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INSTALAÇÕES ELÉTRICAS INDUSTRIAIS – ELETROTÉCNICA AULA 4 Prof. Samuel Polato Ribas 2 CONVERSA INICIAL Esta aula trata do fator de potência em instalações elétricas industriais. O fator de potência é um dos principais aspectos que devem ser observados na instalação, daí a importância deste estudo. Começamos com uma análise sobre o fator de potência em instalações industriais, sobre o que contribui para um baixo fator de potência e quais as suas consequências. Em seguida, serão estudadas as formas de correção de fator de potência e o dimensionamento de bancos de capacitores para este fim. Depois, serão abordados os sistemas de manobra e proteção utilizados em banco de capacitores, levando em consideração as suas particularidades. Para finalizar, será realizado um estudo sobre o dimensionamento de condutores e sobre dispositivos para monitoração e acionamento de bancos de capacitores. TEMA 1 – FATOR DE POTÊNCIA EM INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS O fator de potência está entre os fatores que mais precisam de atenção em instalações elétricas industriais. É preciso respeitar os critérios estabelecidos pela Resolução n. 414/2010, da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), de 9 de setembro de 2010, que estabelece condições para o fornecimento de energia elétrica. Para a situação abordada nesta aula, os mais relevantes são os arts. 95, 96 e 97. Esses artigos dissertam sobre as condições do fator de potência para consumidores do Grupo A, que são os consumidores industriais. A Resolução n. 414/2010, da ANEEL, estabelece que para consumidores do Grupo A, o fator de potência (FP) não pode ser menor que 0,92, seja ele indutivo ou capacitivo. É sempre válido ressaltar que essa resolução não se aplica aos consumidores do Grupo B, do qual fazem parte os consumidores residenciais. O fator de potência está diretamente relacionado aos três tipos de potência: aparente, ativa e reativa. A potência ativa é aquela que será efetivamente utilizada pelas máquinas e equipamentos da instalação elétrica. Já a potência reativa é aquela que as máquinas e equipamentos utilizam em seus elementos reativos como, por exemplo, motores e transformadores – que 3 utilizam potência reativa para a magnetização de seu núcleo. Conceitualmente, o fator de potência é dito como sendo a relação entre a potência ativa e a potência aparente. Matematicamente, pode ser dado por S P FP (1) em que FP é o fator de potência, P representa a potência ativa (em W) e S representa a potência aparente (em VA). Essas duas potências, juntamente com a potência aparente, podem ser relacionadas no triângulo de potências, conforme mostrado na Figura 1. Figura 1 – Triângulo de potências com fator de potência capacitivo (a) e com fator de potência indutivo (b) Fonte: Adaptado de Creder, 2018. Note que, nos triângulos retângulos da Figura 1, é destacado o ângulo formado entre as potências ativa, em kW, e potência aparente, em kVA, denominado θ. A partir desse ângulo, é possível obter as relações trigonométricas de seno, cosseno e tangente, sendo que a relação de cosseno é dada, matematicamente, pela relação entre cateto adjacente e hipotenusa. Portanto, é correto escrever que S P cos (2) Perceba que as relações na equação (1) e na equação (2) são as mesmas. O fator de potência é igual ao cosseno do ângulo formado entre a potência ativa e a potência aparente. O fator de potência de uma instalação – ou de uma máquina, ou de um equipamento – pode ser mensurado a partir do cosseno do ângulo de 4 defasagem entre tensão e corrente. Caso o fator de potência seja indutivo, a corrente estará atrasada em relação à tensão. Se o fator de potência possuir característica capacitiva, então a defasagem entre tensão e corrente será com a corrente adiantada em relação à tensão. No que diz respeito ao fasor, essas relações são representadas na Figura 2. Figura 2 – Representação fasorial do fator de potência medido entre tensão e corrente, (a) indutivo e (b) capacitivo Fonte: Creder, 2018. A partir da Figura 2, em que I representa a corrente em A, e V a tensão em V, o produto dado por cosI (3) representa a parcela da corrente