado
por Ciampa (LIMA, 2010).
Outras duas figuras de peso na história e renovação da Psicologia Social brasileira são Ecléa
Bosi e Bader Burihan Sawaia. Ecléa, como nos instrui Marilena Chauí (2008), foi uma
pesquisadora-militante que se debruçou sobre a experiência, a narrativa, o testemunho, a
história oral, as histórias de vida e a memória para que pudessem ser reconhecidas as
“vozes e fisionomias que a sociedade de classes e a cultura de massa forçam ao silêncio e
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à obscuridade” (CHAUÍ , 2008, p. 17), fazendo da atividade intelectual e da pesquisa
científica um “compromisso de luta contra a violência cotidiana da sociedade capitalista, em
geral, e da brasileira, em particular” (idem).
Bader Sawaia  (2001, p. 97-98), introduziu na Psicologia Social brasileira os conceitos de
sofrimento ético-político e perda de potência de ação, partindo de reflexões teórico-
empíricas acerca da dialética presente no binômio inclusão-exclusão social e sua relação
com a afetividade. Ela trabalhou durante anos com população de rua. Suas ideias seguem e
fomentam o uso de categorias de análise desestabilizadoras, capazes de transpassar o
conhecimento hegemônico com indagações que contenham potencial para desbancar “o
uso moralizador e normatizador de conceitos científicos que culpabilizam o indivíduo por
sua situação social e legitimam relações de poder, apoiados no princípio da neutralidade
científica”.
No âmbito das intervenções psicossociais, merecem destaque, por exemplo, os trabalhos de
alguns pesquisadores do nordeste brasileiro, como o de César Wagner Góis, realizados na
década de 1990, em comunidades em situação de vulnerabilidade social e que passaram a
ser modelos de inspiração para práticas transformadoras. Góis, guiado pela produção
intelectual de autores provenientes da educação (Paulo Freire), a biodança, a Psicologia
Social (francesa, soviética e brasileira crítica) e o materialismo histórico e dialético,
desenvolveu um modelo criativo de intervenção interdisciplinar em Psicologia Comunitária,
capaz de despertar uma consciência crítica nos sujeitos viabilizando a construção de uma
noção de projeto, de processo transformador, para que eles próprios pudessem se tornar
agentes autônomos de transformação (LIMA, 2010).
Correntes da Psicologia Social
As correntes de um campo do saber são efetivamente consideradas as suas ramificações,
ou seja, os pressupostos ou diretrizes programáticas que conduzem a sua materialização
mais evidente. Na Psicologia Social brasileira, são consideradas as mais contundentes, são
elas: a Psicologia Social Comunitária, a Psicologia Política, a Psicologia Social Crítica e a
Psicologia Social Sócio-Histórica. Vale advertir que com frequência suas análises se
aproximam, se entrecruzam ou se combinam.
Psicologia Social Comunitária
A Psicologia Social Comunitária, conforme Maritza Montero  (1984), começou a constituir-
se como disciplina entre final dos anos 60 e início dos anos 70 e possui uma estratégia
metodológica baseada na investigação-ação, que significa uma junção entre a pesquisa e a
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intervenção social local com vistas a produzir mudança social e conscientização, uma
prática de pesquisa engajada que tem como foco o desenvolvimento efetivo da participação
comunitária.
Seu objeto de estudo consiste na mobilização de um grupo particular, uma comunidade,
para o enfrentamento e solução de seus problemas. Mais do que científicos, os
pesquisadores em Psicologia Social Comunitária são agentes mediadores de mudanças,
que trabalham de mãos dadas com a comunidade na compreensão das dimensões reais
dos problemas que ela enfrenta e identificando potencialidades de enfrentamento e
transformação.
Para Montero (1984), os objetos de estudo da Psicologia Social Comunitária são a análise
dos processos sociais, o estudo das interações em um sistema social específico e o
desenho de intervenções sociais, tudo isso relacionado ao ser humano dentro de sua
comunidade. A autora define a Psicologia Social Comunitária como um ramo da Psicologia
Social que estuda os fatores psicossociais que permitem o fomento, o desenvolvimento e a
manutenção do controle e poder dos sujeitos de uma comunidade sobre o seu meio
ambiente pessoal e coletivo, a fim de que eles possam ser o centro de gravidade do
comando da comunidade, e afrontar as adversidades produzindo mudanças em seu entorno
e na estrutura social.
O objetivo da Psicologia Social Comunitária é estimular a autonomia e a autodeterminação
coletiva através de observar e impulsionar processos de mudanças psicológicas com
sentido político que ocorrem e se refletem nos níveis individual, grupal e ambiental de forma
interativa e dinâmica.
Silvia Lane  (1988, apud CAMPOS , 2015) destaca dois marcos históricos que motivaram
o desenvolvimento da Psicologia Social Comunitária no Brasil nos moldes já mencionados
pelas mãos da venezuelana Maritza Montero: a ditadura civil-militar brasileira iniciada em
1964 e os movimentos de maio de 1968 na Europa. A extrema repressão e violência do
primeiro evento histórico citado, período em que uma reunião de cinco pessoas já era
considerada subversão, produziu um questionamento entre os profissionais da psicologia,
principalmente na universidade, sobre sua atuação junto à maioria da população e sobre
qual seria o seu papel na conscientização e organização social. Quanto ao segundo evento,
ele reforçou o questionamento ao ensino universitário e à academia, desenvolvendo uma
reflexão crítica quanto ao seu papel, no sentido de que, especialmente em países de
Terceiro Mundo, a universidade não pode se dar ao luxo de ficar fechada em uma “torre de
marfim”.
