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Fique por dentro! cursomeds.com.br DIFERENCIAÇÃO CELULAR Laís Amábile Andrade • A diferenciação leva ao surgimento de células especializadas para realizar determinadas funções com grande eficiência Cada célula é dotada de duas características: a diferenciação e a potencialidade. Diferenciação é o grau de especialização da célula, enquanto a potencialidade é a capacidade que a célula tem de originar outros tipos celulares. Em qualquer célula, quanto maior for a potencialidade, menor será a diferenciação, e vice-versa. Há uma relação inversa entre o grau de diferenciação de uma célula e sua capacidade de formar outros tipos celulares (potencialidade). O primeiro instante em que podemos observar o compromisso das células embrionárias com um programa de diferenciação é durante a gastrulação, a qual ocorre logo após a clivagem. O zigoto é a célula que tem potencial máximo (totipotente), podendo formar todas as células do corpo. Os rearranjos celulares da gastrulação e o início do controle zigótico de transcrição gênica são eventos essenciais para a diferenciação celular durante a embriogênese. Imediatamente após a fertilização, o embrião sofre divisões mitóticas sucessivas em grande velocidade no processo conhecido como clivagem. Essas divisões celulares intensas têm como objetivo aumentar rapidamente o número de células que compõem o embrião. Para acelerar este processo, as mitoses são abreviadas por meio da omissão das fases G 1 e G2 (fases nas quais ocorre intensa síntese de RNA e proteína, resultando no crescimento da massa celular). Durante a clivagem, os processos de transcrição ficam temporariamente inibidos e o embrião se limita a dividir entre as células-filhas as moléculas de RNA previamente acumuladas no citoplasma do óvulo durante a oogênese. Em razão da ausência das fases G 1 e G2, o tamanho das célulasfilhas diminui progressivamente a cada divisão celular. Ao final da clivagem, o volume total do embrião não é alterado apesar de o número de células ser significativamente maior. Fique por dentro! cursomeds.com.br Uma vez acumulado um número suficiente de células, inicia-se a gastrulação. As divisões celulares continuam ocorrendo, mas em um ritmo menos acelerado que na clivagem. A gastrulação é o processo de mudança na forma embrionária caracterizada por movimentos celulares intensos (movimentos morfogenéticos), que resulta na definição dos três folhetos embrionários: ectoderma, mesodcnna e endoderma. Neste estágio, o embrião é conhecido como gástrula. É também na gastrulação que as células do embrião iniciam o processo de transcrição, e, consequentemente, ocorre a expressão gênica a partir do genoma zigótico. Os rearranjos celulares da gastrulação e o início do controle zigótico de transcrição gênica são eventos essenciais para a diferenciação celular. O rearranjo celular posiciona células nos microambientes que irão definir o programa de diferenciação que cada célula deve seguir. • A diferenciação de determinada célula depende, principalmente, da expressão de determinados genes e repressão de outros (controle transcricional) A deflagração do controle de expressão gênica do genoma embrionário possibilita a produção seletiva das proteínas celulares que serão imprescindíveis para as funções celulares específicas ao fim do processo de diferenciação Todas as células de um organismo têm os mesmos genes. As modificações celulares que ocorrem na diferenciação resultam da inativação de determinados genes e da ativação de outros no genoma. Em outras palavras, em um organismo adulto, cada célula tem codificada em seu DNA a informação necessária para sintetizar todas as proteínas para a formação de um organismo completo, mas apenas uma porção seleta de proteínas é produzida em cada célula. O perfil proteico celular é resultado conjunto de mecanismos que atuam nas várias etapas entre a transcrição e a função proteica; por exemplo, as células nervosas são diferentes das células musculares, porque os genes ativos são diferentes. Essa diferença de atividade gênica resulta na transcrição seletiva de determinados genes, enquanto outros não são transcritos. Assim, os mRNA diferem de uma célula diferenciada para outra. Outro modo de controle pós-transcricional é a regulação do tempo de permanência do produto proteico na célula; ou seja, regulação da