que está em fase com a tensão. Nessa situação, significa que potência resultante dessa corrente é totalmente ativa. Na Figura 2, existe também a relação dada por senI (4) que representa a parcela puramente reativa e que, portanto, está defasada de 90º em relação à tensão. Somando essas duas parcelas vetorialmente, será obtido o valor total da corrente, e sua defasagem em relação à tensão, sendo possível descobrir o fator de potência total da instalação. Quase todas as instalações elétricas industriais são sistemas trifásicos. Sendo assim, é muito conveniente saber como determinar o fator de potência para sistemas trifásicos. Para qualquer sistema trifásico, as potências podem ser calculadas em função de seus valores de fase, ou de linhas. A equação (5) 5 mostra o cálculo das potências aparente, ativa e reativa a partir dos valores de tensão e corrente de fase. FFF IVS 33 cos33 FFF IVP senIVQ FFF 33 (5) Já a equação (6) apresenta as equações para o cálculo das potências para sistemas trifásicos a partir dos valores de fase. LLF IVS 33 cos33 LLF IVP senIVQ LLF 33 (6) Após a obtenção das potências trifásicas, o método de cálculo do fator de potência é idêntico ao que foi visto até aqui. Quando se trata de uma carga trifásica equilibrada, como motores elétricos, por exemplo, o fator de potência é o mesmo para as três fases, considerando que as tensões estejam com o mesmo valor. Já para cargas equilibradas, o fator de potência pode variar de uma fase para outra, sendo que nenhuma delas deverá apresentar o fator de potência menor que 0,92. Para se determinar o fator de potência de uma instalação como um todo, deve ser feita a soma das potências ativa, reativa e aparente, e a partir delas é possível obter o fator de potência de toda a instalação. É válido ressaltar, nesse caso, a diferença entre as potências reativa indutiva e capacitiva. Ao serem realizadas as somas das potências reativas, a potência capacitiva será subtraída da potência indutiva, ou de uma forma mais direta, a potência reativa indutiva é positiva e a potência reativa capacitiva é negativa. Tão importante quanto entender o fator de potência, é entender como ele é causado. O fator de potência é algo que pode gerar custos adicionais à fatura de energia. Como é preciso um investimento financeiro para corrigir o fator de potência – quando for necessária uma correção –, nada mais prudente do que conhecer a causa do baixo fator de potência para que seja possível realizar a correção da melhor maneira possível. 6 Uma das causas que mais contribuem para a redução do fator de potência de uma instalação são os motores elétricos. De maneira geral, motores elétricos são responsáveis por cerca de 50% das cargas de uma instalação. O ideal é que eles operem fornecendo a potência ativa que foram projetados para fornecer. A potência ativa do motor depende da carga que está acoplada a ele, já a potência reativa depende apenas da tensão que é aplicada a ele, pois é dela que dependerá a corrente necessária para o funcionamento interno do motor. Considerando que o motor opere a vazio ou com pouca carga acoplada ao eixo, significa que ele absorverá da rede pouca potência ativa. Se a carga no seu eixo for aumentando, a potência ativa que ele absorve vai aumentando também. Como a potência reativa depende da tensão, se ela não for alterada, então a potência reativa continuará a mesma. Sendo assim a parcela de potência ativa se torna muito maior que a potência reativa, resultando no fator de potência que estará especificado na suaplaca de identificação. Com transformadores, a situação é a mesma. A parcela de potência reativa que um transformador absorve da rede de alimentação é a mesma, independente da potência que está sendo enviada para a carga. Portanto, se o transformador estiver sobredimensionado, significa que ele não vai fornecer toda a potência ativa que foi projetado para fornecer e que, consequentemente, vai operar com fator de potência baixo. Vale ressaltar também que os transformadores de grande porte são projetados para fornecer o valor de potência aparente para o qual foram projetados, independentemente do fator de potência da carga. Por isso, além de ter o transformador fornecendo