No mesmo período, surge nos Estados Unidos e em vários países da América Latina a
expressão “Psicologia Social Comunitária”, em alusão ao trabalho de psicólogos junto a
populações carentes. A maioria desses trabalhos, entretanto, eram de cunho assistencial e
caritativo, com emprego de técnicas e procedimentos sem a necessária análise crítica, algo
muito diferente da proposta apresentada por Montero.
https://brasilescola.uol.com.br/historiag/maio-1968.htm
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No Brasil, na década de 1970, os movimentos e experiências antimanicomial e de
alfabetização de adultos uniram psicólogos, psiquiatras, pedagogos, assistentes sociais e
sociólogos em atividades em comunidades tendo como meta a conscientização dapopulação. No primeiro encontro da ABRAPSO em que foi discutida a Psicologia Social
Comunitária no país, em 1981, esses dois eixos de ação, prevenção da saúde mental e
educação popular, consubstanciaram-se e a partir da troca de experiências militantes foram
colocadas as seguintes questões: O que é uma comunidade? Sua existência é possível em
sociedades baseadas na ideia de competição? (LANE, 1988, apud CAMPOS, 2015).
De acordo com Bader Sawaia  (1987, apud CAMPOS , 2015) a comunidade compreende
formas de relacionamento continuado no tempo e qualificado por profundeza emocional,
alto grau de intimidade pessoal e engajamento moral. O que lhe dá vida e movimento é a
dialética da individualidade e da coletividade. Comunidade é dimensão temporal/espacial da
cidadania, isto é, consiste em espaços relacionais de objetivação da sociedade democrática
(plural e igualitária). Tem fundamento no ser humano visto em sua totalidade, não em um
papel a ser desempenhado por ele na ordem social.
É válido evidenciar que a força da comunidade está em uma motivação psicológica
profunda de seus membros e se materializa na fusão das vontades individuais, não na mera
conveniência ou em elementos de racionalidade. Os valores comunitários devem ser
pensados e sentidos como necessidade, sem exigência de abandono da esfera pessoal de
busca da felicidade. O campo de competência da comunidade, ou seja, sua razão de ser, é a
luta por fazer valer o sentido mais profundo da dignidade humana, o que significa uma luta
contra a exclusão de qualquer espécie. Uma psicologia social para qualificar-se de
comunitária precisa colaborar com a criação de espaços relacionais, que vinculam os
indivíduos a territórios físicos ou simbólicos e a temporalidades partilhadas, que lidam com
a realidade do desejo próprio e do outro, construindo um nós (SAWAIA, 1987, apud
CAMPOS, 2015).
Psicologia Política
A Psicologia Política, conforme o espanhol Florencio Jiménez Burillo  (1986), surgiu como
disciplina nos anos 60 e reflete a confluência entre a Psicologia e a Ciência Política. Existem
também sociólogos, historiadores, psiquiatras e antropólogos interessados e atuantes na
área. Seu objeto de estudo seria a conduta política. Como temas de interesse deste âmbito,
o autor indica os seguintes: propaganda política, democracia e comportamento, conduta de
voto, atitudes políticas, relações entre política e condições de sobrevivência, crenças e
valores políticos, discurso político e emoções, política e psicanálise, ideologia e preconceito,
autoritarismo, socialização política.
Ainda, complementa essa lista mencionando alguns assuntos concretos que já foram
pesquisados: papel da família na identificação de crianças com os partidos políticos;
holocausto; estudo psicológico das classes sociais dominantes; causas da guerra; saúde e
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participação política; aspectos psicológicos do desemprego; Psicologia Social do
terrorismo; conceito de eficácia política; utilidade para a Ciência Política da teoria dos traços
da personalidade; televisão e aprendizagem política; barreias psicológicas nas negociações
árabe-israelenses; psicologia do sujeito burocrata; aspectos psicológicos da revolução
iraniana; fascismo contemporâneo; teoria da atribuição de comportamentos e as Relações
Internacionais; implicações psicológicas do desenvolvimento infantil na Era Nuclear.
No Brasil, foi encontrado em Sandoval, Hur e Dantas (2014) o seguinte catálogo de
temáticas pesquisadas em Psicologia Política: participação social, racismo, conflitos com a
lei, liberdade assistida, memória política, ideologia, religião, movimento sindical, políticas
públicas, direitos humanos, gênero e diversidade sexual, juventude, comportamento eleitoral,
elites políticas, conselhos municipais, educação popular, saúde coletiva, movimentos
sociais, consciência política, entre outros.
A materialização do primeiro centro de estudos em Psicologia Política no país, o Núcleo de
Psicologia Política e Movimentos Sociais, ocorreu somente no final da década de 1980,
inaugurado por Salvador Sandoval na PUC-SP. A inclusão das primeiras disciplinas de
Psicologia Política no currículo universitário brasileiro foi acontecer apenas a partir dos
anos 2000, e inicialmente elas nem eram identificadas por essa nomenclatura. A Psicologia
Política utiliza teorias psicossociais e sociais para examinar o mundo da política e o
comportamento das pessoas em uma sociedade referenciada pelo Estado. Na interseção
entre a psicologia e a política, ela estuda o papel do pensamento humano, as emoções e os
fatores sociais como determinantes do comportamento políticos (SANDOVAL; HUR;
DANTAS , 2014).
