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UNIDADE 1: A Ciência e a Cientificidade Objetivos Ao final da unidade o(a) aluno(a) deverá ser capaz de: - Definir ciência e conhecimento científico; - Identificar os critérios de cientificidade; - Delimitar as fronteiras entre o conhecimento científico e outros tipos de conhecimento. Apresentação Caro(a) aluno(a), para iniciarmos a nossa reflexão, convido-o(a) a imaginar a sua vida cotidiana sem a presença da ciência e da técnica. Tarefa difícil, não é mesmo? Atualmente, diversos setores da sociedade, como saúde, economia, turismo, e, inclusive, a maneira como os textos são lidos hoje, são resultados de avanços técnicos e científicos. A sociedade contemporânea é alinhavada pela técnica e pela ciência. Eletricidade, relógios, eletrodomésticos, automóveis, computadores, smartphones fazem parte do dia a dia das pessoas. Você acha que o ser humano conseguiria viver sem as invenções da ciência? O conteúdo desta unidade tentará propor alguns caminhos para que você possa refletir e responder a esta questão, assim como tentará estimulá-lo a desenvolver o espírito científico, isto é, a criatividade crítica para pensar a realidade. Para isso, analisaremos os conceitos de conhecimento e de ciência, as características que definem a ciência e as propriedades que diferenciam o conhecimento científico de outros tipos de conhecimento. Acompanhe atentamente! Tecendo Conhecimentos O homem é naturalmente curioso. Para entender o mundo que o rodeia, o ser humano faz uso de questionamentos: Como? Onde? Quando? Por quê? A partir dessas indagações o homem é movido a entender os fenômenos que o cercam e a formular conhecimentos sobre eles. Dessa maneira, o ponto de partida do conhecimento é o questionamento. Porém, advertem Pradanov & Freitas (2013, p. 16), “questionamento como método, não apenas como desconfiança esporádica, localizada, intermitente. Os resultados do questionamento permanecem questionáveis, por simples coerência de origem”. Assim, o pesquisador é aquele que duvida, que formula perguntas a respeito da realidade e que sabe que não há verdades absolutas. 1.1 O desejo de conhecer O desejo de conhecer é algo antigo na história da humanidade. O conhecimento de determinado fenômeno – por exemplo, a previsão do tempo – gera confiança e previsibilidade. Aristóteles, um dos grandes pensadores da Filosofia Antiga, assim define a vontade de conhecer: Todos os homens, por natureza, desejam conhecer. Sinal disso é o prazer que nos proporcionam os nossos sentidos, pois, ainda que não levemos em conta a sua utilidade, são estimados por si mesmos; e, acima de todos os outros, o sentido da visão. Com efeito, não só com o intento de agir, mas até quando não nos propomos a fazer nada, pode-se dizer que preferimos ver a tudo o mais. O motivo disto é que, entre todos os sentidos, é a visão que põe em evidência e nos leva a conhecer o maior número de diferenças entre as coisas. (ARISTÓTELES, 1969, p. 36) A despeito da escolha do filósofo pelo sentido da visão como o mais apropriado para conhecer a realidade, devemos guardar a noção geral do excerto supracitado: o homem possui o desejo natural de conhecer, sobretudo para satisfazer as suas necessidades. De acordo com Laville e Dionne (1999, p. 19-22), os homens adquirem conhecimento através da experiência e da observação. Ainda na pré-história, o homem elaborava seu saber a partir da sua vivência com o objetivo de reutilizá-lo para facilitar sua vida. Outra forma de conhecer é através da tradição transmitida de geração para geração, pela família, por exemplo. A literatura também é uma forma de conhecimento do mundo, mesmo que sendo ficção ou poesia. A autoridade de pais, professores, líderes religiosos, governantes, políticos e escritores é outra forma de conhecimento, pois definem normas e procedimentos que são tidos como os mais adequados. Os filósofos também apresentaram fundamentos importantes para compreensão do mundo. Durante um período da nossa história, o conhecimento científico se confundiu com o saber produzido pelos filósofos. Na Grécia Antiga, os filósofos começaram a duvidar e a questionar os ensinamentos baseados em mitos, superstições e deuses. Em seu lugar, defenderam que apenas a razão e a lógica seriam capazes de produzir conhecimento válido. No início da Idade Média, encontramos a tentativa do saber religioso de sujeitar o conhecimento filosófico ao domínio da Igreja. O pensamento de Aristóteles harmonizado aos dogmas católicos tornou-se a base do cristianismo. De acordo com Laville & Dionne (1999, p. 23), “a teologia supera a filosofia”. Entretanto, por volta do século XV, quando a Europa deparou-se com o “novo mundo”, proveniente do contato com povos não cristãos, alheios à experiência histórica do Velho Continente, alterou-se