a máxima potência a que foi projetado, é importante que o fator de potência da carga que ele alimenta não seja baixo. Outro tipo de carga que influencia negativamente no fator de potência são cargas eletrônicas. Os retificadores, que são o estágio de entrada de grande parte das cargas eletrônicas, são cargas não lineares, que tendem a distorcer a forma de onda da tensão de entrada e normalmente possuem um fator de potência que varia de 0,6 a 0,7. Equipamentos eletrônicos com melhor desempenho possuem sistemas de controle que fazem a correção do fator de potência, fazendo com que a rede enxergue o dispositivo como uma carga puramente resistiva. Portanto, é uma técnica que pode ajudar a elevar o fator de potência da instalação, quando se tratar de uma carga eletrônica. 7 TEMA 2 – TIPOS DE CORREÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA Existem diversas possibilidades para a correção do fator de potência. Dependendo da situação e da característica da carga, pode ser escolhido de que forma será feita a correção do fator de potência. Os capacitores podem ser instalados no lado de alta tensão de transformadores, nos barramentos secundários dos transformadores, nos barramentos secundários de transformadores com acúmulo de cargas indutivas, e junto a grandes cargas indutivas. Em todos os casos, é importante mencionar que os capacitores devem ser instalados o mais próximo possível das cargas, para que se tenha a máxima eficiência na correção. Além dos capacitores, a correção do fator de potência pode ser feita com a utilização de motores síncronos. Esse tipo de correção é mais viável em tensões elevadas, mas os motores síncronos também podem ser instalados diretamente nas barras onde o fator de potência necessita de correção. A seguir, vamos estudar alguns dos tipos de correção de fator de potência. 2.1 Correção de fator de potência de grandes cargas indutivas Quando há grandes motores de indução que necessitam de correção de fator de potência, é comum conectar o banco de capacitores diretamente aos terminais do motor. Essa técnica reduz o custo de instalação, pois não requer dispositivos de acionamento e proteções específicas. Para esse tipo de correção, são utilizados capacitores de corrente alternada próprios para correção de fator de potência. Deve-se ficar atento à potência reativa dos capacitores e ao nível de tensão que suportam. A Figura 3 mostra o exemplo de um banco de capacitores de baixa tensão destinado à correção do fator de potência. 8 Figura 3 – Exemplo de banco de capacitores de baixa tensão Crédito: Hinloy/Shutterstock. Quando se trata de uma instalação nova, é recomendável que os capacitores sejam instalados diretamente nos terminais do motor. Porém, quando se trata de uma instalação já existente, a ligação mais recomendável é entre o capacitor e o relé de sobrecarga. Outros aspectos que devem ser observados: A potência reativa do banco de capacitores não pode ser maior que a potência reativa consumida pelo motor a vazio, a fim de não ocasionar sobretensões após o desligamento do motor. A corrente dos capacitores não pode ser maior que 90% da corrente de magnetização do motor. Deve ser verificado se o relé de sobrecarga não necessita ser redimensionado, devido à inclusão do banco de capacitores. 2.2 Correção de fator de potência no barramento secundário de transformadores Neste exemplo, os capacitores são ligados no barramento secundário dos transformadores que alimentam pequenas cargas individuais. Para esse tipo de instalação, é comum utilizar dispositivos de manobra e proteção separados dos dispositivos das cargas. Isso se deve ao fato de que as cargas podem não operar todas simultaneamente. Assim, é interessante que a 9 potência reativa dos capacitores possa ser regulada de acordo com a carga que está sendo alimentada. Nesse caso, os bancos de capacitores automáticos podem ser uma solução bastante viável. A Figura 4 apresenta um exemplo de banco de capacitores automáticos. Figura 4 – Exemplo de banco de capacitores automáticos Crédito: Vietnam Stock Photos/Shutterstock. Observe que, na Figura 4, existem dispositivos de manobra e proteção somente para os capacitores, portanto eles podem ser ligados