Sandoval e Silva  (2016) afirmam que desde que a Psicologia Política adquiriu força e
passou a ser considerada dentro do rol das Ciências Sociais, a análise das multidões e dos
movimentos sociais vem prevalecendo entre seus interesses de pesquisa. A participação
em movimentos sociais é a forma de comportamento político mais emotivo entre a
diversidade de modos de participação na arena política. No exame dos processos de
mobilização e desmobilização política tem sido exitosa a aplicação do modelo analítico
para o estudo da consciência política proposto por Salvador Sandoval. Este modelo articula
teorias sobre a identidade em suas múltiplas possibilidades como social, coletiva, política e
cultural, teorias sobre crenças e valores societais, teorias sobre eficácia política, cujos
elementos se referem ao campo das ações coletivas.
Entre as dimensões do modelo aparecem, entre outras, questões como sentimentos de
justiça e injustiça, sentimentos de interesse coletivo e vontade de agir coletivamente. A
consciência política é um construto psicossocial que diz respeito à politização do sujeito,
suas ações politizadas e, em última instância, ao desenvolvimento consciente do seu
caráter político. A politização do indivíduo implica na descontinuidade da rotina cotidiana
por meio da introdução de uma reflexão política problematizadora, crítica e mais
racionalizada das relações de poder e das condições de vida (SANDOVAL; SILVA, 2016).
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Nas análises de Louise Lhullier  (1995, apud CAMINO; LHULLIER; SANDOVAL , 1997)
verifica-se a relevância da contribuição da Psicologia Política aos estudos sobre o
comportamento político. Enquanto na Ciência Política a discussão sobre a relação entre
autoritarismo e autoridade fica basicamente circunscrita ao debate sobre a legitimidade do
exercício do poder, a Psicologia Política busca entender essa questão através de examinar a
construção psicossocial da identidade autoritária pela naturalização das relações de
dominação com base em uma representação vertical das relações sociais. Nesse repertório,
hierarquia, obediência e temor à autoridade são valorizados como fundamento da
organização social, e o uso de instrumentos de coerção e repressão como seus
sustentáculos. O desenvolvimento de formas de convivência social não-autoritárias, que
possibilitem e viabilizem a liberdade democrática e a justiça social para todos, passa pela
compreensão das raízes psicossociais do autoritarismo, arraigado no cotidiano da vida
social contemporânea segundo Lhullier, e isso é tarefa e desafio para a Psicologia Política.
Psicologia Social Crítica
A Psicologia Social Crítica, segundo Montero e Christlieb (2003), não se caracteriza por
possuir um conteúdo programático consensual de temas, interesses e propostas de
pesquisa ou metodologia de trabalho. Se assim fosse, perderiam seu caráter crítico. O que
os estudos em Psicologia Social Crítica compartilham é aquilo do que eles se distanciam. A
palavra “crítica” remete,em termos etimológicos, tanto a “estar em crise” quanto a “instalar
uma crise”. Partindo desse referencial, o que caracteriza a Psicologia Social Crítica é a
vontade de sair da dominância das principais correntes da psicologia social, quer seja em
termos teóricos, acadêmicos ou mesmo das práticas profissionais ou políticas. A Psicologia
Social Crítica pretende criticar a psicologia social estandardizada e institucionalizada, cuja
sede não está na América Latina e o idioma oficial não é nem o português nem o espanhol.
Além disso, a Psicologia Social Crítica procura fazer julgamento da própria psicologia social,
o que significa que ela persegue ser crítica de si mesma. Em outras palavras, o seu estado
mesmo é de crítica. É por isso que as discussões em seu interior são simplesmente
intermináveis. Ela está permanentemente em crise, por entender como um momento livre da
história ou do desenvolvimento de algo, momento em que nada está decidido e a partir do
qual tudo pode surgir.
Defendem Montero e Christlieb (2003) que é positivo que exista uma psicologia social que
não assuma tantas coisas como certas, porque fazer crítica significa considerar que ainda é
possível pensar outros futuros. Isso, para eles, é especialmente importante quando se está
imerso em uma sociedade globalizada por um poder altamente concentrado que faz com
que todos creiam que não há outro remédio senão ser competitivos, buscar clientes, obter
benefícios e, como prêmio, consumir o máximo possível, às custas daqueles que não
tiveram nem habilidades nem aptidões para vencer a concorrência.
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Montero (2004) complementa as ideias apresentadas argumentando que a crítica não é
nem boa nem má, apenas olha para as fatalidades da vida cotidiana. É também mutante,
porque não tem nem forma nem conteúdos predeterminados. A origem grega da palavra
“crise” faz alusão à “ação ou faculdade de escolha”. A Psicologia Social Crítica reconhece
em qualquer fenômeno psicossocial diversas facetas ou possibilidades porque considera
efetivamente a complexidade dos mesmos, e ao optar por assumi-la, distancia-se das
simplificações analíticas.