paulatinamente o modo de produção do conhecimento, visto que a religião foi perdendo o seu poder único de explicação da realidade. Dessa forma, os pensadores do período começaram a olhar para a realidade de forma mais autônoma em relação à religião. Essa mudança pode ser entendida como o início do processo de separação entre a explicação do homem, considerado como ser racional, e a explicação da Igreja, até então considerada como a porta voz do conhecimento válido. Surge a necessidade de um novo caminho para o desejo humano de conhecer. Faz-se indispensável que este novo caminho estabeleça um novo método que garanta a validade do conhecimento. Foram dadas, então, as bases para a criação da ciência experimental e do método científico. Um saber racional, construído a partir da observação e da experimentação dos fenômenos, com a finalidade de registrar a regularidade e estabelecer as leis gerais que ordenam o funcionamento da realidade. Aprofundando o seu conhecimento: Pesquise mais sobre o processo de consolidação do saber científico em CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 13 ed. 2005. Para a filósofa, O trabalho científico é sistemático e por isso uma teoria científica é um sistema ordenado e coerente de proposições ou enunciados baseados em um pequeno número de princípios, cuja finalidade é descrever, explicar e prever do modo mais completo possível um conjunto de fenômenos, oferecendo suas leis necessárias (CHAUÍ, 2005, p. 220). Em meados do século XVII, surgiu uma nova mentalidade que teve como princípio a capacidade do homem ascender ao conhecimento pelas Luzes do seu próprio entendimento. Imbuído da razão, o homem não apenas poderia lutar contra a tradição e os costumes, como deveria buscar a sua própria felicidade e contribuir para o progresso da humanidade. Da razão, segundo Paul Hazard (1983, p. 36), dependia “toda a ciência e toda a filosofia”. Entretanto, foi durante o século XVIII, identificado na historiografia com o triunfo do homem enquanto ser racional, que os princípios da ciência racional desenvolveram-se através de muitas explicações. O Iluminismo ou o “Século das Luzes”, como ficou caracterizado o pensamento do século XVIII, marcaria a vitória da racionalidade – enquanto calculabilidade e utilidade – sobre a superstição e a mitologia. Aprofundando o seu conhecimento: Para melhor compreensão do movimento de ideias que ocorreu no século XVIII, ver o verbete “Iluminismo” do Dicionário de Filosofia organizado por Nicola Abbagnano. ABBGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. Entretanto, segundo Laville & Dionne (1999, p. 26), é no século XIX que a ciência triunfa. As descobertas no domínio das ciências da natureza crescem, deixam os laboratórios para terem aplicações práticas. O processo de “conhecer o conhecimento” passa a ser realizado pela pesquisa aplicada, cuja finalidade é resolver problemas concretos. As ciências humanas também se desenvolvem durante a segunda metade do século XIX. Elabora-se a construçãodo saber científico a partir das características que serão apresentadas na próxima seção. Exercitando: Você percebeu como o tipo de conhecimento considerado válido pela população varia de acordo com o contexto no qual o ser humano está inserido? Reflita sobre o papel do homem, enquanto ser racional e social, na produção do conhecimento e na interação com o meio em que vive. 1.2 Os tipos de conhecimento Depois do breve contexto sobre o desejo natural de conhecer e os modos pelos quais o homem formula o saber sobre os fenômenos e as ações que o cercam, é necessário entender de forma sistemática os tipos de conhecimento e diferenciá-lo do conhecimento científico. Lakatos & Marconi (2008, p. 18) utilizam a classificação estabelecida por Afonso Trujillo em seu livro Metodologia da Ciência (1974, p. 11). Para esse autor, o conhecimento divide-se em quatro tipos: conhecimento popular, conhecimento religioso, conhecimento filosófico e conhecimento científico. A distinção entre esses quatro tipos de conhecimento é importante para o seu aprendizado. Você sabe do que se tratam? Falemos um pouco sobre cada um deles. Quadro 1 – Tipos de conhecimentos Conhecimento popular Conhecimento científico Conhecimento filosófico Conhecimento religioso (teológico) Valorativo Reflexivo Assistemático Verificável Falível Inexato Real (factual) Contingente Sistemático Verificável Falível Aproximadamente exato Valorativo Racional Sistemático Não verificável Infalível Exato Valorativo Inspiracional Sistemático Não verificável Infalível Exato Fonte: LAKATOS & MARCONI, Metodologia Científica, 2008, p. 18. O conhecimento popular, às vezes chamado “senso comum”, é resultado da experiência e da observação acumuladas por determinado grupo social. Ou seja, corresponde a convicções aparentes, repetidas constantemente