e desligados conforme a necessidade da carga que está sendo acionada. É importante também mencionar que a instalação de banco de capacitores junto ao secundário do transformador eleva a tensão de saída. A variação de tensão é função da potência nominal do transformador, da potência reativa do banco de capacitores e também da impedância percentual do transformador. Matematicamente, essa variação de tensão pode ser dada por 10 %% Z S Q V NOM C (7) em que QC representa a potência reativa do banco de capacitores, em kvar, SNOM é a potência nominal do transformador e Z(%) é a sua impedância percentual. A relação da equação (6) é importante porque a potência gerada pelos capacitores varia com o quadrado da tensão, ou seja 2 var VQQ C (8) em que Qvar é a potência reativa gerada pelos capacitores, QC é potência reativa instalada do banco de capacitores e V é a tensão aplicada ao banco. 2.3 Correção de fator de potência no lado de alta tensão de transformadores A correção do fator de potência de instalações industriais pode ser feita de maneira centralizada, diretamente no lado de alta tensão do transformador de uma subestação de consumidor, por exemplo. A vantagem desse método é que não importa quais serão as cargas que estarão conectadas ao secundário do transformador, sempre haverá a correção do fator de potência diretamente na entrada da instalação. Entretanto, isso não impede que essa técnica seja combinada com as outras, de correção diretamente junto à carga ou no secundário do transformador. Isso porque capacitores de alta tensão são mais caros que os capacitores de baixa tensão, fazendo com que o custo do banco de capacitores seja inviável. Sendo assim, a prévia correção do fator de potência diretamente em um conjunto de cargas, ou em uma grande carga específica, faria com que a potência reativa do lado de alta tensão fosse reduzida. Um exemplo de banco de capacitores de alta tensão é mostrado na Figura 5. Perceba que o formato dos capacitores é diferente dos capacitores de baixa tensão. Assim como no caso de capacitores ligados no secundário de transformadores, a tensão é elevada, por isso deve-se levar em consideração esse aumento da tensão e verificar quais serão as consequências disso no secundário do transformador e, consequentemente, no restante da instalação. 11 Figura 5 – Exemplo de capacitores de alta tensão Crédito: Jakit17/Shutterstock. TEMA 3 – DIMENSIONAMENTO DE BANCO DE CAPACITORES PARA CORREÇÃO DO FATOR DE POTÊNCIA Entender o fator de potência é indispensável, mas de nada adianta se não soubermos como resolver o problema do baixo fator de potência. A maioria dos casos de baixo fator de potência na indústria é resolvido por meio da instalação de banco de capacitores. O objetivo é reduzir o ângulo entre a potência ativa e a potência aparente no triângulo de potências até um valor cujo cosseno sejamaior ou igual a 0,92. Entretanto, como as cargas normalmente variam, é sempre uma ideia interessante fazer com que o fator de potência fique acima desse valor. Assim, caso haja alguma situação que ocasione a queda do fator de potência, há tempo hábil para a atuação dos sistemas que controlam o fator de potência. Para uma melhor compreensão sobre o que deve ocorrer no triângulo de potências para que o fator de potência seja corrigido, vamos analisar a Figura 6. Originalmente, a Figura 6 era composta pelas potências em kW, em kvar1 e em kVA1. Perceba que, com essas potências, o ângulo entre as potências ativa e aparente é θ1. Considerando que o cosseno desse ângulo seja menor que 0,92, então é necessário reduzir o ângulo entre a potência aparente e a potência ativa. Como na maioria das situações industriais reais, vamos 12 considerar que trata-se de uma carga indutiva, até porque o triângulo representado na Figura 6 é característico de uma carga desse tipo. Figura 6 – Exemplo de triângulo de potências antes da correção do fator de potência Fonte: Adaptado de Creder, 2018. Se a carga tem característica indutiva, então possui potência reativa indutiva. Sendo assim, para se contrapor a ela, é necessário que seja inserida potência reativa capacitiva, que é a potência que se encontra em capacitores. Como o capacitor é uma