Grande parte do trabalho da Psicologia Social Crítica está dedicado a revelar as
contradições, lacunas, incoerências, debilidades, e também fortalezas, das teorias,
conceitos e perspectivas aceitas na psicologia social como explicações definitivas. Ao
mostrar os furos na trama teórica ou metodológica dominante, a ausência de fundamentos
ou uma condição argumentativa que pode estar sustentando uma determinada posição
ocultada, a Psicologia Social Crítica gera um “clima de perturbação” dentro da ordem
vigente. Isso revela outra condição da crítica, isto é, submeter a juízo as formas mais ou
menos óbvias, mais ou menos sutis, por meio das quais são exercidas relações de poder
que costumam excluir explicações alternativas ou posicionamentos divergentes para
manter um status-quo injusto. Por isso, a Psicologia Social Crítica se preocupa em ser
também crítica consigo mesma, sinalizando de quais pressupostos parte e por quê o faz
dessa maneira e não de outra, mostrando seus sesgos e tendências no lugar de apresentar
o que defende como se isso fosse a norma a seguir.
Para Lima, Ciampa e Almeida (2009), na esteia do que foi proposto por Silvia Lane,
ressaltam a práxis, o processo dialético, a emancipação e os processos histórico-sociais
como características da Psicologia Social Crítica. A práxis consiste em um agir cotidiano
comprometido integramente com a transformação das condições de vida sociais e
individuais. Ela deve ser crítica e criadora e estar a serviço da emancipação do ser humano.
Para isso, a práxis precisa ser o resultado do processo dialético que deve movimentar teoria
e prática psicossocial.
Por “prática” entende-se tanto a atuação profissional quanto aquela relativa à pesquisa. A
dialética significa o estudo da contradição na essência mesma das coisas e ocorre pela
sucessão de três momentos: tese, antítese e síntese (ALVES , 2010). A possibilidade
transformadora tem de ser a exigência da reflexão teórica no processo dialético e o
pesquisador tem a incumbência de ser um agente político comprometido com a
emancipação, trabalhando em prol da superação de situações sociais intoleráveis.
Na contramão do positivismo, para quem o lugar do teórico, do científico, é sempre um lugar
neutro, politicamente asséptico, a Psicologia Social Crítica está atenta à dinâmica dos
processos históricos-sociais porque entende que a artificialidade da separação entre
realidade e teoria, teoria e pesquisa, atendem às necessidades de controle e
funcionalidades sistêmicas para as quais uma psicologia social adaptacionista tem grande
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serventia. Em oposição a isso, a Psicologia Social Crítica está aberta aos novos modos de
ser e agir e preocupada com os projetos de vida individuais (LIMA; CIAMPA; ALMEIDA,
2009).
Psicologia Social Sócio-Histórica
A Psicologia Social Sócio-Histórica no Brasil, conforme Bock et al.  (2007), tem seu
desenvolvimento atribuído à Silvia Lane e sua nova concepção do ser humano, que apontou
as exigências e condições para um novo projeto para a Psicologia. A proposta de
compromisso social de Lane – que consistia em trabalho coletivo, consciência crítica e
atenção permanente e comprometida com as urgências e necessidades da população –
assentou a base fundamental da transformação da Psicologia como ciência e profissão que
não fizesse da realidade um exemplo dos conceitos teóricos clássicos. Lane fomentou
revisões críticas de experimentos e pesquisas realizadas em contextos sócio-históricos
muito diferentes daqueles vividos na América Latina e no Brasil de então, constatando que
os resultados encontrados não eram nem consistes com os trabalhos originais nem
adequados aos fenômenos sociais presentes na realidade pesquisada em território
nacional. Isso apontou para um vazio teórico e também para a certeza de urgência da
construção de uma nova sistematização (BOCK et al., 2007).
A concepção do ser humano como participante do processo social dirigiu as reflexões de
Lane sobre o psiquismo para a compreensão dos mecanismos produtores de alienação e a
necessidade de ampliação da consciência. Dentro dessa perspectiva, ela analisou dois
aspectos de grande complexidade: a relação entre subjetividade e objetividade e a formação
e o papel dos valores. Sua pretensão era investigar e compreender como o indivíduo está
implicado com sua sociedade, como ele se coloca nela, o que permite ou impede que ele
compreenda as determinações sociais e como ele pode agir sobre elas. O contato com
psicólogos sociais latino-americanos sintonizados com suas inquietudes favoreceu a
construção compartilhada e colaborativa do empreendimento de examinar e entender como
o latino-americano singulariza o universal na constituição particular de sua existência
(BOCK et al., 2007).
Em substituição ao ser humano universal, homogeneizado e naturalizado, Silvia Lane propõe
a concepção de um ser humano social e histórico, que considera a heterogeneidade
humana em suas diferentes demandas, respostas e possibilidades de ser em função das
diferentes determinações sócio-históricas (espaço-temporais) que particularizam as
condições de construção de suas vidas. Lane recorre ao materialismo histórico e dialético,
proposto pelo marxismo, como método de investigação dessa nova concepção de ser
humano. Com isso, ela pretendia superar o positivismo que, na procura da objetividade dos
fatos, perdera o ser humano, para poder encontrar o sujeito da história, o ser humano agente
de mudança, a partir de recuperar o indivíduo na interseção da históriapessoal do mesmo
com a história da sociedade em que vive.
