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Fichamento Entes Sociais e Estereótipos

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O texto utiliza dois conceitos provindos da Gestalt para tornar o entendimento de estereótipos menos restrito do que se utilizassem somente a perspectiva da categorização social, são esses os conceitos de homogeneidade percebida e direção comum.
Homogeneidade Percebida – A homogeneidade percebida é teoricamente justificada pela tese de que os grupos sociais impõem uma série de pressões normativas sobre os seus membros, sendo o efeito mais evidente a adoção de um padrão relativamente homogêneo de conduta por parte dos membros do grupo. Esta homogeneização se reflete em domínios tão diversificados quanto as crenças, os valores e as atitudes, embora venha a se mostrar de forma mais visível no domínio da aparência física e na dos trajes e vestimentas. Ou seja, há uma maior facilidade de diferenciar os membros do grupo alvo do julgamento em relação aos participantes de outros grupos sociais (Brown, 1988; Judd e Park, 1988; Linville, Fischer e Salovey, 1996; Simon e Brown, 1987).
Direção Comum – A crença de que os membros de um grupo compartilham um destino comum também exerce um papel importante na maneira pela qual concebemos os estereótipos. Ainda que não se mostrem muito semelhantes, o fato deles estarem se dedicando a uma atividade comum, de compartilharem as mesmas expectativas e de comungarem um mesmo ideal exerce uma influência nada desprezível na percepção de que aquela entidade representa uma totalidade distinta dos seus membros (Abelson, Dasgupta, Park e Banaji, 1998; Dasgupta, Banaji e Abelson, 1999).
O conceito de entitatividade depende da articulação destes dois fatores, a homogeneidade percebida e a direção comum. Sem a percepção das categorias ou grupos como entidades irredutíveis aos indivíduos é impossível conceber a identidade social ou refletir de forma sistemática sobre a natureza das relações intergrupais.
Dificuldades encontradas em definições de estereótipo – um dos problemas fundamentais de estudo dos estereótipos é considerar que o processo pelo qual uma categoria social é estereotipizada assemelha-se ao que ocorre no processo de estereotipização dos outros tipos de entes sociais.
Entes Sociais: categorias, agregados e grupos sociais
Entitatividade – introduzido nas ciências sociais pelo sociólogo Donald Campbell (1958), se refere a uma operação psicológica que acarreta a des-individualização e a posterior inclusão do referente, alguém cuja individualidade foi colocada entre parênteses, numa entidade social.
A Entitatividade é uma operação mental que impele a percepção de uma coleção de indivíduos como membros de uma totalidade. Campbel sugeriu que, os indivíduos são percebidos como uma entidade (totalidade) quando os membros são semelhantes entre si, agem de forma organizada ou são regidos por um destino comum.
Modalidades de Entes Sociais
 O trabalho de Lickel, Hamilton, Wierczorkowska, Lewis, Sherman e Uhles (2000), estabeleceu a partir do grau de entitatividade a diferenciação em quatro grupos:
Intimidade – O grupo com o mais alto grau de entitatividade no qual a família se constitui o exemplo mais paradigmático, pois se trata de um grupo de pequeno porte, com alto grau de interação entre os membros, de longa duração e baixa permeabilidade.
Orientados para a tarefa – Os grupos orientados para a tarefa possuem um grau de entitatividade um pouco menor, ainda que possam vir a ser caracterizados como grupos com um alto nível de interação, sejam de pequeno porte, de duração moderada e com algum grau de permeabilidade. 
Categorias Sociais – se caracterizam por um grau de entitatividade baixa, tendem a ser de grande porte, de longa duração e de baixa permeabilidade.
Transitórios – Os grupos com vínculos menos rígidos, possuem menor grau de entitatividade, apresentam baixíssimos níveis de interação entre os membros, vida curta e altíssima permeabilidade.