carga puramente resistiva, então a inserção deles acarretará em potência reativa capacitiva no sistema, que se opõem à carga indutiva, conforme mostrado na Figura 7. Figura 7 – Exemplo de triângulo de potências com inserção da potência reativa capacitiva Fonte: Adaptado de Creder, 2018. Note, na Figura 7, que a potência reativa indutiva kvar1 agora possui uma potência reativa capacitiva kvarc que se opõe a ela. Perceba que essas duas potências são como dois vetores em sentidos opostos, portanto, o resultado será a subtração deles. Após a anulação de parte da potência reativa 13 indutiva pela potência reativa capacitiva, o triângulo de potências ficará como mostrado na Figura 8. Figura 8 – Exemplo de triângulo de potências após a correção do fator de potência Fonte: Adaptado de Creder, 2018. Comparando a Figura 6 com a Figura 8, fica clara a redução do ângulo formado entre a potência ativa e a potência aparente. Portanto, o cosseno do ângulo formado entre elas diminui, elevando o fator de potência. Para evidenciar mais ainda a diferença do fator de potências antes e depois da correção, vamos analisar a Figura 9. Figura 9 – Comparação entre os triângulos de potência antes e depois da instalação de banco de capacitores Fonte: Adaptado de Creder, 2018. Perceba que, ao inserir o banco de capacitores, a potência reativa antes representada por kvar1 passou a ser kvar2. Perceba também que essa redução na potência reativa faz com que a potência aparente também sofra uma redução, passando de kVA1 para kVA2. Perceba também que a potência ativa representada por kW não se altera, portanto a correção do fator de potência não afeta a potência ativa absorvida da rede elétrica. Outro fator que vale a pena mencionar é que a concessionária de energia sempre terá de ter estrutura para fornecer a potência referente à potência aparente do consumidor. Como ao corrigir o fator de potência, há uma diminuição da potência aparente total, isso significa que a estrutura concedida 14 pela concessionária não precisará ser tão robusta como precisaria ser caso não houvesse a instalação dos bancos de capacitores. Com base no que foi visto até agora vamos realizar um exemplo de dimensionamento de banco de capacitores. Considere duas cargas, sendo a primeira delas com uma potência ativa de 100 kW e a com potência reativa de 50 kvar, e a segunda com potência ativa de 75 kW e potência reativa de 40 kvar, ambas com característica indutiva. Deseja-se que o fator de potência dessas duas cargas seja de 0,96 após a correção. A potência ativa total é dada por kWPPPT 1757510021 (9) A potência reativa total, por sua vez é dada por var90405021 kQQQT (10) Com base nas equações (9) e (10), chega-se ao valor da potência aparente dada por kVAQPS TTT 19790175 2222 (11) Utilizando a definição do fator de potência, chega-se ao valor de º33,2788,0 195 175 cos T T S P (12) Pela equação (12), verifica-se que o fator de potência das duas cargas é de 0,88 indutivo, o que leva a um ângulo de 27,33º conforme mostrado na Figura 10. Figura 10 – Triângulo de potências atual das cargas Fonte: Adaptado de Creder, 2018. 15 Considerando que o fator de potência desejado é de 0,96 indutivo, o ângulo formado entre a potência ativa e a potência aparente deve ser de 16,26º. Sendo assim, o triângulo de potências desejado após a instalação do banco de capacitores é o que está representado na Figura 11. Figura 11 – Triângulo de potências esperado das cargas Fonte: Adaptado de Creder, 2018. Agora é necessário determinar o valor da potência reativa, Qnovo, que se espera obter após a instalação do banco de capacitores. Esse cálculo pode ser realizado a partir de qualquer relação trigonométrica aplicada ao triângulo da Figura 11. Uma dessas relações pode ser dada por var04,51º26,16175 ktgtgPQ P Q tg novoTnovo T novo novo (13) O valor de 51,04 kvar na equação (13) é o valor que deve ter a potência reativa para que o fator de potência seja de 0,96 indutivo. Como a potência reativa das cargas antes da correção é de 90 kvar, a potência reativa do banco de capacitores é dada por var96,3804,5190 kQQQ novoTC (14) Assim, chega-se à conclusão de que a potência do banco de capacitores necessário é de 38,96 kvar. A