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O método materialista histórico e dialético tem recursos para se compreender o
homem dentro da totalidade histórica, a partir das categorias da dialética
(totalidade, contradição, empírico-abstrato-concreto, mediação). Além disso,
esse método considera que sujeito e objeto estão em relação dialética, portanto
não há neutralidade no conhecimento, há sempre uma intenção do sujeito sobre o
objeto. Essa intenção é histórica e deve ser considerada. Em outras palavras, o
materialismo histórico e dialético permite trabalhar com a historicidade dos
fenômenos e, por isso, contrapõe-se à sua naturalização (BOCK et al., 2007, p.
50).
A desnaturalização dos fenômenos sociais é, portanto, uma das características marcantes
da Psicologia Social Sócio-Histórica impulsionada por Silvia Lane. Isso demandou novas
pesquisas empíricas e novas elaborações conceituais psicossociais que abordassem os
fenômenos sociais e psicológicos na sua historicidade, considerassem a dialética
subjetividade-objetividade e estivessem atentos à formação e mudança de valores. A
concepção laneana de uma subjetividade em processo dialético diz respeito a um processo
contraditório, protagonizado por sujeitos históricos, “revelador da dinâmica entre a
totalidade social e a particularidade das situações individuais, entre o universal e o singular
das experiências humanas” (BOCK et al., 2007, p. 52). O exame da formação e mudança de
valores, desenvolvido por Lane com base na teoria das representações sociais de
Moscovici, foi possível graças a sua verificação de que a linguagem (que é uma construção
histórico-social) e o processo grupal são mediadores das categorias do psiquismo humano
– atividade, consciência e identidade – que, após vários estudos, ela definiu como
fundamentais (BOCK et al., 2007).
Outro traço marcante da Psicologia Social Sócio-Histórica laneana é, pois, a
inseparabilidade entre indivíduo e sociedade, manifestada na unidade contraditória
constituída por ambos. No âmbito da perspectiva psicossocial sócio-histórica, a
individualidade é constituída na relação objetiva do indivíduo com o seu meio físico,
geográfico, histórico e social, cuja ação desenvolve o psiquismo, que é um processo
contraditório constante movido pelas particularidades das vivências, experiências e
relações de cada indivíduo levadas a cabo na vida concreta da totalidade social.
Compreender os aspectos psicológicos em sede de uma dialética subjetividade-objetividade
faz com que, para poder entender o sujeito, seja ineludível examinar e compreender a
realidade social da qual ele participa. Poder pensar as possibilidades de transformação
social passa por conceber que sujeito e sociedade estão articulados em um movimento que
tem por base as contradições do processo histórico.
Perspectivas atuais de estudo
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Uma vez examinado o passado, é necessário agora mirar o futuro. Tendo isso como
propósito, existem na atualidade alguns desafios que a Psicologia Social brasileira deve
enfrentar ou continuar enfrentando. Esses habitualmente abrem perspectivas de estudo que
seriam, como as folhas de uma árvore metafórica. Da mesma forma que as folhas têm
ciclos, as perspectivas de estudo costumam ser também variáveis.
Silvia Lane (1991, apud CAMPOS; GUARESCHI, 2014) propõe a investigação sistemática
sobre como são constituídos os valores morais e éticos no psiquismo humano, por meio da
análise das seguintes categorias: atividade, consciência, afetividade e identidade. Isso é o
que, segundo ela, permitirá orientar uma práxis transformadora capaz de tornar o ser
humano Sujeito consciente da História da Humanidade.
Para Aluísio Ferreira de Lima (2010), o horizonte da Psicologia Social brasileira reside em:
agir para romper as mentalidades estereotipadas exigidas pela racionalidade técnica e
tecnocrática; buscar elementos que esfacelem a imagem do social administrado construída
pela ideologia dominante; estar atenta para encontrar os vestígios da opressão que
impedem os indivíduos de administrarem suas vidas; reivindicar melhorias das condições
concretas de existência; relacionar-se com as políticas sociais de modo a possibilitar o
fortalecimento da voz dos injustiçados; desvelar a opressão onde o que há é mera aparência
de liberdade; lançar luz sobre os fragmentos de emancipação humana, com o compromisso
de poder reinventá-la; não se submeter aos interesses capitalistas ou do Estado;
estabelecer-se como práxis social, isto é, ser atuante na incorporação do outro, do excluído,
lutando para transformá-lo em parte do corpo social não um apêndice, como costuma ser
vista a inclusão social, mas como órgão essencial desse organismo.
Segundo Maria Cristina Ferreira (2010), as diferentes tradições de pesquisa observadas na
América do Norte, Europa e América Latina desembocam em tendências de estudo
diversas. Na América do Norte, fundamentalmente nos Estados Unidos, que predomina uma
psicologia social psicológica, vêm ganhando destaque estudos em Neurociência Social e
Psicologia Social Evolucionista. A Neurociência Social investiga as inter-relações entre o
cérebro e o comportamento social tendo por base processos intraindividuais e situacionais.
Seus estudos não dão conta de explicar fenômenos que estão na convergência de variáveis
individuais e macrossociais, porém podem complementar o entendimento deles. A
Psicologia Social Evolucionista dedica-se a explicar alguns resultados controversos obtidos
em diferentes áreas psicossociais apoiando-se na premissa de que muitos pensamentos,
sentimentos e comportamentos sociais possuem associação com mecanismos biológicos,
que interagem de forma dinâmica com processos psicológicos e de aprendizagem no
interior de uma determinada cultura. Sua abordagem, também, tem um caráter
complementar às demais abordagens psicossociais (FERREIRA, 2010).