Grau de Entitatividade – do menor para o maior:
*entes sociais aos quais os estereótipos podem ser aplicados
Agregados – Categorias Sociais – Grupos Sociais
Agregados - Um agregado é um termo genérico usado para se referir ao tipo de ente social denominado numa tradição de pesquisa mais atual sobre grupos sociais como 'loose groups', ou seja, grupos fugazes. O tipo de ação realizado por um agregado de indivíduos é uma ação coletiva bastante diferente de uma ação grupal, aquela realizada por outro tipo de ente social, um grupo. Ao contrário de uma ação grupal, na qual os indivíduos agem de modo coordenado, numa ação coletiva, embora todos os indivíduos estejam envolvidos numa mesma ação, cada um age de forma independente.
Grupos Sociais – Um grupo social se destaca por ostentar um grau de entitatividade bem mais alto do que um agregado. A existência deste tipo de agenciamento social requer certa duração na dimensão temporal e depende de uma configuração particular, na qual alguns requisitos fundamentais devem ser contemplados (Campbell, 1958; Lickel, Hamilton, Lewis, & Sherman, 2000; Yzerbyt, Corneille & Estrada, 2001):
a) Um alto grau de similaridade entre os membros
b) Relativa proximidade entre os membros
c) Estabelecimento de um sistema de comunicação mútua entre os membros
d) Certa organização das ações individuais
e) Tamanho razoável (não muito grande)
f) Certa permeabilidade
*distinção entre os grupos de intimidade e os orientados para tarefa 
Categorias Sociais – ocupa uma posição intermediária quanto ao nível de entitatividade ficando entre os agregados e os grupos sociais. O processo de inclusão de indivíduos em algumas categorias sociais pode ser mais ou menos rápido e automático quando Não precisamos de muita informação para realizar essas categorizações, pois os indivíduos adscritos a cada uma dessas categorias são incluídos facilmente a partir de um critério fundamental, as informações de superfície, a exemplo da cor da pele, da estrutura corporal, do cabelo ou das características faciais. No entanto nem toda inclusão pode ser feita de forma tão rápida, em certas situações os elementos de superfície não são suficientes, nem inequívocos, para adscrever os exemplares a uma categoria. Isso nos leva a ter que obter mais informações, refletir, ensaiar e errar, até conseguirmos rotular adequadamente e incluir o indivíduo numa categoria apropriada, e isso torna os erros de categorização relativamente comuns. 
Essa argumentação nos leva a dividir as categorias sociais em duas modalidades e a sugerir que o processo de estereotipização não ocorre da mesma forma em ambas. A categoria social pode ser:
Naturalizável – como é o caso da aplicação de estereótipos às categorias sexo, idade e raça/etnia. 
Entitativa – a exemplo dos criminosos e de categorias como as religiosas, as sociais, as profissionais ou as políticas.
Em relação à dimensão similaridade imaginamos que a percepção de homogeneidade represente um elemento decisivo na tarefa de inclusão dos membros em uma categoria social (Medin, Goldstone, & Gentner, 1993).
Observação: a percepção de homogeneidade e a forma de estereotipização são elementos centrais na categorização social, ou seja, na inclusão de indivíduos. O mesmo não pode ser dito sobre estrutura organizacional (as categorias encetam ações de forma organizada), redes de comunicação (nenhum indivíduo ou grupo pode falar por uma categoria social como um todo), a permeabilidade também é menos acentuada.
Conclusão: 
Os argumentos até aqui apresentados se referem a um importante limite dos estudos sobre os estereótipos, que é a ênfase exagerada em um determinado tipo de ente social, as categoriais. Uma dificuldade adicional se refere ao papel preponderante exercido pelos traços psicológicos como fonte de explicação para as condutas estereotipadas (Kawakami, Dovidio, Moll, Hermsen, & Russin, 2000; Rothbart, & Park, 1986). Acreditamos que outros fatores devem ser considerados e que qualquer tentativa de classificar as explicações deve estabelecer uma diferenciação entre as que se fundamentam em princípios causais, a exemplo dos traços e das essências, e as explicações elaboradas a partir do raciocínio intencional, que
incluem os fatores habilitadores, a história causal das razões e as razões e motivos (Malle, 1999, 2004).

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