partir desse ponto, vamos analisar um segundo exemplo, mas considerando que são conhecidos os valores de tensão e corrente de linha das cargas. Considere duas cargas, sendo que a tensão de linha delas é de 220 V, e que a corrente de linha da primeira carga é de 16 A, com fator de potência de 0,92 indutivo, e a corrente de linha da segunda carga é de 39 A, com um fator de potência de 0,81 indutivo. Com base nessas informações, o primeiro passo 16 é determinar a potência ativa de cada uma das potências. Esse cálculo pode ser feito como mostrado nas equações (15) e (16): WIVP LL 560992,0162203cos3 1111 (15) e WIVP LL 1207381,0392203cos3 2222 (16) Com base nas equações (15) e (16), pode ser calculada a potência ativa total, que é dada pela soma das potências dessas equações. (17) Utilizando o mesmo raciocínio, é possível determinar a potência aparente total, calculando primeiramente a potência aparente de cada uma das cargas. Essas equações nos levam a VAIVS LL 60971622033 111 (18) e VAIVS LL 148613922033 222 (19) Com base nas equações (18) e (19), obtém-se a potência aparente total que será VASSST 2095814861609721 (20) Conhecendo a potência ativa total e a potência aparente total, é possível determinar o fator de potência utilizando a relação de cosseno, o que resulta em º46,3284,0 20958 17682 cos T T S P (21) Utilizando uma relação de tangente, a potência reativa atual é var11247º46,3217682 TTT T T QtgtgPQ P Q tg (22) Com base nos cálculos de potência ativa, reativa, aparente e do fator de potência, obtém-se o triângulo de potências conforme mostrado na Figura 12. Figura 12 – Triângulo de potências atual das cargas 17 Fonte: Adaptado de Creder, 2018. Considerando que o fator de potência desejado é de 0,93 indutivo, o ângulo formado entre a potência ativa e a potência aparente deve ser de 21,56º. Sendo assim, o triângulo de potências desejado após a instalação do banco de capacitores é o que está representado na Figura 13. Figura 13 – Triângulode potências esperado das cargas Fonte: Adaptado de Creder, 2018. Assim como no exemplo anterior, agora é necessário determinar o valor da potência reativa, Qnovo, que se espera obter após a instalação do banco de capacitores. Aplicando a relação de tangente ao triângulo de potências da Figura 13, tem-se var6986º56,2117682 tgtgPQ P Q tg novoTnovo T novo novo (23) O valor de 6986 var na equação (23) é o valor que deve ter a potência reativa para que o fator de potência seja de 0,93 indutivo. Como a potência reativa das cargas antes da correção é de 11247 var, a potência reativa do banco de capacitores é dada por var4261698611247 novoTC QQQ (24) Assim, chega-se à conclusão de que a potência do banco de capacitores necessário é de 4261 var. 18 Importante ressaltar que, ao corrigir o fator de potência, a potência aparente também se reduz, reduzindo a carga da rede de alimentação da concessionária. Essa comprovação pode ser feita determinando a potência aparente após a instalação do banco de capacitores calculado. A potência aparente Snovo será VAQPS novoTnovo 19012698617682 2222 (25) Portanto, além de corrigir o fator de potência da instalação, os bancos de capacitores também reduzem a potência total fornecida pela concessionária de energia. TEMA 4 – DIMENSIONAMENTO DE DISPOSITIVOS DE MANOBRA E PROTEÇÃO PARA BANCOS DE CAPACITORES Para o dimensionamento de dispositivos de acionamento e proteção de bancos de capacitores deve ser tomado um cuidado especial em relação à corrente do banco. Os dispositivos de manobra mais utilizados para o acionamento de banco de capacitores são contatores. Além dos contatores, disjuntores e chaves seccionadoras também são utilizados como dispositivos de manobra. Não importa o tipo de dispositivo acionado, o dispositivo não deve ser dimensionado apenas com base na corrente nominal do banco de capacitores, devido à variação que a capacitância pode ter. De acordo com a norma IEC8631-1, para capacitores com tensão de até 1000 V, pode haver uma variação de -5% a +15% para bancos de capacitores de até 100 kvar, e de 0% a 110% para bancos de capacitores acima de 100 kvar. Considerando que os capacitores operam com uma corrente eficaz de 1,3 vezes a corrente nominal, e considerando