Na Europa, onde prepondera uma psicologia social sociológica, as pesquisas, segundo a
autora, vêm girando em torno da identidade social (relações intergrupais, autocategorização,
coesão grupal, liderança, influência social e representações sociais) e sua relação com a
estrutura social. Não obstante, permanece ainda como um desafio o avanço na
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compreensão dos aspectos afetivos subjacentes às formas hostis e destrutivas de
comportamento intergrupal. No tocante às representações sociais, a análise das teorias que
emergem do senso comum vem contribuindo à compreensão de temas relacionados à:
doença mental, violência, justiça, desemprego, amizade, sistemas econômicos, sistemas
tecnológicos (FERREIRA, 2010).
Na América Latina, pontua a autora, desenvolveu-se desde o final da década de 70 uma
psicologia social contextualizada e crítica, coincidente com as correntes da Psicologia
Social, centrada nos problemas políticos e sociais deste subcontinente, tais como a
situação estrutural de injustiça social, a arbitrariedade dos regimes militares e a gigantesca
desigualdade social. Consiste em um saber historicamente construído e comprometido com
a dissolução dos conflitos e a conscientização e promoção de mudanças na realidade
social. Na atualidade, entretanto, a Psicologia Social Crítica, fundamentalmente, apesar de
dominante não é absoluta na América Latina, uma vez que há vários estudos que seguem os
referenciais da Psicologia Social norte-americana e europeia (FERREIRA, 2010).
Pedrinho Guareschi  (1996, apud CAMPOS; GUARESCHI, 2014) sinaliza a possibilidade
de inauguração de novos paradigmas na Psicologia Social latino-americana, com novos
conceitos e até novos construtos, a partir de questionamentos que apontaram à
necessidade de superação da dicotomia entre teoria e prática, entre consciência e ação, e
sobre a necessidade de constituição de uma nova epistemologia, assentada em uma nova
lógica, analética, ou analética dialógica, capaz de dar passos mais adiante em relação à
lógica da identidade e à lógica da dialética. A superação da dicotomia entre teoria e prática,
produto da indagação sobre a possibilidade de “conhecer” sem “praticar”, permitiria a
construção do conhecimento na experiência, um conhecimento vivo e vivido por um
“intelectual orgânico”, que substituiria o conhecimento convertido em meras palavras
esvaziadas e burocratizadas, proferidas por um intelectual distante. Isso abriria espaço para
a manifestação da “consciência na ação” e da “ação na consciência”, que sedimentariam o
caminho para a suplantação da alienação, da dominação e do autoritarismo. Nas lógicas da
identidade e da dialética o “outro” é tratado como diferente e por isso arrastado,
violentamente, para fora de sua identidade original pelo “mesmo” dominante e colocado
como contraponto a esse “mesmo” que é o centro do mundo, um “outro” oposto, estranho,
defeituoso e inferior.
O autor também evidencia que na analética, o “outro” é tratado como distinto, não como
diferente. É separado, mas não é arrastado para fora; não é submetido à expropriação e à
dominação. O “outro” analético é visto como possuidor de uma identidade própria, não é
submetido por um “mesmo” idêntico originário a partir de onde procede a diferença. É o
“outro” como o “face a face”, que estabelece com o “mesmo” relações de diálogo,
construtivas, de convivência. Existe uma “eticidade da existência” na analética, uma vez que
o “outro” é reconhecido como livre, como um além do sistema da totalidade, que pode
aportar criatividade ao justo crescimento dessa totalidade.
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As tendências de estudo em Psicologia Social no Brasil, conforme Ferreira (2010) têm sido
as seguintes: práticas sociais (violência, inclusão e exclusão social, criatividade, entre
outros), representações sociais (envelhecimento, reforma psiquiátrica, entre outros),
configuração de identidades e subjetividades, atitudes, crenças, valores, percepções sociais,
práticas de pesquisa e intervenção em Psicologia Social, papéis de gênero, relações
interpessoais, afetos, emoções, motivação social e autopercepção. Quantos aos grupos
pesquisados, eles têm sido: alcoólatras, pacientes crônicos, usuários de drogas, estudantes
universitários, adolescentes e grupos profissionais (professores, enfermeiros, trabalhadores
em saúde mental e demais). Quanto aos instrumentos de coleta de dados empregados, eles
têm sido majoritariamente os questionários ou escalas, em geral adaptados de outros
estudos, seguidos pelas entrevistas.
Igualmente, Ferreira (2010) apresenta algumas indicações de pesquisas que, em sua
opinião, devem ser produzidas futuramente no Brasil em Psicologia Social dada sua
escassez: formulação de conceitos, metodologias ou modelos teóricos inovadores; estudos
que, mais do que meramente sugerir, evoluam no sentido de investigar diferentes
alternativas de ação e intervenção social; realização de estudos de corte experimental;
ampliação do uso de análises quantitativas multivariadas e realização de estudos
quantitativos contendo modelagem de equações estruturais; elaboração de linhas
consistentes de pesquisa que acumulem, paulatinamente, informação sobre um mesmo
objeto de pesquisa ou intervenção, a fim de reunir um corpo considerável de conhecimentos
capazes de proporcionar maior impacto científico e condições de viabilidade em termos de
políticas públicas; ampliação da realização sistemática de estudos culturais e transculturais
para dar conta da grande diversidade sociocultural que caracteriza o país e aprofundar nas
particularidades das identidades, comportamentos e práticas sociais do brasileiro;
elaboração de estudos em Etnopsicologia, estudo dos aspectos psicoantropológicos das
sociedades e em Psicologia Institucional.