estabilidade proteica. • O controle transcricional é específico para cada tipo celular e varia do silenciamento total (ausência de transcrição) até sutis diferenças de atividade transcricional O controle transcricional é exercido no DNA, regulando a intensidade de transcrição da maioria dos genes, determinando, portanto, a atividade gênica. Os mecanismos pós- transcricionais agem entre a transcrição do mRNA e a tradução da proteína. Fique por dentro! cursomeds.com.br O controle transcricional regula a disponibilidade (ativação ou inativação gênica) do DNA para gerar mRNA; é específico para cada tipo celular e varia do silenciamento total (ausência de transcrição) até sutis diferenças de atividade transcricional. A ativação gênica é mediada por proteínas nucleares (conhecidas como proteínas ativadoras de genes ou fatores de transcrição), que reconhecem sequências específicas no DNA (regiões de controle gênico) e favorecem a aproximação das proteínas necessárias para a transcrição propriamente dita, como a RNA- polimerase. Os fatores de transcrição importantes para a diferenciação celular são específicos para cada tipo celular. O controle gênico pós-transcricional pode ocorrer de várias maneiras, interferindo na eficiência do processamento do mRNA, o transporte de mRNA para o citoplasma e a tradução do mRNA, variando a vida útil do mRNA ou do produto proteico. Em geral, a regulação pós- transcricional ocorre de maneira mais rápida do que o controle transcricional, respondendo às necessidades celulares imediatas • Os fatores que influenciam na diferenciação podem ser intra ou extracelulares A diferenciação é controlada por fatores intracelulares e extracelulares, requerendo, portanto, intensa comunicação célula-célula e célula-ambiente. Os fatores intracelulares se encontram nas próprias células em diferenciação. A capacidade da célula de responder a estímulos extracelulares ou de iniciar modificações depende das vias de sinalização celulares disponíveis no seu repertório (Capítulo 6). Por exemplo, uma célula que não expressa receptor para insulina na sua membrana seria incapaz de responder à presença dela no meio extracelular. Os fatores intracelulares derivam do programa existente no DNA da célula, ou, no caso do zigoto, de material previamente acumulado no seu citoplasma. Além da ação de células vizinhas, sabe-se que vários hormônios e fatores de crescimento produzidos em células distantes também afetam a diferenciação e o metabolismo celular. Deve- se ressaltar, também, que uma única célula pode ser ao mesmo tempo receptora e emissora de sinais. Variações no conteúdo proteico ou na expressão gênica de uma célula (fatores intrínsecos) afetam o sinal que ela emite, modificando, portanto, a composição do microambiente celular em que ela está inserida. Desse modo, uma única célula responde e contribui para um conjunto de fatores que interagem, tornando o fenômeno de diferenciação extremamente complexo. • A diferenciação celular não se restringe a embriões e é continuada no organismo adulto É comum a impressão de que, logo após o nascimento, os órgãos encontram-se completamente diferenciados, e que só lhes resta aumentar de volume. Essa impressão é errônea. No recém-nascido, os vários setores do organismo se encontram em fases diferentes de desenvolvimento e completam a diferenciação em ritmo diferente. Por exemplo, no momento do nascimento, os rins e o fígado não estão completamente diferenciados. O sistema nervoso também se encontra longe de estar completamente desenvolvido no recém-nascido. Tanto éque a mielinização, importante para o isolamento da "fiação" do sistema nervoso, é lenta, começando no quarto mês de vida intrauterina e prolongando-se até o segundo ano após o nascimento. Fique por dentro! cursomeds.com.br • O processo de diferenciação em alguns casos pode ser revertido em um processo conhecido como desprogramação nuclear Como foi explicado anteriormente, o que ocorre é uma ativação e uma inativação gradual de genes por meio de modificações no DNA genômico. À exceção dos linfócitos, os núcleos de todas as células diferenciadas continuam contendo todos os genes que estavam originalmente presentes no zigoto. A reversão dos processos de restrição genômicos retornaria o núcleo ao estado original zigótico. A restrição da potencialidade pela diferenciação, em alguns casos, pode ser revertida