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Figuras de linguagem EUFEMISMO É a suavização de expressões grosseiras “Como dizia aquele sujeito, cujo pai tinha sido enforcado: ‘Coitado de meu pai – morreu porque o chão do palco cedeu quando ele fazia o personagem principal numa cerimônia pública’. Como dizia a mulher do ladrão de dinheiros do estado: ‘Realmente meu marido tem ganho muito dinheiro depois que foi eleito, mas é coisa juridicamente provada a validade do tráfico de influência’. Como dizia o pai de um filho burro: ‘Às vezes tenho que concordar que meu filho não atingiu o índice normal de aproveitamento para meninos da sua idade’. Como dizia o marido enganado: ‘Durante os primeiros anos eu e minha mulher nos entendemos muito bem. Repentinamente, porém, descobri que ela tinha uma compreensão mais eclética’.” (Millôr Fernandes) HIPÉRBOLE É o exagero de expressão Eu já lhe disse um bilhão de vezes para não exagerar quando falar! Este anel deve ter custado os olhos da cara. ANTÍTESE É o jogo de palavras ou ideias contraditórias "... mas esse espírito tinha impulsos para os levar, não tinha regresso para os trazer; porque sair para tornar melhor é não sair". (Pe. Antônio Vieira) “O esforço é grande e o homem é pequeno” (Fernando Pessoa) PARADOXO É o jogo de palavras ou ideias contraditórias (apresenta um absurdo) “Amor é um fogo que arde sem se ver, É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente, É dor que desatina sem doer.” OXÍMORO É uma “figura em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir‐se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão” (obscura claridade, claro enigma, silêncio ensurdecedor, instante eterno, crescimento negativo, doce veneno, ilustre desconhecido) METÁFORA É uma comparação entre dois elementos por meio de seus significados imagísticos “O gavião paira nos ares. Quando a nambu levanta, ele cai das nuvens e rasga as entranhas da vítima. O guerreiro tabajara, Filho da Serra, é o gavião” (José de Alencar) Sua mãe é um anjo. SÍMILE ou COMPARAÇÃO É uma comparação entre dois elementos por meio de seus significados imagísticos (apresenta termo comparativo) “É que teu riso penetra n'alma Como a harmonia de uma orquestra santa” (Castro Alves) Sua mãe é bondosa como um anjo. HIPÉRBATO É a inversão da ordem natural das palavras de uma oração “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heroico o brado retumbante” (Joaquim Osório Duque Estrada) ANÁSTROFE Inversão da ordem natural entre duas palavras dentro de um mesmo constituinte ou sintagma seu olhar de ira cheio HIPÁLAGE Figura sintática e semântica da transposição das relações naturais de dois elementos em uma proposição (a conexão que logicamente se faria com uma das palavras presentes é feita com outra) o sapateiro meteu o sapato na fôrma, em vez de o sapateiro meteu a fôrma no sapato A hipálage é uma figura de linguagem que se caracteriza pelo desajustamento entre a função gramatical e a função lógica das palavras, quanto à semântica, de forma a criar uma transposição de sentidos. Uma das formas mais frequentes consiste na atribuição, a um substantivo, de uma qualidade (adjetivo) que, em termos lógicos, pertence a outro. É um dos recursos estilísticos mais frequentes na obra de Paulo Coelho e Eça de Queirós (como em "Fumar um cigarro pensativo." - claro que quem está pensativo é o fumante, subentendido na frase). PROSOPOPÉIA ou PERSONIFICAÇÃO Quando se atribui vida, ação, voz a seres mortos, inanimados ou ausentes. É uma personificação (= antropomorfismo) de animais e coisas. “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.” (Aluísio Azevedo) ONOMATOPÉIA Representação de sons da natureza, ruídos, vozes, rumores, etc. triiim, chuá, bué, pingue-pongue, miau, tique-taque, zunzum APÓSTROFE É caracterizada pelas expressões que envolvem invocações, chamamentos e interpelações de um interlocutor (seres reais ou não) Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! POLISSÍNDETO Uso repetitivo da conjunção aditiva "E zumbia, e voava, e voava, e zumbia.“ (Machado de Assis) “Vão chegando as burguesinhas pobres, e as criadas das burguesinhas ricas e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.” (Manuel Bandeira) ASSÍNDETO Ocorre assíndeto quando orações ou palavras que deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas aparecem justapostas ou separadas por vírgulas “Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, fundindo-se.” (Machado de Assis) "Eu tinha fama, a palavra, a carreira política." (Joaquim Nabuco) PLEONASMO Repetição da mesma ideia, isto é, redundância de significado “Morrerás morte vil na mão de um forte.” (Gonçalves Dias) CATACRESE É um tipo especial de metáfora, “é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente nenhum vestígio de inovação, de criação individual e pitoresca. É a metáfora tornada hábito linguístico, já fora do âmbito estilístico” (Othon Moacir Garcia) Inutilidades Ninguém coça as costas da cadeira Ninguém chupa a manga da camisa O piano jamais abana a cauda Tem asa, porém não voa, a xícara De que serve o pé da mesa se não anda? E a boca da calça se não fala nunca? Nem sempre o botão está na sua casa O dente de alho não morde coisa alguma. Ah! se trotassem os cavalos do motor... Ah! se fosse até o circo o macaco do carro.... Então a menina dos olhos comeria Até o bolo esportivo e bala de revólver. (José Paulo Paes) PERÍFRASE ou ANTONOMÁSIA Ocorre perífrase quando se cria um torneio de palavras para expressar algum objeto, acidente geográfico, indivíduo ou situação que não se quer nomear. Na linguagem coloquial, antonomásia/perífrase é o mesmo que apelido, alcunha ou cognome. “Cidade maravilhosa Cheia de encantos mil Cidade maravilhosa Coração do meu Brasil.”