Para Sandoval, Hur e Dantas  (2014), observa-se algumas perspectivas futuras em
Psicologia Política, como contribuições do marxismo à Psicologia Política na história
recente; reflexões psicopolíticas que auxiliam o desenvolvimento de práticas comunitárias
na implementação de políticas públicas no país; direitos humanos e memória coletiva na
luta de classes; a construção do outro vulnerável em discursos sobre imigração; Psicologia
Política, arte e experiência política; ideologia político-religiosa; identidade étnica e
consciência socioambiental de povos da floresta; identidade da mulher negra; movimento
social de mulheres; formação da identidade militar e perspectivas de gênero; aportes da
Psicologia Política às análises sobre polícia e sociedade.
É substancial destacar que alguns temas que considerados relevantes e necessários em
termos de perspectivas futuras de pesquisa em Psicologia Social estão em torno da
compreensão das subjetividades contemporâneas e do novo cenário social, político, cultural
e econômico que enfrentados globalmente, cujas consequências locais apresentam
intensidade e contornos diversos, como gênero, com ênfase em teorias feministas; raça, a
partir das teorias decoloniais e da crítica à racialização; multiculturalismo, especialmente
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questões relacionadas à globalização e processos migratórios, nacionais ou internacionais,
forçados ou não; análise de redes sociais, virtuais ou não; pesquisas sobre
interseccionalidade; movimentos sociais de resistência à opressão; crise ambiental e suas
consequências humanas e étnico-raciais; impactos socioambientais diversos, desde os de
cunho ecológico até processos de gentrificação e desapropriação; incremento das
desigualdades sociais; encarceramento em massa; conflito armado e fundamentalista;
perseguições comunitárias; discursos de ódio, bélicos e armamentistas; totalitarismo e
autoritarismo; inteligência artificial pós-humanismo; novos modos de subjetivação
decorrentes das mudanças nas relações de trabalho e da crise das políticas assistenciais;
determinantes histórico-culturais e político-econômicas dos afetos.
Para finalizar, é importante explicar sucintamente em que consiste o pós-humanismo. Está
assentado no conceito de inteligência artificial, que segundo Lindesmith, Strauss e Denzin
(2006), sustenta que o pensamento humano é racional, metódico e lógico e, portanto, tem
um processamento idêntico ao de um computador.
Os autores informam que os teóricos da inteligência artificial consideram que uma máquina
que tenha as mesmas características mencionadas é capaz de seguir o modelo da mente e
do cérebro humano e, assim, predizer o pensamento. Como para esses teóricos os
computadores reúnem tais características ele possui, então, inteligência. E, dado que essa
inteligência não é natural, ela recebe, pois, a designação de inteligência artificial.
Advertem Lindesmith, Strauss e Denzin (2006), que as teorias da inteligência artificial, que
foram concebidas com base em trabalhos elaborados por psicólogos sociais cognitivistas,
pretendem oferecer um instrumental teórico lógico, objetivo e experimental da mente
humana, da fala, da inteligência e da resolução de problemas, de modo a lograr que os
computadores pensem como um ser humano e que alcancem uma inteligência semelhante
à inteligência humana. Alguns teóricos da inteligência artificial consideram que os
computadores: têm um sentido de consciência interna ou capacidadesintrospectivas;
possuem egos artificiais; podem ter sentimentos, emoções e humores, por isso, entende-se
que as máquinas têm capacidade de sentir o seu entorno; podem sentir dor, no caso de
sistemas informáticos de luxo. Os teóricos da inteligência artificial chegam a propor,
inclusive, que talvez as sensações não tenham importância alguma quando se trata de uma
conduta inteligente.
Entretanto, Lindesmith, Strauss e Denzin (2006) notificam que as teorias da inteligência
artificial são limitadas e reducionistas, fundamentadas em uma teoria representacional da
linguagem ingênua e em uma teoria do significado simplista, que só se valem da noção de
estímulo-resposta. Igualmente, os autores esclarecem que elas ignoram os postulados da
teoria das emoções e são dualistas quanto à separação entre mente e corpo como
realidades radicalmente diferentes. Ocorre que, ainda assim, essas teorias vêm ganhando
força rapidamente e, em razão de os computadores terem passado a fazer parte do estilo de
vida das sociedades contemporâneas, especialmente no âmbito dos negócios e no âmbito
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educacional-informacional, é necessário refletir sobre elas porque a ideia de “máquinas
humanas”, antes restrita à ficção científica, já vem ganhando contornos de realidade
concreta.
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Finalizando a Unidade 
De forma objetiva, foi apresentado um percurso histórico da Psicologia Social no
mundo e no Brasil. É substancial destacar que na Europa predominou uma Psicologia
Social Sociológica, com ênfase nos processos sociais, enquanto na América do Norte
prevaleceu uma Psicologia Social Psicológica, mais preocupada com processos
individuais.
A proposta de estudo enfatizou o influxo do debate em torno do positivismo científico,
os apagamentos produzido pelos positivistas no relato histórico da Psicologia Social.
Faz-se necessário dizer que na América Latina, por sua vez, apesar da influência
europeia e norte-americana (especialmente da segunda), observa-se o surgimento de
uma Psicologia Social preocupada com a realidade local de opressão, desigualdades e
exclusão social, e comprometida com a reversão desse cenário.