pelas pessoas sobre os mais variados temas, sem comprovação científica, como, por exemplo, “todo favelado é bandido”, “o nordestino é preguiçoso” ou “mulher não sabe dirigir”. Como podemos perceber, o pensamento elaborado pelo senso comum é superficial e aparente, e muitas vezes transforma-se em discriminação, xenofobia e preconceito. De acordo com Lakatos (2003), o conhecimento popular caracteriza-se por ser: • superficial, isto é, conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente estando junto das coisas: expressa-se por frases como "porque o vi", "porque o senti", "porque o disseram", "porque todo mundo o diz"; • sensitivo, ou seja, referente a vivências, estados de ânimo e emoções da vida diária; • subjetivo, pois é o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos, tanto os que adquire por vivência própria quanto os "por ouvi dizer"; • assistemático, pois esta "organização" das experiências não visa a uma sistematização das idéias, nem na forma de adquiri-las nem na tentativa de validá- las; • acrítico, pois, verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma forma crítica. (LAKATOS & MARCONI, 2003, p. 77) O conhecimento popular se dá na interação diária e espontânea entre as pessoas; muitas vezes é baseado em superstições, crenças, mitos. É transmitido pela educação informal, pela oralidade, de geração para geração, por isso não precisa de técnicas e métodos rígidos para sua comprovação. O pensamento religioso (ou teológico) explica a parte da realidade que não é percebida pelos sentidos, por isso escapa às explicações do senso comum (SILVA & PORTO, 2016, p. 12). Na presença de alguns fenômenos considerados inexplicáveis pela razão, os seres humanos procuram respostas em outro campo, como, por exemplo, as palavras de Deus. Para Lakatos & Marconi (2003, p. 79), o conhecimento religioso “apóia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas (valorativas)”, por isso as verdades são consideradas infalíveis e exatas; “é um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um criador divino: está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado”. Aprofundando o seu conhecimento: Um bom exemplo para você entender os dogmas produzidos pelo conhecimento religioso é o filme Mãe (2017). Nele, o diretor Darren Aronofsky conta a história, a partir de passagens bíblicas, de um casal pacato vivendo em uma casa de campo. Começa com a criação do mundo, passa pelo dilúvio, chega no nascimento de Cristo e termina no fim dos dias (ou apocalipse). O conhecimento filosófico tem como objeto as ideias, os conceitos, as relações lógicas, por isso suas hipóteses e postulados não são sujeitos aos testes de observação e experimentação. De acordo com Lakatos e Marconi (2003), O conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação […]. É não verificável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas não podem ser refutados. É racional, em virtude de consistir num conjunto de enunciados logicamente correlacionados. Tem a característica de sistemático, pois suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade. Por último, é infalível e exato, já que […] seus postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação). (LAKATOS & MARCONI, 2003, p. 78) O conhecimento filosófico é fundamental para entendermos o mundo em que vivemos, pois se preocupa em formular perguntas sobre as relações estabelecidas entre o ser humano, bem como fornece ferramentas necessárias para a construção de uma consciência crítica sobre a realidade. O conhecimento científico, por sua vez, é sistemático, precisa de métodos de pesquisa bem delimitados. Essa característica é importante para o seu curso de Metodologia da Pesquisa Científica. Ou seja, a pesquisa científica é o principal meio para a produção de conhecimento científico, e isso só é possível a partir de métodos científicos. Para Lakatos & Marconi (2003), o conhecimento científico é transmitido por intermédio de treinamento apropriado, sendo um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos científicos. Visa explicar "por que" e "como" os fenômenos ocorrem, na tentativa de evidenciar os fatos que estão correlacionados, numa visão mais globalizante do que a relacionada com um simples fato. (LAKATOS & MARCONI, 2003, p. 75) Portanto, o conhecimento científico é sistemático; geral; verificável (suas hipóteses devem ser validadas ou falseadas); falível – e por isso dinâmico, visto que as suas proposições devem ser testadas pela experiência e pela observação, ou seja, as hipóteses e as técnicas podem ser reformuladas a partir da teoria existente. Na próxima seção analisaremos com mais atenção o conceito de ciência e os critérios de cientificidade, para que com isso você possa refletir sobre a importância do conhecimento produzido atualmente. Aprofundando seu conhecimento: Veja o vídeo da Prof.