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Questão 1.1 Um paciente do sexo masculino, com 15 anos de idade, asmático, com quadro de exacerbação e sinais de insuficiência respiratória, deu entrada no pronto-socorro de um hospital. Com base nessa situação, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I. O fisioterapeuta de plantão, após avaliação do paciente, terá agido corretamente se tiver utilizado um aparelho de ventilação não invasiva de dois níveis de pressão (BiPAP). PORQUE I II. A ventilação não invasiva evita a entubação de pacientes com insuficiência respiratória aguda e níveis aumentados de PaCO2, devido à exacerbação de crises asmáticas, diminuindo-lhes assim o trabalho respiratório e proporcionando-lhes mais conforto. Acerca dessas asserções, assinale a opção correta. A. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa correta da I. B. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II não é justificativa correta da I. C. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. D. A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. E. As asserções I e II são proposições falsas. 1. Introdução teórica 1.1. Asma Asma é uma doença inflamatória crônica caracterizada pelo aumento da sensibilidade de vias aéreas e pela obstrução do fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou por tratamento. Episódios de ausculta pulmonar, dispneia, aperto no peito e tosse recorrentes ocorrem principalmente nos períodos noturno e diurno. Na maioria dos pacientes, a asma pode ser controlada por meio da utilização de broncodilatadores de alívio, que reduzem o número de crises e, consequentemente, o absenteísmo à escola ou ao trabalho. Material Específico – Fisioterapia – Tomo VIII – CQA/UNIP 3 A atividade física controlada do portador de asma reduz os atendimentos de emergências e as hospitalizações. Se o quadro não for controlado, a asma pode tornar-se crônica, o que ocasiona limitação permanente ao fluxo aéreo. Como consequência, há restrições físicas e sociais e até mesmo morte, devido às manifestações graves (PROJETO DIRETRIZES AMB/CFM, 2001). O diagnóstico da asma deve basear-se nas condições clínicas e funcionais e na espirometria, em que é observada redução do VEF1 (inferior a 80% do previsto) e da relação VEF1/CVF (inferior a 75%). O diagnóstico é confirmado pela presença de obstrução do fluxo aéreo, que desaparece ou melhora significativamente após utilização de broncodilatador. Na espirometria, é observado aumento do VEF1 de 7% em relação ao valor previsto e 200mL em valor absoluto, após inalação de agonista beta-2 de curta duração (PROJETO DIRETRIZES AMB/CFM, 2001). Pode ser difícil um diagnóstico diferencial entre asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), principalmente se o paciente está em fase inicial da doença, ou seja, se ainda não apresenta história muito longa de sintomas respiratórios e tem quadros agudos inconstantes, principalmente no período do inverno (PINHEIRO, 2007). Calcula-se que aproximadamente 20% dos pacientes com DPOC apresentem características asmáticas. Nessa situação, o tratamento da DPOC será praticamente igual ao da asma. No entanto, algumas formas de asma comportam-se como DPOC, ou seja, apresentam quadro obstrutivo persistente durante o tratamento. O quadro 1 sintetiza as principais diferenças entre as duas situações clínicas. Quadro 1. Características da Asma e da DPOC. DPOC ASMA Início após os 40 anos de idade Início na infância, mas com grande período assintomático e reinício dos sintomas após os 40 anos. Antecedentes de atopias ausentes ou presentes. Antecedentes de atopias presentes. Histórico familiar de asma ou de outras atopias ausente ou presente. Histórico familiar de asma ou outras atopias. História de tabagismo ou exposição prolongada a partículas inaladas. História de tabagismo ou exposição prolongada a partículas inaladas presente ou ausente. Diminuição variável dos sintomas com o tratamento. Desaparecimento dos sintomas com o tratamento adequado. Espirometria com distúrbio obstrutivo com pouca ou nenhuma reversibilidade. Espirometria normal entre as crises ou com distúrbio obstrutivo, porém com reversibilidade. Os princípios gerais de tratamento da asma envolvem, geralmente, orientações para que o paciente evite o contato com alergênicos e prescrições de broncodilatadores e de agentes anti-inflamatórios, cuja utilização precoce evita a progressiva perda da função pulmonar (PROJETO DIRETRIZES AMB/CFM, 2001). 