Essa Psicologia Social latino-americana fomentou a consolidação no Brasil de quatro
correntes basilares que foram analisadas detalhadamente: a Psicologia Social
Comunitária, a Psicologia Política, a Psicologia Social Crítica e a Psicologia Social
Sócio-Histórica.
Para mais, foi considerado o amplo espectro de perspectivas futuras de estudo em
Psicologia Social no Brasil sendo possível observar que grande parte delas gira em
torno da emancipação do sujeito, que passa pela superação dos problemas sociais
que lhe impedem de existir dignamente.
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Dica do Professor 
Conheça a Associação Brasileira de Psicologia Política (ABPP) que tem o objetivo de
ampliar o conhecimento sobre a Psicologia Política e como vem sendo pensada e aplicada
no Brasil. No site da ABPP você poderá acessar todos os conteúdos da Revista Psicologia
Política, terá informações sobre congressos e acesso aos livros de atas dos eventos (com
resumos dos trabalhos apresentados), além de saber mais sobre a pesquisa e os cursos de
pós-graduação em Psicologia Política existentes no país. A Revista Psicologia Política da
ABPP é uma das poucas existentes sobre o tema e uma das principais revistas latino-
americanas em seu âmbito de pesquisa.
Leia também “Comunidade e Resistência à Humilhação Social: Desafios para a Psicologia
Social Comunitária”, de autoria de Bernardo Parodi Svartman e Luís Guilherme Galeão
Silva, publicado na Revista Colombiana de Psicologia, v. 25, n. 2, p. 331-349, 2016. O texto
ampliará conhecimento sobre a Psicologia Social Comunitária, seus desafios
contemporâneos no Brasil, suas possibilidades reflexivo-instrumentais de colaboração com
os movimentos sociais, com as práticas de educação popular e com as políticas públicas
em saúde, cultura e assistência social.
O artigo “A naturalização da pobreza: reflexões sobre a formação do pensamento social”,
de autoria de Aline Accorssi, Helena Scarparo e Pedrinho Guareschi, publicado na Revista
Psicologia & Sociedade, v. 24, n. 3, p. 536-546, 2012. O texto retrata como a ideologia
neoliberal tem influenciado a formação do pensamento social contemporâneo, explorando
como os discursos, aparentemente, a favor da redução da desigualdade social tendem a
legitimar a manutenção da pouca mobilidade social e, consequentemente, a aceitação e
naturalização da pobreza no cotidiano. O trabalho dialoga, particularmente, com o exposto
sobre as correntes da Psicologia Social no Brasil.
A obra de autoria de Frantz Fanon “Pele negra, máscaras brancas”, (tradução de Renato
da Silveira), Salvador: EDUFBA, 2008, é fundamental para aprofundar o entendimento
intelectivo e sensível sobre a dimensão psicossocial do racismo pelo viés crítico decolonial
e crítico da racialização, “em direção a um novo humanismo”, como indica o próprio autor na
introdução da obra.
https://psicologiapolitica.org.br/
http://www.scielo.org.co/pdf/rcps/v25n2/v25n2a09.pdf
https://www.redalyc.org/pdf/3093/309326585007.pdf
https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2013/08/Frantz_Fanon_Pele_negra_mascaras_brancas.pdf
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Saiba Mais 
De forma a complementar os estudos propostos, é importante que você leia o artigo “A
Psicologia Social como história”, de autoria de Kenneth Gergen. Trata-se de um dos
principais textos do autor. Gergen é considerado o pai do Construcionismo Social, corrente
teórica da Psicologia Social Crítica contemporânea que tem adeptos em várias partes do
mundo. A leitura permitirá entender em que consiste essa corrente teórica. O autor segue
uma linha pós-moderna, interessada na vida cultural e que questiona os supostos científicos
fundamentais de objetividade e verdade. Também sustenta que a Psicologia Social é
principalmente um inquérito histórico, que reconstrói ocorrências passadas instáveis, em
grande medida irrepetíveis, razão pela qual o conhecimento que acumula informa sobre a
história de um grupo social, mas não apresenta condições de transcender seus limites
históricos. Isso significa que seria impossível utilizar este conhecimento para predizer
comportamentos. Entretanto, esse conhecimento incide em mudança histórica.
Outra importante leitura é do artigo “Corpos, heteronormatividade e performances híbridas”
, de autoria de Ricardo Pimentel Méllo. O texto ilustra uma das perspectivas atuais de
estudo em Psicologia Social, que diz respeito ao gênero com ênfase em teorias feministas.
Ademais, explora uma teoria feminista crítica, contemporânea, de elevada profundidade e
peso, que cada vez ganha mais adeptos no cenário internacional e que também vem sendo
bastante reconhecida no Brasil, tanto em termos acadêmicos quanto no nível dos
movimentos sociais: a teoria queer.
Faz-se oportuno evidenciar, ainda, a leitura do artigo “Breve histórico do pensamento
psicológico brasileiro sobre relações étnico-raciais”, de autoria de Alessandro de Oliveira
dos Santos, Lia Vainer Schucman e Hildeberto Vieira. O texto aborda um tema que é um dos
horizontes de estudo em Psicologia Social: racismo e racialização. De forma sucinta
discorre como foram fornecidos os

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