artificialmente ou naturalmente para gerar um núcleo totipotente. Este processo de reversão é conhecido como desprogramação nuclear. A ovelha conhecida como Dolly foi o primeiro animal clonado a partir de uma célula de animal adulto. Além da ovelha, outros mamíferos já foram clonados, comprovando definitivamente que células de adultos contêm a informação genética completa para gerar todos os tipos celulares do organismo. Outro exemplo de desprogramação celular ocorre na regeneração. A capacidade de regeneração do fígado, um órgão constituído por células muito especializadas, é um exemplo muito interessante. A extirpação experimental de dois terços do fígado de um rato adulto, por exemplo, provoca intensa proliferação das células hepáticas restantes, que reconstituem inteiramente a parte extirpada do fígado. Contudo, durante a regeneração, diferentemente da clonagem, os núcleos dos hepatócitos não se tornam totipotentes. A desprogramação dos diferentes tipos celulares hepáticos é parcial, tornando possível apenas a aceleração da divisão celular e a geração de outras células hepáticas. A desprogramação nuclear artificial está no cerne da tecnologia de clonagem de organismos inteiros a partir de células somáticas. Fique por dentro! cursomeds.com.br • Muitos tecidos contêm células-tronco, que se multiplicam para manter sua própria população e originar células mais diferenciadas (especializadas) Outra possível fonte de reposição e regeneração tecidual no organismo adulto são as células-tronco, também chamadas células-fonte. Em razão do seu potencial terapêutico, a pesquisa sobre células-tronco tem avançado significativamente nestes últimos anos. As células- tronco, para serem classificadas como tal, devem exibir duas propriedades básicas: a capacidade de se dividirem continuadamente, e a capacidade de se diferenciarem em várias linhagens celulares, com suas morfologias e funções especializadas. Em outras palavras, as células-tronco são uma reserva celular constante que pode diferenciar-se em tipos especializados, conforme o tecido considerado. Há duas categorias principais de células-tronco: embrionárias e não embrionárias (também conhecidas como células-tronco adultas). As células-tronco embrionárias derivam da massa celular interna do blastocisto. Nesta fase do desenvolvimento embrionário, as células da massa celular interna têm o potencial de se diferenciarem em todos os tipos celulares do organismo. Contudo, não são capazes de gerar as células da porção fetal da placenta (trofo-ectoderma), portanto são ditas pluripotentes, e não totipotentes, como os blastômeros. As células-tronco adultas são raras e estão dispersas nos vários tecidos do organismo; em geral, elas já expressam genes que determinam seus destinos (genes marcadores), conforme os tecidos em que estão localizadas. Por terem um potencial de diferenciação mais restrito que as células-tronco embrionárias, essas células são classificadas como multipotentes. • Ao lado da proliferação e diferenciação celulares, há também a apoptose, que é a eliminação das células que não são mais necessárias. Para que a diferenciação leve à morfogênese de órgãos normais, é necessário que, ao lado da proliferação e da diferenciação celulares, exista também a eliminação das células que não são mais necessárias. Mesmo no adulto, a destruição programada de determinadas células também é de grande importância funcional. A apoptose é também um mecanismo de defesa. Células penetradas por vírus, bactérias ou protozoários muitas vezes entram em apoptose, e o mesmo pode acontecer quando o DNA da própria célula passa por mutação. Como o câncer resulta de mutações em células somáticas, a apoptose se constitui em uma defesa natural contra células malignas. Em todos esses exemplos, a morte das células parasitadas ou malignas por apoptose resulta em benefício para o organismo como um todo, pelo extermínio de apenas uma ou algumas poucas células. Referências bibliográficas: 1. DE ROBERTS, E. M. F.; HIB, Jose. Bases da biologia celular e molecular. Tradução por Célia Guadalupe Tardeli de Jesus Andrade; Sérgio Ferreira de Oliveira; Telma Maria Tenório Zorn. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. 2. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular. 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014
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