1.2. Agudização da asma A crise de asma é desencadeada por diferentes fatores que facilitam a inflamação das vias aéreas. Esses fatores podem levar ao broncoespasmo e variam de acordo com a pessoa e com o período da história da doença. Os principais desencadeantes são alérgenos inalatórios, infecção viral das vias aéreas, poluentes atmosféricos, mudança climática, alimentos, uso de drogas e estresse emocional (DALCIN, 2009). O mecanismo pelo qual a limitação aguda do fluxo aéreo é desencadeada depende do agente desencadeante. A broncoconstrição induzida pelos alérgenos é consequência da produção de mediadores inflamatórios pelos mastócitos, desencadeada pela liberação de imunoglobulinas. Independentemente do agente, a via final comum resulta na contração da musculatura lisa das vias aéreas, no aumento da permeabilidade e do extravasamento capilar e em edema e espessamento da mucosa brônquica (DALCIN, 2009). O estreitamento variável das vias aéreas, resultado da inflamação brônquica, é característico da crise asmática e responsável pelo aumento da resistência ao fluxo aéreo, pela hiperinsuflação pulmonar e pelo desequilíbrio da relação ventilação e perfusão. Com a progressão, ocorre insuficiência respiratória em função do aumento do trabalho respiratório, da troca gasosa ineficaz e da exaustão dos músculos respiratórios (DALCIN, 2009). 1.3. Ventilação mecânica não invasiva A ventilação mecânica não invasiva é um modo ventilatório que não requer a entubação traqueal. Na ventilação, é utilizada uma máscara facial ou nasal acoplada a um respirador gerador de pressão positiva, específico para ventilação não invasiva, ou a um respirador volumétrico. Esse procedimento é indicado para pacientes com piora do quadro de DPOC e que evoluem com desconforto respiratório importante. Tem como característica a frequência respiratória superior a 25 incursões por minuto, com evidente dificuldade respiratória, intensa utilização de musculatura acessória e/ou evolução para acidose respiratória descompensada (elevação da PaCO2 com pH inferior a 7,35). Material Específico – Fisioterapia – Tomo VIII – CQA/UNIP A ventilação mecânica não invasiva está associada à menor mortalidade em comparação com a ventilação mecânica invasiva no tratamento da DPOC aguda. Portanto, os pacientes com DPOC submetidos a essa ventilação requerem monitorização contínua, visto que aproximadamente 30% necessitarão de entubação traqueal e ventilação invasiva. Esse modo de ventilação é contraindicado para pacientes com instabilidade hemodinâmica, com acentuado rebaixamento do nível de consciência, com hipersecreção traqueobrônquica, com trauma crânio facial e com iminência de evolução de parada respiratória (PINHEIRO, 2007). O modo de ventilação mecânica não invasiva denominado CPAP (Continuous Positive Airway Pressure) é muito utilizado em pacientes com edema agudo de pulmão. É importante ressaltar que o CPAP não é capaz de aumentar a ventilação alveolar, razão pela qual, na presença de hipercapnia, é dada preferência ao uso da ventilação não invasiva com dois níveis de pressão - BIPAP (CARVALHO, 2007). Além disso, o CPAP é um suporte parcial de ventilação, sujeito a interrupções, que não deve ser utilizado em pacientes totalmente dependentes da ventilação mecânica para se manterem vivos, uma vez que a cooperação do pacienteé importante para o sucesso do recurso (CARVALHO, 2007). 2. Análise das asserções I - Asserção correta. JUSTIFICATIVA. A avaliação da gravidade da crise asmática identifica o paciente de maior risco, ou seja, o que requer monitorização e tratamento mais agressivo para que sejam evitadas a insuficiência respiratória e a morte. A utilização de ventilação mecânica não invasiva em casos iniciais de insuficiência respiratória aguda visa, principalmente, à postergação da intubação na asma aguda grave, enquanto se aguarda a resposta clínica do paciente ao corticoide. II - Asserção correta. JUSTIFICATIVA. Na ventilação mecânica não invasiva, espera-se que o paciente em crise aguda de asma apresente redução do trabalho respiratório (manutenção dos sacos alveolares patentes no final da expiração e auxílio ao esforço inspiratório), além de redução do recrutamento dos músculos expiratórios para auxiliar na inspiração e na hiperinsuflação Material Específico – Fisioterapia – Tomo VIII – CQA/UNIP 6 pulmonar, com inspiração mais eficiente e melhora das consequências hemodinâmicas adversas. Alternativa correta: A. 3. Indicações bibliográficas • • ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA E CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Diagnóstico e Tratamento da Asma Brônquica. Projeto Diretrizes-Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, 2001. Disponível em <proqualis.net/diretrizclinica/projeto-diretrizes-ambcfm-diagnostico-e-tratamento- da-asma-bronquica>. Acesso em 28 jun. 2016. • • CARVALHO, C. R. R.; JUNIOR, C. T.; FRANCA, S. A. Ventilação mecânica não invasiva com pressão positiva. III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. J. Bras. Pneumologia, 33 9 (supl 2): S 92-S 105. Maio, 2007. • • DALCIN, P. T; PERIN, C. Manejo da Asma Aguda em adultos em Sala de Emergência: Evidências Atuais. Revista Assoc. Med. Bras. 2009; 55 (1):82-8. • • PINHEIRO, B. V.; CARVALHO, E. V. Asma Brônquica. Maio, 2007. Disponível em <www2.unifesp.br/dmed/pneumo/Dowload/Asma.pdf>. Acesso em 28 jun. 2016.
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