uma variação de 115% na capacitância, a corrente máxima do banco de capacitores deverá ser 5,115,13,1 MAXC I (26) ou seja, levando em consideração a tolerância estabelecida pela norma, e colocando 5% a mais como margem de segurança, os dispositivos de manobra devem ser dimensionados para suportar 1,5 vezes a corrente nominal do banco. Mesmo em baixas potências, onde a norma estabelece uma faixa de 19 tolerância menor em relação à capacitância, é prudente considerar que a corrente será de 1,5 vezes a corrente nominal. Como exemplo, considere um banco de capacitores de 50 kvar, em uma tensão de 380 V, em um sistema trifásico. A corrente dos capacitores é calculada pela equação senV Q I CC 3 (27) onde IC é a corrente de linha do banco de capacitores, QC é a potência reativa, e V a tensão de linha. Substituindo os valores dados no exemplo tem- se AIC 76 13803 50000 (28) Portanto, a corrente máxima será AII CCMAX 114765,15,1 (29) Perceba que senθ na equação (27) foi substituído por 1 na equação (28). Isso porque o capacitor é uma carga puramente capacitiva, o que faz com que o ângulo de defasagem entre a tensão e a corrente seja de 90º. Fazendo sen(90º), o resultado será igual a 1. Sendo assim, o contator utilizado deverá suportar uma corrente mínima de 114 A, na categoria AC3, a mesma utilizada para motores de indução. Muitas vezes são utilizados como dispositivos de manobra chaves seccionadoras com fusíveis. Nessa situação, o recomendável é que a corrente considerada seja de 1,65 vezes a corrente nominal do banco de capacitores. Sendo assim, para o mesmo exemplo acima, a corrente calculada seria de 125,4 A, resultado de 1,65 multiplicado por 76 A. Portanto, os fusíveis devem suportar uma corrente de pelo menos 125,4 A. Como os bancos de capacitores são instalados para corrigir um conjunto de cargas, quando se trata de várias cargas de baixa potência, ou instalados individualmente para grandes cargas, normalmente a corrente deles é mais propícia para a utilização de fusíveis do tipo NH, que são destinados a correntes mais elevadas, em relação aos fusíveis do tipo D. 20 A proteção do banco de capacitores também pode ser feita por meio de disjuntores em caixa moldada, que são destinados a correntes superiores. Um exemplo de disjuntor em caixa moldada é mostrado na Figura 14. Figura 14 – Exemplo de disjuntor em caixa moldada Crédito: Andypositive/Shutterstock. Como mencionado, os disjuntores em caixa moldada são destinados à aplicação de altas correntes como as de banco de capacitores, principalmente de altas potências. TEMA 5 – DIMENSIONAMENTO DE ALIMENTADORES E MONITORAMENTO DO FATOR DE POTÊNCIA Como estudado no Tema 4, a corrente a ser considerada para dimensionamento de dispositivos de manobra e proteção de banco de capacitores deve ser de 1,5 vezes a corrente nominal. Esse mesmo raciocínio deve ser levado em consideração para o dimensionamento dos alimentadores. Vimos, anteriormente, os critérios para a escolha do condutor adequado para alimentar as cargas em função de sua potência. Para os bancos de capacitores, o raciocínio e os critérios são os mesmos dos que foram descritos antes, com exceção do cálculo da corrente de projeto. Aqui, a corrente de projeto será a corrente nominal multiplicada por 1,5. Relembrando os critérios para determinação de condutores, primeiramente deve ser determinada a maneira de instalação e, em seguida, calcular a corrente de projeto. Aqui, a 21 corrente se calcula conforme as equações (27), (28) e (29). Na sequência, escolhe-se o tipo de condutor, se será com isolação em PVC, XLPE, ou EPR, e verifica-se o número de condutores carregados. Depois, aplica-se os fatores de correção de temperatura e de agrupamento. Com base nesses dados, determina-se a corrente corrigida e, finalmente, a seção transversal dos condutores. As tabelas utilizadas para o dimensionamento são as mesmas que a da norma NBR 5410/2004, caso a instalação do banco de capacitores seja feita em baixa tensão. Além do método da capacidade de corrente, deve ser verificada também a queda de tensão nos condutores, para que a tensão aplicada ao banco de capacitores seja adequada para seu funcionamento normal. Mesmo que os condutores