ª Dr.ª Mayana Zatz, coordenadora do Núcleo de Apoio à Pesquisa da USP, sobre o Projeto Genoma Humano. Lembre-se de que o Projeto Genoma Humano é uma pesquisa científica composta por cientistas de 18 países (dentre eles está o Brasil), que possibilitou a compreensão de diversas doenças genéticas, mas que também levantou um importante debate ético sobre a utilização de genes na pesquisa científica. Link https://www.youtube.com/watch?v=gMdrZXsNya0 Acesso em 23 de outubro de 2019 1.3 O que é ciência? De acordo com o Dicionário de Filosofia organizado por Nicola Abbgnato (2017, p.136), ciência é um conjunto de saberes que incorpora, “em qualquer forma ou medida, uma garantia da própria validade”. Muitas são as definições de ciência. No quadro abaixoreunimos algumas que consideramos importantes para o seu aprendizado. Quadro 2 – O conceito de ciência Autor (a) Definição Afonso Trujillo (1974) “A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação” (p. 8) “A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente e sistematizados e Ezequiel Ander-Egg (1978) verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza” (p. 15) Eva Lakatos e Marina Marconi (2003) “Entendemos por ciência uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar” (p. 80) Antônio Carlos Gil (2008) “Pode-se considerar a ciência como uma forma de conhecimento que tem por objetivo formular, mediante linguagem rigorosa e apropriada – se possível, com auxílio da matemática –, leis que regem os fenômenos” (p. 2) Fonte: o quadro foi elaborado pelo autor do material. A partir das definições reunidas no quadro acima, podemos definir ciência como um saber sistemático, ordenado e coerente, fundado em princípios e métodos específicos, cuja finalidade é explicar e prever, do modo mais geral possível, determinados fenômenos, apresentando suas leis fundamentais. Essas leis, de acordo com Gil (2008, p. 2), devem ser capazes de descrever fenômenos comprováveis através da experimentação e observação. Ainda que existam muitas definições de ciência, o seu conceito, conforme Pradanov & Freitas (2013), fica mais consistente quando identificamos as suas características essenciais ou critérios de cientificidade. Com base no que já foi estudado até o momento, você consegue apresentar as principais características da ciência? A literatura científica caracteriza o conhecimento científico como uma forma de saber objetivo, racional, sistemático, geral, verificável e falível. De acordo com Lakatos & Marconi (2003, p. 80-81), as ciências possuem: 1) Objetivo ou finalidade, isto é, preocupação em distinguir as leis gerais aos fenômenos; 2) Função e aperfeiçoamento, através da criação de novas técnicas e normas; 3) Objeto de estudo definido, subdivido em material (mais geral), isto é, aquilo que se pretende analisar, interpretar ou verificar, e formal (mais particular), com foco na especialidade de cada ciência. Pradanov & Freitas (2013, p. 19-20) acrescentam outros critérios de cientificidade, a saber: - Objetivação: “conhecer a realidade tal como ela é, evitando contaminá-la com ideologia, valores, opiniões ou preconceitos do pesquisador”; - Discutibilidade: coerência na elaboração das questões; - Observação controlada dos fenômenos: controlar a qualidade dos dados e o processo de coleta de dados; - Originalidade: a pesquisa científica deve produzir alguma inovação no seu campo de estudo; - Coerência: argumentação lógica, fluência entre as premissas e as conclusões da pesquisa científica; - Consistência: “refere-se à capacidade do texto de resistir à contra-argumentação ou, pelo menos, merecer o respeito de opiniões contrárias”; - linguagem precisa: não usar palavras dúbias e evitar o uso de adjetivos; - relevância social: estudar temas de interesse comum para promover o melhoramento da sociedade. Devemos destacar que a partir desses critérios de cientificidade decorrem outros, como a ética, o reconhecimento dos pares, a comunicação e a apresentação das pesquisas científicas, os quais possibilitam à ciência o aumento e o aperfeiçoamento do conhecimento, a descoberta de novos fenômenos e à melhoria da condição de vida da população. A ciência, frisemos, é resultado de procedimentos e regras científicas que possibilitam a observação racional, a verificação dos fatos e a explicação dos fenômenos. Por isso, a pesquisa científica é fundamental para a validação da ciência. Devido à variedade de objetos estudados pela ciência, desenvolveram-se as ciências particulares. De acordo com Lakatos (2008, p. 24), podemos classificar a ciência pelos critérios seguintes: confiabilidade do conhecimento, organização, metodologia e conteúdo. Alguns autores, como August Comte, Carnap, Bunge e Wundt tentaram definir um sistema de classificação das