(André Filho) O rei dos animais rugia alto diante da ameaça. PARONOMÁSIA Consiste na reunião de vocábulos de pronúncia semelhante embora com significados distintos, aproveitando a sua sonoridade similar e o efeito de surpresa sobre o ouvinte ou o leitor da junção de significados díspares num mesmo contexto "Melancolias, mercadorias espreitam-me." (Drummond) “Sua Eminência está na iminência de partir para o estrangeiro” ANÁFORA Repetição intencional de palavras no início de um período, frase ou verso. “Amor é um fogo que arde sem se ver, É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente, É dor que desatina sem doer.” (Camões) GRADAÇÃO Figura que consiste em dispor várias palavras ou expressões que se enriquecem mutuamente em progressão ascendente ou descendente. “Os que a servem [a Pátria] são os que não invejam, os que não infamam, os que não conspiram, os que não sublevam, os que não desalentam, os que não emudecem, os que não se acobardam, mas resistem, mas ensinam, mas esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam a justiça, a admiração, o entusiasmo.” (Rui Barbosa) IRONIA Sugere-se o contrário do que as palavras ou orações parecem exprimir. “Moça linda, bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta: um amor.” (Mário de Andrade) METONÍMIA ou SINÉDOQUE Substituição de uma palavra por outra, havendo entre ambas grau de semelhança, relação, proximidade de sentido, ou implicação mútua. Tal substituição realiza-se de inúmeros modos: O continente pelo conteúdo e vice-versa Antes de sair, tomamos um cálice de licor. A causa pelo efeito e vice-versa “E assim o operário ia Com suor e com cimento Erguendo uma casa aqui Adiante um apartamento.” (Vinícius de Morais) Sou alérgico a cigarro. O lugar de origem ou de produção pelo produto Comprei uma garrafa do legítimo porto. Ofereceu-me um havana. O autor pela obra Ela aprecia ler Jorge Amado. Compre um Portinari. O abstrato pelo concreto e vice-versa: Não devemos contar com oseu coração. A velhice deve ser respeitada. O símbolo pela coisa simbolizada: A coroa foi disputada pelos revolucionários. Não te afastes da cruz. A matéria-prima pelo produto e vice-versa: Lento, o bronze soa. Joguei duas pratas no chapéu do mendigo. O inventor pelo invento: Edson ilumina o mundo. A parte pelo todo: Várias pernas passavam apressadamente O instrumento pela pessoa que o utiliza: Ele é um bom garfo. Marca pelo produto: Minha filha adora Danone. ALITERAÇÃO Repetição do fonema consonantal “Toda gente homenageia Januária na janela.” (Chico Buarque) ASSONÂNCIA Repetição do fonema vocálico “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras” (Cruz e Sousa) SINESTESIA Mistura de sensações Naquele momento, sentiu um cheiro vermelho de ódio. ELIPSE Omissão de um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos. “Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas.” (Rubem Braga) “Sentei-me na cama, uma dor aguda no peito, o coração desordenado.” (Antônio Olavo Pereira) “No mar, tanta tormenta e tanto dano.” (Camões) ZEUGMA Ocorre quando um termo já expresso na frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição. “Foi saqueada a vila, e assassinados os partidários dos Filipes.” (Camilo Castelo Branco) “Vieira vivia para fora, para a cidade, para a corte, para o mundo; Bernardes para a cela, para si, para o seu coração.” (Antônio Feliciano de Castilho) ANACOLUTO Consiste numa irregularidade gramatical na estrutura de uma frase, como se o locutor começasse uma frase e houvesse uma mudança de rumo no pensamento Trata-se de uma quebra da estrutura sintática da frase pela inserção de um sintagma ou pela mudança abrupta de uma determinada construção sintática O anacoluto é muito frequente no discurso oral, em que poderá ser apenas considerado como um erro de construção frásica. Num texto escrito, tem o objetivo de transmitir a sensação de espontaneidade. "Eu, também me parece que as leio, mas vou sempre dizendo que não“ (Almeida Garrett) “A minha roupa, levo-a sempre àquela lavanderia” SILEPSE Figura pela qual a concordância das palavras na frase se faz logicamente, pelo significado, e não de acordo com as regras da gramática “Muita gente aqui, pelo que dizem, não sabem se portar em público” (de pessoa) “O brasileiro é forte e bravo. Não fogem da luta” (de número) “Rio de Janeiro é linda” (de gênero) QUIASMO Disposição cruzada da ordem das partes simétricas de duas frases, de modo que formem uma antítese ou um paralelo “Vou sempre ao cinema, ao teatro não vou nunca” “Meu filho abraçou-me carinhosamente, carinhosamente o abracei” “O espelho reflete sem falar, o marido fala sem refletir” “Na viola do urubu o sapo chegou no céu. Quando pego na viola o céu fica sendo meu.” (Guimarães Rosa) “Ardor em firme coração nascido; Pranto por belos olhos derramado; Incêndio em mares de água disfarçado; Rio de neve em fogo convertido:” (Gregório de Matos)
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