estejam preparados para suportar a corrente nominal do banco de capacitores, os bancos automáticos são os mais recomendados para as aplicações industriais. Em função dos critérios de demanda de potência reativa, a sua utilização é praticamente obrigatória. O fracionamento de banco de capacitores com controle automático é o mais utilizado. Esse controle automático é muito utilizado em grandes indústrias, para que seja o fator de potência adequado aos valores estabelecidos pela ANEEL, em qualquer período do dia e da noite. Para que isso seja possível, é indispensável a utilização de medidores de fator de potência, os cossifímetros. Os cossifímetros são dispositivos destinados à medição em tempo real do fator de potência de uma carga ou instalação. A Figura 15 apresenta um exemplo de cossifímetro. O medidor de fator de potência da Figura 15 tem a finalidade de apenas monitorar o fator de potência em tempo real. Entretanto, o mesmo princípio pode ser utilizado nos controladores automáticos de fator de potência. 22 Figura 15 – Medidor de fator de potência analógico Crédito: CC BY-SA 4.0/GustavoAlderete. Nos controladores automáticos, sensores medem a defasagem entre a tensão e a corrente do sistema,que é comparada à defasagem aceitável para a qual o controlador automático foi ajustado. Em função da defasagem medida, o controlador calcula o fator de potência e verifica se é necessário aumentar ou diminuir o número de capacitores do banco para que o fator de potência permaneça dentro da faixa de operação que foi ajustada. Esse monitoramento contínuo é necessário devido ao fato de que a carga de uma indústria é variável ao longo do dia, em função de equipamentos e motores que são acionados e desligados durante a operação normal da indústria. Os controladores automáticos de fator de potência são constituídos de estruturas muito semelhantes a painéis elétricos. Nessas estruturas encontram- se todos os dispositivos de controle, manobra e proteção dos capacitores que irão realizar a regulagem do fator de potência. Um exemplo de módulo para correção automática do fator de potência é mostrado na Figura 16. Todos os elementos internos são devidamente dimensionados para evitar que as correntes danifiquem os equipamentos de manobra nos instantes de atuação, e também para que a proteção atue de maneira correta quando – e se – houver necessidade. 23 Figura 16 – Painel para correção automática do fator de potência Crédito: Vietnam Stock Photos/Shutterstock. No lado superior esquerdo da Figura 16, está a parte de trás do controlador automático que irá realizar a medição do fator de potência e enviar os comandos para o acionamento dos capacitores. Um exemplo desse medidor é mostrado na Figura 17. 24 Figura 17 – Controlador automático de fator de potência Crédito: Andy Positive/Shutterstock. FINALIZANDO Apresentamos aqui as principais características do fator de potência em instalações elétricas industriais, levou em consideração os aspectos que ocasionam o baixo fator de potência e mostrou como é possível realizar a correção de diferentes formas. Tendo em vista a importância do fator de potência em instalações elétricas, tratou de como deve ser realizado o dimensionamento de bancos de capacitores para correção do fator de potência e falou do dimensionamento dos dispositivos de acionamento, proteção e de seus alimentadores. 25 REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5410: Instalações elétricas de baixa tensão I: proteção e segurança. Rio de Janeiro, 2004. BRASIL. ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Resolução normativa n. 414, de 9 de setembro de 2010. Poder Legislativo, Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 set. 2010. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2010414.pdf>. Acesso em: 8 out. 2019. CREDER, H. Instalações elétricas. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. MAMEDE FILHO, J. Instalações elétricas industriais: de acordo com a norma brasileira NBR 5419/2015. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. NISKIER, J., MACINTYRE, A. J. Instalações elétricas. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013.
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