ciências. Entretanto, a principal diferenciação se dá entre as ciências formais e as ciências empíricas ou factuais. As ciências formais analisam as ideias e as suas relações. A lógica e a matemática tratam de objetos ideais, constroem seus próprios objetos de estudo a partir da abstração de objetos reais (quer sejam naturais ou sociais), e por essa razão pertencem às ciências formais. Na matemática e na lógica, o conhecimento é elaborado por meio da coerência entre um determinado enunciado e um sistema de ideias que foram adotadas anteriormente. Dessa maneira, não é necessária a observação e/ou a experimentação do fenômeno (LAKATOS & MARCONI, 2008, p. 29). Aprofundando seu conhecimento: Com base na filosofia da matemática de Charles Sanders Pierce, o filósofo Cassiano Rodrigues discute o lugar da matemática na classificação das ciências, a diferença entre matemática e filosofia e a distinção geral entre a lógica, como parte da filosofia, e a matemática. Ver RODRIGUES, Cassiano Terra. “Matemática como ciência mais geral: forma da experiência e categorias”. COGNITIO-ESTUDOS: Revista Eletrônica de Filosofia. São Paulo, vol. 4, nº 1, Junho, 2007. Disponível em: http://www4.pucsp.br/pragmatismo/dowloads/5cog_est_v4n1_rodrigues_cassiano_terra.pdf As ciências empíricas ou factuais, como a própria designação sugere, estudam os fatos e processos empíricos, e dividem-se em ciências naturais e ciências sociais. Dentre as ciências naturais estão: a Química, a Física, a Biologia e a Astronomia. Dentre as ciências sociais estão: a Sociologia, a Ciência Política, a Antropologia, a História, a Economia e a Psicologia. As ciências empíricas ou factuais, por estudarem fatos que ocorrem na realidade concreta, recorrem à observação e à experimentação para comprovarem as suas hipóteses e proposições (GIL, 2008, p. 3). Como vimos no decorrer dessa unidade, o conceito de ciência é profundamente marcado por uma concepção científica, cujas principais características são: 1) a objetividade do conhecimento, isto é, o objeto e os métodos de análise da ciência, tanto naturais como sociais, não podem de forma alguma ser influenciado pelo pesquisador; 2) o saber científico fundamenta-se na observação e na experimentação; 3) o conhecimento científico é quantitativo; e 4) o conhecimento científico elabora leis gerais para medir a previsibilidade dos fenômenos. Esta concepção do saber científico é denominada Positivismo; desenvolveu-se durante a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Entretanto, não demorou para que essa concepção de saber científico fosse questionado. Mas disso nós trataremos na próxima unidade. Resumindo Ao final desta unidade você aprendeu que o homem possui, por natureza, o desejo de conhecer, principalmente para satisfazer as suas necessidades. Para isso, vimos que os homens adquirem conhecimento de várias maneiras, como através da experiência pessoal, da observação, da tradição, da autoridade, da literatura, da filosofia e, por fim, da ciência. Para melhor esclarecer e sistematizar o seu estudo, classificamos e definimos quatro tipos de conhecimento: popular, religioso, filosófico e científico. Por fim, apresentamos as definições de ciência, os critérios de cientificidade e a sua classificação. Autoavaliando Ao final da aula esperamos que você tenha: a) entendido o que é ciência e os critérios de cientificidade; b) conhecido os critérios de cientificidade; c) compreendido os tipos de conhecimento e as suas particularidades.Referências ABBGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ANDER-EGG, Ezequiel. Introducción a las técnicas de investigación social: para trabajadores sociales. 7ª ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978. ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 13ª ed. São Paulo: Ática, 2005. GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2008. HAZARD, Paul. O pensamento europeu no século XVIII. Lisboa: Editora Presença, 1983. LAKATOS, E. M. & MARCONI, M de A. Fundamentos de metodologia científica 1. 5ª ed. São Paulo : Atlas 2003. _________________________________. Metodologia científica. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2008. LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed; Belo Horizonte: Editora UFMG , 1999. MORIN, Edgar. O método: 1. A natureza da natureza. Mira-Sintra:Europa-América, 2ª ed., 1977. PRODANOV, C.C.; FREITAS, E.C. Metodologia do Trabalho Científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. 2ª ed. Novo Hamburgo: Universidade Feevale, 2013. SILVA, C.N.N; PORTO, M. D. Metodologia Científica Descomplicada: Pesquisa e prática para iniciantes. Brasília: IFB, 2016. TRUJILLO FERRARI, Alfonso. Metodologia da ciência. 3ª ed. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974.
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